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G R A D U A Ç Ã O DRA. MARCIA CRISTINA DE SOUZA LARA KAMEI Biologia e Bioquímica Humana Híbrido GRADUAÇÃO Biologia e Bioquímica Humana Dr.ª Marcia Cristina de Souza Lara Kamei C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LARA-KAMEI, Marcia Cristina de Souza. Biologia e Bioquímica Humana. Marcia Cristina de Souza Lara Kamei. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. 184 p. “Graduação - Híbridos”. 1. Biologia 2. Bioquímica 3. Humana 4. EaD. I. Título. ISBN ISBN 978-85-459-1986-5 CDD - 22 ed. 572 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Coordenador de Conteúdo Lilian Rosana dos Santos Moraes Designer Educacional Aguinaldo Jose Lorca Ven- tura Junior, Janaína de Souza Pontes e Yasminn Talyta Tavares Zagonel. Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira Editoração Isabela Mezzaroba Belido. Ilustração Bruno Pardinho e Natalia de Souza Scalassara Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro Naldei e Thiago Surmani. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite; Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros; Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock. PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Bem-estar, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Caro(a) aluno(a)! Você ingressou em um curso que trabalhará com o organismo humano e seu desenvolvimento, dessa forma, faz-se necessário que você conheça as bases estruturais e funcionais desse organismo. Para conhece-lo, você terá acesso a diversas disciplinas no decorrer do curso, incluindo esta que trabalharemos a partir de agora. Somos organismos pluricelulares, isto é, formados por, aproximadamente, dez trilhões de células. Durante nosso desenvolvimento embrionário, nossas células tornaram-se especializadas, porisso, possuímos diferentes tipos de tecidos com funções específicas, como o tecido epitelial, conjuntivo, tecido muscular e tecido nervoso. Apesar de toda a diversidade de tecidos e órgãos que formam nosso corpo, cada célula é uma unidade morfológica e funcional desse organismo e nossas atividades metabólicas são resultados do funcionamento indivi- dual e integrado de cada uma destas, sendo que a nossa vida depende da manutenção da integridade morfológica e funcional de cada uma delas. A atividade metabólica das células é definida como um conjunto de reações químicas no interior deste sistema biológico. Para compreender estas ativi- dade, temos que, primeiramente, entender sua constituição bioquímica e o arranjo dessas moléculas na estrutura dos elementos que formam as células. Ao cursar esta disciplina, você terá um conhecimento básico sobre a estru- tura morfológica e funcional do organismo humano – a célula e a constru- ção do conhecimento sobre o organismo humano terão como alicerce o conhecimento a respeito da constituição química das células, sua estrutura morfológica e suas interações metabólicas para obtenção de recursos que mantenham a manutenção biológica do organismo humano. Esperamos que você possa se tornar íntimo dos conhecimentos abordados neste livro e que faça bom proveito para seus estudos. CURRÍCULO DOS PROFESSORES Dra. Marcia Cristina de Souza Lara Kamei Doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2015). Mes- trado em Ciências Biológicas pela UEM (1998). Graduação em Ciências Biológicas pela UEM (1994). Atualmente, é docente dos cursos da área de saúde do Centro Universitário Cesumar (Unicesumar) desde 1998, ministrando as disciplinas de Biologia Celular, Bioquímica, Histologia e Embriologia Geral e Oral. Produz pesquisas na área de Genética Animal (Citogenética de Peixes) e orienta trabalhos de iniciação científica e de conclusão de curso. Participa de bancas e comissões científicas, ministra tópicos em cursos de especialização; além de ter feito parte do comitê de ética em pesquisa de humanos e animais. Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/2531311925087366> Caracterização Bioquímica das Células 13 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte 47 Movimento e Proliferação Celular 85 Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos 129 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas 157 20 Citoplasma de uma célula eucarionte Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Dra. Marcia Cristina de Souza Lara Kamei • Reconhecer a célula como unidade fundamental da vida. • Diferenciar células eucariontes e procariontes. • Compreender as funções biológicas da água e outros ele- mentos inorgânicos para o metabolismo celular. • Compreender a estrutura e funções das moléculas orgâ- nicas para o metabolismo celular. Evolução das Células Células Procariontes Constituição Bioquímica das Células Células Eucariontes Caracterização Bioquímica das Células 14 Caracterização Bioquímica das Células Evolução das Células Olá, aluno(a)! Olhe a sua volta e observe a grande variedade de formas de seres vivos. A evolução produziu uma imensa diversidade de formas de vida. Devido a essa grande diversidade, os seres vivos estão organizados em grupos: os reinos mo- nera, protozoa, fungi, plantae e animalia. O organismo humano representa uma espé- cie extremamente complexa do ponto de vista anatômico e fisiológico, sendo formado por sis- temas, órgãos e diferentes tipos de tecidos bio- lógicos. Em outro extremo, temos organismos mais simples, constituídos por uma única célula e que realizam todas as atividades metabólicas do organismo humano. Apesar de toda a diversidade, no nível molecu- lar e celular, os seres vivos apresentam um padrão básico de organização em sua constituição. Todos os seres vivos são formados por células. 15UNIDADE 1 Eletrodos Vapor d’água Área de condensação Produtos Água fervente Descargas elétricas H2 NH3 H2O CH4 Figura 1 - Experimento de Stanley Miller para argumentação da teoria pré-biótica Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 11). A estrutura celular é re- sultado de uma interação de moléculas inorgânicas (água e minerais) e orgânicas (proteí- nas, lipídios, ácidos nucleicos e carboidratos), organizadas de maneira muito precisa. Atualmente, existem dois tipos morfológicos distintos de células: procarionte e eu- carionte. A célula procarionte é encontrada apenas nos inte- grantes do reino monera (bac- térias) e a célula eucarionte é encontrada em todos os de- mais tipos de seres vivos. A presente unidade tem como objetivos principais compreender a estrutura dos dois tipos celulares e caracteri- zar os principais elementos es- truturais da célula eucarionte, bem como conhecer as princi- pais moléculas que constituem as células. Ao ler esta unidade, você será convidado a mergu- lhar nos conceitos fundamen- tais da Biologia Celular e Mo- lecular, e compreenderá que, na sua essência bioquímica e celular, a vida é extremamente simples e padronizada. Estudos evolutivos indicam que, no início da formação da Terra, não haviam seres vivos no planeta e que a vida ocorreu como um evento ao acaso, resultante da organização de moléculas orgânicas, que surgiram de reações químicas aleatória e espontâneas entre os elementos inorgânicos. 16 Caracterização Bioquímica das Células Esse processo evolutivo começou a quatro bilhões de anos, em um período em que a atmosfera tinha uma composição distinta da atual. As moléculas mais abundantes eram: água, amônia, metano, hi- drogênio, sulfeto de hidrogênio e gás carbônico. Com a ação do calor, radiação e descargas elétri- cas constantes, essas moléculas sofreram reações químicas es- pontâneas, aleatórias e formaram compostos orgânicos tais como proteínas e ácidos nucleicos. Essa teoria é conhecida como teoria pré-biótica e apresenta como argumento científico o ex- perimento proposto por Stanley L. Miller, que simulou em labora- tório estas condições atmosféri- cas e obteve formação espontâ- nea de elementos orgânicos. Essas moléculas orgânicas se depositaram em ambientes aquosos, que estavam se for- mando na superfície do planeta pelo processo de resfriamento. Reações químicas continuaram ocorrendo entre elas e, gradati- vamente, as moléculas orgâni- cas foram se tornando cada vez mais complexas. O acúmulo gradual dos compostos orgânicos foi favo- recido por três circunstâncias: (1) enorme extensão da Terra com formação de vários nichos; (2) longo tempo, provavelmente cerca de 2 bilhões; e (3) ausência de oxigênio que impedia que as moléculas sofressem degradação. Figura 2 - Esquema ilustrando o processo evolutivo de transformação de células procariontes em células eucariontes Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 12). O isolamento dessas moléculas se deu pela organização de ca- madas de fosfolipídios que, espontaneamente, no meio aquoso, formaram as primeiras membranas, originando, desta forma, as primeiras células. Estas eram estruturas simples, certamente heterotróficas e anaeróbicas e foram denominadas de células procariontes. Essas primeiras formas de vida eram estruturalmente semelhantes às nossas bactérias atuais. A partir do desenvolvimento da vida, as alterações químicas na molécula de DNA promovem características novas. Dessa forma, por meio de uma série de mutações, novas características foram surgindo, dando origem à célula eucarionte que forma todos os de- mais seres vivos, com exceção de bactérias (ALBERTS et al., 2011) 17UNIDADE 1 Células Procariontes Do ponto de vista evolutivo, as células procarion- tes são consideradas antecessoras das células eu- cariontes. Fósseis que datam de três bilhões de anos são exclusivamente formados por células procariontes. Provavelmente,células eucariontes surgiram bilhões de anos após as procariontes, pelo mecanismos de mutações das células. Atual- mente, as células procariontes são encontradas apenas nos organismos que formam o reino mo- nera, ou seja, as bactérias. A principal diferença estrutural entre as células procariontes e as eucariontes é a ausência de um envoltório nuclear, organizando um núcleo ver- dadeiro nas células procariontes; enquanto que nas células eucariontes, este envoltório compar- timentaliza um ambiente complexo, denominado de núcleo (JUNQUEIRA et al., 2012). Embora a complexidade nuclear seja critério para a classificação desses dois tipos celulares, existem outras diferenças marcantes entre células procariontes e eucariontes. 18 Caracterização Bioquímica das Células Células procariontes são “pobres” em membranas. Nelas, a única membrana existente é a membrana plasmática, portan- to, não existem compartimen- tos individualizados no seu ci- toplasma. Na célula eucarionte, esses compartimentos delimita- dos por membranas são deno- minados de organelas. A célula procarionte mais bem estudada é a Escherichia Coli (E. Coli) e usaremos sua estrutura para descrever as características de uma célula procarionte. Você pode acom- panhar a estrutura observando a Figura 3. • Membrana citoplas- mática: estrutura lipo- proteica que delimita a célula, separando o meio extracelular e intracelu- lar. Apresenta permea- bilidade seletiva, sendo responsável pela troca de elementos entre os meios intra e extracelulares. É importante salientar que os componentes enzimá- ticos da cadeia respira- tória e da fotossíntese estão acoplados à mem- brana plasmática. Ela apresenta invaginações denominada mesosso- mos, que ampliam a área da membrana citoplas- mática, aumentando o número dos complexos enzimáticos. • Parede celular: localizada externamente à membrana cito- plasmática, constituída por rede rígida que serve de proteção mecânica. Apresenta duas camadas – a mais interna cons- tituída de peptideoglicanas, e a mais externa é chamada de membrana externa. Essa parede contribui para o equilíbrio da pressão osmótica. • Protoplasma: ambiente interno da célula. Encontramos as partículas responsáveis pela síntese de proteínas – ribos- somos que podem estar agrupados em polirribossomos. O protoplasma também contém água, íons, moléculas de RNAs, proteínas estruturais é enzimas. O DNA está localizado em uma região específica, denominada nucleoide. Por ser o úni- co compartimento da célula, todas as reações metabólicas são realizadas no protoplasma. • Cromossomos: a molécula de DNA principal da célula procarionte está organizada em um único cromossomo de forma circular, formando o nucleoide. Além do DNA principal do nucleoide, as células procariontes apresentam pedaços pequenos de DNA também circular, chamado de plasmídeos. Estes podem ser trocados por tipos diferente de bactéria por meio de vários mecanismos e estão associados à variabilidade genética das bactérias. Essas características determinadas pelo DNA dos plasmídeos podem conferir características que resultam em resistência a antibióticos ou características de patogenicidade. Figura 3 - Esquema da estrutura de células procariontes Fonte: Bio conexão (2015, on-line)1. 19UNIDADE 1 Células Eucariontes Como explicado anteriormente, células euca- riontes desenvolveram-se a partir de células pro- cariontes. Os compartimentos delimitados por membranas internas são denominados de orga- nelas e cada um apresenta diferenças bioquímicas que permitem que cada organela desempenhe funções específicas. A célula eucarionte se diferencia da célula procarionte por apresentar uma vasta rede de membranas internas, que, como toda membra- na celular, além de delimitar, promove transpor- te seletivo. Essa compartimentalização promove maior eficiência metabólica. Além das organelas, o citoplasma pode apre- sentar depósitos de substâncias diversas, como grânulos de glicogênio e gotículas de lipídios; preenchendo, assim, os espaços entre as organelas e os depósitos, teremos o hialoplasma (ALBERTS et al., 2011). 20 Caracterização Bioquímica das Células Figura 4 - Esquema de uma célula eucarionte animal Fonte: Junqueira et al. (2012, p.12). Citoplasma de uma célula eucarionte Figura 5 - Esquema de uma célula eucarionte vegetal Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 259). 21UNIDADE 1 Nas imagens, observamos uma célula eucarionte animal e outra célula eucarionte vegetal. Vamos descrever suas estruturas? • Membrana Plasmática: é a parte mais externa que delimita o citoplasma, contri- bui para manter constante o meio intrace- lular e diferenciá-lo do meio extracelular. É formada por bicamada de fosfolipídios e grande diversidade de proteínas. Na camada externa de fosfolipídios, existem moléculas de glicolipídios com suas por- ções glicídicas projetando-se para o meio externo da célula, formando uma camada denominada de glicocálice ou glicocálix. • Mitocôndrias: organelas esféricas ou alongadas, presentes em grandes quantida- des e revestidas por duas membranas. Sua principal função é liberar a energia obtida da degradação de moléculas orgânicas e transferir esta energia para a síntese de mo- léculas de Adenosina Trifosfato (ATPs). O ATP será o armazenador temporário dessa energia e utilizará para as diversas ativida- des metabólicas da célula. • Retículo Endoplasmático: rede de mem- branas que formam cisternas achatadas e tubulares que se intercomunicam e for- mam um sistema contínuo. Podemos di- ferenciar esta rede de membranas em duas porções: » Retículo Endoplasmático Rugoso: re- gião do retículo endoplasmático onde há ribossomos aderidos na face citosólica da membrana, essa condição faz com que as cisternas se tornem achatadas. Essa porção do retículo endoplasmáti- co está associada à síntese de proteínas. » Retículo Endoplasmático Liso: re- gião do retículo endoplasmático sem ribossomos aderidos. As cisternas são tubulares. Essa porção do retículo en- doplasmático está associada à síntese de lipídios e degradação de metabólitos tóxicos para a célula. Figura 6 - Esquema do retículo endoplasmático liso e rugoso Fonte: adaptada de IES Dionisio Aguado ([2019], on-line)2. Ribossomas 22 Caracterização Bioquímica das Células • Aparelho de Golgi: um conjunto de membranas achatadas que se empilham formando unidades funcionais denomi- nadas de Dictiossomo, em que cada um apresenta uma face convexa – face cis – e uma face côncava – face trans. Está envol- vido com o processamento e distribuição das macromoléculas que começaram a ser sintetizadas no retículo endoplasmático liso e rugoso. • Lisossomos: formas e tamanhos variáveis. No interior há uma gama de enzimas uti- lizadas para digestão de macromoléculas. Essas organelas apresentam seu interior ácido. Estão envolvidas com a digestão de moléculas englobadas por endocitose e também de organelas que não estão sen- do utilizadas. • Endossomos: vesículas oriundas do pro- cesso de endocitose. Constituem uma rede complexa de vesículas que são encaminha- das para a digestão. • Peroxissomos: contêm enzimas oxidativas que transferem átomos de hidrogênio de di- versos substratos para o oxigênio, formando os peróxidos. RH2 + O2 → R + H2O2 Os peroxissomos possuem catalase, uma enzima que converte o peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. Isto é de extrema importância, pois o peróxido de hidrogênio é um oxidante energético e extremamente prejudicial à célula. 2 H2O2 Catalase → 2 H20 + O2 • Núcleo: organela constituída por envoltó- rio nuclear formado por duas membranas separando o DNA das células eucariontes. No interior deste núcleo, o DNA está asso- ciado a moléculas de proteínas, formando o arranjo de cromatina. • Citoesqueleto: apesar de não ser uma or- ganela, o citoesqueleto também diferencia as células eucariontes das procariontes. Constituído por uma rede de filamentos proteicos que formam uma trama, estaestrutura tem papel de promover a manu- tenção da forma, papel mecânico de sus- tentação das organelas, adesão celular e movimentos celulares diversos. Os princi- pais elementos que formam o citoesqueleto são os microtúbulos, filamentos de actina e filamentos intermediários. Além dessas organelas, existem as que são en- contradas apenas em células eucariontes vegetais que apresentam as estruturas básica das células eucariontes animais. Não estudaremos as células vegetais, porém, as principais diferenças com as células animais são: • Presença de parede celular: além da membrana plasmática, as células vegetais apresentam parede de celulose que lhes conferem maior resistência mecânica. • Presença de plastídios: organelas que armazenam diversos tipos diferentes de substâncias. Os plastídios que não ar- mazenam substâncias pigmentadas são chamados de leucoplastos, e os que ar- mazenam substâncias pigmentadas são chamados de cromoplastos, dos quais os mais frequentes são os cloroplastos, ricos em clorofila. • Vacúolos citoplasmáticos: ocupam a maior parte do citoplasma, reduzindo o citoplasma funcional a uma pequena faixa. 23UNIDADE 1 Constituição Bioquímica das Células Após uma visão panorâmica da estrutura das célu- las eucariontes, vamos conhecer seus componen- tes químicos. Como já introduzido anteriormente, as moléculas que formam as células são padro- nizadas em todas as formas de seres vivos. Além das biomoléculas, as células apresentam, também, elementos inorgânicos em sua constituição. Os componentes químicos da célula são clas- sificados em inorgânicos – águas e minerais – e orgânicos – carboidratos, proteínas, ácidos nu- cleicos e lipídios. Do total dos elementos químicos presentes nas células, cerca de 75% a 85% correspondem à água, entre 2% a 3% corresponde a sais inorgânicos e o restante corresponde às biomoléculas, que são elementos moleculares grandes, formados pela re- petição de unidades menores padronizadas e que definimos como polímero. Estas são macromolécu- las, e suas unidades repetitivas são os monômeros (JUNQUEIRA et al., 2012). Nas células, encontramos três polímeros impor- tantes: ácidos nucleicos, polissacarídeos e proteínas. A atividade química integrada entre os com- ponentes orgânicos e inorgânicos será responsável pelo metabolismo, uma das condições da vida. 24 Caracterização Bioquímica das Células Água As primeiras células se desen- volveram em meio aquoso e, du- rante muito tempo, a vida existia apenas na água. Atualmente, te- mos formas de vida fora da água, porém, todas as formas de vida dependem dela. Essa molécula não é inerte com função apenas de preencher os espaços do citosol e dissolver outras moléculas, mas também participa ativamente nas pro- priedades das biomoléculas e de suas interações químicas. Apesar de ser representada pela fórmula H-O-H, a molécula de água não é um bastão reto. Os dois átomos de hidrogênios for- mam com o oxigênio um ângulo de 104,9o. A estrutura tridimen- sional depende da forte atração exercida pelo oxigênio sobre os elétrons que são compartilhados com os hidrogênios. Em razão desse deslocamento dos elétrons, a molécula é relativamente posi- tiva no lado dos dois hidrogênios e relativamente negativa no lado do oxigênio, sendo, desta forma, um dipolo, como você pode ob- servar na Figura 7. Por ser dipolar, a água é um bom solvente. Ela dissolve com- postos que apresentam cargas (moléculas polares), pois o di- polo da água tende a atrair os polos positivos e negativos das moléculas, por exemplo: Na+Cl-. Por ser um bom solvente, ela atua como veículo de transporte para diversas moléculas nos ambientes intracelular e extracelular (STRYER; TYMOCZKO; BERG, 2014). Conforme a interação com a água, as moléculas são classificadas em: • Moléculas polares: (com cargas) possuem afinidades pelo dipolo da água e, portanto, são atraídas e dissolvidas quando em contato com a água, sendo denominadas de hidrofílicas. Ex.: Na+Cl-. • Moléculas apolares: (sem cargas) não são atraídas pelo dipolo da água, sendo, portanto, insolúveis em água e denominadas de hidrofóbicas. • Moléculas anfipáticas: moléculas grandes com grupamentos polares que não se distribuem ao longo de toda a molécula, portanto, a polarização não abrange a molécula inteira, somen- te uma parte. A região na qual estão localizados os grupamen- tos polares é hidrofílica e o restante da molécula é hidrofóbica. Outra propriedade da molécula de água é sua ionização, formando uma ânion hidroxila (OH-) e um próton H+. Esses íons são doados para diversas reações químicas do metabolismo e também contribuem para a manutenção do Potencial Hidrogeniônico (pH) dos sistemas biológicos. A água também atua absorvendo calor e impedindo o aumento drástico da temperatura dos sistemas biológicos, portanto, transpirar é um mal necessário. Figura 7 - Esquema da estrutura molecular da água Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 43). 25UNIDADE 1 Minerais Os minerais são encontrados em pequenas quantidades na cons- tituição celular, porém, apresen- tam papel fundamental. Alguns minerais estão na forma dissociada, sendo encontrados cá- tions (positivos) e ânions (negativos). Alguns exemplos de cátions que predominam no interior da célula são K+ e Mg+2, enquanto os ânions mais abundantes são HPO4 -2. Os sais dissociados em cátions e ânions são importantes para manter o equilíbrio ácido-básico e para manter a pressão osmótica. Alguns íons são cofatores de enzimas (Mg+2), transmissores de sinais (Ca+2) e também formam outras moléculas, como o fosfato, que está associados a lipídios e à molécula de adenosina (ATP - Adenosina trifosfato e ADP - adenosina difosfato). Certos minerais são encontrados na forma não ionizada, por exemplo, o cálcio, que forma os cristais de hidroxiapatita nos ossos e dentes, o ferro que está associado à hemoglobina. Para a atividade metabólica correta das células, são necessárias pequenas quantidades de manganês, cobre, cobalto, selênio, zinco – que atua como cofator enzimático – e iodo, que é um componente dos hormônios da tireoide. R O PO O O CH2 CH2 CH2 3 C 2 CH H H 1 O O O O CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 O O Ácido graxo saturado Ácido graxo insaturado Ca de ia n ão p ol ar (h id ro fó bi ca ) Ex tr em id ad e po la r (h id ro fíl ic a) - Durante uma atividade física, a maioria das pessoas pensam que a transpiração é sinal de perda de peso. Será que isso é realmente verdade? Transpirar durante a atividade física não significa, necessariamen- te, que você está emagrecendo. É certo que alguns atletas forçam a transpiração em saunas para perder peso nos dias que antecedem uma competição, mas isso não funciona para os praticantes de atividades físicas diárias. Na verdade, o suor transmite uma falsa sensação de emagrecimen- to. A transpiração acontece por causa da intensidade do exercício físico, por causa da temperatura e do tipo de ambiente em que o esporte é praticado. É importante que as pessoas compreendam que emagrecer não significa perder água, mas perder gordura corporal. Assim, a afir- mação de que suar emagrece é um mito! Suar não emagrece, então não pense em praticar atividades físicas em dias de calor intenso para forçar uma transpiração intensa. Isso só vai resultar em problemas para a sua saúde. Fonte: Portal O Jornal (2016, on-line)3. Figura 8 - Estrutura química de molé- culas anfipáticas e sua representação esquemática Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 62). 26 Caracterização Bioquímica das Células Proteínas e Enzimas Daremos início ao estudo dos componentes orgâ- nicos das células. Iniciaremos analisando as pro- teínas, que além de serem os elementos orgânicos mais abundantes nas células, são as moléculas mais diversificadas em formas e funções. Funções das proteínas As proteínas exercemfunções estruturais e dinâ- micas. São elas: • Formam elementos estruturais do nosso organismo, como músculo, ossos, dentes, pelos etc. • São responsáveis por movimentos do orga- nismo (contração muscular) e das células (cílios, flagelos e pseudópodes). • Atuam na defesa por meio de imunoglo- bulinas (anticorpos). • Transportam substâncias no organismo (hemoglobina) e nas células (permeases e bombas). • Formam hormônios e neurotransmissores que controlam as atividades fisiológicas dos organismos pluricelulares (Obs.: al- guns hormônios apresentam constituição lipídica - hormônios esteroides). Apresentam ação enzimática, controlando as ati- vidades metabólicas. Proteínas são polímeros de aminoácidos Nos sistemas biológicos, várias macromolécu- las são formadas por elementos menores pa- dronizados que se repetem. 27UNIDADE 1 Esses elementos menores são denominados monômeros e a macromolécula é denominada de polímero. Aminoácidos são os monômeros responsáveis pela constru- ção das proteínas. Os diferentes tipos de aminoácidos se unem por ligações peptídicas e formam a proteína. Estrutura química de aminoácidos: H α NH2R COOH C Figura 9 - Fórmula geral básica de aminoácidos Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 45). Os aminoácidos se unem por meio de seus grupamentos amina e carboxila, levando à formação de uma molécula de água, esta ligação é denominada de ligação peptídica. O C OH CH C O N H CH COOH CH CH3 CH2OH CH2OHH2N H2O H N H COOH CH CH3 H2N + Figura 10 - Ligação peptídica Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 45). Apesar da imensa diversidade das proteínas, existem apenas 20 tipos diferentes de aminoácidos, que mudam apenas em seu gru- pamento variável. O que faz uma proteína ser diferente de outra é a sequência que esses aminoácidos serão adicionados. Essa sequência está determinada no gene (segmento de DNA), que é transcrito e dá origem ao RNAm (mensageiro), cuja sequência de três nucleotí- deos (códon) determina a adição de um aminoácido específico na proteína que está sendo fabricada. 28 Caracterização Bioquímica das Células Figura 11 - Tabela com fórmula dos 20 tipos diferentes de aminoácidos Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 45). 29UNIDADE 1 Estrutura tridimensional de proteínas No início de sua síntese a pro- teína é uma sequência linear de aminoácidos, que é chamada de estrutura primária da proteína e é mantida pela ligação entre os aminoácidos. Essa é uma ligação covalente e somente poderá ser desfeita por ação de enzimas. A proteína funcio- nal irá assumir outros arranjos que dependem da sequência de aminoácidos (MARZZOCO; TORRES, 2015). Os aminoácidos vizinhos in- teragem por meio de seus gru- pamentos (cadeia lateral) por interações do tipo pontes de hidrogênio e originam o arranjo de α-hélice espiralada ou α-pre- gueada, considerado estrutura secundária das proteínas. Considerando a interação que os aminoácidos distantes podem sofrer, a proteína irá se dobrar sobre ela mesma e for- mar uma estrutura globular de- nominada de estrutura terciária. Essas interações que mantêm a estrutura terciária são as pontes de hidrogênio, pontes dissulfeto (entre dois átomos de enxofre) e interações hidrofóbicas. Ainda temos as interações que ocorrem entre duas cadeias distintas de aminoácidos e dão origem a proteínas formadas por mais de uma sequência poli- peptídica, considerada como es- trutura quaternária da proteína. Figura 12 - Esquemas das estruturas tridimensionais assumidas pelas proteínas Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 17, 20, 21 e 24). Essas também são as pontes de hidrogênio. Observe, na Figura 12, cada uma dessas estruturas tridimensionais. Quando uma proteína é sintetizada na célula, sua estrutura pri- mária dobra-se espontaneamente, originando as estruturas secun- dárias e terciárias, e se for característico da referida proteína, assume também a estrutura quaternária. Essa conformação assumida assim que a proteína é sintetizada é a mais estável que a molécula pode assumir e é chamada da configuração nativa. 30 Caracterização Bioquímica das Células Desnaturação proteica Como elucidado anteriormente, apenas a estrutura primária é mantida por interação química forte – a ligação peptídica; enquanto as demais são mantidas por interações fracas. Alterações físicas e químicas nos ambientes biológicos podem interferir nas estruturas mantidas por interações fracas – secundária, terciária e quaternária – promovendo a desnaturação das proteínas. Os agentes capazes de causar desnaturação proteica são as altas temperaturas, valores de pHs muito ácidos ou muito básicos, adições de detergentes que interferem na interação hidrofóbica das molécu- las e de solventes orgânicos polares que apresentam facilidade em promover pontes de hidrogênios (NELSON et al. 2013). Proteínas desnaturadas perdem suas propriedades e suas funções biológicas. Portanto, os sistemas biológicos devem ser mantidos em temperaturas e pHs específicos ou terão seu metabolismo alterado. Figura 13 - Proteína em estrutura terciária sofrendo desnaturação proteica Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 46). Proteínas podem apresentar apenas aminoácidos em sua constitui- ção, sendo denominados de proteínas simples, ou possuírem outros elementos em sua constituição, sendo denominadas de proteínas conjugadas. Como exemplo de proteínas conjugadas, podemos ci- tar a hemoglobina, responsável pela distribuição de O2 nos nossos tecidos, que possui em sua constituição um grupamento heme - molécula de porfirina ligada a átomos de ferro. Enzimas A manutenção das atividades metabólicas que definimos como vida depende da con- tínua ocorrência de um con- junto de reações químicas que devem atender dois critérios: (1) devem ocorrer em veloci- dades adequadas à fisiologia celular e (2) precisam ser al- tamente específicas para não gerarem produtos intermediá- rios nocivos. Essas exigências não seriam possíveis se esperássemos que as reações metabólicas ocor- resse espontaneamente. A pre- sença de enzimas dirigindo todas as reações químicas nos sistemas biológicos permitem que essas exigências sejam contempladas. As reações são dirigidas pela ação de enzimas, permitindo que estas condi- ções sejam atendidas. Com as enzimas atuando como catali- sadores, aumentam a velocida- de das reações e, por serem as enzimas altamente específicas, selecionam as reações mais di- retas possíveis. 