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9.1 Capítulo 9 Aplicações de cálculo de curto-circuito São dadas, a seguir, noções básicas sobre aplicações do cálculo de curtocircuito em sistemas de potência. Os tópicos sucintamente abordados são: proteção, disjuntores, chaves, transformadores de corrente, malha de aterramento e barramentos. Proteção O diagrama unifilar da Figura 9.1 ilustra um sistema típico, que pode ser uma subestação de distribuição de uma concessionária ou de um consumidor industrial. Figura 9.1: Diagrama unifilar de um sistema de distribuição típico. Um sistema como esse deve estar preparado para enfrentar condições anormais, principalmente os curtos-circuitos. Nessas situações, os equipamentos devem suportar elevadas correntes e interrompê-las, caso seja necessário, e o sistema deve ser planejado para um rápido restabelecimento, de tal modo que a interrupção da energia elétrica seja o mais breve possível. Para possibilitar essas ações é necessário o conhecimento prévio das valores das correntes de curtos-circuitos em locais estratégicos do sistema sob análise, que se consegue através da modelagem conveniente dos componentes elétricos e simulações adequadas. Nesse contexto, os estudos de curtos-circuitos têm duas finalidades: a) b) 9.1.1 9.1.2 9.2 o dimensionamento dos dispositivos de interrupção, tais como fusíveis, religadores e disjuntores, que exigem o conhecimento dos valores máximos; a seleção das características nominais e a definição dos ajustes dos dispositivos de proteção contra curtos-circuitos, tais como fusíveis, religadores e relés que, neste caso, além dos valores máximos, é essencial o conhecimento dos valores mínimos das correntes de curtos-circuitos. Em sistemas solidamente aterrados é necessário o estudo de curto-circuito fase-terra para definição dos ajustes dos relés de terra; entretanto, para sistema aterrado através de resistor o seu valor define praticamente a intensidade da corrente. Estudos de curtos-circuitos para a determinação da solicitação nos dispositivos de interrupção A finalidade destes estudos é determinar a solicitação mecânica no primeiro ciclo e a solicitação de interrupção em disjuntores de alta tensão, fusíveis limitadores de corrente e disjuntores de baixa tensão. Estudos de curtos-circuitos para a coordenação da proteção e seletividade A coordenação entre dispositivos de proteção tem a finalidade de isolar seletivamente somente a parte atingida pelo curto-circuito. Para conseguir a coordenação mais seletiva possível, são essenciais os conhecimentos das características de operação dos dispositivos de proteção e das intensidades e distribuição das correntes de curto-circuito. O valor eficaz máximo das correntes simétricas de curtos- circuitos é geralmente usado para estabelecer os requisitos básicos para ajustes de coordenação das unidades temporizadas dos relés. Para os ajustes das unidades instantâneas dos relés, é necessário conhecer os valores das correntes assimétricas. Todos esses ajustes devem também satisfazer as condições de valores mínimos de curtos-circuitos. As correntes mínimas de curtos-circuitos podem ser próximas às correntes de máxima carga; portanto, é importante que os ajustes dos relés consigam discriminar estas duas situações de tal modo que eles não operem sob a condição de carga máxima. Disjuntores [70] A função principal dos disjuntores é interromper os curtos-circuitos o mais 9.2.1 rapidamente possível, para evitar danos nos equipamentos e instalações elétricas que podem ser causados pelas correntes de elevadas intensidades. Características relativas à manobra de correntes de falta Conforme já visto, as correntes de curto-circuito podem ser consideradas como constituídas de uma componente periódica, geralmente referida como componente CA e uma componente aperiódica frequentemente denominada componente CC. Durante o processo de interrupção de um curto-circuito por um disjuntor trifásico, a corrente em duas ou três fases terá certo grau de assimetria, que dependerá do tipo de falta e do instante da sua ocorrência. Como o processo de interrupção em cada polo do disjuntor é independente dos demais, é necessário que cada polo seja capaz de operar satisfatoriamente na eventualidade da ocorrência simultânea dos valores mais desfavoráveis possíveis das componentes CA e CC na respectiva fase. A Figura 9.2 permite visualizar os parâmetros que devem ser definidos numa especificação para garantir a operação correta do disjuntor nessas condições. t1 – instante da ocorrência da falta; t2 – instante da energização da bobina de abertura do disjuntor; t3 – instante da separação dos contatos do disjuntor; t4 – instante da interrupção da corrente; tp – tempo de atuação da proteção; tab – tempo de abertura do disjuntor; tarc – tempo de duração do arco elétrico; ti – tempo de interrupção da falta pelo disjuntor; te – tempo de eliminação da falta; Ica(pico) – valor de crista da componente CA da corrente de falta; Icc0 Icc 9.2.2 Iass Figura 9.2: Evolução da corrente assimétrica de curto-circuito e os parâmetros característicos. – valor inicial da componente CC da corrente de falta (Obs.: para a condição de máxima assimetria admitida, Icc0 = Ica(pico)); – valor da componente CC da corrente de falta no instante da separação dos contatos do disjuntor; – valor de pico máximo da corrente assimétrica. Com o auxílio da Figura 9.2, são definidos os seguintes parâmetros: Tempo de interrupção nominal (ciclos) Corresponde ao maior tempo ti que o disjuntor pode levar para interromper uma corrente de qualquer valor. É geralmente expresso em ciclos, variando de 2 a 5 ciclos, dependendo do tipo de disjuntor. O tempo de interrupção nominal tem importância para a estabilidade do sistema. A redução do tempo de eliminação da falta permite aumentar a estabilidade transitória do sistema e, consequentemente, aumentar a capacidade de transmissão de uma interligação. A Tabela 9.1 mostra os valores recomendados para os níveis de tensões diferentes: 9.2.3 Tensão Nominal (kV) ti (ciclos 750 2 500 2 345 3 220 3 138 3 < 138 5 Tabela 9.1: ti em função do nível de tensão. Capacidade de interrupção nominal em curto-circuito É caracterizada pela declaração dos valores das componentes CA e CC para os quais o disjuntor deve ser testado: Valor da componente periódica (kA, eficaz) É um valor escolhido da Tabela XV da norma IEC 56-2, em função dos valores nominais de tensão e de corrente do disjuntor, devendo exceder por uma certa margem (por exemplo, 20%) o valor eficaz da maior corrente de curto-circuito monofásico ou trifásico calculada, nos estudos de planejamento, para a subestação onde o disjuntor será instalado, ao longo de toda a vida útil do equipamento (25 a 30 anos). Embora em uma mesma subestação certos disjuntores sejam submetidos a correntes de curto-circuito menores que outros, dependendo da localização, é conveniente que todos os disjuntores de idêntica tensão nominal tenham a mesma capacidade de interrupção nominal. Valor da componente aperiódica As normas IEC e ABNT determinam que a componente CC da corrente de falta, no instante de separação dos contatos do disjuntor, seja especificada em porcentagem do valor inicial Icco (quando Icco = Ica(pico)), o valor percentual expressará também a relação · 100. As normas determinam, ainda, que o menor tempo possível de abertura seja considerado para definição dessa componente, juntamente com um tempo de atuação da proteção de 0,5 ciclo. O valor da componente CC varia ao longo do tempo, segundo a equação: 9.2.4 sendo t – tempo contado a partir do início da falta; τ – constante de tempo do circuito visto dos terminais do disjuntor. e tendo-se Para curto-circuito trifásico e para curto-circuito monofásico Caso os valores de sejam inferiores a 17,0, recomenda-se adotar τ = 45ms para cálculo da componente CA, tendo em vista a padronização, na norma IEC 56-2, de um “decremento padrão” da componente CC de 20% em 10 ms, o que corresponde a uma constante de tempo de 45 ms que se refere,por sua vez, a = 17,0, para ω = 377 rad/s. A Tabela 9.2 apresenta os valores da constante de tempo correspondentes a diversos valores da relação dos circuitos. Como a norma IEC 56-2 refere-se ao valor da componente aperiódica correspondente ao menor tempo possível de abertura de contatos do disjuntor e esse tempo não é, em geral, especificado (o tempo normalmente especificado é o de abertura máximo), recomenda-se especificar o valor (em %) da componente aperiódica correspondente a um determinado tempo (em ciclos), supondo como mínimo, indicando também a constante de tempo (em ms) para que a componente CC seja recalculada caso seja verificado que o disjuntor é capaz de abrir num tempo ainda inferior ao indicado. Capacidade de estabelecimento nominal em curto- circuito (kA, crista) A capacidade de estabelecimento nominal em curto-circuito é o maior valor instantâneo de corrente que o disjuntor é capaz de estabelecer, isto é, fechar e engatar (close and latch) quando operando com tensão nominal. O maior valor instantâneo de uma corrente de falta corresponde, em geral, ao primeiro pico da corrente após o início da falta. Este valor pode ser calculado por: Ief – F – 9.3 τ (ms) F Icc% tempo(ciclos) 12 32 2,50 46 27 1,5 2,5 17 45 2,59 57 40 1,5 2,5 20 53 2,62 62 46 1,5 2,5 30 80 2,69 73 59 1,5 2,5 40 106 2,72 79 67 1,5 2,5 50 133 2,74 83 73 1,5 2,5 60 159 2,76 85 77 1,5 2,5 100 265 2,78 91 85 1,5 2,5 ∞ ∞ 2,83 100 100 1,5 2,5 Tabela 9.2: Constante de tempo correspondente a diversos valores de sendo valor eficaz da corrente de curto-circuito (obtidos nos programas de curtocircuito); fator obtido através da equação (9.6). sendo t = 8,33 ms para 60 Hz; t = 10,0 ms para 50 Hz. Chaves As chaves desempenham diversas funções nas subestações e podem ser classificadas da seguinte maneira: 1. • • • 2. • 3. • 9.3.1 a. b. Seccionadores “by-passar” equipamentos; isolar equipamentos; manobrar circuitos. Chaves de