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1 Dalmo de Abreu Dallari Elementos de Teoria Geral do Estado. 32. Edição, 3. Tiragem. São Paulo; Saraiva, 2014 Capítulo II DO ESTADO (p.59-119) Origem e Formação do Estado; Origem Histórica do Estado e Causas da Formação do Estado (p.59). ESTADO: do latim status = estar firme, significando situação permanente de convivência ligada à sociedade política. O nome foi utilizado pela primeira vez em O Príncipe, de Maquiavel, em 1513 (século XVI). Adotado pelos italianos como cidade independente e nos séculos XVI e XVII também pela França, Inglaterra e Alemanha. Noção de que o nome ESTADO pode apenas ser aplicado em Sociedades Políticas dotada de certas características bem definidas. Sociedades Políticas que, com autoridade superior, fixaram regras de convivência de seus membros. Estudo da origem do Estado: duas indagações, quanto à época do aparecimento e motivos e determinantes do surgimento do Estado. Época do Aparecimento: A. Para alguns, sempre existiu organização social dotada de poder com autoridade sobre determinado grupo. B. Para outros, as sociedades perduraram sem Estado por determinado período; C. Posição majoritária: o Estado pressupõe uma sociedade política dotada de certas características muito bem definidas (soberania, território e povo). A prática da soberania como hoje conhecemos surgiu o século XVII. Motivos e determinantes do surgimento do Estado: duas teorias – formação originária e formação derivada. A. Formação Originária: a partir de agrupamentos humanos não integrados em qualquer Estado. Duas teorias: Pode ser natural/espontânea ou contratual (vontade dos homens/contrato). Possíveis origens: a. Familiar ou patriarcal (núcleo social fundamental: família- cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado). i. Exemplo: O Estado de Israel (exemplo típico) originou-se da família de Jacob, conforme relato bíblico. ii. Os pregoeiros da teoria patriarcal encontram na organização do Estado os elementos básicos da família antiga: unidade do poder, direito de primogenitura, inalienabilidade do domínio territorial, etc. Seus argumentos, porém, se ajustam às monarquias, especialmente às antigas monarquias centralizadas, nas quais o monarca representava, efetivamente, a autoridade do pater familias. 1. Fonte: http://www.presenteparahomem.com.br/a-teoria-patriarcal-para-a-origem-do- estado/ Atos de violência ou conquista (o Estado surge na conjunção entre dominadores e dominados: exploração econômica do grupo vencido). i. Exemplo: Assírios da Mesopotâmia, Auge do Império Romano. b. Causas econômicas ou patrimoniais (Platão, Livro II de A República: Um Estado nasce da necessidade dos homens, ninguém basta a si mesmo (...) e são necessárias várias pessoas para suprir essas necessidades). 2 i. – Estado nasceu para aproveitar os benefícios da divisão do trabalho social. ii. Teoria de Marx e Engels: A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. O Estado é um produto da sociedade quando esta chega a determinado grau de desenvolvimento. Necessário para defender a propriedade e acumulação das riquezas. Nascente divisão da sociedade em classes. c. Origem no desenvolvimento interno da sociedade, na medida em que adquirem maior complexidade. i. O Estado é um germe, uma potencialidade, em todas as sociedades humanas, as quais, todavia, prescindem dele enquanto se mantém simples e pouco desenvolvidas. ii. Sociedades que atingem maior grau de desenvolvimento, alcançam uma forma complexa, têm absoluta necessidade de Estado. B. Formação Derivada: novos Estados a partir de outros preexistentes a. Fracionamento (Exemplos: África Colonial e Ex-União Soviética) i. Separação de uma fração de Estado para criação de um novo b. União de Estados (Exemplos Processo de unificação da Alemanha (1871) e da Itália (1861), União dos Emirados Árabes (EAU, 1971). C. Formas atípicas: guerras e divisões forçosas: Ex. Alemanha pós II Guerra Mundial Observação: nos dias atuais é pouco provável que se possa assistir à formação originária de um Estado. 3 Evolução Histórica do Estado: Tipos de Estado e Elementos Essenciais do Estado (p.68) ESTADOS: Formas fundamentais que o Estado tem adotado através dos séculos. ANTIGO GREGO ROMANO MEDIEVAL MODERNO Teocrático/Politeísta ou Monoteísta Cultura Helênica Várias formas de governo: monarquia, república e império Germe do Estado Moderno Poder soberano sobre um território – unidade territorial Arcaico, tribal, patriarcal Cidade Estado (polis) – Autossuficiência Estado primitivo: civitas Instável e heterogêneo: múltiplos centros de poder Democracia ocidental e burguesa: povo como finalidade do poder Força militar, carismática, mística/religiosa ou familiar. Restrição à noção de indivíduo/cidadão – apenas uma elite formava a classe política Dominação por grupos familiares, proprietários e militares Monárquico ou imperial: Absolutismo: imperadores, reis e papado Repúblicas e monarquias constitucionais (normalmente Chefias de Estado) Acumulação primitiva do capital Gênese