31UNIDADE 1 Até pouco tempo, admitia-se que apenas moléculas proteicas fossem proteínas, porém, atual- mente, sabemos que há alguns RNAs que desempenham função enzimática. Essas moléculas são raras e restritas a alguns casos especiais. Portanto, nossa abor- dagem será feita considerando apenas as enzimas proteicas. As enzimas são proteínas conjugadas e apresentam íons ou moléculas orgânicas e inor- gânicas associadas ao elemento proteico. Quando for íons, cha- mamos de cofator, e quando for moléculas, chamamos de coenzimas. A porção proteica da enzima é chamada de apoen- zima e é inativa. O complexo enzima/cofator é chamado de holoenzima. Muitas coenzimas são formadas por vitaminas do complexo B, como riboflavina, tiamina, nicotinamida. Ação enzimática O composto que sofrerá a ação catalítica da enzima é chamado de substrato. A enzima deverá se encaixar tridimensionalmente nesse substrato. Para que isso ocorra, existem regiões especí- ficas, com afinidade química e conformação tridimensional. Essas regiões específicas da enzimas na qual os substratos permaneceram encaixado cha- ma-se sítio ativo (NELSON et al., 2013). Ao permanecer encaixado no sítio ativo, o substrato sofrerá uma reação química específica e perderá a afinidade pelo sítio ativo, sendo, então, liberado como produto da ação da enzima. Devido ao mecanismo de ação das enzimas, elas demonstram alta especificidade pelos substratos que atuam, pois há especifici- dade química e estrutura para o perfeito encaixe. Fatores que interferemna ação das enzimas Como são elementos proteicos, as enzimas podem ter a velocidade de sua reação influenciada por aumento de temperatura e variação do pH, pois sofrem o processo de desnaturação. Não é de se estranhar que cada enzima funcione melhor em determinado pH (STRYER; TYMOCZKO; BERG, 2014). A temperatura influencia a ação de enzimas, pois, em baixas tem- peraturas, a cinética das moléculas (enzimas/substrato) é pequena e demora mais tempo para o encaixe. Conforme a temperatura aumenta, a cinética é maior, e maior é a velocidade de ação. No entanto, em uma determinada temperatura, a porção proteica da enzima sofre desnatu- ração e a velocidade diminui. Se a temperatura continuar a aumentar, teremos a inativação completa da reação catalisada pela enzima. Glicose Glicose- 6- fosfato Adenosina- trifosfato (ATP) Adenosina- difosfato (ATP) Enzima Enzima Complexo da enzima com os substratos Figura 14 - Esquema ilustrando o mecanismo de ação enzimática Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 50). 32 Caracterização Bioquímica das Células Carboidratos Os carboidratos são compos- tos por carbono, hidrogênio e oxigênio, na proporção de Cn(H2O)n. Veja o exemplo da fórmula da molécula de glicose, que é o carboidrato mais abun- dante do planeta, para associar a esta fórmula: C6H12O6. No en- tanto, alguns carboidratos não apresentam essa fórmula geral, por exemplo a glicosamina. Funções dos carboidratos Os carboidratos representam a principal fonte de energia para as células. Apesar de seu pa- pel energético predominante, podemos reconhecer outras funções: • Reconhecimento celu- lar: forma a glicoproteí- nas que atuam como re- ceptores nas membranas e glicocálice. • Função estrutural: for- ma as glicoproteínas da matriz extracelular dos tecidos, forma a parede de células vegetais e o exoes- queleto de vários grupos de animais (quitina). Classificação dos carboidratos De acordo com o número de monossacarídeos, classificamos os car- boidratos em: monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos. • Monossacarídeos: são os tipos mais simples de carboidratos, e recebem nomes de acordo com o número de átomos de carbo- no. Triose (3), tetrose (4), pentose (5), hexose (6) e heptose (7). Os monossacarídeos mais abundantes nos seres vivos são os com cinco e seis átomos de carbonos, pentoses e hexoses, respectivamente. Observe as fórmulas químicas de alguns monossacarídeos mais comuns. D-Gliceraldeido D-Ribose Diidroxiacetona D-Ribulose D-Frutose D-Glicose D-Galactose O C C CH2OH H OH H O C C CH2OH H OH H CH OH CH OH O C C CH2OH H OH H CHO H CH OH CH OH O C C CH2OH H OH H CHO H HO HC CH OH 1 2 3 4 5 6 CH2OH CH2OH C O CH2OH C O CH2OH CH OH CH OH CH2OH C O CH2OH CHO H CH OH CH OH 1 2 3 4 5 6 Figura 15 – Fórmulas químicas de monossacarídeos mais comuns Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 88). 33UNIDADE 1 • Oligossacarídeos: são formados por um pequeno número de monossacarídeos. Os oligossacarídeos mais comuns são os formados por dois monossacarídeos, denominados de dissa- carídeos. Os dissacarídeos mais abundantes podem ser visua- lizados nas fórmulas da Figura 16. Outros oligossacarídeos estão associados a lipídios e proteínas formando os radicais de carboidratos de glicolipídios e glico- proteínas presentes nas membranas plasmática das células e matriz extracelulares dos tecidos. (Galactose) (Glicose) Lactose HOCH2 OH H H O O OH OHH H HOCH2 H H H H O OH OHH H OH Sacarose (Glicose) (Frutose) CH2OH HOCH2 HOCH2H H H H O O O OH OHH HO H HO H H OH • Polissacarídeos: esses são os carboidratos mais complexos, formados por muitas unidades de monossacarídeos. Os polis- sacarídeos mais abundantes são o amido, glicogênio e celulose. Esses três polissacarídeos são formados por muitos monos- sacarídeos de glicose. Glicogênio e amido exercem função de reserva de energia, sendo o glicogênio de reserva animal e o Figura 16 - Fórmulas químicas de dissacarídeos mais comuns Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 89). amido de reserva vegetal. A celulose é um polissaca- rídeo de função estrutural, formando a parede celular de células vegetais. Lipídios Constituem uma classe de com- postos com estrutura bem varia- da, que não são caracterizados por suas estruturas químicas, mas por sua baixa solubilidade em água. Em função dessa de- finição, os lipídios formam um grupo muito variável. Ácidos graxos São ácidos monocarboxílicos, geralmente com uma cadeia longa de carbono, podendo apresentar apenas ligações sim- ples entre átomos de carbono (saturados), ou uma ou mais duplas ligações entre átomos de carbonos (saturados e polii- nsaturados, respectivamente). Ácidos graxos livres são raramente encontrados nas células, normalmente estão as- sociados a um álcool, glicerol, por exemplo. Os lipídios que apresentam ácido graxo em sua constituição podem ser classi- ficados por suas funções, exis- tindo, desta forma, dois grupos: lipídios estruturais e lipídios de reserva energéticas. 34 Caracterização Bioquímica das Células • Lípidos de reserva energética: são formados principal- mente por triacilgliceróis (triglicerídios), constituído por glicerol ligados a três moléculas de ácidos graxos. Os ácidos graxos possuem longas cadeias hidrocarbonadas e são cha- mados de saturados, quando houver apenas ligações simples entre átomos de carbono, e insaturados quando houver uma ou mais duplas ligações entre os átomos de carbono. Estão presentes no citoplasma de quase todas as células, mas exis- tem células especializadas em armazenamento de triglice- rídeos, chamadas de células adiposas. • Lipídios estruturais: formam todas as membranas celu- lares. São moléculas anfipáticas com uma região hidrofílica e caudas hidrofóbicas (cadeias de ácidos graxos). São mais complexos que os lipídios de reserva energéticas. Grupo carboxila Cadeia carbônica a) Ácido graxo saturado b) Ácido graxo insaturado CH2 CH2 CH2 CO O- CO O- CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 CH2 HC HC CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 CH2 CH2 Figura 17 - Fórmulas de ácidos graxos mais abundantes Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 91). H2C OH Glicerol Triacilglicerol (1-palmitoil-2, 3-dioleil-glicerol) H2C OH H2C O H2C O HC O O O O C 16 18 9 9 1 1 2 3 1 18C CHC OH 1 CH2 CH2 CH2 CH3 H3C CH3N C H H C OHH CH2 CH2 C N O O O P O H CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 C O CH2 CH CH CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH3 Ca de ia n ão p ol ar (h id ro fó bi ca ) Ex tr em id ad e po la r (h id ro fíl ic a) Esfingosina Colina Ácido fosfórico Ácido graxo Figura 18 - Esquemas de fórmulas de triglicerídeos Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 94). Figura 19 - Esquema da fórmula es- trutural de um lipídio estrutural. Esse tipo de lipídio está presente na estru- tura das membranas celulares Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 62). 35UNIDADE 1 Ácidos Nucleicos Neste tópico, iremos abordar as moléculas responsáveis pelo se- gredo da vida: os ácidos nucleicos, conhecidos como DNA e RNA. Juntas estas moléculas são responsáveis por todas as características morfológicas e funcionais das células e, portanto, dos seres vivos. Também são responsáveis por transmitir estas informações as célu- las descendentes, promovendo a perpetuação dessas características. Ácidos nucleicos são polímeros de nucleotídeos DNA – ácido desoxirribonucleico – e RNA – ácido ribonucleico – são polímeros de unidades chamadas nucleotídeos. Cada nucleotí- deo é constituído por uma pentose, um resíduo de ácido fosfórico ligado ao carbono 5 da pentose e uma base nitrogenada ligada ao carbono 1 da pentose (VOET et al., 2014). O O H H H N N N N N H H H H HOO PO OCH2 Ð Ð A nucleotídeo (dAMP) A união entre a pentose e a base nitrogenada é chamada de nu-cleosídeo. Existe um tipo de pentose para o DNA, chamada de desoxirribose, e outro tipo para o RNA, chamada de ribose. Figura 20 - Esquema da estrutura de nucleotídeos Fonte: Watson et al. (2015, p. 98). 36 Caracterização Bioquímica das Células As bases nitrogenadas são classificadas em dois grupos: purinas e pirimidinas. As purinas e a pirimidina citosina se ligam ao carbono 1 dos dois tipos de pentoses. A pirimidina uracila se liga apenas no carbono 1 da ribose, enquanto a pirimidina timina se liga apenas na pentose desoxirribose. Dessa forma, RNA não tem nucleotídeos de timina e DNA não possuem nucleotídeos de uracila. Ligação diester-fosfato Os nucleotídeos ligam-se uns aos outros por meio da ligação fosfodiéster, que ocorre entre as pentoses. O radical fosfato de um nucleotídeos, que está ligado ao carbono 5’, liga-se ao carbono 3’ da pentose de outro nucleotídeos. Vários nucleotídeos ligados formam uma cadeia polinucleotídica linear, uma vez que, cada nucleotídeo fará apenas duas ligações fosfodiéster. As extremidades da cadeia manterão seus carbonos 3’ e 5’, um em cada extremidade. Essas extremidades recebem a denominação de extremidade 5’ e 3’, respectivamente (VOET et al., 2014). Ácido Desoxirribonucleico - DNA O DNA é a molécula responsável por armazenar as informações genéticas que determinarão as caracterís- ticas morfológicas e funcionais das células e transmissão dessas características para as células descendentes. O H H H HH N N N N N DNA Pu ri na s Pi ri m id in as Pe nt os es DNA e RNA RNA N H H N N N N H H H Guanina O HH3C HOH2C OH OH OH OH O P OH H N N O O H Adenina Timina Desoxirribose Ribose Citosina Ácido fosfórico Uracila H H O HH H N N O H N HN H N N O H HOH2C OH OH OH O Figura 21 - Desoxirribose - nucleotídeos do DNA e ribose - nucleotídeos do RNA Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 54). 37UNIDADE 1 Estrutura da molécula da DNA A molécula de DNA é constituída por duas ca- deias de desoxirribonucleotídeos que interagem entre si por meio de pontes de hidrogênios entre suas bases nitrogenadas. Dessa forma, as bases nitrogenadas ficam no centro da molécula e a pentose e o fosfato ficam na borda da molécu- la. O posicionamento dos nucleotídeos em cada cadeia é inverso em relação a outra, o que se diz de orientação antiparalela. Em função disto, as extremidades 3’ e 5’ seguem orientação inversa em cada uma das fitas. No DNA, as pontes de hidrogênios reali- zadas entre as bases nitrogenadas das cadeias antiparalelas, ocorrem especificamente entre adenina - timina e citosina-guanina. Dessa for- ma, teremos duas cadeias complementares em Figura 22 - Modelos da estrutura tridimensional da molécula de DNA - Proposta por Watson-Crick (1953) Fonte: Watson et al. (2015, p. 98). suas sequências de nucleotídeo. A-T realizam duas pontes de hidrogênio e C-G realiza três pontes. As pontes de hidrogênios são respon- sáveis pela estabilidade da molécula de DNA. As duas cadeias polinucleotídicas, antipara- lelas e complementares assumem um aspecto levemente retorcido, orientado da esquerda para a direita na maioria das condições do am- biente celular e é chamada de α-hélice. Ao lon- go da molécula de DNA, cada volta completa na hélice contém 10 nucleotídeos. O diâmetro da molécula é de 2 nm (nanômetro), e sua su- perfície apresenta dois sulcos desiguais: sulco maior e sulco menor. Esse modelo de estrutura da molécula de DNA foi proposto por Watson e Crick, em 1953. 38 Caracterização Bioquímica das Células Ácido Ribonucleico - RNA O RNA é uma cópia de segmento da molécula de DNA, que se denomina gene. O RNA vai atuar no processo de síntese de proteínas. Esta será res- ponsável pela expressão das informações contida no DNA. Estrutura da molécula de RNA Formada por uma cadeia simples de nucleotídeos, que como vimos, possui ribose. Quatro varieda- des de bases nitrogenadas formam os diferentes nucleotídeos. Algumas variedades de RNAs podem apresen- tar segmento que são complementares A-U, G-C e promovem dobras na molécula, fazendo com que ela exerça funções específicas. Existem três tipos principais de RNAs que par- ticipam da síntese protéica: RNAm - mensageiro; RNAt – de transferência; e RNAr. • RNAm: formado quando ocorre a trans- crição de genes com informações especí- ficas para uma proteína. É uma cadeia li- near. No processo de síntese proteica, cada trinca de nucleotídeos (códon) determina a adição de um aminoácido específico. • RNAr: combina-se com diferentes pro- teínas para formar as subunidades de par- tículas denominadas de ribossomos. Os ribossomos funcionais existem quando duas subunidade (maior e menor) estão unidas. Eles apresentam os sítios ativos que atraem os RNAt para se ligarem aos códons e sítios que catalisam as ligações peptídicas entre os aminoácidos. • RNAt: apresentam uma extremidade com a sequência CCA, que graças a um processo enzimático se liga a um aminoácido. Existe uma especificidade e cada variedade de en- zima irá ligar cada um dos 20 tipos diferen- tes de aminoácidos a um RNAt específico. O RNAt apresenta-se em fita dupla, devi- do às pontes de hidrogênios entre as bases nitrogenadas complementares. Essas do- bras promovem a exposição de uma trin- ca específica de nucleotídeos denominada anticódon. A complementaridade códon/ anticódon é responsável pela adição de uma sequência específica de aminoácidos na proteína codificada por um RNAm. Ao final desta unidade, tivemos uma visão geral da estrutura dos dois tipos celulares que formam os se- res vivos atuais – células eucariontes e procariontes. A célula é a base morfológica e funcional de todo e qualquer ser vivo e conhecê-la em seus aspectos morfológicos fornecerá suporte para outras áreas do curso. Células procariontes são células mais simples, não apresentam membranas internas. Foram as pri- meiras formas de seres vivos a se desenvolverem no planeta e, atualmente, formam as bactérias. Células eucariontes surgiram da evolução de células procariontes. Apresentam uma estrutura morfológica mais complexa, pois exibem uma série de membranas internas, compartimentali- zando o citoplasma, que chamamos de organelas. Nas células eucariontes, cada organela desempe- nha funções específicas. Tivemos também uma visão dos componentes químicos que formam as células: os elementos orgânicos (proteínas, carboidratos, lipídios e áci- dos nucleicos) e os elemento inorgânicos (água e sais minerais) e de cada elemento destacamos seu papel biológico principal. Todos os conceitos aqui abordados precisam es- tar incorporados por você, caro(a) aluno(a). Dessa forma, esta unidade nos deu embasa- mento para prosseguir nas demais abordagens que faremos sobre o metabolismo celular, nas próximas unidades. 39 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Para que uma célula animal seja capaz de sintetizar, armazenar e secretar enzi- mas, é necessário que ela apresente de maneira bem desenvolvida: a) O Retículo Endoplasmático Granular e o Complexo de Golgi. b) O Retículo Endoplasmático Agranular e o Complexo de Golgi. c) O Retículo Endoplasmático Granular e os Lisossomos. d) O Complexo de Golgi e os Lisossomos. e) O Complexo de Golgi e o Condrioma. 2. Considerando-se a definição de enzimas, analise as afirmativas a seguir: I) São catalisadores orgânicos, de natureza proteica, sensíveis às variações de temperatura. II) São substâncias químicas, de natureza lipídica, sendo consumidas durante o processo químico. III) Apresentam uma região chamada centro ativo, a qual se adapta à molécula do substrato. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas a afirmativa I é correta. b) Apenas as afirmativas II e III são corretas. c) Apenas as afirmativas I e III são corretas. d) Todas as afirmativas são corretas. e) Nenhuma afirmativa é correta. 40 3. Em 1953, Miller e Urey realizaram experimentos simulando as condiçõesda Terra primitiva: supostamente altas temperaturas e atmosfera composta pelos gases metano, amônia, hidrogênio e vapor dʼágua, sujeita a descargas elétricas intensas. A figura a seguir representa o aparato utilizado por Miller e Urey em seus experimentos. Eletrodos Vapor d’água Área de condensação Produtos Água fervente Descargas elétricasH2 NH3 H2O CH4 Fonte: Vestiprovas ([2016], on-line)4. a) Qual a hipótese testada por Miller e Urey nesse experimento? b) Cite um produto obtido que confirmou a hipótese. 4. Cite as organelas encontradas em uma célula eucarionte animal e relacione a função exercida por cada uma. 5. O citoplasma celular é composto por organelas dispersas em uma solução aquosa denominada citosol. A água, portanto, tem um papel fundamental na célula. Das funções que a água desempenha no citosol, qual não está correta? a) Participa no equilíbrio osmótico. b) Catalisa reações químicas. c) Atua como solvente universal. d) Participa de reações de hidrólise. e) Participa no transporte de moléculas. 41 Bases da Biologia Celular e Molecular Autor: Eduardo de Robertis e José Hib Editora: Guanabara Koogan Sinopse: esse livro é didático, que apresenta os conteúdos básicos de Biologia Celular e Molecular. Inicia-se apresentando a estrutura morfológica das células procariontes e eucariontes e integra a constituição bioquímica das células. Comentário: livro com uma linguagem acessível e bem ilustrado. Será muito útil na aquisição de conceitos fundamentais de Biologia celular e Bioquímica. LIVRO 42 ALBERTS, B.; BRAY, D.; HOPKIN, K.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WALTER, P. Fun- damentos da biologia celular. Porto Alegre: Artmed, 2011. ALBERTS, B.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WALTER, P.; VANZ, A. L. de S.; JOHNSON, A. Biologia molecular da célula. Porto Alegre: Artmed, 2011. JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J.; JORDÃO, B. Q.; ANDRADE, C. G. T. J.; YAN, C. Y. I. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica básica. São Paulo: Guanabara Koogan, 2015. NELSON, D. L.; COX, M. M.; VEIGA, A. B. G. da.; CONSIGLIO, A. R.; LEHNINGER, A. L.; DALMAZ, C. Leh- ninger: princípios de bioquímica. Porto Alegre: Artmed, 2013. STRYER, L.; TYMOCZKO, J. L.; BERG, J. M. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W.; FETT NETO, A. G. Fundamentos de bioquímica. Porto Alegre: Artmed, 2014. WATSON, J. D.; BAKER, T. A.; BELL, S. L.; GANN, A.; LEVINE, M.; LOSICK, R.; VARGAS, A. E.; PASSAGLIA, L. M. P.; FISCHER, R. Biologia molecular do gene. Porto Alegre: Artmed, 2015. REFERÊNCIAS ON-LINE 1 Em: http://bioblogconexao.blogspot.com.br/2015/07/caracteristicas-dos-seres-vivos-e.html. Acesso em: 4 jul. 2019. 2 Em: http://www.iesdionisioaguado.org/joomla/images/stories/VANESA/rerrel.jpg. Acesso em: 4 jul. 2019. 3 Em: http://www.portalojornal.com.br/noticia/10335/suar-emagrece--mito-ou-verdade-.html. Acesso em: 4 jul. 2019. 4 Em: http://www.vestiprovas.com.br/questao.php?questao=unicamp-2003-2-3-quimica-geral-17725. Acesso em: 4 jul. 2019. 43 1. A. 2. C. 3. a. A hipótese testada foi a teoria pré-biótica que sugere que moléculas orgânicas reagiram espontaneamente e formaram moléculas orgânicas. b. Os produtos formados foram aminoácidos, nucleotídeos e carboidratos mais simples. 4. Mitocôndrias: liberar a energia obtida da degradação de moléculas orgânicas e transferir esta energia para a síntese de moléculas de ATPs. Retículo endoplasmático rugoso: essa porção do retículo endoplasmático está associada à síntese de proteínas. Retículo endoplasmático liso: essa porção do retículo endoplasmático está associada à síntese de lipídios e degradação de metabolitos tóxicos para a célula. Aparelho de Golgi: processamento e distribuição das macromoléculas que começaram a serem sintetizada no retículo endoplasmático liso e rugoso. Lisossomos: digestão de moléculas englobadas por endocitose e também de organelas que não estão sendo utilizadas. Endossomos: constituem uma rede complexa de vesículas que são encaminhadas para a digestão. Peroxissomos: contém enzimas oxidativas que transferem átomos de hidrogênio de diversos substratos para o oxigênio formando os peróxidos. Núcleo: armazena os ácidos nucleicos, responsáveis pela caracterização morfológica e funcional das células. 5. B. 44 45 46 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Identificar a constituição química e estrutural das mem- branas celulares. • Apontar os diferentes mecanismos que promovem o in- tercâmbio das moléculas entre os meios intracelular e extracelular. • Reconhecer morfológica e funcionalmente as organelas que formam o sistema de endomembranas na célula eucarionte. • Descrever a relação entre as organelas do sistema de endomembranas no processamento de macromoléculas e digestão intracelular. Membrana Plasmática Mecanismos de Transporte por Meio das Membranas Celulares Síntese e Exportação de Macromoléculas Vias Intracelulares de Degradação - Endocitose e Lisossomos Sistema de Endomembranas Dra. Marcia Cristina de Souza Lara Kamei Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Membrana Plasmática Caro(a) aluno(a), você já desvendou a composição química das células e percebeu que do ponto de vista bioquímico existe uma simplicidade fasci- nante na composição dos seres vivos, uma vez que todos eles são formados por células, que, por sua vez são constituídas por uma gama padronizada de elementos químicos definidos como moléculas orgânicas. Vamos avançar em nossos conhecimentos so- bre a estrutura celular, estudando, nesta unidade, aspectos morfológicos e funcionais das organelas presentes nas células eucariontes, que, como vi- mos na Unidade 1, desenvolveu esses comparti- mentos durante os processos evolutivos. Vamos abordar também, nesta unidade, a membrana plasmática das células, que é respon- sável por delimitar o espaço celular e promover o intercâmbio molecular entre o citoplasma e o meio extracelular. Não é possível a sobrevivência da célula se não houver um fluxo constante de moléculas entre esses dois meios. As membranas celulares apresentam uma constituição química e uma organização padro- nizadas, sendo formados por bicamada de lipídios anfipáticos, com proteínas e radicais de carboidra- tos associados a esta bicamada, em um modelo que se chama de mosaico fluído. 49UNIDADE 2 Essa constituição das membranas celulares atende as características das moléculas que as constituem e permite que estas membranas desempenhem várias funções. Ao longo do processo evolutivo, vários meca- nismos que promovem a entrada de elementos es- senciais ao metabolismo e retirada de compostos indesejáveis resultantes destes metabolismos foram desenvolvidos e, para compreensão da fisiologia ce- lular, é necessário os diversos mecanismo de trans- porte por meio das membranas celulares, bem como conhecer a estrutura e funções da membrana plas- mática e das organelas citoplasmáticas, dessa forma, vamos desvendar mais uma fascinante abordagem de nossos estudos sobre as células. Aluno(a), agora, conheceremos a membrana plasmática da célula. Essa estrutura delimita o espaço interno das células e promove intercâmbio de moléculas entre o núcleo e o citoplasma. Todas as membranas celulares apresentam o mesmo pa- drão molecular e o mesmo arranjo dessas molé- culas. Contudo, antes de abordarmos a estrutura dessas membranas, faremos uma discussão de suas funções gerais. Função das Membranas Celulares De uma maneira geral, as membranas celula- res e a membrana plasmática estão envolvidas nos principais processos que governam a ma- nutenção e o funcionamento celular. A seguir, serão citadas e abordadas as principais funções atribuídas às membranas celulares que são fun- damentais para a vida da célula. Membrana plasmática Citoplasma Mitocôndria Retículo endoplasmático liso Polonuclear Nucléolo Núcleo Membrana nuclear Lisossoma Centríolo Aparato de Golgi Retículo endoplasmático rugoso Ribossoma Figura 1 - Esquema das membranas presentes em células eucariontes Fonte: Glória (2016, on-line)1. 50 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Compartimentalização celular A membrana plasmática delimita todos os tipos celulares desde procariontes a eucariontes. Nas células eucarióticas, membranas internas criam subcompartimentos com atividades especializa- das. Embora as moléculas na membrana sejam mantidas por ligações químicas fracas, o somató- rio dessas forças (complementada pelas interações com o citoesqueleto e matriz extracelular) confere à membrana uma determinada resistência à tração, suficiente para assegurar a integridade física da célula e, consequentemente, a sua individualidade. Transporte de substâncias Por ser a estrutura que delimita as células e com- partimentos internos (células eucarióticas), as substâncias que entram e saem devem, necessaria- mente, atravessar as membranas. As membranas celulares são seletivas e contam com mecanismos de transporte altamente especializados. Entre as funções dos sistemas de transporte na membrana, pode-se citar: • Regulam o volume celular. • Mantém o pH e a composição iônica in- tracelular. • Extraem do ambiente e concentram com- bustíveis metabólicos e elementos de cons- trução. • Eliminam substâncias tóxicas. • Geram gradientes iônicos. Reconhecimento e processa- mento de informações Essa função é exercida por meio da ação de re- ceptores incorporados na membrana, os quais reconhecem ligantes específicos e desencadeiam um processo interno de sinalização celular que permite que a célula mude seu comportamento em resposta a “orientações”. Suporte para atividades bioquímicas Muitas membranas celulares contém moléculas específicas que atuam no metabolismo e con- ferem funções bioquímicas particulares a cada compartimento que a possui. Por exemplo, a membrana interna das tilacoides, nos cloroplas- tos, e a membrana plasmática de bactérias fo- tossintéticas contêm pigmentos, transportadores de elétrons e enzimas envolvidas no processo da fotossíntese (conversão de energia luminosa em energia química). Integração entre células e substratos não celulares Nos organismos multicelulares, as células estão conectadas entre si ou com a matriz extracelular para formar os tecidos. Essa integração, na reali- dade, é resultante da presença de especializações na membrana que, em conjunto, são denominadas de junções celulares. Vários tipos de junções inter- celulares, cada uma composta por uma proteína transmembrana diferente, conectam as membra- nas plasmáticas das células adjacentes. Por exem- plo, nas junções de adesão e nos desmossomos, que mantêm células epiteliais aderidas, há uma proteína transmembrana denominada caderina que ancora, através de seu domínio citosólico, proteínas do citoesqueleto, enquanto que o do- mínio extracelular serve de ancoragem para outra caderina da célula adjacente. 51UNIDADE 2 Estrutura e Composição Molecular das Membranas Celulares As membranas celulares são estruturas contínuas que determinam os limites estruturais e funcionais das células (membrana plas- mática) e dos compartimentos internos de células eucarióticas (membrana nuclear e das organelas citoplasmática). São compostas de lipídios, proteínas e carboidratos e todas estão estruturadas de acordo com o mesmo modelo de arquitetura molecular. Composição Química e Organização Estrutural de Membranas Celulares Como já mencionado anteriormente, as membranas celulares são compostas de proteínas, lipídios e, em uma menor proporção, car- boidratos. Entretanto, a distribuição desses componentes oscila dependendo do tipo de membrana celular. Lipídios Formadores de Membranas Os lipídios que estão presentes na estrutura das membranas celula- res são, na sua maioria, anfipáti- cos. Esses apresentam uma região com grupamentos polares e outra região com grupamentos apola- res. (Obs.: essa condição já foi dis- cutida na unidade anterior). Essa molécula se arranja em bicamada, deixando suas regiões hidrofílicas (cabeças) para a periferia e suas regiões hidrofóbicas (cauda) para o centro da bicamada (ALBERTS et al., 2011). Entre os lipídeos mais fre- quentes nas membranas celulares distinguem-se os fosfoglicerídeos, com uma representação de 70 a 90%. As membranas das células animais contêm colesterol, o que não acontece nas células vegetais, que possuem outros esterois. As membranas das células procarió- ticas não contêm esterois, salvo raras exceções. A seguir, a estru- tura dos principais lipídios da membrana será abordada: • Fosfoglicerídeos: co- mumente denominados de fosfolipídios, são cons- tituídos por uma molé- cula de glicerol esterifi- cada a dois ácidos graxos e a um ácido fosfórico. Diferentes grupos-cabe- ça (álcoois) se ligam ao ácido fosfórico produ- zindo diferentes tipos de fosfoglicerídios: Moléculas de lipídios an�páticos Região polar (hidrofílica) Cadeia apolar (hidrofóbica) Micela (a) bicamada (b) Figura 2 - Esquema da estrutura bioquímica dos lipídios formadores de mem- brana e seu arranjo em bicamada Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 100). 52 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte » Fosfatidilglicerol: grupo-cabeça é o glicerol. » Fosfatidilinositol: grupo-cabeça inosi- tol (pode ser classificado como glicolipí- deo por conter um resíduo de açúcar). » Fosfatidilcolina: grupo-cabeça colina. » Fosfatidilserina: grupo-cabeça serina. » Fosfatidiletanolamina: grupo-cabeça etanolamina. • Esfingolipídeos: apresenta a molécula de esfingosina em sua estrutura. A esfingo- mielina é um esfingolipídio que contém como grupo-cabeça a molécula de colina. • Esteróides: são lipídios que não apresen- tam ácidos graxos. O principal lipídio es- teroides nas células animais é o colesterol, e em algumas dessas membranas pode re- presentar mais de 50% das moléculas de lipídios. Esse lipídeo é de grande impor- tância, pois faz parte de uma série de vias metabólicas, incluindo a síntese de hormô- nios esteroides (estrogênio, testosterona e cortisol), da vitamina D e dos sais biliares secretados pelo fígado. Cada membrana celular possui uma composição de lipídios característica que afetam as proprieda- des físicas e biológicas de cada uma. Proteínas Presentes na Membrana Apesar de a estrutura básica da membrana plas- mática ser fornecida pela bicamada de lipídios, as proteínas de membrana desempenham a maioria das funções específicas. São as proteínas, portanto, que dão a cada tipo de membrana na célula as propriedades funcionais características. Entre as funções exercidas por essas biomoléculas estão: o transporte de substâncias, atividade enzimática, recepção de sinais e ancoragem. As proteínas presentes nas membranas celu- lares são classificadas de acordo com a interação que fazem com a bicamada lipídica, sendo elas: • Proteínas periféricas: estão associadas com a superfície da membrana por meio de ligações não covalentes. A fraca asso- ciação dessas proteínas com a membrana permite que elas sejam facilmente solubi- lizadas com o uso de solventes alcalinos. A ligação das proteínas periféricas com a membrana ocorre por meio de interação eletrostática e por pontes de hidrogênio com os domínios hidrofílicos (citosóli- co e externo) de proteínas integrais, com os grupos-cabeça polares de lipídios de membrana ou mesmo com outras pro- teínas periféricas. • Proteínas integrais: encontram-se “mer- gulhadas” na bicamada lipídica (represen- tadas pelo número 4, na imagem). Entre- tanto, a maioria das proteínas integrais de membrana se estendem de um lado a ou- tro na bicamada lipídica e são designadas por proteínas transmembranas. Tais pro- teínas, por conter domínios citosólico e extracelular, podem desempenhar papéis em ambos lados da membrana. Exemplos deproteínas com este tipo de atividade são as carreadoras, os canais iônicos e os receptores. 