Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 A ERA COLONIAL QUINHENTISMO NO BRASIL A COLONIZAÇÃO DO BRASIL Os três séculos de colonização vividos pelo Brasil (1500-1822) podem ser divididos em três momentos significativos: o século XVI: em que a metrópole procurou garantir o domínio sobre a terra descoberta, organizando-a em capitanias hereditárias e enviando jesuítas da Europa e negros da África para povoá-la; o século XVII: em que Salvador, na Bahia, povoada de aventureiros portugueses, índios, negros e mulatos, tornou-se o centro das decisões políticas e do comércio de açúcar. o século XVIII: em que a região de Minas Gerais transformou-se no centro da exploração do ouro e das primeiras revoltas políticas contra a colonização portuguesa, entre as quais se destacou o movimento da Inconfidência Mineira (1789). A PRODUÇÃO LITERÁRIA A produção artística e cultural do Quinhentismo no Brasil não pode ser considerada brasileira, de fato. Isso porque quem a produzia - cronistas, viajantes, jesuítas eram portugueses que aqui se encontravam por um período curto e com uma finalidade especifica. Não havia, ainda, nenhuma identificação com a terra, considerada uma espécie de "Portugal nos trópicos”. Além disso, os modelos literários que cultivavam — na poesia, na prosa ou no teatro - eram totalmente lusitanos. Apesar dessas condições, a produção literária do período abre a nós, brasileiros, um rico filão literário, que será mais tarde fartamente explorado por nossos escritores: o interesse pelos índios, pelas belezas naturais da terra e pelas nossas origens históricas. NO BRASIL COLÔNIA DO SÉC. XVI, AS PRINCIPAIS PRODUÇÕES SÃO: Crônicas de viagens, cartas e tratados, chamados de literatura de informação, escritos em prosa, cuja finalidade era narrar e descrever as viagens e os primeiros contatos com a terra brasileira e seus nativos, informando tudo o que pudesse interessar aos governantes portugueses. Dessa literatura informativa sobre o Brasil merecem destaque: A Carta de Pero Vaz de Caminha, O Diário de Navegações, de Pero Lopes de Sousa (1530) e A Viagem à terra do Brasil,de Jean de Léry (1578). Poesia e teatro, cultivados pelos jesuítas, notadamente por Jose de Anchieta, cuja finalidade central era a catequese dos índios. PRINCIPAIS AUTORES: José de Anchieta Pero Vaz de Caminha 2 BARROCO (1601-1768) O Renascimento caracterizou-se pelo racionalismo, pelo equilíbrio, pela clareza e linearidade dos contornos. Já o Barroco tenta conciliar duas concepções de mundo opostas: a medieval e a renascentista. Assim, valores como do humanismo, o gosto pelas coisas terrenas, as satisfações mundanas e carnais, trazidos pelo Renascimento, fundem- se a valores espirituais trazidos pela Contra-Reforma, o que resulta na forma de viver conflituosa, expressa na arte barroca. O Barroco na arte marcou um momento de crise espiritual da sociedade européia. O homem do século XVII era dividido entre duas mentalidades, duas formas diferentes de ver o mundo. Convivendo com o sensualismo e os prazeres materiais trazidos pelo Renascimento, os valores espirituais, tão fortes na Idade Média e desprezados pelo Renascimento, voltaram a exercer forte influência sobre a mentalidade da época. Uma nova onda de religiosidade foi trazida pela Contra-Reforma e pela fundação da Companhia de Jesus. O que decorreu daí foram naturalmente sentimentos contraditórios, já que o homem estava dividido entre valores opostos. É a arte barroca, que exprime essa contradição, igualmente oscilante entre o clássico (e pagão) e o medieval (cristão), apresentando-se como uma arte indisciplinada. Comparado aos outros dois movimentos que integram a Lira Clássica, o Classicismo e o Arcadismo, o Barroco representa um desvio da orientação clássica, já que procurava, ao mesmo tempo, fundir a experiência renascentista ao reavivamento da fé cristã medieval. Coloca em risco assim, certos princípios muito prezados pela tradição clássica, como o predomínio da razão e o equilíbrio. CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA BARROCA: Requinte formal: O Barroco literário foi uma arte da aristocracia e possui um refinamento que era desejado por seu público consumidor, porque lhe conferia status. Figuração: em vez de dizer as coisas de forma direta e objetiva, o texto barroco prefere a figuração, a sugestão por meio de metáforas, de comparações, símbolos e alegorias. Conflito espiritual: o homem barroco sente-se dilacerado e angustiado diante da alteração dos valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o mundo material. As figuras que melhor expressam esse estado de alma são as antíteses e os paradoxos. Temas contraditórios: há o gosto pela confrontação violenta de temas opostos, como amor/dor, vida/morte, juventude/velhice e pecado/perdão. A efemeridade do tempo e o carpe diem: o homem barroco tem consciência de que a vida terrena é efêmera, passageira, e, por isso, é preciso pensar na salvação espiritual. Mas, já que a vida é passageira, sente, ao mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que resulta num sentimento contraditório, já que gozar a vida implica pecar e se há pecado, não há salvação. Cultismo: é o rebuscamento formal, caracterizado pelo jogo de palavras e pelo excessivo emprego de figuras de linguagem. Também conhecido como gongorismo, pela influência do estilo do poeta espanhol Luís de Gôngora, o cultismo explora efeitos sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume, sonoridade, imagens violentas, e fantasiosas enfim, recursos que sugerem a superação dos limites da realidade. Conceptismo: (do espanhol concepto, "idéia") é o jogo de idéias, constituído pelas sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico, por analogias. Embora seja mais comum o cultismo manifestar-se na poesia e conceptismo na prosa, é perfeitamente normal aparecerem ambos em um mesmo texto. Jogo de claro/escuro: embora esse aspecto seja mais visível nas artes plásticas, o Barroco aprecia fundir a lua, à sombra, o que traduz o conflito resultante do desejo de fundir a fé à razão. PRINCIPAIS AUTORES: Na poesia: Gregório de Matos, Bento Teixeira, Botelho de Oliveira e Frei Itaparica. Na prosa: PE Antônio Vieira, Sebastião da Rocha Pita e Nuno Marques Pereira. 3 ARCADISMO (1768-1836) Se observarmos na história da cultura, veremos que cada novo momento é uma oposição no anterior. O homem parece estar sempre insatisfeito com a direção de seu próprio tempo, e por isso rompe com o presente, propondo algo novo. Porém, ao analisarmos o novo, notamos que muitos elementos, ainda mais antigos do que os abandonados, voltam à tona. É o velho que misturado a certas tendências, torna-se novidade. Assim ocorreu com a cultura e as artes do século XVIII. Depois da onda de religiosidade e fé trazidas pela Contra-Reforma - cuja expressão artística foi o Barroco - no século XVIII se vê um reflorescimento das tendências artístico – científicas que marcam o Renascimento, de que resultam o Iluminismo, na filosofia, o Empirismo, na ciência, e o Neoclassicismo ou Arcadismo, na literatura. A LINGUAGEM ÁRCADE A linguagem árcade é a expressão das idéias e dos sentimentos do artista do século XVIII. Seus temas e sua construção procuram adequar-se à nova realidade social vivida pela classe que a produziu e a consumia: a burguesia. CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA ÁRCADE: Fugere urbem (fuga da Cidade): influenciados pelo poeta latino Horário, os árcades defendiam o bucolismo como ideal de vida, isto é, uma vida simples e natural, junto ao campo, distante dos centros urbanos. Tal princípio era reforçado pelo pensamento do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau, segundo o qual a civilização corrompe os costumesdo