Buscar

FIlosofia da educação

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Trabalho 
e (des)humanização
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer o sentido e o significado do trabalho na constituição 
do ser humano.
 � Caracterizar tipos de trabalhos que geram a (des)humanização.
 � Identificar a raiz histórica do surgimento do trabalho desumanizador.
Introdução
Você já pensou sobre o sentido do trabalho? O trabalho é visto como 
uma ação humana. Desde os tempos mais remotos, ele constitui uma 
atividade que gera no homem uma consciência e que desenvolve suas 
habilidades motoras e mentais. Nessa concepção, se diz que o trabalho 
é fonte de humanização. É uma atividade que diferencia o ser humano 
dos outros animais. Apesar disso, há muitos trabalhadores em situações 
desumanas, enfrentando a precariedade do ambiente de trabalho, a 
exploração econômica e a negação de direitos trabalhistas, por exemplo.
Para compreender os processos que estão por trás da concepção e da 
organização do trabalho, você vai estudar como ele se constituiu em 
diferentes contextos históricos. Além disso, você vai ver como o trabalho 
sempre se relacionou com o ser humano e como ele foi afetado pela sua 
própria prática de produção, crise e diversificação.
O sentido do trabalho na constituição humana
O trabalho faz parte das relações humanas desde os primeiros passos da 
humanidade. Em primeiro lugar, ele está presente na ligação do homem com 
a natureza, como modo de subsistência. Portanto, se desenvolve na produção 
de alimentos e objetos, essencialmente vinculados à sobrevivência. Mais 
tarde, o trabalho vai adquirir sentido também na convivência com o outro, o 
que se relaciona à transformação do homem num “ser social” (MARX apud 
SEMERARO, 2013), invariavelmente ligado ao grupo pela necessidade de 
produzir algo, trocar bens e fazer sentido socialmente. 
A lógica do trabalho, independentemente do seu propósito, tem a ver 
com a aplicação de força humana sobre uma matéria-prima ou parte da 
natureza para a obtenção de um item, um produto que nasce com valor 
tanto para o produtor quanto para outras pessoas. Isso significa que, ao 
transformar uma pedra e um pedaço de madeira em lança, o homem não 
só produziu um objeto, mas um item de valor social e interesse do conjunto 
(DURKHEIM, 1999).
Essa interconexão entre trabalho, indivíduo e produção será o foco dos 
debates filosóficos ao longo do tempo, enquanto se desenvolvem formas 
mais complexas de organização social e valoração do indivíduo para o bem 
social. Mais tarde, Karl Marx (1996, p. 297) mostrará, em sua teoria, como 
o trabalho para além da necessidade será elemento fundamental e ao mesmo 
tempo perturbador da existência histórica das sociedades. Nesse sentido, se 
fazem e se refazem os modos de se obter o objeto-fim do esforço: o produto 
como elemento capaz de permitir a acumulação de capital e a alienação do 
sujeito diante do propósito do trabalho.
Essa alienação será fruto da compartimentação das tarefas durante a Re-
volução Industrial, da criação da jornada de trabalho e também do conceito de 
divisão do trabalho. Nesse contexto, um indivíduo é parte de um todo extenso 
e linear que leva à produção de algo, situação que é tema da charge mostrada 
na Figura 1 (DURKHEIM, 1999).
Karl Marx foi um dos grandes teóricos do trabalho. Segundo ele,
[...] o trabalhador torna-se servo do objeto; em primeiro lugar, pelo 
fato de receber um objeto de trabalho, isto é, de receber trabalho; em 
seguida, pelo fato de receber meios de subsistência. Desse modo, o 
objeto capacita-o para existir, primeiramente como trabalhador, em 
seguida, como sujeito físico. A culminação de tal servidão é que ele 
só pode manter-se enquanto sujeito físico, enquanto trabalhador, e só 
é trabalhador enquanto sujeito físico (MARX, 2004, p. 160).