53UNIDADE 2 Figura 3 - Esquema mostrando as diversas interações de proteínas com a bicamada de lipídios para a formação das membranas celulares Fonte: Alberts et al. (2011, p. 373). Açúcares de membrana A membrana plasmática de células eucariotas con- tém carboidratos que estão ligados covalentemente aos componentes lipídicos (formando os glicoli- pídeos) e protéicos (formando as glicoproteínas e proteoglicanas). Dependendo da espécie e do tipo celular, o conteúdo de carboidratos da membrana plasmática varia entre 2% a 10% de seu peso. Na membrana plasmática, as porções glicídicas estão situadas na face externa da bicamada, en- quanto que, nas membranas celulares das organe- las, os açúcares estão voltados para o lado oposto Os domínios citosólicos e exoplásmicos das proteínas transmembranas apresentam, em sua maioria, aminoácidos hidrofílicos por estarem em contato com as soluções aquosas do meio intra e extracelular. O domínio interno, em contato com as cadeias hidrocarbonadas dos lipídios, apresenta uma maior quantidade de aminoácidos hidrofóbicos. Podem ser classificadas como proteína de passagem única por possuir somente uma alfa hélice atravessando a membrana ou como passagem múltiplas ou multipasso, por atravessarem várias vezes a bicamada. do citosol. Nas células animais, os carboidratos ocupam um espaço considerável da superfície da membrana com cerca de 10 a 20 nm. Essa camada glicídica é conhecida como glicocalix e apresenta funções de reconhecimento e adesão celular. A porção glicídica da maioria das glicoproteí- nas e glicolipídeos são oligossacarídeos que pos- suem, tipicamente, menos de 15 monossacarídeos por cadeia. A Figura 4 representa a organização estrutural das membranas celulares. Esse modelo é denominado de mosaico fluído. 54 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Glicolípidio Glicoproteína Colesterol Oligossacarídio Domínios polares Domínio apolar Proteína integral Proteína periférica Proteína periférica Proteína periférica ligada covalentemente a lipídio Unidade de açúcar Camada de carboidratos Bicamada lipídica CITOSOL ESPAÇO EXTRA- CELULAR Glicoproteína transmembrana Glicoproteína ligada Proteoglicano transmembrana Glicolipídeo Figura 4 - Esquema de mosaico fluído para explicar a estrutura das membranas celulares Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 103). Figura 5 - Esquema da organização estrutural das membranas celulares com evidência no glicocálix Fonte: Alberts et al. (2011, p. 381). 55UNIDADE 2 Ao estudarmos a composição química e organiza- ção estrutural das membranas celulares, entende- mos que essas membranas formam películas que separam compartimentos. No entanto, está claro que as membranas não podem isolar os ambientes que revestem, pois o metabolismo celular depende de intercâmbio constante de moléculas entre os diversos compartimentos. Você já deve ter conhecimento do conceito de que as membranas apresentam permeabilida- de seletiva. Isso significa que algumas moléculas atravessam a membrana e outras são “barradas”. A seletividade das membranas celulares é um evento promovido pelo processo evolutivo, que levou ao desenvolvimento de vários mecanismos de transportes. O intercâmbio de moléculas é funda- mental para a sobrevivência das células. Podemos elencar as funções atribuídas ao diversos meca- nismos de transporte por meio das membranas: • Regulam o volume celular. • Mantém o pH e a composição iônica intra- celular. • Extraem do ambiente e concentram combus- tíveis metabólicos e elementos de construção. • Eliminam substâncias tóxicas. • Geram gradientes iônicos. Mecanismos de Transporte por meio das Membranas Celulares 56 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Tipos de Transporte De uma maneira geral, o trans- porte por meio da membrana pode ser classificado como ativo ou passivo. Quando uma substância é transportada de um lado a outro da membrana, a favor do gradiente de concen- tração, o transporte não requer gasto de energia e é denomina- do de transporte passivo. Se a substância é transportada de um lado a outro da membrana contra o gradiente de concen- tração, o transporte requer gasto de energia e é denominado de transporte ativo. Se a substância tem uma carga elétrica, seu movimento é influenciado tanto pelo gra- diente de concentração como pelo potencial de voltagem da membrana (diferença na con- centração de íons de cargas opostas em ambos os lados da membrana). A combinação des- tas duas forças é denominada de gradiente eletroquímico. Transporte passivo O transporte de substância a fa- vor do gradiente de concentra- ção sem gasto de energia pode ser dividido em transporte de água, que é denominada de os- mose, e transporte de solutos, que é denominado de difusão. NaCl 1,5% NaCl 0,9% NaCl 0,6% NaCl 0,4% Célula vegetal normal Parede celular Membrana Núcleo Vácuolo Citoplasma Plasmólise Plasmólise mais avançada Desplasmólise Bi-Camada Lipídica Figura 7 - Poros proteicos, denominados de aquaporinas, que promovem a pas- sagem de água por meio das membranas celulares Fonte: Alberts et al. (2010, p. 633). Figura 6 - Esquema demonstrando o movimento da água em função das con- centrações do meio extracelular Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 83). 57UNIDADE 2 Osmose Na osmose, a água se move por meio da membrana, do meio hi- potônico (menos concentrado) para o meio hipertônico (mais concentrado), até que os meios se tornem isotônico (com a mesma concentração). A passagem da água pode ocorrer por meio da bicamada lipídica ou por meio de pro- teína canais denominadas de aquaporinas. Difusão O transporte passivo de solu- tos ocorre do meio hipertônico para o meio hipotônico, até que os meios se tornem isotônico. Esse mecanismo é chamado de difusão. A difusão pode ocorrer pela bicamada lipídica ou por meio de proteínas transportadoras. Pou- cas moléculas conseguem fluir por meio da bicamada lipídica, entre elas estão moléculas hidro- fóbicas pequenas, como benze- no; gases, como o CO2, N2 e O2; e moléculas pequenas polares e sem carga, como etanol, ureia e, em uma taxa pequena, a própria molécula de água (a osmose pode ser caracterizada como um pro- cesso de difusão). Quando uma molécula atravessa a membrana pela bicamada lipídica, o pro- cesso é denominado de difusão passiva. Entretanto, a passagem de moléculas maiores polares, como a glicose; moléculas com cargas, como aminoácidos, ATP; e íons, como Na2+, Ca2+, Mg2+, Cl-, requerem a presença de proteínas transportadoras para atravessar a membrana, neste caso, o transporte é denominado de difusão facilitada. No processo de difusão facilitada, as proteínas que realizam a passagem da substância podem ser uma proteína carreadora (per- meases) ou canais. Proteínas carreadoras (permeases): • Transporte de moléculas grandes, polares e/ou carregadas. • Mudança de conformação durante o transporte. • Taxa de transferência menor que a taxa operada pelas pro- teínas canal. Proteínas canais: • Transporte de água e íons. • Transporte rápido. • Seletivo. • Alternância aberto/fechado - “gates” (dependentes de voltagem/ dependentes do ligante). Os mecanismos de transportes ativos levam os meios separados por membranas a assumirem concentrações equilibradas. Portanto, teremos outros mecanismos envolvidos na manutenção de diferentes concen- trações de substâncias nos diferentes meios biológicos. Molécula transportada Bicamada liídica Difusão simples Mediado por canal Mediado transportador Difusão facilitada Proteína canal Proteína carreadora Figura 8 - Esquema mostrando a difusão simples e facilitada Fonte: Alberts et al. (2011, p. 391). 58 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Molécula transportada Bicamada liídica Difusão simples Mediado por canal Mediado transportadorGradiente de concentração TRANSPORTE PASSIVO TRANSPORTE ATIVO Proteína canal Proteína carreadora ENERGIA Transporte ativo Os solutos poderão ser transportados contra o gradiente de concentração, ou seja, do meio menos concentrado para o mais concentrado, envolvendo gasto energético. Esse processo é chamado de transporte ativo. O mecanismo ocorre somente com solutos e sempre por meio de proteínas carreadoras. Essas proteínas são conhecidas como bombas. A energia necessária para o transporte pode ser disponibilizado por quebra de molécula de ATP, caracterizando o transporte ativo primário. Alguns carreadores de membrana realizam o transporte ativo secundário, isto é, usam gradien- tes de íons seguindo seu gradiente eletroquímico para transportar outra substância contra seu gra- diente de concentração. Esse transporte é também denominado de transporte acoplado. Podemos re- sumir algumas características do transporte ativo: • Depende da presença e da atividade de proteínas de membrana. • São específicos para certas substâncias ou grupos de substâncias. • O fluxo ocorre contra um gradiente quí- mico ou elétrico. • Requer energia e é sensível a distúrbios metabólicos. Figura 9 - Esquema comparando o transporte ativo e passivo Fonte: Alberts et al. (2011, p. 390). 59UNIDADE 2 Exemplos: » H+ATPASE - move H+ para fora da cé- lula. » Ca2+ ATPASE - move Ca2+ para fora da célula. » Na+/K+ ATPASE - move Na+ para fora e K+ para dentro da célula simultaneamen- te. A proteína carreadora é também uma enzima que degrada a molécula de ATP, levando 2 K+ para o meio intracelular e 3Na+ para o meio intracelular, conforme demonstra o esquema a seguir: Na+ Na+ Na+ 4 3 5 6 1 2 K+ K+ K+ P P P Fosfato em ligação de alta energia ESPAÇO EXTRACELULAR A BOMBA SE AUTOFOSFORILA ATP ADP A BOMBA É DESFOSFORILADA CITOSOL LIGAÇÃO DE Na+ À BOMBA A BOMBA RETORNA À COMFORMAÇÃO ORIGINAL, EJEÇÃO DE K+ LIGAÇÃO DE K+ A FOSFORILAÇÃO DESENCADEIA UMA MUDANÇA CONFORMACIONAL, EJEÇÃO DE Na+ P Figura 10 - Esquema ilustrando o mecanismo da bomba Na+/K+ ATPASE Fonte: Alberts et al. (2011, p. 395). O Transporte ativo ocorre somente por meio de proteínas carreadoras, que combinam-se com as moléculas a serem transportadas e alternam sua conformação durante o transporte, deixando de ter afinidade pela molécula transportada. Esse transporte ocorre em eucariontes por meio de dois princípios básicos: • Transporte ativo primário (a energia é disponibilizada pela quebra de moléculas de ATPs). A quebra da molécula de ATP e o transporte são processos realizados pela mesma proteína. 60 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte • Transporte ativo secundário (não depen- de da quebra de moléculas de ATP, o gra- diente de concentração mantido por meio do transporte ativo direto de íons serve como fonte de energia que dirige o trans- porte ativo indireto de outras substâncias. Nesse transporte ativo indireto, as moléculas mo- vem-se associadas ao transporte de um íon, que lhe fornece energia, por isso, esse tipo de trans- porte é do tipo transporte acoplado. Existem dois mecanismos de transporte ativo secundário: Simporte e Antiporte. No Simporte, as substâncias transportadas, em geral açúcares e aminoácidos, movem-se na mesma direção do íon que está fornecendo energia; no transporte tipo antiporte, as subs- tâncias transportadas, em geral íons, movem-se em direção contrária ao íon que está fornecen- do energia. Vários metabólitos e íons movem-se por meio da membrana por transporte ativo indireto e em eucariontes, praticamente todas as substâncias orgânicas transportadas dentro das células são movidas por transporte ativo secundário (ME- YER, [2019], on-line)2. Figura 11 - Esquema ilustrando os diferentes tipos de transportes ativos Fonte: Alberts et al. (2011, p. 398). Molécula transportada Ion cotransportado Ion cotransportado UNIPORTE SIMPORTE ANTIPORTE TRANSPORTE ACOPLADO Bicamada Lipídica 61UNIDADE 2 Sistema de Endomembranas Neste tópico, abordaremos um conjunto de organelas que, nas células eucariontes, apresentam-se em ínti- ma associação morfológica e/ou funcional e são cha- mados de sistema de endomembranas. Esse sistema atua no processamento de macromoléculas ou, como podemos dizer, na secreção e digestão intracelular. O processo de evolução celular originou mem- branas internas que levaram ao processo de com- partimentalização do citoplasma celular, originando a célula eucarionte. Dentre os compartimentos, o sistema de endomembranas é o mais volumoso. Esses sistemas são formados por várias organelas. Alguns compartimentos apresentam comunicação direta; em outros, a comunicação ocorre por meio de vesí- culas transportadoras. Essas vesículas brotam de um compartimento doador e se fundem com membrana de outro compartimento (compartimento receptor), envolvendo, então, processo de perda e ganho de membranas entre os compartimentos (JUNQUEI- RA et al., 2012). O sistema de endomembranas é formado pelas seguintes organelas: a) Retículo endoplasmático - que compreende duas porções: liso e rugoso que apresentam suas membranas em continuidade com o envelope nuclear. b) Complexo de Golgi. c) Endossomos. d) Lisossomos. 62 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Retículo Endoplasmático O Retículo Endoplasmático (RE) é uma rede de túbulos e cisternas que se estendem frequente- mente da membrana nuclear por todo o citoplas- ma. A quantidade e a localização específica do RE variam de acordo com o tipo e o metabolismo celular. Nos hepatócitos, por exemplo, o RE é bas- tante desenvolvido e se encontra disperso pelo ci- toplasma. Em células secretoras polarizadas, como as células acinares pancreáticas, o RE fica restrito preferencialmente na porção basal do citoplasma. O RE é subdividido em dois tipos ou domínios distintos que desempenham funções diferencia- das: o RE rugoso (RER), que se apresenta com ri- bossomos aderidos na superfície citosólica de suas membranas e apresenta estas membranas achata- das, e o RE liso (REL), que não possui ribossomos associados, tendo suas membranas tubulares. O RER está, primariamente, relacionado com as funções de produção e processamento de pro- teínas, enquanto o REL está envolvido na síntese e modificação de lipídios no metabolismo de com- postos lipossolúveis (drogas), podendo desempe- nhar funções específicas, como o armazenamento de Ca++ nas células musculares. Ambos tipos de RE são contínuos e podem se interconverter conforme o estado fisiológico da célula, por exemplo, na presença de fenobarbital (um anestésico que pode se acumular e se tornar potencialmente tóxico para a célula), área do RER dos hepatócitos são substituídas por REL para realizar a detoxificação. Conforme já mencionado, o RE é o início da via biossintética secretora da célula. A síntese de proteínas e lipídios no RE representa, portanto, um ponto de ramificação para a distribuição dessas moléculas no interior de células eucarióticas. En- tretanto, proteínas destinadas a permanecerem no citosol ou serem incorporadas no núcleo, na mi- tocôndria, nos cloroplastos ou peroxissomos, são sintetizadas nos polirribossomos do citoplasma. A porção rugosa do retículo endoplasmá- tico está envolvida com o processamento de proteínas e a porção lisa do retículo endoplas- mático está envolvida com a síntese de lipídios. A síntese de macromoléculas será abordada na sequência, porém, a região lisa do retículo en- doplasmático exerce outras funções que serão abordadas agora: • Detoxificação celular: o REL contém en- zimas oxidativas que permitem a detoxi- ficação celular. Algumas drogas tendem a se acumular nas células em níveis tóxicos, como inseticidas (DTT), herbicidas, aditi- vos da indústria alimentícia e medicamen- tos, como o analgésico fenobarbital. No pro- cesso de detoxificação, uma série de reações de oxidação envolvendo enzimas da família do citocromoP450 da membrana do REL promovem a solubilização de uma série de drogas, as quais podem ser eliminadas do organismo pela urina. Essas reações acon- tecem, principalmente, no fígado. Figura 12 - Equação da ação de detoxificação celular no retículo endoplasmático liso Fonte: a autora. 63UNIDADE 2 • Reservatório de cálcio: a presença de proteínas ligadoras de cálcio na luz do RE transforma essa organela em um reservatório desse íon. A liberação controlada do Ca++ a partir do RE desencadeia respostas celulares específicas, como a secreção e a pro- liferação celular. Nas cé- lulas musculares, o Ca++ desencadeia a contração muscular. • Glicogenólise: a de- gradação do glicogênio acumulado em grânulos no citoplasma, principal- mente dos hepatócitos, é realizada por regiões do REL pela ação da enzi- ma glicose 6 fosfatase. Essa enzima presente na membrana do REL é res- ponsável, portanto, em disponibilizar a glicose. A síntese de lipídeos também ocorre nas mitocôndrias e pe- roxissomos e, na realidade, es- sas organelas dividem a tarefa com o REL. Complexo de Golgi O Complexo de Golgi é com- posto por uma série de com- partimentos achatados ou cis- ternas. O conjunto de cisternas é chamado de dictiossomo e apresenta a unidade morfológica e funcional do Complexo de Golgi. As cisternas estão dispostas de maneira organizada e são dividi- das em três regiões: cis - de conformação convexa (recebe vesículas do RE); trans - de conformação côncava (posicionadas em direção ao sítio de secreção); e a região medial (entre as regiões cis e trans). Entre as cisternas, há um espaço de 20-30 nm preenchidos por uma matriz protéica envolvida na manutenção da organização das cisternas dessa organela. O CG funciona como uma fábrica que processa, seleciona e transporta substâncias que recebe. Dessa for- ma, as proteínas e lipídeos sintetizados no RE são modificados por meio de reações químicas no CG e, então separadas para que sejam encaminhadas para seus destinos finais. Figura 13 - Imagens de microscopia eletrônica de retículo endoplasmático liso (REL) e retículo endoplasmático rugoso (RER) Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 207). 64 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Figura 14 - Esquema mostrando a continuidade entre Retículo endoplasmàtico rugoso e liso Fonte: Fresta (2016, on-line)3. Figura 15 - Esquema mostrando as cisternas do dictiossomo do Complexo de Golgi Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 219). 65UNIDADE 2 Síntese e Secreção de Macromoléculas A síntese e secreção de macromoléculas, como pro- teínas, glicoproteínas e lipídios, ocorrem por ação conjunta de retículo endoplasmático (liso - lipídios, e rugoso - proteínas) e Complexo de Golgi. Ape- sar de serem duas organelas distintas e formarem compartimentos isolados, elas são, do ponto de vista funcional, extensões uma da outra. Síntese de Proteínas Os ribossomos aderidos à membrana do RER es- tão ativamente engajados na síntese de proteínas que serão liberadas no lúmen dessa organela ou incorporadas à sua membrana. Essas proteínas iniciam sua síntese no citoplasma para, posterior- mente, prenderem-se junto aos ribossomos na membrana da organela. O direcionamento desse complexo traducional se deve à presença de uma sequência específica denominada de peptídeo sinal, que corresponde a um segmento (que inclui oito ou mais aminoá- cidos hidrofóbicos) na extremidade amino termi- nal, ou seja, na extremidade nascente da proteína no ribossomo, denominado de peptídeo sinal. 66 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Para que o complexo traducional chegue até a membrana do RER, no mínimo dois componentes são necessários: uma partícula reconhecedora do sinal (PRS, uma ribonucleoproteína) e o receptor da PRS (uma proteína transmembrana do RER). Toda proteína começa a ser sintetizada por ri- bossomos associado ao RNAm que se encontram livres no citoplasma. Quando a proteína que está sendo sintetizada possui o peptídeo sinal, este é re- conhecido pela PRS e ocorre uma parada na síntese proteica até o momento em que a PRS se ligue ao seu receptor na membrana do RER. Após essa etapa, a PRS é liberada e a síntese proteica recomeça com a cadeia polipeptídica sen- do dirigida para o lúmen da organela por meio de um complexo proteico denominado Sec61p, que atua como um canal de translocação, e que possui sítios de ancoragem para o ribossomo. Ainda, na face luminal, este canal de translocação está asso- ciado a uma subunidade enzimática: a peptidase sinal que cliva a sequência sinal da cadeia poli- peptídica durante sua transferência para O RER. Em mamíferos, a maioria das proteínas des- tinadas ao RE são translocadas ao RE durante a tradução (processo cotraducional). As proteínas sintetizadas nos ribossomos aderidos ao RER podem ser solúveis e serem encaminhadas para o lúmen da organela, ou podem conter segmentos denominados de se- quência de parada de transferência que inserem essas proteínas na membrana. Proteínas que cruzam a membrana várias vezes (multipasso) podem estar sendo inseridas como resultado de uma série alternada de sequência de para- da de transferência. Essas sequências sinalizam o fechamento do canal SEc61p promovendo a transferência lateral da cadeia polipeptídica para a bicamada lipídica. Em algumas proteínas, o peptídeo sinal não é clivado e serve como uma sequência de parada (ALBERTS et al., 2011). Figura 16 - Esquema mostrando o ancoramento da síntese proteica a membrana do retículo endoplasmático, como reconhecimento do peptídeo sinal Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 210). 67UNIDADE 2 Enovelamento no RER: no lúmen do RER existem proteínas da família chaperonas deno- minadas Bip (binding proteins), que auxiliam o dobramento correto das cadeias polipeptídicas. Quando, apesar da ação das chaperonas, as pro- teínas não alcançam sua conformação nativa, elas podem ser degradadas por proteases no lúmen do RE ou, então, enviadas ao citoplasma, onde sofrem ubiquitinação (um polipeptídeo) e são reconhecidas por um complexo proteolítico, o proteossoma, que as degrada. Esse controle de qualidade às vezes pode conduzir a distúrbios, por exemplo, como o que ocorre na forma mais comum de fibrose cística. Essa doença genética é produto de mutações que resulta em uma leve alteração conformacional de uma proteína de membrana transportadora de Cl - (CFTR). Embora essa proteína pudesse fun- cionar perfeitamente na membrana, ela é retida no RE e, então, descartada. Outra ação que promove o dobramento corre- to das proteínas no RER é a formação de pontes dissulfeto (s-s) pela dissulfeto isomerase. Proteí- nas que contém pontes s-s em sua conformação, como a insulina, têm sua síntese associada ao RE, pois o ambiente redutor do citoplasma não favo- rece a formação dessas ligações. Processamento de proteínas: antes que muitas proteínas possam deixar o RER, elas devem passar por algumas modificações em sua cadeia polipeptídica. Muitas proteínas sofrem glicosilações para se tornarem glico- proteínas. Esse processo ocorre ainda durante sua translocação ao RER. Durante o processo, um oligossacarídeo composto de 14 resíduos é transferido de um suporte lipídico (o dolicol) para resíduos de aminoácidos específicos por ação de uma enzima oligossacaril transferase. Modificações desse oligossacarídeo precursor ocorrem ainda no interior do RER e se estendem ao CG e incluem remoção e adição de monossaca- rídeos. A combinação entre diferentes monômeros e o tipo de ligação estabelecida entre eles pode ge- rar uma elevada variabilidade em sua composição e estrutura, que fazem dos oligossacarídeos molé- culas especialmente capazes de atuar em processos específicos de reconhecimento celular que envolve eventos de adesão e sinalização celular. Figura 17 – Esquema mostrando a glicosilação inicial no lúmen do retículo endoplasmático Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 212). 68 Estruturae Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Transporte Vesicular do Retículo Endoplasmático (RE) para o Complexo de Golgi (CG) de adicionar oligossacarídeos O-ligados em aminoácidos específicos. A síntese dos oligossacarídeos O-ligados ocorre por adição sequencial de monossacarídeos nas dife- rentes cisternas do CG. Várias combinações de monossaca- rídeos são possíveis, gerando uma diversidade de cadeias. As enzimas responsáveis pelos diferentes passos da gli- cosilação são enzimas de mem- brana com o sítio ativo voltado para o lúmen do CG que se en- contra em compartimentos es- pecíficos desta organela. Assim, por exemplo, na cisterna cis es- tão presentes as manosidases; enquanto que na cisterna trans encontram-se galactosiltrans- ferases. Ainda no CG, a adição de carboidratos à ceramida gera uma variedade de glico- lipídios (glicoesfingolipídios). Os lipídeos e proteínas sintetizados no RE são enviados para o CG via vesículas transportadoras. Os lipídeos são transportados como parte da bicamada que forma as membranas das vesículas de transporte ou no lúmen da vesícula, associados com proteínas de transporte de lipídios ou lipoproteínas. Da mesma maneira, as proteínas sintetizadas no RE podem ser transportadas incluídas na bicamada lipídica (aquelas que, durante a translocação, ficam retidas na membrana do RER por seg- mentos de parada de transferência) ou no lúmen da vesícula (quando são proteínas solúveis) (JUNQUEIRA et al., 2012). As cisternas do RE são tipicamente interconectadas, facilitando o movimento das moléculas sintetizadas entre as cisternas dessa organela. As vesículas que brotam do RE para o CG partem de uma região des- provida de ribossomos referida como elementos de transição. Experi- mentos utilizando marcadores fluorescentes demonstram que, durante o percurso, essas vesículas se fundem para formar grandes vesículas e túbulos interconectados na região entre o RE e o CG. Esses agregados se movem em direção ao CG e, então, fundem-se com cisternas. Aspectos funcionais do CG Glicosilações de proteínas e lipídios: o CG desempenha papel essencial na síntese de glicoproteínas e glicolipídios já que modifica, por uma série de reações químicas, as cadeias de carboidratos das proteínas e lipídios provenientes do RE, além Síntese de Lipídeos Embora algumas organelas, como mitocôndrias e cloroplastos, contenham enzimas que participam na biossíntese de lipídeos, o REL é o principal sítio de síntese de lipídeos de membranas. A síntese de lipídeos no REL ocorre por ação de enzimas presentes na face citosólica da membrana do REL. Várias classes de lipídeos são sintetizadas no RE como os glicerofosfolipídeos, o colesterol e as cera- midas. Nas células endócrinas das gônadas e do córtex da adrenal, o colesterol é utilizado para a síntese de hormônios esteroides. Uma parte das reações envolvidas neste processo ocorre nas mitocôndrias. No fígado, o REL utiliza o colesterol na formação de ácidos biliares. Modificações dos lipídeos: os lipídios produzidos no REL podem sofrer processamentos, tais como elongação da cadeia de ácidos graxos e a formação de duplas ligações por meio de desidrogenações. Essas reações acontecem principalmente no REL de células adiposas e hepáticas. 69UNIDADE 2 Sulfatação de proteínas e lipídios: na luz da rede trans do CG, domínios extracelulares de proteínas e lipídios destinados à membrana plasmática sofrem sulfatação. A adição de sulfato pode ocorrer em cadeias gli- cídicas de proteínas e lipídios, como também em resíduos de aminoácidos tirosina. Dentre as proteínas de secreção sulfatadas estão os proteoglicanos compo- nentes da matriz extracelular animal. A sulfatação desses pro- teoglicanos confere em parte a aquisição de suas cargas negati- vas que garantem a capacidade de reter água, desempenhando importante papel na fisiologia da matriz extracelular. Fosforilação: as reações de fosforilações ocorrem nas cis- ternas cis do Golgi. Um impor- tante processo de fosforilação ocorrido no CG relaciona-se à formação de manose 6P de en- zimas lisossomais. Na primei- ra etapa da reação, um fosfato ligado à N-acetilglicosamina é transferido para um resíduo de manose, em seguida ocorre a remoção do grupo de N-acetil- glicosamina. Uma enzima que contém o resíduo manose 6P é reconhecida por receptores es- pecíficos e encaminhada para endossomos tardios por meio de vesículas de transporte para formar os lisossomos. Síntese de polissacarídeos: no CG, são sintetizados diferentes tipos de polissacarídeos. Nas células animais, os glicosaminoglica- nos são polissacarídeos lineares componentes da matriz extracelular. Nas células vegetais, a hemicelulose e as pectinas são polissacarí- deos ramificados que compõem a parede celular juntamente com a celulose. Entretanto, a celulose não é sintetizada no CG como ocorre para a hemicelulose e pectinas. A síntese da celulose ocorre na superfície celular por enzimas da membrana plasmática. Transporte Vesicular Partindo do CG As substâncias que chegam ao CG a partir do RE são movimentadas entre as cisternas do Golgi por meio de vesículas de transporte tam- bém revestidas por proteínas COP. Outro tipo de transporte que mo- vimenta substâncias por meio do Golgi é o de maturação das cisternas. Embora esse mecanismo tenha sido refutado na opinião de alguns pesquisadores, evidências recentes indicam que algumas proteínas não são atravessadas pelas cisternas do CG por meio de vesículas. Um exemplo é o caso do pró-colágeno I (PC), que forma grande agregados no interior do CG que não saem do interior das cisternas. As vesículas que partem da face trans do CG em direção à membra- na plasmática podem seguir dois caminhos distintos: a via de secreção constitutiva, onde as substâncias são secretadas de maneira contínua e não regulada. Um exemplo desse tipo de secreção é a da albumina, realizada por hepatócitos. O segundo caminho é o da via de secreção regulada, onde os produtos celulares deixam o CG e permanecem retidos em vesículas de secreção até que um sinal específico estimule sua liberação. Como exemplo de secreção regulada está a secreção de hormônios, neurotransmissores e enzimas digestivas. A secreção regulada representa um importante mecanismo uti- lizado pela célula para controlar rapidamente a expressão de várias proteínas, o que permite que não somente a célula, mas o organismo como um todo se adapte frente a diferentes condições fisiológicas. Um exemplo é dado pela secreção de insulina pelas células beta do pâncreas. As moléculas de insulina que deixam o CG o fazem na forma inativa (pró-insulina) e são acumuladas em vesículas imatu- ras que se tornam maduras após clivagens peptídicas que ocorrem na pró-insulina, convertendo-a em insulina ativa. 70 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte As vesículas que partem do CG em direção aos lisossomos são revestidas por outro grupo de pro- teínas denominadas de clatrina. Essas vesículas contêm as enzimas lisossomais que foram produzidas no RE e, posteriormente, transferidas para o CG. Como vimos anteriormente, as enzimas lisossomais são sinalizadas pela presença de manose 6P, reconhecidas por receptores na rede trans do Golgi e empacotadas em vesículas de transporte. Figura 18 - Esquema demostrando os destinos de vesículas que saem da face trans do dictiossomo do Complexo de Golgi Fonte: Alberts et al. (2011, p. 519). 71UNIDADE 2 Vias Intracelulares de Degradação – Endocitose e Lisossomos Como vimos no tópico anterior, a ação conjunta do retículo endoplasmático e Complexo de Golgi será responsável pela via de biossíntese de macro- moléculas. Algumas dessas macromoléculas serão secretadas, outras serão incorporadas à membra- na plasmática e s farão parte dos lisossomos. Dessa forma, vamos associar a ação de lisos- somos com a via de entrada de macromoléculas no interior da célula (endocitose), bem como seu processamento (via de digestão intracelular).Endocitose e Digestão Intracelular As células eucarióticas estão continuamente cap- tando substâncias pelo processo de endocitose. O material extracelular é internalizado em vesículas que se formam por um processo de invaginação de uma pequena área da membrana plasmática. A vesícula formada no processo passa a ser uma organela da célula e é denominada de endossomo imaturo. 