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Livro-Texto - Unidade I- ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL

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Prévia do material em texto

Autoras: Profa. Daniela Emilena Santiago
 Profa. Marcia Fernanda Viera Rocha
Colaboradora: Profa. Amarilis Tudella
Estratégias em 
Serviço Social
Professoras conteudistas: Daniela Emilena Santiago / 
Marcia Fernanda Viera Rocha
Daniela Emilena Santiago
Assistente social graduada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), especialista em Violência Doméstica 
contra Crianças e Adolescentes pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Psicologia e em História, ambas 
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Assis. Doutoranda em História na 
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Assis. Exerce também a função de docente 
e líder junto ao curso de Serviço Social da Universidade Paulista (UNIP) na modalidade EaD.
Marcia Fernanda Vieira Rocha
Assistente social graduada pela Universidade Católica de Santos, especialista em Gestão de Recursos 
Humanos pela Faculdade de Administração e Economia de Curitiba (UniFAE) e especialista em Gestão Estratégica 
de Projetos pela Universidade Positivo de Curitiba. Mestre em Trabalho, Saúde e Sociedade pela Universidade 
Tuiuti do Paraná. Atuou como coordenadora de cursos e professora em organizações de ensino no Paraná nas 
modalidades presencial e EaD. Coordenou o Núcleo de Estágio e Empregabilidade na Faculdade da Indústria 
Sesi-Senai do Paraná. É coordenadora do curso de Serviço Social da Universidade Paulista (UNIP) de Santos, além 
de atuar como professora em diversas disciplinas.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S235a Santiago, Daniela Emilena.
Estratégias em Serviço Social / Daniela Emilena Santiago, Marcia 
Fernanda Vieira Rocha. 2. ed. São Paulo: Editora Sol, 2020.
120 p., il.
1. Instrumentalidade. 2. Estudo socioeconômico. 3. Trabalho 
com grupo. I. Rocha, Marcia Fernanda Vieira. II. Título.
CDU 364 
U503.59 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Fabrícia Carpinelli
 Elaine Pires
Sumário
Estratégias em Serviço Social
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 INSTRUMENTALIDADE E DEMAIS ASPECTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL 
DO ASSISTENTE SOCIAL .......................................................................................................................................9
1.1 A instrumentalidade no processo de produção capitalista ....................................................9
2 INSTRUMENTALIDADE NO SERVIÇO SOCIAL ........................................................................................ 15
3 INSTRUMENTALIDADE E PROCESSOS DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL ............................. 26
4 OS DIFERENTES PROJETOS SOCIETÁRIOS E PROFISSIONAIS E O PROJETO 
ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL ......................................................................................................... 35
Unidade II
5 DIÁRIO DE CAMPO, ESTUDO SOCIAL, ESTUDO SOCIOECONÔMICO ............................................ 48
5.1 Diário de campo .................................................................................................................................... 48
5.2 Entrevista ................................................................................................................................................. 54
5.3 Estudo social e socioeconômico..................................................................................................... 58
6 LAUDO SOCIAL, PARECER SOCIAL, PERÍCIA SOCIAL, RELATÓRIOS, VISITA 
DOMICILIAR E VISITA INSTITUCIONAL ........................................................................................................ 62
6.1 Laudo social ............................................................................................................................................ 62
6.2 Parecer social e perícia social .......................................................................................................... 64
6.3 Relatórios ................................................................................................................................................. 66
6.4 Visita domiciliar e visita institucional .......................................................................................... 67
Unidade III
7 TRABALHO COM GRUPO E EM COMUNIDADES E A EDUCAÇÃO POPULAR ............................ 76
7.1 O trabalho com grupo ........................................................................................................................ 76
7.2 O trabalho em comunidades e a intervenção em educação popular ............................. 79
7.3 Elaboração de planos, programas e projetos e a questão do orçamento público ................80
8 A SUPERVISÃO DE ESTÁGIO EM SERVIÇO SOCIAL, A PRÁTICA PROFISSIONAL 
E A DIMENSÃO INVESTIGATIVA ..................................................................................................................... 89
8.1 A prática profissional e a dimensão investigativa ................................................................101
7
APRESENTAÇÃO
Olá, aluno!
Convidamos você, nesse momento, para um percurso nas questões que envolvem a prática 
cotidiana dos profissionais desta área. Para darmos início às nossas reflexões, apresentamos a notícia 
a seguir: “Projeto prepara presos para volta à sociedade após liberdade. Voltada para quem está em 
regime semiaberto, iniciativa promove dinâmicas com foco no planejamento fora do sistema prisional” 
(PROJETO..., 2019).
Preparar o reeducando para a vida do outro lado das grades é a meta do projeto especial “Preparação 
para a Liberdade”, desenvolvido no Centro de Detenção Provisória (CDP) ASP Nilton Celestino, de 
Itapecerica da Serra, e no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Franco da Rocha. Nas duas 
unidades, quem está no regime semiaberto passa por dinâmicas de grupo com foco na preparação para 
a vida fora do sistema prisional.
A assistente social do CDP de Itapecerica, Ângela Carvalho de Jesus Silva, comenta o projeto: “A ação 
considera as perdas ocorridas na fase de reclusão e convida os participantes para a reflexão sobre o passado e 
planejamento do futuro fora do sistema prisional. Na opinião da responsável, o poder para mudar o foco na 
vida está dentro de cada pessoa” (PROJETO..., 2019). E prossegue: “A oportunidade de expressar sentimentos é 
o ponto alto da ação” (PROJETO..., 2019). Já o reeducando E.Y. expressa sua opinião: “É uma forma de diálogo 
e desabafo das coisas que gostaria de falar e não tinha como se expressar” (PROJETO..., 2019).
Já no CPP de Franco da Rocha o projeto foi implantado em 2017 e comporta cinco encontros 
semanais, envolvendo dezreeducandos por etapa. A diretora de reintegração social da unidade, Célia 
Minelli, diz que: “São abordados temas como liberdade, laços sociais e familiares, trabalho e cidadania” 
(PROJETO..., 2019).
O programa tem o objetivo de preparar as pessoas que estão próximas a obter progressão de pena 
para o regime aberto ou livramento condicional para o processo de retomada do convívio social, por 
meio de oficinas socioeducativas. O preso M.M.S. diz: “A cada dia, descubro que posso e quero ser 
alguém melhor do que antes” (PROJETO..., 2019).
Acabamos de ver como é enfatizada a perspectiva do profissional atuante junto a um espaço de 
promoção de ressocialização a respeito da intervenção desenvolvida em prol de um segmento específico. 
Temos um exemplo das muitas possibilidades de ação de nossa categoria. Mas como repensar essa 
prática diante da amplitude de espaços laborais desse especialista na contemporaneidade? Para isso, 
é importante uma aproximação referente aos conceitos genéricos que estão presentes na prática do 
trabalhador desta área, além do avanço na discussão relacionada à metodologia da ação do profissional. 
Dessa forma, vamos problematizar a respeito de questões genéricas e que estão presentes no cotidiano 
da prática profissional.
Assim, é basal pensarmos nos conceitos de instrumentalidade, nas questões que demarcam o 
exercício profissional, bem como repensarmos os instrumentos e as técnicas que estão presentes na 
8
prática do profissional. Essas colocações oferecerão um embasamento geral a respeito de aspectos do 
fazer cotidiano do especialista da área e que estão presentes em qualquer dimensão da atuação.
Convidamos você para esse percurso teórico, o qual trará muitos exemplos da prática contemporânea 
de nossa categoria.
INTRODUÇÃO
A presente disciplina iniciará as discussões sobre a questão da instrumentalidade do serviço 
social. Primeiramente, serão apresentados o conceito de instrumentalidade, a questão da perspectiva 
crítica e a instrumentalidade da área, compreendendo tal concepção alinhada à noção de processo de 
trabalho. Derivando desses conceitos, serão mostrados os diferentes projetos societários existentes na 
sociedade contemporânea, bem como a vinculação do serviço social a esses projetos. Partindo dessas 
colocações, passamos às dimensões práticas da profissão, em que são enfocadas as ações profissionais 
e os procedimentos metodológicos.
Na sequência, será abordado um rol amplo de instrumentos de intervenção daqueles que atuam na 
área, os quais estão presentes no cotidiano e que integram a prática do profissional.
Por fim, serão vistos os conceitos que integram a formação profissional, partindo da sistematização 
e registro da prática profissional, bem como a importância da pesquisa. Além disso, não ficam de fora os 
aspectos referentes à supervisão de estágio em serviço social, ou seja, há uma ampla discussão proposta 
que tratará sobre os mais variados fenômenos e eventos relacionados ao exercício da profissão.
9
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Unidade I
1 INSTRUMENTALIDADE E DEMAIS ASPECTOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO 
ASSISTENTE SOCIAL
1.1 A instrumentalidade no processo de produção capitalista
É interessante salientar que toda a noção de instrumentalidade construída por Iolanda Guerra, a 
principal autora a discutir esse conceito, aplicando-o ao serviço social, advém da noção marxista de 
trabalho. Assim, compreende-se que há uma relação entre o conceito de trabalho e a instrumentalidade. 
Para que seja possível compreender e conhecer essa relação, é preciso partir, inicialmente, do entendimento 
deste conceito.
