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GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ CAMILO Sobreira de SANTANA GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL - SSPDS SANDRO Luciano CARON de Moraes - DPF SECRETÁRIO DA SSPDS ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA DO CEARÁ – AESP|CE Antônio CLAIRTON Alves de Abreu – CEL PM DIRETOR-GERAL DA AESP|CE NARTAN da Costa Andrade - DPC DIRETOR DE PLANEJAMENTO E GESTÃO INTERNA DA AESP|CE HUMBERTO Rodrigues Dias – CEL BM COORDENADOR DE ENSINO E INSTRUÇÃO DA AESP|CE José ROBERTO de Moura Correia – TC PM COORDENADOR ACADÊMICO PEDAGÓGICO DA AESP|CE Francisca ADEIRLA Freitas da Silva – CAP PM SECRETÁRIA ACADÊMICA DA AESP|CE Alana Dutra do Carmo ORIENTADORA DA CÉLULA DE ENSINO A DISTÂNCIA DA AESP|CE CURSO DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA FRENTE A GRUPOS VULNERÁVEIS - 2021 DISCIPLINA Conceituando Grupos Vulneráveis e Apresentando a Legislação Vigente CONTEUDISTA Talita Jéssica do Nascimento de Araújo FORMATAÇÃO JOELSON Pimentel da Silva – 2º SGT PM • 2021 • SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1 1. MULHERES ..................................................................................................................... 3 1.1 Violência Contra as Mulheres .................................................................................... 5 1.2 Legislação .................................................................................................................. 6 2. CRIANÇAS E ADOLESCENTES ......................................................................................... 10 2.1 Legislação ................................................................................................................ 11 3. IGUALDADE RACIAL ...................................................................................................... 13 3.1 Legislação ................................................................................................................ 16 4. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PcD) ................................................................................ 20 4.1 Legislação ................................................................................................................ 23 5. LGBTQIA+ ..................................................................................................................... 26 5.1 Sexo Biológico, Gênero e Sexualidade ...................................................................... 28 5.2 A Sigla LGBTQIA+ ...................................................................................................... 31 5.3 Legislação ................................................................................................................ 32 6. IDOSOS ......................................................................................................................... 35 6.1 Legislação ................................................................................................................ 36 7. PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA ................................................................................... 39 7.1 Legislação ................................................................................................................ 41 8. POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS ...................................................................... 43 8.1 Legislação ................................................................................................................ 45 9. REFUGIADOS E MIGRANTES ......................................................................................... 49 9.1 Legislação ................................................................................................................ 53 10. GRUPOS RELIGIOSOS .................................................................................................. 55 10.1 Legislação .............................................................................................................. 58 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 60 1 INTRODUÇÃO A internacionalização da proteção dos direitos humanos teve início após a Segunda Guerra Mundial, diante das atrocidades cometidas contra a humanidade nesse conflito. No âmbito da criação da Organização das Nações Unidas (ONU), essa temática alcança expressivo destaque. A Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH (ONU, 1948)1, significou um divisor de águas na história da efetivação dos direitos e das garantias fundamentais da pessoa humana, porque a partir dela estabeleceu-se a concepção dos direitos humanos sob o enfoque da especialização dos direitos e dos sujeitos a que se destinam: [...] o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948). Além disso, a Constituição Federal de 1988, considerada um avanço para a área de direitos humanos, prevê, em seu art. 5º, caput, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Assim, levando em consideração o que é previsto pela DUDH e pela Constituição Cidadã, ambas afirmando que todos são iguais perante a Lei, podemos nos questionar sobre o porquê da criação de leis especiais para a proteção de certos grupos. Para elucidarmos esse ponto, faz-se necessário trazer luz ao conceito de vulnerabilidade. No que concerne aos direitos humanos, podemos compreender que a vulnerabilidade atinge indivíduos que não são plenamente reconhecidos como sujeito de direitos, isto é, não encontram amparo suficiente na legislação vigente, ou, se o amparo legal existe, não é implementado de modo eficaz. Portanto, é fundamental identificar que certos grupos e indivíduos, embora tenham direitos garantidos em alguns ordenamentos jurídicos, na constituição, leis, decretos, estatutos etc. nem sempre possuem os ativos necessários para exercê-los de fato. 1 Vale ressaltar que as Convenções Internacionais são normas que, quando assinadas pelos países, geram responsabilidades dos Estados e cidadãos em cumprirem o que elas determinam, sob pena de terem recomendações do organismo internacional que as elaborou, o que gera constrangimentos públicos internacionais. 2 É importante salientar que, quando usamos, no presente material, o termo grupos vulneráveis, nos referimos a indivíduos que, em virtude de fatores individuais2 e de fatores circunstanciais3 são vulnerabilizados. Principais características de grupos vulneráveis4 a) se apresentam, por vezes, como grande contingente, sendo exemplo disso, as mulheres, as crianças e os idosos; b) são, em grupo, destituídos de poder; c) nem sempre têm consciência de que estão sendo vítimas de discriminação e desrespeito; d) não sabem que têm direitos ou como garanti-los. Dessa forma, a partir da verificação da existência de grupos que, apesar da legislação vigente ou, na ausência de legislação que atue em seu amparo, emerge a discussão a respeito da equidade. De forma simples, a equidade pode ser compreendida como igualdade de oportunidades, e não somente igualdade perante a lei. Lima e Rodríguez (2008, p. 10) salientam que o conceito de equidade necessita ser esclarecido, pois “a aplicação prática de ‘tratar de forma igual os desiguais’ produz resultados diferentes de ‘tratar de forma desigual os desiguais”, sendo que essa última forma é que caracterizaria a equidade. Com efeito, entende-se que o sentido da equidade diz respeito à promoção de justiça social, por meio do tratamento diferenciado dos sujeitos, na buscapela igualdade de resultados. Nesse sentido, é importante que o Estado preveja ações afirmativas5, que visem a garantia de direitos plenos para esses sujeitos em situação peculiar, em busca da correção de uma situação de discriminação e desigualdade em que se encontram determinados grupos sociais. 2 Estes podem ser relacionados à raça, sexo, faixa etária, gênero, orientação sexual, religião, condição de moradia, condição migratória, condições físicas ou psíquicas, uso de drogas lícitas ou ilícitas etc. Nada disso, isoladamente, torna uma pessoa vulnerável. 3 Estes estão relacionados ao ambiente, ou seja, com a forma com a qual determinados indivíduos e instituições tratam pessoas com fatores individuais específicos. Isso inclui também as instituições públicas e seus agentes. 4 Adaptado da análise de Séguin (2002). 5 Podemos conceituá-las como políticas públicas implementadas, visando a correção de desigualdades presentes na sociedade. 3 Figura 1: Quatro ilustrações sobre desigualdade, igualdade, equidade e justiça Fonte: TONY RUTH Feito este prelúdio, partiremos agora para a análise e conceituação dos diversos grupos de indivíduos, que, na sociedade, apresentam algum tipo de vulnerabilidade e/ou violação de direitos, bem como trataremos da legislação vigente, que objetiva a proteção desses grupos. Daremos início, estudando a condição das mulheres. 