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SAÚDE-DA-FAMÍLIA-E-EPIDEMIOLOGIA

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1 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 3 
2 SAÚDE DA FAMÍLIA .................................................................................... 4 
2.1 Enfoque de Saúde da Família e sua inserção no modelo de atenção à 
Saúde.......................................................................................................................11 
2.2 O Contexto da Formulação da Política de Saúde da Família .................... 12 
2.3 O Processo de implementação e operacionalização do ESF .................... 14 
2.4 Unidade de Saúde da Família (USF) ......................................................... 17 
3 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA ............................................................ 18 
4 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA, TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E 
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL ...................................................................... 21 
5 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL ................................. 24 
6 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO NEGRA
 .....................................................................................................................28 
7 A SITUAÇÃO DE SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL E SEUS 
DETERMINANTES SOCIAIS ..................................................................................... 30 
8 SAÚDE DA POPULAÇÃO INDÍGENA ....................................................... 35 
8.1 Desenvolvimento e Políticas Públicas ....................................................... 37 
8.2 Etnodesenvolvimento e Espaços de Negociação ...................................... 38 
9 EPIDEMIOLOGIA E DETERMINANTES DA SAÚDE ................................. 40 
9.1 Fatores determinantes em saúde .............................................................. 43 
9.2 Causalidade em saúde .............................................................................. 44 
10 VIGILÂNCIA EM SAÚDE ........................................................................... 45 
10.1 Sistema Nacional de Vigilância em Saúde ................................................ 46 
10.2 A vigilância em Saúde no cenário de Emergências em Saúde Pública ..... 49 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 52 
 
3 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao 
da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida 
e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
2 SAÚDE DA FAMÍLIA 
 
Fonte: oglobo.globo.com 
Os problemas de saúde, como suas práticas, sempre tiveram em seus 
primórdios uma relação com a vida em sociedade, embora com diferentes destaques e 
com variadas formas com que tais sociedades procuraram resolvê-los. O sistema de 
saúde do país vem sofrendo várias mudanças desde o final do século XIX, 
acompanhando as transformações políticas, econômicas e socioculturais da sociedade 
brasileira. Ocorreram modificações na atualidade acerca do processo saúde-doença, 
por considerar que o “ponto chave” está na focalização da saúde da família está na 
modernidade (BARROS, 2014). 
Analisando sua trajetória, pode-se identificar várias tendências na política de 
saúde no Brasil: a política de saúde na Ditadura Militar, na construção do projeto de 
reforma Sanitária na década de 1980 e hoje o modelo plural, que inclui como sistema 
público, Sistema Único de Saúde –SUS. Para a sociedade brasileira, a ditadura 
significou a afirmação de uma tendência em desenvolvimento econômico, social e 
político que formou um novo país. Assim é verificado que os problemas estruturais não 
foram resolvidos, mas aprofundados tornando-se mais complexos. No período de 64 / 
74 relação da “questão social”, o Estado buscou pra sua intervenção a repressão e 
assistência, que a política de assistência foi aplicada, burocratizada e modernizada 
pelo Estado com o objetivo de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade 
 
5 
 
 
 
 
brasileira, suavizando as tensões sociais conseguindo a legitimação do regime e 
servindo de mecanismo de acumulação do capital (BARROS, 2014). 
Fez unificação da previdência social, com a junção do IAPS (Instituto de 
Aposentadoria e Pensões) em 1966, criando o INPS (Instituto Nacional de Previdência 
Social) que se constituiu na modernização da máquina estatal, aumentando o seu 
poder regulatório sobre a sociedade, além de representar um esforço de 
desmobilização das forças políticas estimuladas no período “Populista”. Tratava-se de 
uma reorientação das relações entre Estado e a classe trabalhadora. 
O golpe militar de 1965, alijando trabalhadores e demais segmentos da 
sociedade civil do cenário político oficial e condenando-os à condição de 
resistência à força do Estado implementa um projeto que data de 1945 e que 
se revelou inviável no período da democracia populista: Unificação previdência 
social. Em 1966 cria-se o INPS ( COHN, 2003, p.21 apud BARROS, 2014). 
Percebe-se que neste período tanto a Saúde Pública quanto a Previdência 
Social e as mediações da vida social foram realizadas a força. O setor de saúde 
precisava atribuir às características capitalistas. Foram estabelecidos três períodos 
nessas etapas: o primeiro, A Era da Catástrofe, entre as duas grandes guerras 
mundiais, o fim dos antigos sistemas de saúde ainda marcado pelo credo liberal. A Era 
do Ouro, após a Segunda Guerra Mundial, onde a economia de mercado toma formas 
civilizadas e humanas (keynesianismo), ao menos nos países centrais do sistema, 
graças às pressões por melhorias sociais originadas pela Guerra Fria e às duas 
conquistas obtidas pelos trabalhadores. E a terceira e última, a Era do Desenvolvimento 
– “as reformas das reformas”, crise do welfarestate tradicional, afastamento do Estado 
e contenção de gastos. Portanto, o cenário da modernidade é marcado por mudanças 
econômicas e políticas importantes, que consequentemente trouxeram grandes 
impactos para o sistema de proteção social, particularmente na saúde (BARROS, 
2014). 
Segundo Barros (2014), foi no início do século que se caracterizou pela 
valorização das descobertas bacteriológicas do século anterior (descoberta dos 
bacteriologistas Kock e Pasteur, do agente que causa a doença). Os problemas de 
saúde passam a ser explicados pelo modelo uni causal, com adesão do método que é 
destacado a causa da enfermidade basicamente individual e a resposta terapêutica e 
também orientada para indivíduo. Bravo descreve “que a mudança central da pratica 
 
6 
 
 
 
 
em saúde, no início do século foi a de considerar fundamental o enfoque biológico da 
doença, enfatizando o individual e não social, o coletivo. Surge assim o modelo uni 
fatorial de doença. 
Em 1945, após a 2ª Guerra Mundial, a saúde passa a ser pensada nos seus 
aspectos biopsicossociais, existindo a preocupação com a saúde pública 
através da assistência as populações assoladas pela guerra. Essa ação foi 
estimuladapelas Nações Unidas. Os Estados Unidos assumem a hegemonia 
mundial, tornando-se polo transmissor das concepções práticas na saúde, 
como também em outras práticas (BRAVO,1998 apud BARROS, 2014). 
A unicausalidade da doença passa a mostrar-se insuficiente para prática médica, 
ao não conseguir explicar a ocorrência de uma série de outros agravos à saúde do 
homem, então veio a ser complementada por uma proposta mais ampliada, 
incorporada na concepção ecológica, surge a proposta de uma concepção de 
causalidade múltipla do processo saúde-doença, onde fatores biológicos do agente 
estão em relação com os hospedeiros, em determinado ambiente (MENDES, 1998). 
Mendes (1998) descreve que o enfrentamento dos problemas obedece a mesma lógica 
anterior, explicitando-se num corte entre causas e efeitos, de forte conotação médica, 
seja preventiva, seja curativo-reabilitadora (BARROS, 2014). 
A saúde é entendida ou representada como ausência de doença, e a 
organização dos serviços é medicamente definida e tem como objetivo colocar 
à disposição da população serviços preventivos e curativo-reabilitadores 
acessíveis, de conformidade com os elementos ideológicos do flexnerianismo 
(MENDES, 1999, p.236 apud BARROS, 2014). 
Mais tarde a Organização Mundial de Saúde (OMS) realiza uma assembleia em 
que passa a conceber um novo conceito: a saúde é um completo bem estar físico, 
metal e social, e não somente a ausência de doença. E passam a elaborar um plano 
de ação chamado Saúde para Todos 2000 (SPT 2000), em que os respectivos países 
membros tinham como meta até o ano 2000, atingir um nível de saúde que permitisse 
aos seus cidadãos desenvolver uma vida social e economicamente produtiva. Para 
Bravo (1998), esse novo conceito estimulou a sistematização das atividades 
profissionais pertinentes aos ramos das disciplinas sociais e psicológicas. No início da 
década de 50, a situação da saúde se modifica. As principais causas de morte passam 
a ser as doenças degenerativas (coração, acidentes vasculares celebrais / AVC e 
neoplasmas malignos). Os pesos dessas doenças passam a aumentar, devido à 
 
7 
 
 
 
 
elevação da idade média das populações, com a diminuição das taxas de mortalidade 
por doenças infecciosas e com a diminuição também das taxas de fecundidade. Países 
centrais passam a institucionalizar os serviços de saúde, no surgimento de doenças 
crônicas, medidas dirigidas ao meio ambiente físico e aos estilos de vida passam a ser 
valorizados. Foi a partir dessa década que se modifica substancialmente a prática 
médica, devido à crescente introdução da indústria de medicamentos e equipamentos 
médicos (BARROS, 2014). 
De acordo com Barros (2014) houve uma ampliação dos serviços baseados na 
especialização e tecnologia, encarecimento dos atos médicos, as atividades médicas 
passam ase concentrar mais em hospitais, surge um forte processo de medicalização 
e consequentemente um alto custo para as ações em saúde. Como resposta a esse 
complexo médico-industrial, surge a ideia de racionalização administrativa, ou seja, 
redução de gastos com maximização dos recursos. 
Segundo o autor, como proposta racionalizadora veio a proposição da Medicina 
Integral, a Medicina Preventiva e seus desdobramentos na década de 60 e 70, com a 
Medicina Comunitária e o movimento da Family Medicin e (Medicina da Família). A 
medicina comunitária surgiu na década de 60 e teve suas origens nos Estados Unidos. 
Foi nos pobres países latino-americanos, essa proposta teve mais repercussão, devido 
à política externa norte-americana. 
[...]para o redimensionamento da dominação nas relações externas, um 
programa de assistência técnica aos países pobres latino-americanos foi 
financiado pelos Estados Unidos. Para promover o controle social e evitar o 
comunismo, o programa Aliança para o Progresso teve como proposta atacar 
o subdesenvolvimento como uma pluralidade de projetos econômicos e sociais 
que contam com a participação de assistentes sociais, médicos e outros 
profissionais. O objetivo implícito era atenuar as contradições das sociedades 
capitalistas periféricas e eliminar as ameaças à instabilidade dos Estados 
Unidos como centro hegemônico (BRAVO, 1998, apud BARROS, 2014). 
Segundo a mesma autora, na ótica de combate ao subdesenvolvimento, o 
Desenvolvimento de Comunidade é considerado como uma das medidas para 
solucionar o problema e integrar o esforço da população aos planos regionais e 
nacionais de desenvolvimento social. A proposta da Medicina Comunitária é 
considerada um desdobramento de Programas de Desenvolvimento Comunitário. A 
Medicina Comunitária se apresenta como uma nova forma de “fazer saúde”, paralela à 
organização que predominava nessa época: a medicalização. Porém o que se revela 
 
