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UNIDADE II TÓPICOS INTEGRADORES - PEDAGOGIA 2 Sumário Para início de converSa ...................................................................................... 3 1. QueSTÕeS iniciaiS Para PenSarmoS a FormaÇÃo iniciaL e conTinuada de ProFeSSoreS ....................................................................................................... 4 2. deSaFioS conTemPorÂneoS Para a FormaÇÃo de ProFeSSoreS ... 6 3. o PerFiL do ProFeSSor no conTeXTo da eScoLa incLuSiva ................ 10 3 TÓPicoS inTeGradoreS ii unidade ii Para início de converSa Olá, estudante, tudo bem? Mais uma vez nos encontramos para conversarmos sobre a formação de professores. Na Unidade I, vislumbramos questões sobre a importância da educação em Direitos humanos. Agora, retomamos essas discussões e no campo da formação inicial e continuada. Nesta unidade, reconhecemos que a formação de professores na contemporaneidade demanda novos conhecimentos, pois os estudantes são sujeitos de direito a aprendizagem e exigem o reconhecimento das suas identidades no espaço escolar. Dessa forma, esse novo paradigma deve aguçar a nossa criatividade, sensibilidade, a nossa relação com o outro, com as diferenças, possibilitando uma reconstrução da docência e de cada professor no seu aspecto humano. orienTaÇÕeS da diSciPLina Nesse contexto, caro(a) aluno(a), é que a Unidade II se organiza, buscando lhe ajudar a repensar a sua formação e atuação na sala de aula no exercício da docência. Assim, este guia está organizado em quatro seções: Ø Questões iniciais para pensarmos a formação inicial e continuada de pro- fessores Este item apresenta considerações sobre a formação inicial e continuada dos pedagogos articulando as premissas dos documentos legais e o que alguns pesquisadores destacam como significativo no contexto atual. Ø Desafios contemporâneos para a formação de professores Apontamos baseados nos pesquisadores Antônio Flávio Moreira e Vera Candau (2008/2012) algumas questões fundamentais que necessitam ser alvo dos cursos de formação, bem como, da prática docente. Ø O perfil do professor no contexto da escola inclusiva Considerando a necessidade de mudança no perfil do professor para que a escola possa se tornar inclusiva, discutimos a necessidade do professor se questionar por que a diferença causa tanto desconforto na nossa prática. Nesse contexto, apresentam-se algumas proposições que podem contribuir para a reflexão e mudança de postura do professor. Ø Para revisar Apresenta as principais ideias destacadas ao longo da Unidade II. 4 1. QueSTÕeS iniciaiS Para PenSarmoS a FormaÇÃo iniciaL e conTinuada de ProFeSSoreS Então, caro(a) aluno(a), ao discutirmos a formação dos professores reconhecemos a importância das discussões apresentadas por Tardif (2002) com ênfase na epistemologia da prática, de Shön (2000) com o professor reflexivo, de Perrenoud (1997) com a discussão sobre a pedagogia das competências e de Giroux (1983, p. 19) que defende que a teoria “deve ter como finalidade a prática emancipatória”. você Sabia? Você sabia que de acordo com o artigo 62 Da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), a Lei nº 9.394/96 a formação inicial de professores dar-se-á em nível superior, nos cursos de licenciatura, de graduação plena, tanto em universidade como em institutos superiores de educação, sendo ainda aceito, como a formação mínima necessária para atuar no exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino fundamental a formação na modalidade do Normal? Pois é! As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial e continuada dos profissionais do magistério da educação básica (2015) também reconhecem essa premissa, salientando ainda a possibilidade do pedagogo ter como campo de atuação os cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, a Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Entretanto, é sabido que apenas a diplomação num curso de Pedagogia não é condição suficiente para a atuação desse profissional, precisamos apreciar os contextos sociais, históricos, culturais, econômicos em que está a escola, o lócus da atuação onde a escola está inserida, pois tais premissas interferem na composição do ato educativo, o que presume um constate refazer pedagógico. Dessa forma, a relevância da formação inicial fincada em uma formação consistente e comprometida com a interface das práticas sociais. Assim, os cursos de formação de professores precisam ofertar discussões que possibilitem a construção de vivências educativas