1. MULHERES Durante considerável período prevaleceu, na maior parte das sociedades, a ideia de que as diferenças entre os corpos e as aptidões femininas para o cuidado eram naturais e, portanto, imutáveis. Nesta equação, acreditava-se que os homens teriam mais facilidade em lidar com o trabalho remunerado, em administrar o salário do mês e assumir cargos de chefia. Esse discurso foi utilizado, exaustivamente, para justificar a subordinação feminina e as relações desiguais entre mulheres e homens. A partir dos estudos de gênero, iniciados em meados das décadas de 1960 e 1970, essa discussão ganhou corpo. A desigualdade entre os gêneros – feminino e masculino – começou a ser questionada, mostrando que o “jeito de ser homem” e o “jeito de ser mulher” são modelos aprendidos ao longo da vida e que, portanto, podem se alterar em diferentes contextos históricos, culturais e sociais. Quando falamos de gênero, nos referimos à maneira como nossas identidades enquanto mulheres e homens são socialmente produzidos e vivenciados. Em outros termos, nosso gênero diz respeito às formas como somos educadas/os, como nos comportamos e agimos, tornando-nos 4 mulheres e homens; refere-se também à forma como estes papéis e modelos, usualmente estereotipados, são internalizados, pensados e reforçados por todas as pessoas, diariamente. No Brasil, a luta por igualdade de gênero se consubstancializa nos movimentos de mulheres, que ganharam o palco da cena política na década de 1980. Composto por representantes de distintas classes sociais caracterizava-se, de um lado, por parcelas das camadas médias urbanas, com a bandeira feminista. De outro, por parcelas das camadas populares com reivindicações baseadas no cotidiano de reprodução da vida, como infraestrutura básica. Com a visibilidade conquistada no pós-ditadura militar, o movimento de mulheres fortaleceu suas pautas, trazendo para o debate público, as questões da vida privada, dentre elas, a violência doméstica (GONÇALVES e ABREU, 2018). Assista ao vídeo “Feminismo no Brasil” (YOUTUBE - GNT, 2019)”, que trata sobre o histórico do movimento de luta por igualdade de gênero no país. (Foto: divulgação) A título mundial, destaca-se a realização da IV Conferência Mundial sobre as Mulheres, em 1995, na cidade de Beijing, China. O encontro representou um marco para a promoção da agenda da igualdade de gênero e dele derivou um acordo internacional cujo objetivo é promover a igualdade e eliminar a discriminação contra as mulheres. Uma das doze áreas definidas como prioritárias pela Plataforma de Beijing, visando a superação das desigualdades de gênero é o enfrentamento da violência contra as mulheres. No tópico a seguir, trataremos desse tipo específico de violência e da legislação de prevenção e combate, que está vigente no Brasil atualmente. https://youtu.be/otBS-EMOc90 5 Figura 2: Sessão plenária da IV Conferência Mundial da Mulher (Beijing – China) Fonte: ONU Mulheres Diversos estudos têm demonstrado o quanto, de fato, os valores culturais machistas e patriarcais, os quais ainda são estruturantes em nossa sociedade, estão associados à grave recorrência das violências cometidas contra as mulheres e às sérias desigualdades de poder e de direitos (ainda) enfrentados por elas em nossa sociedade (CHAUÍ, 2003; DINIZ, ANGELIM, 2003; MACHADO, 2000; SAFFIOTI, 1999). Dada a premência dessa problemática, no tópico a seguir trataremos, especificamente, sobre a violência contra a mulher, evidenciado o contexto brasileiro e a legislação que visa mitigar essa questão. 1.1 Violência Contra as Mulheres A violência contra as mulheres é compreendida como um dos principais obstáculos para a garantia dos direitos humanos e das liberdades fundamentais de mulheres e de meninas. Esse tipo de violência, seja ela física, sexual ou psicológica, afeta diretamente os direitos da população feminina tendo um impacto extremamente negativo em suas vidas; tais consequências prejudicam a participação das mulheres na sociedade, de modo que esses efeitos negativos se estendem às suas famílias e até países (ONU MULHERES, 2016). De sobremaneira, é importante salientar que a violência contra a mulher se difere de outros atos de violência, pois é baseada em uma histórica relação de desigualdade de poder entre os gêneros, o que nutriu a discriminação e a dominação das mulheres por parte dos homens. O reconhecimento desse tipo de violência, formalizada pela inserção na agenda política, se deu com ampla mobilização de mulheres associada a uma conjuntara política convergente à valorização da participação popular. 6 Figura 3: Manifestação de mulheres contra o estupro Fonte: George Campos – USP Imagens No Brasil, uma das primeiras, e principais, pesquisas que denunciaram a gravidade das violências sofridas pelas mulheres revelou que 43% delas já haviam sofrido algum tipo de violência sexista, sendo em 70% dos casos perpetradas por parceiros ou ex- parceiros conjugais (FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 2001). Conclusão alarmante da referida pesquisa é a estimativa de que a cada 15 segundos uma mulher é espancada no Brasil. Após 10 anos, tal pesquisa foi realizada novamente e com uma maior amplitude. Os resultados dela se revelaram muito próximos à anterior quanto ao número de mulheres que já haviam sofrido violências cometidas por homens (em 2001, 43% das entrevistadas e em 2010, 35%) e ao fato de o principal perpetrador de tais violências ser o parceiro conjugal (atual ou e), totalizando 80% dos casos, se excetuadas as situações de assédio e violência sexual (FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO, 2010). 1.2 Legislação Com o intuito de mitigar as inúmeras formas de violências sofridas por mulheres ao redor do mundo, verifica-se a existência de vastos dispositivos legais, que visam tanto a responsabilização dos agressores e sua, consequente, conscientização e educação em relação às mulheres. Das normatizações que foram sendo elaboradas, cita-se em destaque o Sistema Especial de Proteção dos Direitos da Mulher, composto por alguns dos mais relevantes instrumentos voltados à proteção dos direitos humanos da mulher na ordem jurídica internacional, das quais o Brasil é signatário. São elas: A Convenção relativa à Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 7 contra a Mulher CEDAW (ONU, 1979); A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir eErradicar a Violência contra a Mulher, conhecida como Convenção de Belém do Pará (1994)6 (OEA, 1994) e Plataforma de Beijing, ratificada na IV Conferência Mundial da Mulher. No contexto brasileiro, tem-se como um marco a promulgação, em 2006, da Lei nº 11.340, pelo Congresso Nacional. A Lei nº 11.340, conhecida como Maria da Penha, foi um passo importante para o enfrentamento das diferentes faces da violência contra as mulheres brasileiras. A partir da sanção da Lei Maria da Penha, a violência contra a mulher é tipificada como crime e estes passam a ser julgados nos Juizados Especializados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, instrumentos criados a partir dessa legislação, ou, enquanto esses não existirem, nas Varas Criminais. A Lei Maria da Penha proíbe que casos de violência doméstica e familiar contra as mulheres sejam julgados nos Juizados Especiais Criminais, junto com crimes de menor “importância”, como era feito antes da sua publicação. Dentre as conquistas da Lei Maria da Penha, vale citar: a tipificação da violência doméstica, que pode ser física, sexual, patrimonial, psicológica e moral; a proibição da aplicação de penas pecuniárias aos agressores e o aumento da pena imputada ao agressor, que, anteriormente, era de até um ano, passou a ser de até três anos; e determinação de encaminhamentos das mulheres em situação de violência e, seus dependentes, a programas e serviços de proteção e de assistência social. PRINCIPAIS LEIS E DECRETOS CONTRA A VIOLÊNCIA DE GÊNERO Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340-07/08/2006); Convenção relativa à Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (1979); Protocolo de emenda da Convenção para repressão do tráfico de mulheres e crianças (1921) e Convenção para repressão do tráfico de mulheres maiores (1933) 9D.L.8-01/02/1950); Artigo 249 do Código de Processo Penal-CPP. 6 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1996/d1973.htm 8 O avanço das políticas para as mulheres culminou no texto final da Política Nacional que previu o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres7, onde constam as ações a serem desenvolvidas a partir da responsabilidade compartilhada entre os três entes federativos, organizações não governamentais e sociedade civil (BRASIL, 2011). O Pacto parte da compreensão de que: A violência contra a mulher é um fenômeno relacional e social, que se dá na violação dos corpos e da saúde psicológica das mulheres. Logo, seu enfrentamento, requer a atuação do Estado e da sociedade na promoção de mudanças culturais, educativas e sociais, e é isto que o Pacto Nacional pretende (BRASIL, 2011, p.20). Dessa forma, cabe aos profissionais de segurança pública, em conjunto com a sociedade e o Estado, a responsabilidade de tornar real a proteção