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Intertextualidade entre O diabo veste Prada e o conto Ele me bebeu Identidade é o que diferencia cada pessoa. É um conjunto de características: atitudes, preferências, jeito de ser e de se vestir que torna cada pessoa um ser único. A identidade pode ser transformada, adaptada, perdida e resgatada. Muitos motivos levam uma pessoa a mudar sua identidade: querer ser igual a uma pessoa que admira, mostrar que é melhor que o outro, querer agradar a alguém ou querer fazer parte de um mundo ao qual não pertence. Há ainda a mudança de identidade que ocorre sem que a pessoa perceba, as que são naturalmente impostas pelo ambiente e pelas pessoas com as quais convive. A identidade de Andrea é transformada durante o filme de acordo com os acontecimentos. Já nas primeiras cenas fica claro que Andrea não se importa com a moda, pega a primeira roupa do armário, não se maquia, usa o cabelo natural... Uma jornalista recém-formada que busca sucesso profissional. Andrea é contratada para trabalhar na revista Runway e acredita que esse emprego lhe abrirá muitas portas em sua área profissional. Mas ela tem de se submeter a um emprego no qual não se enquadra nos padrões profissionais, físicos, de etiqueta, moda e comportamento. Tem que se adaptar ao rigoroso e exigente mundo da moda, mundo pelo qual nunca se interessou. Ela se sente desafiada a provar a qualidade do seu trabalho, mostrar que é capaz de cumprir as regras da empresa, que é a mais profissional e dedicada funcionária. Andrea aos poucos vai transformando sua identidade. Começa a mudar suas prioridades, a se importar com marcas, com moda, começa a usar termos específicos do mundo da moda, fica bem claro se compararmos duas cenas que se passam no restaurante: A primeira cena se passa logo após ser contratada pela revista, Andrea encontra os amigos e o namorado e durante a conversa estranha o fato de seus amigos saberem quem é Miranda Priestly a editora-chefe da revista Runway e ela que é jornalista nem saber da sua existência. A segunda cena acontece após um tempo trabalhando na revista. Andrea encontra os mesmos amigos e o namorado, mas só fala sobre assuntos referentes à moda, leva presentes para os amigos e enfatiza o valor e as marcas dos presentes. Os amigos, família e o namorado a questionam sobre suas mudanças. Alegam que ela está indo de encontro aos seus valores. Ao se decepcionar com as atitudes de Miranda e perceber que estava se tornando parecida com ela, Andrea tem que optar, voltar a sua vida antiga em busca do sonho de ser jornalista, ou viver como uma nova pessoa fria, sem emoções como era a Miranda e muitas outras pessoas daquele ambiente. Ela decide abandonar esse mundo em que estava vivendo, que a encantou por um tempo e ir atrás dos seus sonhos. Recomeçar a vida com seu namorado e seguindo a carreira que escolhera e retoma a sua identidade. No conto Aurélia se encanta com Serjoca, o maquilador que a deixa bela, esconde suas imperfeições. E ainda compartilha dos mesmos gostos, sair à noite, ir a boates... Enquanto a maquia Serjoca imprime a sua identidade em Aurélia. Aurélia acreditava que sua identidade era aquela pessoa maquiada, produzida com peruca e cílio postiço. Só percebe que perdeu sua identidade quando chega a uma situação limite, quando perde Affonso para Serjoca. Nesse momento Aurélia percebe que aquele rosto maquiado era a identidade do Serjoca. Assim num confronto com a imagem refletida no espelho ela decide resgatar sua identidade perdida. Foi ao espelho. Olhou-se profundamente. Mas ela não era mais nada. — Então — então de súbito deu uma bruta bofetada no lado esquerdo do rosto. Para se acordar. Ficou parada olhando-se. E, como se não bastasse, deu mais duas bofetadas na cara. Para encontrar-se. E realmente aconteceu. No espelho viu enfim um rosto humano, triste, delicado. Ela era Aurélia Nascimento. Acabara de nascer. Nas-ci-men-to.(LISPECTOR, Clarice, 1998)
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