Trabalho e (des)humanização2
Figura 1. Linha de produção.
Fonte: Thaves (1997).
Nessa conjuntura, você pode considerar que a evolução do trabalho hu-
mano não significou a constituição de uma existência digna. Pelo contrário, 
as novas formas de pensar e lidar com o trabalho positivo, negativo (servil, 
escravo, alienado) e o Estado constituído desde a Primeira Revolução Industrial 
transformaram o indivíduo num objeto de sua sociedade, desconexo de sua 
identidade e de seus desejos numa cultura que não o valida sem a produção 
(FRANCO, 2011). 
Esse momento histórico também levou a própria realidade industrial a 
uma primeira grande crise, mostrando a falha do modelo de um modo geral. 
E, dessa crise, duas revoluções vieram à tona: 
 � a exigência de direitos e melhores condições de trabalho, o que permite 
questionar a massificação da produção e o propósito;
 � o resgate do ser racional, do indivíduo que indaga se sua identidade 
pode ser desatrelada do “ser trabalhador” em sociedade e que questiona 
qual é o peso desse novo lugar.
Assim, o sentido do trabalho está em constante transição, especialmente em 
uma sociedade globalizada que rediscute continuamente a lógica do trabalho. 
Porém, essa não é uma questão simples e outras vieram a se incorporar aos 
debates sobre trabalho na modernidade:
 � a longevidade e o aumento populacional, criando mão de obra excedente;
 � as novas estruturas de trabalho, como terceirização, autoemprego (por 
conta própria), emprego informal, não remunerado, home office (trabalho 
à distância);
3Trabalho e (des)humanização
 � o fato de o ser social de hoje não ter mais uma identidade fixa e devota 
ao trabalho, mas ser múltiplo e constituído de várias vertentes (gênero, 
etnia, interesses, educação) que o levarão a ter uma relação diferenciada 
com o mercado de trabalho (SANTINELLO, 2011);
 � as novas estruturas de mercado, como o independente, o solidário, o 
justo.
Um exemplo contemporâneo dessas mudanças é a valoração da ativi-
dade não remunerada, reconhecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia 
e Estatística (IBGE) ([s.d.]) como trabalho a partir de 1990. Segundo 
a instituição, o trabalho, como considerado em suas pesquisas, tem os 
seguintes aspectos: 
a) ocupação remunerada em dinheiro, produtos, mercadorias ou be-
nefícios, como moradia, alimentação, roupas, etc., na produção de 
bens e serviços;
b) ocupação remunerada em dinheiro ou benefícios, como moradia, ali-
mentação, roupas, etc., no serviço doméstico;
c) ocupação sem remuneração na produção de bens e serviços, exer-
cida durante pelo menos uma hora na semana: em ajuda a membro da 
unidade domiciliar que tem trabalho como empregado na produção 
de bens primários (atividades da agricultura, silvicultura, pecuária, 
extração vegetal ou mineral, caça, pesca e piscicultura), conta própria 
ou empregador; em ajuda a instituição religiosa, beneficente ou de 
cooperativismo; ou como aprendiz ou estagiário;
d) ocupação exercida durante pelo menos uma hora na semana: na pro-
dução de bens do ramo que compreende as atividades da agricultura, 
silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e piscicultura, desti-
nados à própria alimentação de pelo menos um membro da unidade 
domiciliar; ou na construção de edificações, estradas privativas, 
poços e outras benfeitorias, exceto as obras destinadas unicamente 
à reforma, para o próprio uso de pelo menos um membro da unidade 
domiciliar.
Dessa forma, é possível dizer que à frente há um futuro incerto quanto às 
relações dos indivíduos com o trabalho. Afinal, surgiram diferentes mercados 
na última metade do século XX e no século XXI, no auge na era moderna, da 
globalização e da era digital.