onde os professores possam mediar junto aos estudantes possibilidades deles se empoderarem dos conhecimentos essenciais e dos científicos, do arcabouço das tradições culturais dos variados grupos que compõem a nossa história, da esperança de que outro mundo é possível, da construção do conhecimento através da troca com pessoas e com as mais variadas formas de manifestações culturais. Dos cursos de formação de professores precisam emergir desejo de educar crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos contra a barbárie, práticas de respeito por si e pelo outro com todas as suas diferenças, ética voltada para a justiça, práticas de solidariedade e, sobretudo, espírito de coletividade (Kramer, 2011). A partir dessa compreensão, caro(a) estudante, precisamos refletir sobre a formação inicial e continuada dos pedagogos. Entendendo formação inicial como o período em que os futuros professores se apropriam ??? 5 de “um corpo de saberes e de técnicas e um conjunto de valores específicos da profissão docente” (NÓVOA, 1995, p. 16) e a formação continuada concebida como uma possibilidade de ampliação das nossas práticas. “A formação não se faz antes da mudança, faz-se durante, produz-se nesse esforço de inovação e de procura aqui e agora dos melhores percursos para a transformação da escola (NÓVOA, 1995, p. 60). Assim, reconhecemos que os professores precisam de uma dinâmica contínua organizada a partir de uma perspectiva crítica e reflexiva, onde enxerguem os alunos como produtos da cultura, envolvidos nas teias que caracterizam as relações da contemporaneidade. Isso significa abraçar a diferença como um elemento educativo. Com isso, aluno(a), pactuamos com Arroyo (2008), com o fato de que os profissionais da educação vem se constituindo como “outros”. As suas identidades profissionais estão sendo redefinidas, bem como, as pessoais. A identificação dos docentes com os movimentos sociais desencadeiam novos olhares para as questões humanas, sociais, culturais e pedagógicas, que incidem sobre a forma de ser educador/a e de visibilizar os estudantes, o conhecimento e as formas de ensinar e aprender. Entretanto, como nos alerta Arroyo (2008), essas novas sensibilidades dos educadores ocorrem no mesmo momento que as identidades dos estudantes também estão em mudança. Logo, também são “outros”. Nesse contexto, esta relação ocorre de forma tensa. “Não há como ignorá-los. Interrogam-nos sobre o que ensinamos, como ensinamos, sobre a organização escolar e curricular” (ARROYO, 2008, p. 21). Estudante, o supracitado autor (2008) ainda reconhece que os estudantes são sujeitos de direitos o que imediatamente incide sobre a identidade docente incorporando novas dimensões. Por isso, se trabalhamos inseridos em um campo social que é reconhecido como um campo de direitos, que é o campo da educação, se, trabalhamos com sujeitos e tempos de direitos, logo, somos profissionais de direitos. Temos direito a uma formação inicial e continuada de qualidade. Deste modo, o direito à nossa formação profissional, se torna uma urgência, pois a confirmação de que somos profissionais do direito à formação dos educandos, profissionais do conhecimento e da cultura, nos estimula a fazer uma seleção curricular a partir do “conhecimento e da cultura, dos valores, da memória e identidade na diversidade a que os educandos têmdireito” (ARROYO, 2008, p. 37), bem como, a anuir que à formação de identidades não acontece de forma desassociada do reconhecimento e da garantia dos direitos humanos. Ao reconhecermos os educandos como sujeitos do direito, com direito a ter a sua formação plena, somos conduzidos a reassumir as dimensões da docência. Para reposicionar a formação docente a partir do direito a formação plena dos estudantes será necessária, conforme Arroyo (2008) uma formação que não se restrinja a o que e como ensinar, mas que perpasse as múltiplas dimensões da formação humana, assim como, que entenda a importância do conhecimento e também da valorização da cultura nesses processos formativos. “O conhecimento não perde a centralidade, adquire novas centralidades quando referido à formação” (ARROYO, 2008, p. 42). De acordo com Nilma Lino Gomes e Petronilha Silva (2011), essa perspectiva lança grandes desafios à formação docente, porque exigirá a criação de competências que habilitem os professores para 6 compreender, tal como, dominar os processos de construção e apreensão dos saberes sociais e culturais. Exige também, que os processos formativos desenvolvam uma competência que articule teoria e prática