homem, que nasce naturalmente bom. Observe como nestes versos de Cláudio Manuel da Costa, já no século XVIII, é ressaltada a violência da cidade, em oposição à paz do campo: quem deixa o trato pastoril amado pela ingrata, civil correspondência ou desconhece o rosto da violência, ou do retiro a paz não tem provado Áurea mediocritas (vida medíocre materialmente, mas rica em realizações espirituais): outro traço presente advindo da poesia horaciana é a idealização de uma vida pobre e feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste na cidade. Nestes versos de Tomás António Gonzaga, por exemplo, são exaltados o trabalho manual e o sentimento, em oposição ao artificialismo e às facilidades da vida urbana: Se não tivermos lãs e peles finas, podem mui bem cobrir as carnes nossas as peles dos cordeiros mal curtidas, e os panos feitos com as lãs mais grossas. Mas ao menos será o teu vestido por mãos de amor, por minhas mãos cosido. Idéias iluminista: como expressão artística da burguesia, o Arcadismo: veicula também certos ideais políticos e ideológicos dessa classe, no caso idéias do iluminismo. Os iluministas foram pensadores que defenderam uso da razão, em contraposição á fé cristã, e combateram o Absolutismo. Embora não seja a preocupação central da maioria dos poetas árcades, idéias de liberdade, justiça e igualdade social estão presentes em alguns textos da época, como nestes versos de Tomás António Gonzaga: O ser herói, Marília, não consiste Em queimar os impérios: move a guerra, Espalha o sangue humano, E despovoa a terra Também a mau tirano. tanto pode ser herói o pobre, como o maior augusto. Convencionalismo amoroso: na poesia árcade, as situações são artificiais, não é o próprio poeta quem fala de si e de seus reais sentimentos. No plano amoroso, por exemplo, quase sempre é um pastor que confessa o seu amor por uma pastora e a convida para aproveitar a vida junto à natureza. Porém, ao se lerem vários poemas, de poetas árcades diferentes, tem-se a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma mulher e de um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais. Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos, levando o poeta a racionalizá-los. Ou seja, o que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como faziam os poetas clássicos, e não expressar os sentimentos. Além disso, mantêm-se o distanciamento amoroso entre os amantes, que já se verificava na poesia clássica. A mulher é vista como um ser superior, inalcançável e imaterial. Carpe diem: o desejo de aproveitar o dia e a vida enquanto é possível lema já bastante explorado pelo Barroco é retomado pelos árcades e faz parte do convite amoroso, como nestes versos de Tomás António Gonzaga: Ah! não, minha Marília. aproveite-se o tempo, antes que faça o estrago de roubar ao corpo as forças, e ao semblante a graça! Dentre os autores árcades brasileiros, destacam-se: Na lírica: Cláudio Manuel da Costa, Tomás António Gonzaga e Silva Alvarenga. Na épica: Basílio da Gama - Santa Rita Durão e Cláudio Manuel da Costa. Na sátira: Tomás António Gonzaga. Na encomiástica: Silva Alvarenga e Alvarenga Peixoto. 4 A ERA NACIONALISTA ROMANTISMO (1836-1881) OS LIMITES CRONOLÓGICOS DO ROMANTISMO BRASILEIRO Início: 1836 - Publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. Término: 1881 - Publicação de Memórias Póstu- mas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e de O Mulato, de Aluísio Azevedo, obras que inauguram, respectivamente, o Realismo e o Naturalismo. CARACTERÍSTICAS CENTRAIS DO ROMANTISMO O PREDOMÍNIO DA EMOÇÃO, DO SENTIMENTO, O SUBJETIVISMO: No Romantismo, a imposição do eu do artista à realidade opera-se de modo radical. Assim, a função emotiva ou expressiva da linguagem, centrada no emissor, é predominante. A realidade é captada pelo prisma pessoal do poeta. Amoroso calor meu rosto inunda. Mórbida languidez me banha os olhos, Ardem sem sono as pálpebras doloridas, Convulsivo tremor meu corpo vibra: Quanto eu sofro por ti! Nas longas noites adoeço de amor e de desejos. E nos meus sonhos desmaiando passa A imagem voluptuosa da aventura... Eu sinto-a de paixão encher a brisa, Embalsamar a noite e o céu sem nuvens... (Álvares de Azevedo) A EVASÃO OU ESCAPISMO - A FUGA À REALIDADE: Profundamente idealizador, o romântico tem na insatisfação uma das suas constantes. O mundo real traía sempre o mundo da fantasia, da imaginação. Inadaptado à realidade, ou o romântico se rebelava e assumia a atitude revolucionária dos condoreiros, ou se deprimia e buscava a fuga. O escapismo projetou-se das formas mais diversas: no limite, a morbidez, o desejo de morrer, como lenitivo às tensões internas; em outros planos, a boêmia desbragada, o culto da solidão, o gosto pelas ruínas, pelo passado, por lugares exóticos e longínquos, a poesia cemiterial. Diz-se que os românticos têm um temperamento "lunar"; o sol, a luz, o dia não lhes aprazem, por representarem a realidade de que fugiam; a lua, a noite, as paisagens desertas faziam-se refúgios e confidentes das atribulações e tristezas do poeta. É o que vamos ver nos textos que seguem: Pensamento gentil de Paz eterna, Amiga morte, vem. Tu és o termo De dois fantasmas que a existência formam, - Dessa alma vã e desse corpo enfermo. Pensamento gentil de Paz eterna, Amiga morte, vem. Tu és o nada, Tu és a ausência das moções da vida, Do prazer que nos custa a dor passada. (Junqueira Freire) TEMAS E INTERESSES NACIONALISMO: A valorização dos temas nacionais, do folclore, da cor local, do passado histórico, mítico e lendário deveu-se, na Europa, às transformações dos Estados nacionais, aos conflitos de interesses das nações face à Revolução Industrial; na América, a emancipação política das colônias foi o fermento da atitude nacionalista. RELIGIOSIDADE: A impregnação religiosa, a redescoberta das fontes bíblicas, as sugestões da mitologia santoral cristã são localizáveis em alguns momentos do Romantismo. É notório que, ainda aqui, a irregularidade está presente. Para ficarmos num exemplo nacional, coexistem, no mesmo espaço literário, a contrição religiosa de um Gonçalves de Magalhães ou de um Fagundes Varela, e o satanismo de Álvares de Azevedo. Esta antinomia existe, algumas vezes, no mesmo autor. ILOGISMO: A exacerbação do subjetivismo faz com que os românticos acreditem em si mesmos e nos mundos que criam, guiados pela intuição, mesmo quando essa atitude fere a lógica e a razão. Daí decorre o ilogismo, a instabilidade emocional, traduzida em atitudes antitéticas e paradoxais: alegria/tristeza, entusiasmo/depressão, desejo/autopunição. IDEALIZAÇÃO DA MULHER: Quase sempre convertida em anjo, figura poderosa e inatingível, ou em demônio, capaz de mudar a vida do homem, de levá-lo à morte e à loucura. A EVOLUÇÃO DA POESIA NO BRASIL – AS GERAÇÕES O Brasil da 2ª metade do séc. XDC é uma jovem nação agrária, periférica no contexto mundial, não se podendo transplantar cabalmente as situações européias para o contexto brasileiro. Contudo, os temas literários são quase os mesmos e permitem essas aproximações: A PRIMEIRA GERAÇÃO - década 1840/50 - (indianista ou nacionalista), de Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias (inclusive a ficção de Alencar). A SEGUNDA GERAÇÃO - década 1850/60 - (byroniana, do mal-do-século, individualista ou ultra-romântica), de Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela etc. A TERCEIRA GERAÇÃO - década 1860/70 - (condoreira, social ou hugoana), representada por Castro Alves. 