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FÍSICA MODERNA Paul A. Tipler ex-Professor da Oakland University Ralph A. Llewellyn University of Central Florida Tradução e Revisão Técnica Ronaldo Sérgio de Biasi, Ph.D. Professor Emérito do Instituto Militar de Engenharia – IME SEXTA EDIÇÃO Este Material Suplementar contém ilustrações, leituras suplementares, revisão de conceitos clássicos que podem ser usados como apoio para o livro Física Moderna, Sexta Edição, 2014. Este material é de uso exclusivo de professores e estudantes que adquiriram o livro. Material Suplementar traduzido do material original: – Ilustrações da obra em formato de apresentação (acesso restrito a docentes); – Leituras Suplementares arquivos em formato (.pdf) contendo material de apoio às seções do livro-texto (acesso livre); – Revisão de Conceitos Clássicos arquivos em formato (.pdf) contendo material complementar às seções do livro-texto (acesso livre); MODERN PHYSICS, SIXTH EDITION First published in the United States by W. H. FREEMAN AND COMPANY, New York Copyright © 2012, 2008, 2003, 2000 by W. H. Freeman and Company All Rights Reserved. Publicado originalmente nos Estados Unidos por W. H. FREEMAN AND COMPANY, New York Copyright © 2012, 2008, 2003, 2000 by W. H. Freeman and Company Todos os Direitos Reservados. ISBN: 978-1-4292-5078-8 Reservados todos os direitos. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sob quaisquer formas ou por quaisquer meios, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação, ou por qualquer sistema de armazenagem e recuperação de informações sem permissão da Pearson Education, Inc. Edição em língua PORTUGUESA publicada por LTC — LIVROS TÉCNICOS E CIENTÍFICOS EDITORA LTDA., Copyright © 2014. Obra publicada pela LTC: FÍSICA MODERNA, Sexta Edição Direitos exclusivos para a língua portuguesa Copyright © 2014 by LTC — Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda. Uma editora integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional Imagem de capa: Steven R. White, University of California, Irvine Editoração Eletrônica do material suplementar: | iv SUMÁRIO CAPÍTULO 1 Leitura Suplementar 1 O Experimento de Michelson-Morley 1 Leitura Suplementar 2 O Caso dos Gêmeos Identicamente Acelerados 4 CAPÍTULO 2 Leitura Suplementar 1 O Periélio da Órbita de Mercúrio 6 Leitura Suplementar 2 O Retardo da Luz em um Campo Gravitacional 8 CAPÍTULO 3 Leitura Suplementar 1 Demonstração da Equação de Compton 10 CAPÍTULO 4 Leitura Suplementar 1 A Previsão de Rutherford e os Resultados de Geiger e Marsden 11 Leitura Suplementar 2 Crítica da Teoria de Bohr e da “Velha” Mecânica Quântica 13 CAPÍTULO 5 Leitura Suplementar 1 O Experimento de Duas Fendas 14 CAPÍTULO 6 Leitura Suplementar 1 Solução Gráfica do Poço Quadrado Finito 16 Leitura Suplementar 2 Transições entre Estados Quânticos 18 Leitura Suplementar 3 O Artifício de Schrödinger 21 Leitura Suplementar 4 O Diodo Túnel 23 CAPÍTULO 7 Leitura Suplementar 1 Átomos com Mais de um Elétron Externo 25 Leitura Suplementar 2 O Efeito Zeeman 28 CAPÍTULO 8 Leitura Suplementar 1 Temperatura e Entropia 32 Leitura Suplementar 2 Demonstração do Teorema da Equipartição para um Caso Particular 33 CAPÍTULO 9 Leitura Suplementar 1 Outras Ligações Covalentes 34 CAPÍTULO 10 Leitura Suplementar 1 Condução de Calor – O Modelo Quântico 40 Leitura Suplementar 2 Bandas de Energia em Sólidos: Uma Abordagem Alternativa 41 Leitura Suplementar 3 Como Funcionam os Transistores 43 CAPÍTULO 11 Leitura Suplementar 1 O Modelo da Gota de Líquido e a Equação de Weizsäcker 46 v Leitura Suplementar 2 Sequências de Decaimentos 48 Leitura Suplementar 3 Níveis de Energia do Decaimento Alfa 51 Leitura Suplementar 4 O Efeito Mössbauer 53 Leitura Suplementar 5 O Modelo de Camadas de Mayer e Jensen 56 Leitura Suplementar 6 Energia Nuclear 59 Leitura Suplementar 7 Interações de Partículas com a Matéria 66 Leitura Suplementar 8 Efeitos Biológicos da Radiação Ionizante 70 CAPÍTULO 12 Leitura Suplementar 1 Em que Circunstâncias uma Grandeza Física É Conservada? 73 Leitura Suplementar 2 Ressonâncias e Estados Excitados 75 Leitura Suplementar 3 Teoria das Cordas 78 1 CAPÍTULO 1 LEITURA SUPLEMENTAR 1 O Experimento de Michelson-Morley No interferômetro de Michelson, mostrado de forma esquemá- tica na Figura 1-8a, os raios luminosos são análogos aos barcos do Exemplo 1-1, com a Terra correspondendo à margem do rio. A imagem vista pelo observador é constituída por uma série de franjas de interferência alternadamente claras e escuras (Figura 1-8b). A interferência entre as ondas luminosas no ponto A é o resultado da diferença ∆n do número de ciclos n1 e n2 nos dois percursos, que produz uma diferença de fase entre as ondas que chegam de volta ao ponto A. O número de ciclos n em qualquer percurso é dado por 1-7 considerando que é o comprimento de onda da luz e L é o comprimento do percurso. Para ∆n = 0 ou um número inteiro, a interferência é construtiva (ou seja, a diferença de fase é 0, 2, 4,...) e a intensidade luminosa é máxima. Para ∆n = 1/2 ou 1/2 mais um número inteiro, a interferência é destrutiva (ou seja, a diferença de fase é , 3, 5,...) e a intensidade lumi- nosa é mínima. Valores intermediários de ∆n resultam em inten- sidades intermediárias. Embora o valor absoluto de ∆n para uma franja específica seja difícil de determinar, é óbvio que, no caso de duas franjas consecutivas, sejam elas claras ou escu- ras, os valores de ∆n diferem de 1. A distância entre máximos ou mínimos vizinhos é denominada largura da franja.7 (Veja a Figura 1-8b.) Observe na Equação 1-7 que uma variação de L ou de (ou de ambos) resulta em uma variação de n. É a variação de L no per- curso 2, causada pelo espaço entre M2 e M1, que produz a figura da interferência da Figura 1-8b. A variação da velocidade da luz devido ao movimento da Terra que Michelson e Morley estavam tentando observar resultaria em uma variação de , já que a velocidade c de uma onda está relacionada ao comprimento de onda através da equação 1-8 na qual f é a frequência da onda.8 Assim, se c muda para c, muda para , o que por sua vez produz uma mudança em n. Com o interferômetro em repouso no laboratório enquanto a Terra se move para a esquerda através do éter com velocidade v, os dois raios luminosos da Figura 1-8a correspondem aos barcos da Figura 1-6a, os pontos A, B e C do interferômetro são análogos aos pontos correspondentes na margem do rio e o éter faz o papel do rio. (Na Figura 1-6a, a margem do rio está se “movendo” para a esquerda em relação ao rio “estacionário”.) Raciocinando desta forma, Michelson obteve uma expressão para a diferença ∆t entre os tempos de percurso dos dois raios luminosos produzidos pelo espelho semitransparente situado em A que era igual à Equação 1-6: 1-6 em que a velocidade no percurso 1 é maior que no percurso 2 porque t2 > t1. O fato de que a velocidade é maior no percurso 1 significa que 1 > 2 (de acordo com a Equação 1-8) e, por- tanto, que existe uma diferença, ∆n", no número de ciclos asso- ciados aos dois caminhos (de acordo com a Equação 1-7), além da diferença ∆n' causada pelo espaço entre M2 e M1. Natural- mente, as franjas de interferência observadas seriam o resultado de uma combinação dos dois efeitos. O interesse de Michelson estava na parte de ∆n associada à diferença na velocidade da luz ao longo dos dois percursos, e ele imaginou um método engenhoso para isolar este efeito do efeito total, tornando ao mesmo desnecessário o conhecimento da direção do movimento da Terra através do éter. Se o interfe- rômetro é girado de 90° em torno de um eixo perpendicular ao plano formado pelos raios luminosos, o percurso 2 se torna para- lelo à suposta direção de v e os valores da velocidade da luz ao longo dos dois percursos se invertem. Nesta nova configuração, a diferença entre os tempos de percurso, ∆t, passa a ser e o módulo da diferença dos tempos de percurso após uma rota- çãode 90°, ∆ttotal, é dado por 1-9 A diferença correspondente entre os números de ciclos asso- ciados aos dois caminhos, ∆N, é dada por 1-10 2 Leitura Suplementar 1 O valor de ∆N calculado com o auxílio da Equação 1-10 tam- bém é igual ao deslocamento das franjas de interferência no visor do aparelho. Lembre-se de que cada ponto no visor do interferômetro (Figura 1-8b) corresponde a uma certa diferença de fase entre os dois raios luminosos; a diferença de fase entre dois máximos de luminosidade consecutivos é igual a 2. A rotação do interferômetro faz com que uma diferença de fase adicional ∆ = 2∆N seja introduzida em todos os pontos, des- locando assim a figura de interferência de uma distância dada por ∆/2 = ∆N. Recentemente, foram executados experimentos semelhantes ao de Michelson-Morley usando técnicas e equipamentos de alta precisão. Em um desses experimentos, executado por T. S. Jaseja et al.9 em 1964, os espelhos da Figura 1-8a foram subs- tituídos por lasers iguais (Figura 1-9). Como veremos no Capí- tulo 9, o laser é uma cavidade ressonante para a luz na qual é produzida uma onda estacionária entre dois espelhos paralelos. A frequência da onda estacionária (que é igual à frequência da luz emitida) é proporcional à velocidade da luz no laser e inver- samente proporcional à distância entre os espelhos paralelos. Se a distância entre os espelhos paralelos dos dois lasers é a mesma, a diferença de frequência entre as ondas emitidas pelos dois lasers (ou seja, a frequência de “batimento”) depende apenas da diferença entre as velocidades da luz nos dois lasers. Se o sistema for girado de 360°, qualquer movimento da Terra em relação ao éter fará com que a frequência de batimento varie periodicamente, da mesma forma como se esperava que o espaçamento das fran- jas de interferência variasse com a rotação do interferômetro no experimento