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CONSTITUCIONALISMO-DEMOCRACIA-E-CIDADANIA (2)

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1 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 
2 SOCIEDADE ............................................................................................... 3 
2.1 Conceitos de sociedade na filosofia e nas ciências sociais.................. 6 
2.2 Perspectivas sociológicas contemporâneas ......................................... 7 
3 CIDADANIA ................................................................................................ 9 
4 CONSTITUCIONALISMO ......................................................................... 11 
4.1 Evolução histórica do constitucionalismo: do antigo ao contemporâneo
 12 
4.2 Pós-constitucionalismo ou neoconstitucionalismo .............................. 16 
4.3 O constitucionalismo no Brasil ........................................................... 19 
5 CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA ............................................. 22 
6 PODER CONSTITUINTE E SOBERANIA................................................. 26 
7 Poder constituinte X poderes constituídos. ............................................... 29 
7.1 Espécies de Poder Constituinte: ........................................................ 29 
8 DEMOCRACIA: PARTICIPAÇÃO E CIDADANIA ..................................... 34 
8.1 Modelos de democracia ..................................................................... 38 
8.1.1 Democracia direta ........................................................................ 38 
8.1.2 Democracia representativa ........................................................... 40 
8.1.3 Democracia participativa .............................................................. 42 
9 CONSTITUCIONALISMO, DEMOCRACIA E CIDADANIA ....................... 44 
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 50 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
2 SOCIEDADE 
 
Fonte: brasilescola.uol.com.br 
Para Mendonça (2018), o conceito de sociedade pressupõe convivência e 
atividade conjunta do homem, ordenada ou organizada de forma consciente. Os 
membros de uma sociedade podem ser de diferentes grupos étnicos ou pertencer a 
diferentes níveis ou classes sociais. Uma sociedade é caracterizada pelos interesses 
em comum entre os membros e as suas preocupações em relação ao mesmo objetivo. 
O conceito de sociedade é conflitante com o de comunidade — organização do 
homem em coletividade. Esse conflito gerou diferentes interpretações de pensadores 
a respeito do que caracteriza uma sociedade. 
O estudo da sociedade começa na origem da natureza do homem, que, além 
de racional, é principalmente social. Na sua origem, a sociedade foi criada para 
satisfazer às necessidades vitais do homem e desenvolver plenamente todas as suas 
faculdades e poderes. Essa predisposição, chamada de apetite societatis, levou o 
homem à formulação dessa vivência em coletividade. Por essa razão, o surgimento 
da sociedade foi determinado pelas condições de sociabilidade natural do homem, 
 
 
 
 
4 
 
 
 
decorrentes da própria esfera da vida, seja da vida instintiva, como o instinto de 
alimentação, reprodução, entre outros, ou da necessidade de comunicação, 
organização e convivência (MENDONÇA, 2018). 
A sociedade tem características iniciais que se dividem entre a sua etapa de 
formação e evolução, que dizem respeito à diferenciação e separação do conceito de 
Estado e, posteriormente, ao conceito de empresa. 
Do conceito abordado por Aristóteles (2010), os termos comunidade e 
sociedade são complementos, sendo a comunidade inserida no conceito de 
sociedade, pois a filosofia grega, à época, não conhecia a distinção entre comunidade 
e sociedade como duas categorias conceituais diferentes de conhecimento 
sociológico. Essa distinção de duas formas originais de comunidade ou sociedade, a 
doméstica ou econômica e o cidadão ou político, foi decisiva para poder delinear o 
conceito de sociedade. O mesmo ocorreu com a observação adicional de que a lei é 
radicalmente inseparável de ambas as formas de comunidade ou sociedade, porque 
tem um caráter constitutivo em ambos. 
Se, pelo estudo da sociedade no pensamento grego, o conceito é delineado na 
teoria ética e política, no pensamento romano, isso ocorre no campo jurídico e, mais 
especificamente, no campo da prática jurídica e das relações comerciais, 
provavelmente por causa da prática comercial helenística. Devido a isso, não só o 
conceito é aperfeiçoado, mas também a palavra que será consagrada em uma 
infinidade de línguas: a sociedade. 
De acordo com essa origem, as sociedades no mundo jurídico romano se 
configuraram primeiro como uma associação de várias pessoas, com um interesse 
comum. Não tiveram, portanto, relação primariamente com o bairro ou com o espaço 
vital, mas com um acordo de vontades, com um contrato. A partir disso, no Direito 
Privado romano, a sociedade era constituída por um contrato consensual e sem forma, 
em que várias pessoas se ligavam entre si para fornecer uma propriedade para lucro, 
que será então distribuído conforme acordado. Nessa filosofia, o conceito de 
sociedade, por decorrer da vontade de partes, para fins de obter lucro ou vantagem, 
tem um conceito bastante mercantil (MENDONÇA, 2018). 
 
 
 
 
5 
 
 
 
A partir deste conceito evoluiu a sociedade civil e a sociedade humana, 
surgindo através da definição do direito civil e do direito nacional. Portanto, existe uma 
sociedade mais completa e dividida por leis, direitos e costumes. 
Esta escola é uma síntese da ética e da doutrina política de Aristóteles, por um 
lado, e da doutrina do direito e da ética romana, por outro. Ela existiu pacificamente 
na ética e no pensamento político posteriores até meados do século XVII. Mesmo que 
a unidade religiosa e a unidade política sejam rompidas, a sociedade ainda mantém 
suas ideias tradicionais, divididas em várias categorias. Desde então, o que mudou foi 
a estrutura da sociedade civil ou sociedade política, que hoje também é chamada de 
sociedade pública. 
Este novo conceito trouxe consigo uma relação entre a sociedade civil e o 
Estado. A sociedade civil tem significados novos e mais precisos. Com ela, a 
sociedade política não é mais entendida como o ser humano ou fundamento das 
organizações políticas. As organizações políticas se configuraram recentemente 
como um país e amplamente reconhecido pela organização, mas como um conjunto 
de pessoas coexistindo no território de um país. Portanto, eles constituem uma 
unidade cujos interesses não são apenas inconsistentes, mas muitas vezes se opõem 
aos interesses de organizações políticas ou do país. Graças ao apoio dos teóricos do 
Iluminismo, a Revolução Francesa contribuiu para este novo conceito social e 
politicamente, assim como a sociedade civil, que alcançou uma expressão dogmáticana “Declaração dos Direitos Universais do Homem e do Cidadão”. 
Assim, nas palavras de Mendonça (2018) a sociedade civil se tornou uma 
sociedade de classes ou propriedades, cujo determinante fundamental são as 
relações de produção da vida material, isto é, a base econômica. Dentro da sociedade 
assim constituída, opera uma série de tendências relacionadas aos indivíduos que a 
compõem, tendências que, pouco a pouco e superando os interesses particulares, 
configuram certa ciência social ou modo de pensar e de opinião. Esse modo comum 
de pensar e expressar opiniões, na medida em que visa fixar e organizar os assuntos, 
constitui o núcleo de cada sociedade e, ao mesmo tempo, permite diferenciá-la dos 
outros, mesmo aqueles mais próximos a ela. Também tem a qualidade de ser 
 
 
 
 
6 
 
 
 
histórico, no sentido mais radical da palavra; o que implica que não é passivo ou 
estático, isto é, imóvel, mas que é ativo e dinâmico, isto é, que está em contínua 
mudança. 
2.1 Conceitos de sociedade na filosofia e nas ciências sociais 
O conceito de sociedade civil está presente quando aliamos o Estado. Na 
composição de sociedade civil versus Estado, temos a figura da sociedade civil como 
a relação entre indivíduos, grupos e classes sociais, os quais se desenvolvem em 
paralelo com as relações de poder da força estatal (MENDONÇA, 2018). 
Para a filosofia, a sociedade civil adere a um conjunto de valores, portanto o 
surgimento de uma era depende da distribuição ou ordenação de seus valores. Esses 
valores representam o mundo do dever-ser, a base das normas ideais, e o mundo 
ideal no qual a humanidade sobrevive está incorporado em comportamento e em 
formas de comportamento e em realizações de civilização e de cultura, ou seja, em 
bens que representam o objeto das ciências culturais. 
Essa ideia da sociedade, de modo geral, não se reduz aos indivíduos que a 
formam, mas sim envolve a teoria de uma consciência coletiva e superior à 
consciência dos indivíduos componentes, formando um todo uno e diverso, que não 
seria explicável tão somente pela simples soma dos indivíduos que se congregam 
para viver em comum e sim do elemento distintivo do fato social coletivo. A ideia de 
sociedade, longe de constituir um valor originário e supremo, acha-se condicionada 
pela sociabilidade do homem, isto é, por algo inerente a todo ser humano e seus 
valores (MENDONÇA, 2018). 
A sociedade civil, dessa maneira, visa controlar e resolver as contradições, 
utilizando-se de recursos de persuasão e pressão, baseando-se na hegemonia e no 
consenso, ou seja, é na sociedade civil que o Estado controla os problemas 
econômicos, ideológicos, sociais e religiosos, intervindo como mediador. A sociedade 
civil, dessa forma, é constituída pelas forças sociais, as quais se organizam, associam-
se e se mobilizam pelo interesse da coletividade (MENDONÇA, 2018). 
 
