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SARCOIDOSE AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO - É uma doença inflamatória multisistêmica idiopática, que é causada por granulomas não caseosos nos tecidos e órgãos que podem ou não evoluir com disfunção. - “Sarcoidose” – “Sarcoma” · No início do século XX, achava-se ser uma forma benigna de sarcoma de pele, mas atualmente se sabe que são condições estruturalmente distintas · Na maioria das vezes, é autolimitada, e potencialmente não tem um péssimo prognóstico como no sarcoma de pele. - É típica do pulmão, mas podemos ter manifestações extrapulmonares - Surgimento de fibrose no granuloma – encapsulamento no granuloma · Desfuncionalização pulmonar – manifestações clínicas pelo aumento da carga de granulomas em paciente persistente – redução da área alveolar de hematose · Cicatrização inflamatória irreversível EPIDEMIOLOGIA - Predomínio em populações nórdicas (Suécia – 3% da população desenvolve) - Nos EUA, predomina em negros e tende a ser mais grave – background genético - Predomínio em mulheres - Predomínio em populações jovens, entre 20 a 40 anos, e como segundo pico por volta dos 60 anos - É raro em pacientes antes dos 18 anos - Em 5% das vezes tem uma história família forte de sarcoidose em parentes de 1ª grau - A raça (background genético) influencia as manifestações clínicas · Negros – doença pulmonar e cutânea mais grave · Japoneses – mais doença ocular e cardíaca - Exceto a Neuro-sarcoidose – aparece de forma semelhante em quaisquer raças ETIOLOGIA - É uma doença idiopática, sem uma causa completamente entendida - Suspeição dos agentes ambientais – tende acometer mais olhos, pulmões e pele - Fatores de risco – reforça a hipótese dos agentes ambientais · Exposição a inseticidas e fungos · Trabalhadores da construção civil · Epidemia de sarcoidose na década de 2000 – torres gêmeas (11/09) – bombeiros e trabalhadores expostos · Profissionais de saúde - Propionobacterium acnes – níveis elevados nos linfonodos de grande parte dos doentes de sarcoidose - Proteína mKatG – proteína micobacteriana, alta resistência à degradação, presente nos granulomas da sarcoidose · Suspeita de que seja o antígeno responsável pela fibrose e inflamação - Hipótese – representa uma reação estereotipada (granulomas não caseosos em múltiplos tecidos e órgãos) a vários agentes diferentes em indivíduos geneticamente predispostos. FISIOPATOLOGIA - Célula apresentadora de antígeno (MHC classe II) apresenta o antígeno para a célula TCD4 · Alelos do MHC talvez estejam envolvidos com a resposta imune acentuada de liberação de citocinas pró-inflamatórias: · TNF-alfa, IL-2 e INF-gama · Atração de células mononucleares para bloqueio do antígeno por quimiotaxia, o que forma os granulomas · Granulomas – células mononucleares focais concêntricas no tecido com fusão de membrana e formação de um sincício celular – “tumor de grânulos” · Células gigantes de Langerhans – sincício celular de células mononucleares, macrófagos que fundem suas membranas para englobar o antígeno · Linfócitos TCD4+ ao redor, na periféria, e que vão amplificar a resposta inflamatória · Processo persistente – formação de uma cápsula fibrótica com distorção tecidual e disfunção orgânica (5% morrem pela doença, e 95% tem bom prognóstico) · Objetivo do TTO – reduzir o encapsulamento - Efeito da imunossupressão reduz a apresentação da sarcoidose – por diminuição dos níveis de TCD4+. - TARV – produz uma síndrome de reconstituição imune (SRI) e pode desmascarar uma Sarcoidose e apresentar uma clínica de sarcoidose - Diagnóstico diferencial – sempre deve ser pesquisada, por terem uma biopsia infiltrativa granulomatosa semelhante à Sarcoidose · Micobacterioses · Micoses · Neoplasias · Beriliose - O diagnóstico de sarcoidose é em essência de exclusão MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - 1/3 dos casos são assintomáticos, e podem passar despercebidos. - O pulmão é o principal órgão acometido, e a maioria tem um raio x de tórax alterado - Raio X – adenopatia hilar bilateral e simétrica Apresentação aguda - Tem uma evolução em semanas - Duas apresentações · Síndrome de Löfgren – predomina em mulheres brancas nórdicas · Adenopatia hilar – achado