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Estat́ıstica de Pulsares Beatriz Tremarin 12 de Junho de 2019 Resumo Remanescente de uma supernova, a estrela de nêutrons, é um objeto compacto com um campo magnético intenso, da ordem de 1010B�, e com uma velocidade de rotação muito alta. Quando o eixo de rotação está desalinhado com o campo magnético, a luz emitida pelos pólos varre diferentes direções do espaço, e, quando a Terra encontra-se na direção do eixo do campo magnético dessa estrela é posśıvel detecta-lá como uma fonte que emite pulsos de radiação por peŕıodo de revolução, nesse caso, o objeto compacto ganha o nome de pulsar. Assim, o objetivo dessa pesquisa é estimar, para um dado número inicial de estrelas de nêutrons, quantas dessas estrelas são pulsares e para isso, a estrela deve satisfazer as condições relacionadas ao eixo de rotação e do campo magnético e ainda, estar na direção de um observador. Para isso, foi desenvolvido um programa, nomeado pulsar.c, na linguagem C, que modela essas condições através de ferramentas da análise vetorial em f́ısica - como o produto escalar, e números pseudo-aleatórios. Com os dados obtidos, observou-se que a razão entre o número de pulsares Nobs e o número de estrelas de nêutrons inicial Nstars = 10 000 000, converge para um valor igual a 0.110 762, e portanto, estima-se que a cada 100 estrelas de nêutrons, 11 são pulsares. Além disso, utilizando essa razão e um catálogo de pulsares, pode-se estimar também a quantidade de estrelas de nêutrons que existem. Com o catálogo produzido pela ATNF (The Australia Telescope Nacional Facility) que contém 1509 pulsares catálogados, calcula-se que existam pelo menos 13 624 estrelas de nêutrons. Assim, o programa permite estudar as relações que existem entre os vetores do eixo de rotação e do campo magnético para uma estrela de nêutrons e entender qual a relação com a direção de um observador para que essa estrela seja classificada como um pulsar. 1 Introdução As estrelas massivas, que iniciam sua vida com massa entre 8 < M(M�) < 25, passam por re- petitivos processos de queima nuclear, exaustão de combust́ıvel, contração do caroço central, novo aquecimento, expansão das camadas externas e etc, sendo que, em dado momento de sua evolução estelar, os constituintes de cada camada so- frem queima nuclear para formação de elemen- tos mais pesados continuamente até a formação do Fe, a partir do qual, as reações deixam de ser exotérmicas [1], ou seja, ao fundir o ferro, o caroço central absorve energia. Com o aumento do caroço de Fe inerte, sua massa aumenta até valor limite - conhecido como massa de Chandra- sekhar [3], para o qual sequer a pressão de dege- nerescência dos elétrons é capaz de estabilizá-lo em relação à pressão gravitacional, o que leva a uma implosão estelar. Assim, com o aumento da densidade, prótons e elétrons se encontram for- mando nêutrons que passam a ser comprimidos entre si - fenômeno chamado de degenerescência de nêutrons, aumentando bruscamente a pressão. Quando o material estelar cai sobre o núcleo é ri- cocheteado de volta, devido à dureza, e uma onda de choque varre a vizinhança, caracterizando uma supernova do tipo II. Remanescente dessa explosão, a parte mais in- terna do núcleo da estrela original, com massa entre 1, 4 < M(M�) < 3 e raio da ordem de 20 km, composto basicamente de nêutrons é o que se conhece como estrela de nêutrons [1]. A densidade desse objeto compacto é da ordem de 1× 1017 kg m−3. Outra caracteŕıstica é que, de- vido à conservação do momento angular, a estrela está rotacionando com uma velocidade muito maior, |~L| = Iω (1) uma vez que a massa permaneceu quase a mesma, em relação à estrela original, mas seu raio foi bruscamente