 
 
 
7 
 
 
 
Assim, conforme preceitua Mendonça (2018) a sociedade civil é constituída por 
um espaço da vida social organizada que é independente do Estado, apresentando 
uma autogestão voluntária e, de certa forma, autônoma, mas limitada por uma ordem 
legal e normas. A sociedade civil se situa num campo entre a esfera privada e o 
Estado. Assim, exclui a vida familiar e individual, a atividade interna dos, as empresas 
particulares voltadas para o lucro e os esforços políticos para controlar o Estado. Os 
indivíduos da sociedade civil necessitam da proteção de uma ordem legal 
institucionalizada para preservar sua autonomia e liberdade de ação. Dessa maneira, 
a sociedade civil não somente restringe o poder do Estado, mas também legitima a 
autoridade estatal quando esta se baseia nas regras da lei. 
2.2 Perspectivas sociológicas contemporâneas 
A sociedade civil e as organizações da sociedade civil têm o mesmo potencial 
para o desempenho de suas funções, características estruturais internas e intenções. 
Diante da sociedade moderna, uma das características mais importantes está 
relacionada aos objetivos e métodos dos grupos da sociedade civil. Nesse caso, como 
a sociologia trouxe a prática democrática, aumentaram muito as chances de 
estabelecimento da democracia para o desenvolvimento estável da sociedade. 
Dessa forma, à medida que um grupo busca conquistar o Estado ou dominar 
outros que disputam o mesmo espaço de atuação, ou pela não aceitação de normas 
legais impostas pelo Estado Democrático, o próprio caráter internamente democrático 
da sociedade civil afeta o grau no qual podem socializar seus participantes em formas 
de conduta democrática ou antidemocrática. Se os indivíduos ou organizações que 
constituem a sociedade civil são as grandes escolas livres da democracia, então eles 
devem operar democraticamente em seus processos internos de decisão, elaboração 
de políticas e de escolha de seus dirigentes. 
Por tudo isso, segundo Mendonça (2018) a sociedade civil não é uma simples 
categoria residual, sinônimo de sociedade ou de algo que não é o Estado ou o sistema 
político formal. Além de serem voluntárias, autogeridas, autônomas e autorreguladas, 
 
 
 
 
8 
 
 
 
as organizações da sociedade civil são diferentes de outros grupos sociais em vários 
aspectos, uma vez que a sociedade civil tem a finalidade pública antecedente à 
privada. Ainda, a sociedade civil deve se relacionar com o Estado de certa forma, mas 
não com o objetivo de obter o poder formal ou o direcionamento do poder estatal. Do 
contrário, a sociedade civil busca do Estado concessões, benefícios, alterações 
políticas, assistência ou compromissos, por meio de suas organizações e movimentos 
sociais que tratam de mudar a natureza do Estado, qualificando-se como parte da 
sociedade civil. Tais esforços têm por intuito o bem público e não a intenção de 
alcançar o poder estatal para o grupo em si. 
Outra característica é que a sociedade civil implica diversidade. Quanto mais 
pluralista se torna a sociedade civil sem se fragmentar, mais benefícios trará para a 
democracia. Essa diversidade auxilia os grupos a sobreviver na sociedade civil e os 
obriga a aprender a cooperar e articular entre si. À medida que uma organização 
busca monopolizar um espaço funcional ou político na sociedade, sustentando que 
concebe a única via legítima, contradiz a natureza pluralista e orientada ao mercado 
da sociedade civil. Portanto, o pluralismo dentro de um determinado setor, como os 
direitos humanos, tem efeitos positivos, pois a competição entre diferentes 
associações num mesmo setor pode contribuir para garantir a responsabilidade e 
representatividade, proporcionando aos membros a possibilidade de mudar para 
outras organizações se aquela a que pertencem não cumprir esses requisitos 
(MENDONÇA, 2018). 
Finalmente, o fator mais importante para as novas perspectivas da sociedade 
é a concretização da democracia e a institucionalização política da sociedade civil. 
Este processo é uma forma de a democracia se expandir e legitimar perante os 
cidadãos, o que significa que mudanças no comportamento dos indivíduos e das 
instituições normalizam as políticas democráticas e reduzem a incerteza. Em outras 
palavras, a sociedade civil desempenha um papel importante no processo de 
construção e consolidação da democracia, mantendo a autonomia e não se 
separando do Estado. Quanto mais ativa a sociedade civil, a institucionalização, a 
 
 
 
 
9 
 
 
 
democratização e os recursos efetivos das relações com o Estado, maior a 
contribuição para a democracia. 
3 CIDADANIA 
 
Fonte: www.educabras.com 
Os termos “cidadão” e “cidadania” possuem diferentes sentidos. Tais sentidos 
mudam continuamente, sendo concebidos e vivenciados de maneiras distintas nos 
diferentes tempos, espaços e culturas. Assim, não se pode pensar o conceito de 
cidadania como estanque (PINSKY; PINSKY, 2005), pois ele está em contínua 
interação com práticas desenvolvidas em sociedade. Esse conceito remeteà 
Antiguidade Clássica, período em que a categoria de cidadão era conferida apenas a 
alguns sujeitos. Na modernidade e, posteriormente, por meio da filosofia iluminista, o 
termo foi incorporado definitivamente à experiência política (BOTELHO; SCHWARCZ, 
2012). 
Carvalho (2016) parte do modelo analítico proposto por Thomas Marshall — a 
tríade de direitos civis, políticos e sociais. Marshall pressupõe uma lógica histórica e 
 
 
 
 
10 
 
 
 
sequencial para o desenvolvimento desses direitos (inicialmente civis, depois políticos 
e, por fim, sociais). Carvalho (2016), por sua vez, pondera que a experiência brasileira 
seguiu outro percurso: 
O cidadão pleno seria aquele que fosse titular dos três direitos. Cidadãos 
incompletos seriam os que possuíssem apenas alguns dos direitos. Os que 
não se beneficiassem de nenhum dos direitos seriam não cidadãos. 
Esclareço os conceitos. Direitos civis são os direitos fundamentais à vida, à 
liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. [...] [Direitos políticos] se 
referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é 
limitado a parcela da população e consiste na capacidade de fazer 
demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. [...] 
Se os direitos civis garantem a vida em sociedade, se os direitos políticos 
garantem a participação no governo da sociedade, os direitos sociais 
garantem a participação na riqueza coletiva. Eles incluem o direito à 
educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à aposentadoria. 
(CARVALHO, 2016, p. 9-10). 
De acordo com Carvalho (2016), o processo histórico brasileiro condicionou 
determinadas compreensões em relação à política e aos direitos. Tais como 
(CARVALHO, 2016): valorização excessiva do Poder Executivo; busca por um 
messias político, “um salvador da pátria”; desvalorização do Legislativo; política 
marcada pelo governismo e uma compreensão de corporativismo em relação aos 
interesses coletivos; ausência de organizações relativamente autônomas na 
sociedade. 
Sua definição e sua análise são muito importantes, principalmente a análise 
histórica que faz das lutas sociais que garantiram por lei direitos civis, políticos e 
sociais no País. Porém, a concepção de Carvalho (2016) é muito formalista e 
institucional. Por isso, é necessário ampliar essas considerações com pautas culturais 
e indenitárias para se estabelecer a relação entre cidadania e diversidade cultural. 
Para Botelho e Schwarcz (2012), a cidadania deve ser compreendida como 
uma “identidade social politizada”. Ou seja, a cidadania “[...] envolve modos de 
identificação intersubjetiva entre as pessoas e sentimentos de pertencimento criados 
coletivamente em inúmeras mobilizações, confrontos e negociações cotidianas, 
práticas e simbólicas [...]” (BOTELHO; SCHWARCZ, 2012, p. 11). Isso significa que o 
 
 
 
 
11 
 
 
 
entendimento do que é ser cidadão também se relaciona aos valores e práticas dos 
direitos e do reconhecimento de direitos — que terminam por delimitar a cidadania. 
Segundo os autores: 
Cidadania é noção construída coletivamente e ganha sentido nas 
experiências tanto sociais quanto individuais, e por isso é uma identidade 
social. Claro que pensamos aqui em identidade como uma construção social 
relativa, contrastiva e situacional. Ou seja, ela é uma resposta política a 
determinadas demandas e circunstâncias igualmente políticas, e é volátil 
como são diversas as situações de conflito ou de agregamento social. Porque 
é política, também sua força ou fragilidade depende das inúmeras 
mobilizações, confrontos e negociações cotidianas, práticas e simbólicas. 
Confrontos e negociações que, por sua vez, variam enormemente à medida 
que avançam os processos de construção do Estado-nação, da expansão 
capitalista, da urbanização e da coerção — e pensamos aqui especialmente 
na guerra. “Identidade social politizada” significa, portanto, que a extensão 
dos direitos da cidadania democrática deve ser pensada como resultados 
possíveis das contendas concretas de grupos sociais, e que essas contendas 
são, por sua vez, fontes poderosas de identificação intersubjetiva e 
reconhecimento entre as pessoas. (BOTELHO; SCHWARCZ, 2012, p. 12-
13). 
4 CONSTITUCIONALISMO 
 
Fonte: gilmarfjr.jusbrasil.com.br 
 
 
 
 
12 
 
 
 