de Michelson-Morley. Nos vários experimentos realizados com lasers, não foi observada nenhuma variação na frequência de batimento, dentro dos limites do erro experimen- tal. O mais recente desses experimentos10 estabeleceu um limite superior de 15 m/s para a velocidade da Terra em relação ao éter. Muitas alternativas foram sugeridas para explicar o resultado negativo do experimento de Michelson-Morley, como a existên- cia de uma camada estacionária de éter arrastada pela Terra (Figura 1-10) e a variação da velocidade da luz com o movi- mento relativo entre a fonte e o observador (Figura 1-11), mas nenhuma dessas hipóteses foi confirmada experimentalmente. Na verdade, todas as observações realizadas até o momento levam à conclusão de que a propagação da luz não é afetada pelo movimento da Terra. Laser 1 Laser 2 Rotação Detector de batimentos 1–2 Espelho semitransparente L v L d c Terra Telescópio Estrela φ v L FIGURA 1-9 Arranjo experimental de Jaseja et al. para a versão do expe- rimento de Michelson-Morley usando lasers. FIGURA 1-10 Aberração estelar. A luz proveniente de uma estrela, pro- pagando-se em linha reta com velocidade c, penetra no tubo de com- primento L de um telescópio. Enquanto a luz atravessa o tubo, o teles- cópio se desloca de uma distância d = L sen = vt, considerando que v é a velocidade orbital da Terra, e t = (L cos )/c é o tempo que a luz leva para atravessar o tubo. Assim, = tan-1 (v/c) = 20,5 segundos de arco. Observações da estrela realizadas seis meses depois, quando o vetor velocidade da Terra tem o sentido oposto, exigem uma correção no alinhamento do telescópio de 20,5 segundos de arco no sentido oposto, ou seja, a variação em um ano na direção de alinhamento do telescópio para observar a estrela é de 41 segundos de arco. Esta obser- vação está em desacordo com a hipótese de que uma camada estacio- nária de éter é arrastada pela Terra, proposta para explicar o resultado negativo do experimento de Michelson-Morley. O Experimento de Michelson-Morley 3 FIGURA 1-11 Variação do brilho de Algol, uma estrela binária na constelação de Perseu. (a) Uma das estrelas é cerca de três vezes mais brilhante que a outra. Quando a estrela mais brilhante é eclipsada pela companheira, a redução de intensidade é maior; quando a estrela eclipsada é a menos brilhante, a redução de intensidade é menor. As duas estrelas giram em torno do centro de gravidade do sistema uma vez a cada 69 horas, a uma veloci- dade de aproximadamente 250 km/s. (b) Em extremidades opos- tas da órbita de cada estrela, o vetor velocidade orbital v aponta na direção da Terra e na direção oposta. De acordo com a teoria clássica da luz, a velocidade da luz de cada uma das estrelas em pontos extremos da órbita deveria ser c + v e c – v, o que levaria à formação de imagens “fantasmas”, com uma das estrelas do par aparecendo simultaneamente em duas posições diferentes. O fato de que essas imagens não são observadas é considerado uma confirmação do segundo postulado de Einstein. 4 2 3 0 1 0 1 2 Tempo (dias) c.m. Para a Terra v v 3 B ril ho to ta l (u ni da de s ar bi tr ár ia s) (a) (b) A B 4 CAPÍTULO 1 LEITURA SUPLEMENTAR 2 O Caso dos Gêmeos Identicamente Acelerados É importante chamar a atenção para o fato de que a diferença de idade biológica entre os gêmeos do famoso paradoxo se deve à relatividade da simultaneidade e não a outra causa qualquer. S. P. Boughn21 propôs uma engenhosa variante do problema dos gêmeos que ajuda a refutar a ideia de que a rapidez com a qual um viajante envelhece depende das acelerações que ele experi- menta e chama atenção para a importância do sincronismo dos relógios em muitas previsões da relatividade restrita. Vamos descrever uma situação na qual os gêmeos são submetidos a acelerações iguais e, mesmo assim, um deles envelhece mais depressa. Suponha que dois gêmeos, Décio e Jane, estão planejando uma viagem na qual serão acelerados do referencial inercial S, onde vivem, para um novo referencial inercial, S, que está se movendo com velocidade v em relação a S. Eles dispõem de espaçonaves iguais, contendo a mesma quantidade de combus- tível, que estão estacionadas no eixo x de S. A espaçonave de Jane se encontra x0 unidades de distância à direita da espaçonave de Décio (Figura 1-36a). Os gêmeos sincronizam os relógios com os de Papai e Mamãe, que permanecerão em S durante a viagem. No dia em que fazem 21 anos, os gêmeos se despedem dos pais, ligam os motores e aceleram para a direita ao longo do eixo x. Depois de consumir todo o combustível no mesmo intervalo de tempo, as duas espaçonaves atingem a mesma velo- cidade v (já que são iguais e transportavam a mesma quantidade de combustível) e passam a se mover com velocidade constante em S. Comparando os registros das duas espaçonaves, Décio e Jane chegam à conclusão de que sofreram a mesma aceleração, mas descobrem, perplexos, que Jane está mais velha que Décio! Além disso, a distância entre as espaçonaves aumentou durante a viagem (Figura 1-36b). Como isso é possível? Para compreender o que aconteceu, considere dois eventos em S: a chegada dos gêmeos ao novo referencial. Suponha que ambos cheguem no dia do aniversário (lembre-se de que o tempo de aceleração foi o mesmo para as duas espaçonaves). De acordo com a transformação de Lorentz, o instante em que ocorrem esses eventos em S, o novo referencial dos gêmeos, é dado por na qual v é a velocidade de S em relação a S e os índices D e J indicam que as coordenadas se referem a Décio e Jane, respec- tivamente. Os gêmeos observam que existe um intervalo de tempo entre seus aniversários (!) dado por As coordenadas do segundo membro representam o ponto de vista de Papai e Mamãe, que permanecem em S; logo, tD – tJ = 0, xJ – xD = x0 e, portanto, Assim, do ponto de vista dos gêmeos, o aniversário de Jane ocorreu em tj, ou seja, vx0/c2 unidades de tempo antes do ani- versário de Décio. Além disso, a distância entre as espaçonaves é dada por A Figura 1-36c mostra as linhasdo universo dos gêmeos e ilus- tra claramente os resultados que acabamos de calcular. O fato de que um dos gêmeos envelheceu mais depressa que o outro, embora as acelerações tenham sido iguais, pode pare- cer paradoxal, mas é fácil de explicar. Como no caso de Homero e Ulisses, as situações dos gêmeos não são iguais. Se Jane come- çou a viagem x0 unidades à direita de Décio, embora os relógios dos irmãos estivessem sincronizados em S, havia uma diferença de vx0/c2 unidades de tempo entre os relógios em um referen- cial S dotado de uma velocidade v em relação a S. Quando os gêmeos chegam ao referencial S, esta é exatamente a diferença de tempo que observam. Mais uma vez, a explicação de um suposto paradoxo está na relatividade da simultaneidade. O Caso dos Gêmeos Identicamente Acelerados 5 x ct ct´ x´ Chegada de Décio a S Chegada de Jane a S Linha do universo de Décio Linha do universo de Jane (c) (b) (a) x0 x0 x D́ x J́ t D́ t J́ x0 > x0 FIGURA 1-36 (a) Os gêmeos, ao iniciarem a viagem. (b) Os gêmeos, ao chegarem ao referencial S. (c) As linhas do uni- verso de Décio e Jane, traçadas no referencial inercial S, mos- tram que a chegada de Jane a S, no dia do seu aniversário, aconteceu no instante tj, anterior ao instante tD da chegada de Décio, o que a torna mais velha. O gráfico foi desenhado para = 0,75. 6 CAPÍTULO 2 LEITURA SUPLEMENTAR 1 O Periélio da Órbita de Mercúrio Uma terceira previsão da teoria da relatividade geral de Einstein era a de que a precessão da órbita do planeta Mercúrio apresen- taria um excesso da ordem de 0,01° por século em relação aos resultados obtidos usando a teoria clássica. Como a discrepân- cia entre os resultados experimentais e os teóricos era bem conhecida na época de Einstein, a explicação dessa diferença constituiu um triunfo imediato para a nova teoria. De acordo com a mecânica newtoniana, as órbitas dos planetas deveriam ser elipses fechadas, com o Sol situado em um dos focos e os eixos apontando sempre para as mesmas direções do espaço. Na prática, porém, as atrações gravitacionais dos outros planetas fazem com que os eixos principais da elipse girem lentamente em torno do Sol (Figura 2-24). Na ausência de outros planetas, a teoria gravitacional de Newton prevê que a órbita seria uma elipse perfeita, com a distância r entre o Sol e o planeta sendo dada por 2-55 sendo rmin a distância do ponto de máxima aproximação, conhe- cido como periélio, e é a chamada excentricidade da órbita, definida como a razão entre a distância entre os focos e o com- primento do eixo maior (no caso de um círculo, = 0) e é a coordenada angular do planeta em relação ao eixo maior. A Tabela 2-2 mostra a excentricidade das órbitas de alguns planetas. A rotação dos eixos principais da elipse é descrita em termos de uma mudança progressiva na direção de rmin na Figura 2-24 e conhecida como precessão do periélio. A lei da gravitação de Newton permite determinar a influência gravitacional dos outros planetas e, portanto, calcular o valor total da precessão do perié- lio para um dado planeta. Os resultados, porém, não estão de acordo com as observações experimentais. No caso de Mercú- rio, por exemplo, a precessão observada é de 9,55 minutos de FIGURA 2-24 As órbitas dos planetas são elipses, com o Sol em um dos focos. A força gravitacional dos outros planetas faz com que os eixos das elipses girem lentamente em torno do Sol, com a reta que liga o Sol à posição do periélio se deslocando de um ângulo ∆ a cada revo- lução. Este deslocamento é conhecido como precessão do periélio. No caso do planeta Mercúrio, ∆ = 9,55 minutos de arco por século. Planeta r φ ∆φ Sol Periélio rmin Tabela 2-2 Precessão da órbita de alguns planetas n (segundos de arco/século) Planeta n (órbitas por século) rmin (UA)* Relatividade geral Observado Mercúrio 