Assim, Guerra (2010) coloca que, em Marx, o trabalho é originado da necessidade humana de 
satisfazer as imposições que são geradas após um longo processo de desenvolvimento dos seres 
humanos. À medida que o homem busca dominar a natureza, e assim obter os elementos de que 
precisa para sobreviver, realiza um esforço ao qual nomeia-se trabalho, que é entendido como uma 
relação social de transformação que permite que coisas sejam transformadas pelos indivíduos, para 
que se tornem úteis ou mudem de utilidade. Ele também se constitui pelo esforço coletivo pela caça 
comum ao homem primitivo. Mas esse não foi o único formato de trabalho existente na sociedade. 
Antes, é possível ver que ele vai sendo alterado à medida que os modos de produção também mudam.
Na tradição marxista, da qual deriva Guerra (2010), vemos o trabalho como o meio pelo qual o homem 
busca atender as suas necessidades, mas também como um fenômeno que altera a subjetividade do ser 
humano e também as suas relações sociais. Assim, voltando ao homem primitivo, foi a necessidade do 
trabalho, e deste com outros homens, que condicionou a sua subjetividade, surgindo a necessidade de 
comunicação. O gênero humano passa, então, por um lento processo de desenvolvimento, condicionando 
o psiquismo humano e aprimorando o homem em prol da fala. No entanto, a fala é apenas um dos 
muitos aspectos que o gênero humano vai aprimorando a partir do trabalho, o qual está extremamente 
ligado ao desenvolvimento psíquico.
O trabalho também influencia na delimitação das relações sociais do ser humano. Ele impõe uma 
certa sociabilidade entre os pares, algo que interfere na sua subjetividade e nas redes de relacionamento 
que são por ele construídas. Sobre o pensamento do homem primitivo nas primeiras relações de trabalho 
(não relacionadas à noção de capitalismo), podemos inferir que:
[...] o homem transforma a natureza e, ao fazê-lo, transforma-se a si mesmo 
e a outros homens. É esse movimento que consubstancia a sociabilidade 
humana, esta, constituinte e constitutiva de duas determinações 
fundamentais: pensamento e linguagem (GUERRA, 2010, p. 102).
10
Unidade I
Essa relação posta pelo trabalho, em que seres humanos realizam trocas entre os pares, é presente 
em todas as relações empregatícias, ou seja, mesmo contemporaneamente, a ocupação que possuímos 
nos permite a convivência com outros trabalhadores, influenciando a subjetividade e as relações sociais.
A compreensão da categoria trabalho evoca ainda compreender que ele só se constitui enquanto tal se 
composto pelos seguintes aspectos: o trabalho, a matéria-prima e os instrumentos ou meios para tal ação 
(IAMAMOTO, 2001). Esses elementos congregados e ativados pela força e pela ação do trabalho caracterizam-no 
em qualquer sociedade. A noção de instrumentalidade, portanto, está vinculada à questão dos instrumentos 
ou dos meios de trabalho, os quais comportam instrumentos usados para transformar a matéria-prima em um 
produto, mas são compostos também pelo que Guerra (2000a) denomina condições materiais, ou seja, todas 
as situações que estão presentes no processo de trabalho.
O que cabe aqui sinalizar é que os meios de trabalho incorporam não apenas 
os instrumentos necessários à transformação do objeto, mas também 
todas as condições materiais sob as quais o trabalho se realiza (cf. Marx, 
1985a:151). Os meios de trabalho são, para Marx, os indicadores do grau 
de desenvolvimento das forças produtivas e das condições sociais em que o 
trabalho se processa (GUERRA, 2000a, p.102).
Assim, a introdução das máquinas no contexto da produção industrial apresenta grande avanço 
ao processo produtivo se comparada com a atividade vivenciada no contexto manufatureiro. Por 
conseguinte, a mudança nesse processo de produção se dá pela introdução de elementos que tendem 
a potencializá-la. A partir da Revolução Industrial, há uma profunda mudança no processo produtivo, 
que só é possível, inicialmente, pelo aporte a novas tecnologias como elementos que tendem a torná-lo 
menos manual. Dessa forma, busca-se cada vez mais instrumentos que facilitem, potencializem o 
processo do trabalho.
 Saiba mais
Para conhecer um pouco mais os posicionamentos da autora, assista ao 
vídeo em que ela reflete sobre a categoria profissional, disponível no site 
funcional do Conselho Regional de Serviço Social de Santa Catarina:
CCAS 2016.Cress-SC. [s.d.]. Disponível em: <http://cress-sc.org.br/
ccas-2016/>. Acesso em: 20 ago. 2019.
Nesse site você ainda encontrará exposições de Yolanda Guerra e 
também de Maria Lucia Martinelli, nome importante na categoria.
A inserção dos instrumentos ou meios no processo de trabalho só é possível a partir de um processo 
teleológico pelo qual passa o gênero humano. Compreende-se o processo teleológico como a habilidade 
do ser humano desenvolver sua capacidade crítica e transformadora. Quando o homem é inserido no 
11
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
trabalho, ele tem essa aptidão desenvolvida. É essa condição que permite ao homem a construção de 
instrumentos, de meios de trabalho.
Nesse processo, observa-se a objetivação humana. Quando falamos que o trabalho é um meio para o 
indivíduo se objetivar, ou, ainda, forma de objetivação humana, dizemos isso justamente pela capacidade 
emancipatória que está guardada na essência dele e que potencializa o chamado processo teleológico. 
A partir dessa prévia ideação é que pode-se falar da operatividade, momento em que alteramos de fato 
os objetos, superando a forma subjetiva como algo se constitui (GUERRA, 2000a).
O processo de trabalho, portanto, permite que o indivíduo transforme algo, ou melhor, altere a 
realidade; assim, ao transformá-la, ele modifica a si mesmo, suas relações sociais e aos outros indivíduos. 
Dessa forma, a sociedade é reproduzida material e socialmente.
Para tanto, os instrumentos ou meios são a base para que seja possível ao homem exercer 
esse domínio da natureza. No caso do trabalho, os instrumentos ou meios também são vitais para 
que seja possível produzir algo. Assim, Guerra (2000a) coloca que os instrumentos e os meios de 
trabalho são vitais para o aperfeiçoamento desse processo. A autora indica que a transição do 
capitalismo manufatureiro para o industrial se caracterizou pela introdução de máquinas no processo 
produtivo, tornando-o muito mais ágil. Com a introdução de maquinários, no entanto, as relações 
sociais estabelecidas entre os trabalhadores também acabou sendo alterada. Essa inserção de novas 
tecnologias é inerente ao trabalho e cada vez mais tem se tornado comum, tendo em vista a busca 
pelo lucro e pela mais-valia.
 Saiba mais
Vamos conhecer um pouco mais sobre o desenvolvimento capitalista? 
Propomos que assista ao documentário a seguir:
SALVANDO o capitalismo. Dir. Jacob Kornbluth e Sari Gilman. EUA: 
2017. 90 minutos.
Nele, é possível ver uma análise do capitalismo com base na realidade 
dos Estados Unidos, mas que nos leva a compreender um pouco das 
mutações presentes no processo produtivo.
Não obstante, é possível questionar o motivo pelo qual trabalhamos e se seria possível deixarmos de 
exercer tal ação. Ocorre que o trabalho é inerente aos indivíduos, posto que a equação é simples, vivemos 
e trabalhamos, trabalhamos e vivemos, não cabendo aqui o fim do trabalho vivo (aquele que envolve 
a força de trabalho), pois necessitamos atender minimamente às carências materiais, tais como comer, 
beber, dormir, procriar, bem como as necessidades imateriais, referentes ao intelecto, à espiritualidade, 
ao âmbito das ideias e da consciência. Nas palavras de Marx (2013, p. 255-256):
12
Unidade I
Agindo sobre a natureza externa e modificando-a por meio desse 
movimento, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza. Ele 
desenvolve as potências que nela jazem latentes e submete o jogo de suas 
forças a seu próprio domínio. Não se trata, aqui, das primeiras formas 
instintivas, animalescas (tierartig), do trabalho. Um incomensurável 
intervalo de tempo separa o estágio em que o trabalhador se apresenta 
no mercado como vendedor de sua própria força de trabalho naquele 
em que o trabalho humano ainda não se desvencilhou de sua força 
instintiva. Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz respeito 
unicamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às 
do tecelão, e uma abelha envergonha muitos arquitetos com a estrutura 
de sua colmeia. Porém, o que desde o início distingue o pior arquiteto da 
melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua mente 
antes de construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, 
chega-se a um resultado que já estava presente na representação do 
trabalhador no início do processo, portanto, um resultado que já existia 
idealmente. Isso não significa que ele se limite a uma alteração de 
forma do elemento natural; ele realiza nesse último, ao mesmo tempo, 
seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, o tipo e o modo 
de sua atividade e ao qual ele tem de subordinar sua vontade. E essa 
subordinação não é um ato isolado. Além do esforço dos órgãos que 
trabalham, a atividade laboral exige a vontade orientada a um fim, que 
se manifesta como atenção do trabalhador durante a realização de sua 
tarefa, e isso tanto mais quanto menos esse trabalho, pelo seu próprio 
conteúdo e pelo modo de sua execução, atrai o trabalhador, portanto, 
quanto menos esse último usufruir dele como jogo de suas próprias 
forças físicas e mentais.
A partir da análise deste excerto, é possível compreender, por Marx, a diferença entre o trabalho 
realizado por seres humanos das ações realizadas pelos demais seres vivos. Enfatiza-se o desenvolvimento 
da capacidade teleológica, que permite ao ser humano ultrapassar as necessidades mais imediatas 
de sobrevivência, criando destas necessidades outras, e assim por diante, de modo que, a partir do 
planejamento e prévia ideação de algo, não apenas concretiza-se o idealizado, mas este é aprimorado 
segundo novas necessidades.