especial assegurada no mandamento legal. Nesse sentido, Freitas (2017) ressalta, especificamente, o papel da Polícia Militar no adequado atendimento às mulheres vítimas de violência: A Polícia Militar tem um papel fundamental nesse processo de aperfeiçoamento estatal. Os direitos que protegem a mulher imperam sobre essa instituição policial militar a adoção de estratégias diferenciadas que se apresente como um sobrepeso capaz de equilibrar a relação historicamente desigual entre os gêneros masculino e feminino. Se os direitos mudaram, os serviços de segurança pública oferecidos pela Polícia Militar precisam se adequar a essa nova realidade de proteção integrada que apontam para uma atuação que supera o conceito de que polícia eficiente é a polícia que prende. Polícia eficaz é a polícia que se reinventa para atender o cidadão na exata medida de sua necessidade (FREITAS, 2017, p. 41). Finalmente, é importante salientar que falar abertamente sobre as violências sofridas e procurar ajuda pode ser muito difícil para as mulheres. Algumas temem a vingança de seus parceiros. Outras podem se sentir obrigadas a permanecer em um relacionamento abusivo se forem casadas e/ou se houver crianças envolvidas. Para algumas mulheres, as consequências econômicas de abandonar um parceiro íntimo masculino podem pesar mais que o sofrimento emocional e físico. Existem, ainda, vários fatores que podem influenciar a reação de uma mulher à violência. Portanto, é 7 Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/pacto-nacional-pelo-enfrentamento-a-violencia- contra-as-mulheres 9 importante não julgar as mulheres que não abandonam relacionamentos em que sofrem violência, mas, na medida da incumbência do profissional de segurança pública, dispor de mecanismos de atenção e ajuda às vítimas de qualquer tipo de violência. MATERIAL COMPLEMENTAR Protocolo latino-americano de investigação das mortes violentas de mulheres por razões de gênero (feminicídio): <encurtador.com.br/não julgar > Diretrizes Nacionais Feminicídio: < encurtador.com.br/capuz> TIPOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER Violência doméstica – é uma forma de violência entre pessoas que coabitam um determinado espaço. É, também, um abuso físico ou psicológico de um membro de um núcleo familiar em relação a outro, com o objetivo de manter poder ou controle. Esse abuso pode acontecer por meio de ações ou de omissões. A maioria das vítimas desse crime são mulheres. Violência física – qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal. Violência psicológica – entendida como qualquer conduta que cause danos emocionais e diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação. Violência patrimonial – entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer necessidades. Violência moral – entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Violência sexual – qualquer ato sexual não desejado ou a tentativa de obtê-lo por meio da intimidação psicológica ou emocional. De acordo com esta lei, considera-se uma violência sexual contra uma mulher qualquer conduta que: - a constranja a presenciar, a 10 manter ou a participar de relação sexual não desejada; - a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade; - a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; - limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e direitos reprodutivos. Fonte: Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 18/08/2021. 2. CRIANÇAS E ADOLESCENTES A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que a adolescência vai dos dez aos 20 anos incompletos; entretanto, para o Brasil essa fase vai dos 12 aos 18 (BRASIL, 1990). Desse modo, não há consenso quanto à faixa etária exata que determina um grau de desenvolvimento completo para o desempenho das atividades referentes à infância e adolescência. A condição de vulnerabilidade desse grupo remete à ideia de fragilidade e de dependência, que se conecta à situação de crianças e adolescentes, principalmente os de menor nível socioeconômico. Devido à fragilidade e dependênciados adultos, esse público torna-se muito submisso ao ambiente físico e social em que se encontra. Fonseca (2013) diagnostica que, no Brasil, as principais vulnerabilidades a que as crianças e adolescentes são acometidas têm relação aos riscos inerentes aos problemas relacionados ao alcoolismo e aos conflitos entre casais, que tornam esse grupo testemunhas de agressões e de toda forma de violência. Além destes, há os riscos relacionados ao lugar de moradia, os quais incluem a precariedade da oferta de instituições e de serviços públicos, a falta de disponibilidade dos espaços destinados ao lazer, as relações de vizinhança e a proximidade da localização dos pontos de venda controlados pelo tráfico de drogas. São destacados, ainda, os riscos do trabalho infantil e o da exploração da prostituição de crianças. De forma geral, as vulnerabilidades das crianças, adolescentes e de suas famílias manifestam-se em violência cotidiana no contexto familiar e escolar. A falta de oferta de uma educação de qualidade, os baixos salários e o desemprego afetam também a trajetória de vida desses brasileiros, obrigando-os a se inserirem precocemente no 11 mercado de trabalho e/ou no tráfico de drogas. 2.1 Legislação Dos mecanismos desenvolvidos para a intervenção nos fatores de risco na infância e adolescência, ressalta-se a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA foi sancionado, no Brasil, em 13 de Julho de 1990, pela Lei nº 8.069, a qual se baseia na proteção integral das crianças e adolescentes, garantindo-lhes o direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio, harmonioso e em condições dignas de existência. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude (BRASIL, 1990, art. 4°). O ECA, de forma muito evidente, tem inspiração em diversos tratados internacionais, como é o caso com a Convenção das Nações Unidas para os Direitos da Criança, de 1989, ratificada pelo Brasil em setembro de 1990. A Convenção traz relevantes obrigações aos Estados signatários, especialmente no que se refere à adequação da legislação interna, criação de políticas públicas e de instituições capazes de garantir os direitos da criança e dos adolescentes na prática. Além da Convenção das Nações Unidas para os Direitos da Criança, compõem os tratados internacionais de proteção à criança, no âmbito da ONU, a Convenção 182 relativa às Piores Formas de Trabalho Infantil (1999)8; a Convenção Relativa à Adoção 8 No Brasil, o Decreto nº 10.088, de 5 de novembro de 2019, dispunha sobre a promulgação de convenções e recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), tendo sido revogado pelo Decreto nº 10.088, de 2019, disponível em: encurtador.com.br/aekIN. 12 Internacional (1995)9 e dois Protocolos Facultativos à Convenção dos Direitos da Criança, um relativo à Participação de Crianças em Conflitos Armados10 (2000) e outro sobre Tráfico de Crianças e Prostituição Infantil11 (2004). Na ilustração abaixo, vemos a evolução da luta pelos direitos das crianças e dos adolescentes, no Brasil, até a promulgação do ECA: Figura 4: Linha do tempo dos direitos das crianças e dos adolescentes Fonte: Portal Brasil de Fato A respeito da ação do agente de segurança pública, frente às crianças e aos adolescentes, Freitas (2018) entende que a condição de proteção integral desse grupo faz recair sobre os agentes de segurança a indispensável distinção de emprego das técnicas policiais. O autor ressalta a condição do profissional de segurança pública como 9 Regulamentada, no Brasil, pelo Decreto nº 3.087, de 21 de junho de 1999, disponível em: encurtador.com.br/ewNVZ. 10 Promulgada, no Brasil, pelo Decreto nº 5.006, de 8 de março de 2004, disponível em: encurtador.com.br/mPTZ7 11 Promulgada, no Brasil, pelo Decreto nº 5.007, de 8 de março de 2004, disponível em: encurtador.com.br/bixRZ 13 garantidor dos direitos estabelecidos pelo ECA, não cabendo a esse agente, nenhuma outra postura diversa daquela imposta pela Lei Especial, a exemplo do art. 178 da Lei 8069/90: O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. Portanto, o agente de segurança pública, ao exercer a sua atividade profissional, deverá proceder de forma inexoravelmente alinhada à proteção integral das crianças e dos adolescentes, assegurando a igualdade material desse público, em superação ao contexto que os torna vulneráveis. MATERIAL COMPLEMENTAR Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado e Interpretado: <encurtador.com.br/ktAQ5>; Carreto (2009) - curta-metragem aborda a questão do trabalho infantil no Brasil: https://youtu.be/B6Pca80uALs; Estatuto da Criança e do Adolescente - um avanço legal a ser descoberto: https://crianca.mppr.mp.br/pagina-2173.html. 3. IGUALDADE RACIAL Reconhecemos que racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata, quando equivalem a racismo e discriminação racial, constituem graves violações de todos os direitos humanos e obstáculos ao pleno gozo destes direitos, e negam a verdade patente de