Trabalho e (des)humanização4
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi fundada em 1919 como parte do 
Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Ela surgiu com o objetivo 
de mediar a crise internacional industrial. A OIT é a única agência das Nações Unidas 
que tem estrutura tripartite, na qual estão representantes de governos, empregadores 
e trabalhadores de 183 Estados membros.
O Brasil é signatário de várias convenções da OIT para a existência de condiçõesde 
trabalho decentes. No link a seguir, você pode ver a lista completa das convenções.
https://goo.gl/FgrPt8
O trabalho pode ser (des)humanizador?
Como você viu, o trabalho é a realização de uma atividade a fim de alcançar um 
propósito ou produzir um objeto para suprir uma necessidade. Agora considere 
a distinção entre o trabalho humano e justo e o trabalho desumano e injusto.
 � Trabalho humano/justo: envolve um ser de capacidade racional e que 
é capaz de demonstrar empatia e ser correto com outros à sua volta.
 � Trabalho desumano/injusto: a desumanidade é apontada como uma 
característica de pessoas que são insensíveis às necessidades dos outros, 
injustas e que têm comportamentos agressivos, pensamentos egoístas 
e atitudes cruéis. 
Sempre que pensar em trabalho em termos de humano ou desumano, você 
deve considerar a complexidade desses termos. Em cada um deles, por exemplo, 
cabe tanto a lógica do formal quanto a do informal, pois a realização de um 
trabalho em si não conota intenção, mas a sua realização ou aplicabilidade 
subsidiada por uma intenção humana, sim. Como exemplo, você pode consi-
derar o trabalho infantil, nos termos e regulamentação da lei.
No Brasil, se proíbe qualquer trabalho a menores de 16 anos de idade, 
salvo na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos (Lei nº 10.097, de 19 
de dezembro de 2000). Nesse último caso, é permitido apenas estágio, com 
registro e acompanhamento, por quatro horas/dia sem prejuízo escolar. Assim, 
são consideradas desumanas e injustas todas as formas (diretas/análogas) 
5Trabalho e (des)humanização
https://goo.gl/FgrPt8
de escravidão, utilização e/ou recrutamento forçado para atividades ilícitas 
e que coloquem em risco a saúde do menor de idade (Convenção n 182 da 
OIT e Decreto nº 3.597/2000). É proibido, portanto, estágio com registro que 
passe do período previsto em lei, vindo inclusive a vigorar em dias proibidos 
(sábado e domingo).
Apesar da legislação, o trabalho infantil ainda é muito comum. Ao contrário 
do que você pode imaginar, ele infelizmente acontece no mercado formal de 
modo geral, e não apenas no informal ou no não remunerado. É importante 
você notar que no espaço formal de trabalho o trabalhador está sujeito a 
relações desrespeitosas. Muitos empregadores agem, direta ou indiretamente, 
desrespeitando os direitos dos funcionários como cidadãos e trabalhadores. 
Assim, a atitude correta ou incorreta, diante ou não das leis, é fruto das 
relações humanas estabelecidas frente à realização de um trabalho. Logo, se 
há um explorador, também existe uma pessoa explorada.
Geralmente, essas relações desiguais não são amplamente denunciadas por 
quem as sofre. Isso ocorre por inúmeros motivos: medo, vergonha, necessidade 
econômica. Ao mesmo tempo, a estrutura do Estado também não oferece 
rapidez ou segurança no atendimento às pessoas que sofrem abusos (BRASIL, 
2013). Não por acaso, especialmente no último século ocorreram as maiores 
mudanças no mercado de trabalho: a regulamentação de leis trabalhistas, os 
mecanismos de denúncia e especialmente a capacidade de captar dados para 
elaborar quadros de avaliações e rankings que podem ser acompanhados por 
qualquer pessoa interessada. Nesse sentido, você pode considerar os esforços 
do IBGE, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), do Departa-
mento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e de 
outros órgãos, como a Oxfam. Tais esforços permitem compreender cada vez 
mais e melhor a situação não apenas do mercado em suas relações flutuantes 
(admissão e desligamentos voluntários, involuntários, ocupação formal e 
informal, etc.), mas das desigualdades que impõem barreiras de acesso a 
grupos sociais específicos.