5 A PROSA DE FICÇÃO O ROMANCE BRASILEIRO No Brasil, o romance romântico (em Macedo, Alencar, Bernardo Guimarães, Franklin Távora, Taunay) elaborou a realidade,a partir do ponto de vista que norteou todo o nosso Romantismo, ou seja, o nacionalismo literário. O nacionalismo na literatura brasileira consistiu, basicamente, em escrever sobre coisas locais; no romance, a conseqüência foi a descrição de lugares, cenas, fatos e costumes do Brasil, ampliando largamente a visão da terra e do homem brasileiro. Numa sociedade pouco urbanizada, portanto ainda caracterizada por uma rede pouco variada de relações so- ciais, o romance não poderia realmente lançar-se desde logo ao estudo das complicações psicológicas. O advento da burguesia criava, porém, novos problemas de ajustamento da conduta. O romance se desdobra numa larga frente que não cessaria de se ampliar e refinar. Iniciado em fins do decênio de 30, com algumas novelas pouco apreciáveis, toma corpo em 1843 com O Filho do Pescador, de Teixeira e Sousa, e A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, no ano seguinte. Enredo e tipos: a princípio e até a maturidade de Machado de Assis, o romance não passará muito além destes elementos básicos. Ora o enredo é soberano como em Teixeira e Sousa, ora predominam os tipos como em Manuel António de Almeida. Em todos, porém, ressalta a atenção ao meio, ao espaço geográfico e social onde a narrativa se desenvolve. Quanto à matéria, o romance brasileiro nasceu regionalista e de costumes; ou melhor, pendeu desde cedo para a descrição dos tipos humanos e das formas de vida social nas cidades e nos campos. O romance histórico se enquadrou nesta mesma orientação. O romance indianista constituiu desenvolvimento à parte. Assim, há três graus na matéria romanesca, determinados pelo espaço em que se desenvolve a narrativa: CIDADE - VIDA URBANA CAMPO - VIDA RURAL SELVA - VIDA PRIMITIVA A figura dominante do período, José de Alencar, pas- sou pelos três, e nos três deixou boas obras: Lucíola, O Sertanejo, O Guarani. O aprofundamento da análise vai se tornando viável pela sedimentação do material estudado no romance. O romance rural de Bernardo e Távora, o romance urbano de Macedo, Manuel António e Alencar constituem, por assim dizer, a superposição progressiva de camadas, que ia consolidando o terreno para a sondagem profunda de Machado de Assis. Levados à descrição da realidade pelo programa nacionalista, os escritores eram, contudo, demasiado românticos para elaborar um estilo e uma composição adequados. A cada momento, a tendência idealista rompe nas frases, na articulação dos episódios, na configuração das personagens, abrindo brechas profundas para o fantástico, o desmesurado, o incoerente na linguagem e na concepção (Realismo x Romantismo). A EVOLUÇÃO DA FICÇÃO ROMÂNTICA Ao lado da poesia e do teatro, a ficção, entendida como romance, novela e conto, completa o quadro dos gêneros preferidos do Romantismo. Os traços mais comuns desse gênero, entre nós, são: a) Maniqueísmo, ou seja, divisão do mondo em mal. b) Detalhes de costumes e de cor local, objetivamente referidos. c) Comunhão entre a Natureza e os sentimentos personagens. d) Elevação de sentimentos e nobreza de caracteres em oposição à vilania, com o triunfo do bem e a punição do mal, com intenção moralizante. e) Linearidade das personagens, estereotipadas, visíveis. f) Complicação sentimental: o herói e a heroína têm encontro final, o happy end, retardado pela ação vilão, ou pelo conflito entre a honra e o dever, ainda pela intriga ou orgulho ferido, criando no leitor a expectativa pelo desenlace. Dentre as modalidades de romance cultivadas no Brasil, destacam-se: O ROMANCE DE FOLHETIM: Era publicado com periodicidade regular pela imprensa, explorando a complicação sentimental, a intriga, o mistério, a aventura, à maneira das novelas da j televisão. Esta modalidade gozou de grande popularidade até o advento da radiodifusão, quando passou a ser I divulgada por esse veículo. O ROMANCE URBANO: Fotografa com fidelidade os ambientes, cenas, costumes e tipos humanos extraídos da burguesia. Volta-se para a caracterização exterior das personagens: atos, gestos, palavras, diálogos, roupas etc. O ROMANCE HISTÓRICO: A matéria narrativa é fornecida pelo passado histórico, de preferência remoto, de modo a permitir a idealização, ou pelo passado lendário. O compromisso do romancista com a História restringe-se essencialmente à reconstituição do clima da época, à fidelidade aos hábitos, costumes e instituições. O romance de capa e espada e o romance de mistérios são desdobramentos do romance histórico; o primeiro, voltado para a vingança punitiva e o suspense; o segundo, voltado para á exploração de peripécias e surpresas, desembocando, às vezes, na fantasmagoria. O ROMANCE REGIONALISTA: Explora, no Romantismo, as paisagens e costumes das ilhas culturais brasileiras, o Nordeste, os Pampas Gaúchos, o Pantanal Mato- Grossense, o Sertão de Minas e Goiás, ora tendendo ao nativismo e ufanismo (Alencar, Bernardo Guimarães), ora valorizando o aspecto documental (Taunay e Franklin Távora). O ROMANCE INDIANISTA: Confinando com o romance 6 histórico, tende à epopéia e à criação de "heróis nacionais", míticos, lendários, tomados como símbolos de elementos formadores da nacionalidade. ROMANCES REGIONALISTAS a) O SERTANEJO - Ambientado no Nordeste brasileiro, traça todo um complexo de características geográficas e culturais, registrando o típico de nossa sociedade rural, desde o comportamento individual e as relações domésticas, até o registro do folclore. Personagem central: Arnaldo Louredo. b) O GAÚCHO - A vida do homem dos pampas não é espelhada com fidelidade. Personagem central: Manuel Canho. c) TIL - Ambientado no planalto paulista, relata a história do amor impossível entre Miguel e Berta. d) O TRONCO DO IPÊ - A história tem como cenário a Fazenda Nossa Senhora do Boqueirão, na zona da mata fluminense. Um velho tronco de ipê, outrora frondoso, representa a decadência da fazenda. Bem próximo, numa cabana, mora o negro Benedito, espécie de feiticeiro, que guarda o segredo da família. Mário, a personagem central, que viveu desde criança na fazenda, juntamente com a prima Alice, descobre que o pai da moça, Joaquim, é o assassino de seu pai. Desesperado, Mário tenta o suicídio, pois não pode se casar com a filha de um assassino. Mas o negro Benedito o impede, contando-lhe o segredo: Joaquim não matou o pai de Mário. Ele foi tragado pelas águas do Boqueirão e está enterrado junto ao tronco de ipê. Mário reconcilia- se com a vida e se casa com Alice. ROMANCES HISTÓRICOS a) AS MINAS DE PRATA - Apresenta o mito do tesouro escondido, que arrasta para os sertões brasileiros a onda de aventureiros e bandeirantes, aos quais se deve o seu povoamento. Personagem central: Estácio Corrêa. b) A GUERRA DOS MASCATES - Reporta-se a um episódio da História do Brasil: a luta travada entre as cidades de Olinda e Recife, nós anos de 1710 e 1711, pelos pernambucanos proprietários de engenhos que viam com desconfiança a prosperidade de Recife, onde residiam os mascates, como eram designados os comerciantes portugueses, resultando forte animosidade. Para fugir à autoridade de Olinda, então sede da capitania, os recifenses solicitaram e obtiveram do reino a jurisdição própria de sua vila. Rebelaram- se os de Olinda que, armados, se apoderaram de Recife, depondo o governador e nomeando para o cargo o bispo de Olinda. Depois de várias lutas, os ânimos são serenados, conservando Recife sua autonomia. c) O GARATUJA - Crônica da sociedade colonial do Rio de Janeiro. O "Garatuja" é a personagem Ivo, moleque travesso, acostumado a riscar paredes com carvão. Apadrinhado do escrivão Sebastião Ferreira Freire, Ivo obtém a mão de Marta, filha do escrivão, sucedendo-o no cartório. ROMANCES URBANOS a) CINCO MINUTOS - História de um jovem que, per- dendo o bonde por cinco minutos, conhece Carlota, por quem se apaixona,sem ver-lhe o