da democracia Noção excludente de povo romano Sistema jurídico e dominação fundamentados na tradição e no poder clerical Parlamentarismo e Presidencialismo Feudalismo, acumulação de terras e expansão do comércio Noção do Estado de Direito e Democrático de Direito Burocracia voraz e poderosa Capitalismo: Burguesia, Indústria e Tecnologia Exemplo: Mesopotâmia Atenas e Esparta Roma Europa Medieval GRANDES MARCOS DA TRANSIÇÃO DO ESTADO MEDIEVAL PARA O MODERNO: Magna Carta: Inglaterra 1215: Pacto entre o Rei João e os Nobres para restrição do poder monárquico, obediência a certos procedimentos legais e submissão à lei. Tratado de Westphalia: Alemanha, 1648: acordo para o termo da Guerra dos Trinta Anos entre católicos e protestantes. Habeas Corpus Act: inglaterrra, 1679: tutela da liberdade individual contra a prisão ilegal, abusiva e arbitrária. Bill of Rights: Inglaterra, 1689: proibição de penas inusitadas e cruéis, independência do Parlamento (gênese da separação dos poderes) e relativas liberdades individuais. Declaração de Direitos da Virgínia (EUA, 1776): Estilo mais retórico do que técnico jurídico. regras de direito indissociáveis da moralidade pessoal. De acordo com suas regras todo poder emana do poço e em seu nome será exercido. Declaração de Independência dos EUA (4 de julho de 1776): representação do povo com a restrição dos poderes do governo e inalienabilidade dos direitos humanos. 4 Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (França, 1789): proclamou as liberdades e direitos fundamentais do homem. Estado Laico, Direito de associação política, reerva legal, anterioridade, estado de inocência e livre manifestação do pensamento. Fonte: Emerson Malheiro. Curso de Direitos Humanos. Ed. Atlas. Soberania Conceito definido desde o século XVI. O conceito de soberania é uma das bases da ideia de Estado Moderno, tendo sido de excepcional importância para que este se definisse, exercendo grande influência prática nos últimos séculos, sendo ainda uma característica fundamental do Estado. No Estado da Antiguidade – cidade-Estado dotada de autarquia (poder sobre si mesma) – nenhuma delas, porém, indica poder supremo do Estado em relação a outros poderes ou para decidir sobre determinadas matérias. Faltava ao mundo antigo o único dado capaz de trazer à consciência o conceito de soberania: a oposição entre o poder do Estado e outros poderes. Bodin: a soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma República, palavra que se usa tanto em relação aos particulares quanto em relação aos que manipulam todos os negócios de estado de uma República. – República equivale ao moderno significado de Estado. Acrescenta ainda que a soberania, via deregra, só pode existir nos Estados aristocráticos e populares, pois nestes casos, como o titular do poder é uma classe ou todo o povo, há possibilidade de perpetuação. Nas monarquias só haverá soberania se forem hereditárias. Ainda Bodin, a soberania coloca o seu titular, permanentemente, acima do direito interno e o deixa livre para acolher ou não o direito internacional, só desaparecendo o poder soberano quando se extinguir o próprio Estado. Rousseau – transferindo a titularidade de soberania da pessoa do governante para o povo. Soberania é inalienável por ser o exercício da vontade geral. E é indivisível porque a vontade só é geral se houver a participação do todo. Já no século XX, aperfeiçoada a doutrina jurídica do Estado, a soberania passa a ser indicada como uma de suas notas características, colocando-se entre os temas fundamentais do direito público, desenvolvendo-se uma completa teoria jurídica da soberania. Procedendo a uma síntese de todas as teorias formuladas, o que se verifica é que a noção de soberania está sempre ligada a uma concepção de poder, pois mesmo quando concebida como o centro unificado de ordem está implícita a ideia de pode de unificação. Uma concepção puramente jurídica leva ao conceito de soberania como o poder de decidir em última instância sobre a atributividade das normas, Val dizer sobre a eficácia do direito. Miguel Reale – Formula o conceito de soberania como o poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência. Características – una, indivisível, inalienável e imprescritível. Ela é una porque não se admite num mesmo Estado a convivência de duas soberanias. É indivisível porque se aplica à universalidade dos fatos ocorridos no Estado. É inalienável, pois aquele que a detém desaparece quando ficar se ela, seja o povo, a nação ou o Estado. É imprescritível porque jamais seria verdadeiramente superior se tivesse prazo certo de duração. Zanzucchi acrescenta ainda que soberania é um poder originário, porque nasce no próprio momento em que nasce o Estado; é exclusivo, porque só o Estado o possui; é incondicionado, uma vez que só encontra os limites postos pelo próprio Estado, e coativo, uma vez que, no seu desempenho, o Estado não só ordena, mas dispõe de meios para fazer cumprir suas ordens coativamente.
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