415,2 0,206 0,307 43,0 43,1 0,5 Vênus 162,5 0,0068 0,717 8,6 8,4 4,8 Terra 100,0 0,017 0,981 3,8 5,0 1,2 Ícaro† 89,3 0,827 0,186 10,0 9,8 0,8 *Unidade astronômica (UA) = distância média Terra-Sol = 1,50 1011 m. † Ícaro é um dos milhares de asteroides que existem no Sistema Solar. Foi incluído na tabela porque o periélio de sua órbita é menor que o da órbita de Mercúrio. O Periélio da Órbita de Mercúrio 7 arco por século, enquanto a precessão prevista é de apenas 8,85 minutos de arco por século.21 Existe, portanto, uma diferença sem explicação de cerca de 0,7 minuto (42 segundos) de arco por século. (O valor exato da discrepância experimental é de 43,1 segundos de arco por século. Veja a Tabela 2-2.) A existência da discrepância era conhecida na época em que Einstein formulou a teoria da relatividade geral; ele concluiu o primeiro artigo que publicou sobre o assunto explicando a ori- gem da discrepância e mostrando que sua teoria permitia calcu- lar o valor correto da precessão.22 De acordo com a teoria da relatividade geral, o ângulo que aparece na Equação 2-49 deve ser substituído por um ângulo ∆: 2-56 sendo que o valor de ∆, a correção relativística da precessão, é dado por 2-57 em que G é a constante gravitacional, M é a massa do Sol e R é o semieixo maior da órbita. Como era de se esperar, a órbita do planeta Mercúrio, que possui o menor valor de R e a maior excentricidade, é também aquela para a qual a correção relativística é maior. Substituindo os parâmetros da Equação 2-51 por valores apropriados, obte- mos ∆ = 43,0 segundos de arco por século, em concordância quase perfeita com os resultados experimentais. (A Tabela 2-2 mostra também os resultados para outros planetas.) Einstein ficou tão satisfeito com suas conclusões que escreveu em uma carta endereçada a Arnold Sommerfeld: O maravilhoso de tudo é que não só ela [a teoria da relatividade geral] permite chegar à teoria de Newton, em primeira aproxi- mação, mas também ao movimento do periélio de Mercúrio, em segunda aproximação. 8 CAPÍTULO 2 LEITURA SUPLEMENTAR 2 O Retardo da Luz em um Campo Gravitacional Einstein foi levado a formular a teoria da relatividade geral por- que a teoria da gravitação de Newton era incompatível com a teoria da relatividade restrita. A teoria da relatividade geral resol- veu esse problema, além de remover algumas dificuldades con- ceituais associadas à teoria de Newton. Entre essas dificuldades estavam a exclusão das partículas de massa zero da teoria clás- sica e o fato de que a força gravitacional clássica era uma ação à distância (isto é, sem contato entre as massas envolvidas) e transmitida instantaneamente (isto é, com velocidade infinita), em conflito com o princípio estabelecido pela teoria da relativi- dade restrita de que a velocidade da luz constituía um limite absoluto para a transmissão de sinais. Na teoria da relatividade geral, esta última dificuldade é contornada usando o princípio de equivalência para substituir o campo gravitacional em todos os pontos do espaço por referenciais acelerados. Em cada um desses referenciais locais, a teoria da relatividade restrita pode ser aplicada, juntamente com o primeiro postulado de Einstein, o princípio da relatividade. O resultado de tudo isso, que envolve um tratamento matemático extremamente complexo, é produzir um intervalo no espaço-tempo modificado ds (Equação 2-43) que usamos anteriormente em duas dimensões: 2-58 Esta expressão liga a gravidade, representada pelo termo (1 2GM/c2r2), às coordenadas geométricas do espaço-tempo. Observe que, se M = 0, a expressão para (ds)2 se reduz à forma já conhecida da relatividade restrita, mas, se M 0, o valor do intervalo passa a depender da massa. Qualitativamente, se asso- ciarmos ds a um gradiente, (ds)2 pode ser considerado como o equivalente à curvatura do espaço-tempo. Assim, chegamos à ideia de que a presença de massa em uma dada região do espaço altera a curvatura do espaço-tempo nessa região. Esta breve discussão qualitativa não faz justiçaa um assunto tão importante e complexo, mas nos permite propor uma ana- logia bidimensional para o efeito da massa sobre a curvatura do espaço-tempo. Ilustrando o chamado “modelo da membrana de borracha”, a Figura 2-25a mostra as trajetórias de um raio lumi- noso A e uma partícula com uma (pequena) massa de repouso B que estão atravessando uma região do espaço-tempo bidimen- sional na qual não existem grandes massas. A linha do universo do raio luminoso é a linha reta correspondente a uma velocidade c e ds = 0; na ausência de forças externas, a linha do universo da partícula também é uma linha reta, mas com uma velocidade menor que c e ds 0. Na Figura 2-25b, a presença de uma FIGURA 2-25 Espaço-tempo bidimensional na ausência de massa (a) e na presença de uma massa M (b), de acordo com o modelo da mem- brana de borracha. A e B são as linhas do universo de um raio luminoso e de uma partícula com massa de repouso diferente de zero. Os pontos T e V indicam as posições da Terra e de Vênus no momento em que Shapiro realizou uma de suas medições. A B (a) (b) B´ V T A´ M O Retardo da Luz em um Campo Gravitacional 9 grande massa M distorce o espaço-tempo. A luz e a partícula agora se movem ao longo das trajetórias A e B. A trajetória da partícula revela a “atração gravitacional” da massa M, mas não como uma misteriosa ação à distância. Na verdade, a partícula continua a se mover ao longo da trajetória mais curta (a cha- mada geodésica) do espaço-tempo distorcido. O raio luminoso faz exatamente a mesma coisa! Assim, a linha do universo da luz deixa de ser uma reta, o que faz com que a luz sofra um retardo do ponto de vista de observadores distantes. Suponha, por exemplo, que a massa M da Figura 2-25b seja o Sol e que T e V sejam, respectivamente, a Terra e Vênus. Quando os dois planetas se encontram em posi- ções diametralmente opostas em relação ao Sol (o que os astrô- nomos chamam de conjunção superior), a trajetória que a luz tem que percorrer para ir de um planeta ao outro é ligeiramente mais longa que o “caminho direto”, isto é, o caminho que a luz percorreria se uma massa M não estivesse presente para distor- cer o espaço-tempo. A distância entre os planetas nessa situação pode ser calculada com grande precisão a partir das órbitas; assim, não é difícil calcular o tempo necessário para a luz viajar de um planeta para o outro. Nas circunstâncias, a luz levaria cerca de 20 minutos para fazer uma viagem de ida e volta entre Vênus e a Terra. Como a linha do universo para a luz é ligeira- mente mais comprida na presença do Sol, a luz parece se pro- pagar mais lentamente que o normal. Assim, se a teoria da rela- tividade geral estiver correta, a luz levará um pouco mais de 20 minutos para fazer o percurso. A diferença será maior se a luz passar muito perto do Sol, isto é, se atravessar uma região na qual o espaço-tempo está muito distorcido. Em 1971, I. I. Shapiro e colaboradores23 anunciaram os resul- tados de uma série de experimentos nos quais sinais de radar foram refletidos pelas superfícies de Mercúrio, Vênus e Marte quando o Sol se encontrava entre a Terra e esses planetas. A Figura 2-26 mostra um gráfico do retardo dos sinais refletidos por Vênus em FIGURA 2-26 Retardo dos sinais de radar refletidos por Vênus em fun- ção da data da observação. O retardo máximo, que ocorre quando a reta que liga a Terra e Vênus tangencia a superfície do Sol, é de 200 s. A curva mostra as previsões teóricas, de acordo com a teoria da relatividade geral. [Fonte: I. I. Shapiro et al., Physical Review Letters, 26, 1132 (1971).] –300 –200 –100 0 100 200 300 Tempo (dias) R et ar do ( � s) 40 80 120 160 200 0 Conjunção superior 25 de janeiro de 1970 função do dia da observação. A curva representa a previsão da teo- ria da relatividade geral. A concordância entre os dados teóricos e experimentais é evidente, mas o experimento se torna ainda mais notável quando nos damos conta de que a incerteza nos dados, que é de 20 s, exige que as posições relativas dos planetas sejam conhecidas com uma precisão de alguns quilômetros. 10 CAPÍTULO 3 LEITURA SUPLEMENTAR 1 Demonstração da Equação de Compton Sejam 1 e 2 os comprimentos de onda dos raios X incidente e espalhado, respectivamente (Figura 3-18). Os momentos cor- respondentes são e em que foi usada a relação c = f. Como Compton usou a linha K do molibdênio ( = 0,0711 nm; veja a Figura 3-15b), a ener- gia do raio X incidente (17,4 keV) é muito maior que a energia de ligação dos elétrons de valência do alvo de grafita (11 eV, aproximadamente) e, portanto, os elétrons espalhados podem ser considerados praticamente livres. De acordo com a lei de conservação do momento, temos: ou 3-26 considerando que pe é o momento do elétron depois da colisão e é o ângulo de espalhamento do fóton, medido como na Figura 3-18. A energia do elétron antes da colisão é simplesmente a energia de repouso E0 = mc2 (veja o Capítulo 2). Depois da coli- são, a energia do elétron passa a ser (E20 p2e c2). De acordo com a lei de conservação da energia, temos: Passando o termo p2c para o primeiro membro e elevando ambos os membros ao quadrado, obtemos: ou 3-27 Combinando as Equações 3-26 e 3-27 para eliminar o termo p2e , obtemos: Multiplicando ambos os membros por hc/p1p2E0 e usando a relação = h/p, obtemos a equação de Compton: ou 3-25 FIGURA 3-18 O espalhamento de raios X pode ser considerado como a colisão de um fóton de momento h/1 com um elétron livre. Usando as leis de conservação do momento e da energia, é possível expressar a diferença entre os comprimentos de onda do fóton incidente e do fóton espalhado em função da massa do elétron e do ângulo de espa- lhamento (Equação 3-25). E1 = hf1 E2 = hf2 p1 = h/λ1 p2 = h /λ2 φ θ m pe = E 2 – E0 21–– c 11 CAPÍTULO 4 LEITURA SUPLEMENTAR 1 A Previsão de Rutherford e os Resultados de Geiger e Marsden Depois dos resultados animadores descritos no Exemplo 4-2, Geiger e Marsden iniciaram uma série de experimentos nos quais mediram: 1. O número de partículas por unidade de área para os quais o ângulo de espalhamento estava compreendido entre e d. 2. A variação do número de partículas com a espessura da folha de metal. 