Trabalho (des)humanizante 
Essa concepção de trabalho, de modo geral, tem a ver com condições incor-
retas e indignas oferecidas por um empregador para o seu funcionário, algo 
muito comum e persistente na época da Revolução Industrial. Nesse período, 
as pessoas não tinham direitos e eram ameaçadas com a perda do emprego, 
o que as colocava em estado contínuo de medo e as levava a aceitar todo e 
Trabalho e (des)humanização6
qualquer tipo de assédio. Você também deve ter em mente a pior forma de 
trabalho forçado da humanidade, a escravidão. 
Porém, nos dias de hoje, a alienação do trabalhador e os outros fatores cau-
sadores de angústia ainda estão muito presentes no cotidiano. Isso ocorre pois 
a mudança no campo laboral (do uso massivo humano para o uso massivo 
eletrônico) vai gerar para o trabalhador uma ocupação indesejada, desgastante e 
cansativa por inúmeros fatores, o que o levará ao sofrimento. E ainda há aqueles 
últimos remanescentes de uma realidade trabalhista linear que, em breve, via 
aposentadoria, perderão o sentido de sua existência diante de uma sociedade 
que não deseja mais sua capacidade para o trabalho (NORONHA, 2003).
Segundo os órgãos de combate a essas práticas, do Ministério do Trabalho 
à ONU e todos os órgãos relacionados, retirar a humanidade da pessoa é 
coisificar a sua condição de ser humano. Nesse sentido, reduzi-la a objeto/
máquina viva de produção, impedir seu direito de ir e vir e desrespeitar a sua 
humanidade perante outros durante o período de trabalho e execução de suas 
atividades são práticas efetivamente indicadoras de trabalho desumanizante.
A seguir, você pode ver uma lista dos tipos de trabalhos e condições tra-
balhistas que se encaixam no conceito desumanizante, não importando se são 
relações formais ou informais de qualquer espécie (BRASIL, [s.d.]).
 � Trabalho escravo e trabalho forçado ou análogo à escravidão. Em to-
dos, pelos menos um tipo de coação (moral, psicológica ou física) está 
presente.
 � Assédio moral, seja ele assédio moral vertical descendente (do superior 
para o subordinado), assédio moral organizacional (desde acidentes 
físicos a sofrimentos psíquicos), assédio moral horizontal (de colegas 
do mesmo nível hierárquico na empresa) ou assédio moral vertical 
ascendente (por um ou mais subordinados a um superior) (XAVIER 
et al., 2008).
 � Assédio sexual.
 � Discriminação.
Apesar do que pode parecer, nenhuma dessas práticas foi abandonada 
por completo pela humanidade. Tanto no meio rural como no meio urbano, a 
insistência da produção de capital sob coerção é algo real, latente e que deve 
ser extensamente combatido. Afinal, são situações em que ocorre constrangi-
mento, agressão e impedimento do trânsito de uma pessoa, o que a prejudica 
psicologicamente e até de modo físico, sendo necessário o afastamento do 
7Trabalho e (des)humanização
trabalho, o abandono ou a demissão do emprego, bem como, em alguns casos, 
o resgate do ambiente de cárcere (XAVIER et al., 2008).
Entretanto, você não pode se esquecer das relações cotidianas de trabalho, 
já que muitas empresas apresentam uma cultura empresarial bem diferente 
da que aparentam ter. Essas relações também irão causar desgaste emocional, 
perda do estímulo e rotatividade extrema. 
Para aprender ainda mais sobre as relações de trabalho, você pode assistir ao docu-
mentário O Verdadeiro Custo, de 2015, que mostra o lado desumano do mercado da 
moda. A direção é de Andrew Morgan.