Nesse sentido, evidencia-se a importância do aprofundamento e da formação permanente, 
considerando que esse debate não é simples de ser feito ou compreendido, principalmente, quando 
tenta-se compreender o campo do imaterial, pois, quando se afirma a unidade entre material e imaterial 
em uma sociedade habituada a fragmentar todos os conceitos e conteúdos, deparamo-nos com algo 
impensável pela forma como é orientada hegemonicamente nossa maneira de pensar. Em contrapartida, 
quando é feito esse esforço, é possível compreender que, de fato, as coisas não seriam por nós entendidas, 
reconhecidas e nomeadas se não tivessem uma base material e imaterial.
13
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
 Lembrete
Todos os elementos e fenômenos, incluindo o trabalho, possuem uma 
base material e imaterial
Assim, refletir sobre o trabalho nos impele a pensar em objeto e matéria-prima, em instrumentos ou 
meios, no resultado ou produto e no seu processo. É preciso ainda considerar que o trabalho influencia as 
relações sociais e subjetivas do homem, e, além disso, que ele comporta uma dimensão histórico-cultural. 
Assim, o que é trabalho, o que pode ser considerado como tal, muda de algo com os meios de produção 
utilizados em uma dada sociedade. Temos trabalho nas sociedades primitivas, bem como na capitalista. 
A forma de compreendê-lo é que muda em cada uma dessas sociedades.
Segundo Guerra (2000a), na fase da manufatura, primeira fase do desenvolvimento do capitalismo, 
era o capitalista que definia o que seria produzido. Porém, neste momento, os trabalhadores eram em 
menor número e participavam de todo o processo de produção, até o final. Nesse período, o trabalhador 
cede ao proprietário dos meios de produção o conhecimento técnico e suas habilidades. Com o 
desenvolvimento da industrialização e a concentração de um grande número de trabalhadores em um 
mesmo espaço, temos a intensificação das atividades. Esse aumento do trabalho acontece a fim de que 
o capitalista consiga alcançar a mais-valia. Nesse sentido, o trabalho torna o trabalhador cada vez mais 
alienado, ele executa suas funções independentes e nem sempre tem noção do resultado final de sua 
ação. Tanto o trabalho na manufatura, quanto o na industrialização produzem valor. E também possuem 
valor. No entanto, no capitalismo, é a inserção dos maquinários que possibilita a extração da mais-valia. 
Por conseguinte, cada trabalho,em sociedades específicas, possui características e especificidades que 
o definem.
A partir do capitalismo, de acordo com Guerra (2000a), o racionalismo condicionou todo o processo 
de produção. Esse conceito de racionalismo, ou mesmo racionalidade formal-abstrata, como nomeado 
pela autora, corresponde ao período em que o discurso científico passa a ser considerado como o 
mais relevante para condicionar a organização do trabalho. A racionalidade e o saber científico são 
considerados os únicos aspectos importantes. Correspondem à compreensão de que os trabalhadores 
precisam deter esse saber científico racional, e apenas esse conhecimento será suficiente para dar conta 
das demandas apresentadas no trabalho. Por conseguinte, aquele trabalhador que não conseguir fazer 
uso desse saber é tido como prejudicial à organização laboral. Da mesma maneira, as reivindicações 
dos trabalhadores são consideradas como entraves para a plena expansão de seu saber científico no 
trabalho. O trabalhador que reivindica seus direitos é apresentado como aquele que não detém o saber 
necessário à execução de suas funções.
O racionalismo, ou a racionalidade formal-abstrata, é incorporado ao processo de produção 
em meados dos anos 1930 sob influência do taylorismo. De acordo com Taylor, a produção deveria 
acontecer por meio da distribuição de tarefas aos trabalhadores. Isso permite ao capitalista realizar o 
controle da produção e das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores. Para que cada empregado 
desempenhe corretamente suas funções, é basal o conhecimento científico, racional. Isso minaria a 
14
Unidade I
resistência dos trabalhadores ao processo de exploração, uma vez que o profissional acaba cooptando 
essa perspectiva de entender o trabalho. Portanto, aquele que não usa de forma plena seu saber científico 
é compreendido como incapaz de produzir. Guerra (2000a) nos diz ainda que o taylorismo incorpora 
medidas assistenciais destinadas aos trabalhadores, algo como um benefício indireto para aqueles com 
maior rendimento e atenção aos parâmetros das empresas. O trabalhador competente, que domina 
as técnicas de produção, é considerado um corresponsável pelo desenvolvimento econômico do país; 
assim, todos devem colaborar, oferecendo todo seu saber para a produção.
 Saiba mais
Para conhecer um pouco mais sobre as questões que envolvem o 
processo produtivo, em diferentes configurações, indicamos assistir aos 
filmes a seguir:
DAENS, um grito de justiça. Dir. Stijn Coninx. Bélgica: 1992. 138 minutos.
EU, Daniel Blake. Dir. Ken Loach. Reino Unido: 2016. 100 minutos.
A partir de então, há a ênfase aos processos de gestão científica, apresentados como alternativas 
eficientes para potencializar o processo de produção. De certa forma, tem-se a consolidação do 
saber científico como resposta a outros fenômenos sociais, como a gestão das expressões da 
questão social. Outrossim, para todos os problemas sociais, também espera-se que a administração 
científica seja suficiente para saná-los. Não há problema que não possa ser resolvido. Basta apenas 
um pouco de conhecimento. Ou seja, esse tipo de análise da realidade: “[...] pressupõe que as 
tensões possam ser controladas e manipuladas com a mesma destreza com a qual se domina os 
fenômenos da natureza” (GUERRA, 2000a, p.129-130). Porém, mesmo atualmente, o saber científico 
ainda é apresentado como única alternativa para a solução dos mais variados problemas sociais 
existentes, assim como para sanar todas as questões relacionadas ao processo de produção, além 
de ser apontado como a base para a superação das dificuldades econômicas pelas quais passam os 
mais variados países.
Como esses conceitos vistos anteriormente têm impactos na intervenção profissional? Pode-se dizer 
que é cobrado do especialista um pleno domínio científico? Sim, é exigida certa racionalidade, domínio 
do saber, da utilização de saberes e técnicas que permitam ao profissional desenvolver uma prática 
capaz de atender às demandas que são apresentadas.
A dimensão instrumental está presente em qualquer processo de trabalho, mesmo que existam 
mutações na forma com que ele se organiza ao longo dos anos. Assim, os instrumentos de trabalho 
vão sendo alterado diante das mudanças apresentadas na reorganização do processo produtivo. 
Cada vez mais busca-se aprimorar os instrumentos de trabalho, visando conferir melhor qualidade 
ao que é produzido.
15
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
2 INSTRUMENTALIDADE NO SERVIÇO SOCIAL
Neste momento, passa-se à discussão a respeito do conceito de instrumentalidade e de sua influência 
junto à categoria profissional. Como salienta Guerra (2010), a questão instrumental é essencialmente 
uma determinação sócio-histórica. Isso significa que os instrumentos e técnicas, assim como a 
bagagem a qual recorre-se, têm influência do momento histórico em que estamos inseridos. Também 
há predomínio de aspectos além do controle do profissional, como a questão econômica, política e 
situação social. Voltar o olhar ao passado é importante para conhecer as diferentes configurações postas 
aos instrumentais e à prática profissional como um todo.
A burocratização do trabalho do serviço social a partir de exigências postas para a atuação profissional 
da categoria advém do processo de institucionalização das ações profissionais, mais precisamente, 
com a vertente do serviço social moderno, que ganha forte representatividade entre os assistentes 
sociais durante o período de ditadura civil-militar, pós-golpe de 1964. Vanguarda essa que perdurou até 
meados da década de 1970 e teve ruptura a partir do Congresso da Virada, em 1979, tendo em vista as 
influências do movimento de Reconceituação da Profissão Latino-Americano.
Cabe aqui alguns esclarecimentos, retomando e aprofundando a questão dos efeitos do Golpe de 64 no 
Brasil e a interface com o serviço social, para que seja possível entender o processo de institucionalização do 
assistente social, pois é exatamente nesse contexto que reside a gênese da demanda por instrumentalizar 
pessoas a partir de uma forma de pensar fragmentada em prol do ajustamento dos atendidos à sociedade de 
forma harmônica, sendo o Estado chamado à responsabilidade como agente regulador do bem-estar de todos.
Paulo Netto (2015) embasa histórica e criticamente sobre esse processo na cena brasileira chamando-o 
de ciclo autocrático burguês. Período entre 1964 e 1982 de ditadura civil militar brasileira, compreendido 
por ascensão, ápice e declínio, este último em meados de 1979. Esse processo consistiu na tomada do Estado 
ditatorial pela hegemonia burguesa em detrimento dos latifundiários, que a partir de pactos conseguiram 
perpetuar alguns aspectos de seu projeto coletivo.
A racionalidade burguesa, fortalecida pela burguesia internacional, coloca suas pautas na agenda 
do Estado sob o escopo do desenvolvimento do país, impulsionando o ciclo de industrialização 
pesada do país em um curto prazo. Esse momento também ficou conhecido como “milagre 
brasileiro”, pois foram realmente alcançados níveis de acúmulo inéditos para o país.
Essa reforma foi feita a galope, justificada por certo risco do socialismo atingir grandes proporções. 
Sendo assim, foi feita muito mais uma contrarreforma do Estado do que uma reforma propriamente 
dita, pois antes mesmo de qualquer reforma ser proposta, a burguesia se antecipa e realiza o seu projeto 
coletivo (PAULO NETTO; BRAZ, 2011) .