72 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Endossomos: organelas membranosas que recebem moléculas introduzidas na célula pelo processo de endocitose e pela fusão de vesículas contendo enzimas pré-lisossomais que partem do CG. Possuem pH áci- do (~6) devido à ação de uma bomba de prótons em sua membrana. A partir dos endossomos é que se for- mam os lisossomos. Existem dois tipos de endocitose: • Pinocitose: entrada de líquidos junto com macromoléculas e os solutos dissolvidos. A pinocitose pode ser inespecífica ou regula- da. Na inespecífica, as moléculas em contato com a superfície da membrana plasmática ingressam automaticamente. Na pinocitose regulada, existem receptores específicos que desencadeiam a formação das vesículas de endocitose. • Fagocitose: ingestão de partículas grandes como micro-organismos. Ocorre em tipos celulares específicos, como os macrófagos e neutrófilos, que são células de defesa do nos- so organismo. Para ser fagocitado, a partícula necessita de reco- nhecimento por meio de receptores presentes na membrana plasmática. A vesícula formada é maior que a formada na pinocitose. Destino das Partícula Endocitadas Figura 19 - Esquema mostrando endocitose e seus tipos Fonte: adaptada de Alburquerque (2013, on-line)4. endocitose ou elementos da própria célula, como organelas ou macromoléculas. Dessa forma, os lisossomos são as organelas responsáveis pela digestão intracelular. Lisossomos: organelas membranosas com uma variedade de enzimas hidrolíticas capazes de hidrolisar todos os tipos de polímeros biológi- cos. São originados a partir da fusão de vesículas contendo hidrolases que brotam do CG, com os endossomos secundários e/ou com fagossomos (autofagossomos ou heterofagossomos). Possui pH ~5 – digestão intracelular . A endocitose (fagocitose ou pinocitose) levou à formação de endossomos imaturos (fagossomos ou pinossomos). A ação de bombas de prótons na membrana dessas organelas resulta em uma diminuição do pH no interior do compartimento que conduz à conversão do endossomo imaturo em endossomo tardio (pH~6). O endossomo tardio, por sua vez, recebe ve- sículas de transporte que partem da rede trans do Golgi contendo enzimas hidrolíticas (cerca de 40 tipos), transformando-se em lisossomos maduros que digerem as moléculas captadas por 73UNIDADE 2 As enzi- mas lisos- somais são sintetizadas no RE e direcionadas ao CG. Vesículas endo- cíticas se fundem aos endos- somos para formar os lisossomos. Os restos não digeridos nos lisossomos serão excretadas para o meio extracelular. O processo é idêntico à fusão das vesículas que contêm material a ser secretado, ou seja, por exocitose. Figura 20 - Esquema mostrando a fusão de vesículas de endocitose com lisossomos que farão a digestão Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 226). Aspectos Fisiológicos da Ação dos Lisossomos Autofagia Os lisossomos podem digerir elementos (organelas ou macromoléculas) da própria célula, esse proces- so é denominado de autofagia e, geralmente, ocorre para garantir a eliminação de organelas envelhe- cidas, danificadas ou em quantidades excessivas. Nesse processo, as organelas a serem eliminadas são envolvidas por membranas oriundas do RE, for- mando uma vesícula denominada autofagossomo. Segue-se, então, a fusão de vesículas pré-lisos- somais, formando, então, um lisossomo ativo na decomposição. A autofagia é extremamente im- portante nos fenômenos de regressão e involução de tecidos, como ocorre durante a embriogênese e a metamorfose (por exemplo: na eliminação da membrana interdigitais em embriões de mamífe- ros e na regressão da cauda do girino). Em alguns tipos celulares, as enzimas lisossomais são secretadas para realizar a digestão extracelular. Um exemplo desse fato são os osteoclastos, onde as enzimas são liberadas em um ambiente extracelular delimitado por essas células e a matriz óssea. O pH ácido é mantido por proteínas de membrana que bombeiam íons H+ para o meio extracelular. Esse processo é fundamental para a reabsorção óssea. Outro exemplo é o acrossomo, uma organela relacionada aos lisossomos nos espermatozoides. Quando o espermatozoide entra em contato com o ovócito, ocorre a liberação das enzimas acrossomais que digerem a camada de material extracelular que envolve o óvulo. Isso permite a fusão das mem- branas das duas células e a passagem do núcleo do espermatozoide para o citoplasma do óvulo. 74 Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Nos melanócitos, há a presença de lisossomos denominados de mela- nossomos. Essa organela armazena melanina que é produzida pela conver- são da tirosina por ação da enzima tirosinase presente no seu interior. Os melanos- somas contendo melanina so- frem exocitose e os pigmentos no meio extracelular são, então, captu- rados por queratinócitos que promovem a pigmentação normal da pele. Em algumas desordens genéticas, esse processo de transferência é bloqueado, levando a defeitos na exocitose melanossômica, deter- minando formas de hipopigmentação conhecido como albinismo. Como vimos, a secreção de enzimas lisossomais em alguns tipos celulares parece contar com mecanismos especializados e regulados de exocitose. Ainda, em alguns fungos, enzimas lisossomais também são secretadas, permitindo a digestão extracelular de materiais de interesse nutricional. A endocitose mediada por receptores aumenta a eficiência da internalização do ligante. Um exemplo é a captação do colesterol. Grande parte do colesterol é transportado no sangue na forma de lipo- proteína de baixa densidade (LDL). Quando a célula necessita de colesterol para a síntese de suas membranas, ela produz e envia para a membrana plasmática receptores para o LDL que se associam por meio de seu domínio extracelular com as partículas de LDL. Após, a associação de subunidades de clatrina favorece a formação da vesícula endocítica que se funde com endossomos primários. Nos lisossomos, os ésteres de colesterol são liberados das partículas LDL e hidrolisados em colesterol livre, o qual estará agora disponível para o uso da célula. Essa rota é interrompida em indivíduos que possuem mutações no gene que codifica para os receptores de LDL. Como consequência, o organismo pode acumular altos níveis de colesterol no sangue, o que predispõe a esses indivíduos a desenvolver arterosclerose. Figura 21 - Esquema mostrando a ação dos lisossomos para a endocitose e a autofagia Fonte: Alberts et al. (2011, p. 527). 75UNIDADE 2 Silicose Partículas de sílica inaladas são fagocitadas pe- los macrófagos. A sílica provoca a ruptura das membranas dos lisossomas e a lise dos ma- crógafos. Resulta um aumento na síntese de colágeno, o que origina uma fibrose que afeta a função respiratória. Nesta unidade, conhecemos um pouco da estrutu- ra de organelas da célula eucarionte. Começamos com as membranas celulares e analisamos que sem a membrana plasmática não existem células, pois é ela quem delimita o espaço intracelular e pro- move o intercâmbio de moléculas, responsáveis pelo metabolismo celular. Além dessas atividades básicas, ela também é responsável por promover o reconhecimento de partículas que promoverão a sinalização do metabolismo e a adesão celular, processos fundamentais para os organismos plu- ricelulares. Contudo, não é a única membrana da célula eucarionte, pois nela há grande extensão de mem- branas internas delimitando organelas. Algumas destas formam o sistema de endomembranas. Este está envolvido em vias metabólicas que levam à síntese e secreção de macromoléculaque saem das células por exocitose. O sistema de endomembranas é constituído pelo núcleo, retículo endoplasmático, Complexo de Golgi, vesículas de secreção, endossomos e li- sossomos, que, juntos, atuam na síntese e secreção de macromoléculas, como proteínas e lipídios, e promovem a digestão de partículas grandes que entram na célula. Além dos mecanismos de transporte para macromoléculas, citados no parágrafo acima, ao longo do processo evolutivo, vários mecanismos foram desenvolvidos para o transporte de molé- culas pequenas necessárias para a sobrevivência da célula. Alguns desses mecanismos ocorrem a favor do gradiente de concentração e não gastam energia, enquanto outros ocorrem contra o gra- diente de concentração e gastam energia. Esses mecanismos podem promover o transporte por meio de bicamada lipídica ou usando proteínas de membranas que atuam como carreadora ou canais. O conhecimento da estrutura das membra- nas celulares, das organelas presentes na célula eucarionte e dos mecanismos de transportes de substâncias grandes e pequenas contribuirão para nossa compreensão do funcionamento da célula. Até a próxima! 76 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. As células realizam transportes de várias substâncias necessárias para sua ativi- dade metabólica. Algumas moléculas são transportadas com gasto de energia do metabolismo celular, enquanto outras são transportadas sem gasto de energia do metabolismo celular, sendo estes mecanismos de transportes denominados de transportes ativos e passivos. Com relação a esses mecanismos de transpor- tes, analise as afirmações a seguir: I) Transportes ativos ocorrem para transportar solutos e solventes contra o gradiente de concentração. II) Osmose e difusão são mecanismos passivos que transportam, respectiva- mente, água e solutos a favor do gradiente de concentração. III) Na difusão, o soluto é transportado do meio hipertônico para o meio hipo- tônico, podendo usar a bicamada ou atravessar por proteínas presentes nas membranas. IV) Nos transportes ativos, os solutos atravessam do meio hipotônico para o hipertônico por meio de proteínas carreadoras ou proteína canais. V) A difusão é o transporte passivo de solutos e a osmose é transporte passivo de água, e em ambos as moléculas se movimentam do meio hipertônico em direção ao meio hipotônico. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas III e IV estão corretas. d) Apenas I e V estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 2. Uma célula secretora do pâncreas (célula A) contém, em seu ápice, diversos grânu- los de secreção, repletos de proteínas, que atuarão na digestão de alimentos. Essas proteínas serão secretadas. Outra célula (célula B) é uma célula muscular estriada esquelética e sintetiza proteínas que atuarão no citoplasma da célula. Analise as afirmações a seguir, sobre as diferenças de síntese de proteínas na célula A e B. 77 I) Na célula A e B, as proteínas são completamente sintetizadas por ribossomos aderidos ao retículo endoplasmático. II) Na célula A, a síntese de proteínas ocorre com os ribossomos aderidos ao retículo endoplasmático e na célula B com os ribossomos aderidos ao com- plexo de golgi. III) Na célula B, a síntese proteica começa com os ribossomos livres e, posterior- mente, a maquinaria síntese proteica é encaminhada à superfície citosólica da membrana do retículo endoplasmático. IV) Na célula A e B, a síntese proteica inicia-se no citoplasma. Somente na célula A, a maquinaria de síntese proteica é encaminhada à membrana do retículo en- doplasmático e a síntese da proteína prossegue associada a esta membrana. V) Proteínas destinadas ao citoplasma celular não têm sua síntese associada ao retículo endoplasmático. Exclusivamente proteínas que são destinadas à secreção e que possuem seu processamento associado à membrana do retículo endoplasmático. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas II está correta. b) Apenas I está correta. c) Apenas III e IV estão corretas. d) Apenas IV está correta. e) Apenas IV e V estão corretas. 3. Medindo-se a concentração dos íons cloro e magnésio no meio intra e extrace- lular da célula de uma planta aquática, foram observadas as seguintes concen- trações. Impedido a célula de sintetizar ATP, as concentrações desses íons são igualadas nos meios intra e extracelulares. Com essas informações, podemos concluir que a diferença observada nas concentrações destes íons é mantida por: Cloro Magnésio Intracelular Extracelular Intracelular Extracelular 100 20 150 50 a) Transporte ativo secundário. b) Difusão simples. c) Transporte ativo primário. d) Difusão facilitada. e) Osmose. 78 4. Em um experimento, uma célula vegetal foi submetida a soluções hipertônica (procedimento A) e hipotônica (procedimento B), quando comparadas com o citoplasma destas células. Analise as afirmativas a seguir: I) No procedimento A, o meio extracelular estava hipotônico em relação ao citoplasma e a água era mantida no citoplasma. II) No procedimento B, o meio extracelular estava hipotônico em relação ao meio intracelular, e devido a esta diferença de concentração, a água se movimentava para o meio extracelular, ocasionando a diminuição do citoplasma celular. III) No procedimento B, o meio intracelular estava hipertônico em relação ao meio extracelular e esta diferença de concentração ocasionou a entrada de água no citoplasma da célula, resultando na expansão do citoplasma. IV) Nos procedimentos A e B existem diferenças de concentrações entre os meios intra e extracelular. Essas diferenças ocasionou a movimentação da água por osmose. A água sempre atravessa as membranas celulares, do meio hipotônico em direção ao meio hipertônico. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas I está correta. b) Apenas III e IV estão corretas. c) Apenas III está correta. d) Apenas II e III estão corretas. e) Apenas IV está correta. 79 5. Todas as membranas biológicas apresentam permeabilidade seletiva e existem vários mecanismos promovendo este transporte. Várias moléculas orgânicas e inorgânicas são transportadas contra o gradiente de concentração, sendo caracterizadas como transporte ativo. Como exemplo, podemos citar: I) O transporte de glicose nas células epiteliais do intestino. As moléculas de glicose utilizam a energia da entrada de dois sódios (que vão para o citoplas- ma das células a favor do gradiente) e entram nas células epiteliais contra o gradiente de concentração. II) Sódio e potássio são transportados simultaneamente contra o gradiente. Três sódios são enviados ao meio extracelular e dois potássios são colocados no meio intracelular, usando o mesmo elemento transportador e a energia originada da quebra de uma molécula de ATP. III) O cálcio é transportado contra o gradiente de concentrações por elementos que os transportam sozinho e com quebra de molécula de ATP. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Em I e em III estão ocorrendo o transporte ativo primário. b) Em I e em II estão ocorrendo o transporte ativo secundário, acoplado deno- minado de simporte. c) Em II ocorre transporte ativo primário-acoplado-antiporte, e em III ocorre trans- porte ativo primário, uniporte. d) Em III ocorre transporte ativo secundário-uniporte, e em I transporte ativo primário-antiporte. e) Em I e III estão ocorrendo transporte ativo secundário acoplado-simporte. 80 Título: Biologia Celular e Molecular Autor: José Carneiro e Luiz C. Junqueira. Editora: Guanabara Koogan Ano: 2012 Sinopse: Essa obra oferece aos estudantes, de modo claro e didático, uma condensação dos conhecimentos mais recentes sobre a estrutura microscópica, molecular e as funções das células. Nessa edição, foi introduzido um capítulo sobre a célula cancerosa. Houveuma reformulação total dos capítulos sobre o núcleo da célula e as organelas envolvidas na síntese de macromoléculas, bem como sobre o ciclo celular e meiose, e célula vegetal. Foram introduzidos 50 desenhos novos em cores. O glossário foi ampliado. Destinado a estudantes de medicina e das áreas biomédica e biológica. Comentário: o livro "Biologia Celular e Molecular" complementa o conteúdo abordado nesta unidade e permite que você expanda seus conhecimentos e se aprimore ainda mais no assunto. LIVRO 81 ALBERTS, B.; BRAY, D.; HOPKIN, K.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WALTER, P. Fun- damentos da biologia celular. Porto Alegre: Artmed, 2011. ALBERTS, B.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WALTER, P.; VANZ, A. L. de S.; JOHNSON, A. Biologia molecular da célula. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J.; JORDÃO, B. Q.; ANDRADE, C. G. T. J.; YAN, C. Y. I. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica básica. São Paulo: Guanabara Koogan, 2015. REFERÊNCIAS ON-LINE 1 Em: http://miprimerblogdeceneima.blogspot.com.br/2016/06/biologia-el-estudio-de-la-vida-la.html. Acesso em: 8 jul. 2019. 2 Em: https://pt.scribd.com/doc/24050377/INTRODUCAO-AO-ESTUDO-DA-CELULA. Acesso em: 8 jul. 2019. 3 Em: https://descomplica.com.br/blog/biologia/resumo-citoplasma-organelas/. Acesso em: 8 jul. 2019. 4 Em: http://www.estudopratico.com.br/endocitose-e-exocitose-biologia/. Acesso em: 8 jul. 2019. 82 1. B. 2. D. 3. C. 4. B. 5. C. 83 84 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Descrever a estrutura do núcleo interfásico. • Compreender o mecanismo de divisão celular mitótica. • Compreender o mecanismo de divisão celular meiótica. • Reconhecer os elementos que formam o citoesqueleto. • Identificar o papel do citoesqueleto para o metabolismo celular. • Reconhecer a organização dos elementos do citoesque- leto na célula muscular estriada esquelética. Núcleo Interfásico Ciclo Celular - Interfase e Divisão Celular Mitótica Citoesqueleto Célula Estriada Esquelética - Contração MuscularDivisão Celular - Meiose Dra. Marcia Cristina de Souza Lara Kamei Movimento e Proliferação Celular Núcleo Interfásico Caro(a) aluno(a), nesta unidade, veremos uma das propriedades das células, responsáveis pela manu- tenção da vida: a capacidade de uma célula origi- nar células descendentes. Esses mecanismos são conhecidos como divisão celular e existem dois: mitose e meiose, atendendo propósitos diferentes. A divisão meiótica origina células idênticas gene- ticamente e com o mesmo número cromossômico, sendo responsável pelo crescimento, renovação e regeneração dos tecidos em nosso organismo. Esse processo é cíclico e inclui períodos em que a célula não está em divisão, chamado de interfase, e a divisão celular mitótica, conhecido como ciclo celular. A meiose é uma categoria específica de divi- são celular que origina células haploides e com combinações genéticas distintas daquelas que lhes deram origem. Esses tipos de divisão celular, na espécie humana, ocorre apenas para formação de gametas (células que serão usadas na reprodução). Ainda nesta unidade, estudaremos as estru- turas responsáveis pela manutenção da forma e movimentos celulares, entre eles os movimentos responsáveis pela mecânica da divisão celular e também pela contração das células musculares, chamado de citoesqueleto. 87UNIDADE 3 Este compreende um con- junto de filamentos proteicos que formam uma trama dis- tribuída por todo o citoplasma de células eucariontes. Os ele- mentos que formam o citoes- queleto são: microtúbulos, fila- mentos de actina e filamentos intermediários. Ao abordarmos o citoesqueleto, daremos um enfoque à organização desses elementos nas células muscu- lares estriadas esqueléticas, cuja formação origina o sarcômero - estrutura responsável pela con- tração dessas células. Começaremos nossa uni- dade conhecendo a estrutura da organela que armazena as informações genéticas conti- das no DNA - o Núcleo. Esse núcleo sofre variações morfo- lógicas quando a célula realiza a divisão mitótica ou meiótica, e quando a célula não está em processo de divisão, dizemos que o núcleo é interfásico. Células surgem de outras células vivas pelo processo de divisão celular. O crescimento de um organismo se dá por su- cessivas divisões mitóticas, as- sim, uma única célula, o zigoto (ovócito fecundado) origina uma pessoa adulta com seus 10 trilhões de células. A divisão mitótica é responsável não só pelo crescimento do indivíduo, mas também pela reprodução assexuada, reposição celular e reparo de tecidos danificados ou injuriados. Uma célula se reproduz por meio de uma sequência ordenada de eventos que duplicam seus componentes e depois a dividem em duas. Esse ciclo de duplicação e divisão é conhecido como ciclo celular. O ciclo celular eucariótico é tradicionalmente dividido em duas fases sequenciais: a interfase e a fase M (de mitose). A interfase é subdividida em G¹, S e G²; a fase M compreende cinco estágios (prófase, metáfase, anáfase, telófase e citocinese). No final do ciclo celular, as duas células originadas apresentarão o mesmo número de cromossomos e a mesma quantidade de DNA da célula parental. Entretanto para que o número de células nos tecidos do corpo al- cance um valor exato ou para que a formação de novos indivíduos que surgem por reprodução assexuada não exceda no ambiente, existe um sistema de controle do ciclo celular. O centro desse sistema é uma série coordenada de sinais bio- químicos que controlam os principais eventos do ciclo, incluindo a replicação de DNA e a segregação do cromossomo replicado. Quando o sistema apresenta um mau funcionamento, as divisões celulares excessivas podem, por exemplo, resultar em câncer. Para compreender a mecânica do processo de divisão celular e seu mecanismo de controle, é interessante, primeiramente, conhecer a estrutura do núcleo celular. Figura 1 - Esquema demonstrando o ciclo celular Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 177). 88 Movimento e Proliferação Celular Estrutura do Núcleo Interfásico O núcleo interfásico encontra-se no intervalo de tempo que separa duas divisões sucessivas de uma célula. Durante esta fase de interfase, tem-se uma alta atividade biossintética, onde a célula produz RNAs, proteínas e outras mo- léculas envolvidas na manutenção dos proces- sos celulares. Durante esse período, se a célula receber um estímulo para se dividir, o DNA será duplicado. A análise da ultraestrutura de um núcleo em interfase revela que esta organela é constituída por uma dupla membrana, a qual externamen- te é contínua com o retículo endoplasmático rugoso e internamente encontra-se sustentada por uma malha proteica de filamentos inter- mediários (lâmina nuclear), que confere resis- tência mecânica à membrana nuclear que, por sua vez, é interrompida por poros revestidos que estabelecem comunicações do citoplasma com o interior do núcleo. Os poros estão associados com um complexo proteico que promovem o transporte nuclear. Geralmente, os íons e as moléculas pequenas são transferidos de modo passivo pelo complexo do poro. No entanto, o transporte de moléculas grandes, como polipeptídeos, RNAs e ribonu- cleoproteínas envolve um gasto energético e re- quer a presença de sinais de localização nuclear (NLS) ou de exportação nuclear (NES). Esses sinais incluem sequências de aminoá- cidos (para polipeptídeos), onde nucleotídeos (para o RNA), que são reconhecidos por pro- teínas que atuam como receptores de transpor- te, movimentando macromoléculas por meio do poro nuclear. Nessa família, as importinas movimentam macromoléculas do citoplasma para o núcleo, e as exportinas movimentam macromoléculas em sentido oposto. Figura 3 - Esquema da estrutura dos poros nucleares Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 149). Figura 2 - Estrutura do núcleo interfásico Fonte: Junqueira et al.(2012, p. 145). Figura 4 - Poros nucleares - imagem de microscopia eletrônica Fonte: Histologia virtual (2009, on-line)1. 89UNIDADE 3 No interior do núcleo interfásico, o material genético está organi- zado na forma de cromatina, que corresponde a uma associação organizada do DNA com pro- teínas histonas (H2A, H2B, H3, H4 e H1) e não histonas (inclui pro- teínas estruturais, enzimáticas e reguladoras que se associam ao DNA). Entretanto, a organização da cromatina é dinâmica, pois se altera de acordo com a fase do ciclo celular e com seu grau de atividade gênica. No interior do núcleo em interfase, há uma região com grande concentração de subu- nidades ribossomais ao redor de um trecho de DNA com intensa síntese de ácido ribo- nucleico ribossômico (RNAr). Essa região é definida como nucléolo e representa o local de transcrição e processamen- to do RNAr e da maturação, organização e transporte das partículas pré-ribossomais. O número e o tamanho de nu- cléolos dependem de seu esta- do funcional, podendo variar entre as espécies e, também, em uma mesma espécie, entre células do mesmo indivíduo. Adicionalmente, modificações em número e na forma dos nucléolos são observadas em células tumorais. Figura 5 - Esquema dos níveis de compactação da molécula de DNA durante o ciclo celular Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 163). 90 Movimento e Proliferação Celular Todas essas estruturas que compõem o núcleo interfásico são ciclos celular dependentes, ou seja, elas se alteram durante a divisão de uma célula. Dessa forma, a cromatina torna-se progressivamente mais con- densada; o envoltório nuclear, o nucléolo e os corpos nuclea- res desaparecem no início da mitose e se reestruturam no final da fase M. Figura 6 - Organização de um nucleossomo Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 154). Figura 7 - Organização do DNA em cromatina Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 155). 91UNIDADE 3 O ciclo de divisão celular consiste, basicamente, em quatro eventos coordenados: crescimento celular, duplicação do DNA, distribuição dos cromosso- mos duplicados e divisão citoplasmática. Em uma típica célula humana proliferando em cultura, o ciclo de divisão celular tem duração aproximada de 24 horas. Entretanto, a duração do ciclo celular varia con- sideravelmente em diferentes tipos celulares. Célu- las embrionárias iniciais, por exemplo, dividem-se a cada 30 minutos, pois, nesses ciclos, o crescimento celular, que estende o tempo de divisão de uma célula, não acontece. A maioria das células tem alguma possibilidade de se dividir, porém, certos tipos celulares raramen- te se dividem, enquanto outras células apresentam uma baixa taxa de proliferação celular e só se divi- dem ocasionalmente. Essas células permanecem em um estágio inativo denominado Go, no qual perma- necem metabolicamente ativas, mas só proliferam quando recebem sinais extracelulares apropriados. As células altamente diferenciadas, como as he- mácias, células musculares e nervosas, abandonam o ciclo celular e não proliferam mais, permanecen- do permanentemente no estágio Go. Essas células, no entanto, podem ser repostas por células-tronco, Ciclo Celular - Interfase e Divisão Celular Mitótica 92 Movimento e Proliferação Celular que estão presentes nos respectivos tecidos e que são capazes de se multiplicar, diferenciando-se na- queles tipos celulares. A mitose exerce papel primordial em proces- sos fundamentais para a manutenção da vida. Um deles é a constante produção das hemácias origi- nadas a partir de células precursoras indiferen- ciadas existentes na medula óssea. Essas células são fundamentais para a manutenção dos níveis de oxigenação tecidual e transporte do gás carbô- nico, resultante do metabolismo, e têm vida rela- tivamente curta (em torno de 120 dias), devido, principalmente, à ausência de núcleo e organelas característica exclusiva dos mamíferos. As divisões mitóticas têm um papel fundamen- tal e também asseguram a homeostase do organis- mo na reposição das células da camada epidérmica da pele, que garante impermeabilidade e conse- quente proteção contra os agentes nocivos do meio externo. Devido à constante descamação da pele, células da camada mais interna (estrato basal) estão continuamente se dividindo para garantir a reno- vação da epiderme. Estima-se que, em média, a cada 25 dias, a epi- derme humana se renove por completo. O mesmo mecanismo opera para a renovação das células epi- teliais do trato gastrointestinal, no qual o constante trânsito de substâncias acaba por destruir porções do tecido, que precisam ser repostas. Dessa forma, a mitose é responsável por garantir a manutenção de uma ampla gama de atividades orgânicas básicas, promovendo uma condição homeostática para o organismo. Intérfase A fase M do ciclo celular é a mais dramática, e os vários estágios que a compõem podem ser distin- guidos ao nível do microscópio óptico. Entretanto, quando a célula se encontra em interfase, os es- tágios G1, S e G2 só podem ser identificados por critérios bioquímicos, como autoradiografia. Os principais eventos que ocorrem nos estágios do ciclo celular serão abordados a seguir. Fase G1: uma célula em G1, que, em algum momento recebe um estímulo para se dividir, terá um aumento súbito em sua atividade biossintética. Assim, durante esta fase ocorre a síntese de todos os componentes necessários aos eventos da divisão celular, ocorrendo intensa transcrição e tradução, multiplicação de organelas e aumento da mem- brana plasmática. A fase G1 geralmente é a mais longa do ciclo celular. Em uma célula com ciclo de duração de 24 horas, a fase G1 levaria ~11 horas para ser completada. Fase S: a fase S tem duração aproximada de 8 horas e é caracterizada pela duplicação do DNA. Esse evento requer a participação de diversas en- zimas (DNApol, DNA primase, DNA ligase, DNA helicase, proteínas SSB, topoisomerases, entre ou- tras) e ocorre de forma semiconservativa, onde cada cadeia de DNA usada como molde permanece uni- da com a nova cadeia recém-sintetizada. Paralelamente à duplicação, mecanismos de reparo do DNA evitam que alterações no material genético sejam repassadas para as novas cadeias de DNA. O resultado final é que, na fase G2, a célula conterá o dobro de moléculas de DNA comparada a fase G1. Na fase S, já se observa os centríolos du- plicados fazendo parte de seus próprios centrosso- mos, que são responsáveis pela formação das fibras do fuso e desempenham uma função importante durante a mitose. Uma vez que contribuem para a organização dos cromossomos na metáfase e sua segregação na anáfase e para determinação do pla- no de clivagem da célula. Fase G2: nessa fase, terminada a síntese de DNA, reinicia a produção de RNA, formando mais proteí- nas com um novo período de crescimento celular. Entre as proteínas sintetizadas estão aquelas que serão úteis para a célula prosseguir no ciclo celular. 93UNIDADE 3 Outro fato importante na fase G2 são os me- canismos de checagem que verifica, por exemplo, se todo DNA duplicou corretamente e se houve aumento adequado do volume celular. No período G2 também ocorre a maturação dos centrossomos pelo recrutamento de proteínas adicionadas da matriz pericentriolar, principalmente as y-tubuli- nas, essenciais para a nucleação dos microtúbulos. A fase G2 tem duração de ~ 4 horas. Figura 8 - Esquema da duplicação semiconservativa do DNA Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 182). Divisão Celular - Mitose A divisão mitótica é um evento programado e ocorre dentro do ciclo celular. Os eventos que ocorrem durante esse processo são sequenciais, contínuos e foram didaticamente divididos em fa- ses, denominadas prófase, pró-metáfase, metáfase, anáfase, telófase e citocinese. A fase M é a mais curta do ciclo celular e tem duração de ~ 1 hora. Prófase A prófase se caracteriza pelo início da condensa- ção da cromatina. Isso se deve, em grande parte, à atuação de um complexo proteico denominadocon- densina. Cada um dos filamentos está constituído por duas cromátides (ditas “irmãs”), cada uma com seu próprio centrômero e telômero. Os complexos multiproteicos denominados coesina garantem a coesão entre as cromátides-irmãs até o fim da me- táfase. Ainda na prófase, ocorre gradativamente o desaparecimento do nucléolo, cujos componentes em parte se dispersam pelo citoplasma na forma de corpúsculos de ribonucleoproteínas e, em parte, per- manecem associados à periferia dos cromossomos. Os dois centrossomos, cada um com seu par de centríolos, começam a se mover para polos opostos da célula e entre eles pode-se observar a formação de fibras (= microtúbulos) polares. A dissociação das proteínas lâminas A e B acarreta a desmontagem do envoltório nuclear durante a prófase. No início da prófase, os microtúbulos tornam-se mais dinâmicos. Ela avança e, no final, é chamada de pró-metáfase. Na pró-metáfase, a cromatina encontra-se mais condensada, mostrando filamentos mais grossos e mais curtos e o nucléolo não é mais visualizado. O envoltório nuclear e as organelas membranosas, como Complexo de Golgi e retículo endoplas- mático, fragmentam-se em pequenas vesículas. 94 Movimento e Proliferação Celular As vesículas do envoltório nuclear contêm as lâminas B, que permanecem associadas à sua membrana in- terna, enquanto as lâminas A ficam livres no citosol. Os centrossomos continuam migrando para os polos Figura 9 - Esquema da prófase e prometáfase Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 187). opostos. Forma-se o cinetócoro, estrutura proteica ligada à região do centrômero de cada cromáti- de-irmã, na qual os microtúbulos do fuso, denominados cinetocóri- cos se associam e exercem tensão sobre essas cromátides. Ainda na pró-metáfase, na maioria dos organismos, por ação de uma enzima denomina- da separase ocorre a remoção das coesinas presentes entre os braços das cromátides-irmãs, mas não das coesinas da região centro- mérica. Já nos fungos, as coesinas permanecem associadas ao longo de todo o comprimento do cro- mossomo até o final da metáfase. Metáfase A metáfase é a fase em que a cromatina atinge o máximo de condensação. A ação dos micro- túbulos sobre os cromossomos colocam estes a assumir uma posição de equilíbrio em um plano na região equatorial da célula entre os dois polos. Três tipos de fibras são observados a partir desta fase: as cinetocóri- cas, que se ligam aos cinetócoros (estrutura proteica que se asso- cia na região centromérica dos cromossomos); as astrais, que se estendem em direção à periferia celular; e as polares, que se sobre- põem na placa equatorial. Figura 10 - Esquema da metáfase Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 187). 