Trabalho humanizante 
A concepção de trabalho justo e humano, de modo geral, tem a ver com:
 � o respeito aos direitos do trabalhador;
 � um ambiente satisfatório e estimulante de trabalho;
 � a nova identidade social forjada diante da crise trabalhista e da era tec-
nológica, segundo a qual o trabalhador é um ser social em movimento, 
sem garantias de longo prazo. 
Essa nova realidade de mercado vai afetar a geração que usa as ferramentas 
tecnológicas como complemento de suas atividades formais e sazonais ou 
informais. Como você sabe, já não há nessas novas gerações o desejo de se 
fixar num emprego (e não mais “trabalho”) que não atenda a seus interesses 
para além do econômico. Ou, ainda, o interesse desses indivíduos é empre-
ender e estabelecer consigo mesmos outra relação de trabalho, produtorade 
um objeto que os satisfaz (MANNRICH, 2005). 
Já no caso do mercado, cada vez mais pequenos empreendedores vêm 
construindo a sua própria lógica empresarial: pequena, justa e menos angus-
tiante, exatamente na medida de seu nicho de atendimento. É aí que reside 
parte do mercado independente (pequenos negócios) e também o comércio 
justo (Figura 2), que cada vez mais têm trabalhado para se constituírem como 
alternativas de consumo consciente. A ideia é promover, por meio do diálogo 
Trabalho e (des)humanização8
com o cliente, uma relação equitativa com a linha de produção e fornecimento. 
Há ainda os selos de adequação, que remetem a um novo tipo de marketing e 
mercado sustentável que deseja ser reconhecido por suas práticas diferenciadas 
(NORONHA, 2003).
Figura 2. Princípios do comércio justo.
Fonte: Adaptada de World Fair Trade Organization (2016).
Sob essa lógica, você pode verificar que formas justas e conscientes de 
comércio e relações trabalhistas em ambientes de clima organizacional po-
sitivos são as chaves para relações de trabalho mais saudáveis e inteligentes.
O comércio justo (fair trade) pode e deve ser reconhecido como um exemplo de 
mercado de trabalho humanizante. Ele surgiu na década de 1960 na Europa e tem 
como essência práticas responsáveis com o meio ambiente, uma produção e um 
consumo sustentáveis e, ainda, salário justo e condições de trabalho dignas (CANTALICE 
et al., 2010). 
O trabalho desumanizador na história 
O conceito de trabalho desumanizador está relacionado ao conceito de trabalho 
alienado de Karl Marx. Tal conceito estabelece que a produção de um indivíduo 
inserido em uma jornada de trabalho dentro do capitalismo origina uma imensa 
9Trabalho e (des)humanização
quantidade de produto que é externa ao seu interesse de subsistência. Essa 
alteração na intenção de produção faz com que Marx acredite que o indivíduo 
deixa de ser humano para ser um objeto de uma engrenagem maior, à qual 
está preso e onde é alienado do seu real objetivo, ou seja, ser o sujeito de uma 
produção suficientemente necessária ao seu propósito e aprendizado. Assim, 
para Marx, o ser humano não é livre de fato, e sim um escravo de uma relação 
de trabalho estranha ao seu princípio.
Para Marx, que viu a Revolução Industrial em seu auge, nessa nova condição 
o trabalhador deixou de ter um propósito para se tornar um ser social oprimido 
e obrigado a fazer parte da engrenagem capitalista de produção massiva para 
sobreviver. Nessa engrenagem, ele se sujeita a jornadas extensas e a produzir 
muitos bens para terceiros, porque não é mais dono ou possui acesso à natureza. 
Logo, a sua única opção é se alienar do propósito original da prática de trabalho 
para a obtenção de um novo bem de valor social, a propriedade privada. Esta 
é o novo objeto de interesse desse indivíduo, que ainda não é consciente da 
troca desigual em que está inserido como produtor de uma riqueza massiva 
que jamais compensará a sua relação de troca (MARX, 1996).