Constitucionalismo é o movimento social, político, jurídico e até mesmo 
ideológico a partir do qual surgem as constituições nacionais. Em termos genéricos e 
supranacionais, constitui-se de normas fundamentais de um ordenamento jurídico de 
um Estado, situadas no topo da pirâmide normativa, ou seja, a sua Constituição 
(ILANES, 2018). 
4.1 Evolução histórica do constitucionalismo: do antigo ao contemporâneo 
Canotilho (1998), preceitua que “o constitucionalismo antigo é o conjunto de 
princípios escritos ou consuetudinários alicerçadores da existência de direitos 
estamentais perante o monarca e simultaneamente limitadores do seu poder”. 
Como exemplo de constitucionalismo antigo, podemos citar os 
constitucionalismos hebreu e grego, os quais unicamente almejavam descentralizar a 
vida política, vez que não existiam leis escritas que regulamentassem a ordem civil 
nem as penalidades aplicáveis para quem as descumprisse. Segundo Cunha Jr. 
(2006) esse constitucionalismo apenas objetivava: 
[...] limitar alguns órgãos do poder estatal como reconhecimento de certos 
direitos fundamentais, cuja garantia se cingia no esperado respeito 
espontâneo do governante, uma vez que inexistia sanção contra o príncipe 
que desrespeitasse os direitos de seus súditos (CUNHA JÚNIOR, 2006, p. 
24). 
Os primórdios do movimento do constitucionalismo surgiram entre os hebreus, 
por meio da lei do Senhor, em um Estado Teocrático, governado pela casta sacerdotal, 
logo existia um limite no poder político (TAVARES, 2004). Posteriormente, ocorreu o 
movimento do constitucionalismo nas cidades gregas, onde os cidadãos eram eleitos 
para cargos públicos por meio de um regime de votação peculiar na época. Por mais 
primitiva que fosse essa votação, existia uma participação do povo na vida política, 
consolidando, assim, uma real democracia (TAVARES, 2004). 
A Idade Média, por sua vez, foi marcada pela época do despotismo, ou seja, 
pela soberania dos governantes tratados como deuses. Uma verdadeira forma 
absolutista de governar, vez que não existiam limitações às suas condutas. Aplicavam 
 
 
 
 
13 
 
 
 
penalidades e impunham condutas desumanas não previstas em leis, pois não havia 
um poder maior do que o do próprio governante. Assim, este estava imune de qualquer 
sanção (TAVARES, 2004). 
Todavia, foi durante a Idade Média, mais precisamente na Inglaterra, que 
culminou o anseio por uma luta de liberdades e garantias fundamentais ao indivíduo, 
objetivando romper com o padrão absolutista e centralizador até então vigente 
(TAVARES, 2004). Contudo, ainda na Idade Média, o constitucionalismo reapareceu 
como o movimento de conquista de liberdades individuais, como bem demonstra a 
aparição de uma Magna Carta. Não se limitou a impor balizas para a atuação 
soberana, mas também representou o resgate de certos valores, como garantir 
direitos individuais em contraposição à opressão estatal (TAVARES, 2004). 
O constitucionalismo moderno eclodiu em meados do século XVII com 
características próprias e com a ideologia de limitação do poder estatal, preservando 
os direitos e as garantias fundamentais, bem como transcrevendo os anseios 
populares com a lei do povo: a Constituição escrita (CUNHA JÚNIOR, 2006). Nesse 
movimento, a noção de Constituição envolvia uma força capaz de limitar e vincular 
todos os órgãos do poder político. Por isso, era concebida como um documento escrito 
e rígido, manifestando-se como uma norma suprema e fundamental, porque 
hierarquicamente superior a todas as outras, das quais constituía o fundamento de 
validade, que só poderia ser alterado por procedimentos especiaise solenes previstos 
no seu próprio texto. Consequentemente, institui-se um sistema de responsabilização 
jurídico-política do poder que a desrespeitar, inclusive por meio de controle de 
constitucionalidade dos atos do Parlamento (CUNHA JÚNIOR, 2006). 
O constitucionalismo moderno rompeu com as barreiras de garantias 
fundamentais limitadas pelos Estados absolutistas, destruindo o paradigma de 
soberania e supremacia das forças estatais. Trouxe o ideal de justiça, de direito 
igualitário e, acima de tudo, de organização na seara da política governamental, 
limitando o poder de atuação do Estado e descentralizando os Poderes Executivo, 
Legislativo e Judiciário, pautando em um documento de lei: a Constituição. Portanto, 
a Constituição deixou de ser concebida como simples manifesto político para ser 
 
 
 
 
14 
 
 
 
compreendida como uma norma jurídica fundamental e suprema, elaborada para 
exercer dupla função: garantia do existente e programa ou linha de direção para o 
futuro (CANOTILHO, 1998). 
Com o fim da Primeira Guerra, os Estados perceberam a necessidade de 
intervir na sociedade de forma a promover o bem-estar social, a paz e a recondução 
à vida pública dos cidadãos, por meio de serviços públicos, saúde, alimentação, 
tratamentos médicos e educação, com fulcro sempre na promoção do 
desenvolvimento econômico-social, haja vista a barbárie social que eclodia no mundo 
(TAVARES, 2004). 
A Constituição brasileira de 1988 elenca, nos seus arts. 170 e 193, ideais de 
um constitucionalismo moderno, em uma política democrática socioliberal, o 
conhecido Estado Democrático de Direito (TAVARES, 2004). 
Por fim, insta salientar que a elaboração do Texto Constitucional teve formação 
e influência nos movimentos contratualistas que justificavam a agremiação do homem 
em sociedade com base em um pacto, o famoso contrato social de Rousseau 
(TAVARES, 2004). 
Atualmente, o constitucionalismo não se deu por pronto e acabado. Está em 
constante desenvolvimento, sempre observando as necessidades dos cidadãos e o 
desenvolvimento socioeconômico. 
O constitucionalismo deverá ser influenciado até se identificar com a verdade, 
a solidariedade, o consenso, a continuidade, a participação, a integração e a 
universalização (TAVARES, 2004). 
Para André Tavares (2004), o constitucionalismo da verdade existe em duas 
categorias de normas: uma parcela constituída de normas que jamais passam de 
programáticas e são praticamente inalcançáveis pela maioria dos Estados; uma outra 
sorte de normas que não são implementadas por simples falta de motivação política 
dos administradores e governantes responsáveis. 
As primeiras precisam ser erradicadas dos corpos constitucionais, podendo 
figurar, no máximo, apenas como objetivos a serem alcançados a longo prazo, não 
como declarações de realidades utópicas, como se bastasse a mera declaração 
 
 
 
 
15 
 
 
 
jurídica para transformar-se o férreo em ouro. As segundas precisam ser cobradas do 
Poder Público com mais força, o que envolve, em muitos casos, a participação da 
sociedade na gestão das verbas públicas e a atuação de organismos de controle e 
cobrança, como o Ministério Público, na preservação da ordem jurídica e na 
consecução do interesse público vertido nas cláusulas constitucionais (TAVARES, 
2004). 
O autor quis evidenciar que, em uma norma jurídica posta, não podem existir 
normas mortas, sem eficácia concreta na sociedade. Se a lei é posta, ela deve ser 
cumprida; se existem leis programáticas, elas devem atender às necessidades dos 
indivíduos e não permanecer estáticas e cristalizadas como meras declarações 
utópicas (TAVARES, 2004). 
Em relação àquelas não implementadas pelo Poder Público, deve haver uma 
participação popular cobrando a presteza dos serviços públicos, pois se trata de um 
direito coletivo, o qual não é respeitado pelo gestor responsável. Assim, somente a 
força popular é capaz de mobilizar o aparelho estatal e fiscalizá-lo, para que tenha 
consentimento de suas obrigações, a fim de que cumpra com deveres 
preestabelecidos em lei e ofereça uma continuidade na prestação de serviços públicos 
e sociais. 
Em contrapartida, quanto ao constitucionalismo da continuidade, o autor 
assevera que é muito perigoso em nosso tempo conceber Constituições que 
produzam uma ruptura da lógica dos antecedentes, uma descontinuidade com todo o 
sistema precedente (TAVARES, 2004). 
No tocante à globalização, é notório que a União Europeia visa consolidar uma 
Constituição única para os países que integram o bloco econômico. Com a ocorrência 
de tal fato, poderíamos falar em um constitucionalismo globalizado com uma 
miscigenação de povos, culturas, costumes, princípios, regras e condutas que 
acabariam por eclodir na formação de uma única nação, com uma única Constituição, 
a qual propagaria a unificação dos ideais humanos consagrados juridicamente 
(TAVARES, 2004). 
 
 
 
 
16 
 
 
 
4.2 Pós-constitucionalismo ou neoconstitucionalismo 
O pós-constitucionalismo (novo Direito Constitucional — ou 
neoconstitucionalismo) identifica, nas palavras de Barroso (2005): 
[...] um conjunto amplo de transformações ocorridas no Estado e no direito 
constitucional, em meio às quais podem ser assinalados, (i) como marco 
histórico, a formação do Estado constitucional de direito, cuja consolidação 
se deu ao longo das décadas finais do século XX; (ii) como marco filosófico, 
o pós-positivismo, com a centralidade dos direitos fundamentais e a 
reaproximação entre Direito e ética; e (iii) como marco teórico, o conjunto de 
mudanças que incluem a força normativa da Constituição, a expansão da 
jurisdição constitucional e o desenvolvimento de uma nova dogmática da 
interpretação constitucional. Desse conjunto de fenômenos resultou um 
processo extenso e profundo de constitucionalização do Direito. 
A forma e o modus operandi do ordenamento jurídico brasileiro vem sofrendo 
reiteradas mudanças. Essa quebra de paradigmas na teoria jurídica e na prática dos 
tribunais, desenvolvidos sob a égide da Constituição da República de 1988, pode ser 
chamada de neoconstitucionalismo (BARROSO, 2005). O termo empregado para 
essa nova ordem, forma e modelo é derivado da doutrina espanhola e italiana, mas a 
difusão do termo no Brasil se deve principalmente à coletânea do doutrinador 
mexicano Miguel Carbonell, que a intitulou de neoconstitucionalismo. 
O marco histórico do neoconstitucionalismo foi estabelecido na Europa pós-
guerra, marco que alterou a realidade mundial em diversos fatores e principalmente a 
mentalidade da sociedade da época, com um motivo simples: o receio de passar pela 
mesma experiência árdua novamente. Dessa forma, a Europa Ocidental se 
encontrava devastada e com a esperança de encontrar um modelo novo em que se 
sustentar, com base em aspectos suprimidos pelo contexto político e social da época, 
surgindo assim uma ênfase maior nos direitos fundamentais da pessoa. 
A Constituição servia como base, mas não tinha força normativa, pois era um 
instrumento para o Legislativo se inspirar. Assim, só a partir da lei em si que poderia 
ocorrer qualquer proteção, punição ou caráter axiológico no ordenamento jurídico. A 
influência da Constituição só ocorreu com o fim da Segunda Guerra, primeiramente 
na Alemanha e, logo após, na Itália. 
 