95UNIDADE 3 Anáfase A anáfase é marcada pela separação das cromáti- des-irmãs que se movem para os polos. Para dar início a esse processo, uma enzima conhecida como separase, inicia a proteólise do complexo da coesina na região do centrômero. O movimento das cromátides-irmãs (cada uma agora denominada cromossomo-filho) para polos opostos é resultante da combinação de dois processos, denominados anáfase A e B, que estão relacionados com a mecânica do fuso mitótico. Para que ocorra a movimentação cromossômica correta durante a divisão celular, é necessário que haja uma ligação física entre os microtúbulos do fuso e os cromossomos, por meio do cinetocoro. Dessa forma, mutações que interferem nesta asso- ciação podem promover alterações cromossômicas numéricas. A Síndrome de Down por mosaicismo representa uma alteração genética que causa uma não disjunção do cromossomo 21 na anáfase durante as primeiras divisões do embrião. Muitos tipos de câncer também apresentam cromossomos extras devido a uma segregação anormal dos cromossomos. Telófase A telófase se caracteriza pela reestruturação do envoltório nuclear a partir da reassociação dos com- ponentes dispersos pelo citosol na pró-metáfase. As vesículas das membranas do envoltório nuclear se fundem em torno dos cromossomos e, ao mesmo tempo, a lâmina nuclear se reorganiza, os complexos de poros se inserem nas membranas, fazendo com que, ao final da telófase, o envoltório nuclear esteja totalmente reconstituído. Os cromossomos irão se descompactar gradativamente até o final desta fase, assumindo o estado mais distendido da cromatina e característico da interfase, e o nucléolo é reconstituído. Os microtú- bulos cinetocóricos já são ausentes e os polares permanecem apenas na região equatorial, na qual se dará a citocinese. As organelas membranosas são reconstituídas e distribuídas aleatoriamente entre as suas células-filhas. Figura 11 - Esquema da anáfase Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 187). 96 Movimento e Proliferação Celular Citocinese A citocinese é a divisão citoplasmática da célula em duas. Em células de animais e de fungos, ela é marcada na anáfase por um anel contrátil de actina e miosina II, associado à membrana plasmática na região equatorial. Embora o mecanismo da citocinese não esteja esclarecido, acredita-se que o des- lizamento dos filamentos de actina por ação da miosina puxa o córtex e a membrana plasmática em direção ao centro da célula, promovendo uma constrição dessa região e dividindo a célula em duas no final da telófase. O plano de divisão da célula é determinado pelo fuso residual de microtúbulos polares e ocorre sempre perpendicular a esse fuso. Por outro lado, o posicionamento do fuso mitótico se deve, em grande parte, aos microtúbulos astrais, e a centralização dos microtúbulos astrais no fuso mitótico direciona uma divisão simétrica nas células. Em alguns tecidos animais, a divisão nuclear pode ocorrer sem que haja citocinese, o que origina células multinucleadas, como pode ser encontrado em alguns hepatócitos. Figura 12 - Esquema da telófase e citocinese Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 192). 97UNIDADE 3 Divisão Celular – Meiose A meiose é um tipo especial de divisão celular que produz exclusivamente células haploides (n). O processo meiótico envolve duas divisões nucleares e citoplasmáticas sucessivas: meiose I, e meiose II, não havendo síntese de DNA entre estes dois estágios. Portanto, uma célula 2n replica seu DNA na interfase, e após as duas divisões, dá origem a quatro células n, ou seja, quatro novas células haploides (n), contendo um único conjunto de cromossomos. Adicionalmente, a meiose gera grande va- riabilidade genética devido a dois importantes fenômenos: a permuta (crossing-over) e a segre- gação independente dos cromossomos na meiose I, fazendo com que cada célula haploide produ- zida seja geneticamente diferente das demais e da célula parental original. Assim, por meio da meiose, um novo conjunto de genes é criado em cada indivíduo, gerando enorme diversidade. Embora em grande parte dos organismos a meiose ocorre única e, exclusivamente, para a for- mação de gametas; em vários outros, ela não está associada à gametogênese. 98 Movimento e Proliferação Celular Na espécie humana, a meiose ocorre em es- truturas reprodutivas especializadas, as gônadas. Nesses órgãos, as células diploides da linhagem germinativa dividem-se e se diferenciam, forman- do espermatozoides e óvulos, que são haploides. A Mecânica da Divisão Meiótica A meiose é um processo contínuo, dividido em uma série de etapas apenas com propósito didá- tico: prófase I (leptóteno, zigóteno, paquíteno, di- plóteno e diacinese), metáfase I, anáfase I, telófase I, prófase II, metáfase II, anáfase II e telófase II. Antes de entrar em meiose, as células diploides destinadas a este tipo de divisão celular, encon- tram-se em interfase a qual é semelhante daquela que antecede a mitose. Quando uma célula germi- nativa, durante a fase G1, recebe um estímulo para entrar em meiose, ela responde por meio de sua atividade biossintética, produzindo as moléculas necessárias para prosseguir na divisão. Dessa forma, fatores essenciais para a duplica- ção do DNA irão operar durante a fase S. Geral-mente, essa fase é mais longa quando comparada a uma interfase que prepara a célula a entrar em mitose. Na fase G2, atividades específicas de con- trole determinam a entrada da célula na meiose. Fases da Meiose Assim como a mitose, a meiose também é, para fins didático, dividida em fases. Alguns eventos são semelhantes aos que ocorrem na mitose. A meiose está dividida em meiose I e meiose II. Meiose I A primeira divisão da meiose será um processo reducional, pois, nessa divisão, ocorrerá a separa- ção dos cromossomos homólogos e as duas células formadas serão haploide. O eventos serão orga- nizados em fases: prófase I, metáfase I, anáfase I, telófase I e citocinese I. Prófase I Alguns eventos da prófase I são semelhantes aos da prófase da mitose; porém ocorrem processos exclusivos, que serão os responsáveis por promo- verem a variabilidade genética. A prófase I é sub- dividida em subfases que serão descritas a seguir. • Leptóteno (= filamento fino): apesar de marcar o início do processo de conden- sação cromossômica, a fase de leptóteno apresenta os cromossomos como filamen- tos muito longos e finos. Os filamentos cromossômicos apresentam, nessa fase, regiões mais condensadas que coram mais fortemente que o restante do cromossomo, denominadas de cromômeros. O nucléolo se faz presente. • Zigóteno (= filamento emparelhado): nessa fase, os cromossomos homólogos alinham-se longitudinalmente e se tor- nam associados (sinapse). Embora o pa- reamento físico dos cromossomos começa a ser visto nessa fase, novos estudos têm demonstrado que regiões corresponden- tes do DNA entre os homólogos já estão em contato durante o leptóteno. Adicio- nalmente, análises de células de leveduras próximas a entrar em prófase meiótica 99UNIDADE 3 demonstraram que cada par de homólo- gos compartilham territórios específicos, sugerindo que eles já se encontram em um processo de pareamento. Sob Microscopia Eletrônica (M.E.), a si- napse cromossômica é acompanhada pela formação de uma estrutura proteica entre os homólogos, denominada Complexo Sinaptonêmico (CS). O CS é visto como uma estrutura trilaminar formada de 2 ele- mentos laterais associados com a croma- tina e um elemento central conectado aos elementos laterais por muitos filamentos transversais. • Paquíteno (= filamento grosso): essa fase inicia logo após o término do processo de sinapse ter sido completado. Os cromosso- mos tornam-se mais condensados e os ho- mólogos mantêm-se unidos pelo CS. Sob ME, são observados, ao longo do elemento central, vários corpos elétron-densos de- nominados nódulos de recombinação, os quais estão associados com os eventos de crossing – over, ou seja, o processo de troca de partes cromossômicas entre cromáti- des homólogas, que consiste de quebra, em pontos específicos, das duplas cadeias de DNA de duas cromátides homólogas por ação de uma endonuclease meiótica e reunião (fusão) cruzada entre estas duas cromátides. Embora evidências demonstrem que o CS esteja relacionado com o pareamento e a permuta, essa conclusão não pode ser generalizada, pois estudos em leveduras têm evidenciado que a recombinação pode ter início antes do CS ter sido formado, no qual as quebras na dupla fita do DNA ocorrem ainda durante o leptóteno. Adicionalmente, mutantes de leveduras in- capazes de formar um CS, podem, ainda, desenvolver eventos de CO. Assim, o CS nesses organismos funcionam primaria- mente como um esqueleto de sustentação, que permite a interação entre as cromá- tides para completar as atividades de re- combinação. • Diplóteno (= filamento duplo): carac- teriza-se pelo desaparecimento comple- xo sinaptonêmico e da atração sináptica entre os homólogos, iniciando-se a sepa- ração deles. Essa separação entre os ho- mólogos, que formavam o bivalente, não é total, pois, em alguns locais, duas das quatro cromátides permanecem unidas formando um X. Essa configuração re- cebe o nome de quiasma e é a evidência citológica de que ocorreu a permuta. O quiasma “amarra” os cromossomos homó- logos juntos em um bivalente e garantem a orientação dos homólogos na prome- táfase e a segregação regular na anáfase I. • Diacinese (= movimento ao redor): ca- racteriza-se por marcante acentuação do processo de condensação cromossômica e pelo prosseguimento da terminalização dos quiasmas. No final dessa fase, desapa- rece o nucléolo, rompe-se o envelope nu- clear, o fuso meiótico se organiza e as fibras se ligam aos cinetócoros dos cromossomos homólogos, iniciando a movimentação dos bivalentes para a placa metafásica. 100 Movimento e Proliferação Celular Figura 13 - Resumo dos eventos que ocorrem na prófase I da divisão meiótica Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 197). 101UNIDADE 3 Metáfase I Durante a meiose, os cromossomos homólogos atingem seu grau má- ximo de condensação. A ação dos microtúbulos associado à presença de proteínas motoras (cinesinas e dineínas) sobre os cromossomos colocam estes a assumir uma posição de equilíbrio em um plano na região equatorial da célula entre os dois polos. Três tipos de fibras são observados a partir dessa fase: as cinetocóricas, que se ligam aos cinetócoros (estrutura proteica que se associa na região centromérica dos cromossomos); as astrais que se estendem em direção à periferia celular e as polares que se sobrepõem na placa equatorial. Em muitas espécies, os quiasmas podem permanecer visíveis nesta fase. Anáfase I Durante a anáfase, ocorre a separação dos cromos- somos homólogos, que se movem para os polos. O movimento dos cromossomos homólogos para polos opostos é resultante da combinação da ação das pro- teínas motoras com o encurtamento dos microtúbu- los devido à despolimerização das tubulinas. Além da importância dos quiasmas para uma segregação correta dos cromossomos, uma proteína denomina- da coesina também contribui neste processo. As coesinas são degradadas por uma enzima denominada separase; entretanto, por ação de um complexo proteico presente na região do centrô- mero, as coesinas são protegidas da ação da sepa- rase e se mantêm na região do centrômero, per- mitindo que os homólogos, e não as cromátides, separem-se na anáfase I. Figura 14 - Esquema mostrando o alinhamento dos homólogos na região equatorial da célula Fonte: adaptada de Blog Bio DNA (2015, on-line)2. Figura 15 - Esquema demonstrando a anáfase I Fonte: adaptada de Blog Bio DNA (2015, on-line)2. 102 Movimento e Proliferação Celular Telófase I Essa fase se caracteriza pela che- gada dos cromossomos aos polos da célula. A descondensação cro- mossômica ocorre, dependendo da espécie, em graus variados. Também, dependente da espécie, a citocinese pode ou não ocorrer (dicotiledôneas geralmente ocor- re no final da meiose) e o envelo- pe nuclear pode ou não ser refeito. Nessa fase, o número de cromos- somos em cada polo celular está reduzido à metade e, portanto, apresenta um conjunto cromos- sômico (n), mas cada cromos- somo ainda está constituído por duas cromátides irmãs, ou seja, o conteúdo de DNA está duplicado (2C). As cromátides permanecem unidas por ação de proteínas de- nominadas coesinas presentes na região do centrômero. Citocinese I Terminada a organização dos núcleos, ocorre a citosinese que é a separação do citoplasma. Figura 16 - Resumos dos eventos da meiose I Fonte: InfoEscola (2019, on-line)3. 103UNIDADE 3 Intercinese Em alguns organismos, entre a Meiose I e a Meiose II, ocorre uma fase em que os cromosso- mos descondensam totalmen- te, alongam-se e se tornam di- fusos. Tomam uma aparência semelhante à interfase; mas, diferentemente dessa fase, na intercinese não ocorre fase S, ou seja, não ocorre duplicação cromossômica. Em outros or- ganismos, esse período entre a primeira e a segunda divisão meiótica é suprimido e os dois núcleos na telófase I passam diretamente para a prófase II da segunda divisão meióti- ca. Em animais, células nesse estágio são referidas como espermatócitosou ovócitos secundários, como veremos posteriormente. Meiose II Após a primeira divisão deno- minada de meiose I, as novas células formadas, que são ha- ploide, executarão outra divisão, denominada de meiose II. As- sim como a meiose I e a mitose, esta também é dividida em fase, que, didaticamente, facilitam a compreensão. Prófase II É uma fase curta, sem as complicações da Prófase I. Os cromossomos, ainda duplicados em cromátides-irmãs, mas em número reduzido pela metade, começam a condensar novamente e, no final dessa fase, inicia a organização de dois novos fusos. Se o envoltório nuclear foi formado na telófase I, ele é desorganizado novamente. A prófase II é uma fase que, semelhante à intercinese, pode ser suprimida em alguns organismos e a célula passa diretamente de Telófase I para Metáfase II. Metáfase II É semelhante à metáfase mitótica com a diferença de que o número de cromossomos é a metade do número somático. As fibras do fuso ligadas aos cinetocoros centroméricos dispõem os cromossomos na placa equatorial. Nos ovócitos de vertebrados, esta fase é inter- rompida até o momento da fertilização. Um aspecto da meiose que é crucial para o sucesso da divisão é a coordenação da coesão, e de sua perda, entre as cromátides-ir- mãs. Como já mencionado, as cromátides irmãs dos cromossomos permanecem unidas por um complexo com a coesina. Essa coesão deve ser mantida nas regiões centromérica e pericentromérica até a transição metáfase II/ anáfase II. Anáfase II Semelhante à anáfase mitótica, ocorre o processo de separação das cromátides-irmãs. Estas, agora cromossomos filhos, iniciam a migração para os polos, puxadas pelas fibras do fuso. Telófase II Nessa fase, os cromossomos são envolvidos pelo envoltório nuclear, descondensam-se e ocorre a citocinese, formando quatro células haploides com conteúdo 1C de DNA nuclear. Essas quatro células filhas podem ficar juntas (tétrades dos vegetais superiores) ou se- paradas (espermátides de mamíferos). 104 Movimento e Proliferação Celular Importância Genética da Meiose A segregação dos cromossomos homólogos na anáfase I acontece ao acaso, isto é, os cromossomos maternos e paternos de cada par se- gregam-se de forma independente para cada polo. Um exemplo de segregação é que um organismo poderá produzir quatro tipos dife- Figura 17 - Esquema resumindo os eventos da meiose II Fonte: InfoEscola (2019, on-line)3. rentes de gametas; portanto, o número de combinações pos- síveis pode ser expresso por 2n, no qual n é o número de pares de cromossomos da es- pécie. Para a espécie humana, por exemplo, que possuem 23 pares de cromossomos, a possibilidade é de mais de 8 milhões de tipos de gameta diferentes. Além disso, como vimos, na prófase I, ocorre a recombinação gênica entre as cromátides homólogas na maioria das células, gerando gametas geneticamente dife- rentes entre si e em relação as células parentais. Esses dois fenômenos com- binados, segregação ao acaso e crossing-over, geram novas combinações de genes, e o consequente aumento na va- riabilidade genética traz mui- tas vantagens ao organismo de reprodução sexuada, uma vez que aumentam suas chan- ces de adaptação às mudanças ambientais. Outra importância da meiose é que ela gera células haploides, logo, a união dessas células como ocorre entre os gametas restabelece o número cromossômico da espécie. 105UNIDADE 3 somo 21 a mais (trissomia), ou seja, três cópias desse cromosso- mo em vez de duas. Esses indiví- duos, em geral, apresentam retar- do mental, aparência fenotípica característica, problemas cardía- cos, suscetibilidade aumentada a doenças infecciosas, risco maior de desenvolver leucemia e início precoce de Alzheimer. A trissomia do cromossomo 21 geralmente resulta de não disjunção na anáfase I, como já verificado por análises genéti- cas (mapeamento genético do cromossomo 21), que demons- tram uma diminuição acentuada desses cromossomos maternos terem realizado recombinação genética. Na maioria das vezes (~94% dos casos), o cromosso- mos extra vem da mãe. O risco de gerar filhos com síndrome de Down aumenta gradualmente com a idade das mulheres. Acredita-se que a chance de não disjunção aumente com a idade materna, porque as células que formam os óvulos humanos começam a meiose ainda na vida intrauterina e param na prófase I – diplóteno – antes do nascimen- to, podendo permanecer nessa fase muito tempo, de 12 a 50 anos. Assim, os ovócitos que são fertilizados em uma mulher em período reprodutivo tardio per- manecem parados em prófase I por décadas, apresentando chan- ces maiores de acumulares efeitos genéticos, como as mutações. A B AA B A B A B A b a B a b A b a B a b B a b a a b b Consequência da não Disjunção dos Cromossomos na Anáfase Ocasionalmente, no processo de meiose, pode ocorrer uma falha na separação dos cromossomos homólogos na anáfase I ou das cro- mátides-irmã na anáfase II. Esse fenômeno é conhecido como não disjunção. Quando isso acontece, uma das células fica com um cro- mossomo a menos, enquanto a outra célula fica com um a mais. Por exemplo, na espécie humana, um gameta ficaria com 22 cromossomos e outro com 24. Se, na fecundação, um desses gametas se fundir com um gameta normal (23 cromossomos), poderá originar um zigoto que terá 45 ou 47 cromossomos, que, na maioria das vezes, é inviável e não se desenvolve. Os que sobrevivem, em geral, apresentam problemas físicos e/ou mentais. Um dos exemplos mais comuns de não disjunção na espécie huma- na é a síndrome de Down, em que o indivíduo apresenta um cromos- Figura 18 - Esquema da meiose explicando o crossing-over Fonte: adaptada de Só Biologia (2019, on-line)4. 106 Movimento e Proliferação Celular Figura 19 - Esquema da não disjunção cromossômica Fonte: Tanya Biologia (2012, on-line)5. A legislação brasileira que rege o sistema de educação busca a inclusão de todos os estudantes, independentemente de sín- dromes e deficiências. Contudo ainda existem escolas que aten- dem exclusivamente alunos com limitações físicas/cognitivas. A Síndrome de Down foi descrita pelo médico inglês John Langdon Down, em 1866. Em 1959, descobriu-se que a causa da síndrome era genética. É um distúrbio genético que ocorre ao acaso durante a divisão celular do embrião. Esse distúrbio ocorre, em média, em 1 a cada 800 nascimentos e tem maiores chances de ocorrer em mães que engravidam quando mais velhas. É uma síndrome que atinge todas as etnias. Para saber mais sobre o assunto acesse: http://brasilescola.uol.com.br/doencas/sindrome-de-down.htm. Fonte: Santos ([2019], on-line)6. 107UNIDADE 3 O termo citoesqueleto designa um conjunto de fibras proteicas que se estendem no citoplasma das células eucarióticas. Em sintonia, essas fibras pro- teicas são responsáveis pela forma e integridade es- trutural das células e por uma ampla variedade de processos dinâmicos, como modificações na for- ma da célula, transporte de organelas e motilidade de estruturas celulares, por exemplo, cílios, flagelos e os cromossomos durante a divisão celular. Analisando as funções desempenhadas pelo citoesqueleto, poderíamos projetar a visão que dele depende o próprio sustento da vida: nas es- pécies sexuadas, o encontro do espermatozoide com o ovócito depende de movimentos flagelares gerados por proteínas do citoesqueleto. Sem o ci- toesqueleto não escaparíamos das infecções com- batidas pelos macrófagos por meio do processo da fagocitose. Também seria impossível bombear o sangue em nosso corpo sem a atividade contrátil das células musculares cardíacas. O citoesqueleto é representado por três tipos de filamentos principais: os microtúbulos, os fila- mentos de actina e os filamentos intermediários, que embora sejam comuns à maioria das células eucarióticas, podem variar na quantidade e dis- tribuição conforme o tipo celular. Citoesqueleto 108 Movimento e Proliferação Celular Nas células vivas,todos os três tipos de filamentos do citoes- queleto sofrem remodelação pela associação e dissociação de suas subunidades. Isso ocorre facilmente, pois, as su- bunidades que formam estes polímeros são mantidas por ligações químicas fracas, o que significa que sua associação e dissociação podem ocorrer rapidamente, sem a necessi- dade de quebras de ligações covalentes. Entretanto, a re- gulação do comportamento dinâmico dos filamentos do citoesqueleto gera uma varie- dade enorme de estruturas, como cílios e flagelos a partir dos microtúbulos; microvilo- sidades a partir dos filamentos de actina; e a trama de fila- mentos intermediários abaixo da membrana nuclear interna (lâmina nuclear). A Figura 21 mostra a distribuição dos três filamentos do citoesquele- to nas células epiteliais que revestem o intestino. Os filamentos de actina sustentam as microvilosidades e se concentram preferencialmente no córtex celular. Os microtúbulos se irradiam por todo citoplasma a partir de uma região denominada centrossomo, localizada próximo ao núcleo. Os filamentos intermediários de queratina se estendem pelo citoplasma de uma junção célula-célula a outra, e os filamentos intermediários de laminina sustentam a membrana nuclear interna. Por questões didáticas, os três principais componentes do ci- toesqueleto serão abordados em tópicos separadamente, onde serão considerados os princípios básicos subjacentes aos seus aspectos es- truturais e a importância de associações com proteínas acessórias no desempenho das funções específicas de cada um. Figura 20 - Imagem de uma célula evidenciando o citoesqueleto Fonte: Cunha (2013, on-line)7. Figura 21 - Esquema demonstrando a distribuição dos elementos do citoesqueleto e a estruturas dos filamentos Fonte: Alberts et al. (2010, p. 970). 109UNIDADE 3 Microtúbulos Os microtúbulos são estruturas cilíndricas ocas, com 24 nm (nanôme- tro) de diâmetro, que se estendem pelo citoplasma das células. Como os filamentos de actina, os microtúbulos apresentam comportamento dinâmico, polimerizando-se e se despolimerizando continuamente. Os microtúbulos são formados por uma proteína globular denomi- nada tubulina, a qual é um dímero com duas cadeias polipeptídicas: α e β tubulinas. Cada um dos monômeros α e β possui um sítio de ligação para o GTP. O GTP que se liga à subunidade α que é parte integrante do monômero e nunca será hidrolisado. Contrariamente, o GTP ligado à subunidade β pode ser intercambiável para GDP. A hidrólise do GTP tem um papel importante na dinâmica do microtúbulo. Os dímeros de tubulinas se polimerizam em uma mesma orienta- ção, conferindo, dessa forma, polaridades distintas ao microtúbulos. A α tubulina está orientada para a extremidade (-), enquanto que a β tubulina está voltada para a extremidade (+). Isto é importante, pois permite que o transporte de diferentes estruturas ao longo dos microtúbulos possa ser direcionado. Figura 22 - Esquema da estrutura de microtúbulos Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 121). As proteínas motoras que se associam aos microtúbulos usam energia derivada de ciclos repetidos de hidrólise do ATP para se deslocarem ao longo dos filamentos. As cinesinas e dineínas são pro- teínas que possuem duas ca- beças globulares de ligação ao ATP e que interagem com os microtúbulos. A cauda se liga estavelmente a algum compo- nente celular com auxílio de proteínas de ancoragem, como a dinactina. Os microtúbulos estão en- volvidos, principalmente, na determinação da forma celu- lar, na organização do citoplas- ma, no transporte intracelular de vesículas e organelas, em uma variedade de movimen- tos celulares e na separação dos cromossomos durante a divisão celular. A participação de proteínas acessórias, entre- tanto, é essencial para que os microtúbulos desempenhem suas propriedades funcionais e estruturais. Algumas dessas propriedades serão, a seguir, destacadas em tópicos: 110 Movimento e Proliferação Celular a) Suporte e forma celular Os microtúbulos está- veis contribuem para manter a forma da célu- la. Um exemplo dos mi- crotúbulos na manuten- ção da forma da célula é obtida nos axônios dos neurônios, que contêm microtúbulos orienta- dos paralelamente. b) Motilidade e organi- zação intracelular No interior das células, moléculas, organelas e vesículas membranosas devem ser transporta- das de um local a outro. Nas células nervosas, por exemplo, proteínas que são sintetizadas no corpo celular devem ser transportados ao longo do axônio até a região terminal. Nos axônios, os microtúbulos estão orientados com suas ex- tremidades (-) voltados para o corpo celular e as extremidades (+) para a porção final do neurônio. Assim, organelas, como mito- côndrias, vesículas sinápticas e grânulos de secreção, podem ser transportadas do corpo celular para os terminais axônicos por meio da cinesina que se move em direção à extremidade (+); enquanto que o fluxo do termi- nal axônico para o corpo celular ocorre pela ação de outra proteína motora, a dineína, que se move em direção à extremidade. Dessa forma, fragmentos de membrana e outras moléculas que serão degradadas nos lisossomos chegam ao corpo celular. c) Formação da fibra do fuso Quando uma célula recebe um estímulo para se dividir, toda a rede de microtúbulos é desmontada e as tubulinas são reutili- zadas para formar as fibras do fuso, responsáveis pela separa- ção de cromossomos homólogos (meiose) e/ou de cromátides – irmãs (meiose e mitose). As fibras do fuso iniciam sua mon- tagem a partir do centrossomo duplicado durante a interfase. Figura 23 - Esquema mostrando a participação dos microtúbulos na divisão celular Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 187). d) Estruturação de cílios e flagelos Cílios e flagelos são projeções da membrana plasmática contendo, no seu interior, um feixe de microtúbulos (axo- nema) arranjados em um padrão característico (9+2) com um par central de microtúbulos simples rodeado com 9 duplas periféricas, fusionadas, contendo um microtúbulos completo e outro parcial. Esse conjunto de microtúbulos se conecta entre si por proteínas MAPs, como a nexina. Os cílios e flagelos são responsáveis pelo movimento de uma variedade de células eucarióticas, como os espermatozoides e vários protozoários de vida livre, como o paramécio, um protozoário ciliado. Nas células fixas os cílios têm a função de movimentar fluidos sobre a superfície celular. Os cílios e flagelos diferem na quantidade e no comprimento. Os cílios são mais curtos e numerosos, enquanto o flagelo é longo e em pequeno número, podendo ser único. 111UNIDADE 3 Filamentos de Actina Os filamentos de actina com diâmetro de 8-9 nm são formados pela polimerização de uma proteína globular denominada actina. A maioria dos orga- nismos (vertebrados) possui isoformas de actina, designadas como actinas α, β e γ, que apresentam variações quanto a sua ocorrência e localização. Por exemplo, a α-actina é expressa apenas em cé- lulas musculares, ao passo que a β e γ actinas são encontradas em praticamente todas as células não musculares. É interessante notar que in vitro as isoformas de actina se polimerizam; mas in vivo, as células impedem a polimerização das isoformas e as concentram em diferentes localizações. Em sua forma monomérica, as actinas são designadas de actina G (de globular) e, quando polimerizadas, são designadas de actina F (de fila- mentar). A subunidade de actina é uma cadeia po- lipeptídica globular simples, com um sítio de liga- ção para o nucleotídeo trifosfatado de adenosina (ATP). Os monômeros de actina são assimétricos e se associam de maneira regular, orientando-se sempre no mesmo sentido, garantindo, assim, a polaridade do filamento. A fenda de ligação de ATP no monômero de actina fica voltada para a extremidade designada extremidade menos (-) e a extremidade oposta como extremidade mais (+). A composição do filamento de actina consiste de dois protofilamentos paralelosenrolados um so- bre o outro em uma hélice dextrógira orientados em uma mesma direção. As funções celulares dependentes dos filamentos de actina são inúmeras e muito diversificadas, a se- guir serão considerados alguns exemplos relevantes: I. Forma e alterações na forma celular: os filamentos de actina são, particularmente, abundantes junto à membrana plasmática, onde formam uma rede responsável pelo suporte mecânico que determina a forma da célula. Nas microvilosidades, feixes de filamentos de actina estão interligados pelas proteínas ligadoras vilina e fimbri- na. Braços laterais formados de miosina I e calmodulina conectam filamentos de actina periféricos com a membrana plas- mática. Todas as extremidades (+) estão na parte superior do microvilo inseridas em uma substância amorfa. II. Formação do anel contrátil: na fase fi- nal da divisão celular de células animais ocorre a formação de um anel contráctil, composto de filamentos de actina e mio- sina II, logo, a seguir da membrana plas- mática que se contrai progressivamente e separa a célula em duas. Acredita-se que esse processo seja modulado pelo Ca++ que, indiretamente, causa a fosforilação da miosina por ativação de uma quina- se. A miosina fosforilada interage com os filamentos de actina e os movimenta em direções opostas, causando um encurta- mento e consequente contração do anel. Figura 24 - Esquema demonstrando a participação dos fi- lamentos de actina durante a citocinese Fonte: Chapter… ([2019], on-line)8. III. Contração muscular: o citoplasma das fi- bras musculares é constituído por miofibri- las, que são feixes cilíndricos, nos quais os filamentos de actina e miosina estão dispos- tos em uma série de unidades contráteis que se repetem, denominadas de sarcômeros. 112 Movimento e Proliferação Celular Filamentos Intermediários Mais de 50 tipos de proteínas formam os filamen- tos intermediários. Todas elas têm um segmento central em α hélice e porções globulares amino e carboxiterminais. Essas proteínas se associam para- lelamente, formando dímeros, posteriormente, estes se associam em tetrâmeros com uma orientação antiparalela. Os arranjos de ordem superior levam à formação de filamentos com 10 nm de espessura. Ao contrário do que acontece nos microtúbulos e microfilamentos, os filamentos intermediários não apresentam polaridade das extremidades. As proteínas que constituem os filamentos in- termediários podem ser classificadas de acordo com suas características moleculares em diferen- tes classes: I. Queratinas: (ácidas, básicas e neutras) – em células epiteliais. II. Vimentina e proteínas relacionadas: vimentina nas células mesenquimais; des- mina nas células musculares e periferina nos neurônios. III. Proteínas ácidicas fibrilares glial: células da glia. IV. Neurofilamentos: neurônios. V. Lâminas (A, B e C): núcleo de células animais e vegetais. Proteínas acessórias também se conectam com os filamentos intermediários, modulando suas pro- priedades. A filagrina, por exemplo, conecta feixes de queratina nas células epidérmicas. A plectina é uma proteína de integração que conecta feixes de vimentina e os interliga a microtúbulos, a feixes de filamentos de actina, a filamentos da proteína mo- tora miosina II e, ainda, à membrana plasmática. A função dos FI é, primariamente, mecânica, a qual é atribuída a duas propriedades principais: a alta resistência e a relativa estabilidade dos filamentos. A contribuição dos filamentos intermediários na for- mação de estruturas resistentes é nítida nos anexos epidérmicos, como cabelos, unhas, chifres e cascos, que são basicamente compostos de queratinas. Os filamentos intermediários capacitam as células a su- portar o estresse mecânico, por isso, estão presente em grande quantidade em células suscetíveis a esse fator, como nas células epiteliais, musculares e ao longo dos axônios dos neurônios. Nas células epiteliais, os filamentos de queratinas se estendem de um lado a outro da célula e estão firmemente ancorados à membrana plasmática por meio de proteínas acessórias, como as plaquinas, em duas áreas especializadas: os desmossomos e os Figura 25 - Esquema demonstrando a participação dos filamentos de actina na constituição da célula muscular estriado esquelética Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 129). 