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GUIA DA DISCIPLINA 2022 ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO Me. Daniela dos Santos Domingues Marino Marino 1 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O 1. FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO Objetivo Apresentar conceitos gerais sobre os fundamentos teóricos que norteiam a disciplina de Arquitetura da Informação por meio da revisão bibliográfica pertinente à área de Ciência da Informação. Introdução O desejo de acessar e construir novos conhecimentos sempre foi inerente aos seres humanos, dessa forma, os polos e espaços informacionais representariam centros de difusão desses conhecimentos, lugares onde as pessoas pudessem encontrar e recuperar toda informação que precisassem. Assim, ainda que no passado os profissionais da informação pudessem ser considerados como profissionais técnicos, a partir do momento que passaram a interagir com os aspectos que estruturam a circulação da informação e com seus agentes, o debate acerca da pertinência dos estudos sobre informação às áreas das Ciências Sociais se ampliou. Com o tempo, essas relações entre pessoas (usuários) e objetos passaram a contribuir para a construção, divulgação e recuperação de todo tipo de conhecimento. Portanto, a ideia da arquitetura da informação como disciplina teórica e prática dos cursos de Biblioteconomia “objetiva a estruturação e o desenvolvimento de conteúdos em ambientes informacionais digitais para que o usuário possa recuperar informações de modo mais sucinto e padronizado” (ALVAREZ et al, 2020). 1.1. A gênese de uma disciplina Apesar de a Arquitetura da Informação não ser conceituada como uma ciência, enquanto disciplina da área de Ciência da Informação ela pode contribuir para o registro e a reflexão acerca de elementos relacionados à experiência do usuário como apontado anteriormente. No entanto, justamente pelo fato de se tratar de um debate historicamente recente, alguns percalços em sua conceituação podem ser encontrados: 2 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Arquitetura da Informação enquanto campo de conhecimento, é um espaço que ainda na atualidade, é permeado por discussões e debates no que se refere à sua essência conceitual, isto provocado, por fatores associados à falta de consenso na construção de uma definição que seja capaz de unir as propostas feitas pelos autores influenciados pela práxis do trabalho em projetos de Arquitetura da informação e, as propostas advindas de estudos mais epistemológicos e científicos. (ALVAREZ et al, 2020, p. 3) Logo, mesmo que as relações com aspectos técnicos de construção de espaços digitais ou analógicos sejam intrínsecas à aplicação dos conceitos da Arquitetura da Informação, o objetivo de uma disciplina como essa no currículo de Ciência da Informação tem como principal propósito o de fornecer subsídios teóricos que indiquem não só seu propósito, mas como seus objetos de estudos são definidos. Nesse sentido, a disciplina deve “oferecer teorias e métodos para a compreensão e o design de espaços de informação de qualquer natureza” a fim de que seus conhecedores possam “projetar espaços de informação e seus aspectos sociais, culturais e tecnológicos como objeto de estudo da Arquitetura da informação” (LACERDA, 2015 apud ALVAREZ et al, 2020, p. 3), ou, em outras palavras, busca garantir a disponibilização, o acesso e o uso da informação em ambientes de informação digitais e analógicos. Por isso, a compreensão dos contextos históricos que possibilitaram o surgimento e a continuidade dessa disciplina se faz necessária para que possamos entender, por exemplo, em que momento alguns dos componentes curriculares da Ciência da Informação deixaram de ser exclusivamente técnicos para se tornarem do interesse das áreas da Comunicação, Sociologia, Biblioteconomia e outras áreas correlatas: Enquanto o modelo físico pensava os processos numa lógica essencialmente linear, do transporte de um ponto a outro (e sobre a forma de otimizar esse transporte), a lógica sistêmica privilegiou a ideia de ciclo, de circularidade: todo processo sempre representa a saída de alguma entidade, e essa saída vai provocar a formação de novos elementos de entrada – como normalmente expresso nos conceitos de input e output. Assim, diversos estudos na ciência da informação buscaram determinar e caracterizar os diversos processos necessários para o adequado funcionamento dos sistemas de informação. Os sistemas de informação foram pensados a partir da lógica dos processos de entrada (entrada de dados, com a aquisição de itens informacionais, a seleção destes itens para a composição de determinado acervo), de processamento (os itens informacionais que dão entrada num sistema de informação precisam ser descritos, catalogados, classificados, indexados) e de saída (pelo acesso aos itens informacionais por parte dos usuários, na forma de disseminação, entrega da informação, etc). (ARAÚJO, 2018, p.27) 3 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O surgimento do termo “arquitetura da informação” como relacionado ao desenvolvimento tecnológico ou de criação de sites, por exemplo, aparece em algumas bibliografias atribuído à pesquisa de Richard Saul Wurman, que juntamente com Joel Katz, publicou o artigo Beyond Graphics: The architecture of Information (Além dos gráficos: a arquitetura da informação), em 1975, porém, Alvarez et al (2020), ao revisarem a bibliografia acerca do tema, afirmam que “arquitetura” já era utilizada anteriormente em contextos tecnológicos e computacionais já por volta do final dos anos 1950: Muito embora, as conceitualizações apresentadas façam referência ao uso do termo “arquitetura” no contexto computacional, as mesmas também serviram de base para a inédita aparição, em 1970, do termo “arquitetura da informação”, fato este, evidenciado pela obra de Pake (1985), citado por León (2008) e por Resmini e Rosati (2011a), quando aquele narra a missão dada para um grupo de cientistas das áreas das Ciências Naturais e da Ciência da Informação, em criar uma que fosse possível de aplicar aos artefatos tecnológicos desenvolvidos pela Xerox Palo Alto Research Center, empresa recém-criada e que fez grandes contribuições à área da Interação Humano-Computador (IHC), destacando-se pela participação no projeto de criação do primeiro computador pessoal com interface amigável. (ALVAREZ et al 2020, p. 6) Já entre os anos 1970 e 1980, com o crescente interesse pelas maneiras como as informações sobre ambientes urbanos pudessem ser reunidas, organizadas e apresentadas a públicos distintos, profissionais da arquitetura acabaram utilizando o termo para definir uma arte de criar instruções para espaços organizados (ALVAREZ et al, 2020, p. 7). E por volta dos anos 1990, cada vez mais teóricos passaram a contribuir com a fundamentação teórica e metodológica da arquitetura da informação como uma disciplina cujas características são mais próximas das que conhecemos hoje em dia. Araújo (2018), por sua vez, localiza nossa disciplina no campo da recuperação da informação e das ciências da linguagem, mais precisamente em relação à semiótica, mas aponta que diversos autores têm se dedicado desde o início dos anos 2000 a refletir a Arquitetura da Informação a partir de conceitos sobre desenvolvimento de hipertexto, indexação automática e mapas conceituais e conclui que há uma demanda específica que vem sendo colocada para o campo relaciona-se com a internet das coisas e que modelos vêm sendo desenvolvidos para ilustrar a resolução de questões relacionadas a esse contexto. Uma vez que os objetivos da Arquitetura da Informação foram se ampliando e expandindo seu alcance e uso para além dos espaços da Web, é possível destacar três etapas importantes dessedesenvolvimento (LEON, 2008 apud ALVAREZ et al, 2020, p. 7): 4 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância • O período de 1970 a 1980, sob a visão de Design de Informações; • O período de 1980 a 1995, sob a visão de Análise e Design de Sistemas de Informação; • E o último período, de 1995 até atualidade, sob a Visão Integradora. No entanto, ainda de acordo com Alvarez et al (2020), os autores Resmini e Rosati , divergem de Leon (2008) no que se refere ao momento de passagem entre as visões, Design de Informação e Visão Integradora, propondo o que como se apresenta na figura abaixo, uma divisão desta visão, em duas etapas, sugerindo uma visão que chamaram de Arquitetura da Informação Clássica, abarcadora do período dos anos 1960 até os primeiros anos do ano 2000; e uma visão chamada de, Arquitetura da Informação Pervasiva e Ubíqua, que abarca, desde o ano 2000 até a atualidade: Essas evidências de maior profusão e acesso a determinadas informações corroboram o que Frohman (2016) postula acerca da importância dos registros e documentos para que objetos e ideias possam existir de maneira concreta no mundo. De acordo com o autor, algo que não estivesse registrado em algum meio/suporte que contivesse algum peso ou massa, ou seja, que fosse considerado um documento não existia institucionalmente. Frohmann afirma que não pode haver informação sobre um tipo X, se o tipo X não existir: “E se o tipo não pode existir sem documentação, então a documentação é necessária para que haja informação sobre ele” (FROHMANN, 2016). Ou seja, ainda que essas assertivas soem como profecias autorrealizáveis, o fato é que à medida que pensadores e estudiosos se viram diante de certos problemas e levantaram hipóteses para Bisset (2017, p.42) em ALVAREZ et al, 2020 5 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância refletir sobre eles, também possibilitaram que informações sobre esses problemas e os seus processos de resolução fossem registrados, garantindo então, que hoje possamos ter uma disciplina cuja fundamentação teórica tem sido construída há algumas décadas. E a evolução na construção do conhecimento que nos permite estar aqui pode ser observada a partir dos quadros abaixo, delineados por Alvarez et al (2020): 6 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Tendo conhecido a evolução dos estudos da arquitetura da informação, em nossa próxima unidade seguiremos aprofundando nosso conhecimento sobre seus conceitos e possíveis aplicações. ALVAREZ, E. B.; BRITO, J.F.; VIDOTTI, S.A.. Arquitetura da informação enquanto disciplina científica: um debate ainda aberto. EM; Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 16,.p. 1-24, 2020. ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que é Ciência da informação? Belo Horizonte, 2018. FROHMANN, B.. O caráter social, material e público da informação. In: FUJITA, M. S.L., MARTELETO, R.M., LARA, M.L.G. de. A dimensão epistemológica da Ciência da Informação e suas interfaces técnicas, políticas e institucionais nos processos de produção, acesso e disseminação da informação. São Paulo: Cultura Acadêmica Ed.; Marília: Fundepe Ed., 2008, p. 17-34] 8 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. PRÁTICAS E APLICAÇÕES DA ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO Objetivo Refletir sobre as possíveis práticas e aplicações da disciplina de Arquitetura da Informação por meio da revisão bibliográfica pertinente produzida por teóricos da área. Introdução A exemplo do que ocorre em diversas áreas do conhecimento, muitos conceitos e teorias surgiram da experiência prática de profissionais que sentiram a necessidade de registrar fenômenos a fim de que a reflexão acerca desses eventos pudesse então fundamentar futuras práticas. A Ciência da Informação seguiu esse mesmo caminho e, consequentemente, o mesmo ocorreu com as disciplinas que surgiram a partir das primeiras conceituações, como é o caso da Arquitetura da Informação. Ou seja, se entre os anos 1960 a 1980 o termo “arquitetura da informação” ainda não possuía os contornos de hoje, a partir dos anos 2000, com uma produção mais madura e profusa, suas práticas e delimitações acadêmicas passaram a se constituir de maneira mais sólida, possibilitando que se firmasse então como uma disciplina dentro da área de Ciência da Informação e de documentação. 2.1. A prática como fundamentação da teoria Alvarez et al (2020) conceituam a evolução das práticas e teorias da Arquitetura da Informação a partir de duas linhas do processo de construção dos aparatos teórico-práticos: a) a primeira, nasce junto com o termo Arquitetura da Informação nos anos 60 e dura até a atualidade; e que surge fortemente pautada sob um enfoque prático, onde cada autor baseado em sua própria experiência oferece ferramentas, técnicas, métodos e conceitos para sustentar suas propostas; pode ser chamada de “Metodológica e Tecnicista” ou “Empírico-Pragmática”. b) a segunda, surge desde os primeiros anos da década 2000; quando começam a aparecer publicações de autores preocupados com a edificação de uma estrutura teórica e formal e com a consolidação da Arquitetura da Informação enquanto campo de estudo; pode ser chamada de linha de “Construção Epistêmica ou Epistemológica”. (ALVAREZ et al, p. 10) Em relação à primeira linha do processo de desenvolvimento epistemológico e prático da Arquitetura da Informação, as concepções, advinham do que o contexto demandava das pessoas envolvidas com a construção de espaços analógicos para acesso 9 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância e recuperação de informação e eram registradas em forma de relatos de experiência e dos passos envolvidos nas trajetórias que levaram à resolução de problemas específicos. A prática que existia a partir da fundamentação teórica mais relacionada à ideia da arquitetura tradicional é conhecida como Abordagem Arquitetural. A partir do maior desenvolvimento e acessibilidade dos computadores, as empresas passaram a utilizar o termo “arquitetura da informação” para o “gerenciamento dos dados resultantes dos processos internos, criando assim, vários sistemas de gerenciamento de dados independentes entre si, e que deram solução a problemas pontuais” (ALVAREZ et al, p. 11). Por volta do início dos anos 2000 observou a tendência de se referir à arquitetura da informação como um processo de design de sistemas de informação. A essa abordagem foi dado o nome de Abordagem Sistêmica. Alguns autores destacam a presença de conceitos pertinentes à biblioteconomia e ciência da informação na produção de projetos de arquitetura da informação, principalmente a partir do surgimento da web como uma plataforma de interesse dos profissionais da área. A essa abordagem é dado o nome de Abordagem Informacional. Por fim, a Abordagem Pervasiva é a que prevê maior predominância da complexidade dos ambientes de informação digital tendo como foco as necessidades dos usuários de acordo com os contextos sociais onde transitam. Já em relação à segunda linha de nossa trajetória, ela então se desenvolveu a partir da construção do conhecimento epistemológico da arquitetura da informação propriamente dito a fim de possibilitar a justificativa seu surgimento como uma disciplina científica: Dentre os seguidores desta linha de pensamento, destacam-se vários autores, como, Dillon (2002), Davenport (2001), Bailey (2003), Haverty (2002), Macedo (2005), Lima- Marques e Macedo (2006), Albuquerque (2010), Siqueira (2008), Resmini e Rosati(2011), Oliveira (2014), Oliveira, Vidotti e Bentes (2015), dentre outros. Por sua vez Siqueira (2012) analisando Hubert-Miller (2006), destaca a preocupação deste último, diante da necessidade de fundamentar a prática de Arquitetura da Informação dentro de uma estrutura filosófica e científica que pudesse adoção de conceitos e manutenção da integridade deles ao longo do processo de investigação dos problemas e composição das soluções, tanto teóricas quanto tecnológicas. (ALVAREZ et al, 2020, p. 12) Assim, a Arquitetura da Informação tem se firmado como uma disciplina de produção e práticas próprias, porém, sua origem, tal qual ocorre com a Ciência da Informação como 10 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância área do conhecimento científico, se deu a partir de conceitos de áreas distintas como matemática, filosofia, entre outras, como ilustrado abaixo: 2.2. Algumas aplicações da arquitetura da informação Entendendo então que a Arquitetura da Informação não se originou a partir de uma única concepção, sua vocação para a solução de problemas relacionados ao acesso e uso de informações disponíveis não é única perspectiva possível para suas aplicações. Ainda assim, o termo costuma ser mais associado a determinadas práticas que outras dependendo do contexto em que é observado, como é o caso de websites desenvolvidos para recuperação de dados sobre os livros de uma biblioteca, por exemplo. Nesse sentido, para o desenvolvimento de projetos que tenham foco no acesso e recuperação de determinados dados informacionais é preciso ter em mente os seguintes aspectos (OLIVEIRA et al, 2011): Interdisciplinaridade da arquitetura da informação. Fonte: Em Alvarez et al, 2020. 11 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Ou seja, no contexto da Biblioteconomia, o bibliotecário pode atuar como arquiteto dos sistemas informacionais, como o agente responsável em conceituar os ambientes em que os usuários irão transitar para que possam encontrar informações de maneira mais rápida. Para isso, os elementos abaixo representam itens fundamentais na confecção de um projeto1: • Contexto: análise do negócio, produto, escopo do projeto • Taxonomia: a ciência da classificação, identificação e descrição dos objetos • Ontologia: conceito, definição, representação e relacionamento entre objetos • Hierarquia: relações coordenadas ou subordinadas • Rotulagem: a nomenclatura importa! • Encontrabilidade: como utilizar aquilo que não se pode encontrar? ALVAREZ, E. B.; BRITO, J.F.; VIDOTTI, S.A.. Arquitetura da informação enquanto disciplina científica: um debate ainda aberto. EM; Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 16,.p. 1-24, 2020. ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que é Ciência da informação? Belo Horizonte, 2018. OLIVEIRA, H. P. C.; BENTES, V.; VIDOTTI, S.A.. O Ensino da Arquitetura da Informação: Uma Proposta para os cursos de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/19081 1ht tps:/ /crb8.org.br /oldsite/a -arqui tetura-da- informacao-na-web-sob-a-ot ica-da- bib l ioteconomia/ a) Usuários - suas necessidades, tarefas, hábitos e comportamentos; b) Conteúdo - características do que será apresentado (objetivo, uso, volume, formato, estrutura, governança, dinamismo); e c) Especificidades do contexto de uso do sistema de informação - (proposta de valor de website, cultura e política da empresa, restrições tecnológicas, localização, etc.) 12 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. BASE E ESTRUTURA DA ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO Objetivo Apresentar conceitos gerais sobre as relações entre Arquitetura tradicional e Arquitetura de Informação e ampliar a reflexão a respeito dos primeiros passos na construção de espaços informacionais digitais. Introdução Há mais de 20 anos Rosenfeld e Morville (1998) já afirmavam que bons consultores de informação sabiam que você não poderia simplesmente saltar dentro de um site e começar escrevendo HTML, da mesma forma que você não poderia construir uma casa apenas derramando concreto e erguendo algumas paredes. Você precisa saber quem vai usar o site, e para que ele será usado. Você precisa de alguma ideia do que você gostaria de chamar a sua atenção durante a sua visita. No geral, você precisa de uma visão forte e coesa para o site para torná-lo distinto e utilizável. Ou seja, a partir daqui, iremos expandir os conceitos acerca dos elementos necessários para que o arquiteto de informação, que pode ser um consultor, um publicitário ou um bibliotecário, por exemplo, possa confeccionar sua própria checklist de itens antes de entregar um projeto ao designer ou desenvolvedor de um website, seja ele para a utilização em um site de biblioteca analógica ou digital, ou de qualquer outro projeto de disponibilização e acesso de informação. 3.1. Contribuições da Arquitetura tradicional As relações entre Arquitetura tradicional e Arquitetura da Informação são facilmente observáveis ao considerarmos sites como prédios diversos: diariamente podemos transitar entre diversos prédios e construções e nossa mobilidade dentro de cada um deles depende de uma série de fatores como o tipo de serviços que abriga (se é um hospital, um hotel, uma escola, um prédio de escritórios), do tipo de informações disponíveis sobre os espaços internos (sinalização como placas e adesivos, locutores) e do nosso repertório prévio (se já estivemos em prédios semelhantes, se sabemos ler a sinalização, se conhecemos os recursos que possibilitam a mobilidade, como escadas e elevadores, entre outros). Nesse sentido, o arquiteto seria responsável em definir a estrutura de um determinado espaço para torná-lo convidativo e confortável para que as pessoas queiram voltar um dia. 13 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância No entanto, alguns prédios nos causam má impressão, nos deixam cansados ou perdidos. E por que isso acontece? De acordo com Rosenfeld e Morville (1998), isso ocorre porque muitos arquitetos não vivem, trabalham ou frequentam os prédios que eles mesmos projetam. Logo, é possível inferir que com Arquitetura da Informação não seja muito diferente: é essencial que o arquiteto tenha profundo conhecimento de todas as informações necessárias na hora de realizar um projeto de espaço informacional, é preciso que antes de se tornar um arquiteto de informação ele seja um usuário experiente de websites e de sistemas que pretende projetar. Para isso, Rosenfeld e Morville (1998) sugerem alguns tópicos imprescindíveis quando se trata de compreender como um usuário se sente ao utilizar um site. A reincidência de citações desses dois autores se justifica pelo fato de além de Information Architecture for the World Wide Web ser um livro basilar sobre o assunto, utilizado como referência em grande parte de artigos científicos sobre Arquitetura da Informação, seu texto é fluído e didático, porém, nunca publicado no Brasil. Dessa forma, é esperado que muitos textos na área se dediquem a uma revisão bibliográfica de autores que ainda não foram publicados aqui, mas que cujas contribuições seguem relevantes mesmo diante do avanço tecnológico que costuma deixar muitas obras obsoletas depois de poucos anos. 3.2. O que você odeia em um site? Embora a pergunta colocada por Rosenfeld e Morville pareça se deslocar um pouco da objetividade científica, o que os autores sugerem é que ninguém é capaz de projetar um bom site a menos que seja um consumidor crítico de um. Nesse sentido, a ideia de andar com os sapatos de outra pessoa e viver sua experiência seria o ponto de partida para uma reflexão que levantaria hipóteses sobreos motivos de um determinado site não funcionar como deveria, ou seja, ao buscar soluções para os problemas constatados, seríamos capazes de criar listas e critérios que nos possibilitem agir de forma mais objetiva quando tivermos que criar nossos próprios projetos. Por isso, a partir de agora, busque refletir sobre sua própria experiência como um usuário e compare com os problemas apontados pelos autores. Eles são os mesmos que você já experimentou? Você acrescentaria mais algum a essa lista? 14 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. Não consegue encontrar algo: Apesar de saber que um determinado site contém uma grande quantidade de informação do seu interesse, você não consegue encontrar nada e chega a duvidar se está no lugar correto. Isso porque os rótulos utilizados são obscuros ou porque talvez a nomenclatura utilizada não lhe seja familiar. Às vezes o conteúdo se move rapidamente devido à quantidade de nova informação adicionada ou as cores mudam radicalmente de uma página para outra, o deixando confuso se você ainda estaria no mesmo site. 2. Design e layout deficientes: Páginas cheias de texto, links, gráficos e outros componentes tornam mais difícil para os usuários encontrarem informações nessas páginas, assim como o congestionamento de resultados em páginas longas que requerem rolagem para chegar a itens importantes. 3. Uso gratuito de avisos sonoros: Embora pareçam lúdicos e criativos de alguma forma, assim como os gráficos e outros itens, as tecnologias dos projetos do website devem ajudar os usuários a obter o que eles querem de um site. Se o efeito desejado da tecnologia é atrair e cativar o usuário, então ela deve ser aplicada com muito cuidado. 4. Tom inapropriado: este item talvez pareça de menor importância, porém, a pesquisa sobre quem são os usuários de um site antes que ele seja lançado é fundamental justamente porque é por meio dela que o arquiteto da informação descobrirá que tipo de repertório os usuários possuem e quem são essas pessoas. Se as pessoas responsáveis pelo site utilizam jargões específicos da cultura informacional ou organizacional e o site é destinado ao acesso de informações médicas, os usuários sentirão dificuldade em encontrar o que precisam. 5. “Em construção”: Rosenfeld e Morville explicam que se os usuários preferem não receber nenhuma informação sobre um site a descobrir que o site não está funcionando. Sendo assim, um site só deveria ser lançado quando estiver de fato concluído, do contrário corre-se o risco de transmitir uma ideia de abandono e descuido. 6. Falta de atenção aos detalhes: links quebrados, conteúdo desatualizado demonstram falta de profissionalismo. 15 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3.3. O que você gosta em um site? Ainda que em seu livro Information Architecture for the World Wide Web (1998) o conteúdo desse tópico seja menor do que o anterior, Rosenfeld e Morville alertam que isso não significa que há menos aspectos positivos que negativos nas redes, mas que os aspectos positivos não costumam chamar tanto a nossa atenção quanto os problemas. Os fatores que se destacam positivamente também podem variar de acordo com cada usuário, porém, esses são alguns dos mais comuns: 1. Estética: o prazer estético que alguém experimenta ao acessar um site possui mais relação com o visual de uma página como um todo do que com gráficos e dados observados individualmente. Por isso, as informações apresentadas devem estar integradas aos recursos de cada página de maneira harmoniosa. 2. Grandes ideias: Sites que nos levam até a esquecermos que estamos navegando em um deles são aqueles cujas qualidades intangíveis residem em características como uma boa escrita, edição e capacidade de comunicar suas ideias de forma eficiente. 3. Utilidade: Acima de tudo, nós retornamos a um site porque o consideramos útil de alguma forma. Não utilizamos sites porque são sites, mas porque precisamos realizar alguma pesquisa, para saber das notícias ou atrás de diversão e se eles não funcionam apropriadamente, as chances de não voltarmos são maiores. 4. “Encontrabilidade”: Enquanto a dificuldade de encontrar o que procuramos seja uma das experiências dolorosas em lidar com sites, é realmente reconfortante quando encontramos o que precisamos. Por isso, fatores como organização e a facilidade de navegação são algumas das qualidades intangíveis relacionadas à “encontrabilidade” das coisas. 5. Personalização: Os usuários cada vez mais exigem de sites a capacidade de obter informações personalizadas para seus interesses e necessidades. Muitos sites adaptam o seu conteúdo através do uso de arquiteturas projetadas para suportar múltiplos tipos de audiência ou através de tecnologias que permitem aos usuários traçar o perfil de seus interesses pessoais. Estes tipos de sites demonstram que seus designers são sensíveis ao fato de que os usuários não são todos iguais. Além disso, a influência dos usuários e dos esforços de marketing têm impulsionado essa tendência de maneira significativa. A qualidade intangível deste tipo de site é que seus designers percebem que os 16 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância usuários são diferentes, e tomar providências para atender às suas necessidades específicas. Em nossa próxima unidade nos aprofundaremos na experiência do usuário como um dos fatores determinantes das pesquisas que norteiam as ações do arquiteto de informação. MORVILLE, P; ROSENFELD, L. Information Architecture for the World Wide Web. Sebastopol, CA: O’Reilly, 1998. BELLUZZO, Regina Célia B; FERES, Glória Georges; VALENTIN, Marta Lígia P. Redes de conhecimento e competência em Informação: Interfaces da gestão, mediação e uso da informação. Interciência, 2016. Biblioteca virtual Pearson A arquitetura da compreensão – Fala de Peter Morville: https://www.youtube.com/watch?v=s-xWkYMaSis 17 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. O USUÁRIO NA ARQUITETURA DE INFORMAÇÃO Objetivo Apresentar conceitos gerais sobre a experiência do usuário por meio da compreensão de seus principais aspectos. Introdução Embora a Ciência da Informação não tenha nascido como uma ciência tipicamente social, ao longo dos anos ela identificou-se com o escopo das Ciências Sociais à medida em que passou a se orientar a partir de uma postura em que os sujeitos passaram a ser vistos como o principal ator e objetivo dos chamados sistemas de informação, assim, métodos e conceitos das ciências humanas e sociais foram aplicados para o seu estudo: Nos estudos de usuários, desenvolveu-se a partir da década de 1980 a abordagem de comportamento informacional. Tais estudos se desenvolveram embasados em teorias tais como a do estado anômalo do conhecimento de Belkin (1980), a teoria sense making de Dervin (1983; 1989), a teoria do valor agregado de Taylor e a abordagem construtivista baseada em processo de Kuhlthau (2004). Em comum, todas elas apresentam uma perspectiva cognitivista: busca-se entender o que é a informação do ponto de vista das estruturas mentais dos usuários que se relacionam (que necessitam, que buscam e que usam) a informação. Os usuários são estudados enquanto seres dotados de um determinado “universo” de informações em suas mentes, utilizando essas informações para pautar e dirigir suas atividades cotidianas. Uma vez que se verifica uma falta, uma ausência de determinada informação, inicia- se o processo de busca de informação – aí entra a informação, como aquilo capaz de preencher uma lacuna, satisfazer uma ausência. Tal perspectiva permite compreender a informação inclusive numa lógica cumulativa, na medida em quenovas informações se somam às anteriores no mapa mental dos indivíduos. (ARAÚJO, 2018, p.39) Por isso, embora a Arquitetura da Informação se ocupe com alguns aspectos da experiência desses indivíduos, ela corresponde a apenas um dos fatores que definem experiência do usuário (UX) de um determinado sistema de informação, dentro de um contexto específico, e pode ser definida a partir de elementos que partem de um maior nível de abstração para um nível mais concreto, ou seja, A imagem abaixo ilustra a concepção de experiência do usuário como um guarda-chuva de conceitos relacionados à complexidade das ações realizadas entre esse usuário e os produtos com os quais interage: https://www.alura.com.br/artigos/ux-design-medos-e-insegurancas 18 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância James Garret (2010) é responsável por criar um dos modelos teóricos sobre experiência do usuário (UX – do inglês User Experience) mais difundidos no meio da Ciência da Informação. Esse modelo ilustra os elementos contidos nessa experiência que devem ser preocupação de qum lida com Arquitetura da Informação: Modelo de Garret 19 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4.1. A experiência do usuário Ainda que o modelo proposto por Garret pareça indicar que a separação entre cada elemento que compreende a experiência do usuário seja clara e bem definida, na prática essas linhas e espaços não significam exatamente que os problemas a serem resolvidos devam ser pensados como se estivessem em caixas que não possuem conexão entre si. Isso porque, ao relatar sua dificuldade a respeito da utilização de um determinado sistema, nem sempre a comunicação entre usuário e designer é eficaz. Na maior parte das vezes, para compreender um determinado problema e ser capaz de resolvê-lo, é necessário que toda equipe envolvida na construção do espaço utilizado pelos usuários e os próprios usuários estejam cientes dos processos envolvidos em cada plano do modelo de Garret, a fim de que a linguagem utilizada durante os processos seja a mesma e seja acessível a todos. Por se tratar de uma área relativamente nova e que possui conexões com outras áreas já estabelecidas no campo da Ciência da Informação e a acesso ao conhecimento, nem sempre as nomenclaturas pertinentes à Arquitetura da Informação são as mesmas. Isso pode gerar uma certa confusão entre gestores da informação e de dados na hora de contratar especialistas e na hora de delegar as atribuições que acreditam fazer parte do currículo de alguns profissionais. Por exemplo, a área de Tecnologia da Informação (T.I.), que é a área responsável pela execução dos projetos digitais como websites, bancos de dados, programas para instituições diversas, arquiteto da Informação pode ser a pessoa que constrói peças de hardware, enquanto o analista de negócios seria a pessoa responsável pelo desenvolvimento de estratégia, objetivo, estrutura dos ambientes, ou seja, pelos aspectos considerados um pouco mais abstratos do que os aspectos técnicos ou físicos envolvidos na construção desses ambientes. Por isso, além da nomenclatura, é importante que a pessoa envolvida com Arquitetura da Informação dentro da área da Ciência da Informação e Biblioteconomia esteja muito ciente sobre cada um dos elementos que compõem a experiência do usuário. Começando pelo nível mais abstrato dessa experiência ilustrada na imagem do modelo de Garret, seguiremos então nessa ordem: Estratégia (Strategy), Escopo (Scope), Estrutura (Structure), Esqueleto (Skeleton) e Superfície (Surface). Estratégia: Nesse plano, a estratégia é que determina os passos seguintes em cada nível. Tendo em mente que um produto de acesso à informação precisa atender a uma certa 20 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância demanda e resolver um determinado problema, é a estratégia que precisa responder às seguintes perguntas: O quê? Para quê? Para quem? Em seguida, devemos levantar as hipóteses que envolvem o problema a fim de solucioná-los. Por exemplo, sobre a Interface a ser utilizada, quais seriam os objetivos de um site a partir da pesquisa que foi realizada com os possíveis usuários? Quais são as metas do