QUEIXAS ESCOLARES: REVISANDO A PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA DE COLLARES & MOYSÉS Locimar Massalai1 Resumo O presente artigo tem o objetivo de fazer uma revisão da produção de Collares e Moysés a partir das provocações feitas nas leituras para seleção do Mestrado Acadêmico em Psicologia da Universidade Federal de Rondônia/2011. Utilizamos como base de busca, o Google. O encontro com cada artigo possibilitou encontrar outros a partir da consulta de suas referências bibliográficas. Encontramos 32 trabalhos publicados em forma de capítulos de livros, livros inteiros, em revistas e online. Os primeiros textos foram publicados em 1985 e os últimos em 2010. Todos os trabalhos foram lidos e após análise foram agrupados nas seguintes categorias: a)Educação e Saúde, b)Medicalização da Aprendizagem, c)Merenda, desnutrição e Fracasso Escolar, d)Testes de Inteligência, Diagnósticos e Laudos; e)Conhecimento e Formação Continuada. Percebemos que as ideias defendidas pelas pesquisadoras e seus colaboradores continuam atuais no sentido de lutar por políticas educacionais que promovam o acesso e a permanência dos alunos na escola com qualidade social, a partir de olhar atento sobre o processo de escolarização como elemento principal desta qualidade. Palavras-chave: Queixas escolares. Processos de escolarização. Produção do conhecimento. INTRODUÇÃO: O ENCANTAMENTO PRIMEIRO COM A PRODUÇÃO DE COLLARES E MOYSÉS A primeira vez que ouvi falar em medicalização da aprendizagem foi quando estava procurando um artigo sobre dificuldade de aprendizagem no Google e encontrei um texto sobre a educação medicalizada. Este encontro marcou o início de um novo olhar sobre o fracasso escolar. Até então minha visão sobre tal problemática era justificada muito mais por 1Atua como Orientador Educacional em Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio. Pedagogo com Habilitação em Magistério do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental e Educação Infantil. Pedagogo com Habilitação em Orientação Educacional e Magistério. Especialista em Administração e Planejamento para Docentes. Especialista em Tecnologias e Educação pela PUC/RIO em parceria com a SEED/MEC. Bacharel em Serviço Social e Mestrando do Programa de Pós-graduação de Psicologia da Universidade Federal de Rondônia. E-mail: locimassalai@gmail.com mailto:locimassalai@gmail.com 2 questões pessoais dos alunos, desestrutura familiar e problemas metodológicos por parte dos professores. Neste sentido, a formação inicial que recebi não me possibilitou outras leituras do fracasso escolar e a inserção em uma escola real intensificou um olhar estereotipado do mesmo. Dentro deste contexto, Collares e Moysés abordam esta questão no texto chamado “O profissional de saúde e o fracasso escolar: compassos e descompassos”, quando falam de como os professores entrevistados em pesquisa realizada em escolas municipais de Campinas em 1992, justificaram suas explicações para o fracasso escolar ou a não aprendizagem de seus alunos: Interessava-nos uma aproximação maior com as formas de pensamento do professor; por isso, a cada criança apontada como futura retenção, perguntávamos qual a causa e, para cada causa, tentávamos identificar o que era entendido sob aquele nome, onde havia estudado sobre o assunto, se havia tido algum contato durante a graduação, enfim, onde havia aprendido sobre aquilo que considerava causa da não aprendizagem. [...] Todas referem que jamais estudaram o assunto e que aprenderam com a prática, com a experiência e com o senso comum. (COLLARES; MOYSÉS, 1997, p.140-141) Ao entrar em contato com questões voltadas para a formação inicial e continuada de professores e lendo os textos de Collares e Moysés·, fui questionando minha formação inicial: onde estavam todas estas teorias e explicações críticas sobre o fracasso escolar quando da primeira formação em Pedagogia (Séries Iniciais e Educação Pré-Escolar), iniciada em 1990 e finalizada em 1994? Da mesma forma me questionava sobre a ausência das mesmas teorias e discussões em minha segunda graduação em Pedagogia (Orientação Educacional – 1998 a 2001). Provocado por estas novas leituras do fracasso escolar fui fazendo relações com minha prática como Orientador Educacional em uma escola pública e analisando os discursos das professoras e os meus, sob os argumentos apresentados por Collares e Moysés. Interessante ressaltar que em minha segunda graduação em Pedagogia – Orientação Educacional, um dos referenciais mais utilizados sobre psicologia escolar foi o livro de Célia Silva Guimarães Barros – “Pontos de Psicologia Escolar” que apresenta didaticamente teóricos da psicologia e sua aplicação na educação e logo em seguida aponta as dificuldades de comportamento e de aprendizagem, desvinculados de qualquer contexto social, como se existisse uma criança abstrata e universal descolada de seu tempo. Com estes referenciais, aprendi a olhar para as dificuldades de aprendizagem, como se fossem da única responsabilidade dos alunos e suas famílias. O segundo encontro com as produções de Collares e Moysés foi marcado pelas leituras dos textos recomendados à seleção do Mestrado Acadêmico em Psicologia/2011 pela 3 Universidade Federal de Rondônia. Textos estes, juntamente com os de Patto (2002), provocaram em mim entusiasmo e, ao mesmo tempo, assombro diante daquilo que desconhecia sobre a produção do fracasso escolar na história da educação brasileira em especial o livro Preconceito no cotidiano escolar: ensino e medicalização. A dinâmica do mestrado e suas provocações já começavam a surtir seus efeitos sobre o alargamento de nosso campo de visão sobre a educação e seus percalços. Escolher as produções de Collares e Moysés para fazer uma revisão não é apenas uma curiosidade diletante. A partir do momento em que tive contato com suas pesquisas e estudos, percebi que estas poderiam ajudar na compreensão das queixas escolares ou encaminhamentos escolares2 que são levados às Orientadoras Educacionais, temática central do projeto de pesquisa em desenvolvimento para dissertação do Mestrado em Psicologia. A partir de tais sentimentos e percepções defendo a importância deste trabalho de revisão produtiva de Collares e Moysés porque nos coloca frente a frente com questões temporais e discussões de 20 anos atrás, por exemplo, que continuam extremamente atuais e pertinentes e que aqui são compiladas para futuro aprofundamento e análise mais completa. Penso ser importante apresentar alguns dados das autoras para situar de quem estarei falando porque acredito que fazemos a história e somos feitos por ela. Cecília Azevedo Lima Collares é graduada em Pedagogia – Orientação Educacional – pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Possui mestrado em educação também pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo cuja dissertação é sobre a Introdução de Orientação Educacional em Entidade de Iniciação Profissional de Menores. É doutora em Sociologia e Política pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, cuja tese é sobre a Influência da Merenda Escolar no Rendimento em Alfabetização. Também possui o título de Livre Docente pela Universidade Estadual de Campinas com a tese sobre o Preconceito Escolar Patologizado. Tese que gerou o livro Preconceito no cotidiano escolar: ensino e medicalização, que se tornou um marco na discussão da medicalização da aprendizagem. Trabalhou como professora universitária e pesquisadora na Pontifícia Universidade Católica de Campinas de 1971 a 1972 e na Universidade Estadual de Campinas como professora universitária e pesquisadora de 1972 a 1998 onde é professora aposentada. Quanto à Maria Aparecida Affonso Moysés Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Tem doutorado em Medicina pela 2 Denominamos “encaminhamentos