terra aterrar componentes do sistema em manutenção. Chaves de aterramento rápido aterrar automaticamente componentes energizados do sistema sem esquemas de proteção para possibilitar a transferência de disparo. Dentre os vários itens da especificação de características técnicas deste equipamento, com relação à corrente de curto-circuito, destacam-se: Correntes nominais de curto-circuito Devem ser selecionadas entre as correntes padronizadas pelas normas, em função das correntes de curto-circuito encontradas nos locais das instalações. As correntes especificadas, segundo as normas, são as seguintes: Corrente suportável nominal de curta duração ABNT/IEC: Valor eficaz da corrente que a chave pode conduzir por um tempo especificado (1 segundo ou 3 segundos). Valores padronizados (em kA): 8, 10, 12,5, 16, 20, 25, 31,3, 40, 50, 63, 80 e 100. ANSI: Valor eficaz da corrente assimétrica que a chave pode conduzir por um pequeno intervalo de tempo. Valores padronizados (em kA): 20, 40, 61, 70, 100 e 120. Valor de pico nominal da corrente suportável de curta duração. ABNT/IEC: Valor de pico da corrente que a chave pode conduzir sem deteriorar o material. Os valores padronizados são 2,5 vezes a corrente nominal de curta duração. c. d. 9.3.2 9.4 Corrente momentânea ANSI: Valor eficaz da corrente assimétrica no pico máximo que a chave pode conduzir pelo menos durante um ciclo. Corrente nominal de 3 segundos ANSI: Valor eficaz da corrente assimétrica no pico máximo que a chave pode conduzir por 3 segundos. Esforços mecânicos nominais sobre os terminais Para os cálculos dos esforços mecânicos nos terminais das chaves são levadas em consideração a força eletromagnética devido à corrente de curto-circuito e a força devido à ação do vento. A força eletromagnética devido à corrente de curto-circuito é determinada através da equação (9.7). sendo Ief – corrente de curto-circuito simétrico (valor eficaz); d – espaçamento entre fases (m); K – multiplicador (vide Tabela 9.3). Norma K NEMA 0,1414 CIGRE 0,0721 IEEE 0,0562 Tabela 9.3: Multiplicadores. Transformadores de corrente Os transformadores de corrente (TCs), juntos com os os transformadores de tensão (TPs – transformadores de potencial), são chamados de transformadores de instrumentos. As funções desses equipamentos são: • • 9.4.1 9.4.2 9.4.3 9.5 transformar as altas correntes e tensões do sistema de potência para valores compatíveis com os circuitos secundários; isolar galvanicamente os relés de proteção e os instrumentos de medidas, ligados nos enrolamentos secundários dos transformadores de instrumentos, do sistema de alta tensão. Os valores nominais dos enrolamentos secundários dos TCs são padronizados para que relés de proteção e instrumentos de medidas de quaisquer fabricantes possam ser ligados. A corrente dos enrolamentos secundários dos TCs é padronizada em 5 ampères nominais; entretanto, há também a padronizada em 1 ampère. Muitos dos novos relés são programáveis para ambos os valores. Os TCs são projetados para suportar, por poucos segundos, correntes elevadas de curtos-circuitos, que podem alcançar dezenas de vezes do valor nominal. As características nominais para a especificação dos TCs, relativos às correntes de curtos-circuitos, são: Fator de sobrecorrente nominal É o fator que multiplica a corrente secundária e o TC se mantém dentro da sua classe de exatidão, sendo que, para serviço de relés, este fator é 20. Corrente térmica nominal É o valor eficaz da corrente primária simétrica que o TC pode suportar por um tempo determinado (normalmente 1 segundo), com o enrolamento secundário curto- circuitado, sem exceder os limites de temperatura especificados para a sua classe de isolamento. Corrente dinâmica nominal É o valor de pico da corrente assimétrica primária que um TC é capaz de suportar, durante o primeiro meio ciclo com o enrolamento secundário curtocircuitado, sem se danificar mecanicamente, devido às forças eletromagnéticas resultantes. Malhas de aterramento [71] A malha de aterramento tem uma importância fundamental para a segurança humana. Ela deve ser projetada de tal modo que os potenciais dimensionados, quando da ocorrência de máxima corrente de curto-circuito à terra, sejam inferiores aos 9.6 máximos potenciais de toque e de passo que uma pessoa pode suportar sem que se chegue ao estado de fibrilação ventricular. Nas ocorrências de curtos-circuitos à terra (monofásico ou bifásico), em qualquer ponto de um sistema de potência, as correntes de sequência zero retornarão através do solo e dos cabos para-raios, chegando até a malha de aterramento das subestações. A Figura 9.3 ilustra um caso simples, em que ocorre um curto-circuito monofásico numa linha aérea radial com cabo para-raios. Neste caso, tem-se: Figura 9.3: Malha de aterramento em uma subestação [71]. A corrente de retorno pelo solo (Isolo) é a responsável pelas tensões de toque e de passo; portanto, somente ela é que deve ser considerada no dimensionamento da malha de aterramento. Na prática, sendo 0,10 < m < 0,64 Barramentos [72] e [73] A energia elétrica, transportada através de linhas de transmissão de AT ou de EAT, chegando à subestação transformadora é coletada no barramento antes de efetuar as devidas transformações. Sob o ponto de vista de circuito elétrico, o barramento representa um nó em que se impõe todo o equilíbrio energético. A convergência de várias linhas de transmissão no barramento, indubitavelmente, • • • • • 9.6.1 • • faz com que o nível da corrente de curto-circuito seja extremamente elevado neste ponto. Isso requer o seu dimensionamento bastante criterioso, seguindo as normas e adotando fatores de segurança compatíveis com a importância deste componente no sistema elétrico. Outros fatores, que não a corrente de curto-circuito, influenciam no dimensionamento do barramento, mas por este ser um texto sobre curto-circuito, será tratada somente a influência desse parâmetro. Os tipos de barramentos normalmente utilizados são: flexíveis; rígidos.Os barramentos flexíveis, que utilizam cabos nus, normalmente são adotados em subestações de grandes dimensões, em que o espaço não é um fator limitante. Nos barramentos flexíveis devem-se considerar alguns aspectos negativos: as oscilações provocadas por forças eletromagnéticas durante os curtoscircuitos ou por ventos fortes impõem espaçamentos maiores entre condutores das fases; devido às flechas, os espaçamentos entre o solo e os condutores das fases devem ser maiores; em consequência dos espaçamentos maiores, as estruturas metálicas devem ter dimensões maiores. Os barramentos rígidos utilizados em subestações de AT normalmente são tubulares. Dimensionamento do barramento em função da corrente de curto-circuito Para o dimensionamento do barramento em função da corrente de curtocircuito, devem ser considerados dois critérios: critério mecânico; critério térmico. Critério mecânico O critério mecânico permite calcular e dimensionar o barramento para suportar os esforços mecânicos devido às forças eletromagnéticas provocadas pelo fluxo de corrente de curto-circuito. A força eletromagnética em duas barras paralelas percorridas por correntes é dada pela expressão: em que Fe – força eletromagnética (N); I1 e I2 – correntes nas barras (kA); l – distância entre dois apoios consecutivos (cm); a – espaçamento entre as barras (cm). Substituindo µo por 4π10−7 H/m e considerando l >> a, chega-se à expressão: sendo Iass – pico máximo da corrente assimétrica (kA). Em sistema de potência, geralmente, é conhecido o valor eficaz da corrente Ief em qualquer barramento da subestação, determinado através de um programa computacional. É preciso, então, transformá-lo no valor de pico máximo da corrente assimétrica Iass. Para isso basta multiplicar o valor de pico da corrente simétrica pelo fator multiplicativo χ; portanto, O fator multiplicativo χ nada mais é do que a equação (7.8) deduzida no Capítulo 7, ou seja: em que Na prática a equação (9.13) é colocada na forma de um gráfico, tendo na abscissa a relação img_rbyx> e na ordenada o fator multiplicativo χ, mostrado na Figura 9.4. Tendo-se Fe determina-se o Mf – momento fletor – dado pela equação (9.14): sendo Mf – momento fletor (kgf.cm); Figura 9.4: Fator multiplicativo para obtenção do valor de pico máximo da corrente assimétrica. Fe – força eletromagnética (kgf); l – distância entre dois apoios consecutivos (cm). Em seguida, consulta-se o W – módulo de resistência à flexão – referente ao perfil do barramento escolhido e à sua especificação será satisfatória se obedecer à seguinte inequação: em que W – módulo de resistência à flexão; Mf – momento fletor (kgf.cm); σ – limite de escoamento (kgf/cm2). O limite de escoamento, ou tensão de escoamento, é a tensão máxima que o material suporta ainda no regime elástico de deformação; se houver algum acréscimo de tensão o material não segue mais a lei de Hooke e começa a sofrer deformação plástica (deformação definitiva). Os valores de ˙ são fornecidos nos catálogos de fabricantes. Caso a condição da inequação (9.15) não se verifique, é necessário escolher barramento com outras medidas para que o cálculo da resistência mecânica ao curto- circuito seja satisfeito. Tipo de barramento Valores de σ Alumínio Cobre Barra chata 12,5×103 21,0×103 Tubo 12,5×103 22,5×103 Tabela 9.4: Limites de escoamento. Critério térmico Durante um curto-circuito, o calor gerado pelo fluxo de corrente é praticamente todo retido no condutor, pois, considerando-se a rápida atuação do sistema de proteção, não haverá tempo suficiente para a dissipação do calor no meio ambiente. O dimensionamento em função do aquecimento devido ao curto-circuito é baseado no cálculo do tempo de fadiga térmica de um condutor, que é o tempo que ele deve suportar antes que ocorra o recozimento do material. Esse valor é calculado pela da equação (9.16). em que t – tempo de fadiga térmica do condutor (s); k – fator relativo às propriedades térmicas do condutor; A – seção da barra (mm2); It – corrente térmica (A). A seção mínima, portanto, pode ser obtida pela equação (9.17) O tempo de atuação do sistema de proteção da subestação, que é aquele que interrompe a corrente de curto-circuito, pode ser assumido como o tempo de fadiga térmica do condutor. Isso garante que a barra não entre em fadiga térmica antes da atuação do sistema de proteção Um curto-circuito no barramento pode ser considerado como uma contingência múltipla, pois vários disjuntores deverão ser abertos simultaneamente em questão de alguns ciclos através de um sistema de proteção adequado (relés diferenciais de barra, por exemplo). Caso haja a recusa de atuação desse sistema de proteção, os disjuntores deverão ser abertos pela proteção de retaguarda, cujo tempo de atuação é bem superior à proteção principal. É comum a 2a zona dos relés de distância do outro terminal das linhas de transmissão, ajustada em 0,5 s, atuar como proteção de retaguarda remota; portanto, considerar 0,5 s como tempo de fadiga térmica do condutor seria uma boa decisão. O fator k, uma grandeza adimensional, quantifica a rapidez com que o condutor entra em fadiga térmica, cujos valores são dados na Tabela 9.5. Condutor Cobre nu Alumínio nu Liga de alumínio nu Tabela 9.5: Fator k. A corrente térmica It pode ser interpretada como valor constante da corrente que produz a mesma quantidade de calor que a corrente assimétrica de curto-circuito no intervalo de tempo t. Esta corrente pode ser expressa pela equação (9.18). em que Ief – corrente eficaz da corrente simétrica de curto-circuito (A); m – fator adimensional; n – fator adimensional. Os valores dos fatores m e n quantificam o efeito térmico da corrente de curto- circuito. O fator m traduz o efeito da componente contínua da corrente de curto- circuito e do seu amortecimento. O fator n representa o efeito da componente alternada da corrente de curto-circuito e seu amortecimento. Os valores desses fatores são obtidos dos gráficos da Figura 9.5. Para determinar o fator m é necessário conhecer o fator χ, obtido do gráfico da Figura 9.4, bem como o tempo de atuação do relé de proteção. Com relação ao fator n, é necessário conhecer, além do tempo de atuação do relé de proteção, o fator , em que – corrente inicial de curto-circuito; Ik – corrente permanente de curto-circuito. Este fator é também um parâmetro da rede, análogo ao fator χ, mas que quantifica o decrescimento da componente alternada da corrente de curtocircuito. O decrescimento da componente alternada da corrente depende do local da ocorrência do curto-circuito em relação às máquinas síncronas do sistema, o que leva as normas a considerarem dois casos: “perto dos geradores” e “longe dos geradores”. Figura 9.5: Gráficos para a determinação dos fatores m e n (BBC736966 [74]). O decrescimento da corrente de curto-circuito perto dos geradores é bastante 9.7 9.8 acentuado, o que faz o fator assumir valores elevados. Por outro lado, longe dos geradores praticamente não haverá o decrescimento da corrente de curto-circuito, implicando no fator igual a 1. Portanto, o fator m, que quantifica o efeito térmico da componente contínua da corrente de curto-circuito é influenciado por χ, sendo que, quanto maior for χ maior será a componente contínua, o que se traduzirá em uma maior importância do seu efeito térmico. Por sua vez, o fator n, que quantifica o efeito térmico da componente alternada da corrente de curto-circuito, é influenciado por , sendo que, quanto maior for menor será n e o seu efeito térmico. Exercício resolvido Calcule o maior valor instantâneo da corrente de curto-circuito trifásico na barra de 345 kV de uma subestação, tendo-se impedância equivalente de sequência positiva Z+ = (0,0458 + j0,6268)% na base de 100 MVA. Resolução: Exercício proposto Calcule o maior valor instantâneo da corrente de curto-circuito fase-terra na barra de 345 kV de uma subestação, tendo-se as impedâncias equivalentes de sequências positiva e zero Z+ = (0,0458 + j0,6268)%e Zo = (0,1529 + j1,1413)% na base de 100 MVA. Resposta: 50.896,2 A 10.1 Capítulo 10 Noções de proteção de sistemas de energia elétrica Neste capítulo serão dadas algumas noções de sistemas de proteção de linhas de transmissão, transformadores de potência, máquinas síncronas e sistema de distribuição. O intuito é apenas passar alguns princípios, fazendo uma ligação entre estes assuntos e os estudos de curtos-circuitos. Introdução A energia elétrica é um dos recursos fundamentais da sociedade moderna que está disponível a qualquer momento na tensão e na frequência corretas e na quantidade exata que o consumidor necessita. Para alcançar este desempenho notável é preciso que o sistema de potência seja planejado, projetado, construído e operado obedecendo a critérios técnicos rígidos e investimentos compatíveis. Para o consumidor em geral o sistema elétrico parece comportar-se sempre em estado permanente, imperturbável, constante e capacidade inesgotável; entretanto, por abranger uma vasta área, ele está sujeito a constantes perturbações causadas por fenômenos naturais, condições ambientais adversas, falhas de equipamentos ou por ações humanas inapropriadas. É raro, porém as perturbações quando graves podem vir a causar um colapso generalizado, comumente conhecido como blecaute. Para minimizar a área de abrangência de um blecaute e agilizar o restabelecimento da energia elétrica, a operação do sistema de potência é provido de procedimentos operativos preestabelecidos e automatismos adequados. Um dos dispositivos automáticos é o relé de proteção que, junto com outros equipamentos convenientemente ligados ao sistema de potência, têm a função de detectar as condições intoleráveis ou indesejáveis dentro de uma zona preestabelecida e isolar a parte afetada. Para entender as funções dos relés, deve-se estar familiarizado com a natureza e os modos de operação de um sistema elétrico de potência. Em geral, os relés iniciam a sua atuação após a ocorrência de perturbações, o que torna a rapidez da sua resposta extremamente importante, sendo que tempos da ordem de uns poucos milissegundos são requeridos frequentemente. Esta característica permite que os equipamentos envolvidos sejam isolados antes que eles venham a sofrer danos ou, em alguns casos, • • • limitá-los. As outras funções são: minimizar o perigo às pessoas, reduzir o estresse em equipamentos adjacentes e, acima de tudo, manter a integridade e a estabilidade do restante do sistema elétrico para facilitar o seu restabelecimento. Quando se fala em relés, quase sempre associa-se o seu uso à função proteção; entretanto, além dela existem outras cinco categorias funcionais. Relés de proteção: Detectam defeitos ou outras condições perigosas ou intoleráveis em equipamentos. Estes relés geralmente atuam em um ou mais disjuntores, mas podem também ser usados para soar um alarme. Relés de monitoração: Verificam as condições do sistema de potência ou do sistema de proteção. Nesta categoria incluem-se os relés detectores de falta, unidades de alarme e relés de monitoração. Relés de religamento: Estabelecem uma sequência de fechamento de um disjuntor após a sua abertura por relés de proteção. Relés de regulação: Restauram os parâmetros de operação, através de equipamentos suplementares, quando os seus limites desviam de valores preestabelecidos. Relés auxiliares: Operam em resposta à abertura ou ao fechamento de um circuito para suplementar outro relé ou dispositivo. Nesta categoria estão os relés temporizadores, relés multiplicadores-de-contatos, unidades de selo, relés de bloqueio, relés de fechamento e relés de disparo. Relés de sincronização (ou verificação de sincronismo): Asseguram a existência de condições para interligar duas seções de um sistema de potência. Em sistemas modernos de proteção com tecnologia digital muitas dessas funções estão incorporadas num único relé. Além das categorias funcionais, relés podem ser classificados por entrada, princípio de operação ou estrutura e característica de desempenho. O que se segue são algumas das classificações e definições descritas no ANSI/IEEE C37.90 (e também no ANSI/IEEE C37.100 Definitions for Power Switchgear). a. Entrada: corrente; tensão; potência; • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • pressão; frequência; temperatura; fluxo; vibração. b. Princípio de operação ou estrutura: balanço de corrente; porcentagem; multirrestrição; produto; estado sólido; estático; microprocessado; eletromecânico; térmico. c. característica de desempenho: diferencial; distância; sobrecorrente direcional; tempo inverso; tempo definido; subtensão; sobretensão; • • • 10.2 • terra ou fase; alta ou baixa velocidade; piloto (comparação de fase, comparação direcional e corrente diferencial). Ideia básica de um sistema de proteção Os componentes elétricos de um sistema de potência devem ser protegidos contra os curtos-circuitos ou condições anormais de operação, geralmente provocadas pelos próprios curtos-circuitos. Na ocorrência desses eventos é necessário que a parte atingida seja rapidamente isolada do restante da rede elétrica, de forma a evitar danos materiais e restringir a sua repercussão no sistema. Esta função é desempenhada pelo sistema de proteção, cuja ideia básica é apresentada na Figura 10.1 [22]. Figura 10.1: Sistema de proteção. As condições do sistema de potência são monitoradas constantemente pelo sistema de medidas analógicas (transformadores de instrumento), que são os transformadores de corrente (TCs) e transformadores de potencial (TPs). As correntes e as tensões transformadas em grandezas secundárias alimentam um sistema de decisões lógicas (relé de proteção), que compara o valor medido com o valor previamente ajustado no relé. A operação do relé ocorrerá sempre que o valor medido exceder o valor ajustado, atuando sobre um disjuntor. Os equipamentos que compõem um sistema de proteção são relacionados a seguir: Transformadores de instrumento