onde seja possível acompanhar os diferentes tempos e formas de aprender dos sujeitos socioculturais. “Faz-se necessário formar professores e professoras que saibam lidar pedagogicamente com a diversidade” (GOMES; SILVA, 2011, p. 22). As autoras ainda afirmam que é necessário refletir nos processos formativos sobre reconhecimento, aceitação do outro, preconceitos, ética, valores, igualdade de direitos e diversidade, ou seja, uma educação em/para direitos humanos. Essa formação resulta no domínio de espaços, discussões e vivências através das quais se torna possível entender as relações entre diversidade étnico-cultural, subjetividade e inserção social do educador, que a partir dessa vivência também será capaz de vislumbrar essa relação na vida do alunado. Guiado por essa mesma corrente as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, ainda no seu artigo 5º nos seus incisos IX e X defendem que cabe ao pedagogo: IX - identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas, com vistas a contribuir para superação de exclusões sociais, étnico- raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras; X - demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras; reconhecer e respeitar as manifestações e necessidades físicas, cognitivas, emocionais, afetivas dos educandos nas suas relações individuais e coletivas (BRASIL, 2006). A apresentação dessas questões nos faz argumentar sobre a importância da Educação em Direitos Humanos na formação dos professores, considerando que compete a esse profissional a formação dos estudantes na Educação Infantil, bem como, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Portanto, a formação de professores precisa assimilar a ideia de que o ser humano se constitui por meio de um processo complexo, pois na perspectiva de gênero humano, somos todos iguais, ao mesmo tempo em que as nossas diferenças de gênero, raça/etnia, gerações, religião, culturas, orientação sexual, entre outros, nos torna único. Provavelmente, quando isso for compreendido, quando reconhecermos o outro como humano, como cidadão, começaremos a organizar práticas educativas que se comprometam com a dignidade humana. 2. deSaFioS conTemPorÂneoS Para a FormaÇÃo de ProFeSSoreS Candau (2012) aponta alguns desafios no campo da formação do professor. Entre eles, apresenta-se a questão: O que ensinar? Ela argumenta que a identidade docente pressupunha um conhecimento específico, o que assegurava ao docente tranquilidade e competência para desenvolver a sua profissão. Contudo, na contemporaneidade, o conhecimento escolar não se apresenta mais como um dado inquestionável e neutro. A teoria curricular vem indagando fortemente esse conceito, compreendendo-o como uma construção do contexto educacional, perpassado por diferentes saberes, fundamentados em realidades culturais diversificadas, e que ocorre no cotidiano da escola em processos de diálogo e confronto, envoltos em relações de poder. 7 Guarde eSSa ideia! Atualmente, o conhecimento escolar, é concebido como um construto atravessado por relações sociais e culturais. Assim, o que ensinar deixou de ser uma pergunta simples para assumir contornos nada sólidos, mas instigantes que projetam uma variedade de repostas, de acordo com as concepções epistemológicas e educativas com as quais nossas práticas cotidianas coadunam. As reflexões propostas por Candau (2012) trazem para o centro do debate a questão da cultura no currículo e na formação do professor. Trata-se de conceber a formação de professores e o currículo sob a ótica de uma sociedade multicultural onde pulsam várias, culturas, etnias, concepções de mundo, religiões, identidades. Moreira (2013) argumenta que essa perspectiva deve ser assumida por todas as instituições de formação de professores, sejam públicas ou privadas. Moreira (2013), ao abordar a questão da formação do professor numa perspectiva multicultural enfatiza as principais discussões nesse campo. Primeiro, destaca que os educadores deste século não podem desconsiderar as questões concernentes ao multiculturalismo, raça, poder, identidade, significados, ética e trabalho, ampliando a abordagem da pedagogia, passando a entendê-la como modo de produção cultural a serviço da ampliação da democracia. Segundo, a formação do professor multicultural implica na “aprendizagem das habilidades necessárias à promoção de um diálogo que favoreça uma dinâmica de crítica e autocrítica” (MOREIRA, 2013, p. 87), assim o encontro das diferentes culturas perpassa pela aceitação da desestabilização, relativizada e contestada