Essa relação que Marx julga desigual será o cerne do capitalismo e da 
acumulação de capital em maior ou menor grau. A acumulação de capital, 
portanto, é o fruto direto do trabalhador, apropriado pelo empregador. Além 
disso, depois de uma jornada extensa de produção, o trabalhador na verdade 
não produz um item, um produto, e sim uma fração. Isso faz com que deixe 
de ser o “ser humano” que antes era capaz de produzir um bem por completo 
e ao final do processo estar satisfeito.
De acordo com Marx (1964, p. 161):
A alienação do trabalhador no objeto exprime-se assim nas leis da eco-
nomia política: quanto mais o trabalhador produz, tanto menos tem de 
consumir; quanto mais valores cria, tanto mais sem valor e mais indigno 
se torna; quanto mais refinado o seu produto, tanto mais deformado 
o trabalhador; quanto mais civilizado o produto tanto mais bárbaro o 
trabalhador; quanto mais poderoso o trabalho, tanto mais impotente 
se torna o trabalhador; quanto mais brilhante e pleno de inteligência o 
trabalho, tanto mais o trabalhador diminui em inteligência e se torna 
servo da natureza.
Trabalho e (des)humanização10
Essa realidade capitalista, apesar de entrar em crise ciclicamente por sua 
produção extensiva, não será abandonada, pois em seu cerne está a acumulação 
do capital e o direito à propriedade, que é exatamente o que atribui valor ao 
indivíduo trabalhador na sociedade. Tal indivíduo não percebe que seu capital 
acumulado para o consumo é pequeno diante da intensa produção que de 
tempos em tempos atinge a sua capacidade máxima, entra em crise e então 
retorna ao seu lugar original, a linha de montagem. Lá, é preciso conter e cortar 
o trabalhador excedente, não mais sujeito, mas um item, um maquinário que 
agora onera a cadeia produtiva e diminui o lucro do empregador.
Essa situação, nos tempos atuais, é bem evidente quando as empresas, 
especialmente de automóveis e eletrodomésticos, pausam o funcionamento 
de suas linhas de produção, dando férias extensas e instituindo planos de 
demissão voluntária para os seus funcionários.
Portanto, para além da época de Marx, o trabalho desumanizador é uma 
realidade dos tempos atuais, em que há uma crise generalizada. Não apenas 
surgiram novas estruturas de trabalho e produção, mas também existe um 
problema maciço quanto ao capital humano que, além de continuar alienado 
da produção, agora também supre a capacitação e assume o discurso de fle-
xibilidade para ser integrado a qualquer possibilidade de realizar trabalho, 
seja ele formal ou informal. Isso leva novamente, em essência, ao ser social, 
validado pelo que produz, agora até de modo intenso devido às novas tecno-
logias que o tornam tão alienado ou até mais desumanizado do que era na 
Primeira Revolução Industrial e nas subsequentes.
Você já deve ter ouvido falar que a tecnologia pro-
longa a jornada de trabalho, não é? No link a seguir, 
você pode acessar uma matéria da Folha de São Paulo 
que mostra como o uso de smartphones, iPads, com-
putadores portáteis e intranet provoca debates sobre 
os efeitos da tecnologia na vida dos trabalhadores.