Os transformadores de instrumento são os redutores de medidas de corrente (TC) e de tensão (TP), que têm a função de isolar os circuitos dos relés da alta tensão, além de padronizar os valores secundários. • • Relé de proteção O relé de proteção é um dispositivo que toma decisões, comparando o valor medido com o valor ajustado previamente. Disjuntor O disjuntor é um equipamento de alta tensão com capacidade para interromper correntes de curtos-circuitos, isolando a parte sob falta do restante do sistema. Além desses equipamentos o sistema de proteção necessita de uma fonte de corrente contínua, fornecida pela bateria. Deve-se prever uma capacidade em Ah adequada, pois além de alimentar o sistema de proteção ela alimenta também os sistemas de controle e sinalização e, muitas vezes, a iluminação de emergência da subestação ou da usina. Um diagrama unifilar simplificado, destacando o sistema de proteção, é mostrado na Figura 10.2. Figura 10.2: Diagrama unifilar de um sistema de proteção. A Figura 10.3 mostra um diagrama trifilar de um sistema de proteção típico. Trata- se de um esquema com quatro relés de sobrecorrente (três de fase e um de terra), com unidades temporizadas (T) e unidades instantâneas (I). A seguir, são listados os passos da atuação deste sistema, após a ocorrência de um curto-circuito. a. Ocorre um curto-circuito. b. A elevação da corrente no secundário do TC é proporcional ao valor da corrente de curto-circuito. c. O circuito de corrente do relé sente a elevação da corrente (sobrecorrente). d. Dependendo do valor da sobrecorrente e dos ajustes dos relés, opera a unidade temporizada (T ) ou a unidade instantânea (I), fechando o contato. 10.3 e. O fechamento de qualquer um dos contatos energiza, através da corrente contínua fornecida pela bateria, a bobina de desligamento (BD) do disjuntor. Figura 10.3: Diagrama trifilar de um sistema de proteção. f. A energização da BD (Obs.: Trip Coil, em inglês) provoca a repulsão do núcleo de ferro (Obs.:a BD é um solenoide). d. O movimento abrupto do núcleo, provocado pela força eletromagnética, destrava o mecanismo do disjuntor, que abre os seus contatos. Deve-se salientar que, qualquer que seja o sistema de proteção, os contatos dos relés são ligados em série com a bobina de desligamento do disjuntor. Além disso, um contato “a” do disjuntor é também introduzido no circuito. A posição deste contato acompanha a posição dos contatos principais do disjuntor, isto é, o contato “a” é aberto quando o disjuntor é aberto e vice-versa. A finalidade deste contato é evitar a queima da BD na eventualidade de o contato do relé ficar colado. Características funcionais dos relés de proteção Para que o relé de proteção desempenhe a contento as suas funções alguns requisitos são necessários: • • a. Confiabilidade, fidedignidade e segurança É o grau de certeza da atuação correta de um dispositivo para a qual ele foi projetado. Os relés de proteção, diferentes de outros dispositivos, têm duas alternativas de desempenho indesejado: recusa de atuação: não atua quando solicitado; atuação incorreta: atua quando não é solicitado. Estas duas situações levam a definições complementares: fidedignidade e segurança. A fidedignidade é a medida da certeza de que o relé irá operar corretamente para todos os tipos de faltas para os quais ele foi projetado para operar. A segurança é a medida da certeza de que o relé não irá operar incorretamente para qualquer falta. Considere uma falta f, na linha de transmissão do sistema mostrado na Figura 10.4. Figura 10.4: Confiabilidade do sistema de proteção. Na atuação correta, esta falta deve ser sanada através das aberturas dos disjuntores nos terminais A e B. Se o sistema de proteção em A não operar (recusa de atuação), haverá o comprometimento da confiabilidade através da perda da fidedignidade. Se a mesma falta for sanada pela operação do sistema de proteção no terminal C, antes da atuação do sistema de proteção em A, haverá o comprometimento da confiabilidade através da perda da segurança. 1. 2. b. Seletividade dos relés e zonas de proteção A segurança dos relés, isto é, o requisito que eles não irão operar para faltas para os quais eles não foram designados para operar, é definida em termos das regiões de um sistema de potência – chamadas zonas de proteção – para as quais um dado relé ou sistema de proteção é responsável. O relé será considerado seguro se ele responder somente às faltas dentro da sua zona de proteção. Certos relés possuem várias entradas de correntes alimentadas por TCs diferentes, os quais delimitam a zona de proteção. Para cobrir todos os equipamentos pelos seus sistemas de proteção, as zonas de proteção dever ter os seguintes requisitos: Todos os componentes do sistema de potência devem ser cobertos por pelo menos uma zona. Uma boa prática é assegurar que os componentes mais importantes estão incluídos em pelo menos duas zonas. Zonas de proteção devem se sobrepor para evitar que qualquer componente fique desprotegido. Uma zona de proteção pode ser fechada ou aberta. A Figura 10.5 mostra exemplos de zonas de proteção e também, alguns pontos de falta. Uma falta f1, que ocorre dentro de uma zona fechada, deverá ser isolada pela atuação dos sistemas de proteção de ambos os terminais da linha. O mesmo deverá ocorrer para uma falta f2, mas, neste caso, a falta cai dentro da sobreposição de duas zonas de proteção. Na eventualidade da recusa de atuação do sistema de proteção da linha no terminal A, todos os demais disjuntores ligados à barra A deverão ser abertos. Figura 10.5: Zonas de proteção. A falta f3 ocorre dentro da zona de proteção do gerador, mas também fica dentro 1. 2. 3. 4. 10.3.1 da sobreposição de outras duas zonas de proteção, todas elas zonas fechadas. A falta f4 ocorre dentro de duas zonas abertas. Neste caso, a falta deverá ser isolada pela atuação do sistema de proteção da linha de distribuição, mas na eventualidade de sua falha o sistema de proteção do lado de baixa do transformador deverá atuar, o que acarretará a falta de energia elétrica em outros dois circuitos que nada tem a ver com a falta. Este caso ilustra uma característica muito importante, a seletividade, que é a capacidade de um sistema de proteção isolar somente a seção atingida do circuito após a ocorrência de um curto-circuito. c. Velocidade É, geralmente, desejável remover a parte atingida pela falta do restante do sistema de potência tão rapidamente quanto possível para limitar os danos causados pela corrente de curto-circuito; entretanto, existem situações em que uma temporização intencional é necessária. Apesar de o tempo de operação dos relés frequentemente variar numa faixa bastante larga, a velocidade dos relés pode ser classificada dentro das categorias a seguir. Instantâneo: Nenhuma temporização intencional é introduzida no relé. O tempo inerente fica na faixa de 17 a 100 ms. Temporizado: Uma temporização intencional é introduzida no relé, entre o tempo de decisão do relé e o início da ação de desligamento. Alta-velocidade: Um relé que opera em menos de 50 ms (3 ciclos na base de 60 Hz). Ultra alta-velocidade: Uma temporização inferior a 4 ms. A Figura 10.6 mostra os tempos de operação de um sistema de proteção sem temporização intencional. Redundância do sistema de proteção Um sistema de proteção pode não atuar quando solicitado, caracterizando o que comumente se denomina de recusa de atuação. A recusa pode se originar de várias causas, tais como: erro de projeto, erro de montagem, defeito no disjuntor, defeito no relé. O índice de recusa de atuação do sistema de proteção dos componentes de um sistema de potência é muito baixo, cerca de 1,0% (dado do sistema interligado brasileiro); entretanto, é essencial prover um sistema alternativo que forneça uma redundância de proteção. Esta proteção é denominada de retaguarda (back-up) ou secundária. O sistema de proteção principal, para uma determinada zona de proteção, é chamado de sistema de proteção primária e deve atuar instantaneamente e isolar o menor trecho possível do sistema elétrico. Em sistemas de EAT é comum utilizar sistema de proteção primária redundante. Esta duplicação tem como finalidade cobrir as falhas dos relés em si; portanto, é recomendável que a redundância seja feita com relés de outro fabricante, ou relés baseados em princípio de operação diferente. Os tempos de operação dessas duas proteções são iguais. É economicamente inviável duplicar todos os componentes de um sistema de proteção, pois em AT e EAT os transformadores de instrumento e disjuntores são muito caros. Em EAT são comuns disjuntores com bobinas de desligamento duplicadas. Figura 10.6: Tempos de operação de um sistema de proteção. Um sistema de proteção redundante menos oneroso, porém menos seletivo, é a proteção de retaguarda, cuja atuação é geralmente mais lenta que a proteção primária, o que pode causar a remoção de mais elementos do sistema de potência para sanar uma falta. A proteção de retaguarda pode ser local ou remota. Na proteção de retaguarda local os relés estão instalados na mesma subestação da proteção primária e os transformadores de instrumento e a bateria que os alimentam são os mesmos e atuam sobre o mesmo disjuntor; o que na eventualidade de falha em um desses equipamentos afeta ambos os esquemas. Na proteção de retaguarda remota os relés, os transformadores de instrumento, a bateria que os alimenta e o disjuntor no qual eles atuam são completamente independentes, o que torna também os esquemas independentes. O sistema de proteção denominado falha de disjuntor é um subconjunto do sistema de proteção de retaguarda, que tem a função específica de cobrir um defeito no disjuntor. Este esquema consiste basicamente em relés de sobrecorrente e um relé de 10.4 10.4.1 • • • • • • • tempo que é energizado sempre que o circuito de desligamento do disjuntor é energizado. Quando o disjuntor opera normalmente, o relé de tempo é desenergizado. Se a