encolhido, portanto, para conservar o momento angular, é necessário que a veloci- 1 Figura 1: A nebulosa do Caranguejo (NGC 1952) alimentada por um pulsar (PSR B0531+21) - ponto branco próximo ao centro da imagem, com um peŕıodo de 33 ms, ambos remanescentes da supernova SN 1054. Imagem do telescópio da Nasa, Chandra X-ray Observatory, em Novembro de 2008. dade de rotação aumente. Além disso, o campo magnético dessas estrelas também é comprimido, as linhas de campo se adensam, tornando-o muito intenso, da ordem de 1010B� [1]. Assim, dada a intensidade do campo magnético, part́ıculas car- regadas na superf́ıcie da estrela seguem as linhas de campo e emitem luz em diversos comprimen- tos de onda, como o v́ısivel, raios-x e, em especial, rádio. Dado o desalinhamento do eixo de rotação com o campo magnético, a luz emitida pelos pólos varre diferentes direções no espaço, de forma análoga a um farol. Quando a Terra encontra-se na direção do eixo do campo magnético da estrela, é posśıvel detecta-la como uma fonte que emite um pulso por peŕıodo de revolução, de forma que, a separação entre os pulsos trás a informação di- reta do sobre o peŕıodo de rotação da estrela, nes- ses casos, o objeto compacto ganha o nome de pulsar. Um pulsar foi detectado pela primeira vez, em 1967, por Jocelyn Bell e colaboradores [3], quando, utilizando um radiotelescópio, registra- ram um sinal de rádio de baixa frequência e muito estável com um peŕıodo de 1.33 s. No entanto, como as implicações f́ısicas dessa descoberta eram tão assustadoras e ousadas para a época, os ci- entistas envolvidos passaram meses tentando se convencer da autenticidade do sinal, cogitando sériamente a hipótese de se tratar de sinais de uma civilização extraterrestre. Com o avanço das pes- quisas, novos valores encontrados para o peŕıodo dos pulsares são da ordem de 10−3 − 8 s [1]. Em vista disso, o trabalho em questão tem como objetivo estimar, para um dado número inicial de estrelas de nêutrons, quantas dessas estrelas são pulsares, ou seja, quantas dessas estrelas (i) tem o eixo de rotação desalinhado com o eixo do campo magnético - para que a luz emitida possa varrer diferentes direções no espaço e, (ii) possui o eixo magnético na mesma direção, ou suficientemente próxima, da direção do observador. 2 Procedimento Experimental Para atender o objetivo da pesquisa, foi desen- volvido um programa na linguagem C, nomeado pulsar.c, que simula as situações descritas em (i) e (ii) modeladas através de ferramentas da análise vetorial em f́ısica e números pseudo-aleatórios. Sendo assim, as variáveis de interesse são: � um vetor que tem a direção do eixo de rotação (~L) da estrela de nêutrons, � um vetor que possua a direção do eixo do campo magnético ( ~B), e � um vetor que tem a direção de um observador (~R). Além das bibliotecas padrão em C, como stdio.h e math.h, utilizou-se o arquivo mt19937-64.c que é uma biblioteca com rotinas relacionadas à que geração de números pseudorandômicos, esse gera- dor que é inicializado através de uma semente de números randômicos, tem como objetivo determi- nar, aleatóriamente, um valor para cada compo- nente dos vetores ~L, ~B e ~R, de forma que tais ve- tores possam assumir diversas direções no espaço e que cada estrela, de um número inicial de estre- las de nêutrons (Nstars), tenha uma configuração diferente desses vetores. Aqui, todos os vetores fo- ram normalizados a fim de simplificar as contas e a programação envolvida, o que não acarreta pro- blemas para a simulação, uma vez que o interesse se dá nas direções e não no módulo do vetor em si. Posto isto, para saber se a estrela de nêutrons 2 é um pulsar, as situações em (i) e (ii) deve ser satisfeitas simultaneamente. Para (i), matematicamente, o desalinhamento desses eixos, significa que o ângulo entre esses dois vetores deve ser diferente de zero ou de valores muito próximos à zero, portanto estabeleceu-se uma condição, tal que, � se o ângulo entre ~L e ~B é > 3° então a estrela de nêutrons emite pulsos de radiação. Equivalentemente, essa condição pode ser ex- pressa atravésdo produto interno entre dois ve- tores, assim ~L · ~B = |~L|| ~B|cos(θ1) (2) onde θ1 é o ângulo entre ~L e ~B, dáı (θ1) = arccos ~L · ~B |~L|| ~B| = LxBx + LyBy + LzBz |~L|| ~B| , (3) como os vetores foram normalizados, o produto |~L|| ~B| = 1. No entanto, não basta apenas que a estrela de nêutrons emita pulsos de radiação, mas que essa radiação possa ser detectada por algum observa- dor, para isso, então, determinou-se uma segunda condição, � se a diferença entre os ângulos de ~L e ~B e ~L e ~R é < 3° então a estrela de nêutrons é observável como um pulsar. De forma semelhante para as equações 2 e 3, te- mos que, ~L · ~R = |~L||~R|cos(θ2) (4) onde θ2 é o ângulo entre ~L e ~R, segue que (θ2) = arccos ~L · ~R |~L||~R| = LxRx + LyRy + LzRz |~L||~R| , (5) também, o produto |~L||~R| = 1. Portanto, se |θ1 − θ2| < 3° (6) então a estrela de nêutrons é um pulsar. Assim, para cada estrela de nêutrons, o programa reali- zou esse processo, e se ao final das contas a es- trela atende a essas condições, então é contabili- zado um pulsar (Nobs). Por fim, o programa im- prime na tela três valores: o número de estrelas Figura 2: Esquema experimental. Para que uma estrela de nêutrons seja considerada um pulsar, θ1 deve ser maior que 3° e a diferença entre θ1 e θ2 menor que 3° . de nêutrons inicial (Nstars), o número de estrelas de nêutrons que são pulsares (Nobs) e Nobs Nstars (7) que é a razão entre esses valores que representa a quantidade de estrelas de nêutrons que são pul- sares em relação à um número de estrelas inicial. 3 Resultados e Discussões O programa foi executado repetidas vezes para quantidades diferentes de estrelas de nêutrons ini- ciais (Nstars) e observou-se que a partir de 10 000 estrelas iniciais, a razão mostrada na equação 7 tem flutuações na ordem dos centésimos e milésimos mas com o valor do décimo estabili- zado em torno de 0.11. Assim, estima-se que a cada 100 estrelas de nêutrons, aproximadamente 11 são pulsares. É esperado uma quantidade pe- quena de pulsares, pois, para ser classificado como um pulsar, a estrela de nêutrons deve satisfazer condições espećıficas não apenas quanto ao seu eixo de rotação e do campo magnético mas, ainda, estar na direção de um observador. Além disso, pode-se extrapolar os dados experi- mentais e conjecturar sobre a quantidade de es- trelas de nêutrons que existem. Uma vez que a razão entre a quantidade de pulsares e estrelas de nêutrons é um valor que, aparentemente, con- verge para algo em torno de 0.110 762, utilizando um catálogo de pulsares, como o produzido pela ATNF (The Australia Telescope National Faci- lity), que possui 1509 pulsares catalogados (Bib- code 2005AJ....129.1993M) [2], pode-se determi- 3 Tabela 1: Dados gerados a partir da execução do programa pulsar.c que mostram uma con- vergência da quantidade de estrelas observáveis Nobs a partir de um número inicial de estrelas Nstars = 10 000. Nstars Nobs Nobs Nstars 10 2 0.200 000 100 11 0.110 000 1000 130 0.130 000 10 000 1162 0.116 200 100 000 11 229 0.112 290 1 000 000 110 690 0.110 690 10 000 000 1 107 616 0.110 762 nar a quantidade de estrelas de neutrons que exis- tem para essa quantidade de pulsares. Sendo as- sim, Nobs Nstars = 0.110 762 (8) fazendo as manipulações algébricas necessárias, obtemos o número de estrelas de nêutrons que é dado por: Nstars = Nobs 0.110 762 (9) De forma que, para 1509 pulsares catalogados é esperado que existam 13 624 estrelas de nêutrons. 