https://goo.gl/uGVZbf
Outro fato que tem sido amplamente debatido diante das novas relações 
de trabalho é o peso cada vez maior do trabalho desumanizador sobre a saúde 
do indivíduo. Afinal, hoje há uma precarização não advinda apenas das novas 
11Trabalho e (des)humanização
https://goo.gl/uGVZbf
formas de trabalho, mas da sua falta de parâmetros e do modo com ocupa a 
vida do trabalhador alienado. Este, por sua vez, sofre cada vez mais (psico-
lógica e fisicamente) o peso deste novo e incerto momento social (BRASIL; 
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE, 2001).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada vez mais tem se iden-
tificado a relação direta entre transtornos mentais do comportamento e relações 
de trabalho desumanizantes (BRASIL; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA 
DE SAÚDE, 2001). Já há diversas doenças reconhecidas pelo Catálogo Inter-
nacional de Doenças (Grupo V da CID–10) e também pela Previdência Social 
(Decreto nº 3.048/99). Destacam-se as seguintes (Portaria/MS n° 1.339/1999):
 � demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais 
(F02.8);
 � delirium, não sobreposto à demência, como descrita (F05.0);
 � transtorno cognitivo leve (F06.7);
 � transtorno orgânico de personalidade (F07.0);
 � transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado (F09.–);
 � alcoolismo crônico (relacionado ao trabalho) (F10.2);
 � episódios depressivos (F32.–);
 � estado de estresse pós-traumático (F43.1);
 � neurastenia (inclui síndrome de fadiga) (F48.0);
 � outros transtornos neuróticos especificados (inclui neurose profissional) 
(F48.8);
 � transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não orgânicos (F51.2);
 � sensação de estar acabado (síndrome de burn-out, síndrome do esgo-
tamento profissional) (Z73.0) — exclusiva do ambiente de trabalho, 
reconhecida em 1970.
Essas questões associadas ao mercado de trabalho recaem sobre o tra-
balhadorcom um imenso peso. Elas comprovam a sua relação alienada e 
desumanizante com o trabalho que exerce efetivamente para garantir sua 
subsistência, porém em termos não saudáveis. Isso, por sua vez, se reflete cada 
vez mais no desgaste físico e, principalmente, emocional do trabalhador (em 
níveis nunca antes vistos). Como você pode notar, há uma descrença genera-
lizada no mundo do trabalho como meio para se destacar ou garantir alguma 
segurança econômica. Todos esses fatores demonstram o quanto o trabalho 
desumanizante é caro ao ser social, que cada vez mais tem sido comprimido 
numa existência mínima e estressante, cujos efeitos futuros dentro da lógica 
capitalista ainda não são previsíveis. 
Trabalho e (des)humanização12
BRASIL. Ministério da Saúde; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. Doenças 
relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. 
Brasília: Ministério da Saúde, 2001. c. 10, p. 161-193. (Série A. Normas e Manuais 
Técnicos; n.114). Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/ma-
nuais/seguranca%20e%20saude%20no%20trabalho/Saudedotrabalhador.pdf>. 
Acesso em: 11 maio 2018.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Assédio moral e sexual no trabalho. Brasília, 
2013. Disponível em: <http://trabalho.gov.br/publicacoes-do-trabalho/trabalho/
outros-assuntos-estudos/item/271-cartilha-assedio-moral-e-sexual-no-trabalho>. 
Acesso em: 11 maio 2018.
BRASIL. Ministério Público do Trabalho. O trabalho escravo está mais próximo 
do que você imagina. [Brasília, s.d.]. Cartilha sobre trabalho escravo e análogo 
à escravidão. Disponível em: <http://portal.mpt.mp.br/wps/wcm/connect/por-
tal_mpt/11344af7-b9d7-4fcc-8ebe-8e56b5905129/Cartilha%2BAlterada_3-1.
pdf ?MOD=A JPERES&CONVERT_TO =url&CACHEID=ROOT WORKSPACE.
Z18_395C1BO0K89D40AM2L613R2000-11344af7-b9d7-4fcc-8ebe-8e56b5905129-
kQBZvTc>. Acesso em: 11 maio 2018.
DURKHEIM, É. Da divisão do trabalho social. São: Martins Fontes, 1999. 
FRANCO, T. Alienação do trabalho: despertencimento social e desrenraizamento 
em relação à natureza. Caderno CRH, v. 24, n. esp. 1, p. 171-191, 2011. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/ccrh/v24nspe1/a12v24nspe1.pdf>. Acesso em: 11 maio 2018. 
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Conceitos. [s.d.]. Disponível 
em: <https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indi-
cadoresminimos/conceitos.shtm>. Acesso em: 11 maio 2018.