que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, constituem um obstáculo para relações amistosas e pacíficas entre povos e nações, e figuram entre as causas básicas de muitos conflitos internos e internacionais, incluindo conflitos armados e o consequente deslocamento forçado das populações (Declaração de Durban - ONU, 2001). https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/caopca/eca_anotado_2017_7ed_fempar.pdf https://youtu.be/B6Pca80uALs https://crianca.mppr.mp.br/pagina-2173.html 14 Em 2018, completou-se 130 anos da Abolição da Escravatura no Brasil e 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ambos marcos na aquisição de direitos da população negra brasileira. No entanto, a condição de vulnerabilidade a que este grupo foi submetido, durante centenas de anos, não foi completamente superada, tendo consequências consideráveis mesmo ano depois de mais de uma centena de anos decorridos desde a promulgação da Lei Áurea. Pode-se conceituar o racismo, a partir da interpretação de Brasil (2018), como um conjunto de ideias, pensamentos e ações, que parte do pressuposto da existência de diferenças de raças entre superiores e inferiores. Os atos racistas consistem em atitudes depreciativas e discriminatórias em relação a um grupo racial ou étnico a partir de suas características físicas ou biológicas. Não raramente, o racismo está presente de forma sorrateira na sociedade, de modo encoberto e, muitas vezes, contestado em sua existência. A discriminação racial ou étnico-racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento,gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada (BRASIL, 2010). Em nosso país, percebe-se que e o racismo possui uma especificidade, operando, comumente, mas não exclusivamente, de forma velada devido à naturalização da discriminação, que acompanha as relações sociais mais cotidianas e contribuem para esse silêncio. Essa característica faz com que o próprio racista não se reconheça como tal, e com isso leva a uma distorção de seus atos, justificando-os como um mal entendido, uma piada ou uma brincadeira de mau gosto. O racismo não se revela apenas em atos encarados como explícitos, mas também em atitudes sutis, por meio de palavras, atos de fala, padrões estéticos, representações de sucesso, entre outras formas de interação social, que desprestigiam a cultura e os modos de ser de determinados grupos populacionais em favor de outros, que detém poder político e econômico. Exemplo disso são o uso de palavras e expressões racistas, como “cabelo ruim”, “denegrir”, “hoje é dia de branco”, “cor do pecado”, “samba do criolo doido”, “a coisa tá preta”, “isso é coisa de preto”. Todos estes são termos que atribuem às pessoas negras características depreciativas, como algo ruim ou de menor valor, e estão 15 extremamente internalizadas nos usos e costumes cotidianos. Essas maneiras de se expressar, quando são naturalizadas, contribuem para a perpetuação do racismo e da discriminação. Tendo em vista que um dos principais motores de propagação do racismo é considerá-lo como natural, toma-se como importante avanço, com vistas à superação desta questão, a compreensão por parte Estado Brasileiro sobre a condição de vulnerabilidade social a que os povos afrodescendentes estão submetidos. A desigualdade se abate de maneira proeminente sobre uma grande parcela da população negra no Brasil, que se desdobram pelos “tentáculos do racismo”, em que os jovens negros da periferia são os mais afetados com os baixos índices de escolaridade, desemprego e violência. Os dados apresentados a seguir elucidam de forma evidente essa situação. Assista ao vídeo “O que é racismo estrutural?” (YOUTUBE – Tv Boitempo, 2019)”, em que filósofo do direito e presidente do Instituto Luiz Gama, Silvio Almeida, destrincha didaticamente o conceito de racismo. (Foto: divulgação) O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ) é um indicador, desenvolvido pela pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBPS) em parceria com a Secretaria Nacional de Juventude, a pedido da Unesco. O indicador agrega dados relativos às dimensões consideradas chave na determinação da vulnerabilidade dos jovens à violência. A edição de 2017 tem como referência os dados de 2015 e abrange a população brasileira de 15 a 29 anos, a partir dos dados de frequência escolar, escolaridade, inserção no mercado de trabalho e mortalidade por homicídio. O IVJ de 2017 mostra que um jovem negro tem 2,7 vezes mais chances de ser assassinado do que um jovem branco (BRASIL, 2017). 16 Na mesma pesquisa, foi constatado que, em quase todas as Unidades da Federação, as jovens negras com idade entre 15 e 29 anos apresentavam maior risco de exposição à violência que as jovens brancas na mesma faixa etária. O risco relativo de uma jovem negra ser vítima de homicídio era 2,19 vezes maior do que uma jovem branca. De acordo com o Atlas da Violência, edição de 2020, o Brasil alcançou a taxa de 27,8 homicídios por 100 mil habitantes, chegando a 57.956 homicídios registrados em 201812, pelo Sistema de informação de Mortalidade/SIM do Ministério da Saúde. Em 2018, os negros13 representaram 75,7% das vítimas de homicídios, com uma taxa de homicídios por 100 mil habitantes de 37,8. Comparativamente, entre os não negros14, a taxa foi de 13,9, o que significa que, para cada indivíduo não negro morto em 2018, 2,7 negros foram mortos. Da mesma forma, as mulheres negras representaram 68% do total das mulheres assassinadas no Brasil, com uma taxa de mortalidade por 100 mil habitantes de 5,2, quase o dobro quando comparada à das mulheres não negras (BRASIL, 2020). A seguir, trataremos da legislação, nacional e internacional, que visa instituir a igualdade racial e mitigar o racismo, que, como depreende-se das estatísticas relatadas acima, vitimiza de forma alarmante a população negra do Brasil. 3.1 Legislação A partir da luta de movimentos sociais pelo reconhecimento dos direitos civis das pessoas negras, bem como pela responsabilização dos atos de racismo, vê-se a instituição de instrumentos jurídicos de combate ao racismo e promoção da igualdade racial, o qual iniciou-se com o debate geral dos direitos humanos, mas pautou-se em questões específicas direcionadas a esse grupo vulnerável. No quadro abaixo, são apontados os marcos jurídicos do regime internacional de combate à discriminação racial: 12 O Atlas da Violência apresenta dados com lacuna de 2 anos. 13 A pesquisa utiliza a classificação do IBGE, em que a categoria negros é a soma de pretos e pardos. 14 Ainda conforme IBGE, soma de brancos, amarelos e indígenas. 17 Quadro 1: Marcos do regime internacional de combate ao racismo e à discriminação racial Ano Nome Participação brasileira 1958 Convenção nº 111 relativa à Discriminação com respeito ao Emprego e à Ocupação (OIT) Promulgada pelo Decreto no 62.150 de 19/1/1968 1960 Convenção relativa à Luta contra a Discriminação no Campo do Ensino (Unesco) Promulgada pelo Decreto no 63.223 de 6/9/1968 1963 Declaração das Nações Unidas sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (Resolução nº 1.904 (XVIII) da Assembleia Geral) - 1965 Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial Promulgada pelo Decreto no 65.810 de 8/12/1969. 1966 21 de março é proclamado como o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial Resolução no 2142 (XXI Sessão da Assembleia Geral) - 1971 Ano Internacional para Ações de Combate ao Racismo e à Discriminação Racial - 1973 Primeira Década de Combate ao Racismo e à Discriminação Racial (1973-1982) – Resolução no 3.057 - 1978 I Conferência Mundial contra o Racismo - 1983 Segunda Década para a Ação de Combate ao Racismo e à Discriminação (1983-1992) – Resolução no 38/14. - 1983 II Conferência Mundial contra o Racismo 1993 Terceira Década para a Ação de Combate ao Racismo e à Discriminação (1993-2003) – Resolução no 48/91 - 2001 III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata - 2009 Ano Internacional dos Afrodescendentes - Resolução no 64/169 (ONU) - 2011 Convenção no 189 sobre Trabalho Decente para as Trabalhadoras e os Trabalhadores Domésticos (OIT) - Fonte: Goes e Silva (2013) 18 Figura 5: Ato de rua. Manifestações em São Paulo com representantes do movimento negro, em junho: demandas não foram encampadas por políticos e suas siglas Fonte: Edilson Dantas / Agência O Globo Quando foca-se no contexto brasileiro, com a promulgação da Constituição de 1988, o crime de racismo tornou-se inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão Contudo, é somente no ano seguinte, com a redação da Lei 7.716, que o texto ganha sustentabilidade jurídica, uma vez que, anteriormente, o caráter inafiançável e imprescritível colidia com a aplicação de uma mera contravenção. A Lei 7.716, conhecida também como Lei Caó, estabelecia sanções mais duras para o crime de racismo, com penas de até cinco anos de reclusão, ultrapassando, por exemplo, a pena prevista no Código Penal para o crime de lesão corporal dolosa (Art. 129 do CP). O RACISMO NO BRASIL É CRIMEPREVISTO NA LEI Nº 7.716/198915, É INAFIANÇÁVEL E NÃO PRESCREVE, OU SEJA, QUEM COMETEU O ATO RACISTA PODE SER CONDENADO MESMO MUITOS ANOS DEPOIS DO CRIME. Outra guinada no antirracismo penal brasileiro viria a ocorrer em 1997, através da Lei 9459, a qual criou a tipologia “injúria racial”, alterando o art.140 do Código Penal, que trata dos crimes contra a honra. A partir deste instituto, os ultrajes verbais com conotação racial passaram a ser coibidos por uma tipificação própria, aumentando, destarte, a cobertura da legislação antirracismo (MONTEIRO, 2011). Aqui, cabe destacar a diferença entre racismo e injúria racial. 