Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Curso de Engenharia Elétrica Turma: FLC1185EEA 1º Encontro 22/03/2022 Ciência e Propriedade dos Materiais Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) VÍDEO DE APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA! Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA DOS MATERIAIS TÓPICO 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS TÓPICO 2 – LIGAÇÕES QUÍMICAS TÓPICO 3 – TIPOS DE ESTRUTURA CRISTALINA TÓPICO 4 – CRISTALINIDADE DOS MATERIAIS TÓPICO 5 – DEFEITOS DA ESTRUTURA CRISTLINA TÓPICO 6 – DIAGRAMAS DE FASES UNIDADE 2 – CARACTERIZAÇÃO E PROPRIEDADES DOS MATERIAIS TÓPICO 1 – PROPRIEDADES MECÂNICAS TÓPICO 2 – PROPRIEDADES ÓTICAS TÓPICO 3 – PROPRIEDADES ELÉTRICAS TÓPICO 4 – PROPRIEDADES MAGNÉTICAS TÓPICO 5 – PROPRIEDADES TÉRMICAS TÓPICO 6 – PRINCIPAIS TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DE MATERIAIS Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) CONTEÚDO PROGRAMÁTICO: UNIDADE 3 – PROCESSAMENTO E SELEÇÃO DE MATERIAIS TÓPICO 1 – PROCESSOS DE FABRICAÇÃO TÓPICO 2 – CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE MATERIAIS TÓPICO 3 – RECICLAGEM DOS MATERIAIS Para o Engenheiro Eletricista, é importante conhecer as classes de materiais e as suas propriedades, especialmente aquelas relacionadas a condutividade elétrica e as propriedades magnéticas. A disciplina traz um embasamento teórico para que o acadêmico possa desenvolver um paralelo entre essas propriedades dos materiais com os conteúdos das disciplinas específicas do curso. É válido salientar que a Ciência dos Materiais se relaciona diretamente com muitas pesquisas e desenvolvimentos realizados nas áreas de atuação da Engenharia Elétrica. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) A disciplina Ciência e Propriedade dos Materiais irá ocorrer durante quatro encontros: 1º ENCONTRO 2º ENCONTRO 3º ENCONTRO 4º ENCONTRO Apresentação da disciplina e conteúdos teóricos da UNIDADE 1. Discussão das autoatividades da UNIDADE 1, conteúdos teóricos da UNIDADE 2 e Prática em Laboratório Virtual. Discussão das autoatividades da UNIDADE 2 e conteúdos teóricos da UNIDADE 3. Discussão das autoatividades da UNIDADE 3, revisão das práticas executadas e encerramento da disciplina. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) VÍDEO U1-T1+T2 TÓPICO 1: CONCEITOS FUNDAMENTAIS TÓPICO 2: LIGAÇÕES QUÍMICAS Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) CONCEITOS FUNDAMENTAIS Para que possamos compreender a real importância da Ciência e Propriedade dos Materiais , é necessário conhecer um pouco da história do desenvolvimento dos materiais ao longo do tempo, e sua integração com o desenvolvimento da sociedade. A escolha de materiais adequados para determinadas aplicações, nos remete aos mais remotos momentos da existência da humanidade. A necessidade da caça, da pesca, da construção de abrigos, da criação de vestimentas, e a elaboração de utensílios para as diversas atividades do homem primitivo, podem ser tomadas como exemplo de uma seleção de materiais com características mais adequadas para cada caso. O desenvolvimento de utensílios e recipientes de cerâmica pode ser considerado um dos primeiros avanços da humanidade na direção da criação de materiais que atendam a necessidades específicas de forma mais adequada do que os materiais naturais disponíveis. O posterior conhecimento do processamento de ligas metálicas, como o ferro e o bronze, propiciou a elaboração de utensílios de diversas naturezas e utilidades. Os avanços que se seguiram permitiram à sociedade a criação de inúmeras utilidades, culminando no desenvolvimento tecnológico moderno. O desenvolvimento de materiais poliméricos, os quais nós conhecemos também por plásticos, tendo como matéria-prima base o petróleo, permitiu a produção de materiais mais leves, processados em baixa temperatura e com características mecânicas adequadas a muitas aplicações, inclusive, por exemplo, substituindo partes metálicas em veículos, permitindo assim a economia de peso e combustível. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) CONCEITOS FUNDAMENTAIS (continuação) A rápida troca de informações propiciada pelo desenvolvimento tecnológico atual na área eletrônica não seria possível sem o desenvolvimento e aprimoramento constante dos materiais semicondutores, os quais permitiram o desenvolvimento dos circuitos integrados. Grandes avanços da medicina estão condicionados ao crescente estudo de biomateriais, resistentes e compatíveis com o organismo onde são implantados. A nanotecnologia nos mostra que é possível obter materiais com características especiais, abrindo um leque enorme para o desenvolvimento de materiais inteligentes e de tecnologias mais limpas. Podemos concluir então que, tanto para o homem que habitava as cavernas até o homem que habita as modernas estações espaciais, o conhecimento das propriedades dos materiais disponíveis e a engenharia ou desenvolvimento de novos materiais criados e constantemente aprimorados são fundamentais para a manutenção de condições em que este possa viver de forma adequada às suas necessidades, em um mundo moderno cada vez mais dinâmico. Diferentes tipos de materiais podem ser utilizados na fabricação de um produto ou parte de um produto industrializado. Normalmente a decisão de se utilizar determinado material, seja LIGAS METÁLICAS, CERÂMICAS, POLÍMEROS ou COMPÓSITOS, passa pela análise de diversos critérios, desde as propriedades necessárias ao desempenho do componente até o seu valor final. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) METAIS E SUAS LIGAS As ligas metálicas são normalmente compostas majoritariamente de elementos metálicos. Os átomos dos metais sólidos são ligados entre si por ligações metálicas. Nesse tipo de ligação, uma parte dos elétrons desses átomos deixa de pertencer a átomos definidos, formando uma nuvem de elétrons, que são chamados de elétrons livres, os quais são responsáveis pelas suas propriedades elétricas particulares. A sua estrutura ordenada e as características de suas ligações fazem com que estes materiais apresentem alta resistência mecânica. Um aspecto bastante importante da maioria das ligas metálicas é o seu caráter de “aviso de falha”: Quando um componente ultrapassa o seu limite de carga, ocorre uma deformação irreversível do componente, ou seja, ao retirar a carga, o componente permanece deformado. Essa deformação pode ser detectada por inspeções antes que esta peça venha a se romper, causando uma falha mais grave. Essa propriedade é bastante importante quando trabalhamos com produtos onde existe a necessidade de um nível de segurança, como em partes mecânicas de automóveis, aviões, ou de estruturas de guindastes. A ruptura da peça nesse caso pode ser catastrófica. A figura ao lado apresenta o aspecto de fratura de um material metálico dúctil e de um material frágil. A fratura do material dúctil apresenta deformação localizada. Dúctil → que se pode estirar ou comprimir sem se romper ou quebrar; elástico, flexível, moldável. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) MATERIAIS CERÂMICOS Diferente dos metais, as cerâmicas normalmente apresentam estruturas mais complexas e menos simétricas. Esse fato, aliado ao tipo de ligação, faz com que a deformação da peça antes da ruptura seja praticamente nula: o componente rompe rapidamente ao atingir seu limite de resistência. Outra característica importante dos materiais cerâmicos é que estes apresentam uma sensibilidade maior a defeitos de fabricação. A presença de trincas, muitas vezes não detectáveis, torna o limite de resistência mais baixo do que o calculado no projeto do componente sem falhas. Por esse motivo, em alguns casos, testes mecânicos prévios desses componentes são necessários para garantir uma resistência mecânica mínima exigida pela aplicação. Algumas características dos materiais cerâmicos os tornam a melhor escolha para determinadas aplicações: • ausência de elétrons livres (excelentes isolantes elétricos); • a baixa condutividade térmica; • elevada dureza (rigidez de suas ligações químicas ); • resistência ao desgastee características estéticas (biomateriais, como próteses dentárias); • propriedades de refração da luz (lentes para aplicações diversas); • pega hidráulica e propriedades mecânicas após cura (revestimento de edificações). Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) POLÍMEROS Os materiais poliméricos são de base orgânica (contêm carbono, C). Esses materiais, assim como os metais e cerâmicas, podem ser caracterizados por um agrupamento de átomos que formam uma estrutura, que se repete indefinidamente no material. No caso dos polímeros, essa estrutura é chamada de mero. Um polímero pode ser definido, então, como um conjunto de meros. Os polímeros apresentam como uma das suas principais características a elevada maleabilidade. Outra característica é a sua facilidade de processamento em baixas temperaturas (da ordem de 200°C), bem como a sua boa relação entre densidade e propriedades mecânicas. Os polímeros apresentam diversas propriedades que os tornam interessantes para determinadas aplicações, embora também apresentem limitações intrínsecas. Normalmente apresentam baixa resistência ao calor e podem sofrer degradação quando expostos a intempéries. Essa degradação consiste na quebra de ligações pela presença de raios UV provenientes da luz solar. As aplicações dos polímeros são das mais diversas: desde recipientes e utensílios domésticos em polipropileno (PP) e polietileno (PE), até componentes automotivos em Nylon®, ABS ou borrachas. Os polímeros também podem ser reforçados por outros tipos de materiais, sendo então classificados como compósitos, os quais serão discutidos no item a seguir. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) COMPÓSITOS Vimos nos itens anteriores que os diferentes tipos de materiais apresentam características que os tornam interessantes para determinadas aplicações, porém, apresentam também limitações. A busca de propriedades ótimas para aplicações específicas motivou o estudo dos materiais compósitos. Um material compósito consiste na junção em um mesmo material de duas ou mais classes de materiais (metais, polímeros ou cerâmicas) para o desenvolvimento de um novo material com propriedades muitas vezes superiores às apresentadas pelos componentes separadamente, ou seja, ocorre uma sinergia entre os componentes utilizados. É possível, por exemplo, melhorar as propriedades mecânicas de um material polimérico (resina epóxi, poliuretano) adicionando certa quantidade de fibras de vidro (material cerâmico), de tamanho e características controladas. Chamamos esse tipo de material de fibra de vidro, sendo bastante empregado na indústria naval, reservatórios de água e piscinas, dentre outros. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) SEMICONDUTORES Os materiais semicondutores apresentam condutividade elétrica intermediária entre metais condutores e materiais intrinsecamente isolantes, como é o caso da maioria das cerâmicas. Normalmente o nível dessa condutividade é afetado por variações pequenas na quantidade de determinadas impurezas, sendo esse um ponto chave no desenvolvimento desses materiais. Com o advento dos semicondutores puderam ser desenvolvidos transistores e diodos, os quais são fundamentais para o campo da eletrônica. Esses dispositivos têm, além da capacidade de amplificar um sinal elétrico, a propriedade de atuarem como interruptores. Isto é particularmente importante, visto que a tecnologia digital opera em sistemas binários (algumas vezes designados por 0 e 1), que podem corresponder a “ligado” e “desligado” para cada transistor. Assim, dados e equações podem ser armazenados em chips de silício nos computadores, calculadoras, celulares, e inúmeros equipamentos. BIOMATERIAIS A função dos biomateriais, como o nome indica, é a de substituir partes do corpo danificadas ou doentes. Podemos produzir biomateriais utilizando cerâmicas, polímeros, metais, semicondutores ou compósitos. Uma das principais características desses materiais é a não liberação de produtos tóxicos e biocompatibilidade, ou seja, não devem sofrer rejeição por parte do organismo receptor. Próteses dentárias, ósseas, estéticas (próteses de silicone) e marca-passos são exemplos de biomateriais. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) Os átomos são compostos por prótons, nêutrons e elétrons. As propriedades dos materiais dependem fortemente do tipo de átomo que os constituem e do tipo de ligação química. Disponível em: <https://image.jimcdn.com/app/cms/image/transf/none/path/s3fab59d660146813/image/i583f91a1c1a467c6/version/1408208843/image.gif.> Acesso em: 28 mar 2017. ESTRUTURA ATÔMICA A explicação para o comportamento macroscópico dos materiais tem sua origem em suas características atômicas: tipos de átomos e arranjo entre eles, no que chamamos de estrutura Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) RESUMO DO TÓPICO 1 • Apresentamos uma perspectiva histórica do desenvolvimento dos materiais, enfatizando a sua importância no desenvolvimento tecnológico. • Foram discutidos alguns dos aspectos principais relativos às diferentes classes de materiais e suas aplicações em função de suas propriedades. • Compreendemos que o conhecimento da estrutura do átomo é insuficiente para entendermos as propriedades macroscópicas dos materiais, sendo necessário obter informações a respeito de suas ligações e arranjo desses átomos no material. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) LIGAÇÕES QUÍMICAS As características das ligações químicas dos materiais estão relacionadas diretamente com as suas propriedades. Os princípios de equilíbrio das forças das ligações químicas, bem como os tipos de ligação, são essenciais para interpretarmos o comportamento macroscópico, mecânico ou térmico de um material. LIGAÇÕES ATÔMICAS NOS MATERIAIS Sabemos que um material sólido é composto por um número muito grande de átomos, que, são compostos por elétrons, prótons e nêutrons. A própria estrutura do átomo é resultante do equilíbrio das forças de atração e repulsão entre o núcleo positivo e os elétrons, que apresentam carga negativa. Considerando uma grande distância entre os dois átomos (d), as forças entre estes dois átomos podem ser consideradas desprezíveis. No entanto, ao aproximarmos os dois átomos, surgem dois tipos de forças: uma atrativa e outra repulsiva, cujas magnitudes irão depender das características de ligação entre estes átomos. Ao aproximarmos os dois átomos a ponto de suas camadas de elétrons se sobreporem, ocorre um aumento na força de repulsão. A força líquida (FL) entre dois átomos é a soma entre a força de repulsão e a força de atração e, como podemos imaginar, irá depender da distância entre os dois átomos. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) LIGAÇÕES QUÍMICAS Se ao aproximarmos dois átomos existem duas forças concorrentes (atração e repulsão), podemos supor que, a uma determinada distância entre estes átomos, a força resultante entre estes é nula, ou seja: Se entendermos esse fenômeno, poderemos compreender que existe uma distância entre os dois átomos onde o valor da soma entre a energia repulsiva e atrativa é nula, que consiste em um ponto de equilíbrio, e que coincide com o valor da energia de ligação (E0). Conclui-se que, em um material sólido, se um átomo se liga a diferentes átomos por ligações químicas, existe uma força de coesão entre esses átomos, e um estado de equilíbrio. Dessa forma, diferentes tipos de ligações e as magnitudes dessas energias, no equilíbrio, irão resultar em materiais de diferentes propriedades, como dureza, resistência mecânica, ponto de fusão, dentre outras, governadas por esta energia de ligação. Na prática, diferentes materiais apresentam curvas de energia de ligação diferentes, o que gera valores de energia de ligação e distância interatômica diferentes. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) LIGAÇÕES PRIMÁRIAS LIGAÇÕES IÔNICAS A ligação do tipo iônica sempre envolve átomos metálicos e não metálicos, sendo que o metal nesse tipo de ligação perde seu elétron de valência, e o átomo não metálico o recebe.No entanto, essa permuta tem como consequência a geração de uma carga elétrica, tornando-os íons, o que caracteriza a ligação iônica. Os átomos isoladamente apresentavam uma estrutura neutra de carga, porém, após ligação, apresentam carga positiva (o que doou o elétron) e negativa (o que recebeu elétron). No entanto, no material sólido não existem apenas dois átomos, mas uma infinidade destes. O que ocorre neste caso é uma atração entre átomos vizinhos de carga positiva e negativa, e a essa energia de atração damos o nome de energia de ligação iônica. As forças de atração são chamadas de Forças de Coulomb. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) LIGAÇÕES PRIMÁRIAS LIGAÇÕES COVALENTES Nesse tipo de ligação, um ou mais elétrons são compartilhados entre os átomos, ou seja, os elétrons compartilhados não pertencem a um átomo específico. Da mesma forma que na ligação iônica, os átomos adquirem dessa forma a estrutura eletrônica estável. A ligação covalente tende a ocorrer quando a diferença de eletronegatividade entre os átomos envolvidos é pequena. As ligações covalentes podem apresentar energia de ligação bastante elevada, como também relativamente baixas, dependendo dos tipos de átomos envolvidos. A figura ao lado mostra uma molécula de metano (CH4). Observe que a ligação entre os átomos de C e H apresenta compartilhamento de elétrons. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) LIGAÇÕES PRIMÁRIAS LIGAÇÕES METÁLICAS As ligações metálicas apresentam uma característica bastante interessante, que as distingue das ligações de caráter iônica e covalente. Os átomos de um metal apresentam geralmente de um a três elétrons na camada de valência. No sólido metálico, estes elétrons não pertencem a nenhum átomo específico, mas formam uma nuvem de elétrons, ao que chamamos de elétrons livres (já havíamos citado esse termo no tópico anterior). Os elétrons das camadas interiores, juntamente com os núcleos positivos, formam uma estrutura iônica que é eletricamente estabilizada pela nuvem de elétrons. A figura a seguir mostra esquematicamente a estrutura dos átomos em um material metálico. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) Forças de ligação As ligações químicas podem ser primárias ou secundárias. As ligações iônicas e covalentes, por exemplo, são ligações primárias. São ligações fortes. As cerâmicas apresentam ligações Iônicas/covalentes. Disponível em: <https://giphy.com/search/bonds> Acesso em: 28 mar. 2017. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) LIGAÇÕES SECUNDÁRIAS Vimos anteriormente que nas ligações iônicas, os átomos doadores e receptores de elétrons adquirem caráter positivo e negativo. Se considerarmos uma molécula, como, por exemplo, a do HF (fluoreto de hidrogênio), cuja ligação é de caráter iônico, podemos constatar que a extremidade que contém o H apresenta caráter positivo, enquanto a extremidade de F apresenta caráter negativo. Quando aproximamos duas moléculas de HF, o H positivo de uma das moléculas é atraído pelo F negativo da outra molécula. As ligações secundárias surgem quando existe uma separação entre a parte positiva e negativa das moléculas ou átomos, gerando uma atração entre as partes de carga contrária. Normalmente esse tipo de ligação apresenta energia de ligação bem inferior ao das ligações primárias. Temos nesse caso um exemplo de força de ligação secundária, do tipo ponte de hidrogênio (conforme a figura a seguir). As ligações secundárias podem ser de vários tipos, sendo mais comuns nos materiais sólidos as do tipo ponte de hidrogênio e de Van der Waals. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) Forças de ligação Ligações por ponte de hidrogênio (água em estado líquido). As ligações secundárias são ligações fracas. Exemplos: - Ligações do tipo Van der Waals. - Ligações do tipo Ponte de Hidrogênio. Van der Waals (Benzeno). As propriedades de muitos dos polímeros (“plásticos”) depende da magnitude das forças de ligações secundárias. Disponível em: <http://mw.concord.org/modeler/showcase/chemistry/benzenetango.gif> Acesso em: 28 mar 2017. Disponível em: <http://biomodel.uah.es/en/water/index.htm> Acesso em: 28 mar 2017. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) RESUMO DO TÓPICO 2 • A ligação entre os átomos no material é função do equilíbrio entre as energias de atração e repulsão. • Em função dos átomos envolvidos, diferentes tipos de ligação primária podem ocorrer: metálica, iônica ou covalente. Essas ligações apresentam características e energia de ligações específicas, que determinam as propriedades das diferentes classes dos materiais. • As propriedades físicas dos materiais poliméricos dependem fortemente das características das suas ligações secundárias. Intervalo para o Cafezinho! Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) VÍDEO U1-T3 TIPOS DE ESTRUTURA CRISTALINA Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) Estruturas cristalinas As propriedades (mecânicas, químicas, térmicas...) dos materiais se relacionam com as ligações químicas: - Quais tipos de átomos estão presentes? - Como é o arranjo desses átomos? - Os átomos apresentam ordenação atômica de longo alcance? Rede cúbica do tipo diamante. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Diamond_cubic. Acesso em: 28 mar 2017. https://en.wikipedia.org/wiki/Diamond_cubic Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) TIPOS DE ESTRUTURA CRISTALINA ESTRUTURAS TÍPICAS DOS METAIS Os metais, caracterizados pela ligação metálica, apresentam, na maioria dos casos, estruturas de arranjo atômico relativamente simples e de elevada simetria. Esse comportamento se deve ao fato de a ligação metálica ser não direcional, o que implica em elevado número de átomos vizinhos. Esse elevado número de átomos vizinhos resulta em um grande empacotamento de átomos, o que culmina nos altos valores de densidade observados na prática nos materiais metálicos, quando comparados aos polímeros e cerâmicas. Um material metálico apresenta inúmeros átomos ligados entre si. Se analisarmos essa estrutura mais de perto, poderemos constatar que ela consiste em um arranjo de átomos que se repete indefinidamente pelo material. A essa pequena porção ou agrupamento de átomos, que representa o arranjo atômico do material, dá-se o nome de célula unitária. Na prática, o material é constituído pelo agrupamento desses pequenos “tijolos”. A seguir estudaremos os tipos de célula unitárias mais comuns nos metais. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) ESTRUTURA CÚBICA DE FACES CENTRADAS A estrutura cúbica de faces centradas (CFC) é apresentada na figura ao lado. Essa estrutura é típica de muitos metais comerciais, como, por exemplo, o alumínio, o chumbo e o ouro. • O número de coordenação, ou seja, o número de átomos que estão ligados a cada um dos átomos, é 12. Para visualizarmos isso, basta observarmos o átomo da face frontal: ele faz ligação com os quatro átomos dos vértices de sua respectiva face, com quatro átomos que estão nas faces de sua célula unitária, e mais quatro átomos das faces da célula unitária que se posiciona à frente da célula unitária mostrada na figura. • Se conhecermos o raio atômico do átomo que estamos estudando, podemos geometricamente calcular o comprimento da aresta do cubo (a). De posse desse valor, podemos calcular o volume da célula unitária (a3). • Cada átomo da face pertence a duas outras células unitárias adjacentes, e cada átomo da aresta pertence a quatro outras células unitárias. Assim, cada átomo da face contribui com ½ átomo, e cada átomo da aresta contribui com ¼ de átomo por célula. De posse dessa informação é simples calcularmos quantos átomos há em cada célula unitária CFC. • Se soubermos quantos átomos existem em cada célula e a massa de cada átomo de um determinado material, podemos calcular a massa de uma célula unitária; • Se calcularmos o volume da célula unitária e sua massa, podemos obter a sua densidade. Podemos obter também o percentual de ocupação dos átomos nessa célula, ou fator de empacotamento atômico (FEA). As estruturascúbicas, obviamente, contêm arestas de igual comprimento. No caso da estrutura CFC, quatro átomos ocupam as arestas, e seis átomos ficam localizados em cada face do cubo. Se pensarmos somente na fração dos átomos que ocupam o interior do cubo, podemos fazer algumas observações importantes a respeito dessa estrutura: Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) EXEMPLO: Tomemos como exemplo a célula unitária do chumbo (Pb), que apresenta raio atômico de 0,175 x 10^-9 m. a) Cálculo do comprimento da aresta (a). Observe a face frontal da célula unitária do tipo CFC na figura ao lado. Podemos traçar um triângulo retângulo que compreende duas arestas, sendo a hipotenusa desse triângulo tem o comprimento de 4 raios iônicos (r). Ou seja, temos que h2=a2+a2. onde h é a hipotenusa e a é a corresponde a aresta do cubo. Se h=4r, temos: b) Cálculo do volume da célula unitária: c) Cálculo da massa da célula unitária: Onde: Mc = Massa dos átomos por célula unitária (g) A = Massa atômica (g/mol) n = Número de átomos no interior da célula unitária A = Número de Avogadro (6,023 X 10^23 átomos/mol) Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) EXEMPLO (continuação): Tomemos como exemplo a célula unitária do chumbo (Pb), que apresenta raio atômico de 0,175 x 10^-9 m. d) Cálculo da densidade da célula unitária: e) Cálculo do fator de empacotamento: O fator de empacotamento atômico (FEA) é calculado pela razão entre o volume dos átomos que ocupam a célula unitária e o volume da célula. Para o caso da CFC, temos: Onde: ρ = Densidade da célula unitária (g/cm3) Mc= Massa da célula unitária (g) V = Volume da célula unitária (cm3) OBS: A densidade do chumbo comercial é de 11,34 g/cm3. Portanto, podemos ter uma boa aproximação da densidade do material a partir de dados de sua estrutura cristalina e das características de seus átomos. O que na prática indica que 74% da célula unitária é ocupada por átomos, e 26% são vazios. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) ESTRUTURA CÚBICA DE CORPO CENTRADO A estrutura do tipo cúbica de corpo centrado (CCC) é típica dos materiais ferrosos (aços, ferros fundidos) em temperatura ambiente. Diferentemente da estrutura CFC, os átomos das faces do cubo são substituídos por um átomo do centro do cubo. Dessa forma, em cada célula unitária temos dois átomos, um no centro, e ¼ de átomo em cada aresta (vejam a figura ao lado). HEXAGONAL COMPACTA Alguns metais, como o zinco, cádmio, magnésio e titânio, apresentam estrutura do tipo hexagonal compacta (figura ao lado). A estrutura hexagonal compacta é composta por três planos: dois conjuntos de seis átomos que se arranjam na forma de um hexágono, apresentando um átomo adicional no centro deste, e um plano contendo três átomos, que se localiza entre os dos conjuntos hexagonais. No interior dessa estrutura se concentra o equivalente a seis átomos. O número de coordenação é 12 e o fator de empacotamento atômico (FEA) é 0,74, de forma idêntica ao apresentado pela estrutura do tipo CFC. O número de coordenação para a estrutura CCC é 8, que é inferior ao da CFC. Dessa forma o fator de empacotamento é menor: 0,68. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) Diferentemente dos metais, o materiais cerâmicos, com poucas exceções, são compostos por dois ou mais elementos químicos. Embora alguns materiais cerâmicos possam ser caracterizados em estruturas cúbicas semelhantes à CFC (NaCl, MgO, MnS, dentre outros), os materiais mais comuns utilizados na engenharia de produtos são à base de silicato. Os silicatos apresentam arranjos pouco densos, mais complexos que os apresentados pelos metais. A sílica (SiO2), estrutura mais simples dos silicatos, pode se apresentar em três formas polimórficas diferentes: quartzo, tridimita e cristobalita, e é composta por tetraedros contendo um átomo de Si cercado por 4 átomos de O. Esses tetraedros apresentam carga negativa -4. ESTRUTURAS CRISTALINAS DE MATERIAIS CERÂMICOS Esses átomos apresentam raios atômicos muitas vezes bastante diferentes entre si, resultando em estruturas mais complexas que as dos metais. Devemos lembrar também que nas ligações iônicas os átomos devem ser considerados como cátions e ânions, com carga positiva e negativa. As magnitudes dessas cargas e tamanho dos ânions envolvidos irão determinar a forma como estes átomos irão se arranjar no sólido. Os materiais cerâmicos apresentam tipicamente número de coordenação de 4, 6 e 8. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) ESTRUTURAS MOLECULARES DE POLÍMEROS Quando tratamos de arranjo atômico de polímeros, é mais comum analisarmos a sua estrutura molecular. De fato, assim como nos metais e cerâmicas, esse arranjo também pode ser descrito por uma unidade que se repete no material, o mero. O mero é caracterizado por um conjunto de átomos ligados entre si, que representam a menor unidade que se repete dentro do material, formando o polímero. A união de uma grande quantidade de meros forma a molécula do polímero, que é muito mais longa quando comparada a uma célula unitária de um material metálico, por exemplo. As características dos polímeros irão depender fortemente da forma como estão ligados e arranjados os átomos no mero (C e H) e da presença de outros tipos de átomos e suas quantidades (Cl, O, S, F). Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) RESUMO DO TÓPICO 3 • Nos materiais cristalinos (que apresentam ordenação de átomos de longo alcance), essa ordenação pode ser descrita por uma unidade da estrutura cristalina, chamada de célula unitária. • Muitos materiais metálicos podem apresentar estruturas cristalinas do tipo cúbica do tipo CCC, CFC, e menos frequentemente, HC. • A partir do conhecimento do raio atômico e tipo de estrutura cristalina, algumas propriedades macroscópicas dos materiais podem ser obtidas. • Em materiais cerâmicos, a estrutura e número de coordenação irão depender fortemente da relação entre os raios iônicos do íon e do cátion. Esses materiais geralmente apresentam estruturas menos simétricas que os metais. • Os materiais poliméricos, que apresentam cadeias de longo comprimento, são melhores descritos pela sua unidade de repetição, chamada de mero. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) VÍDEO U1-T4+T5 TÓPICO 4: CRISTALINIDADE DOS MATERIAIS TÓPICO 5: DEFEITOS DA ESTRUTURA CRISTLINA Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) CRISTALINIDADE DOS MATERIAIS Neste tópico serão abordados alguns aspectos relacionados à cristalinidade dos materiais, ou seja, como as células unitárias ou moléculas são organizadas, e como esse nível de organização pode afetar as propriedades de um determinado material. MATERIAIS MONOCRISTALINOS Suponham que estamos em um estado inicial onde a temperatura de um determinado material está acima da sua temperatura de fusão, e temos um líquido de composição química homogênea. Nessa condição os átomos não estão ligados por forças primárias. Ao resfriarmos esse material lentamente, um núcleo de material sólido começa a se formar. Nesse núcleo os átomos estão se ligando entre si de forma ordenada, de acordo com o arranjo descrito em sua célula unitária. Várias células unitárias vão sendo formadas nesse núcleo, de forma ordenada, até a solidificação de todo o líquido. Dessa forma, teremos ao final do processo um único cristal, que é composto por inúmeras células unitárias ordenadas, ou seja, um monocristal. No caso descrito, como acontece naturalmente na formação de algumas pedras preciosas, a forma do cristal apresenta características geométricas que estão ligadas à geometria da própria célula unitária. Ao fraturarmos esse material, a ruptura irá ocorrer de acordo com determinado plano das células unitárias alinhadas, gerando uma superfície bastante regular. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) MATERIAIS POLICRISTALINOS A grande maioria dos materiais cristalinos é composta por um grande número de cristais, sendo chamados de policristalinos. Quando resfriamos um material a partir do líquido, normalmente ocorre a formação de diversosnúcleos de material sólido, que crescem de forma ordenada, formados a partir de várias células unitárias (conforme figura 22A). Em um determinado estágio da solidificação, esses cristais irão se tocar (figura 22B). No entanto, a interface entre os dois cristais ou grãos não é perfeita, em função das orientações diferentes das células unitárias de cada cristal, devido ao seu crescimento independente. A interface entre esses cristais é denominada contorno de grão (Figuras 22C e 22D). Os contornos de grão podem ser considerados defeitos, pois nesses pontos existem ligações incompletas. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) MATERIAIS AMORFOS Um material cristalino (monocristalino ou policristalino) é aquele que apresenta uma ordenação atômica de longo alcance. No caso dos materiais cerâmicos e metálicos, por exemplo, essa condição é preenchida pela ordenação de células unitárias em cristais de grande tamanho quando comparados a essas células. Porém, em muitos materiais sólidos, a estrutura não apresenta uma ordenação característica e de longo alcance. Vimos anteriormente que a sílica (SiO2) pode se apresentar em três formas cristalinas: quartzo, tridimita e cristobalita. Além das formas cristalinas citadas, a sílica também pode existir no estado amorfo. A figura a seguir mostra um esquema bidimensional da sílica cristalina e da sílica amorfa. Os tetraedros da sílica amorfa formam uma estrutura irregular, enquanto a estrutura da sílica cristalina se apresenta mais ordenada. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) MATERIAIS SEMICRISTALINOS Alguns materiais apresentam características tanto de materiais cristalinos como de materiais amorfos. É o caso de vários tipos de polímeros. Os materiais semicristalinos são caracterizados por regiões bem definidas, contendo uma ordenação atômica ou molecular, caracterizando uma fração cristalina, e uma fração amorfa. Os materiais poliméricos, que são constituídos por moléculas grandes, irão naturalmente apresentar restrições para o arranjo ordenado dessas moléculas. Nesses casos normalmente encontramos uma estrutura mista, parte cristalina e parte amorfa. Polímeros que são obtidos a partir da conformação de uma massa fundida, como é o caso do polietileno, polipropileno, PVC, dentre outros, tendem a ser constituídos por cristalitos. Os cristalitos são compostos por regiões cristalinas intercaladas por regiões amorfas, que podem ser comparadas aos contornos de grão presentes nos materiais metálicos. A figura a seguir mostra um esquema de um cristalito. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) RESUMO DO TÓPICO 4 • Os materiais podem ser classificados como cristalinos (policristalinos ou monocristalinos), amorfos ou semicristalinos. • Os materiais semicristalinos apresentam regiões cristalinas intercaladas com regiões amorfas. Este é o caso de alguns polímeros e materiais vitrocerâmicos. • Os materiais monocristalinos ocorrem em situações específicas e podem ser obtidos sob estreito controle do processo de fabricação. Esses materiais têm aplicações eletrônicas. • Um material pode ser intrinsecamente amorfo. Alguns materiais cristalinos podem se apresentar amorfos, sendo que para isto faz-se necessário um resfriamento rápido o suficiente para inibir o arranjo ordenado dos átomos na solidificação. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) DEFEITOS DA ESTRUTURA CRISTALINA Nos tópicos anteriores compreendemos que os átomos em um material sólido tendem a se organizar em padrões que se repetem, em forma de células unitárias ou moléculas. Os materiais apresentam, no entanto, imperfeições de diversas naturezas, as quais podem ser originadas no processo de cristalização ou pela deformação do componente. DEFEITOS PONTUAIS As lacunas são um tipo de defeito pontual que consiste na ausência de um átomo na estrutura. Na prática, os materiais sempre irão apresentar lacunas, visto que a presença de lacunas aumenta a entropia (aleatoriedade do cristal), e este é um dos princípios da termodinâmica. Além das lacunas, existem aleatoriamente no material defeitos chamados de autointersticiais. Nesse tipo de defeito, um átomo se encontra comprimido em um espaço intersticial dentro da estrutura cristalina, gerando uma distorção da rede na vizinhança do defeito. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) IMPUREZAS Assim como a presença de lacunas, em materiais sólidos sempre existe uma quantidade de impurezas ou átomos estranhos na rede cristalina. De fato, a maioria dos metais comerciais apresenta quantidades consideráveis de átomos diferentes de impureza, muitas vezes adicionados de forma proposital, com o intuito de se obter propriedades específicas. Existem dois tipos de impureza: substitucional e intersticial, que se caracterizam pela diferença entre o raio atômico do material solvente (aquele que se apresenta em maior quantidade). Substitucional: quando a diferença entre o raio atômico do solvente e do soluto é pequena (nesse caso, parte dos átomos do solvente é substituída pelo átomo do soluto, criando uma solução sólida. Se as propriedades dos dois átomos forem próximas, em alguns casos a solubilidade pode ser de até 100%. Intersticial: quando átomos são solubilizados na estrutura do solvente, não por substituição, mas pelo alojamento desses átomos estranhos nos interstícios da rede cristalina. Sabemos que a estrutura cristalina dos materiais apresentam pequenos vazios que podem ser preenchidos por átomos menores, no entanto, a solubilidade do tipo intersticial é mais limitada que a do tipo substitucional, pois as estruturas dos metais tendem a apresentar um elevado empacotamento, resultando em espaços intersticiais reduzidos, normalmente menores do que o raio atômico dos átomos do soluto. Essa solubilidade geralmente é da ordem de 10%. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) DISCORDÂNCIAS Uma discordância consiste em um defeito onde localmente alguns dos átomos estão fora de alinhamento. As discordâncias podem ser de três tipos: linear, espiral ou mista (combinação de linear com espiral). A figura a seguir mostra esquematicamente uma discordância do tipo linear. Uma discordância do tipo linear consiste na presença de um semiplano extra na rede. A linha que se estende ao longo deste semiplano é chamada de linha da discordância. Uma discordância em hélice consiste em um corte e um deslocamento da rede em uma distância correspondente a um espaçamento atômico. Já uma discordância mista ocorre quando temos os dois tipos de discordância citados em uma região onde não é possível fazer distinção entre ambas. As discordâncias podem se movimentar dentro do material na presença de uma energia mecânica. De fato, isso ocorre nos materiais metálicos, onde as características da rede cristalina permitem essa movimentação e, como veremos a seguir, são responsáveis por algumas características típicas desse tipo de material. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) SISTEMAS DE ESCORREGAMENTO Para a movimentação de uma discordância dentro do material, algumas características devem ser observadas: • Proximidade dos átomos: Para a movimentação das discordâncias deve haver o rompimento das ligações de um conjunto de átomos e a formação de nova ligação desses átomos que se movimentaram. Portanto, quanto maior a distância entre os planos de átomos, maior a barreira energética a ser vencida para o deslocamento da discordância. • Ligações covalentes: Como o movimento da discordância requer ruptura de ligações, o tipo de ligação e sua energia influenciam na facilidade ou dificuldade do movimento da discordância no material. Nos materiais poliméricos, as fortes ligações de carbono, covalentes, impedem a movimentação das discordâncias. • Ligações iônicas: Nos materiais cerâmicos, a diferença de carga entre os cátions e ânions faz com que haja uma repulsão e restrição ao movimento dos átomos quando átomos de mesma carga tendem a se aproximar. Quando tracionamos uma barra de aço, em temperatura ambiente, existe uma tensão aplicada na qual o materialse deforma e, mesmo se retirarmos essa carga, o material permanece deformado permanentemente. A essa tensão damos o nome de limite de escoamento (σy), que é um parâmetro muito utilizado no cálculo de engenharia de componentes mecânicos. Neste caso, a barra não irá se deformar somente quando houver a ruptura das ligações químicas, mas sim quando houver o movimento das discordâncias. Um material pode ter vários sistemas de escorregamento, cada um com uma tensão crítica para o movimento das discordâncias. À medida que vamos aumentando a tensão aplicada no material, os sistemas de escorregamento vão sendo ativados, e as discordâncias nos respectivos planos vão sendo movimentadas. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) Os contornos de grão são pontos onde existe energia livre, ou seja, consistem em locais onde preferencialmente irão ocorrer reações químicas com outros materiais, como, por exemplo, ácidos. Podemos visualizar os contornos de grão de muitos materiais sólidos após o polimento de sua superfície e o ataque químico controlado, utilizando uma solução ácida. O ácido irá corroer preferencialmente os contornos de grão, onde a reflexão da luz é alterada, gerando linhas escuras ao observarmos no microscópio ótico. A figura 29a mostra o efeito de dispersão da luz gerado pelos contornos de grão. A figura 29b mostra uma micrografia ótica onde se podem observar os contornos de grão. CONTORNOS DE GRÃOS Vimos anteriormente que, em um monocristal, o movimento das discordâncias ocorre em todo o material. No entanto, os materiais comerciais são policristalinos, ou seja, são compostos por vários cristais que nuclearam e cresceram a partir de um líquido resfriado. É válido então supormos que os planos e direções compactas estão orientados de forma diferente em cada cristal. No local onde os cristais se tocam, existem ligações químicas incompletas, consistindo em vacâncias e discordâncias, formando o que chamamos de contorno de grão. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) CONTORNOS DE GRÃOS (continuação) Quando uma tensão mecânica de tração é aplicada em uma barra de aço policristalina, existe uma tensão crítica onde o primeiro sistema de escorregamento irá ocorrer em grãos onde a orientação dos planos é favorável. Conforme aumentamos a tensão aplicada, as discordâncias se movimentam nos demais sistemas de escorregamento. No entanto, nesse caso, as discordâncias não estão livres para se movimentar: os contornos de grão são impedimentos para o seu movimento, já que são regiões onde existe um desalinhamento de planos. Isso significa que é necessária uma energia adicional para movimentar as discordâncias. A partir disso podemos concluir que quanto maior o número de grãos do material (grãos menores), maior a quantidade de contornos de grão por unidade de volume, e maior é a restrição ao movimento das discordâncias. Sendo assim, quanto mais refinados os grãos do material, maior tende a ser a tensão necessária para movimentar as discordâncias e gerar deformação permanente no material. A equação de Hall-Petch nos permite estimar o limite de escoamento do material em função do diâmetro médio dos grãos de um material: Onde: σy = tensão de escoamento σ0 = constante do material Ky = constante do material D = diâmetro médio dos grãos. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) RESUMO DO TÓPICO 5 • Os defeitos pontuais são caracterizados pela presença de átomos estranhos (impurezas) ou vacâncias (ausência de átomo em determinado ponto da estrutura). • As discordâncias são defeitos lineares que podem se movimentar de acordo com sistemas de escorregamento. O movimento das discordâncias gera a deformação plástica nos metais, e seu efeito macroscópico é observado na tensão de escoamento. • Os sistemas de escorregamento compreendem direções e planos compactos. As discordâncias irão se movimentar de acordo com estes sistemas. Cada sistema de escoamento está associado a uma tensão que deve ser atingida para movimentação das discordâncias. • Os contornos de grão são considerados defeitos. Nessa região as ligações químicas não estão completas, sendo um ponto preferencial para reações químicas com outros materiais. A superfície externa do material apresenta as mesmas características. • A desordem estrutural no contorno de grão inibe a movimentação das discordâncias. Isto explica o fato de materiais com grãos menores (maior quantidade de contornos) apresentarem maior resistência ao escoamento Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) VÍDEO U1-T6 DIAGRAMAS DE FASES Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) DIAGRAMAS DE FASES Como sabemos, as propriedades macroscópicas podem ser entendidas a partir das energias de ligação de cada material, da forma como os átomos se agrupam e da presença e tipo de imperfeições. Além da influência do que chamamos de estrutura (arranjo atômico), as propriedades são drasticamente afetadas pela microestrutura do material. A microestrutura final do material irá depender de alguns fatores: SOLUBILIDADE: ocorrem substituições parciais dos átomos do componente por outros, o que gera uma liga., e em alguns casos, átomos pequenos podem ocupar os espaços vazios entre os átomos e formam uma estrutura cristalina. A quantidade desses átomos “estranhos” que podem substituir ou ocupar os interstícios da estrutura é dependente da solubilidade. FASES: No nosso exemplo da mistura de açúcar com água, quando esta ainda não atingiu o limite de solubilidade, é composta por apenas uma fase. Quando se atinge o limite de solubilidade, uma segunda fase faz parte do sistema: o açúcar depositado no fundo. Uma fase consiste em uma porção homogênea da mistura, que apresenta características físicas e químicas uniformes. Na mistura de açúcar com água, a solução é líquida e o açúcar depositado no fundo é sólido. Os materiais puros e soluções sólidas, líquidas ou gasosas são considerados como sendo uma fase. Sistemas com apenas uma fase são chamados de homogêneos, enquanto sistemas que apresentam mais de uma fase são denominados misturas ou sistemas heterogêneos. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) EQUILÍBRIO DE FASES Suponhamos que uma solução de água e açúcar esteja fechada em um recipiente a 20°C e em contato com açúcar sólido, em equilíbrio. Nesse caso temos duas fases em equilíbrio, uma sólida e outra líquida, com características físicas e químicas distintas. Se elevarmos a temperatura rapidamente para 100°C, podemos esperar que parte do açúcar sólido vá se dissolver na solução, até que se atinja um novo estado de equilíbrio. O sistema está em equilíbrio quando a sua energia livre se encontra em um valor mínimo, para uma combinação de temperatura, pressão e composição química. Quando aumentamos a temperatura, aumentamos a energia livre, portanto, isso induz uma mudança para outro estado. Para mudança de um estado para o outro é necessária uma quantidade de tempo, que irá depender de cada situação particular. Em materiais sólidos, por exemplo, na maioria dos casos estaremos tratando de estados de não equilíbrio ou metaestáveis, pois a taxa para que se atinja o equilíbrio é extremamente lenta. MICROESTRUTURA O arranjo das fases em um material sólido é chamado de microestrutura. As diferentes fases, que apresentam características físico-químicas distintas, podem ser diferenciadas pela análise em microscópio ótico (MO) ou microscópio eletrônico de varredura (MEV), por exemplo. Através da análise dos tipos, quantidades, tamanhos, formas e distribuições dessas fases na microestrutura, podemos relacionar esses dados com as propriedades (sobretudo mecânicas) dos materiais. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) SISTEMAS BINÁRIOS ISOMORFOS Os sistemas isomorfos apresentam os diagramas de fases mais simples de serem analisados. Para a nossa análise, consideraremos o sistema cobre-níquel. Os diagramas de fases se apresentam da seguinte forma: • Na ordenada é plotada a temperatura em °C. Algumas vezes encontramos diagramas de fases que apresentam também a temperatura emF (Fahrenheit) em um eixo complementar, do lado direito; • O percentual de um dos componentes ou compostos é plotado em percentual mássico (%p) ou atômico (%a) na abcissa; • Linhas se apresentam no gráfico para separar fases ou conjuntos de fases distintas, que são função da composição e temperatura para determinado sistema. Diagrama de fases do sistema cobre-níquel. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) CONDIÇÃO DE EQUILÍBRIO O diagrama de fases fornece outras informações importantes, como a composição química das fases presentes e o seu percentual na microestrutura em um estado de equilíbrio. A composição química de uma fase na região de gráfico onde só existe uma fase é simples. Basta verificarmos qual a composição (proporção entre Cu e Ni) da liga que estamos estudando e projetarmos para a abcissa. No nosso exemplo consideraremos o ponto A do gráfico apresentado na figura anterior. Nesse ponto, a composição da fase α (e também da fase líquida acima da linha liquidus) consiste em 60%p de Ni e 40%p de Cu. A determinação da composição da fase líquida e da fase α na região entre as duas linhas é mais complexa. Ela irá depender da temperatura para uma determinada composição. Para a nossa análise, consideraremos uma composição localizada no ponto B (35%p de Ni e 65%p de Cu) a 1250°C. Observem a figura ao lado: Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) CONDIÇÃO DE NÃO EQUILÍBRIO Em situações práticas, como em um processo de obtenção de ligas por fundição, o material se encontra fora do estado de equilíbrio. Isso acontece porque para atingirmos o estado de equilíbrio, sobretudo quando tratamos de materiais sólidos, onde as taxas de difusão são baixas quando comparadas aos líquidos, é necessário um tempo muito longo. Isso representaria um tempo muito longo de resfriamento, impraticável na maioria dos casos. Portanto, nesse caso, a composição da fase α da composição 35%pNi- 65%pCu será diferente de acordo com a distância do centro do grão até o contorno, apresentando o que chamamos de estrutura zonada. A figura a seguir mostra esquematicamente a evolução da microestrutura em uma condição de não equilíbrio. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) SISTEMAS BINÁRIOS EUTÉTICOS Os sistemas eutéticos apresentam algumas distinções em relação aos isomorfos, porém a sua análise é simples. A principal diferença entre estes é que nos diagramas de fases eutéticas existem regiões onde coexistem duas fases, chamadas de α e β. A fase α é uma solução sólida substitucional onde o soluto é o componente da esquerda do diagrama, e a fase α é uma solução sólida substitucional onde o soluto é o componente da esquerda do diagrama. O componente da esquerda em seu estado puro é considerado fase α, e o componente da esquerda é considerado fase β. A figura a seguir mostra o diagrama de fases Pb- Sn (chumbo-estanho). Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) DIAGRAMA DE FASE FE-FE3C (FERRO - CARBETO DE FERRO) O sistema Fe-Fe3C é certamente um dos mais utilizados, visto que engloba a composição da maioria dos aços e ferros fundidos, sendo estes de grande aplicação na engenharia. Embora muitos desses materiais apresentem outros elementos de liga, além do Fe e C, o diagrama pode ser utilizado para prever a microestrutura final e proporção entre as fases após resfriamento desses materiais, e consequentemente, um indicativo de suas propriedades. O diagrama Fe-Fe3C usualmente apresenta no eixo da abcissa o percentual de carbono ao invés do percentual de carbeto de ferro (ou cementita). Na parte direita do diagrama temos a composição do carbeto de ferro em termos de percentual de carbono, o qual equivale a 6,70%p C. No lado esquerdo temos o percentual nulo de carbono, correspondendo à composição do ferro puro. A figura a seguir apresenta o diagrama Fe-Fe3C. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) DIAGRAMAS TERNÁRIOS Alguns materiais são compostos por três ou mais componentes, sendo que muitas vezes a representação gráfica de seus diagramas de fases se torna complexa e impraticável. Muitos dos sistemas cerâmicos são apresentados na forma de diagramas ternários, onde são desenhados três eixos, cada um correspondendo a percentual de 0% a 100% de cada componente. Um quarto eixo é utilizado para incluir a variável temperatura, perpendicular ao plano do diagrama. A necessidade de três dimensões para visualização deste tipo de gráfico torna a análise bastante complexa. Muitas vezes utilizamos diagramas que apresentam uma projeção do eixo da temperatura. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) RESUMO DO TÓPICO 6 • Os diagramas de fases presumem que existe uma condição de equilíbrio, o que na prática pode gerar algumas divergências em relação à microestrutura obtida em função das taxas de resfriamento empregadas. • Os sistemas binários podem ser isomorfos, onde existe um intervalo de temperatura onde coexiste uma fase sólida com a fase líquida, ou eutéticos, quando existe um ponto invariante, ou liga com composição que passa do estado sólido para o líquido em uma única temperatura. • Com o auxílio do diagrama de fases, a partir da composição da liga é possível determinar as fases, quantidades relativas e composição química para qualquer temperatura apresentada no diagrama. • A solubilidade dos componentes depende das respectivas estruturas e características dos átomos. A solubilidade em função da temperatura para determinadas ligas pode ser avaliada no diagrama de fases correspondente a cada liga. • Um dos diagramas mais importantes é o Fe-Fe3C. Este engloba ligas de aço e ferros fundidos, materiais produzidos e utilizados em diversas aplicações. Ciência e Propriedade dos Materiais (ERP24) Laboratório Virtual Os laboratórios virtuais, assim como as práticas disponíveis para esta disciplina são: POSTAGEM DOS RELATÓRIOS: após realizar as práticas e montar o relatório conforme o modelo, os acadêmicos devem postar cada arquivo no seguinte caminho: AVA > Semestres > Selecione a disciplina > Produção Acadêmica identificando a disciplina e o título da prática. RELATÓRIOS DE PRÁTICAS: o envio dos relatórios continua sendo essencial para comprovação do acesso ao Laboratório virtual, além disso, as demais avaliações poderão conter questões gerais relacionadas às práticas virtuais. OBSERVAÇÃO: os relatórios das práticas deverão ser realizados em dupla. • Concreto: Ensaio de Tração de Corpos de Prova Cilíndricos • Concreto: Ensaio de Compressão de Corpos de Prova Cilíndricos Para Reflexão! Bons Estudos!
Compartilhar