8 
 
 
 
 
como alternativa e um caráter contraditório, pois ela serviu como instrumento para 
reprodução da força de trabalho, favorecendo o acúmulo capitalista, e permitiu deslocar 
a problemática da saúde da instância estrutural para a esfera individual (como 
responsáveis pelos problemas de saúde o atraso cultural, a falta de recursos e a falta 
de higiene), apesar da importante intervenção social sobre grupos marginalizados 
(BARROS, 2014). 
Nesse momento, adquire especial importância uma publicação da Organização 
Mundial de Saúde, intitulada Training ofthephysician for familypractice (Treinamento 
Clínico para a Prática Familiar). Segundo Paim, é necessário falar que esse movimento 
Internacional, que gerou propostas da Família (Family Medicine), como também o da 
Medicina Comunitária, foi interpretado “como mais um movimento ideológico visando 
responder aos impasses e questionamentos sobre o modelo dominante de assistência 
médica, sobretudo no que se refere aos altos custos, sofisticação (tecnológica) e 
superespecialização do cuidado.” Nas origens desse movimento, verifica-se que a 
lógica capitalista que orienta o complexo médico-industrial era escamoteada, a 
ideologia dominante que recorta o saber médico era dissimulada e os determinantes 
da produção de doenças eram obscurecidos. No final da década de 60 a continuidade 
do sucesso da estratégia keynesiana encontrou limites (BARROS, 2014). 
A busca de superlucros, associada a uma revolução tecnológica permanente 
(e sua generalização), a ampliação da capacidade de resistência, e ainda, a 
intensificação do processo de monopolização do capital, foram elementos que 
estiveram na base do início de um novo período depressivo (BEHRING, 1998 
apud BARROS, 2014). 
O autor afirma que as despesas de manutenção da regulação do mercado 
colocam em crise, a política social, pois o custo dos seguros sociais era alto. Os fatores 
políticos e econômicos marcam a realidade da saúde na década de 70 e 80, como: 
desemprego atribuído à introdução da tecnologia avançada, recessão econômica, crise 
do welfarestate (Estado de Bem Estar Social), e outros. Segundo Carvalho, Cordeni 
(2001), os países onde não existia um Estado de Bem Estar Social constituído, segundo 
o relato da mesma autora: “que as políticas de ajuste vieram mais pelo lado econômico 
– abertura comercial, deslocalização de indústrias e atividades e desemprego, do que 
pelo lado da industrialização de aparelhos de política social. Vários países foram 
obrigados a fazer programas sociais de caráter emergencial e focalizado”. 
 
9 
 
 
 
 
Como resposta à crise da saúde, vários países começaram a implantar 
profundas reformas nos seus sistemas de saúde. A nova agenda de reforma 
dos serviços de saúde formulada nos anos 80 estava centrada numa mudança 
de paradigma da intervenção estatal em campo social. No campo sanitário, no 
que diz respeito à assistência médica, essa retórica ideológica estimulou a 
formulação de um diagnóstico setorial comum a todos os países que apontava 
para a necessidade e determinadas mudanças, difundidas e estimuladas pelos 
organismos internacionais (como o Banco Mundial), sendo que osEstados 
Unidos exerceram um papel direcionador na formulação dessa nova agenda 
sanitária pós-welfare (CARVALHO, CORDENI, 2001 apud BARROS, 2014). 
A reforma deveria basear-se no paradigma da economia da saúde defendida 
pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse paradigma consiste 
na crescente desobrigação do setor público com a atenção à saúde da população em 
procedimentos seletivos de inclusão, em rearranjos entre setores públicos / privados, 
em focalização da ação pública nos setores de risco social através de pacotes básicos, 
em subsídios e atenção debaixo custo e de alto impacto. Um novo paradigma de saúde 
passa a ser delineado com o intuito de reverter esse quadro, a saúde-doença passa a 
ser considerado sob sua determinação histórica e social, o processo saúde-doença é 
um processo social caracterizado pelas relações dos homens com a natureza (espaço, 
meio ambiente, território) e com outros homens (através do trabalho e das relações 
(BARROS, 2014). 
Para Breith (1991), a saúde e doença não são estados, estanques e isolados, 
de causa aleatória, não se está com saúde ou doença por acaso. Uma determinação 
permanente um processo casual que se identifica como modo de organização da 
sociedade. A explicação mais abrangente é a atenção primária como estratégia, que 
foi difundida na Conferência Internacional de Cuidados Fundamentais com Saúde, 
realizada em Alma-Ata, capital do Cazaquistão Soviético em 1978 e co-patrocinada e 
organizada pela Organização Mundial de Saúde –OMS e pela UNICEF. 
Atenção à Saúde baseada em métodos e tecnologias práticas, cientificamente 
demonstradas e socialmente aceitáveis, cujo acesso esteja garantido a todas 
as pessoas e famílias da comunidade, de maneira que possam sustentá-la, a 
um custo que tanto a comunidade como cada país possa manter em cada 
estágio de desenvolvimento em que se encontre com espírito de autoconfiança 
e autodeterminação. Representa parte integrante do sistema sanitário do país, 
no qual desempenhada umas funções centrais, constituindo-se também o foco 
principal do desenvolvimento social e econômico da comunidade com o 
sistema de saúde do país, levando a assistência à saúde o mais perto possível 
do lugar onde reside e trabalha a população, representando ainda o primeiro 
elo de uma atenção continuada à saúde (WHO, 1978 p. 5 –6 apud BARROS, 
2014). 
 
10 
 
 
 
 
Os Estados que participaram dessa Conferência comprometeram-se a 
estabelecer a Atenção Primária em Saúde (APS) como estratégia para a reordenação 
e reestruturação das políticas de saúde de seus países, através do desenvolvimento 
de componentes prioritários: extensão de cobertura dos serviços de saúde e melhoria 
do ambiente; desenvolvimento da articulação intersetorial, disponibilidade e produção 
de produtos e equipamentos; financiamento setorial e formação e utilização de recursos 
humanos (BARROS, 2014). 
Na década de 80 na sua segunda metade, especialmente, em 1986, realizou-se 
em Ottawa (1986), Canadá, a 1ª Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde, 
que teve como parâmetro a declaração de Alma-Ata. Foram inaugurados uma série de 
novos debates como: a saúde constitui o maior recurso para o desenvolvimento social, 
pessoal e econômico, e é através das ações de promoção que as condições e recursos 
fundamentais para a saúde se tornam cada vez mais favoráveis. Considerando que 
esses recursos são segundo Barros (2014): 
 Paz: redução de violência; 
 Habitação: condições dignas de moradia, tanto em relação ao espaço físico 
quanto ao assentamento legal; 
 Educação: cumprimento do ensino compulsório, redução da evasão escolar 
e revisão da qualidade de ensino; 
 Alimentação: garantia de política municipal de geração e de mecanismos de 
troca de produtos alimentícios e, principalmente, garantia de alimento na 
mesa da família; 
 Renda: a geração de renda para todos e com volume compatível com 
vivência; 
 Ecossistema saudável: ar solúvel; água potável disponível 24 horas por dia; 
alimentos existentes em quantidade suficiente e boa qualidade; 
 Recursos renováveis: o mais importante é o próprio homem, que se renova 
cada vez que se recupera de um mal-estar... Os serviços de saúde devem 
estar aptos para atender o homem em todos os seus níveis de complexidade, 
seja com recursos próprios ou em parceria com outros municípios; 
Justiça social e equidade: iniquidade é caracterizada pela diferença de 
velocidade em que o processo atinge as pessoas... avaliada indiretamente pela 
área geográfica em que o cidadão reside. Dessa forma e que se busca, através 
 