radiológico · Eritema nodoso – predomínio em MMII, nódulos profundos na derme, e se caracteriza patologicamente por uma vasculite · Uveíte anterior – turvamento visual, fotofobia · Artrite – é a menos frequente · Síndrome de Heerfordt-Waldenström – descrito inicialmente em negros EUA · Febre · Aumento de parótida – intumescimento facial aguda e dolorosa a palpação que obscurece o ouvido · Uveíte anterior · Paralisia facial periférica Apresentação crônica - Queixas durante meses, e mesmos nesses casos podem ser autolimitadas - Manifestações insidiosas, e múltiplos órgãos e tecidos são acometidos - Na apresentação sintomática costuma dois ou mais órgãos acometidos: · Pulmões (em 95% dos casos) · Queixas de dispneia e tosse seca, as vezes um desconforto torácico · Prova de função pulmonar – 2/3 dos pacientes tem um padrão restritivo, 1/3 podem ter uma PFP normal, e metade um padrão de obstrução. · Raio X – a grande maioria dos portadores tem raio x alterado · Usado para caracterização e acompanhamento da doença · A TC não tem papel propedêutica superior ao RX, mas acaba se fazendo a TC em todo paciente com DPI com PFP alterado. · Escala de Scadding · Estágio 1 – Adenopatia hilar (>2cm no eixo) infiltrado · Estágio 2 – Adenopatia e infiltrado · Estágio 3 – infiltrado isolado · Estágio 4 – fibrose · O infiltrado retículo-nodular com predomínio nos lobos superiores e tem característica subpleural – após descartar causa infecciosa, a sarcoidose seria a causa mais possível. · Complicações: · Atelectasia – por um linfonodo aumentado · Micetoma – cavitações que complicam com infecção fúngica (apresentação de Hemoptise maciça · HAP – destruição de vaso causa hipertensão arterial pulmonar grave por uma fibrose avançada · Pele (em 1/3 dos casos) · Apresentação mais comum são maculopápulas infiltradas e indolores, com discromia · Eritema nodoso – vasculite de vasos dérmicos profundos – costuma ser agudo, logo tem bom prognóstico · Lúpus pernio – marcador de cronicidade, tem pior prognóstico · Maculas pápulas indolores se originam em certas regiões e vão se coalescendo acometendo principalmente – Ponte nasal, Abaixo dos olhos e Bochechas · Olhos (respondem por 15 a 30% dos casos, mas no Japão esse valor é acima de 70%) · Principal alteração com Uveíte Anterior – fotofobia, visão borrada e lacrimejamento · Em 25% dos casos pode haver uma Uveíte posterior – retinite, neurite, pan-uveite (chance maior de ficarem cegos) · Até os assintomáticos podem ficar cegos – isso exige EXAME OFTALMOLÓGICO de rotina em todos os pacientes com sarcoidose · Síndrome seca em 50% dos casos – ceratoconjuntivite (perfuração e perda de visão) seca por destruição das glândulas lacrimais e redução da produção do filme lacrimal. · Fígado, baço e medula óssea · Fígado · 60% dos portadores de sarcoidose possuem granulomas não caseosos na biópsia hepática, mas nem todos terão hepatograma alterado · Hepatograma alterado em 20 a 30% dos casos – aumento da fosfatase alcalina (FAL) · Somente 5% dos casos tem colestase grave (fígado maciçamente infiltrado – podem evoluir para cirrose) · Baço · Grande parte dos pacientes tem granulomas na biópsia · Mas apenas 5 a 10% dos casos vão ter Esplenomegalia · Na TC de abdome c/ contrastes EV – nódulos hipocaptantes em um pano de fundo hipercaptantes – alta especificidade de sarcoidose · Medula óssea · 1/3 dos pacientes terão granulomas na bíopsia · E, 20% terão anemia · A alteração de hemograma mais comum é a Linfopenia – sequestro de linfócitos para formação dos granulomas, sem Leucopenia (sem queda da produção medular) · Neurossarcoidose – em cerca de 5 a 10% dos casos tem manifestações neurológicas, sem predileção por raças · Acomete qualquer parte do SNC ou SNP pode ser afetado · Os sítios mais comuns: · Nervos cranianos (VII e II) – paralisia de Bell (Sd de Heerford a esclarecer) e paralisia do nervo óptico · Meningite basilar – os granulomas sarcoidosetende a proliferar regiões centrais e profundas · Hipotálamo anterior (Diabetes insipidus central adquirido) · Medula espinhal – síndrome de mielite transversa por sarcoidose – paraplegia, disfunção esfincteriana, tetraplegia · Exame + adequado – RM c/ gadolínio · O líquor está alterado – Pleocitose linfocitária, com