Não obstante, conforme os interesses burgueses eram atendidos, em contrapartida, as pautas da 
classe trabalhadora eram cada vez mais negligenciadas, fato que gerou o acirramento da questão social. 
Nesse contexto é que uma nova demanda de espaço sócio-ocupacional surge para o serviço social. Houve 
o aumento da disponibilização de postos de trabalho nos serviços estatais, os Institutos de Previdência. 
Esse fato levou a categoria ao questionamento acerca de seu fazer profissional.
16
Unidade I
Destarte, há a articulação de diversos âmbitos de encontros da categoriapara estudos, pesquisa e 
considerações. Essas mobilizações do serviço social geraram documentos que expressam as orientações 
teóricas que embasaram a atuação profissional em cada época.
Em Araxá, existe um serviço social ainda tradicional, definindo a importância de aprofundar a 
dimensão teórico-metodológica para lidar com as exigências burocráticas institucionais. Teresópolis 
foi o documento de cristalização do serviço social moderno, pois encontra no positivismo algumas 
interlocuções que o norteiam para responder às demandas institucionais.
O documento de Alto da Boa Vista e Sumaré expressou um retrocesso da profissão, pois propõe 
a retomada do serviço social tradicional como imprescindível. Sumaré esboça, em última instância, o 
serviço social tradicional travestido de serviço social moderno.
O método de BH é reconhecido por significar grande avanço do serviço social enquanto categoria 
que inicia seu aprofundamento teórico do marxismo, mas ainda aquém de estudos que de fato pudessem 
orientá-los com veracidade quanto ao método materialista histórico dialético, visto que, somente na 
década de 1980, com Maria Lúcia Vilela Iamamoto, é que o marxismo chega ao serviço social brasileiro 
de forma crítica e fundamentada.
As inquietações produzidas pelo acirramento da questão social fazem com que a relação com a 
ditadura civil-militar comece a perder forças ante os movimentos sociais insurgentes, culminando em 
mobilizações sociais, fortalecimento de movimentos sociais sindicais, sanitaristas, Movimento dos Sem 
Terra (MST), entre outros, culminando nas “Diretas Já”.
O modo de produção capitalista, consequentemente em sua necessidade de reprodução, ou seja, 
extrair mais-valia e aumentar a taxa de lucro, vai eliminando a concorrência, chegando à era dos 
monopólios e oligopólios.
O Estado é chamado para realizar medidas econômicas e sociais que requerem instituições e 
profissionais com formações específicas para atender a estes anseios.
 Saiba mais
Que tal conhecer um pouco mais dessa história da nossa profissão? 
Recomendamos a leitura do livro:
PAULO NETTO, J. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social 
no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 2015.
Nesse texto, o autor contextualiza historicamente a luta da categoria por 
entender o seu fazer profissional, além de um rol amplo de aspectos afins.
17
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
É nesse contexto que surge o que é nomeado por Guerra (2000b) como utilidade social da profissão, 
que é determinada pelas necessidades sociais que clamam por sua existência. Ocorre que, no modo de 
produção capitalista, essas demandas são apresentadas de formas antagônicas, pois elas são provenientes 
de classes opostas, surgindo a partir da contradição guardada na relação social de produção, ou no 
embate entre capital e trabalho.
A profissão é norteada por aquilo que a demanda; sendo assim, o assistente social atua como 
mediador a partir das expressões da questão social sob as quais intervêm. Sua atuação se dá perante a 
divisão sociotécnica do trabalho, entendendo-se como classe trabalhadora, e tendo nas políticas sociais 
as mediações imprescindíveis para que a sua atuação profissional possa atingir aspectos concretos, 
ainda que no imediato. Não obstante, as políticas sociais e os serviços sociais são também entendidos 
como espaços sócio-ocupacionais para os assistentes sociais.
Nesse sentindo, infere-se junto a Guerra (2000a) que as políticas sociais possuem dimensão de 
reprodução da força de trabalho como respostas estatais às lutas de classes; no entanto, também podem 
ser entendidas como um conjunto de procedimentos técnico-operativos, os quais são direcionados de 
forma instrumental, cabendo aos profissionais da área trabalharem as esferas da formulação e a da 
implementação. O âmbito de inserção do assistente social é, primordialmente, o da implementação.
As respostas estatais via políticas sociais se viabilizam de forma segmentada, por meio de políticas 
setoriais. Notoriamente, essa forma política de pensar atrela-se constitutivamente à racionalidade 
burguesa, visto que se propõe a atender a população em suas necessidades emergenciais, remetendo 
ao profissional de serviço social a função de executor de intervenções imediatistas, como se o cidadão 
tivesse, em vez de um problema proveniente da questão social, um incêndio, cabendo a ele apagar 
apenas esse fogo, ignorando o fator gerador do incêndio.
Inferimos junto a Guerra (2000a, p. 7) que:
É nesse sentido que as políticas sociais contribuem para a produção e 
reprodução material e ideológica da força de trabalho (melhor dizendo, da 
subjetividade do trabalhador como força de trabalho) e para a reprodução 
ampliada do capital. Como resultado destas determinações no processo de 
constituição da profissão, a intencionalidade dos assistentes sociais passa 
a ser mediada pela própria lógica da institucionalização, pela dinâmica da 
instauração da profissão e pelas estruturas em que a profissão se insere, 
as quais, em muitos casos, submetem o profissional, melhor dizendo, os 
assistentes sociais “passam a desempenhar papéis que lhes são alocados 
por organismos e instâncias [...]” próprios da ordem burguesa no estágio 
monopolista (NETTO, 1992: 68), os quais são portadores da lógica do 
mercado. Assim, o assistente social adquire a condição de trabalhador 
assalariado com todos os condicionamentos que disso decorre. Por isso é 
importante, na reflexão do significado sócio-histórico da instrumentalidade 
como condição de possibilidade do exercício profissional, resgatar a natureza 
e a configuração das políticas sociais que, como espaços de intervenção 
18
Unidade I
profissional, atribuem determinadas formas, conteúdos e dinâmicas ao 
exercício profissional.
A partir desses horizontes, a autora orienta ainda acerca de dois movimentos do exercício profissional 
realizado sob essas condições. No primeiro, temos a constituição de políticas sociais fragmentadas para 
as quais o profissional é requisitado. Dessa forma, temos uma setorização das ações do serviço social, 
que passa a direcionar sua intervenção para um público particular e específico. A setorização resulta em 
intervenções também fragmentadas por parte do assistente social, o qual, cada vez mais, precisa usar 
instrumentos e técnicas específicos para realizar uma intervenção igualmente particular e específica 
junto às refrações da questão social.
Guerra (2010) nos coloca que essa fragmentação das ações em políticas sociais específicas resultam 
na decomposição e na fragmentação dos problemas sociais, mas também conduzem a um controle 
técnico e burocrata das ações dos assistentes sociais. Assim, os profissionais passam a ser orientados a 
apresentar soluções dentro do espaço laboral para o qual são contratados. Isso confere a ideia de que 
somente uma boa técnica de intervenção é suficiente para dar conta dos problemas sociais.
[...] operacionalização de medidas instrumentais de controle social, o 
controle de técnicas e tecnologias sociais [...] manipulando racionalmente 
os problemas sociais, prevenindo e canalizando a eclosão de tensões 
para os canais institucionalizados estabelecidos oficialmente (GUERRA, 
2010, p.135-136)
Portanto, de acordo com essa ótica, assentada no racionalismo formal e abstrato, compete ao 
assistente social, atuante nas políticas sociais, saber usar corretamente recursos, bem como as técnicas 
que possui, e, somente dessa maneira, será possível controlar e administrar os problemas sociais com os 
quais se relaciona. Isso impacta diretamente na constituição dos profissionais, que se veem obrigados a 
dar respostas eficientes às demandas que lhes são apresentadas ou, como sintetiza a autora:
[...] previsibilidade e controle dos desequilíbrios funcionais do sistema, 
racionalização e maximização dos recursos, normatização de procedimentos 
técnicos, introdução de novas tecnologias, exigências de eficácias e eficiência 
dos meios (materiais e culturais) destinados à reproduçãoampliada do 
capital, polivalência nas ações, interdisciplinaridade profissional (GUERRA, 
2010, p. 137-138).
Obviamente, os assistentes sociais atuantes em políticas sociais precisam conferir respostas às 
situações que são apresentadas. Afinal, o que confere importância social à profissão é o fato de conseguir 
atender às demandas. No entanto, é preciso saber que muitas das situações que o assistente social não 
consegue sanar não provêm de sua incapacidade, mas sim por questões que estão além do seu controle. 
Guerra (2010), no entanto, nos coloca que, apesar de sermos influenciados por essa racionalidade, sempre 
precisamos ter em mente que os problemas sociais sob os quais nos debruçamos são gerados pelo 
desenvolvimento capitalista. Somente dessa maneira podemos dar privilégio à criticidade em desfavor 
desse excesso da racionalidade que se mostra presente dentro da categoria.
19
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
A forma como é vista a realidade, sua interpretação, nos leva a construir uma representação de 
nossa prática, uma autoimagem de nossa ação. Obviamente que tendo consciência de nossas ações, 
precisamos sempre buscar reivindicar melhorias para o público, além de sempre lutar por manter e 
ampliar condições dignas de trabalho. Isso também nos leva a buscar sempre qualificação permanente, 
uma vez que são extremamente importantes “[...] informações, conhecimentos e habilidades que 
o instrumentalize” (GUERRA, 2010, p. 157). Também é necessário que os assistentes sociais estejam 
vinculados aos parâmetros defendidos pela sua categoria, uma vez que isso é importante para orientar 
suas ações.