rosto. Carlota é doente, deve morrer, e recusa-se a recebê-lo. Depois de muita insistência, os dois se encontram. Carlota recupera a saúde. Casam-se. b) A PATA DA GAZELA - Horácio, jovem bem vestido e vaidoso, conhece Amélia e imagina que ela esteja por ele. Ficam noivos. Leopoldo, moço i a casa da moça, apaixona-se por ela também. Amélia, aos poucos, percebe a frivolidade do futuro marido. Rompe o noivado, casa-se com Leopoldo. c) A VIUVINHA - Narra a história de Carolina, cujo mando, Jorge, finge suicídio na manhã seguinte ao casamento, para lotar peio resgate de dívidas que mancham soa honra e a memória de seu pai. Durante cinco anos, Carolina se conserva fiel, resistindo ao amor de uma sombra que lhe aparece todas as noites à janela. Decorrido esse lapso de tempo, retoma Jorge, para a felicidade de Carolina. Reiniciam a vida interrompida. d) SONHOS D'OURO - Romance que situa o problema social da mulher face à família e ao casamento. Personagens: Guida e Ricardo. e) DIVA - Augusto, médico, narra na primeira pessoa o seu amor por Emília, moça de personalidade forte, mas que, no fim, confessa seu amor por ele. f) LUCÍOLA - Narra a história de Lúcia, que, tendo sido expulsa de casa, é obrigada a viver da prostituição. Apaixona-se por Paulo e com ele mantém um amor puro. Ao saber que está grávida, tem um choque e morre. g) ENCARNAÇÃO - Hermano, um viúvo, é tido como doente mental, em razão de seu procedimento esquisito. Amália, uma vizinha, descobre que a causa de seu comportamento era o obstinado amor e fidelidade à esposa falecida. Amália passa então a nutrir por Hermano uma grande afeição que vai se transformar em amor, materializando- se no casamento de ambos. h) SENHORA - Aurélia Camargo, moça pobre e órfã de pai, ficou noiva de Fernando Seixas, rapaz de boa índole, mas desfibrado pelo desejo de carreira fácil e brilhante. Em parte pelo fato de ser pobre, em parte pela perspectiva de um bom dote, Fernando abandona a noiva, que se desilude dos homens. Inesperadamente, morre-lhe o avô e ela fica milionária. Movida por vários impulsos e motivos, manda propor a Fernando que a despose mediante um dote de cem contos, quantia avultadíssima na época. Envolvido em dificuldades financeiras, o rapaz aceita; mas na noite do casamento, Aurélia, manifestando desprezo profundo, comunica-lhe que deverão viver lado a 7 lado, como estranhos, embora unidos ante a opinião pública. Fernando compreende o sentido da compra a que se sujeitara e toma consciência da leviana futilidade em que vivia. Numa espécie de longo duelo, marido e mulher se põem à prova, até que Fernando consegue a soma necessária para devolver o que recebera e propõe a separação. Entrementes, o seu caráter se forjara, enquanto se abrandava a dureza de Aurélia. O desenlace é a reconciliação entre ambos, cujo amor havia crescido com a experiência. Nota-se a firmeza da observação dos costumes do tempo, o que representa um traço ponderável de realismo e de modernidade, quando a tendência do romance considerado mais "brasileiro" era no sentido do pitoresco histórico ou regional. 8 REALISMO E NATURALISMO Início: 1881 - Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, funda o Realismo e, no mesmo ano, O Mulato, de Aluísio Azevedo, funda o Naturalismo. Término: 1893 - Início do Simbolismo, com o aparecimento de Missal e Broquéis, obras de Cruz e Sousa. LOCALIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo são as correntes artísticas mais expressivas da segunda metade do século XIX até o limiar do século XX. Refletem, no plano artístico, a consolidação da burguesia e seu fortalecimento, enquanto classe detentora do poder, em função do triunfo definitivo do capital industrial sobre o capital de comércio e da implementação do capitalismo avançado e sua expansão às áreas periféricas do sistema mundial, América, África e Ásia. O ímpeto revolucionário e contestatório do período romântico, a exaltação da liberdade individual, da rebeldia, são substituídos por novas palavras de ordem: a ciência, o progresso, a razão, que interessam à classe dominante, no sentido da estabilização de suas conquistas, de preservação, da ordem, de maximização da produção industrial. O lema, da bandeira brasileira, “Ordem e Progresso”, extraído de, Augusto Comte, sintetiza a proposta do Positivismo, uma das vertentes do pensamento da época. O apogeu da Revolução Industrial, o avanço científico e tecnológico marcaram profundas transformações na vida, na arte e no pensamento. A situação das massas trabalhadoras nas cidades industriais, a explosão urbana, a eletricidade, o telégrafo sem fios, a locomotiva a vapor criaram uma nova forma de vida, antecipadora da civilização industrial do nosso tempo. CARACTERÍSTICAS TEMÁTICAS E ESTILÍSTICAS OBJETIVISMO: Caracteriza-se pela preocupação com a verdade, não apenas o verossímil, mas com a verdade exata, a que se chega por meio de observação e análise. Na recriação artística da realidade, os autores da época põem em primeiro plano as impressões sensoriais, através da descrição objetiva. Os detalhes são da maior importância e nada é desprovido de interesse. IMPASSIBILIDADE: O autor procura uma posição neutra, ausentando-se da narrativa, desinteressado pelo destino das personagens, que são “fotografadas” por dentro (Machado de Assis) ou por fora (Aluísio Azevedo). Procura-se obedecer a uma lógica rigorosa entre as causas que determinam o comportamento humano; nenhuma atividade da personagem realista é gratuita, há sempre uma explicação lógica e cientificamente aceitável para o seu comportamento. PERSONAGENS ESFÉRICAS: Enquanto no Romantismo as personagens tendiam a ser lineares, construídas ao redor de uma única idéia ou qualidade, “bem” x “mal”, “herói” x “vilão” com atitudes plenamente previsíveis e infensas a qualquer evolução, reduzindo-se a tipos (o mocinho pobre bem-intencionado; a mocinha casadoira; o pai tirano; a tia bisbilhoteira; o arrivista fulminante, no final desmascarado etc), o Realismo valoriza as personagens esféricas, que apresentam simultaneamente várias qualidades ou tendências; são complexas, multiformes, e repelem qualquer simplificação. São dinâmicas, porque evoluem e têm profundidade psicológica. (Observe-se, no entanto, que, em grandes obras do Romantismo, também se encontram personagens esféricas, ou seja, dotadas de complexidade, profundidade e evolução psicológica.) TEMAS CONTEMPORÂNEOS: A obra realista e naturalista centra-se no presente, no momento vivido pelo autor. São freqüentes a crítica social, que busca desnudar as mazelas da burguesia e do clero, e a análise psicológica, voltada para a investigação dos motivos das ações humanas. EXALTAÇÃO SENSORIAL: O romântico apreendia o mundo com o coração, com o sentimento, com uma atitude espiritualizante. O realista é, acima de tudo, sensorial: precisa ver, apalpar, experimentar fisicamente. A sensação é elemento fundamental no conhecimento do mundo. Assim, no Realismo, o amor perde a conotação espiritualizante para restringir-se ao aspecto físico: ocorre o que chamaríamos de sexualização do amor. Ao invés do casamento como epílogo, teremos o adultério como ponto de partida. ELEMENTOS DA NARRATIVA REALISTA-NATURALISTA a) A narrativa é lenta, minuciosa e a ação e o enredo ordem a importância para a caracterização das personagens. b) Predomina a denotação e a metáfora ê colocada em segundo plano, cedendo lugar à metonímia. c) Preocupação formal. Busca-se a clareza, o equilí- brio, a harmonia da composição, além da correção gramatical. CORRENTE NATURALISTA É um desdobramento do Realismo,por isso falamos período do Realismo-Naturalismo, pois há muitos pontos comuns entre as duas correntes. Ambas orientam- se no sentido do cientificismo e do materialismo, da