3. A variação do número de partículas com a massa atômica dos elétrons do alvo. 4. A variação do número de partículas espalhadas com a velo- cidade v das partículas antes do espalhamento, que ajustavam colocando folhas de um material absorvente entre o feixe e o alvo.5 O número N de partículas cujo ângulo de espalhamento está entre e d é igual ao número de partículas incidentes cujo parâmetro de impacto está entre b e b + db (Figura 4-10). Esse número, por sua vez, é igual ao produto da intensidade do feixe incidente, I0, pela área 2bdb que aparece na Figura 4-10. Para determinar a área, começamos por diferenciar a Equação 4-3, obtendo: 4-7 Ignorando o sinal negativo (já que estamos interessados apenas no valor absoluto da área), multiplicando a Equação 4-7 por 2bI0 e usando uma identidade trigonométrica (veja o Problema 4-48), obtemos: 4-8 na qual fizemos q = 2e para a partícula e Q = Ze para o núcleo do alvo, que contém Z cargas positivas. As N partículas cujo ângulo de espalhamento está entre e d passam por uma zona esférica de raio r e centro no átomo responsável pelo espa- lhamento (Figura 4-11). A área dessa zona é Az = (2rsen)(rd). Assim, o número de partículas espalhadas por núcleo e por unidade de área com ângulo de espalhamento entre e d é dado por6 4-9 FIGURA 4-10 O número de partículas com parâmetro de impacto entre b e b + db é proporcional à área 2bdb. Para essas partí- culas, o ângulo de espalhamento está entre e d. Núcleo da folha Área 2πb db dθθb db 12 Leitura Suplementar 4 De acordo com o modelo nuclear de Rutherford, portanto, o número de partículas por núcleoobservadas na tela de um cintilômetro de área Az (veja a Figura 4-11) é dado por 4-10 Como o número de núcleos por unidade de área da folha de metal é igual a nt, o cintilômetro deve observar um número total ∆N = nt∆N1 de partículas com ângulo de espalhamento entre e d. Assim, temos: 4-6 para qual Ek = mv2/2 é a energia cinética das partículas antes do espalhamento. A Equação 4-6 pode ser usada para calcular teoricamente o número ∆N de partículas que serão observadas na tela do cinti- lômetro de acordo com o modelo nuclear de Rutherford. Observe que, segundo a Equação 4-6, ∆N é proporcional a sen4(/2), a Z2, a t e a Ek 2. A Figura 4-12 mostra os resultados obtidos por Geiger e Marsden para o número de partículas espalhadas por unidade de área em função de (Equação 4-9). A energia cinética Ek das partículas antes do espalhamento era 7,7 MeV. Também foi examinada a variação de ∆N com outros parâmetros. No final do artigo The Laws of Deflection of Particles through Large Angles,7 Geiger e Marsden resumem da seguinte forma os resul- tados das observações: Os experimentos descritos neste trabalho foram executados para testar uma teoria do átomo proposta pelo Prof. Rutherford, baseada no fato de que existe no centro dos átomos uma carga elétrica intensa, altamente concentrada. A verificação se baseia nas leis de espalhamento que foram deduzidas dessa teoria. As seguintes rela- ções foram verificadas experimentalmente (o negrito é nosso): 1. O número de partículas que emergem de uma folha de metal fazendo um ângulo com o feixe original varia como 1/sen4(/2) quando as partículas são contadas em uma área definida a uma distância constante da folha. Esta relação foi testada para ângulos entre 5o e 150o; nessa faixa, o número de partículas variou entre 1 e 250.000, em boa concordância com a teoria. 2. O número de partículas espalhadas em uma dada dire- ção é diretamente proporcional à espessura da folha de metal para pequenas espessuras. Para grandes espessuras, a redução de velocidade das partículas no interior da folha faz com que o número de partículas aumente um pouco mais rapidamente com a espessura. 3. O espalhamento por átomo para folhas de diferentes mate- riais varia aproximadamente com o quadrado do peso atômico. Esta relação foi testada para folhas com átomos de pesos atômicos entre o do carbono e o do ouro.8 4. O número de partículas espalhadas por uma mesma folha de metal é aproximadamente proporcional ao inverso da quarta potência da velocidade das partículas inciden- tes [ou seja, a Ek 2]. Esta relação foi testada para um intervalo de velocidades tal que o número de partículas espalhadas variou de 10 vezes. A excelente concordância, em uma faixa de quatro ordens de grandeza, entre os valores de ∆N medidos por Geiger e Mars- den e os valores teóricos está ilustrada na Figura 4-9a, que mos- tra os resultados obtidos com folhas de ouro e de prata. Como se pode ver, os pontos experimentais obedecem de perto à varia- ção linear com sen4(/2) prevista pela teoria. A Figura 4-9b mostra os resultados obtidos com folhas de diferentes espessu- ras. Os dados experimentais mostram que ∆N varia linearmente com a espessura, como prevê a teoria, para os quatro materiais investigados. A variação de ∆N com Ek também está de acordo com as previsões teóricas. Todas essas observações servem para mostrar que a equação F = kqQ/r2 usada para chegar às Equa- ções 4-6 e 4-9 está correta e que o modelo nuclear de Ruther- ford está de acordo com os resultados experimentais. Folha Cintilômetro r sen θ r r dθθ r dθ FIGURA 4-11 As partículas com ângulo de espalhamento entre e d passam por uma zona esférica de raio r e centro no átomo respon- sável pelo espalhamento. A área dessa zona é Az = (2rsen)(rd). O cintilômetro está situado a uma distância r da folha e ocupa uma fra- ção fci dessa área igual à razão (área do cintilômetro)/(área da superfí- cie) = Aci/Asup = fci e, portanto, detecta um número de partículas ∆N1 = (N/Asup)(Aci) = Ncifci devido ao espalhamento de um núcleo. 1 0 30 ° 60 ° 90 ° 12 0° 15 0° 18 0° N /A su p θ 10 102 103 104 105 106 1 FIGURA 4-12 Número de partículas espalhadas por unidade de área em função do ângulo de espalhamento . A curva é proporcional à fun- ção sen4(/2). Os pontos experimentais foram obtidos por Geiger e Marsden usando partículas de 7,7 MeV. [Fonte: R.D. Evans, The Atomic Nucleus, New York, McGraw-Hill, 1955.] 13 CAPÍTULO 4 LEITURA SUPLEMENTAR 2 Crítica da Teoria de Bohr e da “Velha” Mecânica Quântica Como vimos neste capítulo e no anterior, muitos fenômenos (a radiação de corpo negro, o efeito fotelétrico, o efeito Compton, o espectro ótico do hidrogênio, os espectros de raios X de muitos elementos) podem ser “explicados” por várias hipóteses de quan- tização. Essas “teorias”, uma estranha mistura de ideias clássicas e quânticas, são conhecidas pelo nome genérico de “velha” mecâ- nica quântica. Aplicar esta mecânica quântica a um problema específico nos primeiros anos do século XX era uma mistura de arte e ciência, pois ninguém conhecia exatamente as regras. Os sucessos da teoria de Bohr, porém, foram inegáveis e espetacu- lares. Várias linhas espectrais desconhecidas foram previstas e, mais tarde, observadas. Não só a constante de Rydberg foi expressa em termos de constantes conhecidas, mas a pequena variação no valor da constante de elemento para elemento foi explicada pela pequena variação da massa reduzida. O raio da primeira órbita de Bohr do hidrogênio, 0,0529 nm, era compatível com o diâmetro conhecido da molécula de hidrogênio, 0,22 nm. Os comprimen- tos de onda dos espectros característicos de raios X podiam ser calculados a partir da teoria de Bohr. Os fracassos da teoria de Bohr e da velha mecânica quântica foram mais de omissão. Apesar de prever corretamente as tran- sições do espectro do hidrogênio, a teoria não permitia calcular as probabilidades dessas transições, isto é, a teoria era incapaz de prever as intensidades relativas das linhas do espectro. A teo- ria também não podia ser aplicada aos espectros óticos de áto- mos com mais de um elétron. Finalmente, havia um sério pro- blema filosófico associado ao fato de que as premissas básicas da teoria não tinham uma justificativa lógica. Por que, por exem- plo, os elétrons dos átomos, embora possuíssem uma aceleração centrípeta, não irradiavam energia, como exigia a teoria eletro- magnética clássica, cuja validade tinha sido exaustivamente tes- tada? Por que as moléculas das paredes de um corpo negro só podiam oscilar com certas frequências? Não havia razão para esperar que a lei de Coulomb continuasse a ser válida e as leis de radiação tivessem que ser revistas, ou que as leis de Newton pudessem ser empregadas, mas apenas certos valores de momento angular fossem permitidos. Durante a década de 1920, os cien- tistas procuraram sanar esses problemas e uma teoria sistemá- tica, hoje conhecida como mecânica quântica ou mecânica ondu- latória, foi formulada por de Broglie, Schrödinger, Heisenberg, Pauli, Dirac e outros. Vamos estudar alguns aspectos dessa teo- ria nos próximos dois capítulos e aplicá-la ao estudo de átomos, núcleos e sólidos nos capítulos restantes do livro. Como vamos ver, embora seja muito mais satisfatória do ponto de vista filo- sófico, esta teoria é algo abstrata e às vezes difícil de aplicar à solução de problemas. Apesar das limitações, a teoria de Bohr resulta em um modelo que é fácil de visualizar, permite calcular os níveis de energia corretos para o hidrogênio e constitui mui- tas vezes a maneira mais simples de descrever os cálculos da mecânica quântica. 