corrente de faltapersistir por um tempo maior que o ajustado no relé temporizado, todos os outros disjuntores dos circuitos adjacentes que contribuem com corrente de curto-circuito serão abertos. Proteção de linhas de transmissão Introdução As linhas de transmissão em corrente alternada são comumente classificadas pela função, a qual se relaciona com o nível de tensão. A seguir uma classificação típica: distribuição (2,2 kV a 34,5 kV): circuitos transmitindo potência ao consumidor final; subtransmissão (13,8 kV a 138 kV): circuitos transmitindo potência às subestações de distribuição; transmissão (69 kV a 765 kV): circuitos transmitindo potência entre subestações e sistemas interligados. As linhas de transmissão são divididas em: Alta Tensão (AT): 69 kV a 220 kV; Extra-Alta Tensão (EAT): 345 kV a 765 kV; Ultra-Alta Tensão (UAT): acima de 765 kV. As linhas de transmissão são os componentes mais expostos de um sistema de potência, podendo, portanto, afirmar que a incidência de faltas é consideravelmente maior que em outros elementos do sistema. Considerando que uma linha de transmissão é conectada com outras linhas e equipamentos, o seu sistema de proteção deve ser compatível com o de outros elementos, de tal modo que possibilite uma ampla coordenação de seus ajustes. Deve- se prever também que a proteção principal de um trecho de uma linha atue como proteção de retaguarda das linhas adjacentes. O comprimento da linha de transmissão tem um efeito direto no ajuste de um relé. Na Figura 10.7 a linha é considerada, respectivamente, curta e longa: Zl ≪ Zequ. • • • • • • • 10.4.2 Zl ≫ Zequ. Figura 10.7: Comprimento da linha. Nas linhas curtas a discriminação por níveis de corrente de curto-circuito é praticamente impossível, pois não há muita diferença entre um um curtocircuito no início (X) e no fim (Y ). Por outro lado, as linhas longas apresentam outro tipo de problema: a corrente de curto-circuito no fim da linha (Y ) pode se aproximar da corrente de carga. Quanto à proteção dessas linhas, existe uma variedade de esquemas que depende das características, configurações, comprimentos e importância relativa. Não existe uma regra inflexível para definir um esquema de proteção. Comumente são encontrados os seguintes esquemas de proteção: fusíveis, religadores e seccionadores; sobrecorrente instantâneo; sobrecorrente temporizado com característica inversa; sobrecorrente direcional temporizado e instantâneo; distância sem teleproteção; distância com teleproteção. Fusíveis, religadores, seccionadores e relés de sobrecorrente Estes dispositivos são utilizados em larga escala nos sistemas de distribuição, que são predominantemente radiais como mostra a Figura 10.8. Durante o curto-circuito surge uma corrente de intensidade elevada que traz efeitos mecânicos e térmicos aos equipamentos sob falta. Os efeitos mecânicos, cujas forças são proporcionais ao quadrado da corrente instantânea, podem deformar condutores e romper materiais isolantes. Já os efeitos térmicos estão ligados ao tempo de permanência do curto-circuito, podendo produzir um aquecimento excessivo dos materiais condutores e isolantes, degradando-os e reduzindo as suas vidas úteis. Para minimizar os efeitos produzidos pelas correntes de curtos-circuitos, são utilizados os dispositivos anteriormente mencionados. Figura 10.8: Sistema de distribuição. As curvas características tempo × corrente de um fusível são apresentadas na forma de tempo mínimo de fusão e tempo total de interrupção, como mostra a Figura 10.9. O tempo mínimo de fusão é o intervalo entre o início da corrente de curto-circuito e a iniciação do arco. O intervalo de duração do arco é o tempo de arco (∆Ta). O tempo total de interrupção é o tempo mínimo de fusão e o tempo de arco. Os fusíveis são utilizados em ramais de alimentadores e em equipamentos (transformadores de distribuição e capacitores) ligados na rede de distribuição. Os dispositivos de interrupção, além do fusível, são os religadores e seccionadores. O religador tem uma capacidade de interrupção da corrente de curto-circuito limitada e religa automaticamente numa sequência programada. Já o seccionador não pode interromper a corrente de curto-circuito. É um equipamento que possui um sensor de sobrecorrente e um mecanismo para contagem do equipamento de interrupção que fica à sua frente, além de contatos e dispositivos para travamento na posição aberta. Quando ocorre uma sobrecorrente no alimentador passando através do seccionador, cujo valor seja maior ou igual à corrente de acionamento, o equipamento é armado e preparado para a contagem. A contagem se inicia quando a corrente que passa por ele é interrompida pelo equipamento de interrupção à sua frente. Após um número pré- ajustado dessas ocorrências, ele abre os contatos e permanece na posição aberta, isolando o trecho sob falta. Figura 10.9: Curva característica de um fusível. A análise que se segue é feita referindo-se à Figura 10.8: a. O curto-circuito fA deverá ser isolado pelo fusível do ramal, deixando o tronco e outros ramais operando normalmente. b. O curto-circuito fB deverá ser isolado pelo religador. O religador religará automaticamente e permanecerá fechado se a falta for fugitiva. No caso de uma falta permanente o religador obedecerá sequências de aberturas e fechamentos pré-ajustadas. Para todo o fechamento haverá a passagem da corrente de curto- circuito, fazendo com que o seccionador seja armado e preparado para a contagem. Na abertura do religador o seccionador completa a contagem que é ajustado para abrir antes do último religamento automático. Assim, o trecho sob falta é isolado pelo seccionador, permitindo que o restante do circuito seja restabelecido. c. O curto-circuito fC deverá ser isolado pelo religador. O religador religará automaticamente e permanecerá fechado se a falta for fugitiva. No caso de uma falta permanente o religador obedecerá sequências de aberturas e fechamentos pré-ajustadas. Nas saídas dos alimentadores geralmente são utilizados disjuntores comandados por relés de sobrecorrente de fase e de terra, com religamentos automáticos executados pelo relé religador. A Figura 10.10 mostra um esquema de proteção simplificado. Figura 10.10: Esquema de proteção de sobrecorrente. Os relés de sobrecorrente de fase devem atuar para curtos-circuitos trifásico e bifásico e o relé de terra deve atuar para curto-circuito monofásico (ou faseterra). Eles contêm dois elementos (ou unidades): o elemento temporizado e o elemento instantâneo. A Tabela 10.1 mostra os relés de sobrecorrente e os seus respectivos elementos e as nomenclaturas. Relé Elemento Nomenclatura Fase Temporizado 51 Fase Instantâneo 50 Terra Temporizado 51 N ou 51 GS Terra Instantâneo 50 N Tabela 10.1: Nomenclaturas. As nomenclaturas são números padrões que identificam os relés por função. O relé de terra denominado 51 GS (Ground Sensor) é ligado em série com o relé 50-51N. Este relé pode ser ajustado para um valor de pick-up muito baixo, o que permite que ele atue para curto-circuito monofásico com alta resistência. Os elementos temporizados possuem basicamente dois ajustes: o tape e o dial de tempo. O tape é ajustado em função da corrente e o dial de tempo é selecionado de acordo com as temporizações requeridas para a coordenação. O valor do tape determina a corrente mínima capaz de iniciar a operação do relé, a • • • • chamada corrente de pick-up. As características de resposta dos relés de sobrecorrente são alocadas num gráfico em função de múltiplo da corrente de tape × tempo (segundos), para cada ajuste dial de tempo. Há, pois, uma família de curvas, cujas declividades mais usuais são denominadas, por: Tempo definido O relé de sobrecorrente de tempo definido tem uma característica tempo × corrente plana; portanto, acima da corrente de pick-up o relé atuará praticamente com o mesmo tempo. Tempo normal inverso O relé de sobrecorrente de tempo normal inverso é aplicado em redes em que a faixa de variação da corrente decurto-circuito é larga, causa esta decorrente da mudança da capacidade de geração. A característica tempo x corrente, relativamente plana, permite que o relé opere com razoável rapidez para uma faixa grande de corrente de curto-circuito. Tempo muito inverso O relé de sobrecorrente de tempo muito inverso possui uma característica mais íngreme, que faz com que ele opere lentamente para baixos valores correntes e opere rapidamente para altas correntes de curto-circuito. Não é adequado para sistemas com capacidades de geração variáveis Tempo extremamente inverso O relé de sobrecorrente de tempo extremamente inverso apresenta uma característica bastante íngreme, similar à característica de um fusível; portanto, ele é adequado para sistema que possuem fusíveis como proteção, tornando a coordenação mais eficaz. Nos relés eletromecânicos as características são fixas; portanto, se em um determinado sistema os relés de sobrecorrente utilizados tiverem uma característica muito inversa e houver necessidade de mudar para uma característica normal inversa, a única solução é a substituição dos relés. Isto não acontece com os relés de estado sólido e digital, pois um único relé engloba todas as características, que podem ser selecionadas conforme a necessidade. As curvas características dos relés de estado sólido e digital são modeladas através da equação (10.1). Nesta equação DT é o Dial de Tempo, I é corrente secundária que passa pelo relé, Is o tape ajustado e k e α são constantes que dependem de cada tipo de característica. A relação é denominada múltiplo do valor do tape. A Tabela 10.2 fornece estas constantes. Normal Inverso Muito Inverso Extremamente k 0,1 13,5 80,0 α 0,02 1,0 2,0 Tabela 10.2: Constantes dos relés de estado sólido e digital. A coordenação de relés é uma tarefa fundamental, pois, na ocorrência de um curto- circuito, ela permite que os desligamentos dos componentes sejam seletivos. A seletividade é uma das características mais