MANNRICH, N. Empregabilidade, ocupação e novas formas de trabalho. Revista da 
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, v. 100, p. 103-119, 2005. Disponível 
em: <https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67666/70274>. Acesso em: 11 
maio 2018. 
MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Lisboa: Edições 70, 1964.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1996. v. 1, 
tomo 1. Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_fontes/acer_marx/
ocapital-1.pdf>. Acesso em: 11 maio 2018.
NORONHA, E. G. “Informal”, ilegal, injusto: percepções do mercado de trabalho no 
Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 18, n. 53, p. 111-129, 2003. Disponível em: 
<http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v18n53/18081.pdf>. Acesso em: 11 maio 2018.
SANTINELLO, J. A identidade do indivíduo e sua construção nas relações so-
ciais: pressupostos teóricos. Revista de Estududos da Comunicação, v. 12, n. 
28, p. 153-159, 2011. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/index.php/
comunicacao?dd99=pdf&dd1=5801>. Acesso em: 11 maio 2018.
13Trabalho e (des)humanização
http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/ma-
http://trabalho.gov.br/publicacoes-do-trabalho/trabalho/
http://portal.mpt.mp.br/wps/wcm/connect/por-
http://www.scielo.br/pdf/ccrh/v24nspe1/a12v24nspe1.pdf
https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indi-
https://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67666/70274
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_fontes/acer_marx/
http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v18n53/18081.pdf
http://www2.pucpr.br/reol/index.php/
SEMERARO, G. A concepção de “trabalho” na filosofia de Hegel e de Marx. Educação 
e Filosofia, v. 27, n. 53, p. 87-104, 2013. Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.
php/EducacaoFilosofia/article/view/14991/12680>. Acesso em: 11 maio 2018.
THAVES. Charge – Frank e Ernest. 1997. Disponível em: <https://enem.estuda.com/
questoes/?resolver=&prova=&q=&inicio=3&q=&cat=236&subcat%5B%5D=2630
&di ficuldade=>. Acesso em: 11 maio 2018.
XAVIER, A. C. H. et al. Assédio moral no trabalho no setor saúde no Rio de Janeiro: 
algumas características. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 33, n. 117, p. 15-
22, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbso/v33n117/a03v33n117.pdf>. 
Acesso em: 11 maio 2018. 
WORLD FAIR TRADE ORGANIZATION. Los 10 principios do comercio justo. 2016. Dis-
ponível em <http://wfto-la.org/comercio-justo/wfto/10-principios-comercio- justo/>. 
Acesso em: 11 maio 2018.
Leituras recomendadas
BRASIL. Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previ-
dência Social, e dá outras providências. Diário Oficial, Brasília, seção 1, 7 maio 1999. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.
htm>. Acesso em: 11 maio 2018.
DAL ROSSO, S. Jornada de trabalho: duração e intensidade. Ciência e Cultura, v. 58, n. 4, p. 
31-34, 2006. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v58n4/a16v58n4.
pdf>. Acesso em: 11 maio 2018.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenções. [2018]. Disponível 
em: <http://www.ilo.org/brasilia/convencoes/lang--pt/index.htm>. Acesso em: 11 
maio 2018.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO; BRASIL. Ministério Público do Tra-
balho. Assédio sexual no trabalho: perguntas e respostas. Brasília, 2017. Disponível em: 
<http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/
documents/publication/wcms_559572.pdf>. Acesso em: 11 maio 2018.
Trabalho e (des)humanização14
http://www.seer.ufu.br/index.
https://enem.estuda.com/
http://www.scielo.br/pdf/rbso/v33n117/a03v33n117.pdf
http://wfto-la.org/comercio-justo/wfto/10-principios-comercio-justo/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.
http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v58n4/a16v58n4.
http://www.ilo.org/brasilia/convencoes/lang--pt/index.htm
http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para 
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

Continue navegando

Outros materiais