113UNIDADE 3 hemidesmossomos que são regiões de contato célula-célula e célula- -substrato, respectivamente. Essa trama de filamentos, que indiretamente se interconecta por toda extensão da camada epitelial, possui alta resistência à tração e distribui tensão quando a pele é esticada. A importância dessa fun- ção é ilustrada pela doença genética chamada epidermólise bolhosa simples, na qual, mutações nos genes da queratina interferem na formação desses filamentos na epiderme. Como resultado, a pele se torna vulnerável a pequenos traumas mecânicos que rompem as células e leva à formação de bolhas. Embora os filamentos intermediários apresentem uma estabili- dade maior quando comparado aos demais componentes do citoes- queleto, eles são amplamente rearranjados durante a divisão celular. Essas alterações são marcantes para as lâminas que compõem a lâmina nuclear. Em particular, a ruptura da membrana nuclear no início da divisão da célula depende da desmontagem dos filamentos de lâmina que formam uma malha que sustenta a membrana. À semelhança do que ocorre com os demais componentes do citoesqueleto, as proteínas acessórias auxiliam no papel estrutural e funcional dos filamentos intermediários. A plectina é uma proteína que interconecta os filamentos intermediários uns aos outros e à membrana, a microtúbulos e a filamentos de actina. Mutações na plectina levam a uma forma rara de distrofia muscular. Figura 26 - Classificação dos filamentos intermediários Fonte: Alberts et al. (2011, p. 575). 114 Movimento e Proliferação Celular Célula Estriada Esquelética – Contração Muscular Na célula muscular estriada esquelética, existe um arranjo específico dos filamentos de actina associadas a demais proteínas, principalmente, a miosina. Esses filamentos formam estruturas lineares que preenchem o citoplasma da célula muscular e que são denominadas, genericamente, de miofibrilas. Estas formam estruturas repetiti- vas chamadas de sarcômero. Cada sarcômero é delimitado pelas linhas Z, as quais são constituídas por proteínas acessórias (cap Z e α actinina) e consiste no sítio de anco- ragem das extremidades (+) dos filamentos de actina e outras proteínas (titina e nebulina), que contribuem na estruturação e estabilidade do sarcômero. O sarcômero é o espaço delimitado por duas linhas Z e são formados por filamentos ancorados a estas linhas. Estes são chamados de filamentos finos e filamentos grossos. Os filamentos finos são formados por filamentos de actina, associados a proteínas reguladoras – troponina e tropomiosi- na –, e estão ancorados na linha Z pela proteína α-actinina. 115UNIDADE 3 A tropomiosina é uma proteína filamentosa que se estende nos sulcos do filamento de actina. A troponina é uma proteína glo- bular, formada por três subuni- dade (C, T e I). A subunidade C da troponina tem forte afini- dade ao cálcio; as subunidades T e I associam-se ao filamento de actina em regiões específicas do filamento de actina. No fila- mento fino, ainda há a nebulina que regula o número de monô- meros de actina no filamento. A tropomodulina capeia a ex- tremidade (-) dos filamentos de actina para impedir a despoli- merização desses filamentos. Intercalando os filamentos finos, estão os filamentos gros- sos, que são feixes de filamen- tos de miosina. A molécula de miosina presente no sarcômero é a miosina II que contém uma porção globular – cadeia pe- sada (cabeça) – e uma porção linear – cadeia leve (bastão). Na porção globular estão os sítios de ligação para actina e uma região que se liga ao ATP e degrada esta molécula. O filamento grosso é formado por um arranjo,formando um bastão linear bipolar, com cabeças expostas na periferia do bastão, apenas nas extremidades, sendo a região central “lisa”. Os filamentos de miosina se prendem a linha Z por meio de uma proteína chamada de titina. Esta mantém o filamento de miosina alinhado no centro do sarcômero e também impede que o sarcômero se colapse durante o estiramento do mús- culo. Na região central do sarcômero, proteínas ancoram filamentos de miosina II adjacentes entre si (linha M). Figura 27 - Organização dos filamentos do citoesqueleto na célula muscular estriadas esquelética Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 130). Figura 28 - Organização dos filamentos finos que formam as miofibrilas da célula muscular estriada esquelética Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 130). 116 Movimento e Proliferação Celular O arranjo dos filamentos finos e grossos ancorados na linha Z para a formação do sarcômeros fará com que exista regiões onde há sobreposição apenas de filamentos finos e outras regiões com sobreposição de filamentos finos e grossos. As regiões próximas as linhas Z apresentam apenas sobreposição de fila- mentos finos e se apresenta mais clara, quando ana- lisada em microscopia, sendo chamadas de banda I. O centro do sarcômero apresenta sobreposição alternados filamentos finos e grossos, apresentan- do-se mais escuras, quando analisadas em micros- copia, e são chamadas de banda A. Como os fila- mentos finos não chegam ao centro do sarcômero, o centro da banda A tem uma região denominada de banda H. Cada sarcômero é formado por duas semibandas I, uma banda A e uma banda H. A alternância dessas faixas transversais claras e escuras é a responsável pelas denominação de músculo estriado. Essa organização também está presente na musculatura do coração; mas por ter uma regulação nervosa distinta, este foi chamado de músculo estriado cardíaco. A base da contração muscular se dá pela inte- ração das cabeças da miosina com os filamentos de actina. Ciclos de retração e relaxamento das cabeças, associados à hidrólise do ATP e sua re- posição, permite o deslizamento dos filamentos de actina sobre os filamentos de miosina. Esse processo é iniciado quando o músculo re- cebe um sinal de um neurônio motor que gera um potencial de ação na célula muscular, promovendo a liberação do Ca++ do retículo sarcoplasmático para o citosol. A ligação do Ca++ à troponina C promove uma alteração na sua conformação que, consequentemente, altera a posição da tropomio- sina, liberando, nos filamentos de actina, os sítios de ligação para a miosina. Após essa etapa, as cabeças das miosinas se ligam aos filamentos de actina. A hidrólise do ATP promove uma alteração na conformação da miosina, deslocando sua cabeça em direção à extremidade (+) dos filamentos de actina a uma distância de 5 nm. A seguir, a cabeça da miosina se liga a esta nova posição no filamento de actina (em um novo ângulo). Na sequência, ocorre liberação do Pi fortale- cendo a ligação miosina/actina. Após, um mo- vimento de potência é desencadeado e a miosi- na retorna à sua posição original (configuração rigor), gerando o deslizamento dos filamentos de actina. Durante o movimento de potencial, o ADP é liberado, deixando a miosina pronta para um novo ciclo. Figura 29 - Esquema mostrando a organização dos filamentos para a formação do sarcômero Fonte: Alberts et al. (2010, p. 1028). Figura 30 - Imagem de microscopia da célula muscular estriada esquelética Fonte: Infopédia ([2019], on-line)9. 117UNIDADE 3 Durante uma contração rápida, cada cabeça de miosina alterna seu ciclo ~5X por segundo. O encurtamento sincronizado de milhares de sarcô- meros em cada miofibrila dá, à musculatura es- quelética, capacidade de contração suficiente para diversas atividades, como andar, nadar, correr etc. O relaxamento muscular ocorre quando o nível do Ca++ diminui e, desta forma, bloqueando o sítio de ligação para a miosina sobre os filamentos de actina. Assim, a célula muscular estriada esquelética promoverá a contração, produzindo os movimen- tos necessários a nossa fisiologia. Figura 31 - Esquema mostrando o sarcômero relaxado e contraído Fonte: EHVetUnicentro (2012, on-line)10. Ao encerrarmos esta unidade, temos um conhe- cimento mais integrado sobre a célula procarion- te, pois já desvendamos, em outras unidades, a estrutura dessa célula e, agora, conhecemos os mecanismos de armazenamento da informação genética no núcleo interfásico e seus mecanismos de transmissão para células descendentes, bem como os elementos responsáveis pela forma e plasticidade da célula – o citoesqueleto. A célula, como unidade viva, tem que se re- produzir, e a divisão celular é o recurso que pro- move a propagação da vida, pois uma célula dará origem a outras células e esses eventos somente serão possíveis com a participação dos elementos do citoesqueleto, quer seja para a separação do DNA (cromátides-irmãs) ou para a separação do citoplasma (citocinese). A divisão celular, no organis- mo pluricelular, tem vários ob- jetivos e está dividida em dois tipos: mitose e meiose. A mitose se responsabiliza pela formação do organismo, seu crescimen- to, sua renovação e regenera- ção. Sem essa divisão, várias atividades fisiológicas ficariam comprometidas, por exemplo, a formação constante de células sanguíneas. Por sua vez, a meio- se é responsável, na espécie hu- mana, pela formação de gametas, promovendo a possibilidade de reprodução sexuada. A meiose reduz o número cromossômico de diploide para haploide e pro- move variabilidade genética, por meio da recombinação genética promovida no crossing-over. O citoesqueleto não só parti- cipa desses processos de divisões celulares, mas também exerce vários outros papéis, como a manutenção da forma, adesão celular, movimentos de organe- las citoplasmáticas, deslocamen- to celular e a própria contração das células musculares. A contração muscular da célula muscular estriada esque- lética é responsável por todos os movimentos do organismo humano e conhecer a estrutura morfológica e funcional dessa célula será fundamental para integrar os conceitos sobre os gastos energéticos do organismo humano. 119 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Células surgem de outras células vivas pelo processo de divisão celular. O cres- cimento de um organismo se dá por sucessivas divisões mitóticas, assim, uma única célula, o zigoto (ovócito fecundado) origina uma pessoa adulta com seus 10 trilhões de células. A divisão mitótica é responsável não só pelo crescimento do indivíduo, mas também pela reprodução assexuada, reposição celular e reparo de tecidos danificados ou injuriados. Uma célula se reproduz por meio de uma sequência ordenada de eventos que duplicam seus componentes e depois a dividem em duas. Esse ciclo de duplicação e divisão é conhecido como ciclo celu- lar. O sucesso da divisão de uma célula requer um controle temporal e espacial dos eventos que ocorrem durante o ciclo celular. Analise as afirmações a seguir: I) A prófase é a primeira fase da divisão celular e nela ocorre a duplicação do par de centríolos e da molécula de DNA. II) Durante a metáfase da mitose, as fibras do fuso alinham os cromossomos no centro da célula, posicionando cada cromátide-irmã para um dos polos celulares. III) Considerando a anáfase da mitose, as fibras do fuso encurtarão em direção aos polos separando as cromátides-irmãs. IV) A telófase reorganiza os núcleos fazendo com que o material genético volte ao estado de cromatina. V) A divisão mitótica origina células com o mesmo número cromossômicos e geneticamente diferentes. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas II está correta. b) Apenas I e V estão corretas. c) Apenas III está correta. d) Apenas II, III e IV estão corretas. e) Apenas IV está correta. 120 2. O tecido muscular estriado esquelético é especializado em contração. Suas cé- lulas são alongadas,multinucleadas e preenchidas por filamentos proteicos que se organizam em sarcômero. Sobre o sarcômero, analise as afirmativas a seguir: I) No sarcômero das células musculares estriadas esquelética, a linha Z é for- mada por elementos dos filamentos intermediários do citoesqueleto e tem função de ancorar exclusivamente os filamentos de actina. II) No sarcômero, a proteína titina tem função de ancorar os filamentos finos na linha Z. III) Para que a contração ocorra, é fundamental a presença da Ca+2. Esse íon fica armazenado na porção lisa do retículo endoplasmático liso, que recebe o nome de retículo sarcoplasmático. IV) As miofibrilas que formam o sarcômero das células musculares estriadas esqueléticas são actina e miosina que formam, respectivamente, o filamento grosso e o filamento fino do sarcômero. V) As bandas claras e escuras do sarcômero são denominadas, respectivamente, banda I e banda A. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas a afirmativa I está correta. b) Apenas a afirmativa IV está incorreta. c) Apenas as afirmativas I e II estão incorretas d) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. e) Apenas as afirmativas III e V estão corretas. 3. Considerando a divisão celular meiótica que, na espécie humana, tem função de formar células reprodutivas, chamadas de gametas. Analise as afirmativas sobre esta modalidade de divisão celular: I) Durante a divisão meiótica, são formadas quatro células com apenas um lote de cromossomos (haploides) e com combinações genéticas idênticas em cada uma delas. II) A anáfase I da meiose I é considerada reducional, pois, nessa fase, as cromá- tides-irmão de cada cromossomo são separadas. III) É durante a profáse I que ocorre a formação de cromossomos “híbridos” por meio do crossing-over. IV) A meiose I é um processo reducional, pois, na anáfase I, os cromossomos homólogos são separados para polos opostos da mesma célula. V) O crossing-over é uma evento de recombinação genética e ocorre durante as prófases I e II. 121 Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas III está correta. b) Apenas III e IV estão corretas. c) Apenas I e III estão correta. d) Apenas II e III estão corretas. e) Apenas IV está correta. 4. As células eucariontes apresentam um conjunto de proteínas que formam uma rede denominada de citoesqueleto. Sobre essa estrutura da célula procarionte, analise as afirmativas: I) O citoesqueleto é constituído exclusivamente por filamentos de actina e filamentos intermediários. II) Os filamentos intermediários são responsáveis pela organização de cílios e flagelos. III) Os elementos do citoesqueleto são constituídos por filamentos de actina, filamentos intermediário e microtúbulos. Esses elementos atuam, exclusiva- mente, na manutenção da forma da célula. IV) Microtúbulos são elementos do citoesqueleto, que entre outras funções, são responsáveis pela organização das fibras que promovem a movimentação dos cromossomos durante a divisão celular e pela organização de cílios e flagelos. V) Filamentos de actina são elementos do citoesqueleto que, entre outras fun- ções, são responsáveis pela contração de célula muscular estriada esquelética e pela sustentação das microvilosidades. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas I e V estão corretas. b) Apenas III está correta. c) Apenas IV e V estão corretas. d) Apenas I e III estão corretas. e) Apenas II e III estão corretas. 122 5. A capacidade de crescer e se reproduzir são atributos fundamentais de todas as células. No caso de células eucariontes, o processo de gênese de novas células obedece a um padrão cíclico que começa com o crescimento celular e termina com a separação de seu núcleo e citoplasma, originando duas novas células. Es- ses eventos coordenados são denominados de ciclo celular. Este ciclo apresenta dois momentos distintos, a interfase e divisão celular mitótica. Com relação a esse ciclo celular, analise as assertivas a seguir. I) A intérfase é o período em que a célula não está em divisão celular e, portanto, estará havendo, durante toda a duração da intérfase, a duplicação do DNA. II) Durante a intérfase, o DNA estará organizado na forma de cromossomos para garantir a divisão desse material genético. III) A intérfase está dividida em períodos: G1, S e G2 e somente haverá a duplicação do DNA durante o período S. IV) Durante a intérfase, o DNA estará na forma de cromatina, que permitirá que eventos como a duplicação e a transcrição possa ocorrer. V) No período G2 da intérfase, ocorre a condensação da cromatina, formando cromossomos. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas III e IV estão corretas. b) Apenas I e II estão corretas. c) Apenas III e IV estão corretas. d) Apenas IV e V estão corretas. e) Apenas II e III estão corretas. 123 Colegas Ano: 2013 Sinopse: Colegas é uma divertida comédia que trata de forma poética coisas simples da vida, por meio dos olhos de três personagens com síndrome de Down. Eles são apaixonados por cinema e trabalham na videoteca do instituto onde vivem. Um dia, inspirados pelo fi lme “Thelma & Louise”, resolvem fugir no Karmann-Ghia do jardineiro em busca de três sonhos: Stalone quer ver o mar, Aninha quer casar e Márcio precisa voar. Em uma viagem do interior de São Paulo rumo à Buenos Aires, eles se envolvem em inúmeras aventuras como se tudo não passasse de uma eterna brincadeira de cinema. FILME 124 ALBERTS, B.; BRAY, D.; HOPKIN, K.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WALTER, P. Fun- damentos da biologia celular. Porto Alegre: Artmed, 2011. ALBERTS, B.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WALTER, P.; VANZ, A. L. de S.; JOHNSON, A. Biologia molecular da célula. Porto Alegre: Artmed, 2010. JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J.; JORDÃO, B. Q.; ANDRADE, C. G. T. J.; YAN, C. Y. I. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. REFERÊNCIAS ON-LINE 1 Em: https://virtualhistology.wordpress.com/2009/09/28/125/. Acesso em: 9 jul. 2019. 2 Em: https://blogbiodna.blogspot.com.br/2015/03/divisao-celular.html. Acesso em: 9 jul. 2019. 3 Em: http://www.infoescola.com/citologia/meiose/. Acesso em: 9 jul. 2019. 4 Em: https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Citologia2/nucleo14.php. Acesso em: 16 jul. 2019. 5 Em: http://tanya-biologia.blogspot.com.br/2012/09/divisao-celular-meiose.html. Acesso em: 9 jul. 2019. 6 Em: http://brasilescola.uol.com.br/doencas/sindrome-de-down.htm. Acesso em: 9 jul. 2019. 7 Em: http://www.teliga.net/2013/06/o-citoesqueleto.html. Acesso em: 9 jul. 2019. 8 Em: http://cc.scu.edu.cn/G2S/Template/View.aspx?courseType=1&courseId=17&topMenuId=113306&- menuType=1&action=view&type=&name=&linkpageID=113784. Acesso em: 9 jul. 2019. 9 Em: https://www.infopedia.pt/$tecido-muscular>. Acesso em: 9 jul. 2019. 10 Em: http://ehvet-unicentro.blogspot.com.br/2012/05/tecidos-musculares-os-tecidos.html. Acesso em: 9 jul. 2019. 125 1. D. 2. E. 3. B. 4. C. 5. A. 126 127 128 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Reconhecer a estrutura morfológica e funcional das mi- tocôndrias. • Identificar a molécula de adenosina trifosfato como ele- mento de armazenamento de energia para atividade me- tabólica das células. • Diferenciar cada uma das etapas do processo de glicólise. • Diferenciar a via anaeróbica e aeróbica de degradação piruvato, relacionar as condições fisiológicas para que cada via ocorra e identificar os tipos celulares que realiza cada uma das vias. • Identificar cada uma das etapas de formação de acetil CoA. • Descrever cada uma das etapas do ciclo do ácido cítrico. • Relacionar a cadeia transportadora de elétrons e a fosfo- rilação oxidativa como consumo de oxigênio. Introdução ao Metabolismo Energético Estrutura das Mitocôndrias Metabolismo Energético Dr.ª Márcia Cristina de Souza Lara Kamei Disponibilização de Energiapara a Célula - Degradação de Carboidratos Introdução ao Metabolismo Energético Olá aluno(a)! Nesta unidade, estudaremos os mecanismos de transferência de energia entre os sistemas biológicos. Todos sabemos que a ener- gia é necessária para nos manter vivos e ativos, realizando nossas funções fisiológicas, incluindo a síntese de massa corporal, que provém dos ali- mentos que ingerimos. Bioquimicamente, os alimentos que ingeri- mos são denominados de proteínas, carboidra- tos e lipídios. Cada tipo de composto orgânico tem um valor energético inserido e, entre eles, os mais energéticos são as gorduras, porém, os mais utilizados para disponibilizar energia são os carboidratos. Já as proteínas podem ser usadas para obtenção de energia para as células, porém sua função estrutural é mais usada. Os carboidratos são os elementos energéticos mais utilizados pelos seres vivos. Preferencial- mente, todas as células, desde bactérias até cé- lulas humanas trabalham com glicose, que é o monossacarídeo mais abundante do planeta. Em nosso organismo, existem algumas células que só trabalham com glicose, como células nervosas por exemplo. 131UNIDADE 4 Por ser a glicose o elemento central na disponibilização de energia para as células do nosso organismo, iniciaremos este tema demonstran- do as vias de degradação da glicose e o cálculo energético desse evento. A molécula de glicose pode ser degradada por duas vias metabólicas: aeróbica e anaeróbica. A via anaeróbica é uma atividade metabólica mais primitiva e corresponde a uma degradação incompleta da mo- lécula e apenas 20% da energia contida nela é transferida para o ATP (adenosina trifosfato). Esse processo não depende da presença de oxigênio e é realizado no citoplasmas de células procariontes e algumas células eucariontes, além de incluir algumas células do organismo humano. A via aeróbica é mais complexa e realizada apenas por células eucariontes, no interior de organelas chamadas de mitocôndrias e apenas na presença obrigatória do oxigênio; esta via disponibiliza muito mais ATP que a via anaeróbica. Iniciaremos nossa unidade dando uma visão geral das vias me- tabólicas que disponibilizam energia para a manutenção das ati- vidades celulares. As células necessitam de um constante suprimento de energia para gerar e preservar a ordem biológica que as mantêm vivas. A energia química utilizada pelas células provém da degradação de compostos orgânicos. Nos organismos heterótrofos, esses compostos são obtidos por meio da alimentação, enquanto que os organismos autótrofos os produzem. Dessa forma, esses organismos se inter-relacionam por meio do metabolismo. Os seres autotróficos possuem um sistema enzimático chamado de clorofila. Nas células eucariontes, a clorofila está localizada em uma organela que é a cloroplastos. Essas células utilizam a energia lumi- nosa e transferem para ligações químicas que produzem compostos orgânicos. O processo que envolve as reações químicas de síntese de compostos orgânicos a partir de compostos inorgânicos com a energia luminosa é denominado de fotossíntese. A reação pode ser resumida na seguinte equação: Como a energia foi transferi- da para as ligações químicas, essas moléculas orgânicas possuem energia armazenada, e ao sofrerem quebra, a ener- gia será liberada. No ambiente celular, a energia liberada da quebra dos compostos or- gânicos é transferida para a molécula de ATP. O proces- so que envolve as reações de degradação dos compostos orgânicos que geram uma forma de energia utilizável (na forma de ATP) pelas cé- lulas eucariontes é denomi- nado de respiração celular e inclui a participação de uma organela citoplasmática: as mitocôndrias, e da presença do oxigênio. O ATP é um nucleotídeo da adenosina que tem como função o armazenamento temporário da energia retira- da da quebra dos compostos orgânicos. A energia da molé- cula da ATP está armazenada nas ligações dos grupamentos fosfatos, e nas células existe uma dinâmica entre a síntese e a degradação do ATP (NEL- SON et al., 2013). Figura 1 - Relação entre a fotossíntese e a respiração celular Fonte: Santos (2012, on-line)1. C6H12O6 + 6O2 6H2O + 6CO2 6CO2 + 12H2O C6H12O6 + 6O2 + 6H2O LUZ 132 Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos A fotossíntese está relacionada à respiração e, de maneira geral, há um balanço entre esses dois proces- sos na biosfera. Tanto a fotossíntese quanto a respiração geram energia química utilizável (ATP), cuja síntese é mediada por um gradiente de hidrogênio transmembrana. A respiração aeróbica envolve a oxidação de moléculas orgânicas em CO2 com redução do O2 em H2O associada à produção de ATP C6H12O6 + O2 6CO2 + 6H2O + energia Oxigênio proveniente da respiração pulmonar Água que poderá ser utilizada no metabolismo celular Gás carbônico que deverá ser eliminado na expiração Será armazenada na forma de ATP. Glicose proveniente da digestão CARBOIDRATOS LIPÍDIOS PROTEÍNAS ATP + H2O O2 + ADP + Pi CO2 COENZIMAS(oxidadas) COENZIMAS (H + e-) (reduzidas) + (H + e-)+ O P OHO OH OH O P O O O N N N N NH3 O O O P CH2O Figura 3 - Equação geral da degradação de compostos orgâ- nicos para síntese de ATP Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 109). Figura 2 - Equação da respiração celular Fonte: a autora. Figura 4 - Estrutura bioquímica da molécula da ATP (ade- nosina trifosfato) Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 69). ADP + Pi ATP OXIDAÇÃO DE NUTRIENTES PROCESSOS QUE REQUEREM ENERGIA Figura 5 - Esquema mostrando a dinâmica entre a síntese e a degradação de ATP Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 110). 133UNIDADE 4 O2 CO2 H2O+ Glicose Mitocôndria Cloroplasto Calor Calor Calor ATP Fotossíntese Respiração celular A ingestão elevada de carboidratos leva ao aumento da glicemia e esse aumento da glicose circulante no sangue está diretamente relacionada a várias doença metabólicas, incluindo o diabetes tipo II e obesidade. Esta, que em outras gerações era um distúrbio que afetava os adultos, já está presente nas crianças desta geração. Podemos concordar com hábitos que estimulam consumo de refeições ricas em carboidratos, como as oferecidas por redes de fast food, associando seu consumo a brin- des que são oferecido junto com estas refeições? Não podemos esquecer que esses brindes são desejados pelas crianças, pois são ícones da indústria de entretenimento. Figura 6 - Relação entre a atividade metabólica da fotossíntese e a respiração celular Fonte: Cientic ([2019], on-line)2. Estrutura das Mitocôndrias As mitocôndrias exibem formas alongadas, porém formas esféricas também são observadas. O tama- nho das mitocôndrias podem variar entre 0,2 a 1,0 µm de diâmetro e de 2 a 8 µm de comprimento. A quantidade de mitocôndrias também varia para células de diferentes origens, estando diretamente relacionada à demanda energética da célula. A dis- tribuição delas no interior da maioria das células ocorre acidentalmente, mas há casos em que se concentram em regiões que a demanda energética é maior (JUNQUEIRA et al., 2012). Em células musculares, por exemplo, as mito- côndrias estão associadas aos filamentos contrá- teis que requerem ATP. Em espermatozoides, elas se localizam na peça intermediária, justamente para facilitar o provimento de ATP para movi- mentação da cauda. Essas organelas membranosas podem ser vi- sualizadas sob microscopía óptica com o emprego do corante verde janus, uma substância redox, que é oxidada para uma forma corada pelo citocro- mo C oxidase, um dos componentes da cadeia respiratória. Contudo, detalhes de sua estrutura só são observados com o uso de um microscópio eletrônico. 135UNIDADE 4 Membrana externa Contém enzimas de degradação dos lipídios a ácidos graxos. Permeável a moléculas de até 10.000 dáltons DNA mitocondrial Uma ou mais cadeias duplas contendo escasso número de genes Espaço intermem- branoso Contém várias enzimas . Acumula prótonstransporta- dos da matriz Crista mitocondrial Dobras que aumentam a superfície da membrana interna e a e�ciência na produção de ATP Ribossomos mitocondriais Contém RNA ribossômico. Participam da síntese proteica Matriz mitocondrial Contém enzimas que metabolizam piruvato e ácido graxo produzindo acetilcoenzima A, contém enzimas do ciclo do ácido cítrico, tRNA, mRNA e rRNA Membrana interna Impermeável, contém os componentes da cadeia de transporte de elétrons. Transporte transmembrana de prótons Corpúsculos elementares Fazem parte da membrana interna e contém complexo proteico com atividades de ATP-sintetase Figura 7 - Esquema da estrutura de mitocôndrias Fonte: Junqueira et al. (2012, p. 74). As mitocôndrias são organelas com duas membranas, uma mem- brana externa e outra que se invagina para o interior da mitocôndria, formando cristas, denominada de membrana interna. Elas definem dois compartimentos na mitocôndria, o espaço intermembrana, localizado entre as duas membranas, e a matriz mitocondrial, que está circundada pela membrana interna. As membranas mitocondriais são estruturalmente e funcional- mente distintas. Na membrana interna estão presentes: enzimas que sintetizam ATP, proteínas que promovem o fluxo de elétrons para promovem a síntese de ATP, enzimas envolvidas na degradação de composto orgânicos, entre muitas outras proteínas. 136 Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos A membrana externa apresenta uma proteína conhecida como porina, que forma canais transmembrânicos, muito semelhante a proteínas porinas presente na membrana de bactérias. Na matriz mitocondrial podem ser observado os ribossomos, ácidos nucleicos e várias enzimas que participam do metabolismo de carboidratos, ácidos graxos e de compostos aminados. O DNA mitocondrial é uma molécula circular, semelhante ao DNA encon- trado em bactérias e tem apenas genes que codificam algumas das proteínas mitocondriais, sendo que a grande maioria das proteínas mitocondriais são importadas do citoplasma da célula. Veremos, agora, como essa organela pode aproveitar a energia presente em ligações químicas covalentes, entre átomos de carbono (-C---C-), e transformá-la em energia elétrica, para novamente arma- zená-la em ligações químicas também covalentes, como ocorre entre ADP (adenosina difosfato) e fosfato na formação de moléculas de ATP. CARBOIDRATOS PROTEÍNAS LIPÍDIOS GLICOSE Piruvato (3) AMINOÁCIDOS Acetil-CoA (2) CoA Citrato (6) Isocitrato (6) CO2 CO2 CO2 CO2 α-Cetoglutarato (5)Fumarato (4) Malato (4) Oxaloacetato (4) Succinato (4) ÁCIDOS GRAXOS Asp Ala Ile Cys Leu Gly Lys Ser Phe Glu Figura 8 - Esquema mostrando a convergência das vias de degradação dos dife- rentes compostos orgânicos Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 112). 137UNIDADE 4 Metabolismo Energético Glicólise Vamos iniciar pela degradação de moléculas de glicose. Como vimos no primeiro módulo desta disciplina, os carboidratos apresentam, primor- dialmente, a função energética. Esses elementos podem ser classificados como monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos. Durante o processo digestório, a maioria dos carboidratos são degradados e o monossacarídeo resultante é a glicose, assim, ela é absorvida pelas células epi- teliais do intestino e levada para todas as outras células do nosso organismo, funcionando como combustível essencial. Na célula eucarionte, a molécula de glicose será degradada pela via aeróbica, um processo que requer a presença do oxigênio e a atividade mitocondrial, porém, em alguns tipos de células eucariontes, a molécula de glicose também pode ser degradada pela via anaeróbica. A degradação aeróbica da molécula de glicose ocorre em cinco etapas, que são: glicólise, forma- ção de acetil CoA (coenzima A), ciclo do ácido cítrico, cadeia transportadora de elétrons e fosfo- rilação oxidativa (STRYER et al., 2014). 138 Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos A glicólise é a degradação da molécula de glicose (C6H12O6) em duas moléculas de piruvato ou áci- do pirúvico (molécula com três carbonos). Essa é a primeira etapa, que ocorre no citoplasma de todos os tipos celulares do processo de oxidação de glicose para obtenção de energia (VOET et al., 2014). Essa etapa consiste em dez reações quími- cas, que são divididas em duas fases, a preparatória e fase de pagamento. Fase Preparatória da Glicólise A fase preparatória da glicólise tem cinco reações a serem consideradas: • Fosforilação da glicose em glicose 6-fos- fato: é uma molécula da ATP que será con- vertida em ADP. Essa fosforilação impedirá que a molécula saia da célula, uma vez que o transporte de glicose ocorre por difusão facilitada e depende da concentração de glicose nos meios intra e extracelulares. • Isomerização da glicose 6-fosfato em frutose 6-fosfato: haverá a alteração da molécula de glicose 6-fosfato em frutose 6-fosfato, realizado pela enzima isomerase. • Nova fosforilação: também tendo como doador de fosfato a molécula de ATP que forma uma hexose com dois grupos fosfato - frutose 1,6-bisfosfato. Glicólise Glicose (C6) Coenzimas Coenzimas Coenzimas 2 Piruvato (C3) 2 Piruvato (C3) Descarboxilação do piruvato Ciclo de Krebs 2 C4 2 ADP + 2Pi 2 ADP + 2Pi 2 ATP + 2H2O 2 C6 4 (H + e-)+ 4 (H + e-)+ 2 ATP 2 CO2 4 CO2 2 C2 4 H2O 16 (H + e-)+ Citossol Mitocrôndria Figura 9 - Resumo das etapas da degradação aeróbica da molécula de glicose Fonte: Mazzoco e Torres (2015, p. 116). 