11 
 
 
 
 
do esquadrinhamento, do município em territórios homogêneos, observar os 
determinantes e suas consequências ao bem-estar. A promoção da equidade 
é feita pela redução dos efeitos nocivos à salubridade e pelo reforço dos fatores 
positivos (CARTA OTTAWA, 1986, s/p apud BARROS, 2014). 
Depois da Conferência no Canadá seguiram-se outras que aprofundaram o 
conceito de promoção à saúde. Na Austrália em 1988, com a Declaração de Adelaide, 
a Declaração de Sundval realizada na Suécia em 1991, Declaração de Bogotá na 
Colômbia em 1992. Todas reforçarão a crítica à organização dos serviços de saúde e 
reafirmam a responsabilidade dos países desenvolverem ações em atenção primária. 
Portanto, foram esses elementos históricos que certamente moldaram e continuam a 
moldar, já renovados, superando ou simplesmente enriquecidos, o Enfoque de Saúde 
da Família e sua inserção no modelo de atenção à saúde nos dias atuais (BARROS, 
2014). 
2.1 Enfoque de Saúde da Família e sua inserção no modelo de atenção à Saúde 
A valorização do tema da família não surgiu do nada, alguns fatores 
influenciaram para a adoção de políticas sociais como: as reordenações do mundo do 
trabalho, a crise financeira, a crescente pauperização da sociedade civil, aumento 
expressivo da exclusão social, as formas, de regulação social no mundo 
contemporâneo, a exploração do trabalho infantil, o crescimento da criminalidade 
praticado por crianças e jovens e a fragilidade das ações preventivas que vinham sendo 
operacionalizadas (BARROS, 2014). 
As práticas de saúde como objeto da intervenção do Estado, o que as 
caracterizaria como parte de um corpo de políticas sociais; o processo de 
trabalho tendo como resultado a intervenção do médico e de outros 
profissionais dentro de um âmbito generalista, ou seja, fora do caráter 
especializado que recorta e separa o objeto das práticas em saúde em faixas 
de idade, gênero, sistemas e órgãos, ou mesmo tipos de doenças; os modos 
de pensar e de praticar os cuidados à saúde baseados na ampliação e 
superação dos conceitos tradicionais antinômicos entre individual e coletivo; 
prevenção e cura; biológico e social; humano e ambiental; oficial e não-oficial; 
a proteção voltada não apenas para indivíduos singulares, mas para coletivos 
(famílias, grupos, comunidades), resultando em um novo tipo de práticas 
sociais de saúde; o desenvolvimento de vínculos entre a clientela e os 
prestadores de serviços, de natureza administrativos, geográficos, culturais ou 
mesmo éticos (GOULART, 2002, p.38 –39 apud BARROS, 2014). 
 
12 
 
 
 
 
Dessa forma, o enfoque saúde familiar passa a ser fundamental para os 
sistemas e serviços de saúde baseada em atenção primária. A família passa a 
representar um fator significativo no planejamento e desenvolvimento de intervenções 
terapêuticas, preventivas e de promoção. Segundo o médico epidemiologista Juan 
Seclen – Palacin, membro da Organização Pan-Americana de Saúde –OPAS o papel 
da família em saúde é inquestionável, e a adoção de atitudes favoráveis ou de risco 
para a saúde se relaciona com a dinâmica biossociocultural da família; a família é o 
meio básico onde se estabelecem as bases do comportamento em matéria de saúde e 
onde se originam as culturas, cultivam-se as bases educacionais, os valores e se 
expõem às normas sociais básicas.Também destaca o autor, além disso, a inclusão 
do enfoque familiar nas ações de serviço de saúde contribuiria para a diminuição de 
um grave problema: a falta de continuidade do tratamento e adoção de medidas 
preventivas (BARROS, 2014). 
Ainda segundo o autor, em síntese, o enfoque de Saúde da Família considera 
que os riscos em saúde e a aparição de doenças, bem como a obtenção do bem 
estarem tem como um de seus fatores determinantes o aspecto familiar, entendido este 
em suas concepções estrutural e dinâmica. Se a família tem um papel nos processos 
de saúde transite pelo caminho de considerá-lo no momento de desenvolver as 
intervenções em saúde. Países como Brasil, Inglaterra, Canadá, Chile e Cuba, dentre 
outros, já adotaram em seus sistemas e serviços de saúde o enfoque Saúde da Família. 
Claro que a implementação aconteceu em épocas diversas e variou conforme a 
singularidade de cada país. 
2.2 O Contexto da Formulação da Política de Saúde da Família 
Desde a década de 1960, o tema família vem sendo discutido mundialmente. 
Em 1963, a Organização Mundial de Saúde (OMS) pública um documento sobre a 
formação do médico da família, em virtude do crescimento da superespecialização do 
trabalho medico e suas consequência. Os custos financeiros elevados e a deterioração 
da relação humana com os pacientes (BARROS, 2014). 
A proposta médica da família se expandiu inicialmente nos Estados Unidos 
sendo, em 1969, a medicina familiar e reconhecida como especialidade 
médica. Na década de 1970, o movimento se expandiu no Canadá, México e 
 
13 
 
 
 
 
alguns países europeus. O que ocorria era a volta ao passado, quando o 
médico liberal cuidava de toda a família (o que tivesse condições de remunerá-
lo). O movimento médico da família surge para combater os desajustes da 
prática médica mediante a reorientação da formação profissional do médico 
sem se avançar na discussão da reorganização das instituições de saúde 
como um todo (PAIM, 1986 apud BARROS, 2014). 
As universidades da América Latina abrem as portas para que através de 
reuniões e seminários, divulgarem tal proposta. No Brasil, vivíamos a ditadura militar; 
o que provocou oposição intensa de setores progressistas dos profissionais de saúde, 
devido ao fato da proposta norte-americana ter extrema aproximação como modelo 
liberal da prática médica. Torna-se intensa a discussão quanto à reorganização do 
sistema de saúde vigente surgindo no final da década 1970, variadas propostas de 
reorientação dos serviços de saúde (BARROS, 2014). 
Segundo o autor os serviços de atenção primária à saúde passam a ser 
valorizados internacionalmente, o que repercutiu no Brasil, onde são constituídos 
programas para a Atenção Primaria em Saúde (APS), de forma desarticulada no início 
nos demais setor, mas aos poucos possibilitaram uma maior integração em ações 
preventivas e curativas e tornaram mais concretas as discussões sobre a 
hierarquização da assistência à saúde. Dessa forma, nasce o Sistema Único de Saúde 
(SUS). 
O debate político sobre a questão saúde na época estava na disputa entre os 
defensores dos diferentes modelos do serviço básico. De um lado, existia a proposta 
trazida pelas experiências de saúde comunitária, realizadas pela Igreja Católica, 
baseadas no trabalho de equipe e na relação educativa da população. De outro, havia 
a proposta do médico da família significando uma atualização da medicina liberal do 
passado, centralizando no serviço a figura do médico. Predominava, entretanto, um 
terceiro modelo cujos esforços concentram-se na multiplicação de serviços básicos, 
planejados por profissionais situados fora dos serviços locais. Embora desenvolvessem 
ações de caráter preventivo e coletivo. Os problemas clínicos de saúde da população 
continuaram a ser tratados com base no modelo médico tradicional através de alguns 
especialistas. Em 1990, ocorreu uma valorização do tema família. No Brasil, inspirados 
em experiências advindas de outros países como Cuba, Inglaterra e Canadá cuja 
saúde pública alcançou níveis interessantes de qualidade foram criados programas 
como Programa Agentes da Saúde (PAS) (CEARÁ, 1987) e Programas Agentes 
 
14 
 
 
 
 
Comunitários de Saúde (PACS) e posteriormente o Programa Saúde da Família (PSF). 
Então em 1994, durante o governo de Itamar Franco, o Ministério da Saúde (MS) cria 
o PSF, que incorpora o (PACS) criado em 1991.O Programa Social da Família (PSF) 
tem como propósito contribuir na organização do Sistema Único de Saúde (SUS) e na 
municipalização da integralidade e participação da comunidade. Embora tenha sido 
formulado no governo Itamar Franco, sob a gestão de Henrique Santillo no Ministério 
da Saúde (MS), o Programa Saúde da Família (PSF), na verdade só encontra 
condições de crescimento qualitativo e quantitativo nos anos seguintes, mais 
precisamente a partir de 1998, já no governo de Fernando Henrique Cardoso (BRASIL, 
2004). 
Fazendo uma análise os documentos oficiais do Ministério da Saúde (MS), pode-
se entender que houve uma evolução em alguns aspectos do conteúdo da Estratégia 
de Saúde da Família (ESF), nos anos de 1994 a 1995, tem uma abordagem carregada 
ideologicamente, com denúncias das mazelas do sistema vigente e propondo a 
urgência superação do modelo clinico; os textos assumem um caráter gradualmente 
técnico, com conteúdo mais objetivos, prescritos enfatizando a articulação dos 
programas da rede. Já o documento divulgado em 1997, intitulado Saúde da Família, 
uma, estratégia para a reorientação do modelo anuncia com detalhes a que veio a 
Estratégia de Saúde da Família (ESF), dedicando seus objetivos e diretrizes 
operacionais, dedicando especial atenção a reorganização das práticas de trabalho, as 
competências dos níveis de governo, bem como às etapas de implantação da ESF. A 
preocupação principal com este documento era negar o equívoco da identificação da 
ESF com um sistema de saúde para os pobres (BARROS, 2014). 
[...]o governo reafirma que este não é mais um programa a ser instalado na 
rede pública de serviços, não é uma assistência precária para os pobres, mas 
sim a intenção de investir na Atenção Primária, na prevenção e promoção da 
saúde, articulados com a assistência curativa e de alta complexidade. Seu 
objetivo maior é que o PSF seja a porta de entrada para o sistema de saúde. 
(TEIXEIRA, 2002, p.239 apud BARROS, 2014). 
2.3 O Processo de implementação e operacionalização do ESF 
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) surgiu da necessidade de uma nova 
abordagem de atendimento, uma vez que a estrutura clássica das unidades básicas de 
 