15 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm 19 Crime de racismo: ocorre quando as ofensas praticadas pelo autor atingem toda uma coletividade, um número indeterminado de pessoas, ofendendo-os por sua ‘raça’, etnia, religião ou origem, assim, impossível saber o número de vitimas atingidas. Está previsto na Lei n.º 7.716/89, com pena de reclusão de um a três anos e multa. É inafiançável. Crime de injúria racial: ocorre quando o autor ofende a dignidade ou o decoro utilizando elementos de ‘raça’, cor, etnia, religião, condições de pessoas idosas e portadores de deficiência. Neste caso, diferente do racismo, a autor não atinge uma coletividade, e sim a uma determinada pessoa, no caso, a vitima. Está previsto no artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal, com pena de detenção de um a seis meses ou multa e é possível o pagamento de fiança. O principal avanço recente na legislação brasileira antirracismo trata-se do Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/10)16, que expressa legítimas demandas da população negra, constituindo-se num importante instrumento para que as desigualdades raciais sejam reconhecidas e abordadas em diferentes esferas do Estado. Dessa forma, conhecidos os dispositivos legais de combate ao racismo, cabe ao agente de segurança pública garantir e assegurar a prevenção e devida responsabilização de quem comete tanto os crimes de racismo quanto de injúria racial, bem como a adequada abordagem policial às pessoas negras. Além disso, ressalta-se que as Instituições de Segurança Pública, como organizações públicas, devem ser representativas da comunidade no seu conjunto. Para serem representativas, tais instituições precisam garantir o acesso dos profissionais a todos os postos, eliminando o preconceito que restringe a ascensão das minorias étnicas aos níveis estratégicos, gerenciais e de formulação de políticas. As discriminações que possam existir nos procedimentos de recrutamento, seleção ou promoção deve ser identificadas e providências devem ser tomadas. 16 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm 20 PRINCIPAIS LEIS E DECRETOS ANTIRRACISTAS Lei 7.716/89: define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Lei 9.459/97: altera a Lei de Crime de Racismo. Decreto 4.886/03: cria a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR). Decreto 65.810/1969: promulga a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial. MATERIAL COMPLEMENTAR Estatuto da Igualdade Racial: <encurtador.com.br/dBEKY>; Racismo e encarceramento em massa - O filósofo do direito Silvio Luiz de Almeida apresenta o premiado livro "A NOVA SEGREGAÇÃO: racismo e encarceramento em massa", de Michelle Alexander: https://youtu.be/-TU5iLbUcBw; A 13ª Emenda - documentário da Netflix. 4. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (PcD) A Lei Federal n° 13.146/2015, que regulamenta internamente as disposições da Convenção da ONU, conceitua Pessoa com Deficiência em seu artigo 2º: Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015). Por muitos anos, as pessoas com deficiência foram excluídas da convivência em sociedade, além de tratadas com desprezo e desrespeito quanto aos seus direitos, o que as motivou a se organizarem em grupos e promoverem um forte movimento de participação política no âmbito do processo de redemocratização do Brasil. Esse espaço foi sendo construído com muita luta, embates políticos, mas também, com conquistas importantes, embora, em muitos momentos sob a omissão do governo e com total invisibilidade por parte da sociedade. http://encurtador.com.br/dBEKY https://youtu.be/-TU5iLbUcBw 21 Figura 6: Ilustração distinguindo as diferenças entre exclusão, segregação, integração e inclusão. Fonte: entendendoautismo.com.br Como já vimos, a Constituição Federal de 1988 foi um marco importante no avanço e, também, um referencial de proteção por parte do Estado dos Direitos Humanos e isso se estendeu às pessoas com deficiência. No período de debates da Constituinte, os grupos de PcD tiveram um protagonismo notável, conseguindo que seus direitos fossem garantidos em várias áreas da existência humana. Da educação, à saúde, ao transporte, aos espaços arquitetônicos. Foi realmente uma vitória a se comemorar sempre que conseguimos avançar na legislação que regulamenta tais dispositivos constitucionais (LANNA Jr., 2010). O termo Pessoa(s) com Deficiência ou, simplesmente, PcD, advém da busca por novas denominações e reflete a intenção de rompimento com as premissas de menos- valia que até então embasavam a visão sobre a deficiência. Ao se organizarem como movimento social, as PcD buscaram denominações que pudessem romper com a imagem negativa que as excluía, a partir dos inúmeros termos pejorativos utilizados para descrevê-las, como “inválidos”, “incapazes”, “aleijados” e “defeituosos”. Um passo nessa direção foi a expressão “pessoas portadoras de deficiência”, com o objetivo de identificar a deficiência como um detalhe da pessoa. A expressão foi adotada na CF/ 1988, bem como em todas as leis e políticas pertinentes ao campo das deficiências. Conselhos, coordenadorias e associações passaram a incluí-la em seus documentos oficiais. Posteriormente, PcD passou a ser a expressão adotada para designar esse grupo social. Em oposição à expressão “pessoa portadora”, “pessoa com deficiência” demonstra que a deficiência faz parte do corpo e, principalmente, humaniza a denominação. Ser PcD é, 22 antes de tudo, ser pessoa humana. É também uma tentativa de diminuir o estigma causado pela deficiência. A expressão foi consagrada pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2006. Quadro 2: Tipos de Deficiência. Deficiência Física É referente a pessoas que possuem dificuldades de locomoção, seja natural ou adquirida. Os principais tipos de deficiência física são: Tetraplegia (paralisia e perda dos movimentos superiores e inferiores); Paraplegia (paralisia da parte inferior do corpo); Paralisia cerebral (lesão ou má formação do cérebro) Nanismo (deficiência de crescimento); Amputação (perda ou falta de membro); Malformação congênita (deficiência na formação de órgãos); Doenças musculares. Deficiência Visual Diz respeito a limitações na visão, seja parcial ou total. Os tipos mais comuns são: Baixa visão (ainda conserva capacidade visual, mas existe a perda de pelo menos 30% no olho); Visão monocular (quando a cegueira atinge somente um dos olhos); Cegueira (perda total ou parcial da visão, comprometendo toda a capacidade de leitura ou escrita); Deficiência Intelectual Há comprometimento ou perda da capacidade intelectual. Alguns tipos são: Transtorno doEspectro Autista Síndrome de Williams Síndrome do X frágil Síndrome de Asperger Síndrome de Angelman Síndrome de Down Síndrome de Tourette Deficiência Auditiva Consiste na perda parcial ou total da capacidade de audição. Os tipos são: Bilateral (perda da audição nos dois ouvidos) Unilateral (perda da audição somente em um dos ouvidos) Fonte: Elaboração da autora. A seguir trataremos, especificamente, das leis e decretos frutos da luta política das PcD, por garantia de direitos. 23 4.1 Legislação A primeira lei federal abrangente sobre as pessoas com deficiência é a Lei n°7.853/198917 (regulamentada pelo Decreto 3.298/1999). A lei dispõe sobre o apoio às PcD, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público e define crimes. A Lei 7.853/1989 prevê como crimes puníveis com reclusão de um a quatro anos e multa: recusar matrícula, obstar acesso a cargo público, negar emprego ou trabalho, recusar internação ou deixar de prestar assistência médica, deixar de cumprir a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta lei e recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta lei, quando requisitados pelo Ministério Público. A acessibilidade é tratada nas Leis n°10.048/20018 e n°10.098/200019 e no Decreto n° 5296/200420, que regulamenta a prioridade de atendimento às pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida (idosos, gestantes) e estabelece normas para a promoção da acessibilidade. Esse decreto é o mais conhecido entre as PcD, porque disciplina as condições que impactam sua vida cotidiana. O decreto trata da acessibilidade de forma ampla: acesso aos espaços públicos e edificações, moradias, bens culturais imóveis, todos os modais de transportes coletivos e terminais de embarque e desembarque. Essa legislação assegura a acessibilidade na comunicação e informação, telefonia fixa e móvel, legendas, janela com intérprete da Libras, audiodescrição (narrativa de imagens para cegos) na televisão, no cinema, no teatro, em campanhas publicitárias e políticas; sites acessíveis e tecnologia assistiva (equipamentos que conferem autonomia, desde talher adaptado à embreagem manual de carro ou o programa computacional de leitura da tela para cegos). 