139UNIDADE 4 • Clivagem da frutose: a frutose 1,6-bisfosfato será quebrada, resultando em duas moléculas distintas: a diidroxiacetona fosfato e gliceraldeído 3-fosfato. • Isomerização de diidroxiacetona fosfato em gliceraldeí- do 3-fosfato: o que resultará em duas moléculas de gliceral- deído3-fosfato para cada molécula de glicose. Concluído essas cinco reações químicas, iniciaremos a segunda fase da glicólise, chamada de fase de pagamento. Ao final da fase preparatória, teremos um saldo de -2ATPs. Fase de Pagamento da Glicólise A fase de pagamento também consiste em cinco reações quí- micas. Nessa etapa, haverá a produção de moléculas de ATPs e retiradas de hidrogênios da molécula que está sendo de- gradada. • Fosforilação do glice- raldeído 3-fosfato: ha- verá uma fosforilação do gliceraldeído 3-fosfato a partir de fosfato inor- gânico: formando duas moléculas de 1,3-bisfos- foglicerato. Nesse proces- so, ocorre uma desidro- genação (um hidrogênio é retirado da molécula), em que é catalisada por uma desidrogenase que tem como coenzima a nicotinamida adenina di- nucleotídeo (NAD+) que, ao receber o hidrogênio, é reduzido a NADH + H+ (pois dois elétrons e ape- nas um próton perma- nece na coenzima, sendo o outro próton liberado diretamente no meio). • Deslocamento do gru- po fosfato para o ADP: isso produz ATP, e a mo- lécula passa a ser o 3-fos- fosglicerato. Glicose Glicose 6-fosfato Frutose 6-fosfato Frutose 1, 6-difosfato Gliceraldeído 3-fosfato Dihidroxiacetona fosfato (DHAP) ATP ADP ATP ADP 1 2 3 4 5 P PP PP P 2 ATPs 2 ADPs Glicose 2 gliceraldeído 3-fostato Figura 10 - Resumo das reações químicas da fase preparatória da glicólise Fonte: Educação Física AEJS ([2019], on-line)3. Figura 11 - Resumo da fase preparatória da glicólise Fonte: a autora. 140 Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos • Isomerização produzindo 2-fosfoglice- rato: a enzima fosfoglicerato mutase trans- fere o grupo fosfato do carbono 3 para o carbono 2, formando 2-fosfoglicerato. • Desisdratação do 2-fosfoglicerato, origi- nando fosfoenolpiruvato: uma molécula de água (H2O) é retirada da molécula que é convertida em fosfoenolpiruvato. • Transformação de fosfoenolpiruvato a piruvato, com consequente fosforilação de ADP em ATP: haverá a desfosforilação do fosfoenolpiruvato formando piruvato. A equação geral da glicólisepode ser resumida no esquema a seguir e evidencia que a oxida- ção da glicose, a piruvato e a produção de ATP N uc le ot íd io d e ni co tin am id a ou ri bo �a vi na N uc le ot íd io d e ad en os in a Nicotinamida H O O O O P -O P O CH2 -O O CH2 C NH2 N + H H H O H OHOH H H H O H OHOH Ribose NAD+ N N NH2 N N Adenina estão diretamente associadas à redução de NAD+ e NADH+. Existe uma quantidade de NAD+ limitada dentro das células, e a entrada de glicose do meio extracelular fará com que a quantidade de glicose a ser metabolizada sempre exceda a quantidade de NAD+, produzindo a necessidade constante de reo- xidar o NADH. Existem duas vias metabólicas para reoxidar o NADH, na presença de oxigênio (via aeróbica) e na ausência de oxigênio (anaeróbica). A glicólise é um evento que ocorre no citoplas- ma das células. Duas moléculas de piruvatos serão produzidas para cada molécula de glicose, bem como quatro molécula de ATPs e duas molécula de NADH+H+, dessa forma, a glicólise terá um saldo de dois ATPs, pois, gastaremos dois ATPs na fase preparatória. Figura 12 - Estrutura bioquímica do NAD (nicotinamida ade- nina difosfato) Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 117). Gliceraldeído 3-fosfato 1, 3-difosfoglicerato 3-fosfoglicerato 2-fosfoglicerato 2 NAD+ NADH2 2 H2O2 6 7 8 9 10 ATP2 2 ADP ATP2 2 ADP P P PP P2 2 ácido pirúvico (piruvato)2 P 2 fosfoenolpiruvato P 2 Glicose 2 ATP 2 NAD 2 NADH2 2 ADP 4 ADP 4 ATP 2 Ac. pirúvico Figura 14 - Resumo da glicólise Fonte: a autora. Figura 13 - Resumo das reações químicas da fase de paga- mento da glicólise Fonte: Carraro (2019, on-line)4. 141UNIDADE 4 Destino do Piruvato na Via Aeróbica Em condições aeróbicas, o primeiro passo para oxidação total do piru- vato é a sua conversão a acetil Coenzima A (Acetil CoA); para tanto, o piruvato será transportado do citoplasma para a matriz mitocondrial. Na matriz mitocondrial, ele sofrerá descarboxilaçâo (retirada de CO2), sendo eliminado da via metabólica. Ocorrerá, também, desidrogenação com a passagem dos elétrons e de um próton para o NAD+, formando NADH + H+. A molécula resultante da desidrogenação e descarboxilação será ligada à molécula de coenzima A (CoA), formando Acetil Coenzima A (Acetil CoA). A molécula de acetil CoA produzidas por meio do piruvato (duas para cada molécula de glicose) serão encaminhadas para o ciclo do ácido cítrico, que é o segundo passo da degradação aeróbica. Como cada molécula de glicose produz dois piruvatos, haverá a formação de duas moléculas de acetil CoA, levando a produção de duas moléculas de NADH+H+. O H3C C COO- + HS-CoA + NAD O H3C C SCoA + NADH + CO2+ Piruvato Coenzima A Acetil-CoA Figura 15 - Esquema da transformação do piruvato em Acetil CoA Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 123). Ciclo do Ácido Cítrico (Ciclo de Krebs) Essa via metabólica irá integrar a degradação de todos os compostos orgânicos, uma vez que são convertidos a acetil CoA. No momento, esse acetil CoA derivou-se de piruvato, na matriz mitocondrial, logo, o ciclo irá ocorrer na matriz mitocondrial. Esse ciclo consiste em oito reações sucessivas com várias des- carboxilações e desidrogenações. Inicia-se com a condensação de acetil CoA com a oxaloacetato (presente na matriz mitocondrial), formando citrato. Assim, o citrato será isomerizado condensando-o para o isocitrato. O isocitrato será desidrogenado, formando α-cetoglutarato, sen- do o hidrogênio usado para reduzir NAD+ a NADH + H+. Α-ceto- glutarato vai ser descarboxilado e formará o succinil-CoA, para, então, o CO2 ser liberado da reação. Succinil CoA será convertido a succinato, e nessa reação ocor- re a adição de um radical fosfato a uma molécula de GDP(gua- nosina difosfato), formando GTP(Guanosina trifosfato). Em termos bioquímicos, o GTP é diferente do ATP, pois trata-se de um nucleotídeo tri- fosfatado de guanosina. Con- tudo, em termos energéticos, a ligação do terceiro grupamen- to fosfato armazena a mesma energia que a ligação do ter- ceiro fosfato do ATP. O succinato será desidro- genado e dessa vez, o aceptor dos dois elétrons e dos prótons será o FAD, que será reduzido a FADH2. O fumarato é hidratado e forma-se o malato. Malato é desidrogenado e se forma o oxaloacetado, ter- minando o ciclo. Os elétrons e o próton é usado para reduzir NAD+ a NADH+H+. Como o oxaloacetato é sempre regenera- do ao fim de cada volta, o ciclo pode oxidar acetil CoA conti- nuamente. Podemos definir o ciclo do ácido cítrico como a completa degradação de acetil CoA a CO2 e, neste tópico em questão, a ace- til CoA derivou de glicose. Cada molécula de Acetil CoA degradada no ciclo do ácido cítrico irá produzir 3 NA- DH+H+, 1FADH2, 1GTP. Cada molécula de glicose produzirá 2 moléculas de ace- til CoA; dessa forma, para cada molécula de glicose degrada- da, o ciclo irá produzir: 6 NA- DH+H+, 2FADH2, 2GTPs. 142 Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos CARBOIDRATOS PROTEÍNAS LIPÍDIOS GLICOSE Piruvato (3) AMINOÁCIDOS Acetil-CoA (2) CoA Citrato (6) Isocitrato (6) CO2 CO2 CO2 CO2 α-Cetoglutarato (5)Fumarato (4) Malato (4) Oxaloacetato (4) Succinato (4) ÁCIDOS GRAXOS Asp Ala Ile Cys Leu Gly Lys Ser Phe Glu O resumo do ciclo do ácido cítrico pode ser analisado na Figura 17. Ao final do ciclo do ácido cítrico, podemos fazer um resumo para visualizarmos o saldo dos pro- dutos formados. Com base no saldo até essa etapa, daremos seguimento. Tabela 1 - Saldo das etapas de degradação aeróbica da molécula de glicose Moléculas formadas / Etapas NADH+H+ FADH2 GTPs/ATPs Glicólise 2 - 4 (-2) Formação de acetil CoA 2 - - Ciclo do ácido cítrico 6 2 2 Total 10 2 6 (-2) = 4 Fonte: a autora. Figura 16 - Imagem resumindo a integração da degradação de diferentes moléculas orgânicas e o ciclo do ácido cítrico Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 112). 143UNIDADE 4 H3C C O SCoA H2O OXALOACETATO SUCCINATO SUCCINIL-CoA MALATO FUMARATO CITRATO ISOCITRATO α-CETO- GLUTARATO HS-CoANADH + H NAD COO- COO- C CH2 O+ + NADH + H NAD CoA + + NAD + NADH + H + FADH2 FAD COO- COO- CHHO CH2 H2O COO- COO- CH2 CH2 COO- C O CH2 CH2 SCoA COO- C O CH2 CH2 COO- COO- COO- COO- C CH2 CH2 HO COO- COO- COO- C CH CH2 H HO COO- HC COO- CH citrato sintase aconitase malato desidro- genase fumarase succinato desidrogenase succinato-CoA sintetase α-cetoglutarato desidrogenase isocitrato desidrogenase HS-CoA NDP+PiNTP CO2 CO2 Figura 17 - Reações químicas do ciclo do ácido cítrico Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 127). 144 Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos Cadeia Transportadora de Elétrons e Fosforilação Oxidativa e- e- e- C H + H + H + H + H + H + 4H + H + H + I II III IV ESPAÇO INTERMEMBRANAS MATRIZ Q ADP + Pi ATP 2 H2OO2 Figura 18 - Sequência do transporte de elétrons entre os elementos da cadeia transportadora e as regiões onde há implulso de prótons Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 143). As etapas de oxidação de glicose, explicadas nos tópicos anterio- res, levou à formação de uma grande quantidade de NADH+H+ e FADH2 (coenzimas em estado reduzidos). No entanto, a produção de ATPs foi, até agora, muito baixa – como se pode visualizar na tabela já apresentada. Essas coenzimas deverão ser oxidadas, pois a maior parte da energia retirada da molécula de glicose encontra-se armazenada nas coenzimas reduzidas. As coenzimas devem ser reoxidadas por duas razões, primeiro, para liberar a energia e, segundo, restituir as coenzimas oxidadas para que possam participar da oxidação de outras moléculas de glicose. Essas moléculas de glicose continuam entrando na célula em quantidade limitada de NAD e FAD. A oxidação das coenzimas reduzidas irá ocorrer na membrana interna da mitocôndria, onde estão presentes os complexos enzi- máticos responsáveis pelo transporte de elétrons, denominadosde cadeia transportadora de elétrons. A maioria desses componentes agrupa-se em quatro complexos proteicos, que, na Figura 18, serão representados como I, II, III e IV. Esses complexos são proteínas transmembranas da membrana interna da mitocôndria que se organizam em ordem crescente de potenciais de redução. Temos, ainda, dois componentes móveis da cadeia transportadora de elétrons que não fazem parte dos complexos: a coenzima Q – que conecta os complexos I e II ao complexo III –, e o citocromo c – que conecta o complexo III ao complexo IV. As coenzimas reduzidas NADH+H+ transferem dois elé- trons para o complexo I e estes serão transferidos na seguinte sequência: NADH+H+ → Complexo I → coenzima Q → Complexo III → citocromo C → Comple- xo IV → Oxigênio (átomo). As coenzimas reduzidas FADH2 doam seus elétrons pri- meiramente, para o complexo II e, com isso, seguem a mesma via: FADH2 → Complexo II → coenzima Q →Complexo III → citocromo C → Complexo IV → Oxigênio (átomo). Esse movimento de elétrons gera uma força eletro-química e promove o bombeamento de prótons da matriz mitocondrial para o espaço intermembranoso. Esse bombeamento de prótons ocorre no complexo I, II e IV, como vemos na Figura 18. 145UNIDADE 4 A movimentação desses prótons está relacionada a síntese de ATP, que utiliza a energia liberada por es- sas reações de óxido-redução. A teoria mais aceita para explicar o acoplamento do transporte com a síntese de ATP é chamada de teoria quimiosmótica. Essa teoria considera que a energia do trans- porte de elétrons é utilizada para bombear prótons por meio da membrana interna para o espaço in- termembranoso. O transporte de H+ ocorre contra o gradiente. Esse sistema contra gera um gradiente de prótons, ou seja, uma concentração diferente de prótons dentro e fora da matriz mitocondrial. A face interna voltada para a matriz da membrana interna fica mais negativa que a face externa, que é voltada para o espaço intermembranoso. A diferença de carga elétrica (gradiente elé- trico) gera um potencial de membrana de ordem de 0,1 a 0,2 Volts. A energia conservada nesse gradiente eletroquímico é chamada de força próton-motriz e é constituída por dois compo- nentes: o gradiente de pH, que é a concentração maior de prótons no espaço intermembranoso, e o gradiente elétrico, matriz negativa em relação ao espaço intermembranoso. O retorno dos prótons ao interior da matriz é um processo espontâneo, a favor do gradiente eletroquímico, que libera energia capaz de levar a síntese de ATP. A membrana interna da mitocôn- dria é impermeável a prótons em toda sua exten- são, exceto em sítios específicos, constituídos pelo complexo sintetizador de ATP, a ATP- sintase. Somente haverá a passagem dos prótons por meio destes complexo enzimático e o retorno destes prótons levará à produção do ATP. Figura 19 - Esquema mostrando a relação do transporte de elétrons com a síntese de ATP Fonte: adaptada de Bios Jay Chemist (2013, on-line)5. Para cada NADH que se oxida, ou seja, para cada par de elétron transportados pelos complexos I, III e IV – apresentados na imagem da cadeia transportadora – até chegar ao oxigênio, haverá a síntese de três moléculas de ATPs. Já quando o FADH2 é oxidado, o complexo I não é usado e o fluxo de prótons será menor, produzindo apenas dois ATPs. Podemos resumir esta produção de ATPs nas equações a seguir: NADH+H+ + ½ O2 + 3 ADP + 3 Pi + 3 H → NAD + + 3 ATP + 4 H2O FADH2 + ½ O2 + 3 ADP + 3 Pi + 2 H → FAD + 2 ATP + 3 H2O 146 Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos A fosforilação oxidativa é a etapa final da degra- dação aeróbica da molécula de glicose. Essa degra- dação tem um saldo energético de 38 moléculas de ATPs. Podemos elucidar melhor, na tabela a seguir, o saldo energético da degradação aeróbica de uma molécula de glicose. Tabela 2 - Resumo do saldo de ATPs produzidos na degra- dação aeróbica da molécula de glicose Moléculas formadas/ Etapas NADH+H+ FADH2 GTPs/ATPs Glicólise 2 - 4 (-2) Formação de acetil CoA 2 - - Ciclo do ácido cítrico 6 2 2 Total 10 2 6 (-2) = 4 Moléculas de ATPs 30 4 4 Fonte: a autora. Dessa forma, vemos que a degradação aeróbica de uma molécula de glicose levará à produção de 38 moléculas de ATPs. Parte da energia liberada pelo fluxo dos prótons não será aproveitada para produção de ATP, mas sim para liberar na forma de calor. Assim, a degradação de compostos orgâ- nicos também vão ser responsáveis pelo processo de manutenção da temperatura corporal. Existe, em mamíferos, um tipo diferente de tecido adiposo, cujas mitocôndrias não produzem ATP e toda a energia dos compostos orgânicos é liberada na forma de calor, que é chamado de tecido adiposo marrom ou pardo. Essas mitocôndrias não possuem, em sua membrana interna, o complexo enzimático ATP sintetase, em vez disso, os prótons impulsionados pelo transporte de elétrons retornam por uma proteína chamada de termogenina. A energia do retorno dos prótons por meio da termogenina é completamente dissipada na forma de calor. Na espécie humana, esse tecido adiposo se for- ma no feto, mas não se renova após o nascimento, portanto, ele só existe por poucos anos após o nascimento, não sendo encontrado em adulto. Em mamíferos, incluindo a espécie humana, existe uma proteína diferente localizada na mem- brana interna de determinadas mitocôndrias que farão com que toda a energia proveniente do fluxo de prótons seja dissipada na forma de calor sem a for- mação de ATP. Essa proteína se chama termogenina. No entanto, o composto orgânico envolvido no processo são as gorduras, pois as proteínas são, exclusivamente, encontradas em mitocôndrias do tecido adiposo marrom. A função primordial das mitocôndrias é a degra- dação de moléculas orgânica e a síntese de ATPs, transferindo a energia dos compostos orgânicos para o ATP. Nesse processo, parte da energia liberada se dissipa na forma de calor. Dessa for- ma, a degradação de alimentos, além de produzir ATP, também libera calor. 147UNIDADE 4 Destino do Piruvato na Via Anaeróbica A glicólise anaeróbica é chamada de fermentação. Em anaerobio- se, o próprio piruvato produzido pela glicólise servirá como acep- tor dos elétrons do NADH, assegurando que ocorra a restituição do NAD+ para dar continuidade ao processo de degradação de moléculas de glicose. Existem tipos diferentes de fermentações que obedecem a um padrão comum que se desenrola em primeira etapa quando a gli- cose é transformada em piruvato com produção de NADH+H+ e seguida por uma conversão de NADH+H+ a NAD+. As diferenças estão na segunda etapa da reação. Iremos apresentar, a seguir, as duas vias mais comuns: a fermentação láctica – onde o piruvato é convertido a ácido láctico (lactato) e a fermentação alcoólica – onde o piruvato é convertido em álcool etílico (etanol). Fermentação láctica Nessa modalidade de fermentação, o piruvato recebe os elétrons do NADH, reduzindo-se a lactato, conforme mostram as imagens a seguir: 2 H3C C O COO- + 2 NADH + 2H + 2 H3C C OH H COO- + 2 NADH + lactato desidrogenase LactatoPiruvato Figura 20 - Esquema da fermentação láctica Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 122). Esse processo é utilizado por diversos micro-organismos que resultam em produtos fermen- tados do leite, como iogurtes e queijos. Na espécie humana, essa via metabólica pode ser realiza- da por alguns tipos celulares, a exemplo hemáceas e músculo estriado esquelético. No caso das células muscula- res estriadas esqueléticas, quando estão em atividade metabólica in- tensa, o oxigênio trazido pela cir- culação sanguínea torna-se insufi- ciente para que o ATP necessário a esta atividade seja produzido. Como as células musculares estriadas esqueléticas armazenam glicose na forma de glicogênio muscular, a glicose está sendo disponibilizada, além da glicose trazida pela circulação, sendo a insuficiência restrita ao O2. Dessa forma, a degradaçãoanaeróbica do piruvato (fermentação láctica) garantirá a restituição do NAD+ para dar continuidade à glicólise. O ácido lático produzido pe- las células musculares estriadas esqueléticas são encaminhadas ao fígado e transformadas nova- mente em glicose. 148 Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos Fermentação alcóolica Em alguns organismos, como leveduras e algumas bactérias, a regeneração do NAD+ é feita pela fer- mentação alcoólica. Nessa via, o piruvato é descarboxilado, originando o acetaldeído, que servirá de aceptor de elétrons do NADH, reduzindo-se a etanol, como será mostrado na imagem a seguir. Esse processo é usado, por exemplo, para produção de bebidas alcoólicas fermentadas. H3C C O COO- + H+ H3C C H + NADH + H O + H3C C OH H + NAD H + H3C C O H + CO2 álcool desidrogenase piruvato descarboxilase (TPP) Piruvato Acetaldeído Ao encerrarmos esta unidade, você, caro(a) alu- no(a), desvendou alguns dos princípios funda- mentais do processo de transferência de energia entre os sistemas biológicos, que são fundamen- tais para a manutenção dos processos metabólicos das células. Toda energia que chega no planeta vem do sol e é incorporada nos seres vivos graças ao processo de fotossíntese, que converte energia luminosa e calorífera em energia de ligações químicas dos compostos orgânicos (proteínas, carboidratos e gorduras). Quando estes compostos são degradados, parte da energia é desviada para a produção de ATP e outra parte se dissipa na forma de calor. A glicose é o principal combustível para nossas células, sendo fundamental para o metabolismo, uma vez que é a única base para células nervosas. A glicose pode ser degradada por via aeróbi- ca ou anaeróbica, sendo que a via anaeróbica na espécie humana é limitada a determinados tipos celulares. A degradação aeróbica compreende eta- pas, como glicólise, formação de acetil CoA, ciclo do ácido cítrico, cadeia transportadora de elétrons e fosforilação oxidativa. Dessas etapas, apenas a glicólise ocorre no cito- plasma e todas as demais envolvem atividade mito- condrial. A degradação aeróbica de glicose somente ocorrerá na presença obrigatória de oxigênio e leva- rá à produção de 38 ATPs por molécula degradada. A degradação anaeróbica na espécie humana está limitada à fermentação láctica, e apenas alguns tipos celulares podem realizá-las, por exemplo, as células musculares estriadas esqueléticas. Essas células apenas usam a via metabólica quando o fornecimento de oxigênio for menor que a neces- sidade em produção de ATP. Na próxima unidade, desvendaremos as vias de degradação das demais moléculas e calcularemos seus rendimentos ener- géticos. Até a próxima. Figura 21 - Reações químicas da fermentação alcoólica Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p.122). 149 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. A liberação de energia a partir da quebra de moléculas de glicose compreende basicamente três fases: glicólise, ciclo de Krebs e cadeia respiratória. Sobre esse assunto, analise as afirmativas a seguir: I) Na cadeia respiratória, que ocorre nas cristas mitocondriais, o NADH e o FADH2 doam seus elétrons, que serão transportados até o átomo de oxigênio. II) A glicólise é um processo metabólico que só ocorre em condições aeróbicas, enquanto o ciclo de Krebs ocorre também nos processos anaeróbios. III) Nas células eucarióticas, a glicólise ocorre no citoplasma, enquanto o ciclo de Krebs e a cadeia respiratória ocorrem no interior das mitocôndrias. IV) No ciclo de Krebs, uma molécula de glicose é quebrada em duas moléculas de ácido pirúvico. V) A utilização de O2 se dá no citoplasma, durante a glicólise. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas III está correta. b) Apenas I e III estão corretas. c) Apenas II e IV estão corretas. d) Apenas II e III estão corretas. e) Apenas III e V estão corretas. 2. Após disputar a prova olímpica que lhe rendeu medalha de ouro nas olimpía- das Rio-2016, Usain Bolt se submeteu a um exame bioquímico para verificar a dosagem de ácido lático em sua corrente sanguínea. Foi verificado que, após o exercício, a quantidade de ácido lático estava alta em sua corrente sanguínea, isso é devido ao(a): a) Excesso de oxigênio no sangue causado pelo aumento da frequência cardíaca. b) Excesso de gás carbônico no sangue causado pela dificuldade de sua eliminação pela respiração. c) Aumento de temperatura corporal causado pelo esforço físico muscular. d) Fermentação nos músculos causado pelo aumento da demanda de energia duran- te a corrida e insuficiência no fornecimento de oxigênio pelo sistema respiratório. e) Diminuição da temperatura interna pela perda de calor durante o esforço realizado. 150 3. A mitocôndria é considerada como o centro de produção energética da célu- la, em que ocorrem as principais etapas de degradação dos alimentos para a produção de energia. Assinale a alternativa que contém uma etapa que NÃO ocorre na mitocôndria. a) Descarboxilação oxidativa. b) Ciclo de Krebs. c) Glicólise. d) Fosforilação oxidativa. 4. A glicose é a principal fonte de energia utilizada pelas células. O caminho realiza- do pela glicose, desde a sua entrada nas células até a produção de ATP, envolve uma série de reações químicas, que geram diferentes intermediários e produtos. Considere a seguinte rota metabólica. ADP ATP III Ca de ia re sp ira tó ria Cr is ta NADH2 H2 H2 O2 CO2 H2O + P Matriz Glicose Ácido pirúvico Acetil- CoA I II Hialoplasma Etapas de degradação da molécula de glicose Fonte: Djalmasantos ([2019], on-line)6. Os números I, II e III podem representar, respectivamente, os processos: a) Glicólise, Ciclo de Krebs e Fosforilação Oxidativa. b) Glicogênese, Ciclo de Calvin e Fotofosforilação. c) Glicólise, Ciclo de Pentoses e Ciclo de Krebs. d) Ciclo de Krebs, glicólise e Fosforilação Oxidativa. e) Ciclo de Krebs, Fotofosforilação e glicólise. 151 5. A glicólise é uma das etapas da respiração celular, processo responsável pela produção do ATP necessário para o organismo. A respeito da glicólise, analise as afirmativas: I) A glicólise engloba cerca de dez reações químicas diferentes, sendo dividida em fase preparatória e fase de pagamento. A fase preparatória ocorre no citoplasma e a de pagamento ocorre na matriz mitocondrial. II) Na glicólise, ocorre a quebra da glicose em duas moléculas de ácido pirúvico. III) Todas as etapas da glicólise ocorrem na matriz mitocondrial. IV) O saldo positivo de ATP no final da glicólise é de duas moléculas. V) A glicólise é uma etapa anaeróbia. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas I e III estão corretas. c) Apenas III e IV estão corretas. d) Apenas III e V estão corretas. e) Apenas II, IV e V estão corretas. 152 Lehninger: Princípios de Bioquímica Autor: David L. Nelson e Michael M. Cox Editora: Artmed Ano: 2003 Sinopse: este livro é um livro didático que apresenta os conteúdos básicos de Bioquímica. Inicia-se apresentando a estrutura básica das biomoléculas e insere um conteúdo amplo sobre metabolismo celular de todas as biomoléculas. LIVRO 153 JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J.; JORDÃO, B. Q.; ANDRADE, C. G. T. J.; YAN, C. Y. I. Biologia celular e molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica básica. São Paulo: Guanabara Koogan, 2015. NELSON, D. L.; COX, M. M.; VEIGA, A. B. G. da; CONSIGLIO, A. R.; LEHNINGER, A. L.; DALMAZ, C. Leh- ninger: princípios de bioquímica. Porto Alegre: Artmed, 2013. STRYER, L.; TYMOCZKO, J. L.; BERG, J. M. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W.; FETT NETO, A. G. Fundamentos de bioquímica. Porto Alegre: Artmed, 2014. REFERÊNCIAS ON-LINE 1 Em: https://djalmasantos.wordpress.com/2012/11/07/testes-de-bioenergetica/. Acesso em: 9 jul. 2019. 2 Em:http://www.cientic.com/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=224:obtencao-de. Acesso em: 9 jul. 2019. 3 Em: http://educacaofisicaaejs.wixsite.com/aejs/fisiologia. Acesso em: 9 jul. 2019. 4 Em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAe3r4AK/bioquimica. Acesso em: 9 jul. 2019. 5 Em: https://biosjaychemist.wordpress.com/2013/04/14/etc/. Acesso em: 9 jul. 2019. 6 Em: https://djalmasantos.files.wordpress.com/2011/02/5a.jpg. Acesso em: 20 dez. 2016. 154 1. B. 2. D. 3. C. 4. A. 5. E. 155 156 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Descrever o processo degradação de triacilgliceróis. • Relatar o processo de degradação de proteínas. • Detalhar a via de degradação dos grupo amino. • Compreender o papel do glicogênio e suas vias síntese e degradação do glicogênio. • Compreender a importância da gliconeogênese para a fisiologia do organismo. Degradação de Triacilgliceróis Degradação de Proteínas Gliconeogênese Metabolismo do Glicogênio Dra.Marcia Cristina de Souza Lara Kamei Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas Degradação de Triacilgliceróis Caro(a) aluno(a), neste módulo, daremos con- tinuidade ao estudo das vias de degradação de biomoléculas para obtenção de energia para as células. Iniciamos, no módulo anterior, os con- ceitos de fornecimento de energia para as células, com a degradação de carboidratos, por serem os elemento energéticos primordiais. No entanto, outras moléculas orgânicas são usadas para o for- necimento de energia. Neste módulo, abordaremos as vias de degra- dação de outros compostos orgânicos, calculare- mos os rendimentos energéticos e discutiremos a relação custo/benefício metabólico para que o organismo utilize estes outros combustíveis como fonte de energia. Para esta abordagem, começaremos pelas vias de degradação dos ácidos graxos, derivados de trigli- cerídeos, cuja degradação rende um número muito maior de ATPs que a degradação de glicose. Contu- do, o processo de mobilização dos triglicerídeos não facilita a utilização destas moléculas e além disso, não são todas as células que apresentam a maqui- naria enzimática para clivar os triglicerídeos. 159UNIDADE 5 Diante do exposto, sobram os aminoácidos, derivados da degradação de proteínas, para se- rem usados quando o organismo é submetido a situações de privação de carboidratos, sendo a principal fonte desses aminoácidos, proteínas que formam o tecido muscular. Em situações de escassez de carboidratos em nosso organismo, os aminoácidos, além de serem usados para fins energéticos, ainda serão mobiliza- dos para uma via de produção de glicose para manter a atividade de células nervosa, que não conseguem sobreviver sem glicose, chamada de gliconeogênese. Dentro desses conteúdos, perceberemos que as células apresentam alguns recursos metabólicos para manter constante o fornecimento de molé- culas que serão usadas para fins energético e que, sem esses recursos, as células não sobreviveriam. A mobilização dos depósitos de triacilgliceróis das células adiposas inicia-se por ação da enzima lipase. Essa enzima tem sua ativação controlada por hormônios e é chamada de lipase hormônio-sen- sível. Outras lipases dão prosseguimento ao pro- cesso, que irá clivar a molécula, liberando glicerol e ácidos graxos (MARZZOCO; TORRES, 2012). H2C + 3H2O HC H2C O O O C O O C C R R R Triacilglicerol Glicerol lipases Ácidos graxos O O O H2C HC H2C OH OH + 3R + 3HC OH + Figura 1 - Esquema da degradação de triglicerídeos para o fornecimento de ácidos graxos Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 190). O glicerol e os ácidos graxos, produzidos na reação ilustrada anteriormente, serão degradados por vias metabólicas distintas, que serão abordadas a seguir. Degradação do Glicerol O destino do glicerol é ser convertido em glicerol 3-fosfato, que será convertido em Diidroxiace- tona fosfato. Como observado na equação, este processo irá gastar uma molécula de ATP e irá transferir hi- drogênios para NAD+, resultando na formação de NADH+H+ (rende 3 ATPs na cadeia transporta- dora de elétrons). A molécula de Diidroxiacetona fosfato seguirá a via de degradação como descrito para a degradação de glicose. H2C OH HC OH H2C OH Glicerol glicerol quinase ATP ADP + H+ H2C OH HC OH H2C OH P Glicerol 3-fosfato glicerol 3-fosfato desidrogenase NAD NADH + H+ H2C OH C O H2C O Diidroxiacetona fosfato P Figura 2 - Esquema mostrando a degradação do glicerol Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 191). 160 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas Gliceraldeído 3-fosfato Gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (GAPDH) 1, 3-bisfosfoglicerato (1, 3-BPG) Fosfoglicerato cinase (PGK) 3-fosfoglicerato Fosfoglicerato mutase Enolase 2-fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato (PEP) Estágio de endimento Piruvato (forma enol) Piruvato (forma ceto) Lactato desidrogenase (LDH) L-lactato Piruvato cinase (PK) O C C CH2 O P H H OH O C C CH2 O P O H OH O C C CH2 O P O H OH P Estágio de rendimento O C C CH3 O O O C C CH2 H2O O P O H O P O C C CH3 O HO H O C C CH2 O OH O C C CH2 O O P ADP ATP ADP ATP Pi NADH NAD+ NADH NAD+ Figura 3 - Via de degradação do gliceraldeído 3-fosfato, oriundo da degradação do glicerol Fonte: Baynes e Dominiczak (2015, p. 146). O piruvato produzido pelas reações mostradas na imagem anterior será convertido em acetil CoA, que será encaminhado para o ciclo do ácido cítri- co. Todos os NADH e FADH2 serão encaminhados para cadeia transportadora de elétrons, promoven- do a fosforilação oxidativa (NELSON et al., 2013). A tabela apresentada a seguir nos resume as etapas de degradação do glicerol e o saldo de produção de NADH, FADH2 e ATPs. Tabela 1 - Resumo dos produto produzidos na etapas de degradação do glicerol Etapas NADH FADH2 ATPs/GTPs Degradação do glicerol 1 Gasta 1 Degradação de Dihidrox- iacetona fosfato 1 - 2 Formação de acetil CoA 1 - - Ciclo do ácido cítrico 3 1 1 Total 6 1 3 (-1) = 2 Fonte: a autora. Lembrando que cada NADH levará a produção de três ATPs e cada FADH2 formará dois ATPs - (6x2)+(1x2)+2= 22 ATPs são formados a partir da degradação do glicerol. Degradação dos Ácidos Graxos Como vimos, cada triglicerídeo que foi degradado liberou três ácidos graxos, que seguirá sua própria via de degradação, que veremos agora. O processo de degradação dos ácidos graxos ocorre em três etapas: ativação, transporte e beta-oxidação. Ativação A ativação consiste em converter o ácido graxo em acil-CoA. Essa etapa ocorre por ação de acil CoA sintetase que está associada na membrana externa da mitocôndria, conforme demonstrado na equação a seguir: 161UNIDADE 5 R-CH2 -CH2-COO - + ATP + H-SCoA --------> Ácido graxo coenzima A R-CH2-CH2-C-SCoA + AMP + PPi Acil CoA graxo Nesse processo, considera-se que há um gasto energético de dois ATPs, pois é quebrado duas li- gações de grupo fosfato. Essa reação ocorre quan- do o ácido graxo passa pela membrana externa da mitocôndria e acil CoA graxo está no espaço intermembranoso. Transporte O Acil coA graxo produzido na ativação será degra- dado na matriz mitocondrial, porém, a membrana interna da mitocôndria é impermeável a acil CoA graxo. Portanto, a segunda etapa é o mecanismo de transporte de acil CoA para a matriz mitocondrial. Para que isso ocorra, Acil CoA será ligada à molécula de carnitina, que estão disponíveis no espaço intermembranoso da mitocôndria. A rea- ção é catalisada pela enzima carnitina-acil-trans- ferase, que existe em duas isoformas - I e II. A sequência de eventos é a seguinte: • Na face externa de membrana interna, a carnitina-acil-transferase I transfere o grupo acila da Acil CoA para a carnitina, formando acil-carnitina. • A acil-carnitina resultante é transpor- tada por uma proteína transmembrana específica. • Na face internada membrana interna, a acil-transferase II doa o grupo acila de acil- -carnitina para uma coenzima A presente na matriz mitocondrial, formando uma nova acil-CoA e liberando a carnitina. • Carnitina retorna para o espaço inter- membranoso por meio da mesma proteína transportadora. R C O SCoA + +HO CH CH2 CH2 N(CH3)3 + COO- O CH CH2 CH2 N(CH3)3 + COO-H SCoA R C O Carnitina Acil-carnitina (a) (b) R C O SCoA 1 H Carnitina Carnitina Carnitina CarnitinaSCoA H SCoA R C O SCoA R C O R C O 3 ESPAÇO INTERMEMBRANAS MATRIZ 4 2 Figura 4 - Demonstração do mecanismo de transporte de Acil coA do espaço intermembranoso para a matriz mitocondrial Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 192). 