15 
 
 
 
 
saúde (UBS) não estava atendendo integralmente à necessidade da população. A 
Estratégia de Saúde da Família (ESF) está inserindo um contexto de decisão política e 
institucional de fortalecimento da Atenção Básica no Sistema Único de Saúde (SUS). 
E de acordo o Ministério da Saúde (MS), sua implantação constitui-se: 
[...]uma estratégia que prioriza as ações de Promoção da saúde dos indivíduos 
e da família, do recém-nascido ao idoso, sadios ou doentes, deforma integral 
e contínua. Seu objetivo é a reorganização da prática assistencial em novas 
bases e critérios, em substituição ao modelo tradicional de assistência para a 
cura de doenças no hospital. A atenção está centrada na família, entendida e 
percebida a partir do seu ambiente físico e social, o que vem possibilitando as 
equipes de saúde uma compreensão do processo saúde/doença e da 
necessidade de intervenções que vão além de práticas curativas (BRASIL, 
2000, apud BARROS, 2014). 
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2000) também ressalta que o PSF incorpora e 
reafirma os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) ou em suas casas, e o 
programa deve atuar baseando nos seguintes princípios (BARROS, 2014): 
 Caráter substitutivo: Não significa a criação de novas estruturas de serviços, 
exceto em áreas desprovidas, e sim a substituição daspráticas de assistência 
por um novo processo de trabalho, cujo lixo está centrado na vigilância à saúde. 
 Integralidade e Hierarquização: A Unidade de Saúde da família está inserida no 
primeiro nível de ações e serviços do sistema local de saúde, denominado 
atenção básica. Deve estar vinculada à rede de serviços de forma que se 
garanta atenção integral aos indivíduos e famílias e esteja assegurada a 
referência e contra referência para diversos níveis do sistema, sempre que for 
requerida complexidade tecnológica para a resolução de situações ou 
problemas identificados na atenção básica. 
 Territorialização e adstrição da clientela: Trabalha com território de abrangências 
definido, e é responsável pelo cadastramento e acompanhamento da população 
adscrita a esta área. Recomenda-se que uma equipe seja responsável pelo 
acompanhamento de no máximo, 4500 pessoas. 
 Equipe multiprofissional: a equipe de saúde da família é composta minimamente 
por um médico generalista ou médico de família, um enfermeiro e de quatro a 
seis agentes comunitários de saúde (ACS). O número de ACS varia de acordo 
com o número de pessoas sob a responsabilidade da equipe numa proporção 
média de um agente para cada 550 pessoas acompanhadas. Outras proporções 
 
16 
 
 
 
 
podem ser incorporadas nas unidades de saúde da família (USF) ou em equipes 
de supervisão, de acordo com as necessidades locais. 
 Do ponto de vista normativo, as disposições que regem a implementação da 
Estratégia de Saúde da Família (ESF) foram dadas pela Norma Operacional Básica 
(NOB) do SUS de 1996, embora tenha havido uma sequência de portarias e outros 
instrumentos do Ministério da Saúde (MS) que tiveram influência direta e indireta sobre 
o desenvolvimento da Estratégia (BARROS, 2014). 
 Segundo o autor a Norma Operacional Básica (NOB / 1996) prevê duas formas 
para a habilitação dos municípios junto ao Sistema Único de Saúde (SUS): gestão 
plena de atenção básica e gestão plena do Sistema Municipal. Observa-se uma 
preocupação desta norma em estabelecer as bases para que o SUS venha “a ser 
transformado em um modelo de atenção centrado na qualidade de vida das pessoas e 
do seu meio ambiente, bem como na relação da equipe de saúde com a comunidade, 
especialmente com os seus nédios sociais primários – as famílias”. 
Além de favorecer as ações intersetoriais, a NOB / 96 propõe “a transformação 
na relação entre usuários e os agentes do sistema de saúde (restabelecendo o vínculo 
entre quem presta o serviço e quem o recebe), e de outro, a intervenção ambiental para 
qual sejam modificados fatores determinantes da situação da saúde” (BARROS, 2014). 
Ainda possibilitou a NOB / 96 à implantação em 1998, do Piso Assistencial 
Básico(PAB), isto é, “um valor per capita que, somado às transferências 
estaduais e aos recursos próprios do município, deverá financiar a atenção 
básica da saúde”, acrescido de uma parte variável destinada ao incentivo, 
inicialmente, de intervenções como o PACS/ PSF. Como parte do processo de 
descentralização e municipalização das ações de saúde, a implementação e 
desenvolvimento da Estratégia de saúde da Família são coordenados pelo 
gestor municipal. Os requisitos para a implantação são: projeto da ESF 
aprovado pelo Conselho; o município possuir Plano Municipal de Saúde e ter 
realizado Conferência Municipal de Saúde; ofício do prefeito dirigido ao 
secretário de Estado da Saúde solicitando o programa; ata de Conferência ou 
programação da mesma (CARVALHO, CORDENI, 2001 apud BARROS, 
2014). 
 A implementação da ESF, consiste em fazer o cadastramento das famílias, 
implantação do Sistema de Informações da Atenção Básica (que grega dados e 
processa informações sobre a população visitada, realizar diagnósticos da comunidade 
(condições socioeconômicas e de saúde) e programar o trabalho com base no 
diagnóstico e em conjunto com a comunidade. O processo de operacionalização da 
Estratégia de Saúde da Família (ESF), segundo o Ministério da Saúde, deve ser 
 
17 
 
 
 
 
adequado às diferentes realidades, desde que mantidos os seus princípios e diretrizes 
fundamentais (BARROS, 2014). 
2.4 Unidade de Saúde da Família (USF) 
A Unidade de Saúde da Família não pode ser pensada apenas como lugar de 
atendimento de problemas de saúde de menor complexidade. O Sistema Único de 
Saúde (SUS) deve se organizar de uma forma que se rompa com a ideia de atenção 
centrada no baixo custo, simplificada, a USF deve ser estruturada de maneira que 
atenda de uma forma eficiente, eficaz e efetiva as necessidades de saúde da 
população. Deve ter minimamente uma instalação física com sala de imunização, sala 
de inalação, de curativo de enfermagem de atendimento, consultórios médicos e 
odontológicos, sala de espera e de reuniões, de esterilizações, de medicamentos, de 
administração, etc. (BARROS, 2014). 
Segundo o autor na lógica do Sistema Único de Saúde (SUS), a Unidade de 
Saúde da Família (USF) deve atender a demanda de forma igual e integral, devendo 
ter uma resolutividade maior que 80% das intercorrências, encaminhando para serviços 
especializados e internações apenas casos de maior complexidade, o que deve ser 
feito idealmente, sempre através de mecanismos de referência formalizados entre as 
instituições, para garantir um atendimento completo, proporcionando todos os 
cuidados/tecnologia de que o paciente necessita para ter solucionada a sua 
necessidade ou problema de saúde. 
Quando se fala em Unidade de Saúde da Família, logo se pensa uma equipe 
multiprofissional composta minimamente por: um médico, um enfermeiro, um 
auxiliar de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários (BRASIL, 
2000 apud BARROS, 2014). 
A equipe não pode ser entendida como vários profissionais atuando no mesmo 
serviço, mas sim como um grupo de profissionais conhecedores da missão de saúde, 
compreendendo sua tarefa e atingindo os objetivos e metas estabelecidas no 
planejamento estratégico para sua área de atuação, o qual deve ser elaborado de forma 
democrática e participativa (BARROS, 2014). 
 
18 
 
 
 
 
3 PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA 
 
Fonte: docsity.com 
O Programa Saúde da Família (PSF) vem sendo implantado em todo o Brasil 
como uma importante estratégia para a reordenação da atenção à saúde, conforme 
preconizam os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). O PSF prioriza 
as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde de indivíduos e famílias, de 
forma integral e continuada (MS, 2006). 
Segundo o Ministério da Saúde (2006) os profissionais da atenção básica devem 
ser capazes de planejar, organizar, desenvolver e avaliar ações que respondam às 
necessidades da comunidade, na articulação com os diversos setores envolvidos na 
promoção da saúde. 
A qualidade dos serviços de saúde, dessa forma, passa a figurar como resultado 
de diferentes fatores ou dimensões que constituem instrumentos, de fato, tanto para a 
definição e análises dos problemas como para a avaliação do grau de 
comprometimento dos profissionais sanitários e gestores (prefeitos, secretários e 
conselheiros municipais de saúde, entre outros) com as normas técnicas, sociais e 
humanas (MS, 2006). 
É crescente o consenso entre os gestores e trabalhadores do SUS, em todas as 
esferas de governo, de que a formação, o desempenho e a gestão dos recursos 
 
19 
 
 
 
 
humanos afetam, profundamente, a qualidade dos serviços prestados e o grau de 
satisfação dos usuários (MS, 2006). 
Destaca-se, aí, a formação e educação dos profissionais para a abordagem do 
processo saúde-doença com enfoque na saúde da família, importante desafio para o 
êxito do modelo sanitário proposto. As condições necessárias à consecução dessa 
proposta já se encontram descritas na Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) do Ministério de Educação e Cultura (MEC) 
– e nos atos normativos decorrentesde pareceres e resoluções do Conselho Nacional 
de Educação (CNE) (MS, 2006). 
Segundo a IX Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1992, é 
indispensável para a implementação do SUS uma política nacional de recursos 
humanos efetiva, que incorpore ações como a qualificação e/ou formação permanente 
de seus trabalhadores, cuja evolução na carreira conte com o suporte de escolas de 
formação nas Secretarias de Saúde; ou mediante articulação com Secretarias de 
Educação, universidades e outras instituições públicas de ensino superior.8Daí a 
criação dos Polos de Educação Permanente, geralmente vinculados a centros 
universitários, articuladores de uma ou mais instituições de formação, capacitação e 
educação permanente de recursos humanos para a Saúde. A evidência científica 
informa sobre uma grave crise de situação de trabalho dos profissionais de saúde 
atuantes no âmbito do SUS, desde a questão salarial e de carreira profissional até a 
carência de recursos técnicos e materiais (BRASIL, 2006). 
Entre os principais fatores agravantes, no Brasil, estão os baixos salários e as 
precárias condições de trabalho dos profissionais do serviço público, geradores de 
desmotivação, desresponsabilização na execução das atividades – por exemplo, não-
cumprimento da carga horária – e abandono do trabalho. 
Diversas pesquisas mostram que no SUS, assim como nos demais setores do 
mercado de trabalho nacional, ao longo da década de 90, proliferaram os contratos 
informais de trabalho e o não-pagamento, por muitos empregadores, dos encargos 
sociais de sua responsabilidade, para, enfim, privar os trabalhadores de direitos 
garantidos a eles pela lei, como férias, Fundo de Garantia de Tempo de Serviço 
(FGTS), licenças, décimo terceiro salário e aposentadoria. Sem essa proteção, esses 
profissionais permanecem à mercê da instabilidade político-partidária e diferenças 
 