 
 
 
17 
 
 
 
A principal referência no desenvolvimento do novo Direito Constitucional foi a 
Lei Fundamental de Bonn (Constituição alemã), de 1949, e, especialmente, a criação 
do Tribunal Constitucional Federal, instalado em 1951. A partir disso, teve início uma 
fecunda produção teórica e jurisprudencial, responsável pela ascensão científica do 
Direito Constitucional no âmbito dos países de tradição romano-germânica. A segunda 
referência de destaque foi a Constituição da Itália de 1947 e a subsequente instalação 
da Corte Constitucional, em 1956. Ao longo da década de 1970, a redemocratização 
e areconstitucionalização de Portugal (1976) e da Espanha (1978) agregaram valor e 
volume ao debate sobre o novo Direito Constitucional (BARROSO, 2005, documento 
on-line). 
Esse novo contexto histórico que batia à porta da Europa Ocidental propiciava 
uma teoria jurídica diferente do modelo anterior, com base, como dito anteriormente, 
em uma Constituição normativa e de valor, sendo amplamente estruturada em 
proteção de direitos fundamentais e baseada principalmente na dignidade da pessoa 
como sustento da Carta normativa. O papel exercido pela Constituição teve um 
alcance maior e a finalidade de proteção a direitos extintos da sociedade no período 
que acabara, dessa forma, o que atribuiu valor e caráter axiológico à Constituição 
terminava por ser uma tentativa de modelo em que se privilegiava um respeito aos 
direitos mencionados (BARROSO, 2005, documento on-line). 
Dessa forma, o papel da Constituição referente às instituições contemporâneas 
foi alterado, passando, assim, ao centro do ordenamento jurídico, com um peso de 
referência e também um caráter normativo atribuído, expressamente demonstrado no 
Texto Constitucional dessas cartas e facilmente percebido. Assim, com a introdução 
desse novo modelo na Europa, a segunda metade do século XX foi pautada no 
crescimento e na expansão desse novo formato constitucional. No Brasil, em 1988, 
com a promulgação da Constituição da República, ocorre sua recepção no País 
(BARROSO, 2005). 
A recepção no ordenamento jurídico brasileiro surgiu em um momento similar 
ao do contexto europeu. O Brasil acabava de passar por um regime ficou 
 
 
 
 
18 
 
 
 
caracterizado como o marco histórico da redemocratização e da recepção do 
neoconstitucionalismo (BARROSO, 2005, documento on-line). 
A promulgação da Carta de 1988 trouxe esse novo modelo, com uma nova 
concepção de direitos e valores, tendo como proteção basilar os direitos fundamentais 
e a dignidade da pessoa, fruto de um momento de procura por suprir a falta de 
participação democrática no período da ditadura e todos os desrespeitos cometidos. 
A dignidade da pessoa passa a exercer um papel diferenciado, amplo e com um peso 
maior no sentido de relevância e base para os direitos fundamentais. 
Diversos preceitos constitucionais inalienáveis se originam no princípio da 
dignidade da pessoa humana, como se observa na Constituição de 1988 (BRASIL, 
1988): a cidadania, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa (art. 1º, II, III e 
IV); os objetivos fundamentais da República de construir uma sociedade livre, justa e 
solidária e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, I e IV); a prevalência dos 
direitos humanos (art. 4º, II). 
Todos esses preceptivos revelam a preocupação do legislador constituinte com 
a dimensão em que a dignidade da pessoa se mostra superior em si e como razão de 
uma série de outras garantias e princípios de raiz constitucional. 
É devido à elevação e extensão da importância do homem no mundo que 
decorrem direitos fundamentais, entre outras prerrogativas essenciais à própria 
existência do ser humano, as quais podem ser encontradas na Constituição Federal 
brasileira. 
Houve, a partir do texto promulgado, uma centralização da Constituição no 
ordenamento jurídico brasileiro. Sob a Constituição de 1988, o Direito Constitucional 
no Brasil passou da desimportância ao apogeu em menos de uma geração. 
Como a realidade se alterou, a Constituição passou a disciplinar uma 
diversidade de temas antes não abordados. A lei antes valia muito mais, pois o peso 
das leis e decretos era mais significativo: antes, o Código Civil; hoje, a Constituição. 
Essa substituição de importância foi estabelecida exatamente nesse momento, 
quando a Carta de 1988 traz um elenco de temas antes não abordados: direitos 
 
 
 
 
19 
 
 
 
individuais, políticos, sociais e difusos, além de trazer uma série de princípios dotados 
de carga axiológica, o que termina por dar ensejo ao processo de constitucionalização 
do Direito. 
Nessa nova ordem constitucional, o papel do Poder Judiciário foi fortalecido e, 
em conjunto com o Ministério Público, ganhou uma maior autonomia, que, com o 
passar do tempo, resultou na questão do controverso ativismo judicial. Com essa 
Constituição dotada de diversos princípios abrangentes de diferentes aspectos, 
ocorreu a chamada filtragem constitucional, em que as matérias dos inúmeros ramos 
do Direito passariam pelo crivo constitucional. Essa questão só se tornou possível 
pela importância que o Direito Constitucional passou a conter. 
A participação da doutrina brasileira foi de fundamental importância para 
difundir esse novo modelo. A recepção do neoconstitucionalismo no Brasil foi pautada 
por esse momento histórico e baseada nele, sendo importante demonstrar essa 
questão no aspecto filosófico chamado pós-positivismo. 
4.3 O constitucionalismo no Brasil 
O Brasil já editou oito Constituições e, sem sombra de dúvidas, os movimentos 
constitucionalistas serviram de grande influência para cada Carta elaborada. Boa 
parte delas expressou, ao menos textualmente, as tendências globais da sua época. 
A questão brasileira foi a pouca efetividade das regras e o desrespeito às 
condicionantes do poder (TAVARES, 2004). 
O avanço do constitucionalismo, como movimento político e jurídico, sobre o 
continente americano teve importância primordial na independência das colônias em 
relação às suas metrópoles europeias. Nesse cenário de libertação, a Constituição 
era o instrumento mais precioso para selar a independência, rompendo com as 
amarras do regime de submissão à metrópole e instalando uma nova organização, de 
acordo com o poder de autodeterminação de cada Estado emergente naquele 
momento (TAVARES, 2004). 
 
 
 
 
20 
 
 
 
Diferentemente dos demais processos revolucionários americanos, o Brasil não 
imprimiu, no seu território, guerras sangrentas para se sagrar independente de 
Portugal. Contudo, a contradição destacada anteriormente também esteve presente 
no constitucionalismo brasileiro do século XIX (TAVARES, 2004). 
A experiência constitucional brasileira teve início em 1824, ainda sob a forma 
de governo imperial, com a outorga da primeira Constituição do Brasil em 25 de março 
daquele ano. Descontente com os rumos da constituinte, o imperador D. Pedro I a 
dissolve e propõe a elaboração de um novo projeto da Constituição, que incorporou a 
cláusula de separação de poderes, estabelecendo a clássica divisão de funções 
estatais: Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário. Além desses, o Brasil 
instituiu a figura de um quarto poder, chamado de Poder Moderador, que permitia 
amplos direitos ao monarca e nenhum tipo de responsabilização deste. A proteção da 
Carta de 1824 foi dada ao Poder Legislativo. Para o Poder Judiciário, houve a criação 
de um órgão de cúpula, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), mas sem qualquer 
controle sobre a constitucionalidade das leis (TAVARES, 2004). 
Como podemos perceber, o início do constitucionalismo no Brasil foi tímido 
durante a Constituição de 1824, pois havia uma nítida incoerência entre a realidade 
social brasileira e o que se apregoava nos movimentos constitucionalistas (TAVARES, 
2004). 
A inovação trazida pela nova Constituição ao Poder Judiciário foi a criação de 
um novo órgão de cúpula, o Supremo Tribunal Federal (precedido pelo já citado STJ), 
com sua estrutura também federativa e dual, com uma Justiça Federal e outra 
Estadual (SOUZA NETO; SARMENTO, 2014). 
No âmbito social, a Constituição de 1934 trouxe grande inovação ao prever não 
só as garantias dos direitos individuais e sociais, como também as ações estatais em 
defesa dessas garantias. O absenteísmo estatal não era mais bem visto, e o Estado, 
por meio dos poderes públicos, deveria atuar para a defesa de direitos dos seus 
governados.Essa Carta, porém, gozou de passagem efêmera, pois não suportou as 
pressões internas proporcionadas pela disputa entre capitalismo e socialismo. 
 