17 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm 18 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10048.htm#:~:text=Art.,priorit%C3%A1rio%2C%20nos%20termos%20desta%20Lei.&text=Art.,- 2o%20As 19 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10098.htm 20 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm 24 A Lei n°10.436/200221 é específica para a pessoa surda e oficializa a Língua Brasileira de Sinais (Libras), mantido o português escrito como segunda língua, bem como torna obrigatória a capacitação dos agentes públicos em Libras. O Decreto n°5626/200522 define a educação bilíngue, a formação de tradutores e intérpretes de Libras, que tiveram a profissão regulamentada pela Lei n°12.319/2010, fato que permite concursos públicos e contratação desses profissionais. Figura 7: Alfabeto em Libras Fonte: Brasil Escola As pessoas cegas ou com baixa visão, após a Lei n° 11126/200523 e o Decreto n° 5904/200624, adquiriram o direito de ingressar e permanecer com o cão-guia em ambientes e transportes coletivos, com espaço preferencial demarcado. A ação afirmativa mais importante para as pessoas com deficiência é o acesso ao trabalho. A Lei n° 8112/199025 determinou a reserva de cargos nos concursos públicos e a Lei n° 8213/199126 estabeleceu a reserva de 2 a 5% dos cargos nas empresas com 100 ou mais empregados para beneficiários reabilitados e pessoas com deficiência habilitadas profissionalmente. 21 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm 22 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm 23 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11126.htm 24 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5904.htm 25 Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8112cons.htm 26 Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm 25 O direito à educação especial está assegurado na Lei n° 9394/199627, referente às bases da educação nacional e prevê recursos pedagógicos específicos para cada aluno com deficiência. Em 2007, o MEC editou a Política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva, obedecendo à Convenção da ONU: sistema de ensino inclusivo, com aula na classe comum e atendimento educacional especializado em turno oposto, para garantir a inclusão com qualidade. São exigidas: sala de recursos multifuncionais, instalações acessíveis, formação de professores para o atendimento de alunos surdos na educação bilíngue e para o ensino do sistema Braille aos alunos cegos ou com baixa visão, além de material didático acessível. Persiste a defesa das escolas especiais separadas para alunos com deficiência intelectual e múltipla principalmente, pois parte da sociedade ainda as considera necessárias e usa sua força política para mantê-las, apesar disso a educação inclusiva avança. A Lei n°8742/199328 estabeleceu o atendimento da pessoa com deficiência em diversos tipos serviços da Assistência Social, tais como residências inclusivas, modelo de moradia com apoios para a autonomia e a vida independente na comunidade. Essa modalidade pode atender aos casos de violência que precisam sair de casa. A lei também define a concessão do benefício de prestação continuada (BPC), no valor de um salário mínimo mensal, destinado ao enfrentamento da situação de extrema pobreza de vida de muitas pessoas com deficiência. De forma notória, salientamos a importância da instituição do Estatuto da Pessoa com Deficiência, criado pela Lei n° 13.146/2015, intitulada Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. O Estatuto prevê uma série de direitos para as PcD: Acesso universal e igualitário à saúde para as pessoas com deficiência, por meio do SUS, com informações adequadas e acessíveis sobre as condições de saúde (Art. 18); Oferta de tecnologias assistivas que ampliem as habilidades dos estudantes nas escolas (Art. 18-XII) ou auxiliem nos processos seletivos e permanência nos cursos da rede pública e privada (Art. 30-IV); Acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas (Art. 28-XIII); O direito ao trabalho em ambientes acessíveis e inclusivos em igualdade de oportunidades com as demais pessoas (Art. 34) (BRASIL, 2015). 27 Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm 28 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm 26 Uma vez conhecidas as leis e decretos que trazem garantias de direitos às PcD, é papel do profissional de segurança pública tratar adequadamente as pessoas desse grupo, certificando-se de que a PcD está sendo respeitada em todas as suas especificidades e prestando apoio em situações de violação dos seus direitos. É importante salientar também que as deficiências nem sempre são visíveis, portanto, não se pode fazer inferências rápidas acerca de alguém, sem antes ouvir a história dessa pessoa ou consultar documentos como laudos médicos e etc. MATERIAL COMPLEMENTAR Estatutoda Pessoa com Deficiência: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/513623/001042393.pdf>; Da Invisibilidade à Cidadania: os caminhos da pessoa com deficiência, Memorial da Inclusão: <https://www.youtube.com/watch?v=bN44QENPWBA>; História do movimento político das pessoas com deficiência no Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=oxscYK9Xr4M 5. LGBTQIA+ A historiografia consolidou como marco fundador da militância homossexual no país a criação do grupo Somos – Grupo de Afirmação Homossexual –, em 1978. Desde o seu surgimento, o movimento social de luta pelo reconhecimento da diversidade sexual e de gênero passou por transformações profundas (FERREIRA; SACRAMENTO, 2019). A articulação de coletivos inicialmente identificada como o Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) passou a se denominar de Movimento LGBTQIA+, em reflexo da multiplicação das bandeiras de luta e dos personagens envolvidos nas reivindicações. Em 2018, o movimento LGBTQIA+ organizado comemorou 40 anos de atuação no Brasil. Os esforços empreendidos para que a população LGBTQIA+ goze de direitos plenos conquistou, nas últimas décadas, resultados positivos como a possibilidade da realização do casamento entre pessoas do mesmo sexo29, a adoção de crianças por casais homossexuais30, a retirada da homossexualidade da lista de doenças do então Instituto 29 Resolução n. 175, de 14 de maio de 2013 (BRASIL, 2013). 30 No Brasil a adoção é regida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual foi alterado recentemente pela Nova Lei da Adoção, a Lei nº. 12.010/09, em que está disposto no artigo 42 sobre os requisitos para o deferimento da adoção e, por sua vez, não faz ressalva sobre a orientação sexual dos adotantes. Para suprir tal lacuna e tornar a ordem jurídica mais justa, grande parte do Poder Judiciário vem se https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/513623/001042393.pdf https://www.youtube.com/watch?v=bN44QENPWBA https://www.youtube.com/watch?v=oxscYK9Xr4M https://www.youtube.com/watch?v=oxscYK9Xr4M https://www.youtube.com/watch?v=oxscYK9Xr4M https://www.youtube.com/watch?v=oxscYK9Xr4M 27 Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), a garantia de uso do nome social pelas pessoas transexuais, travestis e transgêneras usuárias dos serviços judiciários, magistrados, estagiários e trabalhadores terceirizados do Poder Judiciário, em seus registros funcionais, sistemas e documentos31, dentre outras importantes conquistas já mencionadas no presente trabalho. Figura 8: Linha do tempo sobre os principais marcos do movimento LGBTQIA+ no Brasil: Fonte: https://blog.ziovara.com.br/orgulho-lgbtqia/ A violência física, psicológica e sexual a que este grupo é vulnerável está ligada ao conceito de homofobia. A homofobia significa a intolerância em relação à diversidade sexual e de gênero. Ser homofóbico é repudiar, odiar, discriminar e ter aversão a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, não respeitando esses indivíduos enquanto orientando pelo realismo jurídico, o qual busca enquadrar o direito à realidade social. Nesse sentido, há diversas decisões reconhecendo a união estável de casais homossexuais e deferindo pedidos de adoção por eles (RIBEIRO, 2019). 31 Decreto nº 8.727/2016 (BRASIL, 2016). 