objetividade e da crítica às instituições burguesas, ao clero e à monarquia. No Brasil, ambas se desenvolvem simultaneamente e coexistem em determinados autores; mas há diferenças a assinalar: a) A visão de vida do Naturalismo é mais determinista, mais mecanicista; ressalta-se o aspecto biofisiológico do homem, visto como um animal, regido pelo instinto e pela fisiologia, não pelo espírito nem pela razão. b) Por influência do método científico da Medicina Experimental, de Claude Bernard, o naturalista faz do romance uma espécie de laboratório da vida, encarando o homem e a sociedade como um "caso" a ser analisado. c) O autor naturalista, com sua preocupação 9 científica e seus interesses universais, atém-se aos fatos e nada que esteja na Natureza é indigno da literatura. Isso implica certa indiferença, certo amoralismo, não importando a opinião sobre os atos, mas os atos em si mesmos. Daí a abordagem de temas escabrosos (sedução, adultério, incesto, homossexualismo, taras e vícios), tão ao gosto de determinados autores. A denúncia dos aspectos degradantes da condição humana faz-se com o propósito de melhoria das condições sociais que os geraram. d) As obras naturalistas pecam por esquematismo, presas que estão ao determinismo, à explicação cientificista e esquemática da vida. Restringem-se, muitas vezes, apenas à exterioridade, aos condicionamentos, incapazes de perfurar essa crosta e contemplar o homem em toda a sua complexidade. QUADRO COMPARATIVO REALISMO NATURALISMO Origem: França Origem: França, com Thérèse Raquim (1867) de Émile Zola Romance documental, apoiado na observação e na análise. Romance experimental, que pretende apoiar-se na experimentação científica. Acumula documentos, “fotografa” a realidade, para dar a impressão de vida real. Imagina experiências que remetem a conclusões a que não se chagaria apenas pela observação. Arte desinteressada, impassibilidade. Arte engajada, de denúncias; preocupações políticas sociais. Reproduz a realidade exterior, bem como a interior, através da análise psicológica. Centra-se nos aspectos exteriores: atos, gestos, ambientes. Volta-se para a psicologia, para o indivíduo. Prefere-se a biologia, a patologia, centra-se mais no social. Retrata a crítica as classes dominantes, a alta burguesia urbana. Espelha as camadas inferiores, o proletariado, os marginais. É indireto nas interpretações; o leitor tira as suas próprias conclusões. É direto nas interpretações; expõe conclusões, cabendo ao leitor aceitá-las ou discuti- las. Grande preocupação com o estilo. O estilo é relegado a segundo plano; no primeiro, a denúncia. Seleciona os temas, tem aspirações estéticas, busca o belo. Detém-se nos aspectos mais torpes e degradantes. O REALISMO-NATURALISMO NO BRASIL O período realista-naturalista foi o primeiro em nossa literatura a apresentar um panorama completo de vida literária, com todos os gêneros florescendo, com as instituições culturais se multiplicando, com os numerosos jornais sendo relativamente lidos. A literatura passa a ser aceita pelos setores instruídos das classes dominantes e das camadas médias. De elemento marginal que era o escritor foi-se tornando aceito, considerado parte integrante da vida social. Esse processo é simbolizado pela fundação da Academia Brasileira de Letras (1897), que veio, de certo modo, a oficializar a literatura. A importância desse período é completada pelo relevo adquirido pela oratória civil, os estudos históricos, a gramática, a crítica literária etc. A figura mais expressiva da corrente realista foi Machado de Assis, pela excelência da obra, pela contribuição pessoal que acrescentou aos postulados realistas, pelos caminhos que descortinou para nossa literatura, determinando um salto qualitativo que marca a maturação das nossas letras. Realista não-ortodoxo, avesso a todos os modismos, Machado inaugura procedimentos literários, cujos desdobramentos ainda hoje se podem perceber. A vertente naturalista, capitaneada por Aluísio Azevedo, tem como representantes típicos, além dele, Inglês de Sousa, Júlio Ribeiro, Domingos Olímpio, Adolfo Caminha, Manuel de Oliveira Paiva. Quanto a Raul Pompéia, veremos a seu tempo que sua classificação como naturalista é problemática. No Brasil, ao contrário do que ocorreu na Europa, o Realismo e o Naturalismo desenvolvem-se simultânea e não sucessivamente, balizados por estes limites cronológicos: ESQUEMA GERAL DA PROSA REALISTA-NATURALISTA I - ROMANCE REALISTA Machado de Assis Raul Pompéia - (classificação problemática) II - ROMANCE NATURALISTA A – SOCIAL Aluísio Azevedo B – URBANO Adolfo Caminha Júlio Ribeiro C – REGIONALISTA Domingos Olímpio Inglês de Sousa Manuel de Oliveira Paiva D - NATURALISTA ESTILIZADO - "ART NOUVEAU" Coelho Neto Afrânio Peixoto Xavier Marques 10 PARNASIANISMO (1882 1893) LOCALIZAÇÃO HISTÓRICO-CULTURAL O Parnasianismo é um estilo literário, especifica- mente poético, que se desenvolve paralelamente ao Realismo-Naturalismo, de cujo contexto histórico participa, aplicando-se-lhe, em linhas gerais, o que ficou dito, a esse título, sobre a época realista. É a fase de ouro da burguesia, enriquecida com a Revolução Industrial, desfrutando do conforto moderno e do progresso. Ainda que não se possa confundir o ideário parnasiano com o dos movimentos que lhe são contemporâneos, há algumas convergências importantes: a negação do subjetivismo, a postura anti-romântica. TEMAS, MOTIVOS E FORMAS DA POESIA PARNASIANA ARTE PELA ARTE - O ESTETICISMO: Derivada das propostas de Théophile Gauthier, a "arte pela arte" é um dos princípios centrais dos parnasianos. A poesia volta-se para o belo (esteticismo), descompromissada com os problemas do mundo. É uma arte para a elite, revelando acentuado desprezo pela plebe, pelas aspirações populares, pelo cotidiano. Há uma recusa frontal aos temas "vulgares"; a poesia distancia-se da vida e os poetas encerram-se em suas "torres de marfim", impedindo que sua poesia se faça permeável às grandes causas de seu tempo. Mais tarde, é contra essa alienação que os modernistas se insurgem: Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino, escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! ("A um Poeta" - Bilac) IMPASSIBILIDADE E A CONTENÇÃO DO LIRISMO: O Parnasianismo é a negação da poesia sentimental e confessional dos românticos. Ao egocentrismo romântico, os poetas parnasianos preferem os (temas universais) "O Amor", "A Vida", e não "Meu Amor", "Minha Vida". A subjetividade é afastada do sentimentalismo. Vejamos um exemplo dessa atitude: Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero Luto jamais te afeie o cândido semblante! Diante de um Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero. Em teus olhos não quero a lágrima; não quero Em tua boca o suave e idílico descante. Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante, Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero. ("Musa Impassível", Francisca Júlia) PERFEIÇÃO FORMAL: O POETA JOALHEIRO: Centrados no puro fazer poético, os parnasianos instauram o materialismo da forma, o artesanato do verso. A palavra é trabalhada como matéria-prima que deve ser lapidada, burilada (buril = instrumento usado na exe- cução de gravuras em metal, madeira ou pedra), cinzelada (cinzel = instrumento usado pelos escultores). A poesia deve ser fruto do esforço intelectual, da elaboração. Os parnasianos são "poetas de dicionário", extremamente zelosos da linguagem pura, vernácula, sem incorreções ou vulgaridades.A seleção vocabular é rigorosa, abeirando-se da erudição. A assimilação dos ideais das artes plásticas (pintura, escultura, arquitetura, ourivesaria etc.) aproxima a atitude do poeta parnasiano e a do pintor, escultor, arquiteto ou ourives, enfatizando o aspecto do perfeccionismo do trabalho artístico. Essa proximidade em relação aos ideais das artes plásticas é muito evidente nos textos que transcrevemos a seguir: Invejo o ourives quando escrevo; Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto-relevo Faz de uma flor. Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo: O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro. Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papel A pena, como em prata firme Corre o cinzel. ("Profissão de Fé" - Bilac) A POESIA DESCRITIVA, PLÁSTICA E VISUAL: Os objetos, as cenas históricas e os fenômenos naturais (o anoitecer, a primavera, o amanhecer) são descritos por meio de impressões sensoriais, nítidas, especialmente as imagens visuais, que se convertem em verdadeiros cromos, tal a intensidade das cores e do brilho. f Este cromatismo intenso é particularmente visível nas cenas da natureza e na descrição de objetos de arte, duas constantes da temática do Parnaso. Nos últimos decênios do século XIX, o estreitamento dos contatos com o Oriente (China, índia, Japão) e as descobertas arqueológicas na Grécia e em Roma revelaram uma arte particularmente requintada, na estatuária, nos objetos (vasos etc), maravilhando o gosto burguês pelo exótico, pelo requinte. Há uma verdadeira adoração desses objetos, um quase fetichismo. Alberto de Oliveira, entre os parnasianos brasileiros, especializou- se nessa temática ("O Vaso Grego", "O Vaso Chinês", "O Leque", "A Estátua"). Esta de áureos relevos, trabalhada De divas mãos, brilhante copa, um dia, Já de aos deuses servir como cansada, Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. ("Vaso Grego", Alberto de Oliveira) 11 O RETORNO À TRADIÇÃO CLÁSSICA: O Parnasianismo foi a recuperação dos ideais do Classicismo; representou um retorno aos temas e formas da poesia greco-romana, renascentista e arcádica. Tem com elas, em comum, o predomínio da razão, o antropocentrismo, os ideais da arte voltada para o belo, para o bem, para a verdade e para a perfeição; a submissão rigorosa às regras e modelos preestabelecidos; a objetividade e a obediência ao princípio aristotélico de que a arte deve ser a cópia da natureza (mímesis). Revivem no Parnasianismo os temas extraídos da História e da Mitologia greco- romanas: O Incêndio de Roma, A Sesta de New, O Triunfo de Afrodite, O Julgamento de Frinéia, A Tentação de Xenócrates são títulos de algumas composições antológicas de Olavo Bilac, que nos remetem à Grécia e à Roma antigas. A MÉTRICA RIGOROSA: Os parnasianos preferiam os versos longos, especialmente os alexandrinos (12 sílabas) e os decassílabos. A PREFERÊNCIA PEIAS FORMAS FIXAS: Os parnasianos reabilitaram as formas clássicas da poesia. O soneto, quase abandonado no Romantismo, foia forma eleita pelos poetas da época. Também o terceto, a sextina, a balada, o rondo são largamente cultivados. INVERSÕES SINTÁTICAS: há hipérbatos e anástrofes muito freqüentes; a sintaxe é opulenta e tende ao rebuscamento. PRINCIPAIS AUTORES: Alberto de Oliveira Raimundo Correia Olavo Bilac SIMBOLISMO (1893 1922) O SIMBOLISMO NO BRASIL LIMITES CRONOLÓGICOS Início: 1893 com a publicação de Missal (poemas em prosa) e Broquéis (poesia) de Cruz e Sousa. Término: 1922 (Em sentido amplo os limites do Simbolismo se estendem até a Semana de Arte Moderna; ou 1902: Em sentido estrito, reconhece-se a publicação de Os Sertões, de Euclides da Cunha, e de Canaã, de Graça Aranha, como marcos iniciais de novo período literário, o Pré-Modernismo, cujo advento não significou, entretanto, interrupção do Simbolismo.) SÍNTESE DAS CARACTERÍSTICAS NEGAÇÃO DO POSITIVISMO, do cientificismo, do materialismo e das estéticas neles fundamentadas, o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo. Criação poética como fruto do inconsciente, da intuição, da sugestão, do "EU-PROFUNDO", da associação de idéias e imagens. Complexidade na relação EU / MUNDO. ESPIRITUALISMO, misticismo, subjetivismo intenso, ocultismo. Ânsia de superação, de fuga do terreno, comunhão com os Astros, o Espírito, o Alto, a Alma, o Infinito, a Essência, o Desconhecido. Fixação pela Idade Média e por vocabulário litúrgico de ambiência eclesiástica (antífona, missal, ladainha, hinos, breviário, turíbulos, aras, incenso). TOM VAGO, impreciso, nebuloso. Poesia hermética, ilógica, indireta, obscura, rompendo com a lógica discursiva. A poesia como mistério. (Mallarmé, Pedro Kilkerry). USO CONSTANTE DE SINESTESIAS: Correspondências entre as sensações, ou mistura de sentidos como verificado de exemplo abaixo em que a luz possui cheiro e a som tem cor e exala aroma: Nasce a manhã, a luz tem cheiro... Ei-la que assoma Pelo ar sutil... Tem cheiro a luz, a manhã nasce... Oh sonora audição colorida do aroma! (Alphonsus de Guimaraens) MUSICALIDADE: Por meio das aliterações (seqüência de fonemas consonantais idênticos ou de mesma área de articulação, dentro do mesmo verso ou em versos contíguos). Note o exemplo abaixo: E as cantilenas de serenos sons amenos fogem fluidas fluindo afina flor dos fenos. (Eugênio de Castro) Vozes veladas veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, (Cruz e Sousa) ASSONÂNCIAS (seqüência dos mesmos fonemas vocálicos nas sílabas tônicas de palavras sucessivas ou próximas). Verifique o trecho seguinte: Ao longo da viola chorosa Vai adormecendo aparlenda... (Camilo Pessanha) 12 Linguagem fundamentada em uma "GRAMÁTICA PSICOLÓGICA": neologismos, arcaísmos, combinações vocabulares inesperadas. A metáfora como célula germinal da poesia. Palavras escolhidas pela sonoridade, pelo ritmo, pelo colorido, fazendo-se arranjos artificiais .de partes ou detalhes para criar impressões sensíveis. MAIÚSCULAS ALEGORIZANTES: substantivos comuns, escritos com inicial maiúscula, no interior do verso, para realçá-los semanticamente, fazendo que se refiram a "essências" e aumentando a sua expressividade: Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume... (Cruz e Sousa) RETICÊNCIAS e o CONECTIVO BÍBLICO "e" (no início do verso). PRINCIPAIS TEORIZADORES Baudelaire - (a teoria das correspondências). Verlaine - (a musicalidade). Mallarmé - (o hermetismo intencional, a rebeldia sintático-semântica). Rimbaud - (a alquimia verbal, a magia e o poder encantatório do vocábulo). PONTOS DE CONTATO COM O PARNASIANISMO Preocupação formal Culto da rima Preferência pelo soneto (não sistematicamente) Distanciamento da vida Descompromisso com as questões mundanas. ANTECIPAÇÕES DA MODERNIDADE Ruptura com o descritivo e linear. Automatismo verbal, linguagem do mundo interior. Monólogo interior, captação do fluxo de consciência. Desarticulação sintática e semântica. Sondagem infinitesimal da memória. PRINCIPAIS AUTORES: Cruz e Sousa Alphonsus de Guimaraens Medeiros de Albuquerque 13 Pré-Modernismo O termo "Pré-Modernismo" foi criado por Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Ataíde) para designar o período cultural brasileiro que vai do princípio deste século à Semana de Arte Moderna, ou, como quer a cronologia literária, de 1902, ano da publicação de Canaã, de Graça Aranha, e de Os Sertões, de Euclides da Cunha, até 1922, ano da realização da Semana de Arte Moderna. Corresponde à "belleépoque" brasileira, marcada pela concomitância de diversas correntes, às vezes opostas: Parnasianismo residual (Raimundo Correia, Bilac, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho ainda estavam vivos e escreviam); Neoparnasianismo (Amadeu Amaral e Martins Fontes) prosa tradicionalista (Rui Barbosa, Joaquim Nabuco e Coelho Neto); Simbolismo, que não logrou penetração nas elites cultas da época nem nas camadas populares; Realismo-Naturalismo, transfundido na prosa regionalista de Afonso Arinos, Simões Lopes Neto, Valdomiro