14 CAPÍTULO 5 LEITURA SUPLEMENTAR 1 O Experimento de Duas Fendas O significado do dualismo onda-partícula pode ser ilustrado atra- vés de uma discussão do experimento de duas fendas, seguindo uma linha de raciocínio proposta por R. P. Feynman.13 Vamosconsiderar o caso em que o experimento é realizado com elétrons, mas o resultado seria o mesmo se as partículas fossem fótons. A Figura 5-21a mostra o arranjo experimental. (Trata-se de mais um experimento imaginário; não tente reproduzi-lo em casa!) Todos os elétrons saem da fonte com a mesma energia e, por- tanto, com o mesmo comprimento de onda . O detector de elé- trons pode ser movimentado verticalmente ao longo da parede para que o número de elétrons que chegam ao detector seja regis- trado em função do ângulo , o que permite medir o número de elétrons por minuto (ou seja, a taxa de contagem do detector) em cada ponto da parede. Durante a execução do experimento, duas coisas se tornam evidentes. Em primeiro lugar, ou o detec- tor revela a chegada de um elétron ou permanece sem ser acio- nado; em outras palavras, não é observado nenhum “meio elé- tron” ou “elétron parcial”. Em segundo lugar, a taxa de contagem do detector varia de acordo com a posição ao longo da parede, ou seja, a probabilidade de que o detector acuse a presença de um elétron é função do ângulo . O resultado do experimento é a curva P12 da Figura 5-21b, que mostra o número de elétrons detectados por minuto em função da posição do detector. Vamos agora analisar a curva da Figura 5-21b para ver se conseguimos compreender o comportamento dos elétrons. Como o detector revela a presença apenas de partículas completas, é natural imaginar que, para chegar ao detector, cada elétron obser- vado tenha passado pela fenda 1 ou pela fenda 2. Assim, todos os elétrons que chegam à parede passaram por uma das duas fendas e, portanto, a curva observada, P12, deve ser a soma dos efeitos dos elétrons que passaram pela fenda 1 com os efeitos dos elétrons que passaram pela fenda 2. Podemos verificar se este raciocínio está correto bloqueando a fenda 2 e repetindo o experimento apenas com a fenda 1 aberta. O resultado é a curva P1 da Figura 5-21c. Quando repetimos o experimento com a fenda 1 bloqueada e a fenda 2 aberta, o resultado é a curva P2 da Figura 5-21c. Observe que, ao contrário das expectativas, a curva P12 não é igual à soma das curvas P1 e P2, ou seja, P12 P1 P2. Em analogia com nossa experiência com outros tipos de onda, como as ondas luminosas, por exemplo, atribuímos este resultado aos efeitos da interferência. P12 é a figura de interferência formada pelas ondas de matéria associadas aos elétrons. A curva passa por um máximo em = 0o e a posição do primeiro mínimo é dada por d sen = /2, na qual d é a distância entre as fendas. Se /d << 1, como é comum neste tipo de experimento, a posição do pri- meiro mínimo é dada aproximadamente por = /2d. Como pode- mos calcular os efeitos da interferência? Basta procedermos como no caso das ondas clássicas, em que somamos as amplitudes das ondas, levando em conta as fases relativas, e elevamos o resultado FIGURA 5-21 (a) Arranjo experimental para produzir uma figura de interferência no experimento de duas fendas com elétrons. O detector pode ser deslocado ao longo da parede. (b) Taxa de contagem do detector, P12, com as duas fendas abertas. (c) Taxas de contagem P1 e P2 apenas com a fenda 1 aberta e apenas com a fenda 2 aberta. Canhão de elétrons Detector θ Fendas Parede 1 2 x x P12 P1 P2 (a) (c)(b) O Experimento de Duas Fendas 15 ao quadrado para calcular a intensidade da onda resultante. Assim, se as funções de onda do elétron são 1 para os elétrons que pas- sam pela fenda 1 e 2 para os elétrons que passam pela fenda 2, as intensidades para as três funções que aparecem nas Figuras 5- 21b e 5-21c são as seguintes: 5-29 Isso significa que os elétrons são detectados como partículas, mas se propagam como ondas. Em outras palavras, os elétrons se comportam como partículas apenas quando são observados! É isso que significa o dualismo onda-partícula. Este resultado é conhecido como princípio de complementaridade de Bohr: Os aspectos corpuscular e ondulatório são complementares. Ambos são necessários, mas não podem ser observados simul- taneamente. Dependendo do arranjo experimental, podemos observar um ou outro aspecto, mas não os dois ao mesmo tempo. Existem muitas sutilezas associadas ao fato de que a natureza funciona desta forma, como a que será discutida a seguir. Suponha que uma fonte luminosa tenha sido instalada entre as fendas e a parede, como na Figura 5-22a. Como as partículas carregadas espalham a luz, um elétron que passe pela fenda 2 e chegue ao detector percorrendo a trajetória indicada por uma linha tracejada produzirá um clarão no ponto A, ou seja, nas vizinhanças da fenda 2. Do mesmo modo, um elétron que passe pela fenda 1 produzirá um clarão nas vizinhanças da fenda 1. Quando realizamos o experimento, eis o que acontece: sempre que o detector registra a chegada de um elétron, observamos um clarão das proximidades da fenda 1 ou nas proximidades da fenda 2, mas nunca das proximidades das duas fendas ao mesmo tempo; em outras palavras, os elétrons não passam parcialmente pela fenda 1 e parcialmente pela fenda 2. Em outras palavras, quando “observamos” o elétron (isto é, quando fazemos incidir sobre ele um feixe luminoso), podemos determinar qual foi a sua trajetória. Como este fato parece não estar de acordo com as conclusões anteriores, vamos examinar a situação mais de perto. Se fizermos um gráfico do número de elétrons que chegaram ao detector passando pela fenda 1 em função da posição do detec- tor, obteremos a curva P1 da Figura 5-22c; se fizermos um gráfico do número de elétrons que chegaram ao detector passando pela fenda 2, obteremos a curva P2. Essas curvas são iguais às curvas P1 e P2 da Figura 5-21c, que foram feitas com uma das fendas fechada e correspondem exatamente ao que esperamos. Entre- tanto, quando fazemos um gráfico do número total de elétrons que chegam ao detector em função da posição do detector, obte- mos a curva P12 da Figura 5-22b, que é simplesmente a soma de P1 e P2; a figura de interferência simplesmente desapareceu! Ao “observarmos” os elétrons no momento em que estão passando pelas fendas, alteramos as trajetórias. Assim, por exemplo, um elétron que poderia ter contribuído para um máximo da curva P12 pode ser desviado na direção de um mínimo de P12. Em outras palavras, foi a observação dos elétrons que fez desaparecer a figura de interferência. Em termos mais técnicos, o fato de havermos determinado que um elétron passou por uma das fendas significa que localizamos a posição do elétron com uma precisão x d/2, considerando que d é a distância entre as fendas. De acordo com o princípio de indeterminação, devemos ter Assim, se um elétron estava se dirigindo originalmente para o máximo de interferência de P12 em = 0o com um momento p = /h, a interação com a luz o faz sofrer um desvio cuja inde- terminação angular é dada por O valor acima corresponde aproximadamente à distância entre o máximo central e o primeiro mínimo da figura de difração. Assim, a simples observação do elétron é suficiente para fazer desaparecer a figura de interferência. FIGURA 5-22 (a) Uma fonte luminosa é usada para determinar por qual das fendas o elétron passou. (b) Taxa de contagem P12 com as duas fen- das abertas e a fonte luminosa ligada. (c) Taxas de contagem P1 e P2 para os elétrons que passaram pelas fendas 1 e 2, respectivamente. Canhão de elétrons Detector Fendas Parede 1 Fonte luminosa 2 x x P 1́2 P 1́ P 2́ (a) (c)(b) A 16 CAPÍTULO 6 LEITURA SUPLEMENTAR 1 Solução Gráfica do Poço Quadrado Finito Nesta Leitura Suplementar, é apresentada uma discussão mais detalhada da aplicação da equação de Schrödinger a um poço de potencial quadrado unidimensional finito, um problema fisi- camente mais realista que o poço infinito cuja solução será útil para futuras discussões. Vamos primeiro deslocar os eixos V(x) e x de modo a tornar o potencial simétrico em relação ao ponto x = 0, com as paredes ema, como na Figura 6-8b. O objetivo é facilitar os cálculos. Como nos casos anteriores, estamos inte- ressados em soluções para 0 < E < V0. A Equação 6-33 é a equação de Schrödinger para a > x > +a com V(x) = V0; a solução geral é 6-36 na qual B1 e B2 são constantes. A condição de que (x) → 0 para x → nos dá B2 = 0 para x < a. Da mesma forma, B1 = 0 para x > a e, portanto, 6-37a 6-37b A Equação 6-26 é a equação de Schrödinger para a > x > a com V(x) = 0; a solução geral, como vimos, é 6-38 em que A1 e A2 são constantes. Ao contrário do que acontece no caso do poço quadrado infinito, porém, não podemos eliminar a função seno ou a função cosseno exigindo que a função seja nula nas fronteiras do poço, já que a profundidade do poço não é infinita. Entretanto, como as duas funções senoidais possuem simetrias diferentes (o cosseno é par e o seno é ímpar), pode- mos estudá-las separadamente quando o potencial é definido de forma simétrica, como na Figura 6-8b. As Equações 6-37 e 6-38 são funções contínuas e as deriva- das primeiras também são contínuas; assim, as funções comple- tas (x) e (x) para o poço quadrado finito também são contí- nuas, o que é suficiente para que sejam funções de onda aceitáveis, contanto que também sejam contínuas em x = a e x = a. Como podemos assegurar a continuidade da função de onda nesses dois pontos? Vamos considerar primeiro a solução par, (x) = A2 cos kx. Em x = a, 6-39a 6-39b Em x = a, 6-40a 6-40b Observamos imediatamente que B1 = B2, o que também podería- mos ter concluído a partir da simetria do potencial. Combinando as Equações 6-39 e 6-40, obtemos: ou 6-41 Substituindo k e na equação acima por seus valores, dados pelas Equações 6-27 e 6-34, obtemos: 6-42 No caso das soluções ímpares, (x) = A1 sen kx, um raciocínio semelhante leva à condição 6-43 Solução Gráfica do Poço Quadrado Finito 17 Embora muito trabalhosa do ponto de vista