28 sujeitos de direitos, como toda pessoa humana. Ou seja, além da violência física, o preconceito e a discriminação contra a população LGBT restringem os direitos de cidadania, o direito à livre expressão afetivo-sexual e de identidade de gênero. Existem também os termos LGBTfobia, Lesbofobia, Gayfobia, Bifobia e Transfobia para designar a fobia a cada segmento especificamente. Assista ao vídeo “O MEU AFETO TE AFETA? Famílias Homoafetivas no Brasil (LGBT+) | Documentário” (YOUTUBE – Estúdio Coraline, 2014)”. O documentário MEU AFETO TE AFETA? O documentário propõem uma reflexão sobre as diferentes famílias homoafetivas, através de depoimentos marcantes. (Foto: divulgação) De forma geral, o preconceito está ligado ao desconhecimento e à desinformação. Nesse sentido, de modo a sanarmos dúvidas e entendermos de forma mais aprofundada os conceitos relativos à sigla LGBTQIA+, julgamos pertinente iniciar esse tópico com uma sessão que tratará, didaticamente, sobre as categorias sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual. 5.1 Sexo Biológico, Gênero e Sexualidade 5.1.1 Sexo Biológico De acordo com Reis (2018), em termos simples, o sexo biológico diz respeito às características biológicas que a pessoa tem ao nascer, isto é, seus cromossomos, sua genitália, sua composição hormonal, dentre outros. 29 Em complementação ao tema, Glaad (2016) traz o conceito de intersexualidade, fazendo referência às pessoas que nascem com anatomia reprodutiva, sexual e/ou um padrão de cromossomos que não podem ser classificados como sendo tipicamente masculinos ou femininos. 5.1.2 Identidade de Gênero Segundo a Resolução N° 11, de 18 de dezembro de 2014, no Artigo 1°, inciso II, identidade de gênero como é definido como sendo: a profundamente sentida, experiência interna e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros) e outras expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e maneirismos. Do ponto de vista das Ciências Sociais e da Psicologia, principalmente, “gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos” (BARRETO; ARAUJO; PEREIRA, 2009, p.39). Nesse sentido, pode-se conceituar identidade de gênero como a forma que o indivíduo se reconhece dentro dos padrões sociais de gênero: feminino, masculino ou, quando não se identifica com esses dois padrões, pode se reconhecer como agênero ou não-binário. De forma a evidenciar didaticamente as possibilidades de identidade de gênero, trazemos abaixo, no Quadro 3, os principais termos usados nessa categoria e o detalhamento acerca de cada um. 30 Quadro 3: Identidade de gênero IDENTIDADE DE GÊNERO DETALHAMENTO CISGÊNERO É a pessoa que se identifica com o gênero igual ao do sexo biológico. Por exemplo, uma pessoa, que nasceu com morfologia feminina e que se identifica como mulher, será cis. TRANSGÊNERO Termo genérico que vale para qualquer pessoa que se identifica com um gênero diferente ao do sexo de nascimento. Por exemplo, transexual e travesti. ANDRÓGENO É a pessoa que tem características físicas e comportamentais de ambos os sexos, sejam elas masculinas (andro) ou femininas (gyne), sendo difícil definir o gênero apenas pela aparência física. AGÊNERO É a pessoa que não se identifica ou não se sente pertencente a qualquer gênero. Fonte: Supesp (2021) 5.1.3 Nome Social O § 2º, do artigo 1°, da Resolução N° 11 de 2014, considera nome social “aquele pelo qual travestis e transexuais se identificam e são identificadas pela sociedade” (BRASIL, 2014, p. 2). Ou seja, trata-se do nome escolhido pelo indivíduo, que poderá melhor adequar-se à sua identidade de gênero. A Lei estadual Nº 16.946 de 2019 no seu artigo 1°, parágrafo único, define nome social como: “Entende-se o nome social como aquele pelo qual as pessoas transexuais e travestis se identificam e são reconhecidas socialmente, respeitando-se a identidade de gênero”. 5.1.4 Orientação Sexual A resolução N°11 de 2014, do Conselho Nacional de Combate à Discriminaçãoe Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, estabelece no § 1º, inciso I, a orientação sexual como sendo "uma referência à capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas” (BRASIL, 2014,p. 2). O quadro abaixo introduz os principais termos relativos à orientação, com uma breve explicação sobre eles: 31 Quadro 4: Orientação Sexual ORIENTAÇÃO SEXUAL DETALHAMENTO HETEROSSEXUAL É a pessoa que tem afeto e atração sexual por indivíduos de gênero oposto. HOMOSSEXUAL Gays: É a denominação específica para homens (cis ou trans), que, independentemente da identidade de gênero, se relacionam afetiva e sexualmente com outros homens. Lésbicas: É a denominação específica para mulheres (cis ou trans), que, independentemente da identidade de gênero, se relacionam afetiva e sexualmente com outras mulheres. BISSEXUAL É a pessoa que se relaciona afetiva e sexualmente com indivíduos tanto de gênero feminino, quanto de gênero masculino. ASSEXUAL É a pessoa que não se sente atraída romântica nem sexualmente por outras, seja qual for a identidade de gênero. PANSEXUAL É a pessoa que pode desenvolver atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas, independentemente da identidade de gênero ou do sexo biológico. Fonte: Supesp (2021) 5.2 A Sigla LGBTQIA+ A partir do que foi explanado anteriormente, podemos explicar de forma clara cada uma das letras que compõem a sigla LGBTQIA+: L: faz referência à orientação sexual lésbica; G: faz referência à orientação sexual gay; B: faz referência à orientação sexual bissexual; T: faz referência aos indivíduos com identidade de gênero transgênero, por exemplo, transexuais e travestis; Q: diz respeito ao termo queer, adjetivo utilizado por pessoas cuja orientação sexual não é exclusivamente heterossexual e que não se identificam com nenhuma identidade de gênero; I: faz referência às pessoas que, por conta de sua anatomia sexual, não podem ser classificados como sendo tipicamente masculinos ou intersexuais; femininos, ditos intersexuais 32 A: faz referência à identidade de gênero agênero; +: símbolo que diz respeito à inclusão de outras orientações sexuais e identidades de gênero que não estejam contempladas nas siglas anteriores. Figura 9 : Entendendo a sigla LGBTQIA+ Fonte: OCP News 5.3 Legislação Dentre as legislações internacionais relativas à orientação sexual e à identidade de gênero, podemos citar as seguintes: I. Os Princípios de Yogyakarta, que versam sobre as normas de direitos humanos e de sua aplicação referentes a questões de orientação sexual e de identidade de gênero. Dentre os princípios abordados no documento, podemos elencar a obrigação do Estados partícipes em tomar todas as medidas legislativas, administrativas e de outros tipos que sejam necessárias para respeitar plenamente e reconhecer legalmente a identidade de gênero auto definida por cada pessoa, bem como tomar todas as medidas policiais e outras medidas necessárias para prevenir e proteger as pessoas de todas as formas de violência e assédio relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero; 33 II. Resolução da ONU “Direitos Humanos, Orientação Sexual e Identidade de Gênero”, ratificada em 17 de junho de 2011, em que os Estados reafirmam a proibição da discriminação, dando ênfase ao caráter injustificado de qualquer discriminação, independentemente do status em que ela se baseie, como também manifestam sua preocupação com os atos de violência e discriminação por orientação sexual e identidade de gênero especificamente; III. Resolução da Organização dos Estados Americanos - AG/RES-2435 (XXXVIII-O/08) "Direitos Humanos, Orientação Sexual e Identidade de Gênero", que em seu artigo 9° determina que “os Estados Partes comprometem-se a garantir que seus sistemas políticos e jurídicos reflitam adequadamente a diversidade de suas sociedades, a fim de atender às necessidades especiais e legítimas de todos os setores da população, de acordo com o alcance desta Convenção”. No âmbito nacional, podemos citar ainda a promulgação da Resolução Nº 11, de 18 de dezembro de 201432, pela Secretaria de Direitos Humanos. Tal norma jurídica designa os parâmetros para a inclusão dos itens "orientação sexual", "identidade de gênero" e "nome social" nos boletins de ocorrência emitidos pelas autoridades policiais no Brasil. Entende-se que, ao orientar a inserção dos campos "orientação sexual", "identidade de gênero" e "nome social" nos registros policiais, separadamente, a Resolução Nº 11 permite mensurar, de maneira mais fidedigna e estratificada, os crimes de discriminação e intolerância contra esse público, além de garantir as prerrogativas que constam na Declaração dos Direitos Humanos. Destarte, a referida resolução estabelece no § 1°, inciso I e II a definição de orientação sexual e identidade de gênero respectivamente e, no § 2º, o que seria o nome social. Outrossim, no artigo 2°, indica que “a informação sobre a orientação sexual ou identidade de gênero do/da noticiante pode ser autodeclarada e, nesse caso, isso deverá ser informado no momento do preenchimento do boletim de ocorrência pela autoridade policial” (BRASIL, 2014, p. 2). Adiante, no artigo 3º, orienta que compete à “delegacia de polícia ou à unidade de polícia fixar em local público e visível a definição de "orientação sexual", "identidade de gênero" e "nome social" para esclarecimento dos/das noticiantes” (BRASIL, 2014, p. 3). No estado do Ceará, especificamente, podemos citar a publicação do Decreto n° 32.22633, de 17 de maio de 2017, que dispõe sobre o uso do nome social e o 32 Disponível em: http://www.sesp.mt.gov.br/documents/4713378/11927966/Resolucao-11-CNCD_LGBT.pdf 33 Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=343654. 