elevação de PTN, Glicose normal ou reduzido · Deve-se excluir Esclerose Múltipla e Neurotuberculose (BK) · Costuma ter acometimento pulmonar associado, isso facilita a exclusão de outros diagnósticos · Fadiga por lesão de pequenas fibras periféricas · Cardiossarcoidose – é menos comum na população geral, cerca de 5%, mas no Japão acomete 25% dos pacientes. · Infiltração do miocárdio por granulomas vai levar uma falência contrátil do VE, levando a uma ICFE. · A reversão do caso pode ser feita com o tratamento antes que a fibrose se institua · Cardiopatas crônicos – quando a fibrose é irreversível · Distúrbios de condução pelos granulomas – BAVT · Arritmias ventricular – risco de morte súbita cardiogênica por Sarcoidose (uma das principais causas de morte) · Paciente com muitas ectopias ventriculares por Holter – exige um CDI · Não se pode fazer ablação nesses pacientes – lesões difusas · Diagnóstico é feito por métodos de imagem – RM ou PET-TC · Não se faz biópsia endomiocárdica – pouco sensível · Outras manifestações · Hipercalcemia – aumento da vitamina D (pela produção estimulada por enzimas dos granulomas) causa aumento da absorção de cálcio · Nefropatia – relacionada a hipercalcemia que causa uma IRA (1-2% dos casos), hipercalciúria que causa litíase urinária de repetição/calcinose. E mais raro, uma nefrocalcinose que é a deposição de sais de cálcio no parênquima renal. · Músculos-esqueléticas – em 10% dos casos pelos granulomas que produzem intensas citocinas, costuma ter mioartralgia e inflamação sistêmica. · Mama, testículos, ovários e estômago – lesões tumorais nesses órgãos, é algo raro, mas deve-se afastar sempre câncer. DIAGNÓSTICO - Como não é possível mostrar o agente etiológico da doença, o diagnóstico inclui a demonstração de: · Sinais e sintomas compatíveis · Biópsia c/ granulomas não caseosos · Exclusão de outras doenças - 1ª cenário (fácil de diagnóstico) – manifestações típicas + biópsia do órgão envolvido - 2ª cenário – Broncofibroscopia: biópsia trans-brônquica/PAAF guiada por USG · Assintomático c/ achados sugestivos (p.ex. raio x sugestivo) · Sintomático c/ biópsia do órgão envolvido inviável - Auxiliares diagnósticos – podem ajudar a corroborar, mas não confirmam diagnóstico · Aumento da ECA (pela produção dos granulomas) >2x do limite de normalidade, não é específico (não confirma DX), mas exclui neoplasia. · Aumento dos linfócitos no Lavado Broncoalveolar (LBA), com relação CD4/CD8>3,5 (imunofenotipagem), corrobora para sarcoidose. · Múltiplas lesões no PET, RM, Cintilografia Ga-67 que mostram marcadores do grau pró-inflamatórios – o clássico sinal é o Sinal do Panda – hipercaptação nas glândulas lacrimais, nasofaringe, infiltração de parótidas e alguns nas glândulas submandibulares. · Reação de Kviem-Siltzbach – não é usado na prática mais – extrato de baço no subcutâneo do paciente, e faz uma leitura em 4 a 6 semanas depois, caso o paciente tenha uma hiperproliferação de granulomas ele teria a reação positiva. TRATAMENTO - Glicocorticoides – responde bem, e é a base terapêutica · Paciente com doença multiorgânica sintomática necessitam de corticoterapia sistêmica · Início c/ Prednisona 20 a 40 mg/dia, mas na Neurosarco a dose é maior · Paciente com ICFEr grave deve iniciar com uma dose mais baixa · Mantém a dose por até 6 meses, após isso começa a fazer o desmame ao longo de 6 meses, idealmente o objetivo é a diminuição da dose<5-10 mg/dia. · Paciente com controle clínico – manter · Paciente que não tolera o corticoide, ou que não consegue fazer o desmame, pode fazer uma droga poupadora de corticoide: · Metrotrexate – é o que tem menor efeitos colaterais a longo prazo · Micofenolato · Azatioprina · Ciclofosfamida · Anti-TNF (infliximabe e adalimumabe) · Paciente c/ doença uniorgânica sintomática · Uveíte anterior, pele ou tosse – opção por glicocorticoide tópico · Outras manifestações – opção por glicocorticoide sistêmico · Paciente assintomática · Glicocorticoides sistêmicos apenas se manifestações neurológicas, cardiológicas, oftálmicas e hipercalcemia · Acompanhamento dos assintomáticos daqueles sem manifestações acimas que não faz tratamento com CG sistêmico (risco/benefício)
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