matemático, a solu- ção destas equações transcendentais pode ser obtida grafica- mente com relativa facilidade. As soluções são os pontos nos quais os gráficos de tan ka e cot ka têm valores em comum com /k. A solução gráfica aparece na Figura 6-15. O primeiro passo consiste em traçar os gráficos de tan ka e cot ka em fun- ção de ka. Esses gráficos, naturalmente, são a curva de tan em função de e o negativo da curva da cot em função de que estudamos nos cursos de trigonometria. O “ângulo” ka depende tanto da energia E da partícula quanto da largura 2a do poço. O segundo passo consiste em traçar a curva de /k em função da ka. O ponto no qual a curva de /k intercepta o eixo ka é o ponto E = V0, que corresponde à altura do poço. Vale a pena chamar a atenção para algumas propriedades das soluções do poço qua- drado finito: 1. Quando aumentamos gradualmente a profundidade do poço, ou seja, quando deslocamos para a direita o ponto da Figura FIGURA 6-15 Soluções gráficas das Equações 6-41 e 6-43. A figura mostra duas curvas diferentes de /k, que correspondem a diferentes valores de V0. O valor de V0 em cada caso é dado pelo valor de ka para o qual /k = 0, indicado pelas setas. Na curva de cima, por exemplo, /k = 0 para ka = (2mV0)1/2a/ = 2,75. Os valores permitidos de E são dados pelos valores de ka nas interseções das curvas de /k com as curvas de tan ka e cot ka. 0 1 2 3 4 –cot ka α /k ka tan ka tan ka α /k –cot ka n = 6 n = 5 n = 4 n = 3 n = 2 π 2π 3ππ /2 3π /2 5π/2 6-15 em que /k = 0, uma nova solução e uma nova energia permitida aparecem toda vez que o ponto em que /k = 0 passa por um múltiplo inteiro de /2. 2. Quando reduzimos gradualmente a profundidade do poço, ou seja, quando deslocamos para a esquerda o ponto da Figura 6-15 em que /k = 0, uma solução e uma energia permitida desaparecem toda vez que o ponto em que /k = 0 passa por um múltiplo inteiro de /2. Entretanto, por menor que seja a profundidade do poço, existe sempre pelo menos uma ener- gia permitida, contanto que V0 > 0. Obter os valores das constantes nas expressões gerais de (x) não é particularmente útil para nossos propósitos, pois já conhe- cemos a forma geral das funções de onda do poço quadrado finito. (Veja a Figura 6-12, lembrando que, nesse caso, L = 2.) Usando o método gráfico que acabamos de descrever, é possível construir o diagrama de níveis de energia de um poço quadrado finito. 18 CAPÍTULO 6 LEITURA SUPLEMENTAR 2 Transições entre Estados Quânticos Como vimos, a equação de Schrödinger leva à quantização da energia em sistemas ligados. A existência de níveis quantizados de energia é demonstrada experimentalmente através da obser- vação da energia emitida ou absorvida quando o sistema sofre uma transição de um nível para outro. Nesta Leitura Suplemen- tar, vamos examinar alguns aspectos dessas transições em um sistema unidimensional; os resultados podem ser aplicados facil- mente a sistemas mais complicados. Na física clássica, uma partícula carregada emite radiação sempre que é acelerada. Se a carga está oscilando, a frequência da radiação emitida é igual à frequência de oscilação. Uma dis- tribuição estacionária de carga não emite radiação. Considere uma partícula de carga q em um estado quântico n descrito pela função de onda na qual En é a energia e n(x) é uma solução da equação de Schrödinger independente do tempo para uma certa energia poten- cial V(x). A probabilidade de que a partícula seja encontrada no intervalo entre x e x + dx é *nndx. Se fizermos muitas medições em sistemas iguais (isto é, em partículas com a mesma função de onda), a carga média encontrada no mesmo intervalo será dada por q*nndx. Assim, a grandeza q*nn representa uma densi- dade de carga . Como já observamos, quando a função de onda está associada a uma única energia, a densidade de probabilidade é independente do tempo; isso significa que a densidade de carga nesse caso também é independente do tempo:12 É razoável, portanto, que esta distribuição estacionária de carga não emita radiação. (Este argumento, no caso do átomo de hidro- gênio, é usado para explicar o primeiro postulado de Bohr.) Por outro lado, observamos que os sistemas sofrem transições de um nível de energia para outro e que as transições são acompa- nhadas por emissão ou absorção de radiação. A causa das tran- sições é a interação do campo eletromagnético com uma partí- cula carregada. Para calcular as probabilidades de emissão e absorção, é necessário um tratamento detalhado dessa interação. A solução completa é complexa demais para ser analisada neste livro; entretanto, podemos aprender muita coisa com um trata- mento semiclássico, como o que é apresentado a seguir. Vamos escrever a função de onda de uma partícula que está sofrendo uma transição do estado n para o estado m como uma mistura das funções de onda dos estados n e m: 6-52a Não precisamos nos preocupar com os números a e b; queremos apenas mostrar que, se a e b forem diferentes de zero, a densi- dade de probabilidade e a densidade de carga oscilarão com uma frequência angular nm dada pela relação de Bohr hf = nm = En Em, ou seja, 6-52b Para simplificar a notação, vamos supor que as funções inde- pendentes do tempo n(x) e m(x) são reais. A densidade de pro- babilidade associada à função de onda nm(x,t) é dada por 6-52c Os dois primeiros termos são independentes do tempo. O ter- ceiro termo da Equação 6-52c contém os produtos e onde nm é a frequência angular de Bohr, dada pela Equação 6-52b. Somando esses termos e usando a identidade Transições entre Estados Quânticos 19 vemos que a densidade de probabilidade depende do tempo e é dada por 6-52d Assim, a função de onda formada por uma mistura de funções de onda correspondentes a dois estados puros leva a uma distri- buição de carga que oscila com a frequência de Bohr. Podemos descrever a radiação de um sistema da seguinte forma: Em um certo instante,um sistema se encontra em um estado excitado n descrito pela Equação 6-52a com a = 1 e b = 0. Por causa da interação do sistema com o campo eletromag- nético (que não foi incluído na equação de Schrödinger), a dimi- nui e b deixa de ser nulo. Nesse momento, a densidade de carga começa a oscilar com frequência angular nm. Entretanto, o sis- tema não irradia energia continuamente, como prevê a teoria clássica. Em vez disso, a oscilação da densidade de carga indica que existe uma probabilidade finita de que um fóton de energia nm = En Em seja emitido, deixando o sistema no estado m, no qual a = 0 e b = 1. A emissão do fóton é um processo esta- tístico. A Figura 6-16 mostra a variação de |nm|2 durante uma transição do primeiro estado excitado para o estado fundamen- tal do poço quadrado infinito. Transições Tipo Dipolo Elétrico O sistema clássico mais simples capaz de irradiar ondas eletro- magnéticas é o dipolo elétrico oscilante. O valor esperado do momento dipolar qx de uma partícula cuja função de onda é é dado por De acordo com o que foi discutido anteriormente, se a função de onda corresponde a um estado estacionário, o valor esperado do momento dipolar é independente do tempo. Caso, porém, a função seja uma mistura como a representada pela Equação 6-52a, a função q(x) possui termos dependentes do tempo que oscilam com a frequência de Bohr. De acordo com a Equação 6-52d, o momento dipolar pode ser escrito na forma 6-52e A integral que aparece na Equação 6-52e é chamada de ele- mento de matriz. Existem muitos casos em que esta integral é nula. Por exemplo: se n e m são funções de onda do poço qua- drado infinito, um cálculo direto mostra que o elemento de matriz da Equação 6-52e é nulo se n e m são ambos pares ou ambos ímpares. Em casos como esse, dizemos que as transições do tipo dipolo elétrico são proibidas entre os estados envolvidos. A ausência de uma transição entre dois estados devido ao fato de que o elemento de matriz é nulo muitas vezes pode ser expressa através de uma regra de seleção. Assim, por exemplo, uma regra de seleção para o poço quadrado infinito especifica que, para que uma transição do tipo dipolo elétrico seja possível, a dife- rença entre os números quânticos dos estados envolvidos deve ser 1, 3, 5, ... (e não 2, 4, 6, ...). Vamos encontrar outros exem- plos de regras de seleção na próxima seção, quando estudarmos o oscilador harmônico, e no Capítulo 7, quando examinarmos as transições entre os estados estacionários dos átomos. As tran- sições que discutimos até agora, produzidas pela perturbação de um sistema de cargas pelo campo eletromagnético próprio, FIGURA 6-16 Densidade de probabilidade nm|2 (Equação 6-52d) para uma partícula em um poço quadrado infinito sofrendo uma transição do primeiro estado excitado (n = 2) para o estado funda- mental (m = 1). As contribuições a e b para a mistura de 2 e 1 (veja a Equação 6-52a) foram calculadas (a) para a = 1 e b = 0; (b) para a = 0,75 e b = 0,25; (c) para a = 0,50 e b = 0,50; (d) para a = 0,25 e b = 0,75; (e) para a = 0 e b = 1. A distribuição de probabi- lidade que aparece em (a) é a do primeiro estado excitado, antes de começar a transição; a que aparece em (e) é do estado funda- mental, depois de completada a transição. 0 +A–A Ψ nm 2 (c) 0 +A–A Ψ nm 2 (d ) 0 +A–A Ψ nm 2 0 +A–A Ψ nm 2 (a) 0 +A–A Ψ nm 2 (e) (b) 20 Leitura Suplementar 6 são chamadas de transições espontâneas. Se um sistema (um átomo, por exemplo) se encontra em um certo estado e é exposto a uma radiação externa cuja frequência é igual à frequência de Bohr correspondente a uma transição para um estado de maior energia, o sistema pode sofrer essa transição absorvendo um fóton da radiação externa. Se o sistema está em um estado exci- tado e é exposto a uma radiação externa cuja frequência é igual à frequência de Bohr correspondente a uma transição para um estado de menor energia, o sistema pode sofrer essa transição emitindo um fóton com a mesma frequência que a radiação externa. Esta emissão estimulada, que acontece nos masers e nos lasers, é importante porque o fóton emitido está em fase com o fóton que estimulou a transição. Os lasers serão discuti- dos no Capítulo 9. 