Silveira e Hugo de Carvalho Ramos; Literatura problematizadora da realidade brasileira, que é a mais caracteristicamente pré- modernista - Euclides da Cunha, Lima Barreto, Coelho Neto e Graça Aranha. Assim, esquematizando, no período que vamos estudar, convivem tendências CONSERVADORAS e RENOVADORAS. O aspecto conservador está diretamente ligado à sobrevivência da mentalidade positivista, agnóstica e liberal que se expressava no estilo realista-naturalista-parnasiano e seus desdobramentos, já que a corrente simbolista não penetrou, senão superficialmente, no espírito das classes cultas. Otto Maria Carpeaux deixa claro que "aqui e só aqui fracassou o Simbolismo; e por isso, o movimento poético precedente sobreviveu, quando já estava extinto em toda parte do mundo". O aspecto renovador está na incorporação, do ponto de vista do conteúdo, de aspectos da realidade brasileira, refletindo situações históricas novas, ou só a partir de então consideradas: a miséria e o subdesenvolvimento nordestino, em Euclides da Cunha; a vida urbana e as transformações do início do século (as greves, o futebol, o arranha-céu, o jogo do bicho, os pingentes da Estrada de Ferro Central do Brasil, o subúrbio carioca), em Lima Barreto; miséria do caboclo do Vale do Paraíba, a decadência da cultura cafeeira, o anacronismo das práticas agrícolas, em Monteiro Lobato; e a imigração alemã no Espírito Santo, em Graça Aranha. Assim, pode-se dizer que o aspecto conservador (o Pré) localiza-se mais no código, na linguagem que, com algumas poucas ousadias, continuou fiel aos modelos realistas e naturalistas (Aluisio Azevedo, Eça de Queirós, Machado de Assis, Flaubert, Emile Zola, Balzac); ressuscitando até o Barroco do Padre António Vieira, perceptível em Rui Barbosa e Euclides da Cunha. O aspecto renovador (o Modernismo) está centrado na preocupação com a realidade nacional, no regionalismo crítico e vigoroso e na crítica às instituição arcaicas da República Velha. Algumas dessas características serão retomadas, especialmente na segunda geração modernista. Esta época, no que tange à literatura oficial, acadêmica, reflete o gosto da classe dominante, expressando-se de forma pedante e artificial, pouco inovadora. Este aspecto de "estagnação" é batizado como a época dos "neos": neoparnasianos, neo-simbolistas, e até neoclássicos e neo-românticos reabilitaram-se no gosto literário de então. PRIMEIRO TEMPO MODERNISTA (1922-30) O período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento modernista, justamente em consequência da necessidade de definições e do rompimento com todas as estruturas do passado. Daí o caráter anárquico dessa primeira fase e seu forte sentido destruidor, assim definido por Mário de Andrade: “[...] se alastrou pelo Brasil o espírito destruidor do movimento modernista. Isto é, o seu sentido verdadeiramente específico. Porque, embora lançando inúmeros processos e ideias novas, o movimento modernista foi essencialmente destruidor. [...] Mas esta destruição não apenas continha todos os germes da atualidade, como era uma convulsão profundíssima da realidade brasileira. O que caracteriza esta realidade que o movimento modernista impôs é, a meu ver, a fusão de três princípios fundamentais: o direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização de uma consciência criadora nacional”. Esse movimento é nomeado de Fase Heroica ou Geração de 1922. Teve o seu início com a Semana de Arte Moderna. Uma importante característica desse período de afirmação nacional foi a disseminação de diversos grupos e manifestos. Além disso, a publicação de algumas revistas auxiliaram na divulgação dos ideais modernos. Algumas marcas importantes a serem consideradas nesse movimento: Liberdade de expressão: nada de limitações ou imposições; o autor deve procurar seu próprio caminho para expressar-se. O vocabulário aproxima-se do falar cotidiano, da linguagem coloquial: desrespeito ao padrão sintático da gramática. A linguagem coloquial eleva-se a condição de obra de arte. Temática próxima da realidade; assimilação do cotidiano (poética do mínimo). 14 Registro das origens nacionais, do nosso primitivismo. Despreocupação com a métrica e emprego do verso livre e/ou branco. Rompimento da barreira de gêneros literários. Privilégio da poesia sobre a prosa. Principais autores: 1. Mário de Andrade 2. Manuel Bandeira 3. Oswald de Andrade SEGUNDO TEMPO MODERNISTA (1930-45) Esse movimento foi influenciado por um contexto histórico marcado por conflitos sociais e políticos, como a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932 (durante a Era Vargas), além da Segunda Guerra Mundial. Essa fase ficou caracterizada pela reflexão dos escritores acerca de fatos contemporâneos, por obras comprometidas com o realismo das questões sociopolíticas. Na poesia, que tem nomes como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Murilo Mendes e Jorge de Lima, predomina a liberdade formal. Já a prosa, escrita por romancistas como Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, Erico Verissimo e Rachel de Queiroz, é marcada por engajamento político e temática social de cunho regionalista. A geração de 1930 é composta por escritores da prosa modernista da segunda geração. Preocupados com o contexto sociopolítico brasileiro – alguns deles, inclusive, foram perseguidos pela ditadura de Getúlio Vargas –, esses escritores utilizaram os seus livros como veículo de reflexão política e combate ao regime vigente. Portanto, as obras desse período lançam um olhar crítico e realista sobre o Brasil da Era Vargas. O romance de 1930 faz uma retomada do regionalismo romântico; porém, a partir de uma perspectiva realista, e não mais idealizadora. Nesse neorrealismo, além de rejeitar a idealização romântica, os autores também deixaram de lado a impessoalidade realista do século XIX. Os romances desse período resultaram de um engajamento político; portanto, trazem a visão pessoal do autor ou autora sobre a realidade brasileira. Por ser regionalista, o enredo do romance é construído a partir da valorização do espaço, isto é, personagem e espaço tornam-se uma coisa só, pois o lugar em que vive o personagem influencia diretamente o seu comportamento. Nessa perspectiva, há uma retomada do determinismo naturalista; porém, sem o peso da inevitabilidade do destino. Para a geração de 1930, se o meio é a causa dos problemas sociais, isso se resolve ao transformar o meio. As obras desse período trazem um enredo dinâmico, além de uma linguagem simples, o que acabou seduzindo os leitores e propiciando sucesso de vendas para alguns autores. Essas características, contudo, não são aleatórias. O romance de 1930, dado o seu caráter ideológico, é construído, intencionalmente, para ser sedutor e de fácil entendimento, de forma a alcançar o maior número de leitores possível. Principais autores: 1. Graciliano Ramos; 2. José Lins do Rego; 3. Rachel de Queiroz; 4. Jorge Amado; 5. Érico Veríssimo; 6. Carlos Drummond de Andrade; 7. Cecília Meireles; 8. Vinicius de Moraes; 9. Murilo Mendes; 10. Jorge de Lima. TERCEIRO TEMPO MODERNISTA (1945-70) Também chamada de “Geração de 45”, a última fase do modernismo começa em 1945e se estende até 1980. Alguns estudiosos preferem apontar o fim do modernismo na década de 1960. Outros, ainda, afirmam que o modernismo está presente até os dias atuais. Os escritores desse período possuíam uma atitude mais formal, em oposição ao espírito radical, contestador e de liberdade desenvolvido na Semana de 1922. Prosa Modernista Lembre-se que o Modernismo no Brasil está dividido em três gerações, sendo a prosa o tipo de texto mais explorado na terceira fase. De tal modo, os tipos de prosa do período são classificados segundo sua temática: Prosa Urbana A principal caraterística da prosa urbana é sua ambientação nos espaços da cidade, em detrimento do campo e do espaço agrário. Nesse estilo destaca-se a escritora Lygia Fagundes Telles. Prosa Regionalista A prosa regionalista absorve, por outro lado, aspectos do campo, da vida agrária, da fala coloquial e regionalista, por exemplo, na obra de Guimarães Rosa. Prosa Intimista Por sua vez, a prosa intimista é determinada pela exploração de temas humanos e, portanto, é mais íntima, psicológica e subjetiva. Esses aspectos são observados nas obras de Clarice Lispector e de Lygia Fagundes Telles. Poesia Modernista Ainda que a prosa tenha sido o tipo de texto mais explorado na terceira geração modernista, a poesia é apresentada mediante aspectos de equilíbrio. 