importantes de um sistema de proteção, pois restringe os desligamentos somente na região afetada da rede elétrica. A Figura 10.11 mostra uma rede primária com vários ramais. Para um curto- circuito no ponto f, somente o sistema de proteção do ramal C2 deve operar, implicando que os relés Rg e Rr devem estar coordenados. Uma descoordenação entre estes relés pode provocar a atuação do sistema de proteção da concessionária antes do sistema de proteção do ramal C2, causando a falta de energia para outros consumidores (C1, C3, C4 e C5). A Figura 10.12 ilustra a coordenação entre os elementos temporizados dos relés Rg e Rr. Deve-se ressaltar que a curva do relé Rg é fornecida pela concessionária e o consumidor é o responsável pela definição dos ajustes do relé Rr. O ponto de partida para alocar a curva do relé Rr consiste em deixar um intervalo de tempo, ∆t, em relação à curva do relé Rg de 0,3 a 0,4 segundo. Como visto anteriormente, os relés de sobrecorrente possuem também as unidades instantâneas que são ajustadas para valores elevados de correntes. A Figura 10.13 mostra a alocação das curvas das unidades temporizada e instantânea dos relés de fase. A Figura 10.14 mostra a alocação das curvas das unidades temporizada e instantânea dos relés de terra. Neste caso precisamos de mais um relé de terra denominado 51 GS (Ground Sensor). • • • Figura 10.11: Diagrama unifilar. Para calcular os ajustes dos relés do consumidor a concessionária deve fornecer: Correntes de curtos-circuitos no ponto de entrega São fornecidos os valores de curtos-circuitos trifásico, bifásico e monofásico (sem e com a impedância de falta). Recomenda-se que estes dados sejam fornecidos em módulo e ângulo. Impedâncias no ponto de entrega São fornecidas as impedâncias de sequências positiva e zero, em módulo e ângulo no ponto de entrega. Curvas dos relés da concessionária Estas curvas são fornecidas em forma de gráfico em uma folha-padrão. Trata-se de uma folha em escala logarítmica nos eixos horizontal (corrente) e vertical (tempo), semelhante àquelas em que os fabricantes fornecem as curvas características de seus dispositivos Para a coordenação dos relés de fase são necessários os seguintes dados: • 1. 2. 3. • Figura 10.12: Coordenação entre as unidades temporizadas de Rg e Rr. Capacidade do transformador e/ou demanda do consumidor Os transformadores de potência (de grande porte) possuem três estágios de ventilação: VN (ventilação natural) VF1 (ventilação forçada – 1ọ estágio) VF2 (ventilação forçada – 2ọ estágio) Na VN o transformador fornece a potência nominal. A VF1 e a VF2 devem entrar em operação automática, respectivamente, quando houver uma sobrecarga de 25% e 66,7%. Neste caso, a corrente de pick-up é determinada baseando-se em 1,5 vezes acima da corrente nominal do transformador. Nos transformadores de pequeno porte em paralelo é necessário conhecer a capacidade total e a demanda do consumidor. Neste caso, via de regra, a corrente de pick-up é determinada baseando-se em 1,5 vezes acima do valor da demanda. Corrente de magnetização Na energização do transformador há uma elevação brusca da corrente. É preciso que os relés não atuem para esta situação. Na falta de dados do fabricante, admite-se que a corrente de magnetização seja 8In. • Figura 10.13: Coordenação entre os relés de fase. Valor do curto-circuito trifásico O valor de curto-circuito trifásico no ponto de entrega, fornecido pela concessionária, é um dado extremamente importante. Caso exista um trecho de linha, cuja impedância não se pode desprezar, entre o ponto de entrega e o local da instalação do sistema de proteção na entrada do consumidor, deve-se calcular o valor de curto-circuito neste local. Do contrário, pode-se considerar o valor fornecido pela concessionária. Esta corrente é também utilizada para a escolha do RTC. A corrente primária do TC multiplicada por 20 deve ser maior do que a corrente de curtocircuito. O tape é calculado a partir de 150% da corrente de demanda. Esta corrente deve ser transformada em corrente secundária (corrente no relé) dividindo pela RTC, escolhendo-se o valor mais próximo. Nas curvas características dos fabricantes de relés, o eixo horizontal (eixo da corrente) é graduado em múltiplos do valor do tape (M) e na folha de verificação gráfica da seletividade, o eixo horizontal é graduado em ampères primários. Assim, para transportar a característica do relé para a folha de verificação gráfica da seletividade, é necessário converter as correntes para o valor primário, aplicando-se a equação (10.2): 10.4.3 Figura 10.14: Coordenação entre os relés de terra. O Dial de Tempo deve ser selecionado considerando-se um intervalo de aproximadamente 0,3 a 0,4 segundo entre as curvas do relé da concessionária e do consumidor. Quando um relé é sensibilizado por uma corrente de curto-circuito, após o tempo decorrido em função da curva característica especificada, acionará o disjuntor, interrompendo o circuito. Normalmente são previstos dois religamentos automáticos: o primeiro, ajustado em cerca de 5 segundos, e o segundo em torno de 30 segundos (os ajustes das temporizações dependem da filosofia adotada nas empresas). Na ocorrência de um curto-circuito de causa transitória o disjuntor permanecerá fechado após um dos religamentos e, evidentemente, se o curto-circuito for permanente, o disjuntor ficará aberto após as duas tentativas automáticas de religamento, precisando, portanto, da ação humana para o fechamento do disjuntor. Os disjuntores são dimensionados para suportar a corrente nominal e para interromper a corrente de curto-circuito máxima do seu ponto de instalação. Relé de sobrecorrente direcional Em linhas de transmissão que operam sob a configuração em anel é impossível conseguir uma boa seletividade através de relés de sobrecorrente. Nestes casos, uma das maneiras para conseguir coordenar os relés de vários trechos é discriminando a atuação através dos relés de sobrecorrente direcionais. Os relés de sobrecorrente direcionais devem responder, commáxima eficiência, • • • • somente nas condições de curtos-circuitos. Este requisito é conseguido pelas características de operação dos relés (como mostrado na Figura 10.15) e pelas ligações dos transformadores de instrumento. Figura 10.15: Característica de operação. Característica de operação e ligações dos relés de fase – tensão aplicada na bobina de potencial; Î – corrente que circula na bobina de corrente; θ – ângulo de defasagem entre e Î; τ – ângulo de máximo conjugado. As ligações dos relés direcionais devem ser feitas de tal modo que as suas características sejam compatíveis com os comportamentos das tensões e correntes durante os curtos-circuitos, devendo nestas ocorrências possibilitar um conjugado de operação mais próximo do máximo. Existem cinco tipos de ligações, mas nenhum deles é ideal, pois é possível existir algumas condições de faltas no sistema de potência que podem acarretar operações incorretas de relés. Felizmente, a probabilidade de ocorrência de tais condições é diminuta. A ligação mais apropriada para a maioria dos sistemas é a ligação 90, mostrada na Figura 10.16. As grandezas aplicadas nos relés das fases são mostradas na Tabela 10.3. Figura 10.16: Diagrama de ligação 90°. Nesta ligação as grandezas aplicadas no relé, na posição de fator de potência unitário, devem estar em quadratura conforme os diagramas fasoriais mostrados na Figura 10.17, daí a denominação ligação 90°. Relé Tensão Corrente ΦA bc Îa ΦB ca Îb Φ ab Îc Tabela 10.3: Grandezas aplicadas nos relés direcionais para ligação 90°. • • • Figura 10.17: Diagrama fasorial. Característica de operação e ligação do relé de terra A Figura 10.18 mostra a característica de operação de um relé de terra direcional. – tensão aplicada na bobina de potencial; Î – corrente que circula na bobina de corrente; τ – ângulo de máximo conjugado. Nas condições normais de operação do sistema de potência as grandezas aplicadas na unidade direcional do relé de terra são praticamente nulas, devendo aparecer somente durante as ocorrências de curtos-circuitos que envolvam a terra (fase-terra e bifásico-terra). Isto posto, as questões que surgem são: a. Que grandezas são essas, que surgem somente durante os curtos-circuitos à terra? Figura 10.18: Característica de operação. b. Como se deve ligar a unidade direcional para ser sensível a estas grandezas? Respondendo a essas questões, as grandezas são a tensão e a corrente de sequência zero, e a unidade direcional deve ser ligada nos filtros de sequência zero, de tal modo que a composição das grandezas filtradas seja o mais próximo possível da característica de operação dessa unidade. As grandezas de sequência zero são filtradas por meio de ligações convenientes dos secundários dos TCs e TPs. A Figura 10.19 mostra o diagrama de ligação do relé direcional de terra. No circuito de corrente, tem-se: e, portanto, a grandeza filtrada será 3 vezes a corrente de sequência zero. No circuito de tensão, tem-se: e, portanto, a grandeza filtrada será 3 vezes a tensão de sequência zero. 10.4.4 Figura 10.19: Diagrama de ligação. Relé de distância Com o aumento da complexidade do sistema de potência, houve a necessidade de combinar duas características operativas em relés de proteção de linhas de transmissão: a velocidade e a seletividade. O relé de distância é, portanto, o mais adequado para a proteção desse tipo de componente. Princípio de operação do relé de distância O diagrama da Figura 10.20 mostra os elementos básicos que entram na composição de um esquema de proteção com relé de distância. Considerando um curto-circuito sólido em f, tem-se a seguinte equação de malha: • • • Figura 10.20: Impedância vista por um relé de distância. sendo, Zf – impedância do trecho da linha de transmissão, da barra até o ponto de curto- circuito; A – tensão na barra durante o curto-circuito; ÎA – corrente de curto-circuito. A equação (10.6) mostra que pode-se “medir” a impedância