21 CAPÍTULO 6 LEITURA SUPLEMENTAR 3 O Artifício de Schrödinger A equação de Schrödinger dependente do tempo para o oscila- dor harmônico simples é [1] cujas soluções estacionárias são nas quais (x) satisfaz a equação independente do tempo [2] A solução da Equação 2 para obter as funções de onda (x) e os níveis de energia correspondentes não é trivial. Entretanto, os níveis de energia podem ser obtidos (sem recorrer a nenhuma aproximação!) usando um artifício engenhoso proposto por Schrödinger. Lembrando que definimos e, consequentemente, . Note que é a frequência angular clássica do oscilador: x = x0 cos t, que satisfaz a equa- ção m(d2x/dt2) = Kx. Substituindo x e dx em termos de y e dy na Equação 2, obtemos e [3] Esta última equação pode ser escrita na forma [4] Para confirmar que isso é verdade, note que Assim, a equação de Schrödinger do oscilador harmônico sim- ples se torna [5] Operando na Equação 5 pela esquerda com obtemos Acontece que, para qualquer função f(y), Assim, para f(y) = temos: o que nos dá [6] Como, de acordo com a Equação 3, vemos que, para e E = E , a Equação 6 se torna [7] As Equações 3 e 7 têm exatamente a mesma forma. Isso signi- fica que se existe uma solução (y) cujo nível de energia cor- 22 Leitura Suplementar 6 respondente é E, então d dy y d dy y também é uma solução, e a energia correspondente é E . A mesma trans- formação pode ser usada várias vezes; cada vez que é executada, a energia é reduzida de . Isso significa que o espaçamento dos níveis de energia do oscilador harmônico simples é . 23 CAPÍTULO 6 LEITURA SUPLEMENTAR 4 O Diodo Túnel Uma variação do problema do tunelamento consiste em consi- derar duas barreiras de potencial, de altura finita V0 e largura finita a, separadas por uma distância L, como na Figura 6-32. Uma partícula que se encontre inicialmente na região entre as duas barreiras oscila de um lado para outro, incidindo periodi- camente nas barreiras. Cada vez que a partícula incide em uma das barreiras, existe uma probabilidade pequena, mas finita, de conseguir atravessá-la por tunelamento. Este comportamento é responsável por vários fenômenos físicos e pelo funcionamento de dispositivos como o diodo túnel e a junção Josephson. Como seria de se esperar, também existe a probabilidade de que um elétron proveniente do exterior consiga atravessar as duas barreiras, como mostra a Figura 6-32. A região entre as barreiras pode ser considerada como um poço de potencial; a diferença está no fato de que, ao contrário do que acontece no caso do poço de potencial representado na Figura 6-8, paredes do poço possuem uma largura finita. Como nos casos estudados anteriormente, a solução da equação de Schrödinger leva a uma quantização da energia na região entre as duas barreiras, o que nos dá um resultado muito interessante: se a velocidade v de um elétron que se aproxima do poço é tal que a energia cinética Ek é igual a um dos níveis de energia permitidos no interior do poço, En, isso significa que a largura do poço é igual a um múl- tiplo inteiro de metade do comprimento de onda do elétron (veja a Equação 6-23): 6-80 Nesse caso, as ondas refletidas nas paredes do poço interferem construtivamente e, em consequência, a probabilidade de o elétron atravessar as duas barreiras pode chegar a 100%, embora o coeficiente de transmissão associado a cada barreira seja menor que 0,01! (Um fenômeno ótico análogo é obser- vado no interferômetro de Fabry-Perot.) Esta transmissão res- sonante para certas energias levou à criação do diodo túnel ressonante por Esaki, Chang e Tsu.18 Este dispositivopode ser usado em várias aplicações importantes. Os diodos túnel que aparecem na micrografia que acompanha esta Leitura Suple- mentar, por exemplo, foram usados para gerar uma frequência de 720 GHz, o que constituiu na época um recorde para osci- ladores semicondutores. FIGURA 6-32 Densidade de probabilidade para um pacote de ondas incidindo em duas barreiras. As duas barreiras têm uma altura V0 e a energia das partículas é E < V0. Como, em cada choque, parte do pacote é transmitida e parte é refletida, uma parte do pacote fica retida entre as duas bar- reiras. Os picos estreitos são causados pelas des- continuidades do potencial. Ψ(x, t )2 x t 24 Leitura Suplementar 6 Micrografia eletrônica de um conjunto de diodos túnel fabri- cado por Gerhard Sollner e colaboradores, no MIT Lincoln Laboratory. Cada diodo tem 8 m de largura. Camadas de semicondutor com uma espessura da ordem de nanômetros formam um poço quântico em cada diodo. Os diodos foram usados para gerar uma frequência de 720 GHz, o que consti- tuiu na época um recorde para osciladores semicondutores. [A micrografia é cortesia de T.C.L. Gerhard Sollner, MIT Lin- coln Laboratory.] 25 CAPÍTULO 7 LEITURA SUPLEMENTAR 1 Átomos com Mais de um Elétron Externo Os níveis de energia e espectros óticos são muito mais compli- cados no caso de átomos com mais de um elétron na camada externa. Nesta Leitura Suplementar, vamos discutir qualitativa- mente os níveis de energia do hélio e dos metais alcalinoterrosos, elementos que pertencem à segunda coluna da tabela periódica. Esses átomos são formados por um caroço mais dois elétrons em uma camada externa do tipo s. Quase todos os espectros obser- vados podem ser explicados em termos da transferência de um dos elétrons externos para um estado de maior energia. Essas transições são conhecidas como transições normais. As transi- ções que envolvem a excitação simultânea dos dois elétrons da camada externa para estados de maior energia são chamadas de transições anômalas e serão discutidas apenas de passagem. No modelo usado para calcular os níveis de energia desses elementos, o átomo é composto por dois elétrons iguais subme- tidos ao potencial elétrico do núcleo e dos outros elétrons. O mais simples desses átomos é o hélio, mas o berílio, o magné- sio, o cálcio, o estrôncio, o bário e o rádio se comportam de forma semelhante. Vamos considerar o magnésio (Z = 12) como um exemplo específico. A configuração do estado fundamental é (1s22s22p6)3s2. No estado fundamental, os dois elétrons exter- nos têm os mesmos números quânticos espaciais (n = 3, = 0, m = 0) e spins antiparalelos por causa do princípio de exclusão, de modo que o spin resultante é zero. Quando um dos elétrons externos é transferido para um estado de maior energia, como o estado 3p, os números quânticos espaciais dos dois elétrons não são mais iguais e o spin resultante S pode ser igual a 1 (spins paralelos) ou a 0 (spins antiparalelos). Os estados com S = 0 são chamados de singletos. Para S = 1, existem três valores possí- veis para o momento angular total j, que correspondem às três orientações possíveis do vetor S em relação a L: j = 1, j = e j = 1 (exceto para = 0, caso em que existe apenas um valor possível para j, j = ). A interação spin-órbita faz com que os três estados possuam energias ligeiramente diferentes, ou FIGURA 7-24 Diagrama de níveis de energia do átomo de hélio. O desdobramento dos tripletos é pequeno demais para ser visí- vel na escala da figura. Observe que não existem transições entre níveis que não pertencem ao mesmo conjunto, pois isso violaria a regra de seleção ∆S = 0. E ne rg ia , e V 0 1sns 1snp Singletos Tripletos 1snd 3sns 3snp 3snd –3 –4 –5 –6 –2 –1 –24 –25 1 2 2 3 4 4 3 3 4 3 4 2 3 4 2 3 4 1S 1P 1D 3S 3P 3D 504,8 728,1 39 6, 5 58 ,4 50 1, 6 49 2, 2 66 7, 8 44 7, 1 58 7, 6 31 8, 8 38 8, 9 471,3 706,5 26 Leitura Suplementar 7 seja, produz um desdobramento fino. Por essa razão, os estados com S = 1 são chamados de tripletos. Neste caso, portanto, exis- tem dois conjuntos diferentes de níveis de energia e dois con- juntos de linhas espectrais, um para S = 0 e outro para S = 1. Alguns dos níveis de energia e transições para o átomo de hélio aparecem na Figura 7-24. A Figura 7-25 mostra o diagrama de níveis de energia do magnésio e as transições principais. Na escala deste diagrama, como na da Figura 7-24, o desdobramento fino dos estados tri- pleto não pode ser observado. Repare que todas as transições do magnésio, exceto uma, obedecem à regra de seleção ∆S = 0, isto é, os estados tripleto e singleto não se misturam. Uma tran- sição que viole esta regra, como a transição indicada na figura (entre o estado tripleto 3s3p e o estado fundamental) é conhe- cida como linha de intercombinação. Observe que, na ausência de linhas de intercombinação, existem certos estados excitados a partir dos quais o átomo não pode decair facilmente. Os esta- dos 21S0 e 23S1 do hélio são dois exemplos (veja a Figura 7-24). Estados desse tipo são conhecidos como estados metaestáveis e sua existência é importante para o funcionamento dos lasers, como veremos no Capítulo 9. Voltaremos à questão das linhas de intercombinação em um momento, após discutirmos a dife- rença de energia entre os estados singleto e tripleto. Examinando de perto a Figura 7-25, podemos ver que os níveis de energia dos singletos são maiores que os dos tripletos com a mesma configuração eletrônica. Considere, por exemplo, os estados que possuem um elétron no estado 3p. Se não fosse pela interação eletrostática dos dois elétrons, o estado singleto 1P1 (j = 1, já que S = 0 e = 1) e os estados tripleto 3Pj (com j = 2, 1 ou 0, já que S = 1 e = 1) teriam a mesma energia, a não ser pelo pequeno desdobramento fino. Evidentemente, a energia de interação eletrostática entre os dois elétrons é muito maior nos estados singleto do que nos estados tripleto. A causa dessa diferença de energia é um efeito quântico