 
 
 
21 
 
 
 
Já em 1937, o governo, sob o comando de Getúlio Vargas, outorgou uma nova 
Constituição brasileira, instaurando, no Brasil, a ditadura varguista. A legitimidade 
para a instauração desse novo regime foi trazida pela justificativa de uma possível 
invasão comunista. 
O País permaneceu na escuridão da ditadura até o ano de 1946, quando então 
foi promulgada a terceira Constituição brasileira, com conteúdo predominantemente 
constitucionalista, tendo em vista que o mundo acabava de pôr fim à Segunda Guerra. 
Houve o retorno da figura do vice-presidente, ausente desde a Carta de 1934, e a 
Justiça do Trabalho foi integrada ao Poder Judiciário; houve também a recomposição 
da Justiça Eleitoral; além da instituição de um Tribunal Federal. O Supremo Tribunal 
Federal continuou o órgão de cúpula e aos magistrados foram dadas as seguintes 
garantias: vitaliciedade; inamovibilidade; irredutibilidade de subsídios. 
As decisões sobre a inconstitucionalidade das leis proferidas pelos tribunais 
não mais poderiam ser submetidas ao Parlamento. Outro importante marco foi a 
consagração do direito à inafastabilidade da tutela jurisdicional. 
O ano de 1964 marca a história brasileira, pois foi dado o maior golpe ditatorial 
sofrido pelo País, com os militares tomando o poder. 
Em 1967, foi derrogada a Constituição de 1946. Durante quase 20 anos, o País 
viveu em quase plena democracia e estabilidade governamental. 
Mesmo com a promulgação da Constituição, o governo ainda lançava mão de 
vários atos institucionais que, do dia para noite, modificavam o rol de garantias e 
liberdades individuais, bem como concentrava cada vez mais o poder nas mãos dos 
militares. O mais severo ato institucional foi o AI-5, que definitivamente deixou claro 
os novos traços do regime político que o País iria vivenciar até o ano de 1984. 
A partir dessa data, o País passou por um novo processo de redemocratização, 
cuja solidificação se deu em 5 de outubro de 1988, com a promulgação da Carta 
cidadã. Essa nova Constituição brasileira de 1988 inovou porque tratou da matéria 
não no capítulo dedicado à Ordem Econômica e Financeira ou à Ordem Social. Antes, 
cuidou deles enquanto verdadeiros direitos fundamentais e não expressões de uma 
 
 
 
 
22 
 
 
 
determinada ordem. Tratou como verdadeiros direitos fundamentais os contemplados 
no art. 6º (BRASIL, 1988), in verbis: 
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção 
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição. 
5 CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA 
 
Fonte: www.colaresenogueira.adv.br 
O Estado Democrático de Direito há muito apresenta um dilema que parece 
intrínseco à sua própria natureza. A vontade do povo, cristalizada na democracia e a 
organização da sociedade em um consenso popular encontra-se, ao menos de forma 
aparente, diametralmente oposta à ideia de limitações determinadas por normas de 
difícil alteração, isto é, os direitos fundamentais (GAVIÃO, 2013). 
Ao final da idade moderna, com a institucionalização do Estado Liberal, inventa-
se a ideia de indivíduo, adotando o critério da racionalidade e tendo como parâmetro 
os princípios da igualdade, da liberdade e da propriedade. 
 
 
 
 
23 
 
 
 
Naquele momento, o Estado deve garantir a maior liberdade aos indivíduos, 
interferindo o mínimo possível, sendo que a autonomia privada se relaciona 
basicamente a direitos negativos diante do Estado e de outros cidadãos, isto é, direitos 
individuais (BAHIA, 2009). 
Após um período de tempo, como os direitos já não eram mais materializados, 
esse cenário gerou crises em virtude da existência de desigualdades econômicas e 
sociais. Em virtude disso, passou-se ao Estado Social, no qual ocorreu a expansão 
daquilo que é público, isto é, efetivou-se uma maior aposta no Executivo, buscando-
se de forma ainda mais enfática a materialização da igualdade e da liberdade. 
Nesse momento, o Estado passou a intervir nas questões sociais, 
aproximando-se da sociedade por meio da política e do direito. No entanto, apesar 
das recomendações públicas, o estado de bem-estar acabou produzindo clientes em 
vez de cidadãos, o que mostra que os fins econômicos foram excessivamente 
desviados, porque apenas a igualdade material é efetiva, abdicando de valores 
inerentes ao processo de cidadania. 
Como consequência da crise gerada no Estado Social, surge o Estado 
Democrático de Direito, que ostenta a formação racional da vontade coletiva e da 
margem para a discussão pública, trazendo consigo a ideia de maior materialização 
dos direitos fundamentais. 
“Assim, em razão da nova concepção de igualdade e liberdade, novos direitos 
fundamentais surgiram. Igualdade e liberdade requerem agora materialização 
tendencial; não mais podemos nelas pensar sem considerar as diferenças, 
por exemplo, entre o proprietário dos meios de produção e o proprietário 
apenas de sua força de trabalho, o que passa a requerer a redução do Direito 
Civil, com a emancipação do Direito do Trabalho, da previdência social e 
mesmo a proteção civil do inquilino. Enfim, o lado mais fraco das várias 
relações deverá ser protegido pelo ordenamento e, claro, por um 
ordenamento de leis claras e distintas” (CARVALHO NETO, 2003). 
Além disso, no Estado Democrático de Direito, a tendência do 
constitucionalismo reflete diretamente na maior importância atribuída ao Judiciário, 
que ganha um espaço relevante no cenário dos poderes do Estado. Tal questão foi 
 
 
 
 
24 
 
 
 
brilhantemente apontada por Lenio Luiz Streck em trecho de seu livro “Jurisdição 
constitucional e hermenêutica” (GAVIÃO, 2013). 
“A democratização social, fruto das políticas do Welfare State, o advento da 
democracia no segundo pós-guerra e a redemocratização de países que 
saíram de regimes autoritários/ditatoriais, trazem à luz Constituições cujos 
textos positivam os direitos fundamentais e sociais. Esse conjunto de fatores 
redefine a relação entre os Poderes do Estado, passando o Judiciário (ou os 
tribunais constitucionais) a fazer parte da arena política, isto porque o Welfare 
State lhe facultou o acesso à administração do futuro, e o constitucionalismo 
moderno, a partir da experiência negativa de legitimação do nazi-fascismo 
pela vontade da maioria, confiou à justiça constitucional a guarda da vontade 
geral, encerrada de modo permanente nos princípios fundamentais 
positivados na ordem jurídica. Tais fatores provocam um redimensionamento 
na clássica relação entre os Poderes do Estado, surgindo o Judiciário (e suas 
variantes de justiça constitucional, nos países que adotaram a fórmula dos 
tribunais ad hoc) como uma alternativa para o resgate das promessas da 
modernidade, onde o acesso à justiça assume um papel de fundamental 
importância, através do deslocamento da esfera de tensão, até então calcada 
nos procedimentos políticos, para os procedimentos judiciais” (STRECK, 
2004). 
Ainda segundo a autora, a ideia de constitucionalismo, adstrita ao Estado 
Democrático de Direito, regulamenta e apresenta direitos individuais que figuram 
também em uma dimensão política e que estão limitados à possibilidade de alteração 
pelo legislador, haja vista a necessidade de se observar os requisitos procedimentais 
para tanto, especialmente se considerados como cláusulas pétreas, sendo passíveis 
de apreciação e amparo pelo Poder Judiciário (GAVIÃO, 2013). 
Para que seja possível reconhecer a inter-relação entre constitucionalismo e 
democracia, faz-se necessário uma apreciação e um maior entendimento sobre 
alguns possíveis conceitos e concepções acerca desses temas. 
José Afonso da Silva (2006), defende que a democracia não é um mero 
conceitopolítico abstrato e estático, mas é um processo de afirmação do povo e de 
garantia dos direitos fundamentais que o povo vai conquistando no correr da história. 
Para o autor, o conceito de democracia fundamenta-se na existência de um vínculo 
entre o povo e o poder. 
 
 
 
 
25 
 
 
 
Para Müller (2003) a democracia não está oposta ao constitucionalismo, uma 
vez que os direitos fundamentais oriundos deste último são essenciais para a 
efetivação da válida democracia. 
Sob a mesma perspectiva de inter-relação da democracia com o 
constitucionalismo, Ronald Dworkin (1995) divide as normas constitucionais em 
possibilitadoras e limitadoras: enquanto as primeiras constroem um governo da 
maioria, as segundas restringem os poderes dos representantes. 
Assim, deve-se destacar que, ao se falar em democracia, a primeira ideia que 
se busca no senso comum, de forma quase que inconsciente, é a sua delimitação por 
meio de um conceito de maioria e de uma imagem relacionada à vontade majoritária. 
Isto é, considera-se, de forma superficial e inócua, a democracia enquanto a mera 
vontade de uma maioria (GAVIÃO, 2013). 
O fato é que os desejos da maioria das pessoas são de grande importância e 
devem ser considerados. No entanto, esse desejo não é absoluto, mas restringe a 
norma como medida prática para coibir um possível uso excessivo, infrator e 
repressivo do poder. 
Essas normas restritivas são inerentes e indispensáveis ao constitucionalismo, 
pois se consolidadas, impedem que grande parte das pessoas supere os direitos 
fundamentais das minorias, e que abusos sejam praticados em nome do desejo, cuja 
vontade se expressa de forma puramente estatística. 
Ademais, em observância a tal análise do constitucionalismo e da democracia, 
não como antagônicos, mas como dependentes entre si, Gavião apud Ronald Dworkin 
(2013) afirma, então, sobre a suposta tensão entre a democracia e o 
constitucionalismo: 
“Com isso, o constitucionalismo não ameaça a liberdade positiva, porque ele 
é essencial para criar uma comunidade democrática – para constituir ‘o povo’ 
– e não pode haver nenhuma liberdade comunitária, coletiva, sem isso”. 
Para Müller (2003) a democracia não está oposta ao constitucionalismo, uma 
vez que os direitos fundamentais advindos deste último são essenciais para a 
efetivação da válida democracia. 
 
 
 
 
26 
 
 
 
A democracia, no sentido de concessão de direitos individuais a todos os 
cidadãos de acordo com a vontade da entidade que se pode denominar povo, é 
imperiosa, e representa um grande avanço na efetiva e considerável materialização 
de direitos, garantindo o afastamento da mera formalidade de tal materialização, 
outrora marcante (GAVIÃO, 2013). 
Demonstra-se, portanto, que, se a democracia não se sustenta como tal sem a 
existência do constitucionalismo, este não sobrevive de forma eficaz se não se efetivar 
por meio daquela. 
 