162 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas β-oxidação - Ciclo de Lynen Na matriz mitocondrial, a acil-CoA será oxida- da por uma via chamada de β-oxidação, porque promove a oxidação do carbono β do ácido gra- xo. Essa via também é conhecida como ciclo de Lynen e consiste em uma série cíclica de quatro reações, ao final das quais a acil-CoA fica com dois carbonos a menos, liberando uma molécula de acetil CoA, FADH2 e NADH. Para ácidos graxos com número pares de car- bono, estas reações cíclicas serão realizadas até SCoA CH2 C O CH2 β α R CH2R H SCoA SCoA C C O C H H R SCoA CH2 C O C β β-Cetoacil-CoA β-hidroxiacil-CoA desidrogenase Trans-∆2-enoil-CoA L-Hidroxiacil-CoA NAD H2O enoil-CoA hidratase O α R SCoA CH3 C O SCoA C O Acil-CoA (com n carbonos) acil-CoA desidrogenase Acetil-CoA tiolase FAD FADH2 Acil-CoA (com n-2 carbonos) SCoA CH2 C O C OH H R + NADH + H+ que fiquem uma acil-CoA com quatro carbono e, dessa última sequência, já serão formadas duas moléculas de acetil CoA. Em cada sequência, dois carbonos são reti- rados, dependendo do número de carbonos que o ácido graxo possuir, serão formados números específicos de acetil-CoA, NADH e FADH2. Para ácidos graxos pares, o número de acetil CoA for- mados será a metade do número de carbonos e um a menos de NADH e FADH2. Figura 5 - Esquema da β-oxidação dos ácidos graxos (ciclo de Lynne) Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 193). 163UNIDADE 5 Todas as moléculas de acetil CoA formadas serão encaminhadas para serem degradadas no ciclo do ácido cítrico, e as moléculas de NADH e FADH2 (as produzidas na β-oxidação e no ciclo do ácido cítrico) serão processadas na cadeia transportadora de elétrons. Como exemplo, usaremos a descrição da degradação de uma molécula de 16 átomos de carbono. AcilCoA 16C AcilCoA 14C AcilCoA 12C AcilCoA 10C NADH, FADH2 e Acetil CoA NADH, FADH2 e Acetil CoA NADH, FADH2 e Acetil CoA AcilCoA 8C AcilCoA 6C AcilCoA 4C 2acetilCoA NADH, FADH2 e Acetil CoA NADH, FADH2 e Acetil CoA NADH, FADH2 e Acetil CoA NADH FADH2 Como visualizado no esquema descrito ante- riormente, essa degradação teve o seguinte saldo: 8 acetil CoA, 7 NADH, 7 FADH2. Considerando que as moléculas de acetilCoA se- rão oxidadas no ciclo do ácido cítrico, e que cada mo- lécula de acetil CoA irá produzir 3 NADH, 1FADH2 e um GTP, então, o saldo do ciclo do ácido cítrico será - 3x8 = 24 NADH + 1x8 = 8 FADH2 + 8x1= 8 GTPs. Somando todos os NADH (31) e FADH2 (15), temos que lembrar que cada NADH equivale a 3 moléculas da ATP ( 31x3=93 ATPs) e cada FADH2 equivale a 2 ATPs ( 15x2=30 ATPs) e somar os 8 GTPs que energeticamente equivale a 8 ATPS. Não podemos nos esquecer de subtrair os 2 ATPs que foram gastos na ativação. No final de todo o processo, teremos: (93+30+8) - 2 = 131-2 = 129 ATPs que serão originados na degradação de um ácido graxo com 16 carbonos. Os ácidos graxos com números ímpares de car- bono terão sua via de degradação diferente, apesar de representarem uma minoria dos carboidratos dis- poníveis na dieta. O processo de degradação começa semelhante aos ácidos graxos pares, porém, apresen- ta diferenças na última volta do ciclo de β-oxidação. A última volta do ciclo da β-oxidação se ini- cia quando o acilCoA apresentar cinco carbonos e, nessa etapa, será produzida uma acetil CoA e uma molécula de propionil CoA com os três carbonos que sobraram (em vez de duas molé- culas de acetil CoA). Essa molécula de Propionil CoA será convertida a succinil CoA com gasto de uma molécula de ATP. H C CCH3 C SCoAO H CH3 C SCoAO H CO2 COO- CCH3 C SCoAO H COO- C CH2 C SCoAO HH H2O ATP ADP + Pi Propionil-CoA L-Metilmalonil-CoA Succinil-CoA D-Metilmalonil-CoA Propionil-CoA carboxilase (Biotina) Metilmalonil-CoA mutase (B12) Metilmalonil-CoA racemase Figura 6 - Resumo da β-oxidação de um Acil coA graxo com 16 carbonos Fonte: a autora. Figura 7 - Transformação de propionil coA em succinil coA Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 195). 164 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas O Succinil CoA na reação mostrada anteriormente, seguirá a via de degradação no ciclo do ácido cítrico, produzindo 1NADH + 1FADH2 + 1GTP, conforme demonstra a imagem a seguir. H2O H2O HS-CoA COO- COO- C CH2 O CH2 COO- COO- C CH2 COO-HO- CH2 COO- COO- C CH COO-H HO CH COO- CH2 COO- HO CH COO- HC COO- CH2 COO- CH2 COO- CH2 COO- CH2 C O COO- CH2 COO- CH2 C O SCoA malato desidrogenase fumarase succinato desidrogenase succinil-CoA sintetase citrato sintase aconitase isocitrato desidrogenase α-cetoglutarato desidrogenase NAD+ NAD+ CoA NADH + H+ NADH + H+ FADH2 FAD HS-CoA NDP + PiNTP NADH + H+ NAD+ CO2 H3C C O SCoA CO2 CITRATO ISOCITRATO OXALOACETATO MALATO FUMARATO SUCCINATO SUCCINIL-CoA α-CETO- GLUTARATO Figura 8 - Ciclo do ácido cítrico mostrando a entrada de succinil CoA (seta) Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 127). A síntese de ácidos graxos ocorre no citossol, para onde deve ser transportado o acetil-CoA forma- do na mitocôndria a partir de piruvato como a membrana interna da mitocôndria é impermeável a acetil-CoA, os seus carbonos são transportados na forma de citrato. Nessa condição, o citrato não poderá ser oxidado pelo ciclo de Krebs, pois a isocitrato desidrogenase vai estar inibida, portanto será transportado para o citossol, onde é clivado em oxaloacetato e acetil-CoA. Para saber mais sobre o assunto, acesse: http://bioquimicadanutricao.blogspot.com.br/2011/07/ lipogenese-sintese-de-acidos-graxos.html. Fonte: Reis (2011, on-line)1. 165UNIDADE 5 Degradação de Proteínas As proteínas, apesar de terem fundamentalmente, função estrutural, também podem ser degrada- das para fins energéticos. Devemos considerar, também, que, como qualquer outro elemento orgânico, as proteínas não são permanentes, as- sim, pode-se dizer que elas estão em constante processo de síntese e degradação. Estima-se que, em um adulto saudável, com uma dieta adequada ocorra uma renovação de aproxi- madamente, 400 g de proteínas por dia. O conjunto de aminoácidos originados das proteínas que estão sendo degradadas não é igual àquele necessário a compor as proteínas que estão sendo sintetizadas. Cadeia carbônica Grupo amino Uréia Compostos nitrogenados não-proteicosAMINOÁCIDOS Proteínas da dieta Proteínas endógenas Figura 9 - Esquema ilustrando a degradação de proteínas endógenas e fornecidas na alimentação, fornecendo ami- noácidos para serem degradados Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 214). 166 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas Quanto aos aminoácidos exce- dentes, eles não podem ser ar- mazenados no organismo; desse modo, serão oxidados e o nitro- gênio excretado. Degradação de Aminoácidos Os aminoácidos não serão de- gradados por uma única via, pois possuem cadeias laterais com estruturas variadas. Há, en- tretanto, um padrão seguido na oxidação de todos eles. Vamos relembrar a estrutura química de um aminoácido que foi abor- dada no módulo I, observando a figura a seguir. H2N COOHC H R Figura 10 - Fórmula geral de um aminoácido Fonte: a autora. Remoção do grupo aminaInicialmente, há remoção do grupo amino e, a seguir, a oxida- ção da cadeia carbônica em ele- mentos comuns à degradação de carboidratos e lipídios. O gru- pamento amino nos mamíferos será convertido em ureia pelo fígado e excretado pelos rins. Os grupos amino da maioria dos aminoácidos é retirado por uma reação comum, que consiste na transferência deste grupo para o α-ceto- glutarato, formando glutamato, assim, a cadeia carbônica do aminoáci- do é convertida em α-cetoácido correspondente (STRYER et al., 2014). Aminoácido + α-cetoglutarato → α-cetoácido + glutamato Figura 11 - Esquema mostrando a remoção do grupo amina para a degradação de aminoácidos Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 215). Aminoácido α-Cetoácido Piridoxal-fosfato Piridoxamina-fosfato Glutamato α-Cetoglutarato NH3 R C H COO- O R C COO- + NH3 CH2 C H COO--OOC CH2 O CH2 C COO--OOC CH2 + NH3 + C H CH2HO H3C + N H O P O CH2 HO H3C + N H CH2 O P O glutamato é um reservatório temporário de grupo amino, pro- veniente de muitos aminoácidos que encaminha este grupamento para as vias que podem excretá-los. Destino do grupamento amino O glutamato formado poderá seguir dois caminhos que são desa- minação e/ou transaminação, conforme demonstra a Figura 12. Na transaminação, o grupamento amino é transferido para oxaloacetato, formando aspartato e α-cetoglutarato. Dessa forma, o aspartato é o segundo depositário do grupo amino, sendo retirado dos diversos aminoácidos que estão sendo degradados, conforme demonstra a Figura 13: 167UNIDADE 5 Já na desaminação, o glutamato libera o seu grupo amino na forma de amônia (NH3), que em pH fisiológico se converte em íon amônio (NH4 +). Essa reação utiliza NAD ou NADP como coenzima. A enzima que processa a desaminação é específica para glutamato, portanto, para disponibilizar o grupo amino de todos os outros aminoácidos, é necessário que ele esteja no glutamato. Dessa forma, no processo de degradação dos aminoácidos, depois que o grupamento amino é trans- ferido para α-cetoglutarato, pode ocorrer desaminação ou transaminação. Tanto o aspartato como o íon amônio são precursores de ureia que será excretada pelos rins. α-Cetoácido α-CetoglutaratoAminoácido α-Cetoglutarato Oxaloacetato Glutamato Aspartato NH4 T T GD + NAD (P) + H2O NAD(P)H + H + + Figura 12 - Esquema mostrando as duas vias possíveis (desa- minação e transaminação) para a degradação do grupo amino Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 217). Aspartato-aminotransferase Oxalacetato Aspartato Glutamato α-Cetoglutarato COO- COO- COO- CH2 CH2 COO- H3N CH + NAD(P) + H2O CH2 CH2 Glutamato α-Cetoglutarato + C = O + NAD(P)H + H + NH4++ Figura 13 - Esquema da via de transaminação do glutamato. Fonte: Sande (2009, on-line)2. Figura 14 - Esquema da via de desaminação do glutamato Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 216). 168 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas Eliminação do grupamento amino O grupamento amino, retirados dos aminoácidos, será eliminado do organismo e, para isto, deverá ser transformado em ureia. A ureia será sinteti- zada no fígado a partir de NH4 +, aspartato e CO2. Os dois átomos de nitrogênio são proveniente de NH4 + e aspartato, enquanto o átomo de carbono provém de CO2. Após a formação no fígado, a ureia é encaminhada aos rins para ser excretada. A síntese de ureia inicia-se na matriz mito- condrial com a formação de carmaboil-fosfato a partir de bicarbonato e amônio, consumindo duas moléculas de ATPs. As reações que seguem são chamadas de ciclo da ureia e ocorrem, parcial- mente, na matriz mitocondrial e citossol. O carmaboil-fosfato, ainda na matriz mito- condrial, condensa-se com a ornitina, originan- do citrulina, que é transportada para o citossol. No citossol, a citrulina reage com o aspartato, formando arginino-succinato, e nessa reação uma molécula de ATP é hidrolisada a AMP, o que equivale ao gasto de duas moléculas de ATPs. Arginino-succinato se decompõe em ar- ginina e fumarato. A arginina é hidrolisada produzindo ureia e regenerando a ornitina. O fumarato é degrada- do no ciclo do ácido cítrico. Essa degradação de fumarato leva à produção de uma molécula de NADH – que vai ser encaminhada à cadeia trans- portadora de elétrons e fosforilação oxidativa. Essa cadeia de fosforilação oxidativa produz três ATPs que diminuem o gasto energético da produção de ureia – este gasto é de quatro ATPs. 2 ATP H2N C O CARBAMOIL-FOSFATO MITOCÔNDRIA ORNITINA ORNITINA CITRULINA CITRULINA ASPARTATO ARGININOSSUCCINATO FUMARATO ARGININA URÉIA O P NH4 + HCO3+ - ATP AMP + PPi 2 ADP + Pi + 2H+ 1 2 5 4 3 Pi NH3 HC NH3 (CH2)3 COO- + + HN HC NH3 (CH2)3 COO- + C O NH3 H2O N H HN C CH2(CH2)3 COO- H COO-HC NH3 COO- C NH2 + + HC CH COO- COO- NH2C NH2 + HN (CH2)3 HC NH3 COO- + NH2H2N C O H3N C CH3 COO- H COO- + Figura 15 - Esquema do ciclo da ureia Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 218). 169UNIDADE 5 Aminoácidos Glutamato Aspartato Fumarato Malato Oxaloacetato NADH 3 ATP NH4 HCO3 + CICLO DA URÉIA 4 ATP 3 2 1 Figura 16 - Esquema da integração do ciclo da ureia com o ciclo do ácido cítrico (krebs) Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 219). Destino dos α-cetoácidos (cadeia carbônica) O α-cetoácido formado sempre será intermediário da via de de- gradação de glicose e/ou da degradação de ácidos graxos, ou seja: piruvato, acetil CoA ou intermediários do ciclo do ácido cítrico (oxaloacetato, α-cetoglutarato, succinil CoA e fumarato). Assim, o rendimento em números de ATPs que cada aminoácido irá formar dependerá de qual precursor seu esqueleto carbônico é convertido. O destino final dos α-cetoácidos dependerá do estado fisiológico do organismo, podendo seguir a via de degradação (fornecendo energia), serem transformados em glicose (para manutenção da glicemia – no processo de gliconeogênese, que veremos a seguir) ou convertidos a triacilglicerídeos (que serão armazenados no tecido adiposo). Os aminoácidos cujo α-cetoácidos produzem piruvato ou inter- mediários do ciclo do ácido cítrico são chamados de glicogênicos, pois são precursores de glicose. Já os aminoácidos cujo os α-cetoá- cidos são convertidos em acetil CoA e acetoacetil CoA podem ser convertidos em ácidos graxos e corpos cetônicos, sendo chamados de aminoácidos cetogênicos. Existe aminoácido que parte de suas cadeias carbônica que são glicogênica e parte cetogênicas, sendo, então, denominados de aminoácidos glicocetogênicos. 170 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas 1. Piruvato 2. Oxaloacetato 3. Fumarato 4. Succinil-CoA 5. α-Cetoglutarato 6. Acetil-CoA Piruvato Acetil-CoA Oxaloacetato Fumarato Succinil-CoA α-Cetoglutarato 1 Ala Cys Gly Ser Thr Trp 2 Asn Asp 5 Arg His Gin Glu Pro4 Ile Met Thr Val 6 Ile Leu Lys Phe Thr Trp Tyr 3 Asp Phe Tyr 1. Piruvato 2. Oxaloacetato 3. Fumarato 4. Succinil-CoA 5. α-Cetoglutarato 6. Acetil-CoA Piruvato Acetil-CoA Oxaloacetato Fumarato Succinil-CoA α-Cetoglutarato 1 Ala Cys Gly Ser Thr Trp 2 Asn Asp 5 Arg His Gin Glu Pro4 Ile Met Thr Val 6 Ile Leu Lys Phe Thr Trp Tyr 3 Asp Phe Tyr Como as possibilidades de degradação são distintas para cada aminoácido, levando a uma quanti- dade variável de moléculas de ATPs, não calcularemos o número de ATPs formados por degradação dos α-cetoácidos dos aminoácidos. Figura 17 - Esquema mostrando os destinos dos esqueletos carbônicos (α-cetoácidos) para degradação Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 221). As proteínas são elementos estruturais que formam hormônio, enzimas, anticorpos e sua degradação para fins energético não é uma atividade metabólica desejável. 171UNIDADE 5 Metabolismo do Glicogênio Já abordamos, na Unidade 1, a estrutura molecu- lar e funcional do glicogênio e sabemos que ele é um polímero de glicose, que servirá como reserva desta molécula durante os períodos de jejum. Em mamíferos e, consequentemente,na es- pécie humana, teremos armazenamento de gli- cogênio no fígado e no músculo esquelético que correspondem, em média, a 100 g no fígado e 300 g no músculo estriado esquelético. Esse glicogênio é sintetizado quando a oferta de glicose na corrente sanguínea é alta, o que ocorre normalmente após uma refeição. A degradação desses dois tipos de glicogênio atenderá necessida- des diferentes. O glicogênio hepático irá fornecer glicose para manter a glicemia durante os períodos entre as refeições e, em principal, no jejum noturno. Degradação do Glicogênio O glicogênio muscular será degradado para prover energia para a própria célula muscular. É impor- tante durante a contração intensa, quando o gasto energético ultrapassa o fornecimento de oxigênio, sendo a glicose liberada pela quebra do glicogênio, degradada anaerobicamente, produzindo lactato. 172 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas A degradação do glicogênio, que se chama glicogenólise, consiste na remoção sucessiva de resíduos de glicose, a partir das extremidades não redutoras, por ação do glicogênio fosforilase, e libera um resíduo de glicose na forma de glicose 1-fosfato. Esta, retirada do glicogênio é convertida em glicose 6-fosfato pela enzima fosfoglicomuta- se. Glicose 6-fosfato é encaminhada para a via de degradação - glicólise - estudada no Unidade 4. No fígado a glicose-6-fosfato é desfosfori- lada pela enzima glicose 6-fosfatase, liberando glicose. Como já estudado na Unidade 2, glicose poderá sair da célula, uma vez que o transporte de glicose ocorre por gradiente de concentração. Dessa forma, o glicogênio hepático libera glicose na corrente sanguínea, sendo responsável pela manutenção da glicemia. O tecido muscular estriado esquelético é des- provido de glicose 6-fosfatase, isso significa que ele não transforma a glicose 6-fosfatase em gli- cose. Glicose 6-fosfatase não é transportada por meio da membrana plasmática. Dessa forma, o glicogênio muscular não será usado para manter a glicemia. Síntese do Glicogênio A síntese do glicogênio, denominada de glico- gênese, consiste na repetida adição de unidades de glicose às extremidades não redutoras de um fragmento de glicogênio já existente. Para ser in- corporada, deve estar na forma ativada e ligada a um nucleotídeo de uracila, formando a uridina difosfato de glicose (UDP-G). SÍNTESE Glicose Glicogênio (n+1 resíduos de glicose) (n resíduos de glicose) PPi UTP UDP-Glicose Glicose 1-fosfato Glicose 6-fosfato glicogênio sintase glicose 1-fosfato uridil transferase Glicogênio ADP ATPglicoquinase fosfoglicomutase UDP DEGRADAÇÃO Glicose Glicogênio (n resíduos de glicose) (n resíduos de glicose) Pi Glicose 1-fosfato Glicose 6-fosfato glicogênio fosforilaseGlicogênio H2O Pi glicose 6-fosfatase fosfoglicomutase Figura 18 - Esquema mostrando a degradação do glicogênio para liberação de glicose Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 164). Figura 19 - Esquema da síntese de glicogênio Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 164). 173UNIDADE 5 No organismo humano, a maioria das células é capaz de suprir sua necessidade energética degra- dando os diferentes compostos orgânicos – glicose, ácidos graxos e aminoácidos. Entretanto, alguns tipos celulares utilizam, exclusivamente, glicose como fonte de energia – células nervosas, hemácias, retina. Dessa forma, o fornecimento de glicose para esses tecidos devem se manter constante. O cérebro, por exemplo, gasta diariamente 120 g de glicose. Aprendemos, no tópico de metabolismo de gli- cogênio, que existem mecanismos para armazena- mento de glicose que manterá a glicemia durante os períodos afastados das refeições–glicogênio hepá- tico. Esse mecanismo é fundamental para manter constante o fornecimento de glicose para os tecidos. Contudo, é preciso lembrar que a reserva hepáti- ca é limitada e consegue manter o fornecimento de glicose por, no máximo, oito horas de jejum. Após esse período, uma outra via chamada gliconeogê- nese é acionada. Essa via indica síntese de glicose nova, ou seja, a partir de elementos que não sejam carboidratos. A gliconeogênese não é, de forma alguma, uma via autotrófica, em que há síntese de compostos or- gânicos a partir de elementos inorgânicos. A glicose será sintetizada a partir de compostos que não são carboidratos, mas são elementos orgânicos. Gliconeogênese 174 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas Os precursores de glicose na gliconeogênese são: aminoácidos, lactato e glicerol. A Via de glico- neogênese ocorre no fígado e nos rins, sendo uma via fundamental para manter o metabolismo dos tecidos dependentes de glicose durante o jejum fisiológico, por exemplo, durante o sono (VOET et al., 2014). Os aminoácidos são os pre- cursores principais da gliconeo- gênese, uma vez que as proteínas estão em constante processo de degradação e sempre haverá ami- noácidos disponíveis. Entretanto temos que lembrar que apenas os aminoácidos glicogênicos podem ser convertidos em glicose. Vimos que os diferentes tipos de aminoácidos são transforma- dos em alanina em sua via de de- gradação. Para esses aminoácidos entrarem na via de gliconeogêne- se, a alanina será convertida em piruvato e seguirá a via oposta a glicólise, necessitando de duas moléculas de piruvato para pro- duzir uma molécula de glicose. O lactato se origina nos teci- dos musculares estriados esquelé- ticos, quando degradam a glicose anaerobicamente, portanto, terá uma contribuição significativa para a gliconeogênese em si- tuações de contração muscular intensa. O lactato também será convertido em piruvato e a via será a mesma. Serão necessários, também, dois lactatos para pro- duzir uma molécula de glicose. O glicerol deriva da degradação de triglicerídeos e tem uma participação pequena na via de gliconeogênese, sendo usado somente em períodos prolongados de jejum. O glicerol será convertido a glicerol 3-fosfato e, na sequência, será convertido a dihidroxiacetona, que seguirá a via oposta da glicólise. Serão necessários, também, duas moléculas de glicerol para produzir uma molécula de glicose. Podemos perceber, na Figura 20, que a síntese de glicose, a partir de lactato e alanina (aminoácidos), irá gastar seis moléculas de ATPs. 2 piruvatos + 6 ATPs + 6 H2O + 2 NADH-------> glicose + 6 ADPs + 6 Pi + 2NAD + 2 H 2 Lactatos + 6 ATPs + 6 H2O -------> glicose + 6 ADPs + 6 Pi + 4 H Figura 20 - Via de gliconeogênese, mostrando os precursores Fonte: Marzzoco e Torres (2015, p. 172). Alanina Glicerol Glicose Lactato Piruvato Oxaloacetato Fosfoenolpiruvato 2-Fosfoglicerato 3-Fosfoglicerato 1, 3-Bisfosfoglicerato Glicerol 3-fosfato Frutose 1, 6-bisfosfato Frutose 6-fosfato Glicose 6-fosfato Frutose 1, 6-bisfosfatase Glicose 6-fosfatase Gliceraldeído 3-fosfato Diidroxiacetona fosfato H2O Glicerol quinase Glicerol 3-fosfato Desidrogenase Pi H2O Pi ATP GTP ATP ATP 175UNIDADE 5 Enquanto a síntese de glicose a partir do glice- rol gasta apenas duas moléculas de ATPs. Chegamos ao final da unidade e também da disciplina, compreendemos as vias de degradação de vários compostos orgânicos para disponibiliza- ção de energia para as células. Essas degradações têm sua importância metabólica centrada em dois aspectos fisiológicos: economizar glicose para o tecido nervoso e fornecer precursores para a sín- tese de glicose. Analisando as vias de degradação de dife- rentes moléculas orgânicas, percebemos que estas vias apresentam reações distintas até que seus compostos sejam convertidos a Aceti CoA. A partir desse ponto, as vias metabólicas de degradação de compostos se tornam únicas, evidenciando a grande simplicidade biológica dos seres vivos. Vimos que a glicose tem um papel fundamen- tal no metabolismo energético de todas as células de nosso organismo e que células, como as nervo- sas, por exemplo, degradam apenas moléculas de glicose parafornecimento de energia. Dessa forma, o fornecimento de glicose para os tecidos nervosos deve ser constante e, para isto te- mos dois recursos metabólicos: a regulação da sín- tese e degradação de glicogênio e a gliconeogênese. O glicogênio é produzido pelas células hepá- ticas e musculares estriadas esquelética quando há um fornecimento satisfatório de glicose para o organismo. Essa molécula se constitui em uma reserva de glicose para nosso organismo. Entre- tanto, apenas o glicogênio hepático é capaz de disponibilizar glicose na corrente sanguínea. Sendo o glicogênio capaz de manter o forneci- mento de glicose por apenas algumas horas, tere- mos a capacidade metabólica de produzir glicose a partir de outro compostos orgânicos e esta via se chama gliconeogênese e é a responsável por man- ter o fornecimento de glicose quando há um jejum prolongado. Ao encerrar esta disciplina, adquiri- mos conhecimentos básico para entender o siste- ma que vamos trabalhar – o organismo humano. Esperamos que todos os conteúdos aborda- dos neste livro possam contribuir na construção de um sólido conhecimento. Abraços e sucesso. 176 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. Qual o rendimento energético derivado da oxidação do ácido graxopalmitil CoA que tem 16 átomos de carbono e nenhuma insaturação? a) 8 FADH2, 8 NADH, 7 acetil- CoA num total de 129 ATPs. b) 7 FADH2, 8 NADH, 8 acetil- CoA num total de 106 ATPs. c) 7 FADH2, 7 NADH, 8 acetil- CoA num total de 126 ATPs. d) 7 FADH2, 7 NADH, 7 acetil- CoA num total de 109 ATPs. e) 7 FADH2, 7 NADH, 8 acetil- CoA num total de 119 ATPs. 2. O ciclo da ureia transforma o grupo amino retirado dos aminoácidos e trans- forma em ureia. Para tanto, há um gasto energético. Existe uma compensação para esse gasto energético, que está relacionado com o Ciclo de ácido cítrico. Quais das seguintes afirmações é pertinente às interações entre estes dois ciclos metabólicos? a) O oxaloacetato é convertido a aspartato. b) O aspartato se combina à citrulina para produzir argininosuccinato no citossol. c) O arginiosuccinato é clivado a fumarato e arginina. d) O fumarato é um intermediário do Ciclo do ácido cítrico. e) Todas as alternativas estão corretas. 3. As reações do ciclo da ureia ocorrem em dois compartimentos celulares distintos. Que intermediário(s) do ciclo da ureia precisa(m) ser transportado(s) por meio da membrana mitocondrial interna? a) Argininosuccinato. b) Citrulina. c) Ornitina. d) Ureia. e) Aspartato. 177 4. Com relação à síntese e degradação de glicogênio, observe os itens a seguir: I) O Glicogênio é armazenado somente nas células hepáticas. II) O glicogênio é armazenado no fígado e no tecido muscular estriado esqueléti- co, porém somente o glicogênio muscular é responsável por manter a glicemia. III) O fornecedor de glicose para formação do glicogênio é glicose 1-fosfato. IV) O glicogênio hepático é o único responsável por manter a glicemia. V) A célula muscular estriada esquelética não converte a glicose 6-fosfato em glicose, portanto, a glicose não sairá da célula, sendo então usado somente pela própria célula estriada esquelética. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas a I está correta. b) Apenas as III e IV estão corretas. c) Apenas a II está correta. d) Apenas as III, IV e V estão corretas. e) Apenas a IV está correta. 178 5. Considerando o metabolismo da espécie humana, temos como via importante a gliconeogênese, que é responsável, entre outras vias, por manter a glicemia nos períodos de jejum. Observe as afirmativas sobre a via de gliconeogênese: I) É a síntese de glicose a partir de precursores não glicídicos. A gliconeogênese fornece uma porção substancial da glicose produzida em seres humanos em jejum, mesmo algumas horas após a alimentação. Ocorre no fígado e em menor grau no córtex renal. II) Os precursores não glicídicos, que podem ser convertidos em glicose, são: lactato - resultante de degradação anaeróbica de glicose; alanina - resultante dos grupos amino quando da degradação de aminoácidos; e glicerol - resul- tante da degradação de triglicerídeos. III) A gliconeogênese é uma via metabólica que não demanda gasto energético. IV) A gliconeogênese a partir de lactato, glicerol e alanina gastam duas moléculas de ATPs. V) O lactato é o principal precursor da gliconeogênese, pois o músculo estriado esquelético produz lactato continuamente. Com base nas afirmativas apresentadas, assinale a alternativa correta. a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas IV e V estão corretas. c) Apenas III está correta. d) Apenas IV está correta. e) Apenas III e IV estão corretas. 179 Regulação do metabolismo de glicose e ácido graxo no músculo esquelético durante exercício físico O ciclo glicose-ácido graxo explica a preferência do tecido muscular pelos ácidos graxos durante atividade moderada de longa duração. Em contraste, durante o exercício de alta intensidade, há aumento na disponibilidade e na taxa de oxi- dação de glicose. A produção de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs) durante a atividade muscular sugere que o balanço redox intracelular é importante na regulação do metabolismo de lipídios/carboidratos. Para acessar, use seu leitor de QR Code. WEB https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/925 180 BAYNES, J. W.; DOMINICZAK, M. H. Bioquímica Médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. MARZZOCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica básica. 4. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2015. NELSON, D. L.; COX, M. M.; VEIGA, A. B. G. da; CONSIGLIO, A. R.; LEHNINGER, A. L.; DALMAZ, C. Leh- ninger: princípios de bioquímica. Porto Alegre: Artmed, 2013. STRYER, L.; TYMOCZKO, J. L.; BERG, J. M. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. VOET, D.; VOET, J. G.; PRATT, C. W.; FETT NETO, A. G. Fundamentos de bioquímica. Porto Alegre: Artmed, 2014. REFERÊNCIAS ON-LINE 1 Em: http://bioquimicadanutricao.blogspot.com.br/2011/07/lipogenese-sintese-de-acidos-graxos.html. Acesso em: 10 jul. 2019. 2 Em: http://okulilonguisa.blogspot.com.br/2009/08/metabolismo-geral-dos-aminoacidos-1.html. Acesso em: 10 jul. 2019. 181 1. C. 2. D. 3. B. 4. D. 5. A. 182 183 184 Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas CONCLUSÃO Chegamos ao final da nossa disciplina tendo uma visão geral da estrutura e das atividades metabólicas de nossas células, que é a unidade morfológica e funcional dos seres vivos. Verificamos que, em termos de constituição bio- química, existe uma grande simplicidade nos seres vivos. Somos formados de moléculas orgânicas e inorgânicas. Nossas moléculas orgânicas são classi- ficadas de acordo com sua constituição em proteínas, carboidratos, lipídios, ácidos nucleicos e vitaminas. Nossas células seguem um padrão básico de estrutura e são chamadas de células eucariontes. Esse tipo celular está presente em todos os seres vivos, excetos em bactérias, que são formadas por células procariontes. Células eu- cariontes apresentam organelas compartimentalizadas, sendo cada uma res- ponsável por algumas atividades metabólicas. As células do nosso organismo são heterotróficas, ou seja, obtêm sua ener- gia degradando os compostos orgânicos, que armazenam energia em suas li- gações químicas. Para tanto, estas moléculas serão degradadas a CO2 e H2O e a energia será liberada e transferida para a molécula de ATP (Adenosina trifosfato) Cada composto orgânico possue uma via de degradação específica que o transformará em acetil CoA. Depois que a molécula é convertida em acetil CoA, a via será a mesma para todos os compostos. Essa via é o ciclo do ácido cítrico, a cadeia transportadora de elétrons e a fosforilação oxidativa. Como a glicose tem um papel central na obtenção de energia para nosso organismo, temos, no metabolismo, alguns recursos para disponibilizar glico- se, como o armazenamento de glicogênio e a gliconeogênese que foram abor- dados ao longos das unidades deste livro.Como podemos perceber, com a exposição dos conteúdos abordados nes- ta disciplina, a célula é um magnífico sistema de manutenção da vida. Espera- mos que estes conhecimentos tenham auxiliado nos seus estudos. Sucesso! AVA_Capa_Biologia e Bioquímica Humana_2019.pdf AVA_Biologia e Bioquímica Humana.pdf AVA_Biologia e Bioquímica Humana Caracterização Bioquímica das Células Estrutura e Funções das Organelas Celulares da Célula Eucarionte Movimento e Proliferação Celular Disponibilização de Energia para a Célula - Degradação de Carboidratos Transformação e Armazenamento de Energia: Degradação de Lipídios e Proteínas Citoplasma de uma célula eucarionte Botão 1: