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Sabrina Feitosa de Sousa Psicopatologia 2UDF Personalidade Esquizoide O diagnóstico de esquizofrenia geralmente é dado a pessoas que estão num grau de perturbação maior. Entretanto, as pessoas esquizoides podem ou não ser funcionais (McWILLIAMS, 2014). A defesa característica da personalidade esquizoide é a regressão à fantasia, uma defesa muito primitiva. Essa personalidade é mais frequente em pessoas que se tornam esquizofrênicas (McWILLIAMS, 2014). Alguns profissionais consideram o transtorno de personalidade esquizoide, esquizotípica e esquiva como versões não psicóticas da personalidade esquizoide (McWIILILIAMS, 2014). As pessoas esquizoides podem ser caracterizadas como isoladas, mas conseguem imaginar o que o outro está sentindo, algumas se dizem até sufocadas de afeto e não carentes de afeto (McWILLIAMS, 2014). • Temperamento: pessoas esquizoides são hiperativas e hipersensíveis, no sentido de que suas sensações parecem estar mais ativa do que em pessoas neurotipicas (McWILLIAMS, 2014). • Pulsão: pessoas esquizoides podem ter questões relacionadas ao nível oral, mais especificamente, elas evitam ser sufocadas. De modo geral, são pessoas distantes de seus próprios sentimentos, ao mesmo tempo que enxergam o mundo de modo ameaçador. Outro ponto importante é que pessoas esquizoides não são agressivas, apesar das fantasias agressivas (McWILLIAMS, 2014). • Falta de defesa comum: pessoas esquizoides funcionais são dotadas da capacidade de observar aos outros, apresentam a habilidade natural para perceber o que os outros não fazem (McWILLIAMS, 2014). O termo esquizoide implica em uma divisão entre o self e o mundo externo e entre o self experienciado e o desejo. Essa divisão se refere a um estranhamento do self ou do mundo externo (McWILLIAMS, 2014). Pessoas de personalidade esquizoide gostam de manter seu isolamento porque isso traz uma sensação de proteção, pois elas têm medo de que os outros as sufoquem. No conflito intimidade vs distância, elas escolhem distância porque intimidade está diretamente relacionada a um alto grau de envolvimento com outra pessoa, o que é visto como ameaça para o esquizoide (McWILLIAMS, 2014). Os sujeitos de personalidade esquizoide são diferentes, pois não desejam se adaptar à realidade, uma vez que não fazem questão de ceder às pressões do ambiente. Sabrina Feitosa de Sousa Psicopatologia 2UDF O limite entre si e o outro fica prejudicado. O mundo externo é ameaçador ao seu ego fragilizado, sem recursos para lidar com o que a realidade impõe. O sujeito neurótico também foge da realidade, porém de um jeito mais tranquilo e aceito socialmente, como: procrastinação. Enquanto no sujeito esquizoide, a fuga é mais grave e descolada da realidade. A realidade oprime tanto o sujeito neurótico, quanto os sujeitos não neuróticos pois a realidade é o que contraria o nosso desejo, o dificultando ou o impossibilitando. Padrões Relacionais A forma como sujeitos esquizoides se relaciona é permeada por apego inseguro – quando estão isolados, querem se aproximar, quando se aproximam, querem se isolar. A parte relacional com as pessoas é evitada por esses sujeitos. Há uma ambivalência de medo e insegurança em estar fazendo vínculos. Esse modo de se relacionar tem a ver com a forma que ele, enquanto criança, aprendeu a se relacionar com suas dinâmicas familiares. Em geral com pais indiferentes ou muito invasivos, justificando, então, a preferência por estar isolado. O duplo-vínculo também se faz presente em famílias de funcionamento psicótico. O duplo-vínculo é um tipo de comunicação contraditórias, em que o sujeito não consegue questionar a mensagem que recebe. Os estados dissociativos são defesas, o sujeito se desliga da situação traumática. O corpo está ali, mas o psíquico está meio dormente, não totalmente consciente. O ego se desliga. O funcionamento esquizoide acontece em consequência de diversas dissociações. Pessoas de personalidade esquizoide são atentos em comportamentos dos outros, pois aprenderam a identificar sinais ameaçadores. O Self Esquizoide – Transferência e Contratransferência ou Vínculo Terapêutico O psicótico pode ser analista, desde que ele esteja sob cuidados e com suas funções cognitivas preservadas, ou seja, fora do lado mais grave do espectro. O profissional deve passar segurança aos sujeitos esquizoide, pois eles sentem muito medo em se relacionar com as pessoas. O setting terapêutico deve dar vazão às fantasias, à criatividade, às suas pulsões. O funcionamento do esquizoide parece ser mais fácil de analisar do que o funcionamento do esquizofrênico. O terapeuta deve estar com contato com a sua própria espontaneidade e emoções para trabalhar com pacientes esquizoides, pacientes que são ricos em sua criatividade. O terapeuta também deve estar atento para não se fechar junto com o paciente em seu próprio mundo. Personalidades Paranoides A característica principal da pessoa paranoide é não reconhecer atributos negativos em si, logo, ela os projeta para o mundo externo (McWILLIAMS, 2014). A defesa que marca a paranoia é derivada de um momento primitivo do sujeito no qual ainda não havia distinção entre mundo interno e externo (McWILLIAMS, 2014). Indivíduos paranoides de alto funcionamento tendem a evitar terapia, geralmente, chegam à terapia quando Sabrina Feitosa de Sousa Psicopatologia 2UDF estão em intenso sofrimento ou causando sofrimento significativo a outras pessoas (McWILLIAMS, 2014). Visto que a projeção é o mecanismo de defesa marcante da paranoia, pessoas de personalidade paranoia são mais perigosas para os outros do que para si próprias. Isto é, elas entendem que as causas de seus problemas estão no mundo externo, logo, elas podem querer, tentar e conseguir eliminar aqueles ou aquilo que percebem como origem de seus sofrimentos (McWILLIAMS, 2014). Essa percepção paranoide de que o problema é sempre o mundo externo prejudica o trabalho em terapia com pessoas paranoides (McWILLIAMS, 2014). Aspectos paranóicos podem ser observados em diferentes sujeitos, inclusive em neuróticos. Esquizofrenia Sintomas positivos: excesso ou distorção das funções normais Os sintomas positivos são aqueles que adicionam algo na vida do sujeito: distorções ou exageros do raciocínio lógico (delírios), da percepção (alucinações), da linguagem e comunicação (discurso desorganizado) e do controle comportamental (comportamento amplamente desorganizado ou catatônico). Sintomas negativos: restrições na amplitude e na intensidade das expressões emocionais Os sintomas negativos são aqueles que fazem o sujeito murchar, retroceder, diminuir, retira algo da vida do sujeito: embotamento afetivo (não responder afetivamente a nada), avolição (desmotivação), obnubilação ou turvação da consciência, dissociação da consciência, fuga de ideias, lentificação do pensamento, desagregação do pensamento (começa a falar ou pensar algo, mas se perde, fica quase mudo). Em resumo, são sintomas que diminui as funções psicológicas do sujeito, provocando o apagamento do sujeito. Trabalhar com um sujeito apagado, é mais difícil do que com um sujeito apresentando sintomas positivos pois ele ainda está lá, ele não está apagado. Características essenciais da personalidade esquizofrênica 1. Predomínio de impulsos destrutivos e agressivos (mesmo os amorosos), ódio à realidade (e a tudo que contribua para a percepção desta e da realidade interna), pavor constante de um aniquilamento pela realidade. 2. O bebê psicótico estilhaça os objetos e todo o setor de sua personalidade que o leva a tomar conhecimento da realidade. Essa parte do ego é por ele odiada, portantoexpulsa da personalidade, fragmentada. Ele escolhe não se relacionar com a realidade por percebê-la como opressora. 3. Em decorrência disso, as características da personalidade que iriam proporcionar a base para a compreensão de si mesmo (síntese, memória, escolhas, disposições motoras, pensamento) ficam comprometidas. Assim, o ego se empobrece, pois as funções egóicas abarcam o que conhecemos em psicologia cognitiva como funções cognitivas. O surto marca definitivamente o rompimento do sujeito com a realidade. Sabrina Feitosa de Sousa Psicopatologia 2UDF Um exemplo de como o sujeito psicótico percebe a realidade como ameaçadora está nos delírios e alucinações: escutam que é isso e aquilo de forma que o diminui. A esquizofrenia está no espectro mais grave da psicose. neurociência Afirmam que existem alterações fisiológicas cerebrais nos quadros de esquizofrenia: atrofia cerebral, mesmo sem ocorrer morte cerebral, sem ocorrer morte de neurônios, ou seja, o volume do cérebro diminui sem morrer. Assim, os sintomas positivos tem relação com a diminuição do cérebro. Alterações bioquímicas: atividade de dopamina aumentada no cérebro do esquizofrênico. Na medida em que avança o conhecimento sobre a bioquímica do cérebro, pode-se pensar na medicação para psicóticos. A partir dessas descobertas, por volta da década de 50, começam a surgir os primeiros antipsicóticos que bloqueiam os receptores da dopamina, provocando a anulação de muitos dos sintomas positivos. Entretanto, os psicóticos de primeira geração não cuidavam dos sintomas negativos, além disso, havia muitos efeitos colaterais, como sedação do sujeito. Assim, percebeu-se que era necessário que o sujeito trouxesse seus sintomas positivos para poder ser tratado em psicoterapia. A partir dos anos 2000, novos antipsicóticos surgiram: antipsicóticos atípicos. Os novos remédios tinham efeitos colaterais menos graves, possibilitando o tratamento do sujeito sem sedá-lo. Além de ser capaz de tratar os sintomas negativos. Ciências Cognitivas Afirmam que os sintomas positivos se tornam crenças delirantes caracterizadas por inflexibilidade do pensamento. A interpretação que o esquizofrênico faz do mundo está dissociada da lógica, ou seja, ele tem uma forma própria de interpretar o mundo. Os sintomas negativos se manifestam em forma de déficits cognitivos. Identificam alterações nas funções cognitivas, como diminuição na atenção, na memória, na cognição social (capacidade de compreender e perceber as regras sociais), na velocidade de processamento, no aprendizado, entre outras funções cognitivas. Psicose Nem todos psicóticos apresentam surto, ou seja, nem todos vão destoar da realidade (CALLIGARES). O primeiro surto ou primeira crise é muito importante para o diagnóstico, é relevante entender em que contexto essa crise se deu e em qual contexto ela cessou. Dinâmica da Psicose Freud estudou poucos psicóticos, quem estudou mais foi o Lacan. Personalidade esquizoide apresenta algumas características psicóticas. O sujeito pode ser funcional ou não, dentro de um espectro. Uma das características da psicose é dissociação da realidade, ou seja, há uma divisão entre a realidade e o mundo interno do sujeito. Em Lacan, encontramos a exclusão da função paterna no psiquismo do sujeito. Já Mahler fala sobre como a psicose surge a partir da dinâmica de separação e individuação do sujeito. Fazendo Sabrina Feitosa de Sousa Psicopatologia 2UDF referência à simbiose, à dificuldade de se tornar um sujeito sozinho. Winnicott fala sobre a indiferenciação entre si mesmo e o outro. O sujeito amplifica suas percepções internas, atribuindo-as ao mundo externo. Nesse sentido, as alucinações e delírios são uma criação do próprio sujeito que ele atribui ao mundo externo, por exemplo: diz que tem uma voz a ordenar ele fazer algo. Erik Erikson, trazendo o olhar psicossociológico, fala da dificuldade do indivíduo em integrar sua identidade ao plano social, ou seja, dificuldade em entender os papeis sociais. Referências McWILLIAMS, Nancy. Diagnóstico Psicanalítico: entendendo a estrutura da personalidade no processo clínico. ARTMED: São Paulo, 2014. P. 218-258. Veja Também: Psicanálise (contém mecanismos de defesa)
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