15 Por isso, os poetas dessa fase eram chamados de “Neoparnasianos”, ao fazerem referência as principais características da poesia parnasiana: preocupação com a estética; metrificação e versificação; busca da perfeição; culto à forma. Principais autores: 1. João Cabral de Melo Neto 2. Lygia Fagundes Telles 3. Clarice Lispector 4. Guimarães Rosa 5. Ariano Suassuna 6. Mário Quintana SÍNTESE GERAL SÍNTESE QUINHENTISMO: Literatura de informação Literatura dos Jesuítas SÍNTESE BARROCO: Conflito religioso e filosófico Teocentrismo X Antropocentrismo Pessimismo = Expressa sofrimento e tristeza Conflito de idéias = choque de concepções Preocupação com o transitório(Efêmero) Rebuscamento da linguagem = Elitização Tentativa de conciliação entre o racional e o religioso Cultismo = jogo de idéias Conceptismo = jogo de palavras Uso exagerado de figuras de linguagem: Hipérboles (exagero) Metáfora (comparação) Antítese (oposição de idéias) Paradoxo (choque de idéias opostas) SÍNTESE ARCADISMO: Uso constante de expressões em latim: Carpe diem = aproveite o dia Furgere urbem = fugir da cidade Locus amoenus = local ameno Áurea mediocritas = mediocridade dourada Anciem regime = velho regime (se referindo a monarquia) Inutila truncat = acabas com as inutilidades Retorno aos valores artísticos da antiguidade clássica greco-romana e do renascimento. Harmonia na forma poética simplicidade. Racionalismo – valoriza o racional em detrimento a religiosidade. Ideal de vida simples – repúdio ao luxo. Natureza pastoril, campestre. Ambientação Bucólica Fingimento poético Amor convencional SÍNTESE ROMANTISMO: O predomínio da emoção, do sentimento (subjetivismo) A evasão ou escapismo (fuga à realidade) Nacionalismo Indianismo Religiosidade Ilogismo Idealização da mulher Valorização Liberdade de expressão Gosto pelo passado Natureza dinamizada SÍNTESE REALISMO: objetivismo Narrativa lenta Exatidão para localizar tempo e espaço Casamento como arranjo conveniente Mulher não-idealizada A figura do anti-herói Uso de introspecção psicológica Ênfase psicológica Universalismo Personagens esféricas Contemporaneidade Romance documental Análise interior e exterior Ênfase nas classes dominantes SÍNTESE NATURALISMO: Objetivismo científico Análise exterior dos personagens Ênfase biológica Classes sociais dominadas Zoomorfismo Romance tese Uso de nomes científicos SÍNTESE PARNASIANISMO: Principio: "A arte pela arte" CARACTERÍSTICAS: Poesia, objetiva racional. Valorização exagerada da forma, da técnica e do estilo. Tendência ao descritivismo. Atitude materialista. Linguagem erudita. Culto da métrica e da rima A poesia se aproxima das artes plásticas – DESCRITIVISMO Influência da cultura clássica greco-romana 16 Busca da perfeição artística – poesia trabalhada "Lapidada" Preferência pelo soneto SÍNTESE SIMBOLISMO: Poesia como: mistério: idéias vagas e obscuras, ilogismo, hermetismo, imprecisão. distanciamento do real, culto do etéreo, espiritualismo, misticismo, ânsia de superação. fruto do conflito versus mundo: tédio, desilusão, pessimismo, melancolia, consciência da efemeridade da vida. fruto de inconsciente: evocação do mundo íntimo. símbolo: uso de alegorias, sinestesias, metáforas, comparações. música: assonâncias, harmonia entre as palavras, ritmo marcante. manifestação do belo: escolha cuidadosa de palavras que causem impressões sensíveis, neologismos, combinações novas entre vocábulos. SÍNTESE PRÉ-MODERNISMO: A DUALIDADE: Corrente conservadora – Permanência de artista (poetas e escritores), realistas, naturalistas, parnasianos e simbolistas, ainda em pleno vigor. Corrente inovadora – na ordem artística com um trabalho voltado para a análise do pais – "Retrato do Brasil", como mostra os aspectos abaixo: Interesse na análise da realidade brasileira da sua época Incorporação na literatura, das tensões sociais do período (virada do século) Regionalismo critico – diferente do regionalismo idealizador do romantismo; Tom de denuncia – "retrato do Brasil das contradições" Utilização de uma linguagem simples, próximo do coloquial; Literatura X Realidade histórico contemporâneo, como observa-se: Narrativa documental.da guerra de Canudos na Bahia, em Os Sertões obra grandiosa de Euclides da cunha. Os problemas de fixação dos imigrantes em solo Brasileiro. Analisados em Canaã de graça Aranha. A decadência econômica dos vilarejos e da população cabocla do "Vale do Paraíba" (SP), ocorrida durante a crise do café em Urupês. Analises dos desequilíbrios sociais nos contos de Valdomiro (Silveira Os Caboclos e Simões Lores Neto Contos Guachenses). PRIMEIRO TEMPO MODERNISTA – 1ª PARTE Apelidada de “Fase heróica”; Manifestações empregadas do espírito polêmico e destruidor; Ânsia por originalidade; Revolta contra o tradicionalismo; Valorização da poética do cotidiano; Uso o verso livre – liberdades dos moldes tradicionais; Presença do humor (poema piada); Espírito “anarquista”: “não sabemos discernir o que queremos” Incorporação do presente Linguagem coloquial Livre associação de ideias Busca de uma língua brasileira Síntese na linguagem Revisão do nosso passado histórico Principais obras: Paulicéia Desvairada (1922), Mário de Andrade; Amar, Verbo Intransitivo (1927), Mário de Andrade; Macunaíma (1928), Mário de Andrade; Memórias Sentimentais de João Miramar (1924), Oswald de Andrade; O Rei da Vela (1937), Oswald de Andrade; Ritmo Dissoluto (1924), Manuel Bandeira; Libertinagem (1930), Manuel Bandeira. SEGUNDO TEMPO DO MODERNISMO Traços gerais: Fase do amadurecimento – estabilização das conquistas de 1922; Valorização do projeto ideológico em contraposição ao estético; A poesia: Recuo das propostas radicais de 1922. Marcada por um desejo de denunciar a realidade social e espiritual do país. Há na poesia três tendências essenciais: a poesia de tensão ideológica, a que expressa uma preocupação religiosa e filosófica, e uma que apresenta uma preocupação surrealista. A prosa: Desenvolvida, sobretudo em duas vertentes: o romance regionalista do Nordeste, marcado pelo caráterde denúncia e pelas tendências neo- realistas e neo-naturalista; e por fim, o romance 17 psicológico (intimista), mergulhado na crise existencial das classes dominantes. Obras: Sentimento do Mundo (1928), Carlos Drummond de Andrade. A Rosa do Povo (1945), Carlos Drummond de Andrade. Viagem (1939), Cecília Meireles. São Bernardo (1934), Graciliano Ramos. Vidas Secas (1938), Graciliano Ramos. Capitães da Areia (1937), Jorge Amado. TERCEIRO TEMPO MODERNISTA Características As principais características da terceira geração modernista são: Academicismo; Passadismo e retorno ao passado; Oposição à liberdade formal; Experimentações artísticas (ficção experimental); Realismo fantástico (contos fantásticos); Retorno à forma poética (valorização da métrica e da rima); Influência do Parnasianismo e Simbolismo; Inovações linguísticas e metalinguagem; Regionalismo universal; Temática social e humana; Linguagem mais objetiva.
Compartilhar