em alguns dos seus pontos fundamentais. Terceiro, afirmam que é preciso trabalhar com os preconceitos e estereótipos dos futuros professores, considerando que é preciso o envolvimento emocional e o engajamento em ações comunitárias deste futuro pedagogo, pois, a aprendizagem multicultural vai além do teórico e perpassa a vivência. Meu(inha) caro(a), Moreira (2013) destaca ainda que norteia o debate sobre a formação de professores a questão que é preciso organizar o currículo pensando-o a partir da perspectiva contra hegemônica, organizado por um currículo proposto a partir das categorias: cultura, conhecimento, poder, ideologia, linguagem e história, preparando os futuros pedagogos para articular a bagagem cultural dos estudantes ao conhecimento escolar visando à formação de uma sociedade que considera a pluralidade etnocultural. Já Candau (2012) completa essa questão salientando a necessidade de trabalhar temas, tais como a colonização, escravidão, entre outros que precisam ser abordados do ponto de vista do colonizado. Contudo, destaca que não basta apenas criticar é preciso o movimento de reconstrução. Moreira e Candau (2008) que nos apontam caminhos para a formação dos professores, elegendo sete novas posturas necessárias para os professores. Eles afirmam que os professores na contemporaneidade precisam: 8 1- Superar o daltonismo cultural; 2- Reescrever o conhecimento escolar; 3- Ancorar socialmente dos conteúdos; 4- Reconhecer suas identidades culturais; 5- Questionar suas representações sobre os “outros”; 6- Transformar a escola em um espaço cultural, e ele em um crítico cultural; 7- Comprometer-se com o estudo e a pesquisa (MOREIRA; CANDAU, 2008, p. 31-43). Primeiro, ao defenderem a superação do “daltonismo cultural”, os autores explicam que o professor daltônico cultural não consegue enxergar e valorizar a diversidade presente na sua sala de aula, desconsiderando a riquezaque essa realidade representa. Esse professor vê todos os estudantes como congênere, desconsiderando a efetiva necessidade de reconhecer as identidades e o tratamento que elas demandam. Frente a esse cenário, eles apontam como uma possível estratégia vincular o conhecimento teórico com vivências de experiências em que os professores sejam colocados em situações de preconceitos e discriminações para analisarem suas próprias reações. Assim, transpassar o daltonismo cultural e a visão monocultural do cotidiano escolar constitui-se como “um processo pessoal e coletivo que exige desconstruir e desnaturalizar estereótipo e “verdades” que impregnam e configuram a cultura escolar e a cultura da escola” (MOREIRA; CANDAU, 2008, p.32). Ao propor a reescrita do conhecimento escolar, segunda postura, os autores defendem que é preciso visibilizar os sujeitos ocultados do currículo escolar e através de suas vozes, recontar a história para que possam ter a possibilidade da construção de autoimagem positiva. O que eles propõem é que “os interesses ocultados sejam identificados, evidenciados e subvertidos, para que possamos, então, reescrever os conhecimentos” (MOREIRA; CANDAU, 2008, p.32). No cerne dessa proposição está a possibilidade de explorar e confrontar novas perspectivas, abrindo o currículo para novos enfoques e intenções, fazendo emergir as motivações, as seleções, as disputas, as relações de poder, bem como, as repressões, silêncios, ocultações e exclusões. Guarde eSSa ideia! O que eles sugerem, caro(a) estudante, é que nossas práticas pedagógicas sejam culturalmente orientadas. Dessa forma, além de compreendermos as culturas nas suas inter-relações, as formas pelas quais elas são continuamente geradas e influenciadas, também construiremos a possibilidade da percepção do mundo pelo olhar do subalternizado. Essa condução das práticas pedagógicas implica na reinvenção do modo como o “outro” é representado no currículo escolar. Concebido a partir dessa dinâmica, instigamos a lógica dominante e permitimos o conflito entre diferentes possibilidades de vivência dos conteúdos, possibilitando a inserção de diferentes obras literárias, diferentes interpretações de fatos históricos, favorecendo a contingência do estudante para compreender porque o conhecimento socialmente valorizado foi amplamente divulgado de uma determinada forma, enquanto outros foram negligenciados e quais são as possibilidades de ambos serem reescritos. 