20 
 
 
 
 
entre governos que se sucedem no poder, tão presentes na realidade dos Municípios 
brasileiros (MS, 2006). 
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) também ressalta a 
necessidade de melhorar o serviço prestado à população pelos profissionais de saúde, 
tendo como base a qualificação, capacitação e aprimoramento de seu desempenho. 
Sobre os currículos universitários que referenciam sua formação, todavia, os cursos de 
graduação pautam-se em um paradigma curativo, hospitalocêntrico e fragmentado do 
conhecimento e da abordagem da saúde, ao valorizarem as especialidades sem a 
compreensão global do ser humano e do processo de adoecer (MS, 2006). 
Essa qualidade da formação do profissional faz com que sua atuação, ao ser 
contratado para o PSF, não raras vezes, se reduza ao consultório. Sendo assim, pela 
concepção do modelo assistencial ou pela organização do serviço ou prática de 
trabalho deformada, observa-se a desvalorização ou mesmo inexistência de proposta 
de ação de saúde coletiva no interior da comunidade. Na busca de melhores condições 
de trabalho, a capacitação dos profissionais é de ímpar relevância para o aprendizado 
e aperfeiçoamento das relações sociais próprias do cotidiano dos serviços de saúde, 
em decorrência da necessidade de trabalhar em grupo e/ou melhorar o contato com o 
usuário no atendimento individual (BRASIL, 2006). 
Ressalta-se a importância do trabalho em equipe e seu incentivo ao 
aprimoramento individual em habilidades múltiplas, à visão interdisciplinar e 
interdependente das tarefas segundo um consenso estratégico de objetivos e, por 
conseguinte, à cooperação funcional no desenvolvimento do potencial criativo e de 
agregação dos valores existentes e reconhecidos no serviço (BRASIL, 2006). 
As características pessoais, humanas e interdisciplinares de formação dos 
profissionais que atuam na área da Saúde são importantes de se considerar, para se 
obter uma informação mais ampla e melhor sobre a saúde da comunidade. Faz-se 
necessário, portanto, um conhecimento do perfil desses profissionais integrantes do 
corpo de recursos humanos dos serviços. A elaboração e a adoção de medidas – 
quando necessárias – de reforço dessa qualificação possibilitam, consequentemente, 
melhor desempenho das atividades sanitárias e atenção mais adequada e condizente 
com as reais necessidades da população (BRASIL, 2006). 
 
21 
 
 
 
 
4 TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA, TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E 
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL 
 
Fonte: cursosaprendiz.com 
O Envelhecimento Populacional tem estreita ligação com os processos de 
Transição Demográfica e de Transição Epidemiológica. Com a mudança do 
comportamento demográfico da população, com a variação dos níveis de natalidade e 
de mortalidade além dos movimentos migratórios, a população modifica a participação 
dos três grupos etários, tornando-se mais envelhecida ou jovem. O cenário atual 
observado no Brasil é de redução do grupo das crianças, em virtude da queda 
acentuada da fecundidade e do progressivo aumento do grupo dos idosos, com a 
elevação da expectativa de vida, fruto da melhoria das condições sociais e econômicas 
(OLIVEIRA, 2019). 
Segundo Castiglioni (2006), a Transição Demográfica consiste na passagem de 
uma situação de baixo crescimento populacional, resultado de elevados níveis de 
natalidade e de mortalidade, a uma outra fase marcada pelo baixo crescimento ou 
estabilização ou crescimento negativo em que natalidade e mortalidade são baixas. 
A Transição Demográfica contribui para o Envelhecimento Populacional e 
estes dois processos são associados à Transição Epidemiológica, que 
consiste na mudança do perfil de mortalidade, que passa de uma situação 
onde as principais causas de mortes são as doenças infecciosas e parasitárias, 
características de locais com baixos níveis de desenvolvimento econômico e 
social, para uma nova fase, em que as doenças típicas da velhice começam a 
 
22 
 
 
 
 
ocupar uma posição cada vez mais intensa entre as enfermidades mais 
comuns (OLIVEIRA, 2015, p. 45 apud OLIVEIRA, 2019). 
Segundo Oliveira (2019), pode ser considerada o pano de fundo para as 
principais modificações e processos relacionados à população, dentre os quais está o 
Envelhecimento Populacional a Transição Demográfica. Observado ao longo do tempo, 
a mudança do comportamento demográfico, os níveis de fecundidade são reduzidos 
levando a queda dos nascimentos o que provoca uma nova distribuição dos três grupos 
etários (0 a 14 anos, 15 a 59 anos e 60 anos ou mais). O declínio da fertilidade 
(desempenho reprodutivo efetivo de uma mulher) é acompanhada pela redução dos 
níveis de mortalidade que no início se concentra nas primeiras idades contribuindo para 
que um número maior de pessoas tenha condições de chegar ao grupo dos idosos. 
Assim, uma participação de pessoas com mais de 60 anos que se expande e uma 
diminuição do peso do grupo das crianças, gerando o envelhecimento da população. 
Com a estabilização do crescimento da população resultante da queda do 
número de nascimentos, ocorre o aumento relativo e sustentado da participação dos 
idosos na população total. O grupo etário jovem (0 a 14 anos) perde importância 
relativa, enquanto o grupo dos idosos (60 anos ou mais) ganha peso no total da 
população tornando-se mais envelhecida. Com o envelhecimento, as principais 
doenças que acometem a população e que levam a morte se modificam, saímos de um 
quadro em que predominavam as doenças infecciosas e parasitárias que atingiam em 
sua maioria os mais jovens e passamos a um cenário em que as doenças crônicas e 
degenerativas assumem um peso maior (OLIVEIRA, 2019). 
As doenças crônicas e degenerativas exigem uma alteração completa da rede 
de assistência à saúde. É uma realidade nova, são doenças que necessitam de ações 
preventivas e de acompanhamento constante. A rede de assistência médica do Brasil 
ainda muito pautada em ações curativas terá que adaptar-se para o atendimento de 
um contingente maior de idosos portadores de enfermidadesque não são solucionadas 
com a aplicação de uma vacina ou com a ingestão de um medicamento. As doenças 
típicas do envelhecimento já são as principais responsáveis pela maior parte das 
mortes observadas no Brasil e apresentam uma evolução ao longo dos tempos 
(OLIVEIRA, 2019). 
 
23 
 
 
 
 
De acordo com Oliveira (2019), o grupo de doenças ligadas ao envelhecimento 
já era responsável por 68,4% das mortes no Brasil em 2010, sendo as doenças do 
aparelho circulatório as que mais matam no país. A rede de assistência à saúde no 
Brasil ainda é muito voltada para o atendimento às crianças que durante muitas 
décadas representavam uma parcela considerável da população. O grupo dos idosos 
apresenta demandas de saúde e sociais totalmente diferentes dos outros segmentos 
da população e aumenta sua participação em um ritmo bastante intenso. Ampliamos o 
peso do grupo dos idosos em um espaço de tempo relativamente curto. Nos países 
desenvolvidos, primeiro houve à melhoria das condições de vida e só depois o 
envelhecimento da população. No Brasil, ocorre o envelhecimento sem o país ter 
apresentado grandes melhorias nas áreas de saúde e sociais. Assim, os desafios que 
se apresentam com a evolução do grupo dos idosos são imensos e precisam ser 
enfrentados visando colaborar para a manutenção do bem-estar da pessoa com 60 
anos ou mais. Acerca da qualidade de vida dos idosos nos próximos anos, Camarano 
(2004) afirma que: 
No futuro, os idosos terão melhores níveis de escolaridade e participação ativa 
na vida social e cultural. Tais características podem afetar positivamente as 
condições de saúde e bem-estar dos idosos, apontando para um cenário 
positivo, que dependerá, no entanto, de políticas públicas centradas na 
promoção da saúde desde as primeiras idades (CAMARANO, 2004, p. 86 apud 
OLIVEIRA, 2019). 
É preciso tornar a rede de assistência à saúde no Brasil mais eficiente o que 
pode colaborar para a redução da demanda pelos serviços e diminuir os custos. Prata 
(1992) caracteriza o período de mudança do perfil de causas de mortes como sendo a 
passagem da mortalidade elevada, causada principalmente por doenças infecciosas 
para mortalidade baixa, na qual as doenças decorrentes do processo degenerativo do 
organismo e as causas externas passam a ocupar o topo do ranking de causas de 
mortalidade. Nas últimas décadas, a expectativa de vida no Brasil vem apresentando 
ganhos expressivos, porém ainda podemos observar um grande percentual de mortes 
concentradas entre o grupo dos idosos que poderiam ser evitadas através do 
desenvolvimento de políticas preventivas ao longo da vida. O incentivo de hábitos de 
vida saudáveis, por exemplo, pode colaborar para a redução de uma série de doenças 
que acometem os idosos (OLIVEIRA, 2019). 
 