da linha em função das grandezas do sistema elétrico no momento do curto-circuito. Em termos secundários tem-se: Como e • • • então, ou O componente do relé de distância que executa essa medição é denominado elemento de medida. A saída desse elemento é constantemente comparada com um valor previamente parametrizado e a operação ocorrerá quando o valor medido for menor do que o valor ajustado. Figura 10.21: Diagrama de blocos. M – unidade de medida; C – unidade comparadora; T – temporizador. Cálculos das correntes e das tensões no ponto de aplicação dos relés de distância sob condições de curtos-circuitos A aplicação e a análise de relés de proteção requerem conhecimentos detalhados das correntes e tensões nos seus pontos de aplicação sob condições de curtos-circuitos. Os cálculos de curtos-circuitos em sistema de potência (com níveis de detalhamentos de acordo com as necessidades) são feitos através de um programa computacional específico. O método dos componentes simétricos é uma “ferramenta” imprescindível para este tipo de análise. Em sistemas de potência, existem dez possibilidades distintas de curtoscircuitos: um trifásico, três bifásicos, três bifásico-terra e três fase-terra. Neste texto, por conveniência didática, o sistema analisado será simplificado, como mostra a Figura 10.22. Figura 10.22: Sistema simplificado. Este sistema consiste de uma linha de transmissão e duas fontes equivalentes, uma em cada extremidade. O R é o ponto de aplicação do relé sob análise. Curto-circuito trifásico: Para o curto-circuito trifásico, somente a rede de sequência positiva precisa ser representada. A Figura 10.23 mostra o diagrama unifilar de sequência positiva para um curto- circuito trifásico em f. Figura 10.23: Circuito de sequência positiva para um curto-circuito trifásico. A corrente de curto-circuito é calculada por: Simplificando tem-se A corrente de sequência positiva no ponto de aplicação do relé é calculada pela equação (10.15). Simplificando tem-se Sabendo-se que e aplicando a TCS, obtêm-se as correntes de fase: A tensão de sequência positiva no ponto de curto-circuito f e no ponto de aplicação do relé são calculadas, respectivamente, pelas equações (10.22) e (10.23): Sabendo-se que e aplicando-se a TCS, obtêm-se as tensões de fase: Curto-circuito bifásico: Para o curto-circuito bifásico, são necessárias as redes de sequências positiva e negativa. A Figura 10.24 mostra a conexão das redes de sequência positiva e negativa para um curto-circuito bifásico (b-c) em f. Figura 10.24: Circuitos de sequências positiva e negativa para um curtocircuito bifásico. A corrente de sequência positiva no ponto de curto-circuito é calculada por: Simplificando e tem-se Considerando os parâmetros de sequência negativa iguais aos de sequência positiva, tem-se E, sabendo-se que tem-se As correntes de sequências positiva e negativa no ponto de aplicação do relé são calculadas, respectivamente, pelas equações (10.35) e (10.36): Simplificando tem-se e Sabendo-se que e aplicando a TCS, obtêm-se as correntes de fase: As tensões de sequências positiva e negativa no ponto de curto-circuito f são calculadas, respectivamente, pelas equações (10.44) e (10.45): As tensões de sequências positiva e negativa no ponto de aplicação do relé são calculadas, respectivamente, pelas equações (10.47) e (10.49): ou ou Sabendo-se que e aplicando a TCS, obtêm-se as tensões de fase: Curto-circuito monofásico: Para o curto-circuito monofásico são necessárias as redes de sequências positiva, negativa e zero. A Figura 10.25 mostra a conexão das redes de sequência positiva, negativa e zero para um curto-circuito monofásico (a-terra) em f. A corrente de sequência positiva no ponto de curto-circuito é calculada por: Simplificando Considerando os parâmetros de sequência negativa iguais aos de sequência positiva, tem-se: No ponto de curto-circuito, tem-se: As correntes de sequências positiva, negativa e zero no ponto de aplicação do relé são calculadas,respectivamente, pelas equações (10.60), (10.61) e (10.62): Figura 10.25: Circuitos de sequências positiva, negativa e zero para um curtocircuito monofásico. Simplificando tem-se e aplicando a TCS, obtêm-se as correntes de fase: As tensões de sequências positiva, negativa e zero no ponto de curto-circuito f são calculadas, respectivamente, pelas equações (10.71), (10.72) e (10.73): As tensões de sequências positiva, negativa e zero no ponto de aplicação do relé são calculadas, respectivamente, pelas equações (10.75), (10.77) e (10.79): ou ou ou e aplicando a TCS, obtêm-se as tensões de fase: Resumo: Os resultados dos cálculos das correntes e das tensões no ponto de aplicação do relé de distância durante os curtos-circuitos são apresentados nas Tabelas que se seguem. Correntes Curto-circuito trifásico IA+ K3F C1 IA− 0 IA0 0 IA K3F C1 IB K3F a2C1 IC K3F aC1 Tabela 10.4: Correntes durante curto-circuito trifásico. Correntes Curto-circuito bifásico IA+ K2F C1 IA− −K2F C1 IA0 0 IA 0 IB K2F (a2 − a)C1 IC −K2F (a2 − a)C1 Tabela 10.5: Correntes durante curto-circuito bifásico (b-c). Correntes Curto-circuito monofásico IA+ K1F C1 IA− K1F C1 IA K1F C0 IA K1F (C0 + 2C1) IB K1F (C0 − C1) IC K1F (C0 − C1) Tabela 10.6: Correntes durante curto-circuito monofásico. Correntes Curto-circuito trifásico VA+ K3F (C1 Zl+ + Rf) VA− 0 VA0 0 VA K3F (C1 Zl+ + Rf) VB K3F a2(C1 Zl+ + Rf) VC K3F a(C1 Zl+ + Rf) Tabela 10.7: Tensões durante curto-circuito trifásico. Correntes Curto-circuito bifásico VA+ K2F (C1 Zl+ + Zeq+ + Rf) VA− K2F (−C1 Zl+ + Zeq+) VA0 0 VB K2F (2Zeq+ + Rf) VB K2F [(a2 − a)C1 αZl+ − Zeq+ + a2Rf] VC K2F [(a − a2)C1 αZl+ − Zeq+ + aRf] Tabela 10.8: Tensões durante curto-circuito bifásico (b-c). Curto-circuito monofásico VA+ K1F (C1 Zl+ + Zeq− + Zeq0 + 3Rf) VA− K1F (C1 Zl+ − Zeq−) VA0 K1F (C0 Zl0 − Zeq0) VA K1F (2C1 Zl+ + C0 Zl0 + 3Rf) VB K1F [−C1 αZl+ + C0 Zl0 + (a2 − a)Zeq+ + (a2 − 1)Zeq0 VC K1F [−C1 αZl+ + C0 Zl0 + (a − a2)Zeq+ + (a − 1)Zeq0 Tabela 10.9: Tensões durante curto-circuito monofásico. Respostas dos relés de distância fase Um dos esquemas possíveis é mostrado na Figura 10.26 (por questão de comodidade, foi desenhado apenas um relé). Este esquema tem um inconveniente, pois os TCs ligados em delta não permitem a circulação da corrente de sequência zero na linha, inviabilizando a conexão dos relés de terra. O esquema usual é mostrado na Figura 10.27, em que é possível inserir os relés de terra no fio neutro. Em ambos os esquemas, as tensões e correntes aplicadas nos relés são dadas na Tabela 10.10. Tensões Correntes A − B ÎA −ÎB B − C ÎB −ÎC C − A ÎC −ÎA Tabela 10.10: Tensões e correntes delta. As Tabelas 10.11, 10.12, 10.13, 10.14, 10.15 e 10.16 mostram as correntes e tensões delta para curtos-circuitos trifásico, bifásico (b-c) e monofásico (aterra). Figura 10.26: Conexões do relé de distância com TCs em delta. Correntes Curto-circuito trifásico IA − IB K3F (1 − a2)C1 IB − IC K3F (a2 − a)C1 IC − IA K3F (a − 1)C1 Tabela 10.11: Correntes delta durante curto-circuito trifásico. Correntes Curto-circuito bifásico IA − IB −K2F (a2 − a)C1 IB − IC K2F 2(a2 − a)C1 IC − IA −K2F (a2 − a)C1 Tabela 10.12: Correntes delta durante curto-circuito bifásico. Figura 10.27: Conexões do relé de distância com TCs em estrela. Correntes Curto-circuito monofásico IA − IB K1F 3C1 IB − IC 0 IC − IA −K1F 3C1 Tabela 10.13: Correntes delta durante curto-circuito monofásico. Tensões Curto-circuito trifásico VA − VB K3F (1 − a2)(C1 Zl+ + Rf) VB − VC K3F (a2 − a)(C1 Zl+ + Rf) VC − VA K3F (a − 1)(C1 Zl+ + Rf) Tabela 10.14: Tensões delta durante curto-circuito trifásico. Tensões Curto-circuito bifásico VA − VB K2F [(−a2 − a)C1 Zl+ + 3Zeq+ + (1 − a2)Rf] VB − VC K2F [2(a2 − a)C1 Zl+ + (a2 − a)Rf] VC − VA K2F [(a − a2)C1 Zl+ − 3Zeq+ + (a − 1)Rf] Tabela 10.15: Tensões delta durante curto-circuito bifásico (b-c). Tensões Curto-circuito monofásico VA − VB K1F [(3C1 Zl+ − (a2 − a)Zeq+ − (a2 − a)(Zeq0 + 3 VB − VC K1F [(2(a2 − a)Zeq+ + (a2 − a)(Zeq0 + 3Rf] VC − VA −K1F [(3C1 Zl+ + (a − a2)Zeq+ + (a − 1)(Zeq0 + 3 Tabela 10.16: Tensões delta durante curto-circuito monofásico. As Tabelas 10.17, 10.18 e 10.19 mostram as impedâncias “vistas” pelos relés de distância fase para os curtos-circuitos trifásico, bifásico (b-c) e monofásico (a-terra). Tabela 10.17: Impedâncias vistas durante curto-circuito trifásico. Tabela 10.18: Impedâncias vistas durante curto-circuito bifásico (b-c). 1. 2. 3. Tabela 10.19: Impedâncias vistas durante curto-circuito monofásico (a-terra). Conclusões: Para um curto-circuito trifásico os três relés de distância “veem” a impedância de sequência positiva do trecho da linha, entre o ponto de aplicação dos relés até o ponto de curto-circuito, mais um múltiplo da resistência do arco. Para um curto-circuito bifásico somente o relé de distância energizado pela tensão entre as fases envolvidas no curto-circuito “vê” a impedância de sequência positiva do trecho da linha, entre o ponto de aplicação dos relés até o ponto de curto-circuito, mais um múltiplo da resistência do arco. Para um curto-circuito monofásico as impedâncias que os relés de distância “veem” são extremamente elevadas, muito além de seus ajustes. Conclui-se então que os relés de distância fase não atuam para curto-circuito monofásico, sendo necessário, para este caso, relés de distância terra. Respostas dos relés de distância terra Os relés de distância terra devem ser ligados de tal modo que “enxerguem” a impedância de sequência positiva do trecho da linha, entre o ponto de aplicação dos relés até o ponto de curto-circuito monofásico. As tensões e as correntes que devem alimentar estes relés serão mostradas através do desenvolvimento que se segue. As tensões de sequências positiva, negativa e zero no ponto de aplicação dos relés de distância já foram dadas pelas equações (10.74), (10.76) e (10.78). Somando membro a membro estas equações, tem-se: Simplificando Adicionando (ÎA0αZl+ −ÎA0αZl+) no segundo membro da equação (10.84), tem-se: Rearranjando ou Dividindo ambos os membros da equação (10.87) por , tem-se: Considerando tem-se O fator k é denominado de fator de compensação, que compensa o acoplamento mútuo entre a fase em curto-circuito e as duas fases sãs. Este fator, em linhas de transmissão aéreas, pode ser considerado um número real variando entre 1,5 a 2,5. Um bom valor médio para k é 2,0, que corresponde à impedância de sequência zero da linha igual a três vezes a impedância de sequência positiva da linha, isto é: Assim, para que o relé de distância terra “enxergue” o trecho da impedância de sequência positiva, entre o seu ponto de aplicação e o ponto de curto-circuito, é preciso alimentá-lo com a tensão de fase e a corrente de fase compensada correspondente. No termo adicional, a Rf é multiplicada por um fator que a fará um pouco maior ou menor do que o seu valor. Dependendo dos argumentos de ÎA, ÎAf e ÎAo este fator pode ser um número complexo; entretanto, a aproximação por um número real não deve causar maiores consequências. O modo convencional é ligar um relé por fase, conforme a Tabela 10.20, e o esquema é mostrado na Figura 10.28 (por questão de comodidade, foi desenhado apenas um relé). Tensões Correntes A ÎA + kÎA0 B ÎB + kÎA0 C ÎC + kÎA0 Tabela 10.20: Tensões e correntes. Como no caso dos relés de distância fase são necessários três relés de distância terra para cobrir as três possibilidades de curto-circuito monofásico. Deve-se notar que, para um curto-circuito trifásico, os relés de distância terra devem “enxergar” corretamente a impedância de sequência positiva da linha. Em termos de relés de terra em geral, um problema adicional é a existência de acoplamentos mútuos de sequência zero entre linhas de transmissão paralelas. A impedância mútua varia na faixa de 50% a 70% da impedância própria de sequência zero. Um curto-circuito fase-terra em uma das linhas paralelas induz corrente de sequência zero na outra linha e isso pode causar a atuaçãoindevida dos relés de terra. No caso de relés de distância terra pode-se compensar este efeito (compensação de mútua); entretanto, como regra geral não é recomendada. Caso esta compensação seja usada, deve-se tomar cuidado para assegurar a atuação correta dos relés quando houver a inversão da corrente de sequência zero na linha paralela. Figura 10.28: Conexões do relé de distância terra. Baseado na Figura 10.29, o desenvolvimento que se segue mostra a compensação de mútua. Considerando-se a queda de tensão provocada pela impedância mútua na equação (10.84), tem-se: Adicionando (ÎAo αZl+ − ÎAo αZl+) no segundo membro da equação (10.92), tem-se: 10.4.5 Figura 10.29: Linhas paralelas com acoplamentos mútuos. Rearranjando Colocando em evidência Zl+ na expressão entre colchetes do segundo membro: Dividindo por ambos os membros da equação (10.95): Considerando tem-se O fator m é denominado de fator de compensação do acoplamento mútuo, entre linhas paralelas. Proteção de linhas com canal piloto O canal piloto é um meio de comunicação por onde se transmitem sinais de um terminal para o outro de uma linha de transmissão para melhorar a rapidez e a seletividade do sistema de proteção. A associação de relés de proteção ao canal piloto é comumente denominada de teleproteção. Gráfico representativo dos alcances das zonas do relé de distância Antes de discutir os alcances das zonas dos relés de distância é importante entender os significados de subalcance e sobrealcance da proteção. Subalcance da proteção é a forma de proteção na qual o relé de um determinado terminal não irá operar para um curto-circuito no local remoto do equipamento protegido. Esta definição estabelece que o relé é ajustado de modo que ele não enxergará um curto-circuito além de uma determinada distância. Sobrealcance da proteção é a forma de proteção na qual o relé de um determinado terminal irá operar para um curto-circuito além do terminal remoto do equipamento protegido. Nos relés de distância o subalcance e o sobrealcance são definidos através dos ajustes de suas zonas de proteção. Comumente, os alcances das zonas do relé de distância são representados em um diagrama unifilar, ilustrado pela Figura 10.30, em que é possível notar que a 1a zona está com subalcance e as 2a e 3a zonas estão com sobrealcance. Figura 10.30: Alcance das zonas. Em consequência de algumas incertezas nos parâmetros que definem os ajustes, os alcances das zonas dos relés de distância não possuem a exatidão desejada. Considerando essas incertezas, deve-se impor que o ajuste da 1a zona não sobrealcance um curto-circuito no terminal remoto da linha. Comumente, ajusta-se a 1a zona entre 85% e 90% da impedância total da linha (por exemplo, a linha de transmissão com os terminais X e Y ) e a sua operação deve ser instantânea (sem temporização intencional); portanto, a 1a zona não protege integralmente a linha, isto é, o trecho da linha entre o fim da 1a zona e a barra Y não estará protegido por um elemento de atuação instantânea. Consequentemente, o relé de distância é equipado com outra zona, que deliberadamente é ajustada para sobrealcançar além do terminal remoto da linha. Esta é conhecida como 2a zona do relé de distância, que deve ser temporizada a fim de que, para faltas próximas ao terminal Y da linha adjacente Y -Z (f2 na Figura 10.30), a sua 1a zona opere antes da 2a zona da linha X-Y. A temporização da 2a zona é usualmente ajustada em 0,5 segundo e o seu alcance costuma ser • • • • • • ajustado entre 120% e 150% da impedância total da linha X-Y, tendo-se em mente que este ajuste não deverá ultrapassar o ajuste da 1a zona da linha adjacente Y-Z. Deve-se salientar que a 2a zona atua como proteção de retaguarda para uma parte da linha adjacente. Para fornecer uma proteção de retaguarda para todo o comprimento da linha adjacente o relé de distância é provido de 3a zona. O alcance desta zona é ajustado para cerca de 120% a 180% da linha adjacente e com uma temporização de 1,0 segundo. A Figura 10.31 mostra as impedâncias das linhas e os alcances das zonas de um relé de distância com característica quadrilateral no diagrama R-X. Estão também representados os locais das faltas (f1, f2 e f3) para a análise das atuações das zonas. A Figura 10.32 mostra a lógica de atuação das zonas de um relé de distância, comumente conhecida como diagrama esquemático de corrente contínua. Z1, Z 2 e Z 3 – as três zonas do relé de distância; Z4 – zona reversa do relé de distância; T1, T 2 e T 3 – indicadores de atuações das zonas; TD2 e TD3 – temporizadores das 2a e 3a zonas; 52a – contato auxiliar “a” do disjuntor; 52/BD – bobina de desligamento do disjuntor (trip coil). Figura 10.31: Alcance das zonas de relé com característica quadrilateral no diagrama R-X. Figura 10.32: Lógica de atuação das zonas de um relé de distância. Análise das atuações • • • • • • • • • • • Curto-circuito em f1: os contatos Z1, Z2 e Z3 fecham, pois as três zonas enxergam o curtocircuito em f1; a bobina de desligamento do disjuntor é energizada através de Z1; o disjuntor do terminal X abre. Curto-circuito em f2: os contatos Z2 e Z3 fecham, pois as duas zonas enxergam o curto-circuito em f2; temporizadores TD2 e TD3 são energizados respectivamente através dos contatos Z2 e Z3; na eventualidade da falha da 1a zona da linha adjacente (Y -Z) o contato TD2 fecha, energizando a bobina de desligamento do disjuntor do terminal X; o disjuntor do terminal X abre. Curto-circuito em f3: os contatos Z3 fecham, pois somente a 3a zona enxerga o curto-circuito em f3; temporizador TD3 é energizado através do contato Z3; na eventualidade da falha da 2a zona da linha adjacente (Y -Z) o contato TD3 fecha, energizando a bobina de desligamento do disjuntor do terminal X; o disjuntor do terminal X abre. Relé de distância com canal piloto Conforme foi visto no item anterior, os alcances das 1as zonas dos relés de distância são ajustados entre 85% e 90% das impedâncias totais das linhas, portanto, além desse ajuste até a barra terminal (regiões sombreadas na Figura 10.33), serão protegidos pelas 2as zonas, que são temporizadas. A questão é: o que fazer para que a ocorrência de uma falta em qualquer ponto da linha seja isolada instantaneamente através das aberturas de disjuntores em ambas as extremidades? A solução é a utilização de relés de distância com canal piloto, formando um esquema de teleproteção. Figura 10.33: Trechos não protegidos pelas primeiras zonas. Canais piloto a. OPLAT (Onda Portadora através de Linhas de Alta Tensão); b. micro-onda; c. fibra ótica; d. cabo telefônico. Esquemas de teleproteção a. comparação direcional com bloqueio; b. comparação direcional com desbloqueio; c. transferência de disparo direto por subalcance; d. transferência de disparo permissivo por sobrealcance; e. transferência de disparo permissivo por subalcance; f. comparação de fase. Dentre os canais piloto e os esquemas de teleproteção, previamente citados, detalharemos respectivamente a OPLAT (conhecida também como carrier) e a Transferência de disparo permissivo por sobrealcance, conhecida também pela sigla POTT (Permissive Overreach Transfer Trip). A Figura 10.34 mostra um diagrama unifilar com os principais componentes da OPLAT. Este canal piloto opera em um modo on-off pela transmissão de um sinal de rádio frequência na faixa de 10 a 490 kHz através da linha de transmissão. Quanto ao esquema de teleproteção, por ser um esquema que utiliza zona com sobrealcance, o canal piloto está associado à 2a zona. Além dessa unidade, pode-se associar a 3a zona e também o relé de terra direcional (67N) de alta sensibilidade. • • • • • • • • • A Figura 10.35 mostra o esquema, cujas principais unidades são: Figura 10.34: Canal piloto por OPLAT. P – contato da 2a zona ou da 3a zona ou do relé de terra direcional; R – contato do relé receptor de sinal (fecha com a presença do sinal); RX – receptor de sinal; TX – transmissor de
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