6 PODER CONSTITUINTE E SOBERANIA 
 
Fonte: br.freepik.com 
A vitalidade do Estado depende da permanente possibilidade do conflito, 
necessitando de um soberano o qual, em face das incertezas políticas, incorpore a 
autoridade que é superior àquela do próprio direito (CHUEIRI, 2005, p.130). 
 
 
 
 
27 
 
 
 
Jean Bodin entende que seria possível abstrair a figura do soberano tanto da 
imagem do governo como da imagem do parlamento ou do povo. Não por acaso, a 
democracia refere-se a um tipo de poder absoluto e perpétuo e, também não por 
acaso, o Estado de Direito foi compelido a neutralizar o poder soberano como uma 
tentativa de exorcizar seu pecado original (Apud CHUEIRI, 2005, p.133-134). 
Nesse sentido a fundação da maior parte dos Estados se deu como consequência 
de uma situação que podemos chamar, genericamente, de revolucionária. 
Revolucionária no sentido de que uma nova ordem jurídica foi instaurada, e isso em 
um contexto terrível e de violência. Como diz Derrida (1990), as revoluções são elas 
mesmas ininterpretáveis e indecifráveis na sua própria violência. Exemplos claros 
desses momentos revolucionários transgressores, violentos e instituidores de uma 
nova ordem podem ser a Independência dos Estados Unidos, em 1776, a Revolução 
Francesa, em 1789, e também a Revolução Russa, em 1917, ainda que esta não 
tenha sido liberal (Apud CHUEIRI, 2010). 
Para o direito, tradicionalmente, o poder constitucional é a fonte da nova ordem 
constitucional. É o poder de formular uma nova constituição da qual o poder 
constituinte deriva sua estrutura. Dessa perspectiva, os países constituintes 
estabeleceram uma nova ordem jurídico-constitucional. 
Lembre-se de que toda constituição pressupõe soberania e estado constituinte, 
e todos os outros poderes do estado devem estar sujeitos a isso. Joseph Sieyés, 
desenvolveu a Teoria do Poder Constituinte. 
Para Sieyés (1997), a Constituição pressupõe, antes de tudo, um poder 
constituinte, representante da soberania popular. Ou seja, os poderes resultantes da 
Constituição estão e são submissos a um poder constituinte anterior, a vontade 
soberana popular, e, portanto, tal poder não estaria vinculado a nada mais a não ser 
a sua própria vontade (SIEYÉS, 1997). No entanto, é importante destacar que a ideia 
de soberania, para Sieyés, fundava-se na soberania nacional, e não na soberania 
popular, pois para ele a idéia de povo estaria subsumida na ideia de nação. Isto 
porque, para o abade francês, o conceito de nação estava ligado à imagem do 
Terceiro Estado, e este se sobrepunha ao Clero e à Nobreza (Apud CHUEIRI, 2010). 
 
 
 
 
28 
 
 
 
Ao mesmo tempo, o filósofo político Antonio Negri (2002, p. 07-24) rediscutiu o 
poder constituinte e o concebeu de forma bastante radical. Para ele, o poder 
constituinte não se manifesta apenas como fonte universal e extensa de normas 
constitucionais que produzem todo o ordenamento jurídico (NEGRI, 2002). 
Os filósofos também o consideram o sujeito dessa produção, dessa mesma 
atividade onipotente e expansiva (NEGRI, 2002). Negri mostra como é complexa a 
tarefa de organizar o poder como tema político e política democrática. 
Para ele, falar de poder constituinte é falar de democracia. E qualificar 
constitucional e juridicamente o poder constituinte não será simplesmente produzir 
normas constitucionais e estruturar poderes constituídos, mas, sobretudo, ordenar o 
poder constituinte enquanto sujeito, a regular a política democrática" (NEGRI, 2002). 
Para Alexandre de Moraes, “o poder constituinte é a manifestação soberana da 
suprema vontade política de um povo, social e juridicamente organizado.” 
Ari Queiroz diz que “o poder constituinte é o poder de elaborar ou reformar uma 
Constituição”. 
Podemos concluir que o poder constituinte é a manifestação soberana da 
suprema vontade política de um povo, social e juridicamente organizado. É o poder 
constuinte o instituidor do Estado, criandor de uma estrutra política que pssibilita a 
convivência do homem em sociedade. 
 
 
 
 
29 
 
 
 
7 PODER CONSTITUINTE X PODERES CONSTITUÍDOS. 
 
Fonte: br.freepik.com 
O poder constituinte está acima dos poderes constituídos, não devendo ser 
cofundido com nenhum deles. 
Para Abade Sieyès a concepção de poder constituinte está associada à ideia 
de poder originário, autônomo e onipontente. 
Esse poder constituinte surge como forma de realizar uma luta contra o regime 
monárqico absolutista que existia na França. Nesse sentido, a nação estaria livre para 
criar uma Constituição, já que não se sujeitaria a formas, limites e condições 
preexistentes. 
7.1 Espécies de Poder Constituinte: 
 Origináiro: 
 
 
 
 
30 
 
 
 
AGENTE: 
 
 É o poder que elabora uma nova Constituição. 
 Estabelece uma nova ordem jurídica fundamental para o Estado em 
substituição à anteriormente existente. 
 A vontade da maoioria pode ser expressada por eleições ou por uma 
revolução; 
 Explica uma nova ordem fundamentela, jurídica, políticade uma 
sociedade; 
 O poder constituinte originário é ilimitado, não se subordina a qualquer 
regra jurídica anterior: 
 É um poder soberano. 
 É absoluto. 
 Poder de Fato 
 Não está condicionado a qualquer limitação de ordem jurídica; 
 Não se resume ao direito positivo. 
O poder constituinte originário é: 
 
a) Inicial – dá origem a uma nova ordem constitucioanl; 
b) Ilimitado ou autônomo – não se submete a nenhuma ordem jurídica, 
podendo dispor sobre qualquer assunto; 
c) Incondicioando – não tem fórmula preestabelecida para sua manifestação. 
Titularidade: 
O povo que elabora uma nova Constitição por intermédio de representantes 
legitimamente eleitos. 
 
Assembléia Constituinte 
 
 
 
 
31 
 
 
 
 
Conceito: É o poder de modificação da Constituição, bem como o poder do 
Estado-Membro, de uma Federação de elaborar sua própria Constituinte de 
reforma como o poder constituinte decorrente. 
 
N Trata-se de um poder de direito, pois instituído pelo poder 
constituinte originário. Deve manifestar-se de acordo com as limitações 
previstas na Constituição. 
 
Características: 
 
a) Subordinado 
b) Condicioando 
c) Secundário 
d) Limitado 
 
 Derivado de reforma ou reformador: 
 
 É o poder de modificação das normas constitucionais. 
 A atual Constituição brasileira estabelece duas formas de alteração, por 
intermédio de emendas à Constituição e pela revisão constitucional. 
 O poder de revisão, no caso do Brasil, previsto no Art. 3º do ADCT, 
possibilitou alterações na CF/88 pelo quorum da maioria absoluta. – 
norma exaurida. 
 Art. 60 da CF – as emendas são modificações de certos dispositivos 
constitucionais, exigindo-se para a aprovação maioria de 3/5 em ambas 
as casas do Congresso Nacional, em dois turnos de votação. 
 
Podem propor emendas: 
NATUREZA 
:: : 
 
 
 
 
 
32 
 
 
 
 
 1/3 de deputados ou senadores; 
 Presidente da república; 
 Mais da metade das assembléias legislativas do País, 
 Para aporvar: Art. 60, § 2º 
 Voto de 3/5 dos deputados e senadores – dupla votação em cada casa; 
 Promulgar - § 3º do art. 60; 
 Cláusulas pétreas - § 4 do art. 60; 
 Poder constituinte reformador é de direito – previsto na própria 
constituição. 
 
 
 
 
Formais ou temporais – Certas Constituições não podem ser modificadas 
durante determinado período após a sua promulgação ou só admitem a 
aprovação de alteraçõa de tempos em tempos; 
 
Circunstanciais – certas Constituições não podem ser alteradas em 
determinadas situações de instablidade política: 
 
Intervenção Federal a qualqer Estado – membro; Art. 34 CF; 
Estado de sítio: Art. 136 CF; 
Estado de defesa: Art. 137. 
Materiais: Determinadas matérias não podem ser objeto de modificação; 
(Art. 60, § 4º). 
Forma federativa de Estado – Art. 1º; 
Voto direto, secreto, universal e periódico – Art. 14; 
Separação dos poderes – Art. 2º; 
Direitos e garantias individuais – Art. 5º 
LIMITAÇÕES: 
 
 
 
 
33 
 
 
 
 
Procedimentais – a própria Constituição estabelece o rito para a sua 
alteração. 
É o poder exercido pelos Estados – membros de uma Federação de 
elaborar sua própria Constituição; Art. 25 C.F; 
 
Aos municípios – Cabe elaborar a Lei Orgânica – Art. 29 – obedecendo os 
princípios da Constituição Federal e da Constituição Estadual. 
 
Distrito Federal – Art. 32 – Lei Orgânica – tem competência legislativa 
reservadas aos Estados e Municípios. 
 
 Difuso: 
 
 Mutações Constitucionais – processos informais de modificação da 
própria Constituição. 
 Sem alterar o enuncialdo formal, a letra do texto constitucional, 
modifica-se o entendimento da norma constitucional. 
 A titularidade permanece do povo, mas é exercido pelos órgãos do 
poder constituído por meio de interpretação administravita ou judicial. 
 