 Saiba mais
Que tal ficar por dentro de todas as discussões da categoria? Isso é 
extremamente importante para estar atualizado e também para orientar 
a sua intervenção profissional. Para isso, acompanhe as discussões da 
categoria que estão disponibilizadas no link a seguir:
<http://www.cfess.org.br>.
Guerra (2010) indica que a instrumentalidade é composta por níveis. Um desses níveis a ser alcançado 
consistiria justamente na capacidade de o profissional articular as dimensões técnico-instrumental, 
teórico-intelectual, ético-política e formativa. Dessa maneira, outro nível possível seria alcançado 
após essa junção dos vários aspectos, resultando na possibilidade de pôr em prática valores nobres da 
profissão, conforme disposto na lei que regulamenta a profissão e no Código Profissional de Ética dos 
Assistentes Sociais. Esses níveis só podem ser alcançados se o profissional buscar ir além da simples 
razão instrumental.
Face ao exposto, a categoria profissional de serviço social atua com autonomia relativa, pois 
sua função é atrelada a requisitos técnico-instrumentais, burocracias e aspectos de manutenção da 
ordem burguesa. No sentido em pauta, as inflexões do sistema capitalista junto às políticas sociais 
trazem condicionantes para a configuração do exercício profissional, assim como outros aspectos 
presentes na sociedade capitalista. Em contrapartida, cabe-nos afirmar com veemência o horizonte do 
projeto ético-político da profissão, que visa à emancipação humana, se instrumentalizando, segundo 
Montaño e Durigueto (2011), a partir do acúmulo teórico redigido pela categoria, também pelos 
seus órgãos e espaços de regulamentação de categoria profissional, bem como as legislações tanto 
da profissão quanto as que são necessárias à atuação profissional. Também busca sempre melhor 
qualificar a sua intervenção visando à efetivação dos direitos sociais do público que atende.
Destarte, a prioridade aqui é enfatizar que quando ocorre o reducionismo da profissão a apenas 
uma de suas dimensões, no caso aqui, da dimensão instrumental, equivocadamente o profissional é 
direcionado a ser mero executor acrítico dos ditames do modo de produção capitalista, em última 
instância, permitindo que o mercado de trabalho dite as regras das ações profissionais.
http://www.cfess.org.br
20
Unidade I
Oportunamente, as ações do serviço social devem ser pautadas por intervenções que priorizem 
refletir e fomentar as escolhas dos sujeitos, perpassando pelas reflexões críticas, problematizações, 
direcionadas pela razão ontológica marxista, as quais deverão estar atreladas aos valores éticos, morais 
e políticos do ser social.
A dimensão teórico-metodológica e a ético-política, portanto, se expressam como as mais relevantes 
para que possamos ultrapassar a aparência/o imediato e atuar com a essência/mediatizado. A pesquisa 
científica tem trazido grandes contribuições para os trabalhadores de serviço social, pois dispõe de 
acúmulo de conhecimento proveniente de leituras da questão social.
O maior desafio, por conseguinte, consiste em mediatizar as ações, as propostas. Sobre isso Guerra 
(2000a, p.11) diz que:
Se é verdade que a instrumentalidade insere-se no espaço do singular, 
do cotidiano, do imediato, também o é que ela, ao ser considerada 
como uma particularidade da profissão, dada por condições objetivas 
e subjetivas, e como tal sócio-históricas, pode ser concebida como 
campo de mediação e instância de passagem. Diferente disso, seria 
tomar a instrumentalidade apenas como singularidade, e como 
tal, um fim em si mesma, de modo que estaríamos desconhecendo 
suas possibilidades como particularidade. No cotidiano, como 
o espaço da instrumentalidade, imperam demandas de natureza 
instrumental. Nele, a relação meios e fins rompe-se e o que importa é 
que os indivíduos acionem os elementos necessários para alcançarem 
seus fins (grifos meus).
Conforme Guerra (2000a) esclarece, a instrumentalidade é uma dimensão da atuação profissional 
exigida por diversos âmbitos do saber e fazer profissional. Isso não a faz mais ou menos importante 
que outras demandas, mas deve ser reconhecida como uma possibilidade de mediação para que o 
profissional possa acessar o imediato e, através da utilização de método de análise crítica, ultrapassar o 
pseudoconcreto que é exposto na aparência dos fenômenos.
 Saiba mais
O texto a seguir aborda a discussão da instrumentalidade, reforçando 
a necessidade de pensar para além dos instrumentos, de forma crítica 
e reflexiva.
MENEZES, V. de A.; MOURA, E. M. A instrumentalidade do processo de 
trabalho do serviço social: por uma práxis ascendente à razão instrumental. 
In: VI SEMINÁRIO CETROS, 2018, Ceará. Anais [...] Ceará: UECE, 2018.
21
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Inferimos, portanto, junto a autora, que a instrumentalidade é particularidade e não singularidade. 
Sendo assim, ela não é a finalidade da atuação profissional, e sim meio para iniciar as reflexões e análises 
de profundidade dos casos atendidos.
Tratar-se-á aqui da instrumentalidade como uma mediação que permite a 
passagem das ações meramente instrumentais para o exercício profissional 
crítico e competente. Como mediação, a instrumentalidade permite 
também o movimento contrário: que as referências teóricas, explicativas 
da lógica e da dinâmica da sociedade, possam ser remetidas à compreensão 
das particularidades do exercício profissional e das singularidades do 
cotidiano. Aqui, a instrumentalidade, sendo uma particularidade e 
como tal, campo de mediação, é o espaço no qual a cultura profissional 
se movimenta. Da cultura profissional os assistentes sociais recolhem 
e na instrumentalidade constroem os indicativos teórico-práticos de 
intervenção imediata, o chamado instrumental técnico ou as ditas 
metodologias de ação. Reconhecer a instrumentalidade como mediação 
significa tomar o serviço social como totalidade constituída de múltiplas 
dimensões: técnico-instrumental, teórico-intelectual, ético-política e 
formativa (GUERRA, 2000a, p.12).
A dimensão técnico-instrumental remete ao acúmulo da unidade objetivo-subjetiva da profissão 
refletido em uma síntese que a concretiza. A dimensão teórico-intelectual é a que compõe o processo de 
abstração da categoria, que permite desdobrar aspectos teóricos e ético-políticos em ações profissionais.
O serviço social não é uma ciência, logo, parafundamentar seus processos mediáticos, necessita 
acessar diversos conteúdos das ciências sociais, e, a partir desses horizontes, vai construindo 
cotidianamente e criticamente suas ações. A partir de suas intervenções, vai construindo um 
coletivo que lhe permite determinado conhecimento acerca da realidade social vivenciada por seus 
atendimentos, acessando singularidades e particularidades que lhe ofertam uma perspectiva de 
totalidade no âmbito universal, chegando à essência dos fenômenos, ou apreendendo o movimento 
do real, que é a própria essência/o real.
A cultura profissional nos permite mensurar nossas ações, partindo de objetivos claros, construídos 
junto aos atendidos que, por meio de avaliação contínua, permitem mudanças e alterações que 
possibilitam que as intervenções sejam mais assertivas.
Ao lançar mão da cultura profissional, o profissional de serviço social recusa a intervenção com 
foco na instrumentalidade, no imediato, buscando conhecer, desvelar o fenômeno junto ao atendido, 
utilizando-se de conteúdos teóricos, críticos e projetivos (GUERRA, 2000b).
Aliás, a definição apresentada por Guerra (2000b) indica que a instrumentalidade “[...] é uma 
propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos” 
(GUERRA, 2000b, p. 2), ou seja, não pode ser reduzida à dimensão instrumental, ao como fazer. Isso 
corresponde a compreender que a instrumentalidade é uma condição da profissão que, ao ser exercida, 
22
Unidade I
visa ao alcance de finalidades profissionais. A instrumentalidade é, portanto, uma forma, um meio de o 
profissional objetivar sua intervenção por meio de respostas às demandas e necessidades que lhes são 
apresentadas. Por isso, é necessário destacar ainda que é uma capacidade ou propriedade desenvolvida 
pelos profissionais, ou seja, não é algo inato.
A instrumentalidade constitui o ser social. Faz parte do ser humano, mas é uma capacidade intelectiva, 
desenvolvida e vinculada à consciência. Está presente no trabalho manual e também no intelectual, 
sendo uma forma de junção da racionalidade técnica à dimensão instrumental, presente no processo 
do trabalho. Expressa ainda possibilidades encontradas pelos assistentes sociais de realizar uma junção 
entre a fundamentação teórica e a prática. Nesse momento, os assistentes sociais conseguem analisar a 
realidade, intervir sob ela, porém, têm como referência para suas ações a sua fundamentação. Isso só é 
possível porque o profissional operacionaliza, no cotidiano de sua ação, a junção teoria e prática.
A autora nos coloca ainda que a instrumentalidade é também uma condição para o reconhecimento 
da profissão. Nesse sentido, reforça a história da profissão, destacando que o serviço social só foi aceito 
socialmente como uma profissão à medida que demonstrou condições de dar conta das demandas 
apresentadas. Para isso, os instrumentos, a instrumentalidade, são importantes para demonstrar que a 
profissão é socialmente necessária. Em tese, todo trabalho comporta uma instrumentalidade, e é isso 
que faz com que a ação se torne necessária em uma dada sociedade. Essa instrumentalidade confere ao 
homem a capacidade de manipular e modificar algo.