24 
 
 
 
 
Segundo Oliveira (2019), o envelhecimento é algo em evidência mundial, 
significando um crescimento mais elevado da população idosa com relação aos demais 
grupos etários. Envelhecimento populacional é entendido como o crescimento da 
população considerada idosa em uma dimensão tal que, de forma sustentada, amplia 
a sua participação relativa no total da população. Segundo Oliveira (2019), o 
Envelhecimento Populacional é a mudança na estrutura etária, onde ocorre um 
aumento do peso relativo das pessoas com mais de 60 ou de 65 anos. 
5 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL NO BRASIL 
 
Fonte: arquidiocesebotucatu.org 
Durante muito tempo o Brasil foi chamado de país do futuro, isso ocorria devido 
ao grupo etário das crianças (0-14 anos) ser bem expressivo frente ao grupo dos jovens 
e adultos e dos idosos. O país ainda possui uma grande massa de crianças em sua 
população, no entanto, diante da queda do crescimento populacional do Brasil, o grupo 
de 0 a 14 anos vem apresentando sucessivas quedas (OLIVEIRA, 2019). 
De acordo com Oliveira (2019), a imagem do Brasil como um país de jovens 
predominou por décadas, no entanto, de repente, percebemo-nos grisalhos. Até os 
anos 70, os elevados níveis de fecundidade acompanhados pela progressiva queda da 
mortalidade, contribuíram para o crescimento da população com considerável 
participação de crianças e jovens. O país já iniciava o processo de envelhecimento 
 
25 
 
 
 
 
populacional, no entanto, o número de nascimentos e a entrada de crianças na 
população, reduzia o peso do grupo dos idosos. O impacto da queda da mortalidade e 
da fecundidade no envelhecimento da população brasileira, somente começou a ser 
sentido no final do século passado e acerca do peso desses dois componentes na 
ampliação da população idosa no país. Moreira (1998) discorre que: 
A queda da mortalidade brasileira que beneficiou proporcionalmente mais aos 
recém-nascidos, reduzindo-se mais fortemente a mortalidade infantil, 
combinada com níveis de fecundidade ainda por algum tempo relativamente 
elevados, fez com que o envelhecimento da população brasileira, mensurado 
pelo aumento da população idosa – acima de 65 anos – vis-à-vis a população 
jovem – menor de 15 anos – só se tornasse uma realidade social mais palpável 
já nas décadas finais do século XX (MOREIRA, 1998, p. 2 apud OLIVEIRA, 
2019). 
Nas últimas décadas mudanças nos níveis de fecundidade e de mortalidade vem 
ocorrendo em ritmo e intensidade nunca vistos em épocas passadas. O novo 
comportamento demográfico do Brasil com a redução dos nascimentos e queda do 
número de mortes provoca o envelhecimento progressivo da população (OLIVEIRA, 
2019). 
Em 1970, a população idosa era reduzida em vista das condições de vida que 
ainda eram bem ruins e a expectativa de vida não era muito elevada. O Brasil 
encontrava-se na fase do processo de Transição Demográfica, em que a fecundidade 
era ainda elevada e a população do país crescia, sobretudo, o grupo etário jovem. A 
situação social do país era ruim e as famílias eram numerosas, reduzindo o peso do 
grupo dos idosos. O aumento da participação de idosos na população do Brasil é fruto 
de transformações na distribuição etária sendo resultado, sobretudo da queda 
acentuada e constante da fecundidade. 
Segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2008), o país 
apresentará crescimento populacional positivo até 2039 e a partir desse ano o 
crescimento passará a ser negativo. Projeções do IBGE apontam ainda que em 2050, 
o grupo dos idosos ultrapassará o grupo das crianças, transformando o país em um 
dos países mais envelhecidos do mundo. No envelhecimento populacional no Brasil é 
a fecundidade que tem um peso maior, sendo a queda dos nascimentos a principal 
responsável por uma nova distribuição dos grupos etários, reduzindo o peso do grupo 
das crianças e ampliando a participação do grupo dos idosos. Oliveira (2019), o 
 
26 
 
 
 
 
atingimento de baixos níveis de fecundidade por muitos decênios ainda, será o fator 
principal para a intensificação do envelhecimento da população do país. O número 
médio de filhos por mulher no país caiu mais da metade em 30 anos, sendo essa queda, 
reflexo de mudanças comportamentais das mulheres, do ingresso efetivo feminino no 
mercado de trabalho, da melhoria e do acesso a métodos contraceptivos, da 
intensificação do processo de urbanização e do aumento do nível de instrução, que 
avançou muito, especialmente nos anos 2000. A redução acentuada da fecundidade 
pode ser considerada um sucesso de nossa sociedade. 
Para Oliveira, (2019), a sociedade ofereceu muitas opções para as mulheres, 
que passaram a ter controle sobre a opção de ter filhos, a quantidade de filhos desejada 
e o momento da maternidade. A redução da fecundidade tem um papel muito 
significativo sobre o envelhecimento, principalmente nos países em desenvolvimento 
como o Brasil. Oliveira (2019) aponta o peso da queda da fecundidade no aumento da 
participação do grupo dos idosos no país. 
Na realidade, a fecundidade é a grande definidora da estrutura etária, tendo a 
mortalidade apenas umpapel secundário. Inclusive, quando está declina, leva, 
normalmente, a um pequeno rejuvenescimento da população, pois, em sua 
trajetória de queda, são, geralmente, as taxas específicas de mortalidade 
(TEM) na infância aquelas que experimentam decremento proporcional maior. 
Como consequência, são salvas mais crianças do que adultos e idosos, o que 
tem um efeito sobre a distribuição etária semelhante ao de um aumento da 
fecundidade, isto é, tornar a população mais jovem (CARVALHO, 2004, p.6 
apud OLIVEIRA, 2019). 
Embora ocorra em todo o país, o envelhecimento ocorre de modo heterogêneo 
em diferentes localidades. Observamos regiões mais envelhecidas, com proporções de 
idosos elevadas e áreas do país com participação bem tímida de idosos, apresentando 
grande número de crianças em suas populações. Quanto maior é o nível de 
desenvolvimento social e econômico, maior tende a ser a participação de idosos na 
população. De acordo com Oliveira (2019), o Envelhecimento Populacional no Brasil é 
heterogêneo e reflete as desigualdades regionais que são observadas no país. Acerca 
da diversidade socioeconômica do Brasil Oliveira (2019), afirma que essa é traduzida 
em modelos distintos de evolução quando analisamos os processos de Transição 
Demográfica, Transição Epidemiológica e do Envelhecimento Populacional entre as 
grandes regiões do país. A ampliação do grupo dos idosos na população do Brasil 
 
27 
 
 
 
 
ocorre de modo intenso e constante em uma trajetória sem volta. As próximas gerações 
serão compostas por um número menor de pessoas, com fecundidade extremamente 
baixa, os nascimentos não serão suficientes para frear o envelhecimento. O grupo dos 
jovens perderá mais espaço e o grupo dos idosos aumentará sua participação no total 
da população, o que fará emergir uma nova realidade demográfica, jamais vivenciada 
no país, com milhões de idosos, que demandarão novos serviços. Oliveira (2019) 
aponta alguns impactos do aumento de idosos na população do país: 
O envelhecimento da população brasileira é um fato irreversível e que deverá 
se acentuar no futuro próximo imediato. O impacto desta nova ordem 
demográfica é imenso, sobretudo, quando se observa que os fatores 
associados ao subdesenvolvimento continuarão se manifestando por um 
tempo difícil de ser definido (KALACHE, 1987, p. 219 apud OLIVEIRA, 2019). 
Com a queda da mortalidade se concentrando nas idades mais avançadas, o 
país apresentará elevação do segmento dos mais idosos, composto por pessoas a 
partir dos 80 anos. O Brasil envelhecerá, reduzindo o grupo etário das crianças, 
aumentando o grupo dos idosos, com a elevação da expectativa de vida (OLIVEIRA, 
2019). 
Nas próximas décadas, o declínio da mortalidade no Brasil, se concentrará, 
provavelmente, nas idades mais avançadas. Esse sim terá como efeito uma 
aceleração do processo de envelhecimento (CARVALHO, WONG, 2006, p. 8 
apud OLIVEIRA, 2019). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
 
 
 
6 POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO NEGRA 
 
Fonte: otics.org 
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) é uma 
resposta do Ministério da Saúde às desigualdades em saúde que acometem está 
população e o reconhecimento de que as suas condições de vida resultam de injustos 
processos sociais, culturais e econômicos presentes na história do País. Nossa história, 
construída sobre as bases da desigualdade, reservou para a população negra o lugar 
das classes sociais mais pobres e de condições mais precárias. Apesar da abolição 
oficial da escravatura dos povos africanos e seus descendentes, não há como negar 
que persiste ainda hoje, na nossa sociedade, um racismo silencioso e não declarado 
(MS, 2013). 
De acordo com o Ministério da Saúde (2013) a persistência desta situação ao 
longo desses anos é facilmente observada na precocidade dos óbitos, nas altas taxas 
de mortalidade materna e infantil, na maior prevalência de doenças crônicas e 
infecciosas, bem como nos altos índices de violência urbana que incidem sobre a 
população negra. A resistência dos movimentos sociais vem denunciando a 
indignidade das condições de vida da população negra, traduzindo-as em 
reivindicações por políticas públicas que reduzam a desigualdade e ampliem a 
equidade do acesso aos bens e serviços públicos. Coerente com a diretriz 
governamental que determina a redução da exclusão social, o ministério entendeu ser 
 