DIFERENÇAS ENTRE AS FORMAS DE MODIFICAÇÕES DA 
CONSTITUIÇÃO: 
 
 Emenda – é a materalização da reforma constitucional; 
 Reforma – alterações feitas, observando o procedimento estabelecido pelo 
poder originário; 
 Revisão – procedimento preventivo, confome estabelecido pelo poder 
originário, que pode ser modificada ou não; 
 
 
 
 
34 
 
 
 
Mutação – processo feito pelos tribunais na interpretação da norma 
constitucional, não altera o texto e sim o entendimento. 
8 DEMOCRACIA: PARTICIPAÇÃO E CIDADANIA 
 
Fonte: www.preparaenem.com/politica/democracia 
Lima (2008) preceitua que entende-se por cidadania a materialização dos 
direitos civis, políticos e sociais na vida dos sujeitos. Vai além do simples legalismo, 
implicando um sentimento de pertencimento e empoderamento para intervir na 
realidade. 
Democracia pode ser definida com uma das formas de participação popular 
existentes. Trata-se de um sistema político baseado no voto popular para a eleição de 
representantes legislativos e executivos. A palavra democracia é originária do termo 
grego demokratia que é composta por demos, que significa povo, e kratos, que 
significa poder. 
A cidadania passa ainda pela tecnologia e informação de modo a possibilitar 
aos sujeitos sociais o “melhor acontecimento do direito” (TAPAJÓS, 2006). Além 
 
 
 
 
35 
 
 
 
disso, a cidadania é expressa também pela participação, a qual não se resume 
somente com o voto. Para a efetivação da cidadania os sujeitos sociais necessitam 
criar e ocupar espaços legítimos de participação e poder. 
Além do fato de a participação da sociedade em espaços realmente 
deliberativos ser uma conquista gradual, também, há que lidar-se com interesses 
contrários a esses espaços, dos quais a sociedade civil é parte. São constantes as 
contradições e correlações de forças com as quais a sociedade lida constantemente 
para a sua evolução em termos de igualdade de direitos (LIMA, 2018). 
A simples criação de leis não significa, portanto, a sua concretização cotidiana, 
uma vez que a existência de leis não garante a sua “incorporação cultural” pelos 
sujeitos (COUTO, 2004; TELLES, 2001). Nesse contexto, a existência das leis não 
basta, porém, somos desafiados por regras e relações sociais. 
Um exemplo do que estamos falando acerca de cidadania, participação e 
materialização das leis na vida dos sujeitos é o processo de elaboração da 
Constituição Federal de 1988, chamada de Constituição Cidadã. Não por acaso é 
chamada dessa forma. Foram muitas mobilizações de órgãos da sociedade civil 
organizada por meio de ONGs, sindicatos de classes, movimentos sociais, entidades 
de classes que contribuíram e negociaram intensamente para a garantia constitucional 
de direitos aos cidadãos brasileiros (LIMA, 2018). 
O contexto vivido na primeira metade da década de 1980 do século XX era de 
transição do período militar para o governo democrático. Em 1985 ocorreu a primeira 
eleição para a presidência da república. Foi o resultado de intensas manifestações 
pelas “Diretas Já”, apesar de ainda ter ocorrido sob medidas restritivas da época da 
ditadura militar, ou seja, não foram eleições diretas como as que temos hoje. Foram, 
no entanto, parte de um importante processo de democratização no país (LIMA, 2018). 
Nessa eleição foi eleito o presidente Tancredo Neves e seu vice, José Sarney. 
Contudo, Tancredo faleceu, assumindo a presidência o vice-presidente eleito. 
Havia, então, um intenso movimento de toda a sociedade que pressionava o 
governo militar pelas “Diretas Já”. Além disso, a comunidade internacional também 
 
 
 
 
36 
 
 
 
pressionou o Brasil para garantir os direitos de seus cidadãos. Tudo isso aliado à 
instabilidade econômica que atrapalha o crescimento econômico do país. 
Os movimentos sociais ganharam forças suficientes para a garantia de muitos 
pleitos na elaboração da nova Constituição Brasileira. Foram intensos processos de 
participação popular construindo propostas e pressionado, inclusive presencialmente, 
o Congresso Nacional em Brasília.Muitos grupos de pessoas acampavam na Capital 
como forma de pressão popular (LIMA, 2018). 
Ainda conforme a autora, com a promulgação da Constituição Cidadã em 1988 
o Brasil construía alicerces importantes para a garantia de direitos de forma igualitária 
a todos. Mas, como você já sabe, não basta estar escrito, e sim, é preciso dar 
legitimidade ao que está posto. Para isso, são necessárias a informação e a 
divulgação dos direitos garantidos constitucionalmente. 
Foi e ainda é um processo gradual a consolidação daquilo que está definido na 
Constituição Brasileira. O conflito entre a falta de recursos para garantir o acesso às 
políticas públicas e a falta de implementação de políticas de qualidade adequada 
ainda persiste. 
Deve ser levado em consideração aqui as disputas de interesses de projetos 
políticos de sociedade divergentes que também ocorriam na época da promulgação 
da Constituição Federal de 1988. Ao mesmo tempo em que se garantiam direitos pela 
pressão popular, o contexto de recessão estava presente, assim como as pressões 
internacionais que exigiam, contraditoriamente a garantia de direitos constitucionais, 
menos “gastos” com políticas públicas no Brasil. 
Podemos dizer que não há cidadania sem a garantia material dos direitos, mas 
para que isso ocorra a participação sob diversas formatações é fator primordial, vindo 
antes mesmo da cidadania, mas para ser possível participar de algo que não temos 
conhecimento e informações que nos subsidiem é condição primeira que haja a 
disseminação de informações e a constante construção de conhecimento acerca de 
temas de interesse social para que a participação seja efetiva e promissora de 
conquistas de direitos. 
 
 
 
 
37 
 
 
 
A sociedade de classes em que vivemos, atualmente, promove constantes 
embates entre grupos de classes sociais diferentes, marcando a existência de 
correlações de forças opostas. Nesse cenário, faz-se necessária a análise constante 
da realidade, balizada pela força da história socialmente construída e suas 
contradições, sob pena de banalização de injustiças sociais e retomada de forças 
contrárias às conquistas duramente garantidas constitucionalmente, como, por 
exemplo, a igualdade, a cidadania e a democracia minimamente consolidadas neste 
país (LIMA, 2018). 
A participação da sociedade em espaços democráticos e deliberativos foi sendo 
enraizada institucionalmente, gradativamente, após a Constituição de 1988. Ao 
mesmo tempo, nada seria instituído sem a participação massiva da sociedade para 
garantir que tais instâncias deliberativas e consultivas fossem viabilizadas. 
Mas a participação efetiva em temas de interesse social somente é possível 
mediante a informação e compreensão dos temas discutidos e deliberados. A 
informação empodera os sujeitos sociais para a verdadeira transformação daquilo que 
se pretende. Caso não haja a democratização do acesso à informação, há o risco de 
passividade e manipulação de interesses coletivos em detrimento de interesses 
privados. 
Tendo em vista a conjuntura política e econômica do país na 
contemporaneidade, tendemos a questionar o poder do povo em transformar sua 
realidade de desigualdades e de exploração pelos detentores do capital. Porém, ao 
analisar a construção histórica da nossa sociedade, especialmente na segunda 
metade do século XX, você pode constatar que as conquistas dos interesses coletivos 
da sociedade foram possíveis com a organização social e com a participação massiva 
daqueles que buscavam uma sociedade justa e igualitária. 
O que vivenciamos, no cenário político e econômico do Brasil contemporâneo, 
vai de encontro as conquistas constitucionais duramente garantidas pela sociedade 
na década de 1980. Podemos dizer que vivemos claramente a estruturação de um 
projeto de sociedade que tem como pano de fundo a ideologia neoliberal na qual os 
direitos sociais são entendidos como despesas ao erário público. As reformas políticas 
 
 
 
 
38 
 
 
 
e econômicas em andamento no Brasil de hoje visam à manutenção do status quo de 
classes sociais detentoras do poder político e econômico do país em detrimento dos 
direitos da população trabalhadora das classes sociais e econômicas menos 
favorecidas (LIMA, 2018). 
As principais características dessa concepção de desenvolvimento de uma 
sociedade nessa lógica neoliberal são, segundo Lima (2018): o Estado mínimo, ou 
seja, menos investimentos em políticas públicas para que haja a menor intervenção 
estatal, privatizações e concessões como formas de “equilibrar as contas públicas”, 
eficiência e eficácia, utilizando cada vez menos mão de obra e exigindo maior 
polivalência do trabalhador, terceirização, aumento de impostos e retirada de direitos 
dos trabalhadores. 
8.1 Modelos de democracia 
 
Fonte: https://bomdia.lu 
8.1.1 Democracia direta 
 
 
 
 
 
39 
 
 
 
O sistema segundo o qual os cidadãos debatem em público e deliberam 
questões relativas aos seus interesses pessoais ou coletivos pode ser chamado de 
democracia direta (PORTELLA, 2020). 
Uma das principais características da democracia direta é o fato de a população 
não delegar o seu poder de decisão, pois o cidadão expressa, de maneira pessoal e 
direta, a sua opinião. Era assim que aconteciam as assembleias atenienses nas 
praças públicas, de forma horizontal. 
Esse modelo funcionou na Grécia Antiga da forma como foi criado, pois o seu 
contingente populacional era pequeno, permitindo que se reunissem em praça 
pública, de modo que todos pudessem participar na assembleia. À medida que as 
sociedades se avolumavam numericamente e a organização da sociedade se tornava 
mais complexa, o sistema da democracia direta foi se tornando inviável. Afinal, como 
se viabilizaria, por exemplo, a contabilização dos votos de uma população abundante? 
Assim, em razão da impossibilidade de se operacionalizar a democracia direta em 
grandes sociedades, surgiu a chamada democracia representativa (PORTELLA, 
2020). 
Ainda segundo a autora, na atualidade, o modelo aplicado na Suíça é o maior 
exemplo de democracia semidireta que existe. Ele é assim classificado porque 
coexistem dois sistemas democráticos: o direto, em que a população participa 
diretamente da tomada de decisões, e o representativo, por meio dos deputados 
eleitos. O sistema suíço prevê uma prática de consulta popular bem intensa, pois ao 
menos quatro vezes ao ano os suíços recebem, nas suas residências, envelopes 
requerendo a opinião dos cidadãos em determinados assuntos. Ou seja, nesse 
modelo, a participação da população sobre a política do País é muito forte, 
característica inerente à democracia direta. 
No Brasil, a democracia direta se manifesta por meio de instrumentos ainda 
pouco utilizados, apesar de normatizados na Constituição Federal, que assim define 
(BRASIL, 1988): 
Art. 14 A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto 
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
 
 
 
 
40 
 
 
 
I — Plebiscito; 
II — Referendo; 
III — Iniciativa popular. 
 