No caso do serviço social, a intervenção profissional acontece sob os fragmentos da questão social. 
Melhor dizendo, como sabemos, as intervenções do serviço social que requerem sua instrumentalidade 
incidem sobre as múltiplas expressões da questão social, que, por sua vez, exigem dos profissionais 
procedimentos instrumentais.
A instrumentalidade, portanto, envolve a conversão de certos objetos em instrumentos que atendam 
às necessidades encontradas para a transformação das matérias em produtos úteis. Para tanto, deve-se 
ir além da simples execução das ações.
Quando tratamos de práxis, no entanto, há a necessidade de acessar outros aspectos mais 
profundos, que ultrapassam a esfera da instrumentalidade. Podemos delimitar, por conseguinte, 
dizendo que trata-se de um processo chamado de trabalho, que envolve ações prático-reflexivas, 
em unidade, que se direcionam a atingir algum objetivo. Para que isso ocorra, é preciso alcançar 
determinada condição objetiva-subjetiva.
Destarte, o trabalho é uma relação resultante de um indivíduo que transforma a natureza e que, 
ao transformá-la, ele transforma a si mesmo. Construindo, por consequência, um âmbito material e 
imaterial, este último, envolvendo a consciência, a linguagem, os valores, a ética, intencionalidades, 
projetos, propostas; sendo o imaterial algo inseparável do material, que como unidade culmina na práxis. 
Infere-se, junto à Guerra (2000a), que a práxis é o conjunto de mediações que permitem aos indivíduos 
objetivar-se em suas ações, sendo o trabalho a principal forma que, dentro dessas condicionalidades 
(unidade entre subjetividade-objetividade, material-imaterial ou ainda concreto-abstrato), permite ao 
sujeito atingir e realizar sua teleologia para a práxis.
23
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Guerra (2000a) afirma ainda que a instrumentalidade reside em toda a postura teleológica, 
possibilitando ao indivíduo manipular, idealizar, modificar e modificar-se, imprimindo às coisas 
características próprias da humanidade, podendo, assim, utilizar desses meios (ou instrumentos) para 
atingir os objetivos postos.
Cabe aqui explicitar um pouco mais sobre como se dá essa interface entre postura teleológica e 
instrumentalidade. Os indivíduos trabalham, logo, desenvolvem capacidades; a partir dessas, surgem novas 
perguntas que os levam a novas necessidades, novas respostas, mais capacidades e assim sucessivamente.
Essa interface é uma relação social e, como tal, implica em todas as outras relações sociais, até 
mesmo nas relações sociais sexuais e outras de ordem interpessoal. Essa questão se explicita na avaliação 
de nossas formas de pensar, posturas e consciência, as quais são mobilizadas em prol de determinado 
acúmulo que temos, sendo assim chamados de instrumentos que utilizamos cotidianamente para a 
reprodução da vida. Portanto, tais relações sociais de produção se expressam no ser social.
Assim, para o desenvolvimento do trabalho, é preciso que as relações sociais também sejam 
desenvolvidas. Nesse momento, as mediações de complexos sociais (tais como a ideologia, a teoria, a 
filosofia, a política, a arte, a ciência e a técnica) são de extrema importância para orientar o percurso. 
Esses complexos sociais objetivam dar certa organicidade às relações.
Essa relação no modo de produção capitalista (que seria o sistema capitalista) se dá de uma forma 
diferenciada, que não permite ao indivíduo objetivar-se em totalidade, pois tal objetivação só pode 
ocorrer em liberdade coletiva, necessitando o ultrapassar da emancipação humana.
No tempo do capitalismo, as determinações sócio-históricas levam os indivíduos a serem utilizados 
como instrumentos de outros indivíduos, ou ainda a força de trabalho como um meio de produção a ser 
indispensável para a reprodução do sistema que tem por base a extração de mais-valia. O indivíduo é um 
instrumento; além disso, deve instrumentalizar-se, sendo esta última uma exigência para não tornar-se 
um expropriado que não serve à racionalidade burguesa. Tal razão cria instituições, práticas sociais, 
organizações sociais, que nada mais são do que instrumentos de reprodução do capital, pois garantem 
suas ideias como ideias dominantes (MARX; ENGELS, 2009).
Todo cidadão é acometido pelo sonho de acessar determinadas coisas e lugares; aliás, atingir 
a condição de cidadania pressupõe que os sujeitos detenham o direito de ser iguais aos outros 
perante a lei. Nesse contexto, a razão burguesa perpassa pelas relações sociais e, paulatinamente, 
dissemina a sua ideologia de classe.
Na relação social celebrada pelo modo de produção capitalista ou, ainda, no sistema capitalista, a 
transformação societária se dá por meio da exploração do indivíduo por outro, sendo implícito que o 
trabalhador deverá abdicar de suas necessidadesenquanto pessoa para converter-se em instrumento 
que possa garantir a necessidade da classe dominante que nos é passada como necessidade de todos, 
pelo bem de todos (GUERRA, 2010). Isso conforma as relações sociais. Face a essas condições é que, 
paulatinamente, a ideia de instrumentalidade, que é necessária à transformação da natureza pelo 
trabalho, vai se fragmentando de tal forma até que exige-se a instrumentalização de pessoas.
24
Unidade I
A palavra instrumentalidade tem sido proferida nos mais diversos espaços da categoria. 
É importante que, desde já, esta seja utilizada como meio para o atingimento de nossa 
intencionalidade, ou seja, a profissão adquire concretude e visibilidade à medida que concretiza 
seus objetivos. Ocorre que alguns profissionais têm utilizado essa categoria erroneamente, 
cobrando certos padrões e usos de manuais para alcançar as respostas do serviço social às 
demandas institucionais e dos atendidos.
A tarefa das páginas a seguir é direcionar foco, portanto, para o desvelar do que seria a 
instrumentalidade para a categoria profissional de serviço social. Para tanto, é preciso ressaltar que 
trata-se de uma competência encontrada somente na atuação profissional, que se dá no momento em 
que modificamos, transformamos e alteramos as condições objetivas e subjetivas da vida dos sujeitos, 
ou, ainda, nos momentos das intervenções nas relações sociais em determinado contexto de realidade 
social, que ocorre no âmbito do cotidiano (GUERRA, 2010).
A instrumentalidade se realiza, portanto, nos momentos em que as ações se voltam para modificar 
condições de vida, meios existentes de acesso e garantias para os sujeitos.
Nesse sentido, há a tentativa de transformar condições e meios para atingir o objetivo através das 
intervenções profissionais. O serviço social realiza tais ações, por consequência, a todo o momento em que 
altera as condições cotidianas profissionais, bem como das classes sociais que solicitam tal intervenção.
Ao buscar atingir o objetivo da intervenção profissional, é preciso construir determinadas 
mediações e apreender mediações postas na realidade, a fim de criar estratégias de transformação do 
cotidiano (no próprio cotidiano), para que os limites e desafios possam ser superados cotidianamente 
na atuação do profissional.
 Lembrete
O cotidiano profissional é um âmbito que se constitui em consideração 
às demandas dos usuários, às demandas institucionais e ao projeto 
ético-político e Código de Ética da Profissão, ou seja, o posicionamento 
político do profissional.
Considerando tais elementos, dizer que o serviço social é reconhecido por sua instrumentalidade, 
ou que deveria construir instrumentos padrões e manuais de intervenção que lhe garantissem 
visibilidade, seria nada mais que um reducionismo das ações profissionais aos meios construídos 
para atingir os objetivos. Ademais, seria também uma falácia, pois é impossível determinar 
enquadramentos e formas para “o fazer” profissional do serviço social, considerando que é uma 
profissão que lida com a categoria realidade (verdade, essencial, o real); destarte, lida com algo 
dinâmico, mutável, cabendo ao profissional aprofundar-se em sua formação permanente para 
ultrapassar os limites encontrados, e não realizar ações previamente determinadas, como se a 
realidade fosse linear, estagnada e imutável.
25
ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
 Lembrete
O cotidiano das classes sociais é permeado pelas relações sociais de 
produção, valores sociais, relações interpessoais, projetos societários ou, 
ainda, uma conjuntura que determinará a condição de vida daquele sujeito 
que nos procura. Por conseguinte, determinará também a formação de sua 
consciência a partir das suas experiências e relações constituídas.
Esse questionamento tem perpassado pelas reflexões de muitos alunos de serviço social e, 
infelizmente, até mesmo por profissionais da área que se posicionam a favor da reatualização do 
conservadorismo na profissão, perspectiva burocratizadora, já ultrapassada junto ao serviço social 
conhecido como moderno que se desenvolve no Brasil entre 1964 e 1979, período conhecido por 
atender ao modelo econômico do desenvolvimentismo (PAULO NETTO, 2015).
Obviamente que a resposta a essa indagação é que, na prática, a teoria não é outra, ou, ainda, na 
prática, a teoria é a mesma, ou seja, só é possível realizar uma atuação profissional coerente, atingindo 
os objetivos delimitados, se buscarmos por realizar uma práxis.
O próprio questionamento já inviabiliza a interrogação, pois explicita a carência de formação 
permanente, fazendo com que o sujeito caia no fatalismo ou no messianismo da profissão, 
utilizando-se de uma atuação pragmática, linear, reprodutivista, de cunho positivista e até mesmo 
fenomenológico para sustentar a sua carência de profundidade e metodologia de intervenção em 
prol da transformação social.
Para afirmarem que a teoria é utópica, dizem que a prática se revela de outra forma, de modo que a 
teoria não daria conta das demandas postas na realidade. Os discursos encontrados são os mais diversos, 
tais como: dizer que na prática nos deparamos com situações que os livros não tratam, não explicam e 
não trazem receitas; dizer também que é importante termos manuais que nos digam exatamente o que 
devemos fazer, como não os temos, ficamos sem “instrumentos” para intervir.
Nesse sentido, fica exemplificado o entendimento apresentado da chamada “instrumentalidade” 
por aqueles que ainda não atingiram determinados entendimentos e aprofundamentos das teorias que 
orientam o cotidiano profissional.
Vale ressaltar que não cabe aqui nenhuma fala de culpabilização dos indivíduos que se mobilizam 
por manuais e respostas prontas, cabe apenas esmiuçar os fatos que levam o profissional a agir contrário 
a essas propostas. Iniciando pelo fato de que não é possível partir de respostas, ou ainda de respostas 
prontas, para trabalhar com a dinamicidade do real, bem como com as singularidades e particularidades 
com as quais nos deparamos.
Para sanar tal indagação, faz-se necessário explicitar como ocorrem tais esvaziamentos teóricos na 
categoria profissional, dando vazão a determinadas afirmativas infundadas. Destarte, é preciso entender 
26
Unidade I
a relação social nomeada como trabalho, que, para o profissional de serviço social, é o marxismo, 
teoria vanguardista da categoria; temos que o trabalho é categoria central, sendo assim, fundante e 
constitutiva para os indivíduos.
Para concluir as colocações a respeito da instrumentalidade e da instrumentalidade do serviço social, 
é apresentado a seguir um quadro com a síntese das colocações até o momento.
Quadro 1 – Síntese de conteúdos
Trabalho Trabalho do assistente social
Envolve matéria-prima Envolve as expressões da questão social 
Mudança da matéria-prima demanda 
capacidade reflexiva
Intervenção sobre a matéria-prima, 
buscando minimizar os efeitos da expressão 
da questão social
Instrumentos permitem a alteração de 
matéria-prima em produto Instrumentalidade (técnica e conhecimento)
Instrumentos são necessários em qualquer 
processo de trabalho
Instrumentos são necessários ao fazer 
profissional, mas também são históricos, 
estão presentes no cotidiano e também na 
capacidade reflexiva por parte do profissional
Necessita da ação do trabalhador Alicerçado no referencial teórico e no projeto ético-político da categoria
3 INSTRUMENTALIDADE E PROCESSOS DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL
A noção de instrumentalidade passou a ser trabalhada dentro da categoria por Yolanda 
Guerra. A produção da autora, com artigos e livros, leva à discussão da categoria para outros 
níveis, demonstrando a importância do assistente social repensar tanto sua prática quanto a sua 
fundamentação. Porém, a noção de processo de trabalho e sua aplicação ao serviço social foi 
inicialmente idealizada por Marilda Vilela Iamamoto, que é também um nome forte dentro da 
produção teórica do serviço social.
 Observação
Yolanda Guerra é assistentesocial e professora da UFRJ. Marilda Vilela 
Iamamoto é professora aposentada da Faculdade de Serviço Social da UERJ.
Iamamoto (2001), então, assim como Guerra (2010), parte da noção marxista de processo 
de trabalho. Aqui, seja bem entendido que a noção de processo de trabalho em Marx não está 
vinculada às situações processuais. Antes, busca indicar aspectos que estariam presentes em 
qualquer relação trabalhista.
Para Marx, toda relação de trabalho comporta elementos mínimos, básicos, que seriam o trabalho, 
a própria ação em si, além dos instrumentos ou meios de trabalho e a matéria-prima. O resultado 
desse processo de trabalho é um produto. No caso, Marx buscava analisar a sociedade capitalista e, a 
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
partir dessa categoria, teceu a suas contribuições. Guerra (2000a; 2010) também partiu da definição 
marxista, porém, suas colocações estiveram mais orientadas à questão da instrumentalidade. No caso de 
Iamamoto (2001), no entanto, a análise esteve mais orientada para a discussão do conceito de processo 
de trabalho aplicado ao serviço social.
 Saiba mais
Que tal conhecer um pouco mais sobre a perspectiva de Iamamoto? 
Além dos inúmeros artigos e livros que você pode ler, indicamos também o 
vídeo a seguir, pois são falas claras sobre conceitos relacionados à prática 
do assistente social.
PALESTRA com a professora Marilda Villela Iamamoto. MClip. [s.d.]. 
Disponível em: <https://mclip.tv/video/zDOnXgCH_1Y/palestra-com-a-
professora-marilda-villela-iamamoto>. Acesso em: 20 ago. 2019.
Iamamoto (2001) coloca que, antes de adentrar em uma discussão sobre os elementos que integram o 
processo de trabalho no serviço social, é preciso compreender a consolidação do serviço social enquanto 
um trabalho, de fato. Para ela, o que consolidou o serviço social como uma profissão no Brasil foi a 
necessidade social da ação.
Em tese, o serviço social só surge e se consolida como uma profissão (e não como uma caridade) 
porque apresenta utilidade social. Essa utilidade reside no fato de que esse profissional passa a 
administrar as expressões da questão social. De tal maneira, compreender o serviço social, inscrito em 
processos de trabalho, requer, essencialmente, entendê-lo como resultado da sociedade capitalista 
madura e consolidada.
 Observação
É considerada um marco na consolidação do serviço social enquanto 
profissão no Brasil a criação das primeiras escolas em São Paulo, no ano de 
1936, e no Rio de Janeiro, em 1937.
A partir da consolidação do serviço social como profissão, os seus agentes são movidos a identificar 
modos de atuar diante das demandas que lhes são apresentadas. Os assistentes sociais foram 
amadurecendo teoricamente e foram constituindo métodos diferentes de intervenção. Isso corresponde 
ainda a entender que nessa construção da intervenção profissional há também a consolidação de uma 
imagem da profissão, ou seja, como os profissionais compreendem o seu fazer profissional. A noção de 
processo de trabalho do assistente social incorpora, assim, a história da profissão e da sociedade em que 
estamos inseridos e na qual nos movimentamos.
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Unidade I
Assim, tendo tais colocações arroladas, Iamamoto (2001) fortalece a noção de que o serviço social 
é, sim, um trabalho, e, como trabalhadores, estamos inseridos em processos de trabalho assim como 
os demais profissionais e as demais categorias laborais. Como seria então um processo de trabalho do 
serviço social?
 Lembrete
Em Marx, o processo de trabalho é compreendido como composto 
por meio de matéria-prima, instrumentos de trabalho e o trabalho. Todo 
trabalho, em Marx, resulta em um produto.
Parte-se da noção de matéria-prima, também chamada objeto de intervenção. De acordo 
com Iamamoto (2001), todo processo de trabalho envolve um objeto sob o qual incide a ação. 
No nosso caso, os assistentes sociais, nosso objeto ou matéria-prima é a questão social e as 
suas múltiplas formas de expressão, ou como a autora sintetiza: “A insistência na questão social 
está em que ela conforma a matéria-prima do trabalho profissional, sendo a prática profissional 
compreendida como uma especialização do trabalho, partícipe de um processo de trabalho” 
(IAMAMOTO, 2001, p. 58).
A matéria-prima ou o objeto sempre será aquele sob o qual incide a ação do assistente social. 
Mas aí você pode pensar: e no caso do serviço social, que atua em várias políticas sociais? Como 
pensar o objeto ou a matéria-prima? A autora coloca que a questão social possui múltiplas formas 
de expressão, portanto, pode-se encontrar e atuar junto a um rol amplo de configurações que 
podem ser assumidas pela questão social. Para melhor conhecer essa matéria-prima ou esse objeto, 
é basal ao assistente social conhecer e analisar a realidade em que atua, para que ela deixe de 
ser “[...] mero pano de fundo para o exercício profissional, tornando-se condição do mesmo, do 
conhecimento do objeto junto ao qual incide a ação transformadora ou esse trabalho” (IAMAMOTO, 
2001, p. 61). Entender a realidade pressupõe conhecer como os sujeitos reais e concretos vivem a 
questão social em seu dia a dia.
Interessante ressaltar que a questão social não pode ser resumida à pobreza. Aliás, como diria 
Paulo Netto (2001), a questão social possuía múltiplas formas de expressão, as quais vão sendo 
alteradas ao longos dos anos. Aliás, o autor destaca que perante as mudanças da sociedade, o que 
temos são novas configurações à questão social, novas manifestações. Porém, é preciso ressaltar 
que conhecer essas novas expressões é fundamental para que seja possível compreender melhor o 
objeto ou a matéria-prima, e que o profissional possa intervir sobre ela. Antes de dar andamento à 
discussão sobre a matéria-prima, observe a notícia a seguir:
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Estudo mostra que adolescentes de faixas carentes estão mais obesos
Figura 1 
Adolescentes residentes no Brasil, de faixas mais pobres da população, estão mais obesos 
e ainda sofrem de desnutrição.
É o que mostra estudo feito por pesquisadores da Escola de Nutrição da Universidade 
Federal da Bahia (UFBA) e do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde 
da Fundação Oswaldo Cruz da Bahia (Cidacs/Fiocruz Bahia). Esta é a primeira vez que uma 
investigação como essa é feita no Brasil, observando fatores socioeconômicos associados à 
desnutrição e à obesidade.