9 A terceira estratégia sugerida, a ancoragem social dos conteúdos, destaca a necessidade de investigar como e por que um conceito foi proposto historicamente, quais razões o fizeram permanecer ou findar, quais as discussões suscitaram a partir dele, que benefícios ele trouxe, para quem. O que está em pauta nesse princípio é a possibilidade de trazer à tona, no currículo, como os conhecimentos são construídos socialmente, pois eles são incorporados ao nosso cotidiano como indiscutíveis, neutros, universais e intemporais. “Trata-se mais uma vez, de caminhar na contramão do processo de transposição didática, durante o qual usualmente se costumam eliminar os vestígios da construção histórica” (MOREIRA; CANDAU, 2008, p. 36). Considerado um aspecto de grande relevância, os autores defendem que é preciso promover na escola, para os educadores, momentos de tomada de consciência sobre a sua construção da identidade cultural, reconhecendo-a a partir da realidade sociocultural que estamos inseridos e a luz da história do nosso país. Essa é a quarta postura. Os autores argumentam que temos uma percepção estereotipada e homogeneizada de nós mesmos e de nossos alunos, assim a identidade é tida como algo imutável. Ao descontruirmos esse dado, contribuímos para um olhar dinâmico e contextualizado das identidades culturais que se refletem tanto no âmbito pessoal, como no coletivo. Associado ao reconhecimento da sua identidade cultural atrela-se as representações dos “outros”. Quinta questão destacada pelos autores. Reconhecendo que nossas possibilidades de enxergar o outro, na maioria das vezes, são permeadas por uma visão etnocêntrica, Candau e Moreira (2008) reiteram que nossa condição humana interfere na nossa compreensão dos outros diferentes de nós. Assim, é significativo fomentarmos práticas educativas que apontem e reelaborem nossas percepções que dificultam nossa aproximação efetiva do outro. Outro princípio defendido pelos autores, o sexto, é a ideia de tornar o currículo um espaço de crítica cultural, abrindo a escola à cultura popular, associada a já presente cultura erudita. A ideia é de que a cultura dos estudantes, da comunidade na qual a escola está inserida relacione-se com outras manifestações e espaços culturais. Dessa forma, a escola abre-se para a inter-relação entre as culturas e a pluralidade cultural, possibilitando a sua consolidação como um território onde as expressões culturais hegemônicas e subalternas são objetos de apreciação e crítica. Por fim, Candau e Moreira defendem que “todo profissional da educação precisa comprometer-se com o estudo e com a pesquisa, bem como, posicionar-se politicamente” (MOREIRA; CANDAU, 2008, p. 42). Logo, torna-se imprescindível que os educadores posicionem-se diante dos limites econômicos, sociais, políticos, culturais e ambientais no contexto da globalização e mundialização da cultura, onde não existem mais nem as fronteiras entre as nações, nem entre as classes sociais. Reconhecendo que a pesquisa dos profissionais da Educação Básica difere das realizadas pelas universidades e centros de pesquisa, os autores propõem que de alguma maneira os professores participem de pesquisas sejam sobre os saberes, os valores ou as práticas que ensinamos ou desenvolvemos, o mais importante é que nossas atenções considerem o ensino no contexto da pesquisa. “Nesse processo, poderemos aperfeiçoar nosso desempenho profissional, poderemos nos situar melhor no mundo, poderemos, ainda, nos engajar na luta por melhorá-lo” (MOREIRA; CANDAU, 2008, p. 43). 10 FiQue aTenTo! Ao findarmos essa discussão, referente aos princípios e sua relação com a formação do professor multi/intercultural guiados pelas premissas do respeito à diversidade cultural, consideramos que precisamos no espaço escolar desenvolver tanto valores como atitudes que sejam capazes de mobilizar o intelecto, os sentimentos e o desejo dos sujeitos, sendo necessário, para isso, processos metodológicos e de construção de aprendizagem participativos, bem como, linguagens e materiais didáticos que contemplem a diversidade do nosso país e que também encarem as desigualdades inerentes a nossa cultura de violação de direitos. 