29 
 
 
 
 
fundamental a estratégia de formulação desta política reafirmando o princípio da 
universalidade do Sistema Único de Saúde (SUS). 
Para a construção da política, o ministério recorreu a estudos que evidenciam 
essas desigualdades e estabeleceu um diálogo com os movimentos sociais por meio 
do Comitê Técnico de Saúde da População Negra. O processo de formulação recebeu 
a contribuição e aprovação do Conselho Nacional de Saúde à pactuação do Plano 
Operativo pela Comissão Intergestores Tripartite (CIT), comprometendo todas as 
esferas de gestão do SUS com o desenvolvimento de iniciativas e metas para a 
melhoria da saúde da população negra. Esta publicação, contendo o texto da política, 
a Portaria nº 992, de 13 de maio de 2009, e o Plano Operativo, se destina à orientação 
de gestores e técnicos na implementação da política. Para os conselheiros de saúde e 
movimentos sociais, ela servirá de base para o acompanhamento de sua execução no 
âmbito local. O exercício da prática desta política e o aperfeiçoamento da gestão 
solidária e participativa irão contribuir para a consolidação do Sistema Único de Saúde, 
objetivo de todos que lutam pelo direito universal à saúde como uma condição para a 
democracia participativa (BRASIL, 2013). 
O Ministério da Saúde afirma que a Política Nacional de Saúde Integral da 
População Negra define os princípios, a marca, os objetivos, as diretrizes, as 
estratégias e as responsabilidades de gestão voltados para a melhoria das condições 
de saúde desse segmento da população. Inclui ações de cuidado, atenção, promoção 
à saúde e prevenção de doenças, bem como de gestão participativa, participação 
popular e controle social, produção de conhecimento, formação e educação 
permanente para trabalhadores de saúde, visando à promoção da equidade em saúde 
da população negra. Sua formulação ficou a cargo da Secretaria de Gestão Estratégica 
e Participativa (SGEP), com assessoria do Comitê Técnico de Saúde da População 
Negra (CTSPN), cabendo a esta secretaria a responsabilidade pela articulação para 
sua aprovação no Conselho Nacional de Saúde (CNS) e a pactuação na Comissão 
Intergestores Tripartite (CIT). É também atribuição da SGEP, no processo de 
implementação desta política, o monitoramento, a avaliação e o apoio técnico aos 
estados e aos municípios. 
Esta Política abrange ações e programas de diversas secretarias e órgãos 
vinculados ao Ministério da Saúde (MS). Trata-se, portanto, de uma política transversal, 
 
30 
 
 
 
 
com formulação, gestão e operação compartilhadas entre as três esferas de governo, 
seja no campo restrito da Saúde, de acordo com os princípios e diretrizes do SUS, seja 
em áreas correlatas. Seu propósito é garantir maior grau de equidade no que tange à 
efetivação do direito humano à saúde, em seus aspectos de promoção, prevenção, 
atenção, tratamento e recuperação de doenças e agravos transmissíveis e não 
transmissíveis, incluindo aqueles de maior prevalência nesse segmento populacional. 
Ela se insere na dinâmica do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de estratégias 
de gestão solidária e participativa, que incluem: utilização do quesito cor na produção 
de informações epidemiológicas para a definição de prioridades e tomada de decisão; 
ampliação e fortalecimento do controle social; desenvolvimento de ações e estratégias 
de identificação, abordagem, combate e prevenção do racismo institucional no 
ambiente de trabalho, nos processos de formação e educação permanentede 
profissionais; implementação de ações afirmativas para alcançar a equidade em saúde 
e promover a igualdade racial (BRASL, 2013). 
7 A SITUAÇÃO DE SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL E SEUS 
DETERMINANTES SOCIAIS 
 
Fonte: ccms.saude.gov 
O Censo Demográfico de 2000 revelou que 54% dos brasileiros se definem 
como brancos, 45% como negros (pretos e pardos) e 0,4% como indígenas e amarelos. 
 
31 
 
 
 
 
Constatou ainda que a participação percentual das populações autodeclaradas preta e 
indígena superou as projeções realizadas com base no Censo de 1991, o que sugere 
uma maior consciência dos brasileiros sobre o seu perfil étnico-racial. Os dados do 
Censo contribuem para conferir maior visibilidade às iniquidades que atingem a 
população negra. Assim, no setor da educação, enquanto entre os brasileiros a taxa de 
analfabetismo era de 12,4%, em 2001, entre os negros, a proporção era de 18,2% e, 
entre os brancos, de 7,7%. Em média, a população branca estudava 6,9 anos e a negra, 
4,7 anos. 
A menor média de anos de estudo dos brasileiros foi observada na Região 
Nordeste: 5,7 anos para os brancos e 4 anos para os negros. Na Sudeste, 
onde se encontra a maior média de anos de estudo do conjunto da população 
– 6,7 anos –, os negros estudavam, em média, 2,1 anos menos que os brancos 
(INSTITUTO DE PESQUISAS, 2002 apud BRASIL, 2013). 
No que se refere à pobreza, outros estudos revelam que os negros 
correspondem a 65% da população pobre e 70% da população extremamente pobre, 
embora representem 45% da população brasileira. Os brancos, por sua vez, são 54% 
da população total, mas somente 35% dos pobres e 30% dos extremamente pobres 
(MS, 2013). 
O baixo nível de renda, tanto individual quanto domiciliar per capita, restringe 
as liberdades individuais e sociais dos sujeitos, fazendo com que todo o seu 
entorno seja deficiente, desgastante e produtor de doença. Em 2001, mais de 
32 milhões de negros com renda de até meio salário mínimo eram 
potencialmente demandantes de serviços de assistência social e viviam, em 
sua maioria, em lugares com características indesejáveis2 de habitação 
(INSTITUTO BRASILEIRO, 2000; INSTITUTO DE PESQUISAS, 2002 apud 
BRASIL, 2013). 
O relatório Saúde Brasil 2005: uma análise da situação de saúde apresenta 
informações e análises discriminadas segundo raça, cor e etnia, enfocando assistência 
pré-natal, tipo de parto, baixo peso ao nascer e análise dos dados referentes ao 
nascimento, incluindo morbimortalidade materno-infantil, em âmbito nacional e 
regional. Esse estudo identificou uma proporção de 2% de nascimentos na faixa etária 
materna de 10 a 14 anos entre as indígenas, o dobro da média nacional. Considerando 
as mães entre 15 a 19 anos, constatou-se uma proporção de nascidos vivos da cor 
branca de 19% (BRASIL, 2013). 
 
32 
 
 
 
 
Entre os nascidos vivos negros, a porcentagem de nascimentos provenientes 
de mães adolescentes de 15 a 19 anos foi de 29%, portanto 1,7 vez maior que 
a de nascidos vivos brancos. Verificou-se ainda que 62% das mães de 
nascidos brancos referiram ter passado por sete ou mais consultas de pré-
natal. Para as mães de nascidos indígenas, o percentual foi de 27% e para as 
mães de nascidos pardos, 37% (BRASIL, 2005 apud BRASIL, 2013). 
O cenário referente à prematuridade e à mortalidade infantil também apresenta 
uma disparidade quando relacionado à raça, cor e etnia. A maior porcentagem de 
nascidos vivos prematuros (gestação < 37 semanas) foi registrada nos recém-nascidos 
indígenas e pretos, ambos com 7%. Os menores percentuais de recém-nascidos 
prematuros foram observados entre os nascidos amarelos e pardos, ambos com 6% 
(BRASIL, 2013). 
O relatório destaca os dados referentes às crianças menores de 5 anos. O 
risco de uma criança preta ou parda morrer antes dos 5 anos por causas 
infecciosas e parasitárias é 60% maior do que o de uma criança branca. 
Também o risco de morte por desnutrição apresenta diferenças alarmantes, 
sendo 90% maior entre crianças pretas e pardas que entre brancas (BRASIL, 
2005 apud BRASIL, 2013). 
Ainda prevalecem os diferenciais de raça, cor e etnia, quando a análise está 
centrada na proporção de óbitos por causas externas. O risco de uma pessoa negra 
morrer por causa externa é 56% maior que o de uma pessoa branca; no caso de um 
homem negro, o risco é 70% maior que o de um homem branco. No geral, o risco de 
morte por homicídios foi maior nas populações negra e parda, independentemente do 
sexo (BRASIL, 2013). 
A análise dos índices de homicídios associada há anos de escolaridade 
mostrou que pessoas com menor escolaridade apresentam risco maior de 
morte quando comparadas àquelas de maior escolaridade. Entretanto ser 
preto ou pardo aumentou o risco de morte por homicídio em relação à 
população branca, independentemente da escolaridade. É interessante notar 
que as diferenças no risco de homicídio na população preta ou parda em 
relação à branca foram ampliadas no grupo de maior escolaridade (BRASIL, 
2005 apud BRASIL, 2013). 
Foram também realizadas análises da mortalidade por doenças transmissíveis 
e não transmissíveis. O estudo destaca a diferença de raça e cor para o risco de morte 
por tuberculose quando consideradas as taxas padronizadas de mortalidade para o ano 
de 2003: tendo como base de comparação a população branca, o risco de morrer por 
tuberculose foi 1,9 vez maior para o grupo de cor parda e 2,5 vezes maior para o de 
 