34 reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no âmbito da Administração Pública Estadual Direta e Indireta e dá outras providências, além da Lei nº 16.94634, de 09 de julho de 2019, que assegura o direito ao nome social nos serviços públicos e privados no estado do Ceará. Concluímos este tópico, salientando que, tendo em vista a diversidade da sexualidade humana, não se pode dizer que exista alguma mais natural ou normal do que outra, pior, melhor, superior ou inferior. A despeito das crenças e convicções alheias, os direitos das pessoas LGBTQIA+ devem ser assegurados, enquanto força da legislação que os prevê. Cabe ao profissional de segurança pública assegurar a integridade física e psicológica dos indivíduos desse grupo, tanto na abordagem adequada quanto no atendimento às vítimas de violência. Enfatizamos, ainda, a necessidade de respeitar a identidade de gênero e o nome social adotado pelas pessoas, lembrando sempre de respeitar a identificação social feminina ou masculina, caracterizada pela vestimenta e acessórios de uso da pessoa abordada; fazer uso de pronomes de tratamento adequados - ela/dela para pessoas que se identificam com o gênero feminino, e ele/dele para as que se identificam com o gênero masculino. Além disso, os documentos oficiais, como registro de ocorrência, documentação administrativa policial, dentre outros, deverão conter o nome social informado, devendo ser registrado também o nome de registro do indivíduo. MATERIAL COMPLEMENTAR Infográfico Orientação Sexual, Sexo e Identidade de Gênero: <https://www.supesp.ce.gov.br/wp- content/uploads/sites/89/2021/05/INFOGRAFICO-LGBTQIA.pdf>; Protocolo Policial para enfrentamento da violência lgbtfóbica no Brasil: <https://www.fgv.br/mailing/2020/webinar/DIREITO/Protocolo_policial.pdf>; Sobre Vivência - documentário que busca ampliar as vozes de pessoas LGBT's e contribuir para a construção de novas ideias frente a forte estigmatização que esta população possui na sociedade: <https://youtu.be/3HpfRWEYVqM> 34 Disponível em: https://belt.al.ce.gov.br/index.php/legislacao-do-ceara/organizacao-tematica/direitos-humanos-e-cidadania/item/6725- lei-n-16-946-de-29-07-19-d-o-30-07-19. https://www.youtube.com/watch?v=oxscYK9Xr4M 35 6. IDOSOS Ao longo dos anos, em consequência de mudanças na estrutura etária da sociedade, as pirâmides etárias em todo o mundo vêm se modificando e retratando um crescimento em seu topo, o que simboliza uma visível transição demográfica. Significa dizer que houve um aumento significativo do número de pessoas idosas, evidenciando que o envelhecimento populacional é um fenômeno verificado mundialmente e reconhecido também na realidade brasileira (FERREIRA; TEIXEIRA, 2014). O envelhecimento populacional vem impondo grandes desafios às políticas públicas de um modo geral ao tempo em que ganha visibilidade e penetração na agenda pública não só devido às discussões sobre o processo de envelhecer como também pela importante participação dos movimentos sociais que lutaram, e ainda lutam, pelos direitos da população idosa, pela universalização e efetivação de direitos humanos fundamentais, como o direito à vida, à saúde, à igualdade e à dignidade, que devem estar assegurados em todas as fases da vida do indivíduo, sobretudo na velhice. Figura 10: Evolução da pirâmide etária no Brasil (1980 a 2020) Fonte: IBGE 36 Essa população, inserida numa faixa etária de maior fragilização, necessita de cuidados e atenção diferenciada, tendo em vista que o envelhecimento acarreta alterações físicas, psicológicas, sociais, fisiológicas e existenciais, e podem ser observadas, em maior ou menor grau, variando entre os indivíduos de acordo com as suas condições de vida e contexto social e conforme as características genéticas de cada um. Dada a dificuldade de proteção dos direitos, faz-se cada vez mais urgente a participação do Estado nessa tarefa para garantir o pleno exercício da cidadania aos indivíduos de modo geral, percebidos enquanto cidadãos portadores de uma gama de direitos. 6.1 Legislação Dois marcos importantes para a inserção do envelhecimento no Estado Democrático de Direito e na agenda pública internacional, que trouxeram reflexos para o cenário nacional, foram: primeiro, a Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, na cidade de Viena, em 1982, segundo, a Assembleia Mundial, ocorrida em Madri, no ano de 2002, ambas promovidas pela ONU. Camaraño e Pasinato (2004) asseveram que a Assembleia de Viena resultou num plano de ação global e representou um avanço, colocando a questão do envelhecimento como foco de atenção, pois, até então, as questões sociais, como o envelhecimento, não recebiam as mesmas regalias que os assuntos econômicos e políticos. Figura 11: ONU declara 2020-2030 como década do envelhecimento saudável Fonte: SBGG 37 Em nível nacional, a entrada do envelhecimento populacional na agenda das políticas públicas brasileiras foi gradativa e contou com vários sujeitos, tais como: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Associação Nacional de Gerontologia (ANG), ações da sociedade civil organizada, como o SESC e seus programas pioneiros para a terceira idade, dentre outros que mobilizaram os idosos e a sociedade e foram os difusores das recomendações internacionais das assembleias mundiais. Mas foi com a universalização da Seguridade Social, na Constituição de 1988, que a atenção à população idosa representou um grande avanço, porque vinculou a rede de proteção social ao direito de cidadania, e não somente ao contexto estritamente social-trabalhista e assistencialista (CAMARAÑO; PASINATO, 2004). Outro marco importante, êxito dos movimentos e organizações nacionais em prol dos idosos, foi a aprovação da Política Nacional do Idoso (PNI), Lei n° 8.84235, de 4 de janeiro de 1994, que assegura direitos sociais à pessoa idosa. Alguns anos após a aprovação da Política Nacional do Idoso, mais especificamente nove anos, houve a aprovação de uma legislação relativa à atenção destinada às pessoas idosas, que reforça as diretrizes contidas na PNI e unifica leis e políticas que até então permaneciam fragmentadas e setorializadas: o Estatuto do Idoso. A Lei n° 10. 74136, aprovada em 1º de outubro de 2003 e elaborada com a contribuição de entidades de defesa dos direitos dos idosos, promulgou o Estatuto do Idoso, que se trata de um importante instrumento de garantia de direitos alcançados por eles. “Trata-se de um mecanismo formal, legal, que visa garantir direitos elementares da existência, da integridade da vida e do corpo, e da dignidade” da pessoa idosa (TEIXEIRA, 2008, p. 288-289), considerada legalmente, para efeitos jurídicos, a partir dos 60 (sessenta) anos de idade. Destaca-se o primeiro princípio que orienta a PNI: em seu Artigo 3º, afirma que “*...+ a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem- estar e o direito à vida” (BRASIL, 1994). Nesse sentido, a PNI reafirma direitos garantidos constitucionalmente, mas aponta “a participação da sociedade civil como espaço de efetivação de serviços e proteção social ao idoso, em especial, a modalidade não mercantil, como a família” (TEIXEIRA, 2008, p. 279). 35 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm 36 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm 38 Evidenciar a família como espaço prioritário no cuidado com o idoso, por um lado, avança na perspectiva de acionar a institucionalização (o abrigamento e asilamento) do indivíduo apenas como última opção, o que pode trazer, em muitos casos, efeitos positivos, tendo em vista que o idoso estaria em convívio com os seus familiares, evitando assim o isolamento, que poderia levar a graves consequências, como depressão, por exemplo. Por outro lado, pode implicar a responsabilização das famílias que, por vezes, já se encontram fragilizadas, sem condições de cuidar dele. Essa perspectiva reforça, mais uma vez, a redução do Estado, que dirige suas ações apenas para casos de extrema pobreza. Nessa direção, a Política Nacional do Idoso traz em seu Artigo 4º, que trata das diretrizes, a “*...+ priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições que garantam sua própria sobrevivência” (BRASIL, 1994). Assim como a PNI, o Estatuto do Idoso tem participação imprescindível na positivação dos direitos dos idosos. O Estatuto garante, nos termos da lei, direitos humanos fundamentais que devem ser estendidos aos idosos, versando, em seu Artigo 8º, o direito personalíssimo do envelhecimento e a sua proteção, que é um direito social assegurado nesta lei. Também assinala, logo em seu Artigo 2°, que [...] o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (BRASIL, 2003). O Estatuto garante, ainda, direitos civis, políticos e sociais. Entre os direitos civis, assegura o direito à liberdade, que abrange a faculdade de ir e vir, a liberdade de opinião e expressão, de crença e culto religioso. Destaca-se ainda o Capítulo X do
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