3. o PerFiL do ProFeSSor no conTeXTo da eScoLa incLuSiva Seguindo a lógica que os estudantes são sujeitos de direito à aprendizagem, bem como, frente a demanda atual precisamos nos constituir novos professores, destacamos a formação de professores para o contexto da educação inclusiva, pois vivemos, na atualidade, um momento que repudia a segregação das populações historicamente excluídas, provocando um forte movimento em favor da inclusão. Nesse sentido, exige-se da escola e seus professores que se organizem no sentido tanto de garantir o respeito e a valorização das diferenças para que possam atender ao que se espera de uma escola inclusiva. Tal expectativa, demanda a reconstrução da docência, pois a educação inclusiva pressupõe que nossas práticas considerem as diferentes formas e ritmos de aprendizagem, salientando a necessidade de uma escola cada dia mais justa, plural e democrática. Nesse sentido, reitera-se a urgência de práticas contrárias à exclusão e segregação. veja o vídeo! Vamos assistir a mais um vídeo: “Caminhos da escola - educação inclusiva é espaço de todos”, com duração de trinta e seis minutos e trinta e oito segundos. Mas, você só precisa assisti-lo até os treze minutos e doze segundos. Ele apresenta um projeto vivenciado numa escola sobre inclusão, explicitando o entendimentoe a prática de uma escola inclusiva: O vídeo está disponível em: LINK Querido(a) estudante, no início de cada novo ano letivo, quando recebemos nossos novos alunos, ao qual nos referimos como “nossa turma”, “minha classe” se constitui aparentemente numa unidade, num grupo ao qual precisamos assegurar a aprendizagem. Nesse cenário, necessitamos despertar para o fato de que esse grupo apresenta uma infinidade de diferenças que faz de cada estudante um ser único. 11 Cada estudante traz consigo a sua história, sua cultura, sua realidade social, econômica, religiosa, seu ritmo de aprendizagem, sua forma de lidar com as relações interpessoais, o que faz com que comecemos a nos dar conta que precisamos conhecer esses elementos se almejamos a aprendizagem desses estudantes. Essa constatação de que os estudantes são únicos, que tem uma história única, que se relacionam com a realidade também de forma diferenciada, nos faz inferir que eles também têm diferentes formas de apreender e que eu, o professor, preciso ter diferentes formas de ensinar e de lidar a esses diferentes sujeitos. Essa premissa, caríssimo(a) aluno(a), reconfigura à docência, reconfigura o que é ser professor, pois vínhamos de uma escola tradicional que se imaginava que o problema da não aprendizagem era do aluno, que o aluno era que tinha que se adequar a forma do professor e não o contrário. Cada estudante tem suas necessidades específicas, e o professor precisa atender pedagogicamente esses estudantes, se realmente estiver comprometido com a acessibilidade de todos/as ao conhecimento produzido historicamente pela humanidade, bem como, com a apropriação desses conhecimentos para a transformação da nossa realidade social. Para reFLeTir Pensemos um pouco: Por que muitas vezes a cada estudante que apresenta dificuldade de aprendizagem, a cada estudante com deficiência, a cada estudante que nos desafia, temos uma reação de desconforto? Por que as diferenças nos desestabilizam? Fomos educados para conviver com as diferenças? Certamente, não! Esperamos de todos(as) sempre o mesmo comportamento, aquele que corresponde as nossas expectativas. Precisamos pensar que não somos o centro do universo, logo, tudo não pode corresponder as nossas expectativas. Não estamos preparados para receber o outro, nem tampouco ser professor(a) dele(a). Vamos entender um pouco por que esse “outro”, tão diferente de nós, tão diferente do esperado, mexe tanto com a gente! 12 veja o vídeo! Antes de você continuar seus estudos, pare só um pouquinho e assista a reflexão sobre a diferença proposta no filme “Pixar Festa nas Nuvens - Reflexão sobre diferença”, com duração de cinco minutos e doze segundos. O referido vídeo lhe ajudará a prosseguir seus estudos:LINK Após o filme, se pergunte: Como eu lido com as diferenças? Guarde eSSa ideia! Lembre-se: Não devemos e nem podemos substituir a responsabilidade da aprendizagem dos estudantes para o apoio ou professor especializado. Podemos, sim, recorrer a esses para nos auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, estabelecer parcerias, o que não representar abrir mão e transferir responsabilidades. O que é muito comum é a construção de um muro simbólico, que separa o professor e o estudante, os estudantes da turma de um lado, e a criança com deficiência do outro, provocando um isolamento. Reconhecemos que muitas vezes os estudantes com deficiência necessitam de recursos e atendimento específico, mas nada justifica esse isolamento, essa segregação há que muitas vezes essas crianças são submetidas. Para reFLeTir Nessa perspectiva, caro(a) aluno(a), a escola inclusiva e seu professor se pergunta: o que o aluno deve aprender? Como e quando deve aprender? Quais as formas de organização dessa aprendizagem? Como e quando avaliar esse aluno? 13 Pensando tais questões não de forma homogênea, mas individual. Para tal necessitamos repensar: ü A flexibilidade nos questionando: Todos os alunos precisam alcançar o mesmo grau de conheci- mento no mesmo tempo e da mesma forma? A exigir isso, atendo as perspectivas da educação inclusiva? ü Acomodação: Ao planejar as atividades da minha turma, considera as diferenças? Considero a presença e o direito a aprendizagem das crianças com necessidades educacionais especiais? ü Trabalho simultâneo, cooperação e participação: No cotidiano, penso em estratégias pedagógi- cas que favoreçam a integração das estudantes com necessidades especiais com os demais estudantes? As práticas da sala de aula que visam à organização e os procedimentos didáticos são importantes questões que podem ser redimensionadas no sentido de assegurar a participação e a integração de todos os alunos em busca da sua aprendizagem. De acordo com as orientações do MEC, no livro: Saberes e práticas da inclusão: recomendações para a construção de escolas inclusivas (BRASÍLIA: MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006), entre esses procedimentos destacamos a necessidade de que: ü Haja uma boa comunicação entre professor e aluno, inclusive daqueles que utilizam a língua brasileira de sinais e o sistema braile; ü A relação entre pares seja influenciada por atitudes positivas; ü Os estudantes sejam organizados de modo que favoreça as relações sociais. O estudante com necessidades especiais, muitas vezes, fica isolado; ü A organização do espaço considere a funcionalidade e a otimização dos recursos disponíveis; ü O tempo seja organizado de maneira que leve em conta os serviços de apoio ao aluno, seu ritmo de aprendizagem e o seu desempenho individual; ü O planejamento didático proponha atividades que considerem os variados níveis de dificuldades e de realização; ü Os objetivos de ensino se adequem a realidade do estudante. Para tal, eles podem ser modifica- dos, acrescentados ou eliminados de modo que se respeite às peculiaridades individuais e as caracterís- ticas do grupo; ü As metodologias, atividades e procedimentos de ensino sejam organizados e vivenciados pos- sibilitando diferentes formas de resolução, individuais e em grupos, de forma cooperativa, bem como, considerando o nível de compreensão e a motivação dos estudantes e os sistemas de comunicação que utilizam; 14 ü A avaliação seja pensada e executada de maneira flexível, considerando os diferentes instrumen- tos, procedimentos e as condições individuais de aprendizagem. Prezado(a) estudante, também podemos utilizar variadas estratégias que colaboram para tornar a sala de aula um espaço de inclusão. Nesse sentido, podemos destacar a aprendizagem cooperativa, quando os estudantes são organizados em grupos ou em pares mesclando-se alunos com mais dificuldades em determinada área com os que têm mais habilidades. Essa proposta de organização da aprendizagem favorece a integração, o respeito às diferenças e as dificuldades dos colegas, independentemente de terem ou não deficiência, favorecendo a autoestima. Essa estratégia contribui para que as crianças entendam desde muito cedo que as pessoas têm habilidades diferentes, logo, podem ser muito boas numa coisa e ter dificuldades em outra e que podem pedir ajuda para melhorar. Nesse contexto, as dificuldades não são uma vergonha, mas uma coisa natural, comum a todos. As pesquisas têm evidenciado que muitas vezes essa troca entre pares, ou seja, estudante com estudante, pode ser muito eficaz. Esse fato tem sido associado à familiaridade com a disciplina que tem sido ensinada, pela capacidade dos estudantes entenderem melhor seus colegas, pela capacidade da utilização de exemplos adequados a idade. Outra importante estratégia pode ser o ensino cooperativo. Nessa proposta os professores do ensino regular e do ensino especial trabalham articulados. Para que essa estratégia funcione ambos os professores precisam planejar em sintonia o que demanda tempo e compatibilidade de formas de organização do trabalho. Nesse sentido, eles podem planejar de maneira que o professor regular planeja e executa as atividadesdo planejamento enquanto o professor do ensino especial pode ajudar os estudantes com as estratégias para melhorar sua aprendizagem, tais como: ler um texto destacando as ideias centrais, fazer resumo, esquema. Podem ainda, ambos, ensinarem os conteúdos, ficando o professor regular responsável pela parte principal e o do ensino especial responsável pelo suporte, suplemento, ajuda nas dificuldades. Esse atendimento pode ser individual ou em grupo. Ou ainda, ambos ensinarem em conjunto os conteúdos e cada um se responsabilizar por determinada parte. O que você acha dessas proposições? Já colocou alguma em prática? Que tal tentar? Precisamos nos permitir a vivência de novas experiências. Assim, é possível construir material em alto-relevo com áudio descrição para o estudante cego ou com baixa visão ou fazer cartazes na sala utilizando a Língua Brasileira de Sinais. O importante é assegurar o fornecimento de apoio físico, visual, verbal, entre outros no sentido de garantir ao aluno que o estudante com algum tipo de deficiência possa realizar suas atividades e avaliações. 