33 
 
 
 
 
cor preta. Segundo o relatório, “independentemente dos anos de estudo, as pessoas 
da cor preta ou parda tiveram 70% mais risco de morrer por tuberculose que as pessoas 
brancas” (BRASIL, 2005). 
A análise dos dados também permitiu as seguintes constatações: as mulheres 
negras grávidas morrem mais de causas maternas, a exemplo da hipertensão própria 
da gravidez, que as brancas; as crianças negras morrem mais por doenças infecciosas 
e desnutrição; e, nas faixas etárias mais jovens, os negros morrem mais que os brancos 
(BRASIL, 2013). 
No Brasil, existe um consenso entre os diversos estudiosos acerca das doenças 
e agravos prevalentes na população negra, com destaque para aqueles que podem ser 
agrupados nas seguintes categorias: 
a) Geneticamente determinados – doença falciforme, deficiência de glicose 6-
fosfato desidrogenase, foliculite; 
b) Adquiridos em condições desfavoráveis – desnutrição, anemia ferropriva, 
doenças do trabalho, DST/HIV/aids, mortes violentas, mortalidade infantil elevada, 
abortos sépticos, sofrimento psíquico, estresse, depressão, tuberculose, transtornos 
mentais (derivados do uso abusivo de álcool e outras drogas); e 
c) De evolução agravada ou tratamento dificultado – hipertensão arterial, 
diabetes, coronariopatias, insuficiência renal crônica, câncer, miomatoses (BRASIL, 
2013). 
Essas doenças e agravos necessitam de uma abordagem específica sob pena 
de se inviabilizar a promoção da equidade em saúde no País. Para uma análise 
adequada das condições sociais e da saúde da população negra, é preciso ainda 
considerar a grave e insistente questão do racismo no Brasil, persistente mesmo após 
uma série de conquistas institucionais, devido ao seu elevado grau de entranhamento 
na cultura brasileira. O racismo se reafirma no dia a dia pela linguagem comum, se 
mantém e se alimenta pela tradição e pela cultura, influencia a vida, o funcionamento 
das instituições e também as relações entre as pessoas; é condição histórica e traz 
consigo o preconceito e a discriminação, afetando a população negra de todas as 
camadas sociais, residente na área urbana ou rural e, de forma dupla, as mulheres 
negras, também vitimadas pelo machismo e pelos preconceitos de gênero, o que 
agrava as vulnerabilidades a que está exposto este segmento. Do ponto de vista 
 
34 
 
 
 
 
institucional – que envolve as políticas, os programas e as relações interpessoais –, 
deve-se considerar que as instituições comprometemsua atuação quando deixam de 
oferecer um serviço qualificado às pessoas em função da sua origem étnico-racial, cor 
da pele ou cultura. Esse comprometimento é resultante do racismo institucional. O 
racismo institucional constitui-se na produção sistemática da segregação étnico-racial, 
nos processos institucionais. Manifesta-se por meio de normas, práticas e 
comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano de trabalho, resultantes de 
ignorância, falta de atenção, preconceitos ou estereótipos racistas. 
Em qualquer caso, sempre coloca pessoas de grupos raciais ou étnicos 
discriminados em situação de desvantagem no acesso a benefícios produzidos pela 
ação das instituições. Com a finalidade de subsidiar a identificação, a abordagem, o 
combate e a prevenção ao racismo institucional foram definidas duas dimensões 
interdependentes de análise: (1) a das relações interpessoais, e (2) a político- -
programática. A primeira diz respeito às relações que se estabelecem entre dirigentes 
e servidores, entre os próprios servidores e entre os servidores e os usuários dos 
serviços. A dimensão político-programática de combate ao racismo institucional é 
caracterizada pela produção e disseminação de informações sobre as experiências 
diferentes e/ou desiguais em nascer, viver, adoecer e morrer; pela capacidade em 
reconhecer o racismo como um dos determinantes das desigualdades no processo de 
ampliação das potencialidades individuais; pelo investimento em ações e programas 
específicos para a identificação de práticas discriminatórias; pelas possibilidades de 
elaboração e implementação de mecanismos e estratégias de não discriminação, 
combate e prevenção do racismo e intolerâncias correlatas – incluindo a sensibilização 
e capacitação de profissionais; pelo compromisso em priorizar a formulação e 
implementação de mecanismos e estratégias de redução das disparidades e promoção 
da equidade (BRASIL, 2013). 
 
35 
 
 
 
 
8 SAÚDE DA POPULAÇÃO INDÍGENA 
 
Fonte: viomundo.com 
A partir da Constituição Federal de 1988 os povos indígenas recuperam seus 
direitos originários e podem constituir-se como cidadãos etnicamente diferenciados, 
mostrando assim a possibilidade de existência de um Estado pluriétnico. Porém a letra 
da constituição não garantiu, ainda, a inclusão das comunidades étnicas a uma 
participação plena nas políticas públicas de desenvolvimento, em que estas, possam 
exercer plenamente seus direitos. Apesar de um “crescimento econômico” anunciado 
pelo governo, as comunidades étnicas constituem-se em grupos vulneráveis que 
buscam soluções para seus problemas que tendem a agravar-se devido à política do 
Estado mínimo, onde não há espaço para políticas sociais que incluem as minorias 
étnicas (ATHIAS, 2005). 
Segundo o autor os grupos étnicos estão relacionados ao processo de 
territorialização, no sentido que a constituição de seus territórios está intimamente 
ligada as suas identidades étnicas e ao exercício da cidadania plena. Esses territórios 
são negociados dentro de um quadro político preciso cujos parâmetros estão 
estabelecidos pelo Estado. As terras indígenas situadas na Amazônia Legal, nestes 
últimos anos receberam um apoio significativo nos processos de identificação, 
demarcação e homologação, através do Projeto de Proteção as Terras Indígenas da 
Amazônia Legal (PPTAL), com recursos provenientes do PPG-7 enquadradas no 
 
36 
 
 
 
 
argumento de proteção das florestas tropicais. Quase as totalidades dessas terras já 
foram identificadas e muitas delas já se encontram demarcadas, inclusive com a 
participação efetiva das comunidades indígenas. 
A mobilização política dos grupos indígenas no Nordeste, como também as 
comunidades quilombolas, para a afirmação de suas identidades, está alicerçada no 
processo de reconquista territorial. Nas últimas décadas grupos indígenas no Nordeste 
vêm reivindicando seu reconhecimento oficial. Esse fenômeno vem sendo denominado 
por alguns antropólogos de “etnogênese”, “abrangendo tanto a emergência de novas 
identidades como a reinvenção de etnias já reconhecidas”. No que se refere às terras 
indígenas do Nordeste a situação é bem diferente, justamente por não haver recursos 
alocados, por parte do governo para executar as demarcações (ATHIAS, 2005). 
A maioria delas encontram-se em processo de identificação e de 
desentrosamento de posseiros. Neste sentido tanto para os grupos indígenas quanto 
para as terras quilombolas, hoje já em processo de identificação e demarcação 
relacionada à política existente de reconhecimento oficial das “terras de negros”, a 
noção de territorialização é definida como um “processo de reorganização social que 
implica (ATHIAS, 2005): 
i) a criação de uma nova unidade sociocultural mediante ao estabelecimento de 
uma identidade étnica diferenciadora; 
ii) a constituição de mecanismos políticos especializados; 
iii) a redefinição do controle social sobre os recursos ambientais e 
iv) a reelaboração da cultura e da relação com o passado” (ATHIAS, 2005). 
O Estado de saúde das populações indígenas segundo o autor citado, encontra-
se em situação precária em várias áreas do país. Não obstante o esforço do Ministério 
da Saúde, através da criação de 34 Distritos Sanitários Indígenas e recursos ampliados 
não se tem ainda um modelo de organização dos serviços de saúde que seja 
culturalmente adequado e que diminua os índices dos agravos e ocorrência de surtos. 
Nestes últimos anos, mesmo com uma legislação favorável, não se tem ainda um 
sistema de educação para as áreas indígenas onde a população indígena tenha um 
adequado serviço de educação, apesar das diversas experiências exitosas em algumas 
áreas. No Nordeste, em quase todas áreas indígenas o sistema de cestas básicas é o 
 
37 
 
 
 
 
que garante a subsistência de muitas famílias indígenas e negras. Suas áreas estão 
em processo de degradação ambiental. 
A partir da Resolução 03/99 do Conselho Nacional de Educação, os povos 
indígenas iniciaram um processo de reorganização do modelo de escolarização que 
passa pela construção de um projeto político pedagógico embasado nas realidades em 
que vivem as comunidades indígenas. Esse processo está longe ainda de ser 
concretizado. Alguns estados avançaram na organização dos processos de 
escolarização via a um redimensionamento da rede de educação escolar indígena, hoje 
tendo os estados como responsáveis primeiros (ATHIAS, 2005). 
8.1 Desenvolvimento e Políticas Públicas 
As agências multilaterais e bilaterais de desenvolvimento deveriam incorporar 
estratégias para garantir a participação dos povos indígenas em espaços onde eles 
possam buscar mecanismos de discussão sobre o seu próprio desenvolvimento 
levando em consideração suas especificidades culturais. Nestes últimos anos, os 
povos indígenas, aliados ao argumento da preservação ambiental, têm conseguido 
espaços significativos em programas de desenvolvimento voltados para a Amazônia. 
No entanto, estes programas ainda carecem de maior apoio por parte de setores do 
governo (ATHIAS, 2005). 
O autor afirma que os índios localizados fora da Amazônia, representados em 
40% da população indígena, ainda sem um argumento sólido de apelo a nível 
internacional encontram-se em pior situação, sobretudo por não terem ainda suas 
terras demarcadas e garantidas. Com relação às comunidades negras ainda existe 
pouco conhecimento a respeito de suas formas organizativas e demandas. As 
iniciativas para reduzir a pobreza das comunidades etnicamente diferenciadas 
encontram-se em conformidade com a Resolução Nº. 30 do Conselho da União 
Europeia (de 30 de novembro de 1998) que baseando-se no Working Document of the 
Comission of May 1998) reconhece que muitos dos povos indígenas encontram-se em 
situação de marginalidade econômica indo em contra os direitos humanos. 
O Conselho da EU afirma a necessidade de possibilitar o desenvolvimento

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