8.1.2 Democracia representativa 
 
Atualmente, quando falamos em democracia, fazemos referência à democracia 
representativa na maioria das vezes. Esse modelo elege os seus governantes por 
meio do voto popular por um período de tempo determinado, em que o cidadão delega 
o seu poder de decisão para uma pessoa que o representará perante as decisões 
políticas, ou seja, legitimado pela soberania popular. De forma bem sucinta, esse seria 
um bom conceito para democracia representativa, sem desconsiderar a existência da 
democracia direta. No entanto, como visto anteriormente, ela se torna de difícil 
operacionalização em grande escala (PORTELLA, 2020). 
De forma majoritária, o conceito moderno de democracia representativa é 
conhecido pela forma de democracia eleitoral e plebiscitária existente. Essa noção de 
democracia está diretamenteligada ao ideal de participação popular que começou a 
ser difundido ainda na Grécia Antiga. Nas monarquias absolutistas, durante a Idade 
Média, a representatividade começou a se formar, dando início ao que temos hoje 
como modelo de representação. Naquele tempo, os reis convocavam grandes 
assembleias para tomar importantes decisões. Como a população já era mais 
numerosa e encontrava-se espalhada, as localidades enviavam representantes para 
as assembleias. Essas pessoas corriam a comunidade buscando reclamações e 
solicitações endereçadas ao rei. As reclamações e solicitações eram lidas pelo 
representante na presença de todos, sendo que o rei respondia a cada uma das 
questões propostas e, de posse das respostas, o representante devolvia o resultado 
para a comunidade (PORTELLA, 2020). 
A forma da representatividade evoluiu quando os reis começaram a precisar de 
mais recursos para manter a máquina do Estado, que dependia diretamente do 
consentimento das pessoas. Foi quando surgiu, mais precisamente na Inglaterra, a 
 
 
 
 
41 
 
 
 
decisão do rei para que os representantes tomassem decisões em nome da 
comunidade. Com o passar dos séculos, o poder dos representantes só aumentou, e 
a questão dos representantes acabou se associando, de forma definitiva, ao conceito 
de democracia que se entende no mundo ocidental. 
O Brasil é uma democracia representativa, apesar de possuir instrumentos da 
democracia direta à disposição. Podemos depreender essa definição do texto do art. 
1º da Constituição Federal, que trata o Brasil como uma república democrática, em 
que todo poder pertence ao povo, que pode exercê-lo diretamente ou por meio dos 
seus representantes. Para Bonavides (2006), tal modelo tem, hoje, como principais 
bases: 
A soberania popular, o sufrágio universal, a observância constitucional, o 
princípio da separação dos poderes, a igualdade de todos perante a lei, a 
manifesta adesão ao princípio da fraternidade social, a representação como 
base das instituições políticas, limitação de prerrogativas dos governantes, 
Estado de Direito, temporariedade dos mandatos eletivos, direitos e 
possibilidades de representação, bem como das minorias nacionais, onde 
estas porventura existirem. 
Um componente muito importante da democracia representativa são os 
partidos políticos que, além de mediarem os interesses dos órgãos representativos, 
têm papel decisivo na mediação entre os cidadãos e seus representantes, pois, pelo 
menos no Brasil, é necessário um mandato partidário. 
Todas as formas de governo têm os seus prós e contras e, com a democracia 
representativa, não poderia ser diferente. Podemos começar destacando a vantagem 
que a representatividade tem em relação à democracia direta, pois a tomada de 
decisão é muito mais simples e rápida, visto estar centralizada em apenas algumas 
pessoas, não em todas as pessoas que compõem um país. Devemos considerar 
também que, ao delegar o exercício do poder aos seus representantes, o povo entrega 
nas mãos de pessoas teoricamente mais preparadas e mais experientes a tomada de 
decisões sobre temas importantes e com impacto em toda a sociedade. Esse mesmo 
fato de o poder ser entregue nas mãos de poucos pode gerar a dúvida da facilidade 
de manipulação na busca de determinados interesses. Nesse tipo de sistema 
 
 
 
 
42 
 
 
 
representativo, são deflagrados os maiores casos de corrupção, chegando o povo, em 
algumas situações, a ser prejudicado por aqueles que deveriam defender seus 
interesses (PORTELLA, 2020). 
Finalmente, para que a democracia representativa cumpra o papel que se 
espera dela, é necessária a atualização constante dos representantes que ocupam 
cargos públicos por meio de votação na opinião pública, pelo que se estipula que os 
representantes exerçam suas atribuições em prazo determinado e sejam reeleitos. 
 
8.1.3 Democracia participativa 
 
Para Portella (2020) a democracia participativa está colocada entre a 
democracia direta e a representativa, pois ela se apresenta por meio da manifestação 
de instrumentos característicos de cada uma delas. O principal objetivo da democracia 
participativa é fazer o cidadão participar, cada vez mais e de forma mais intensa, das 
questões políticas. Outra importante finalidade é fazer o maior número de pessoas ser 
ouvido, uma vez que a democracia representativa possui essa barreira na sua 
concepção, para que sejam desenvolvidas ações para atender à necessidade de 
todos. Ou seja, por meio desse modelo, aplicável às sociedades modernas e 
contemporâneas, não se tenta reunir toda a população em uma assembleia, ao passo 
que não ficam todas as decisões por conta dos representantes do povo. 
Esse modelo se apresenta como uma alternativa ao modelo representativo, 
que, com o passar do tempo, vem dando indícios de que não consegue mais abranger 
tantas demandas da sociedade. Cada vez mais, existe na democracia brasileira o 
desejo de que a população participe das questões políticas do País, colocando em 
prática a definição de democracia, que diz que todo poder emana do povo, por meio 
de um modelo que valoriza o princípio básico da democracia, deixando o povo como 
protagonista de importantes decisões que impactam a sociedade. A democracia 
participativa se utiliza de instrumentos — como referendos, plebiscitos, iniciativa 
popular e orçamentos participativos — para engajar a população nas questões 
políticas (PORTELLA, 2020). 
 
 
 
 
43 
 
 
 
Para Antonio Lambertucci (2009, p. 71): 
A participação social [...] amplia e fortalece a democracia, contribui para a 
cultura da paz, do diálogo e da coesão social e é a espinha dorsal do 
desenvolvimento social, da equidade e da justiça. Acreditamos que a 
democracia participativa revela-se um excelente método para enfrentar e 
resolver problemas fundamentais da sociedade brasileira. 
Atualmente, busca-se a gestão democrática como forma de viabilizar a 
participação popular junto às políticas públicas, que devem ser formadas com a 
participação direta da sociedade. A gestão democrática se caracteriza pela relação 
entre a sociedade e o governo, com base no modelo participativo, valorizando a 
função da sociedade também como gestora, colocando em destaque o princípio 
fundamental da democracia, que é a participação popular. É importante 
mencionarmos que a tecnologia é uma grande aliada da democracia representativa. 
As novas tecnologias que possibilitam a informação e a comunicação, especialmente 
a internet, prestam um grande favor à sociedade ao disseminar, de forma rápida, 
informações relevantes e urgentes, e também ao permitir a reunião de um grande 
número de pessoas em torno de uma mesma discussão, mesmo que as pessoas 
estejam longe ou espalhadas (PORTELLA, 2020). 
 
 
 
 
44 
 
 
 
9 CONSTITUCIONALISMO, DEMOCRACIA E CIDADANIA 
 
Fonte: pt.dreamstime.com 
Agora que já vimos o Constitucionalismo e suas particularidades podemos 
passar ao estudo da integração entre constitucionalismo, democracia e cidadania. 
Passamos então ao conceito de cada um: 
CONSTITUCIOANLISMO: Regime político no qual o poder executivo é limitado 
por uma constituição. 
DEMOCRACIA: Forma de governo em que o Povo exerce a soberania. 
CIDADANIA: Qualidade de ser cidadão, e consequentemente sujeito de 
direitos e deveres. Cidadão - Condição de pessoa que, como membro de um Estado, 
se acha no gozo de direitos que lhe permitem participar da vida política. 
Podemos agora fazer uma ligação entre as três palavras. Primeiramente para 
que um estado seja DEMOCRÁTICO o povo precisa exercer a sua CIDADANIA, e 
ambas são garantias CONSTITUCIONAIS. 
 
 
 
 
 
 
 
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 CIDADANIA 
 
CONSTITUCIONALISMO 
 DEMOCRACIA 
 
Destaca-se que o Constitucionalismo é uma tendência do Estado Democrático 
de Direito. 
 Nesse sentido, perceba que a ideia de constitucionalismo, se une a de 
Democracia, pois regulamenta

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