sutil que tem a ver com a simetria da função de onda total de duas partículas iguais. Como vimos na Seção 4-7, a função de onda de duas partículas em uma dimensão, com uma das partículas no estado n e a outra no estado m, é dada por 7-66 considerando que o sinal positivo se aplica a uma função simé- trica em relação à permuta das duas partículas e o sinal negativo a uma função antissimétrica. Dissemos na ocasião que a função de onda de um sistema de elétrons é sempre antissimétrica; deve- mos agora incluir o spin na função de onda. A função de onda total de duas partículas pode ser escrita como o produto da parte espacial (x), dada pela Equação 7-66, por uma função asso- ciada ao spin. A função de onda total, incluindo o spin, é, por- tanto, igual a . A parte de spin da função de onda é simétrica para o estado tripleto (S = 1) e antissimétrica para o estado sin- gleto (S = 0). Assim, para que a função de onda total seja antis- simétrica, é preciso que a parte espacial da função de onda seja antissimétrica se o estado for um tripleto e que seja simétrica se o estado for um singleto. Observe na Equação 7-66 que, se FIGURA 7-26 Densidade de probabilidade em função da distância entre dois elétrons. (a) No estado singleto, a parte espacial S da função de onda é simétrica e a parte de spin A é antissimétrica. A densidade de probabilidade é máxima em x = 0. (b) No estado tripleto, a parte espa- cial é antissimétrica e a parte de spin é simétrica. A densidade de pro- babilidade é mínima em x = 0. Como a distância média entre os elétrons é maior no estado tripleto, a energia do sistema é menor neste estado. E , e V 0 –3 –4 –5 –6 –7 –1 –2 –7,62 3 4 4 3 4 5 6 4 5 6 5 8 7 6 4 4 4 5 6 5 6 5 3 3 4 5 6 7 1S 1P 3D3,2,1 3S1D 457, 11 38 3, 83 38 3, 23 38 2, 94518,37 517,27 516,74 150 2,3 150 3,3 76 5, 75 14 87 ,7 571,11 1182,83 55 2, 84 88 0,6 7 12 08 ,3 28 5, 2120 2, 58 3sns 3snp Singletos Tripletos 3snd 1F 3snf 3snd 3F4,3,2 3snf sP2,1,0 3snp3sns 3 5 6 7 FIGURA 7-25 Diagrama de níveis de energia do átomo de magnésio. O desdobramento dos tripletos é pequeno demais para ser visível na escala da figura. Observe que as energias dos singletos são maiores que as dos triple- tos correspondentes. Isso acontece porque, como mostra a Figura 7-26, a distância média entre os elétrons da última camada é maior nos estados tripleto do que nos estados singleto. ψSχA2 ψAχS2 (a) (b) Átomos com Mais de um Elétron Externo 27 FIGURA 7-27 Estados 33P normal e anômalo do átomo de magnésio. Os estados de maior energia, 3P, são estados anômalos e estão apro- ximadamente duas vezes mais distantes do estado fundamental (que não aparece na figura) que os estados 3P normais. Observe que as tran- sições entre níveis que não pertencem ao mesmo conjunto, ilustradas pelo espectro experimental que aparece na parte inferior da figura, vio- lam a regra de seleção ∆ 1. x1 = x2, a função de onda espacial antissimétrica é nula. Este é um exemplo da propriedade geral, ilustrada na Figura 7-26, de que, no estado antissimétrico, as partículas tendem a se manter mais afastadas do que no estado simétrico. Como a energia de interação devido à repulsão eletrostática é positiva e varia inver- samente com a distância entre as partículas, essa energia é maior no estado em que a parte espacial da função de onda é simétrica e a parte de spin é antissimétrica (S = 0), do que no estado em que a parte espacial da função de onda é simétrica e a parte de spin é simétrica (S = 1). A diferença é da ordem de 1 eV, ou seja, muito maior que o desdobramento fino.16 A simetria das funções de onda também explica a regra de seleção S = 0 que proíbe transições entre singletos e tripletos. Como foi visto na Leitura Suplementar Transições Entre Níveis de Energia, uma transição entre dois estados m e n pode ser atribuída a uma oscilação da distribuição de carga. No caso de uma radiação do tipo dipolo elétrico, o momento dipolar de um elétron isolado é dado por No caso de estados envolvendo dois elétrons, o elemento de matriz nxm dx se torna n(x1 + x2)m dx. Como vimos, a parte espacial da função de onda total é antissimétrica para os estados tripleto e simétrica para os estados singleto. Assim, em uma transição de um estado tripleto para um estado singleto, m é uma função antissimétrica a e n é uma função simétrica s; nesse caso, a parte dependente do tempo do momento dipolar se torna 7-67 Acontece (leia com atenção, pois se trata de um raciocínio sutil!) que, se os dois elétrons forem permutados, o valor de qx não poderá mudar, já que os elétrons são iguais; entretanto, a troca faz a mudar de sinal, enquanto os valores de s (veja a Seção 6-7) e x1 x2 permanecem os mesmos. Como o valor da inte- gral não pode mudar quando os dois elétrons são permutados, esse valor deve ser nulo. A conclusão é que as transições entre estados singleto e estados tripleto são proibidas, ou seja, ∆S = 0. (Esta conclusão pode ser estendida a outros conjuntos de esta- dos e outros tipos de radiação.) Já que as transições com ∆S 0 são proibidas, o leitor deve se estar perguntando por que as linhas de intercombinação, como a linha de 457,11 nm do magnésio mencionada no texto e mos- trada da Figura 7-25, são observadas experimentalmente. A explicação está em nossa hipótese de que a função de onda total, que deve ser antissimétrica em relação ao intercâmbio de partí- culas idênticas, pode ser escrita como o produto de uma fun- ção espacial por uma função de spin, que individualmente podem ser simétricas ou antissimétricas. Quando o acoplamento spin- órbita é considerável, a separação entre a parte espacial e a parte de spin da função de onda deixa de constituir uma boa aproxi- mação e, portanto, não existe mais uma função espacial cujo elemento de matriz possa se anular. No caso dos elementos leves (pequenos valores de Z), o acoplamento spin-órbita é relativa- mente fraco e, portanto, a regra de seleção ∆S = 0, que proíbe as linhas de intercombinação, é respeitada quase absolutamente. É o que acontece, por exemplo, no caso do hélio (Figura 7-24). À medida que Z aumenta, porém, a proibição vai se tornando menos rigorosa, o que explica a existência da linha de intercom- binação do Mg na Figura 7-25. Até agora, estivemos discutindo os estados dos átomos nos quais apenas um dos elétrons externos é transferido para outro nível. Também existem estados nos quais dois ou mais elétrons externos são transferidos simultaneamente para outros níveis. Vamos concluir esta Leitura Suplementar com uma breve dis- cussão desses chamados estados anômalos. Tomando novamente o magnésio como exemplo, o primeiro estado excitado normal é o estado 33P (veja a Figura 7-25), para o qual a configuração dos elétrons externos é 3s3p. O primeiro estado anômalo, como seria de se esperar, é aquele no qual os dois elétrons externos são transferidos para o nível 3p, isto é, um estado com a confi- guração 3p2. A energia de excitação do átomo para atingir este estado é 5 eV, ou seja, aproximadamente duas vezes maior do que a energia de excitação para atingir o estado normal 33P, que é 2,4 eV (Figura 7-25). A Figura 7-27 mostra os estados 33P normal e anômalo, incluindo o efeito spin-órbita, juntamente com as transições observadas entre esses estados. Todas as seis transições (denominadas tripleto anômalo) que ocorrem entre os níveis 3P e 3P da Figura 7-27 violam a regra de seleção ∆ = 1, Equação 7-28. A regra surgiu da solução da equação de Schrödinger para um único elétron. No caso de transições envolvendo estados excitados de dois ou mais elétrons, ∆ para o átomo como um todo pode ser zero, contanto que as mudan- ças de nível dos elétrons associados à transição respeitem a regra de seleção ∆ = 1. Estados anômalos foram observados na maioria dos elementos, mas são relativamente raros nos elemen- tos leves, pois nesses elementos a energia de formação desses estados é, na maioria dos casos, maior que a energia de ioniza- ção. Por outro lado, os estados anômalos são numerosos nos elementos pesados, o que explica em parte a maior complexi- dade dos espectros desses elementos. 2 j 1 0 pp 3P´ 2 1 0 sp 3P f 28 CAPÍTULO 7 LEITURA SUPLEMENTAR 2 O Efeito Zeeman Como foi dito no Capítulo 3, o desdobramento das linhas espec- trais de um átomo por ação de um campo magnético externo foi investigado sem sucesso por Faraday, previsto por Lorentz com base na teoria clássica e observado pela primeira vez por Zee- man,17 nome pelo qual o efeito é hoje conhecido. Na mecânica quântica, a mudança da frequência e do com- primento de onda de uma linha espectral indica que houve uma mudança da energia de um dos estados envolvidos na transição ou das energias dos dois estados. Por questões históricas, o efeito Zeeman associado a transições entre estados do tipo singleto é chamado de efeito Zeeman normal, enquanto o efeito associado a transições entre estados dos quais pelo menos um tem o spin diferente de zero recebe o nome de efeito Zeeman anômalo.18 Como, na verdade, não existe uma diferença fundamental entre os dois efeitos, não faremos nenhuma distinção entre eles, a não ser por uma exceção: como a presença do spin complica um pouco os cálculos no caso do efeito Zeeman anômalo, o efeito Zeeman em transições entre estados do tipo singleto será discu- tido em primeiro lugar. Efeito Zeeman Normal No caso de estados do tipo singleto, o spin é zero e o momento angular total J é igual ao momento angular orbital L. Quando o átomo é submetido a um campo magnético externo, a energia varia por causa da interação do momento magnético do átomo com o campo magnético, que é dada por 7-68 onde, como na Equação 7-54, a direção z foi definida como a direção de B. Substituindo z pelo seu valor, dado pela Equação 7-43, temos: z = mgLB =
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