4 Conclusão O programa desenvolvido (pulsar.c) permite sa- tisfatoriamente estudar as relações entre os ve- tores do eixo de rotação (~L) e eixo do campo magnético ( ~B) para uma estrela de nêutrons e entender qual a relação com a direção (~R) de um observador para que a estrela de nêutrons seja classificada como um pulsar, dadas condições es- pećıficas, é esperado que o número de pulsares seja um tanto quanto reduzido em relação à quan- tidade de estrelas de nêutrons iniciais. A respeito disso, foi encontrado a razão entre o número de pulsares para uma dada quantidade de estrelas de nêutrons inicial (Nstars = 10 000 000), sendo essa razão igual a 0.110 762, assim, pode-se estimar que a cada 100 estrelas de nêutrons, 11 são pulsa- res. Além disso, a pesquisa também permite esti- mar a quantidade de estrelas de nêutrons que exis- tem, utilizando a razão Nstars/Nobs e um catálogo de pulsares. Assim, para a quantidade de pulsares calatogados (1509) pela ATNF (The Australia Te- lescope Nacional Facility), estima-se que existam pelo menos 13 624 estrelas de nêutrons. Referências [1] J. W. MACIEL. Introdução à Estrutura e Evolução Estelar, chapter 14: Evolução Este- lar: Uma visão geral. Editora da Universidade de São Paulo, 1 edition, 2018. [2] R. N. Manchester, G. B. Hobbs, A. Teoh, and M. Hobbs. The Australia Telescope National Facility Pulsar Catalogue. AJ, 129:1993–2006, April 2005. [3] D. A. NETO, E. J HORVATH, et al. Astrono- mia: Uma Visão Geral do Universo. Editora da Universidade de São Paulo, 2008. 5 Apêndice #include <stdio.h> #include <stdlib.h> #include <math.h> #include "mt19937 -64.c" int main (){ unsigned long long seed; double L[4]; //vetor do eixo de rotaç~ao double L1; //módulo do vetor de rotaç~ao double L2; //módulo do vetor de rotaç~ao double B[4]; //vetor do eixo magnético double B1; double B2; double R[4]; //vetor da direç~ao do observador double R1; double R2; double LR; //produto interno entre L e R double LB; //produto interno entre L e B int Nstars; //número de estrelas de nêutrons inicial int Nobs; //número de pulsares observáveis int k; //contador relacionado às estrelas em teste int i ; //contador relacionado as componentes dos vetores seed =2632763647368; // um número "grande"o suficiente init_genrand64(seed); // inicializando o gerador de números //pseudorandomicos Nstars =100000; Nobs =0; for ( k=1 ; k<= Nstars ; k++ ) { // direç~ao de rotaç~ao (momento angular) L[1] = genrand64_real3 () ; // número entre [0,1] L[2] = genrand64_real3 () ; L[3] = genrand64_real3 () ; L2 = 0.0; for (i=1 ; i<=3 ; i++ ) L2 += L[i]*L[i] ; L1 = sqrt( L2 ) ; //módulo do vetor de rotaç~ao L[1] /= L1 ; // vetor L normalizado L[2] /= L1 ; L[3] /= L1 ; // direç~ao do eixo magnético B[1] = genrand64_real3 (); B[2] = genrand64_real3 (); B[3] = genrand64_real3 (); B2=0.0; for (i=1 ; i<=3 ; i++ ) B2 += B[i]*B[i]; B1 = sqrt(B2); //módulo do vetor do eixo magnético B[1]/= B1 ; //vetor B normalizado B[2]/= B1 ; B[3]/= B1 ; // direç~ao do observador R[1] = genrand64_real3 (); R[2] = genrand64_real3 (); R[3] = genrand64_real3 (); R2=0.0; for (i=1 ; i<=3 ; i++ ) R2 += R[i]*R[i]; R1 = sqrt (R2) ; //módulo do vetor da direç~ao do observador 4 R[1]/= R1; //vetor R normalizado R[2]/= R1; R[3]/= R1; // calculo dos produtos internos importantes LB=0.0; LR=0.0; for (i=1 ; i<=3 ; i++ ) LB += L[i]*B[i] ; for (i=1 ; i<=3 ; i++ ) LR += B[i]*R[i] ; //a estrela de neutrons é um pulsar? if ( acos(LB) > 3*M_PI /180.0 ) { //observabilidade if ( fabs(acos(LB) - acos(LR) ) < 3*M_PI /180.0 ) { Nobs ++; } } } printf ("%d %d %f\n", Nstars , Nobs , (double)Nobs/Nstars ); //type casting return 0; } 5
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