Para fazer o trabalho, os técnicos utilizaram dados das edições de 2009, a primeira, e 
da mais recente, de 2015, da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), desenvolvida 
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho investiga doenças 
crônicas não transmissíveis entre adolescentes escolares brasileiros. O estudo comparou os 
índices nutricionais de alunos de 13 a 17 anos, separados entre os que apresentam somente 
sobrepeso ou baixa estatura e aqueles que apresentam as duas condições.
Sobrepeso
Na visão dos pesquisadores, houve aumento de sobrepeso entre os adolescentes de 
todos os níveis socioeconômicos e, ao mesmo tempo, também aparece nesses estudantes a 
desnutrição, revelada pela baixa estatura.
Segundo o estudo, os adolescentes de escolas privadas têm maior chance de desenvolver 
excesso de peso em relação aos estudantes da escola pública, mas ao longo do tempo a 
diferença se reduziu. Entre 2009 e 2015, o índice de adolescentes com excesso de peso na 
rede privada, que era 28,7%, permaneceu inalterável, mas a taxa entre os da rede pública 
aumentou de 19% para 23,1%.
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Unidade I
Dupla carga
No estudo, os pesquisadores identificaram que a dupla carga de má nutrição, uma 
característica de desnutrição e obesidade, simultâneas, atinge menos de 1% dos estudantes. 
Apesar disso, nem sempre uma melhoria nas condições socioeconômicas vem acompanhada 
de maior qualidade nutricional.
“O indivíduo que tem dupla carga é aquele adolescente que apresenta baixa estatura, 
um sinônimo de desnutrição crônica e excesso de peso. A dupla carga pode se manifestarde três formas. Tanto em nível individual, que é o caso do nosso estudo, sendo os dois 
desfechos no mesmo indivíduo. Pode ser também em nível familiar, por exemplo, uma 
mãe com excesso de peso e um filho com desnutrição, ou em nível comunitário, onde em 
um mesmo local temos taxas altas tanto de desnutrição quanto de obesidade. No nosso 
estudo foi bem específico, com adolescente de baixa estatura e excesso de peso”, disse a 
pesquisadora da UFBA, Júlia Uzêda, em entrevista à Agência Brasil.
Em 2009, na análise separada, o grupo que apresentou os dois desfechos de saúde, 
independentemente de sexo, e diferenciando entre estudantes de escola pública e privada, 
a simultaneidade aparece em 29 estudantes do ensino particular (0,2%) contra 185 do 
público (0,4%).
Isso significa que a dupla carga é maior entre estudantes da rede pública. Em 2015, 
a taxa de dupla carga entre os estudantes de escola privada atingiu 0,3% e nos da rede 
pública permaneceu em 0,4%. As meninas, com 0,4%, ainda são maioria, enquanto entre os 
meninos ficou em 0,3%.
Fatores
De acordo com o pesquisador do Cidacs Natanael Silva, embora o estudo não tenha 
se baseado em classes sociais, há variáveis analisadas que indicaram um crescimento de 
obesidade, atingindo cada vez mais a população menos favorecida socioeconomicamente.
Segundo ele, os alimentos processados podem ser um dos fatores da obesidade, por 
serem também de preços mais baixos.
“Os alimentos processados acabam sendo mais baratos do que qualquer alimento natural 
e por terem maior aporte calórico, muitas vezes serem vendidos em grandes quantidades, 
mais baratos e atrativos, chamam bastante a atenção do público mais vulnerável”, disse.
Além disso, foram selecionadas informações socioeconômicas de adolescentes, como 
escolaridade da mãe, raça, sexo e tipo de unidade escolar. Os filhos de mulheres que 
completaram a educação primária revelaram melhores índices de nutrição, apresentando a 
metade da taxa de dupla carga do que os estudantes cujas mães não finalizaram essa etapa.
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ESTRATÉGIAS EM SERVIÇO SOCIAL
Júlia Uzêda informou que há estudos comprovando que a desnutrição em período 
intrauterino provoca mecanismos no corpo que aparecem futuramente na vida da criança, 
por causa de problemas na absorção de gordura, que resultam na obesidade.
“O adolescente é um público vulnerável por todas as mudanças físicas, então, quando o 
indivíduo tem dupla carga, ele passa a ter riscos tanto de desnutrição quanto de obesidade, 
por isso o nome de dupla carga”, observou.
Políticas Públicas
Os pesquisadores defenderam que o estudo serve para ajudar na elaboração de políticas públicas.
Para Júlia Uzêda, existem fatores que não foram analisados no estudo, como o consumo 
alimentar e, principalmente, a qualidade dos alimentos ingeridos, mas as informações 
encontradas já podem servir para a adoção de medidas com o foco na qualidade da nutrição.
“Muitas vezes as políticas públicas são destinadas isoladamente à obesidade ou à 
desnutrição e acabam tratando um e esquecendo outro. A transição nutricional tem o perfil, 
que é a diminuição da desnutrição, mas não deixa de existir, enquanto a obesidade e o 
excesso de peso aumentam. Isso muda o foco das políticas públicas”, disse a pesquisadora.
Fonte: Brasil (2019).
Na notícia temos uma situação em que a pobreza, a ausência de recursos financeiros para a 
sobrevivência de um grupo de adolescentes, resulta em problemas de saúde. Por analogia, é lícito pensar 
a pobreza como questão social? Sim, é lícito. Mas os problemas de saúde decorrentes da má alimentação 
também podem ser considerados expressões da questão social? Sim, também, assim como alcoolismo, 
utilização de drogas e outras situações afins que podem ser consideradas também expressões da questão 
social. Ao assistente social que atua com esse problema social, seria importante o amplo conhecimento 
sobre ele, visando, assim, ampliar as informações possuídas sobre como as pessoas concretas vivenciam 
os problemas sociais.
A título de exemplo dessas variações das expressões da questão social, existem duas discussões 
extremamente importantes e que serão apresentadas aqui de forma resumida. Sanchez e Mota (2009) 
apresentam a utilização da entrevista para intervir junto a aspectos relacionados à saúde da população 
idosa. No caso, o texto mostra a ação desenvolvida dentro do Sistema Único da Saúde e que visa à 
internação geriátrica, sendo que a entrevista é apresentada como um meio para qualificar o atendimento 
a esse público. Via de regra, os idosos que são atendidos pela ação são pertencentes à população de 
renda regular. Nesse caso, qual seria o objeto do serviço social? A sua matéria-prima seriam os idosos, 
e a qualificação do atendimento a esse público seria um objetivo do assistente social. Porém, é basal 
compreender todo o contexto em que o idoso está inserido e vinculado. Essa leitura de realidade é 
importante tanto para o atendimento ao idoso, para a efetivação dos seus direitos sociais, quanto é 
necessária para analisar os serviços em que os idosos serão atendidos.
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Unidade I
O segundo exemplo está retratado no texto de Menezes e Silva (2017), um profundo artigo de 
reflexão sobre a intervenção do serviço social junto à violência homofóbica. O texto apresenta os 
posicionamentos do conjunto Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)/Conselho Regional de Serviço 
Social (Cress) em favor da defesa dos direitos do público LGBT, e como tal ação é um grande desafio à 
categoria. Esse exemplo é interessante, posto que, há alguns anos, dados os preconceitos vivenciados 
na sociedade brasileira, dificilmente esse tipo de público figuraria como objeto de intervenção do 
serviço social. Em tese, à medida que os direitos do público LGBT vêm sendo conquistados, e que esse 
público tem se tornado visível na sociedade, também observa-se que têm crescido as manifestações 
de intolerância por parte de segmentos mais conservadores. Nesse sentido, o artigo apresenta uma 
possibilidade de intervenção do assistente social, ou seja, um objeto. Com esse exemplo, pretende-se 
reforçar a variabilidade da possibilidade de ação do assistente social junto às várias expressões da 
questão social e ainda destacar o seu caráter histórico e social.
Há, portanto, várias expressões por parte do objeto de ação. Como dito anteriormente, há objeto e 
matéria-prima, bem como os instrumentos de trabalho do serviço social. Os instrumentos ou os meios de 
trabalho do assistente social serão dispositivos que o profissional irá utilizar para produzir transformação 
na matéria-prima ou em seu objeto de trabalho. Comportam os instrumentos ou meios de trabalho as 
técnicas que o profissional usa em seu cotidiano, como entrevistas, visitas, dentre outras abordagens 
afins. Porém, Iamamoto (2001) chama a atenção para que não tenhamos uma visão reducionista dos 
instrumentos e técnicas como se apenas eles fossem nossos meios de trabalho. Pois bem, sabe o que 
isso significa? Simplesmente indica que não podemos restringir nossos meios de trabalho ao chamado 
“arsenal de técnicas” (IAMAMOTO, 2001, p. 61). Veja bem, as técnicas são extremamente importantes 
ao cotidiano profissional. Saber realizar uma boa entrevista, uma visita domiciliar, uma reunião, são 
condições imprescindíveis ao assistente social, porém, reduzir os instrumentais à técnicas, restringe-se 
a compreensão sobre nossos instrumentais. Dessa forma, associados aos instrumentos e às técnicas, 
deve-se agregar também o conhecimento como um meio de trabalho, as bases teórico-metodológicas 
que, juntamente com os instrumentos e técnicas, integram os instrumentos, os meios de trabalho.
Iamamoto (2001) e Guerra (2010) enfatizam que os instrumentos e as técnicas do assistente social 
são importantes, mas só ganham conotação crítica, permitindo a leitura da realidade, se houver o aporte 
à fundamentação teórica. Afinal, não há como o assistente social analisar e conhecer a realidade em 
que está atuando, conhecer o seu objeto

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