15 Essas atividades podem ser realizadas individualmente ou em grupo, também podem ser propostas de forma complementar para que o estudante possa atingir os objetivos propostos. É necessário também evitar a proposição de atividades que prejudiquem o aluno ou restrinja a sua participação. Nesse sentido, precisamos da adequação dos objetivos, conteúdos e critérios de avaliação, vendo os que são prioritários, sempre considerando as necessidades educacionais especiais. Para tal, podemos inclusive rever a temporalidade desses objetivos, conteúdos e critérios de avaliação de modo a estendê-los. Estamos diante de uma nova realidade, precisamos agir de outra maneira! Não há receitas prontas. Esse é uma escola em construção! Muito sucesso na sua trajetória em busca de uma escola verdadeiramente inclusiva. Para reviSar! Estamos concluindo mais uma unidade da nossa disciplina Tópicos Integradores II. Vamos revisar alguns aspectos importantes que estudamos nesta unidade: ü A formação inicial e continuada precisa assumir novos contornos, pois os estudan- tes e as demandas sociais são outras. ü Precisamos considerar as dimensões do conhecimento e da formação humana no currículo escolar, reconhecendo a cultura dos estudantes e a importância das práticas multi/interculturais. Questões como a superação do daltonismo cultural; a reescrita do conhecimento escolar, a ancoragem social dos conteúdos, as representações dos outros, a escola como um espaço cultural e o envolvimento com o estudo e a pesquisa precisam permear a formação inicial e continuada de professores. ü Para tornar nossas práticas inclusivas precisamos aprender a lidar com as diferen- ças. ü Na perspectiva da educação inclusiva, os professores são chamados a rever suas práticas traçando variadas estratégias que possibilitem a aprendizagem de cada estu- dante na sua singularidade. PaLavraS do ProFeSSor Caríssimo(a) estudante, mais uma vez estamos juntos nessa caminhada pelo conheci- mento. Tenho certeza que os conhecimentos adquiridos por você serão de suma impor- tância para sua carreira. Além de realizar as atividades disponíveis no (AVA), elas têm caráter avaliativo. Espero você na nossa próxima unidade. Bons estudos! 16 reFerênciaS bibLioGráFicaS ARROYO, Miguel Gonzáles. Indagações sobre currículo: educandos e educadores: seus direitos e o currículo. Brasília: Ministério da Educação, 2008. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE∕CP nº 1/2006. Diretrizes curri- culares nacionais para o curso de graduação em Pedagogia. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 16 mai. 2006. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) N. 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Disponível em:<portal.mec.gov.br>Acesso em 01 de Abril de 2018. ______. RESOLUÇÃO CNE/CP Nº 1, DE 15 DE MAIO DE 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. Disponível em:< http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em 01 de Abril de 2018. ______. RESOLUÇÃO Nº 2, DE 1º DE JULHO DE 2015 (*) (**) Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Disponível em:< http://portal.mec.gov. br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=17719-res-cne-cp-002- 03072015&category_slug=julho-2015-pdf&Itemid=30192. Acesso em 01 de Abril de 2018. CANDAU, Vera Maria. Didática crítica Intercultural: aproximações. Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes, 2012. GIROUX, Henry. Pedagogia Radical. São Paulo: Cortez, 1983. GOMES, Nilma Lino; GONÇALVES E SILVA, Petronilha. O desafio da diversidade. In: GOMES, Nilma Lino; GONÇALVES E SILVA, Petronilha (org.). Experiências étnico- culturais para a formação de professores. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. KRAMER, Sonia. Infância, cultura contemporânea e educação contra a barbárie. In: Ba- zílio, L.C; KRAMER, S. (org). 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