empreendimento ou da instituição? Escopo: As ferramentas e recursos que os usuários deveriam utilizar a fim de terem uma experiência mais próxima do que esperam de um site é uma preocupação no nível do escopo. É também nessa fase que as hipóteses levantadas na etapa anterior devem ser testadas. Por isso, é nesse momento que devemos definir a interface do software utilizado e qual sistema de hipertexto será disponibilizado para atender às necessidades do usuário quanto aos conteúdos que constam nos sites e quais informações serão de interesse desses usuários. Estrutura: A estrutura define como os usuários chegam a uma página e para onde vão uma vez que terminem o que estavam fazendo anteriormente. É também nesse nível que se prevê como os usuários irão interagir com o produto. Por isso, o designer responsável deverá mapear os fluxos de navegação e pensar sobre que tipo de interação poderia melhorar a UX a fim de que os usuários possam utilizar as funcionalidades de um site de maneira mais intuitiva possível. Assim: Bom design de interação: ajuda as pessoas a atingirem os seus objetivos; Comunica efetivamente sobre interatividade e funcionalidade (o que o usuário pode fazer); informa o usuário sobre alterações de estado (arquivo foi salvo, ou qualquer feedback); enquanto eles interagem; evita erros ou erros do usuário, como quando o sistema pede ao usuário para confirmar a ação potencialmente prejudicial (ex: exclusão / delete). Boa arquitetura de informação: organiza, categoriza e prioriza as informações com base nas necessidades do usuário e objetivos de negócios; facilita a compreensão e a circulação das informações apresentadas; flexível para acomodar o crescimento e se adaptar à mudança; apropriado para o público. 21 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Esqueleto: Define a forma visual na tela, a apresentação e todos os elementos que nos fazem interagir com a funcionalidades de um sistema. Também, como que os usuários transitam pelas informações e como a informação é apresentada de forma que ela seja efetiva, óbvia e clara. Esqueleto é também chamado de wireframe2. Superfície: Esse nível é o mais concreto no que diz respeito ao design da UX, pois considera não só a interface do produto, mas seus protótipos e o aspecto final, ou seja, é o plano em que os usuários de fato têm contato com as funcionalidades de um site. Falamos aqui então da aparência do site, suas orientações estéticas, tipografia, paleta de cores, imagens e ilustrações nas guias e diretrizes que são estabelecidos pelas plataformas. ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que é Ciência da informação? Belo Horizonte, 2018. GARRET, Jesse James. The Elements of User Experience: User-Centered Design for the Web and Beyond. Peachipit Pr. 2002 FERREIRA, Marcelo Bellon. Prototipagem e testes de usabilidade. Contentus, 2002. Biblioteca Virtual Pearson LIMA, Gercina Angela de. Organização e Representação do Conhecimento e da Informação para a WEB. Interciência, 2020. Biblioteca Virtual Pearson 2 h t tps: / /medium.com/omarelgabrys-b log/ux-a-quick-g lance-about- the-5-e lements-of- user -exper ience-par t-2-a0da8798cd52 Wireframes são amplamente utilizados para criar um formato visual, que é um diagrama estático que representa um formato visual do produto, incluindo conteúdo, navegação e maneiras de interações. O esqueleto é dividido em três componentes: Design de Interface, Designde Navegação e Design de Informação. O Design de interface apresenta e organiza os elementos de interface para permitir aos usuários interagir com a funcionalidade do sistema. O Design de navegação indica como navegar pelas informações usando a interface. O Design da informação define a apresentação da informação de uma forma que facilite sua compreensão. 22 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância O que é Arquitetura da informação? – UXNOW: https://www.youtube.com/watch?v=vmvSMYaV4oE 23 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. USABILIDADE E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO Objetivo Apresentar conceitos gerais sobre usabilidade de um sistema por meio da compreensão de seus principais aspectos. Introdução Muito embora tenhamos visto até aqui que há diversos fatores que contribuíram para o desenvolvimento da Arquitetura da Informação dentro dos estudos de Biblioteconomia e documentação, a usabilidade, de acordo com o que estabelece a ISSO 9241-11, é definida como a capacidade de um produto ser usado por usuários específicos para atingir objetivos específicos com eficácia, eficiência e satisfação. Assim, especial atenção será conferida a essa questão que deveria ser a base da ação de bibliotecários conscientes do seu papel como mediadores entre a informação disponível e os usuários que a buscam. A usabilidade pode ser definida como uma qualidade de interação entre usuário e sistema e que depende das características tanto do sistema quanto do usuário. 5.1. Conceituando usabilidade Pereira (2018) postula que a usabilidade visa analisar a qualidade de uso de interfaces digitais por meio de técnicas e métodos que buscam identificar os problemas que afetam a satisfação do usuário durante sua interação com um sistema: Esses métodos podem ser aplicados durante a criação ou remodelação dessas interfaces, visando melhorá-las, tornando-as mais agradáveis ao usuário. Por meio de avaliações de usabilidade pode-se verificar a facilidade de uso da interface. Uma interface é considerada fácil de usar quando atende as recomendações de usabilidade e é indutiva para seus usuários, proporcionando satisfação durante a navegação. (PEREIRA, 2018, p. 38) Ao citar Nilsen, Sá (2013) afirma que a usabilidade pode ser medida a partir de cinco atributos: facilidade de aprendizagem, eficiência de uso, facilidade de memorização, baixa taxa de erros e satisfação subjetiva. Por isso, os testes de usabilidade surgiram com o objetivo de avaliar os sistemas e essa avaliação pode ser realizada em qualquer fase do desenvolvimento dos sistemas interativos, com algumas particularidades em relação a cada uma delas: 24 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância na fase inicial, serve para identificar parâmetros ou elementos a serem implementados no sistema; na fase intermediária, é útil na validação ou refinamento do projeto; e na fase final, assegura que o sistema atende aos objetivos e necessidades dos usuários. Entretanto, para que não seja necessária uma total reformulação do sistema depois de finalizado, em função de problemas detectados em avaliações de usabilidade, recomenda-se que essas avaliações sejam realizadas pelo menos a partir da fase de refinamento ou validação do projeto. (DIAS, 2007 apud SÁ, 2013, p. 5) Em relação aos sistemas de maior interesse para os bibliotecários, como os das bibliotecas digitais, as expectativas em relação à usabilidade não diferem tanto em relação a outros sistemas: Blandford e Buchanan (2003) discutem como trazer os usuários para a biblioteca digital e proporcionar a eles experiências satisfatórias e produtivas. Os autores defendem a ideia de que as bibliotecas digitais são instrumentos poderosos de veiculação da informação e que só terão impacto proporcional ao seu investimento quando houver aceitação por uma comunidade ampla de potenciais utilizadores. Os autores apontam a falta de consenso sobre quais seriam os principais critérios para avaliar a usabilidade de bibliotecas digitais. Segundo eles, alguns pontos específicos não podem deixar de ser observados nas interfaces de bibliotecas digitais. São eles: familiarização do usuário com a estrutura da biblioteca (tipo de conteúdo, mecanismos de busca) e consistência de estilo de interação. (PEREIRA, 2018, p.38) Assim, um teste de usabilidade seria responsável por revelar como se estabelece a interação entre o usuário e o sistema, de acordo com parâmetros relacionados ao tempo gasto para a execução de determinadas tarefas e o caminho percorrido pelo site (BOHMERWALD, 2003). No entanto, a medição dos critérios utilizados nesses testes nem sempre é tarefa fácil, pois eles dependem de questões subjetivas. Por isso, pesquisadores interessados em avaliar o grau de satisfação dos usuários de um site, seja ele de uma biblioteca digital ou de e-commece, por exemplo, acabam recorrendo a metodologias variadas de acordo com o perfil de cada grupo de usuários e de acordo com cada produto avaliado, ou seja, um determinado teste pode funcionar em um contexto e não funcionar em outro e é por isso que cada caso deve ser avaliado cuidadosamente e ter sua metodologia de avaliação de usabilidade adequada caso a caso. 5.2. Card Sorting como metodologia para garantir usabilidade Em um primeiro momento, os métodos de avaliação disponíveis podem ser classificados como métodos de inspeção de usabilidade e testes empíricos com a participação com usuários: Métodos de inspeção caracterizam-se por empregarem especialistas em interface que a utilizam em busca de possíveis problemas de usabilidade. Como exemplo cita- 25 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância se a avaliação heurística. Os métodos com a participação de usuários caracterizam- se pelo uso de questionários ou observação direta ou indireta de usuários durante a utilização da interface, como fonte de informações que possam levar à identificação de problemas. Como exemplos destes métodos podem ser citados ensaios de interação (ou teste com usuário), questionários e análise de arquivos de log, entre outros. Outros métodos que envolvem usuários como, por exemplo, focus group e classificação de cartões (card sorting), também são utilizados para descobrir como os usuários organizam as informações do domínio de problema, quais suas expectativas e necessidades com relação à interface. (WINCHLER; PIMENTA, 2002 apud SÁ, 2013, p. 6) Nesse sentido, a avaliação heurística mencionada no trecho acima se refere a algumas regras básicas que devem ser observadas na ocasião da confecção do projeto de um sistema: Ainda que algumas das indicações acima possam parecer óbvias, vale lembrar que a avaliação heurística é apenas um dos inúmeros passos da checklist de um arquiteto da 26 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância informação. Isso nos leva a inferir se todos os passos apresentados ao longo de nosso guia foram de fato seguidos em vários sites que costumamos utilizar ou se ao menos algum arquiteto da informação foi responsável pelo projeto que apresenta uma série de falhas que comprometem sua usabilidade. O método de card sorting, apresentado por Levi e Conrad (BOHMERWALD, 2003), por exemplo, busca identificar e aproximar a estrutura de navegação em um sistema interativo às expectativas do usuário e tem sido um dos métodos mais utilizados tanto por empresas de grande como de pequeno porte para aliar as expectativas dos usuários ao projeto do site: Em sua dissertação de mestrado, Bohmerwald (2003) apresenta testes que podem ser utilizados tanto para avaliar as expectativas dos usuários em relação aum projeto que Card Sorting é um método de organização e agrupamento de informações por meio de cartões para entender as percepções de usuários em relação aos itens de conteúdo. Ele pode ser aberto ou fechado, dependendo da forma de aplicação. O card sorting aberto envolve o agrupamento de cartões de forma livre pelo usuário e o card sorting fechado envolve agrupamentos de cartões em categorias já pré-definidas. Segundo Dong et al. (2001, p.23, tradução nossa) “card sorting é um método de coleta de dados que é útil para entender as percepções dos usuários e de relacionamentos entre itens”. Os procedimentos típicos seguidos por esse método são: recrutar os participantes/públicos- 27 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância ainda será implementado quanto para avaliar a usabilidade de elementos diferentes dentro de sites já em atividade. Logo, a técnica de classificação de cartas (card sorting) é mais indicada avaliar a interação dos usuários com links específicos e menus antes de suas aplicações ao design, por exemplo. Ainda assim, pela praticidade de aplicação do card sorting, a experiência pode ser tornar lúdica a partir dos passos sugeridos por Levi e Conrad (1997 apud BOHMERWALD, 2003) abaixo: Por fim, a diagrama abaixo possibilita uma representação visual de como o card sorting se pareceria aplicado a um site de notícias, mas é um modelo que pode ser facilmente transposto para outros tipos de sites, como o de uma biblioteca digital, por exemplo. Para um grupo de usuários-finais é dado um conjunto de fichas sem nenhum tipo de ordenação, cada uma nomeada com uma tarefa diferente. O usuário deve realizar as seguintes instruções: a) Espalhe as fichas em sua mesa. b) Classifique as fichas em pequenas pilhas agrupando-as de acordo com a similaridade destas. c) Arrume as pequenas pilhas em grupos maiores que pareçam pertencer a uma categoria geral e então as agrupe englobando os pequenos grupos. d) Invente um nome e escreva-o para cada um dos grandes grupos. “O que todos têm em comum é o objetivo de particionar um espaço grande de informação em subseções controláveis que reflitam as expectativas intuitivas e modelos mentais do 28 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância BOHMERWALD, Paula. Uma proposta metodológica para avaliação de bibliotecas digitais: usabilidade e comportamento de busca por informação na biblioteca digital da Puc-Minas. Dissertação de Mestrado, UFMG. Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/LHLS-69XPCF CAMARGO, Liriane Soares. Metodologia de desenvolvimento de ambientes informacionais digitais a partir dos princípios da arquitetura da informação. Tese de Doutorado, UNESP, 2010. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/103357 PEREIRA, Fernanda. Usabilidade em Bibliotecas Digitais. In: LIMA, Gercina Angela de (org.). Bibliotecas Digitais: Novas Tendências na Navegação em Contexto. Interciência, 2018 SÁ, Maria Irene da Fonseca e. O Ensino da disciplina de Arquitetura da Informação: uma aplicação da técnica de card sorting. XXV Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documento e Ciência da Informação – Florianópolis,2013.Disponível em: https://portal.febab.org.br/anais/article/view/1475/1476 Card sorting em site de notícias- (CAMARGO, 2010) 29 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. BIBLIOTECAS DIGITAIS Objetivo Apresentar conceitos gerais sobre bibliotecas digitais por meio da compreensão de suas principais características. Introdução As bibliotecas digitais costumam ser normalmente definidas como coleções de recursos eletrônicos e cujos serviços oferecidos poderiam aumentar a usabilidade dessas coleções. Porém, a informação digital tem sido definida principalmente como um serviço, com pouca reflexão sobre as maneiras em que esse serviço pode contribuir para e aumentar o valor de uma coleção de bibliotecas. Por isso, teóricos de biblioteconomia e documentação se dedicam a conciliar os avanços tecnológicos constantes e os conceitos da área a fim de garantir que os usuários desses espaços digitais consigam extrair o máximo de informação que precisam dentro do menor tempo possível e com eficácia e eficiência garantidas. 6.1. Alguns conceitos sobre bibliotecas digitais De acordo com a Federação das bibliotecas digitais3 (DLF–EUA), uma das definições para o termo é: organização que fornece os recursos, incluindo a equipe especializada para selecionar, estruturar, oferecer acesso intelectual para interpretar, distribuir preservar a integridade e garantir que as obras estejam pronta e economicamente disponíveis para utilização por uma comunidade ou conjunto de comunidades definidos. Hoje, a rede conecta algumas fontes de informação que são uma mistura de informações publicamente disponíveis e informações privadas compartilhadas por colaboradores. Incluem volumes de referência, livros, revistas, jornais, gravações de som e voz, imagens, vídeos, dados científicos (fluxos de dados brutos de instrumentos e informações processadas) e serviços de informação privada, tais como relatórios sobre a bolsa de valores e boletins informativos privados. Estas fontes de informação, quando 3 h t tps: / /www.digl ib.org/ 30 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância conectadas eletronicamente através de uma rede, representam componentes importantes de uma biblioteca digital universalmente acessível emergente. Há também o conceito de uma biblioteca digital não ser meramente equivalente a uma coleção digitalizada com ferramentas de gerenciamento de informação. Seria mais um ambiente para reunir coleções, serviços e pessoas em apoio do ciclo de vida completo de criação, divulgação, uso e preservação de dados, informações e conhecimentos. Independentemente da perspectiva adotada, é fato que com o advento da internet, e, principalmente em um cenário pós-pandêmico, o fluxo de informações compartilhadas digitalmente, bem com a procura por essas informações, tem crescido exponencialmente. Por isso, um bibliotecário precisa estar a par dos conceitos relacionados à Arquitetura da Informação a fim de aplicá-los, ou ao menos estar familiarizado, com os sistemas que precisará utilizar em sua rotina de trabalho. Destarte, precisamos entender a processo histórico envolvido na criação das bibliotecas digitais a fim de entender o contexto que nos possibilitou estar onde estamos hoje, quando a importância de bibliotecas digitais se torna cada vez mais significativa. 6.2. A história das bibliotecas digitais e sua evolução como bibliotecas virtuais Camargo (2010) nos oferece algumas perspectivas acerca das bibliotecas digitais. De acordo com a autora, a biblioteca digital é vista como uma área de investigação na Ciência da Informação que desde 1994 tem sido objeto de um volume crescente de pesquisas. Nesse sentido, o conceito de biblioteca digital faz uma analogia a: um lugar onde se encontra um repositório contendo uma coleção organizada de publicações (que possam ser impressas) e outros artefatos físicos, combinados com sistemas e serviços que facilitem o acesso físico, intelectual, e disponível por longo tempo. (CAMARGO, 2010, p. 78) Cunha (1999 apud CAMARGO, 2010, p. 78) relata que nas bibliotecas digitais estão embutidas a criação, aquisição, distribuição e armazenamento de documento sob a forma digital. Ainda de acordo com o autor, nesses espaços também pode-se encontrar: acesso remoto pelo usuário, utilização simultânea do mesmo documento, inclusãode produtos ou serviços, existência de coleções de documentos correntes onde se pode acessar não somente a referência bibliográfica, mas também o seu texto completo, provisão de acesso em linha a outras fontes externas de informação 31 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância (bibliotecas, museus, bancos de dados, instituições públicas e privadas), utilização de maneira que a biblioteca local não necessite ser proprietária do documento solicitado pelo usuário, utilização de diversos suportes de registro da informação, existência de unidade de gerenciamento do conhecimento, que inclui sistema inteligente ou especialista para ajudar na recuperação de informação mais relevante. (CUNHA, 1999 apud CAMARGO, 2010, p. 78) Cunha e McCarthy (2005) apresentam um levantamento das principais bibliotecas digitais do país de acordo com o foco de seus materiais, as dividindo entre iniciativas relacionadas à tecnologia, ciência, humanidades, entre outras áreas de acordo com suas datas de surgimento. Os autores começam citando o Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia (Ibict) como uma instituição que desempenhou um papel vital no desenvolvimento de atividades informacionais avançadas: Programa de Informação e Comunicação para a Pesquisa (Prossiga) [URL: http://prossiga.ibict.br], criado em 1995, no âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia. Em meados de 2001, foi transferido para o Ibict. Ele é um portal que tem por objetivo a divulgação da informação, comunicação e inovação para a ciência e tecnologia. Além de manter um diretório com ponteiros para sítios selecionados nas diversas áreas de ciências e tecnologia, possui uma série de bibliotecas digitais [http://www.prossiga.br/bvtematicas/], denominadas "bibliotecas virtuais". Muitas dessas bibliotecas são guias de sítios web sobre cada um 28 dos temas. Essas bibliotecas, na verdade, são diretórios de sítios web relacionados com um tema específico, geralmente incluindo dados sobre pesquisadores, associações e sociedades científicas, instituições de ensino, publicações, legislação, principais periódicos e obras de referência. Elas cobrem uma variedade de assuntos e foram criadas contando, em sua maioria, com a cooperação de importantes instituições. Em maio de 2003, o Prossiga tinha uma média diária de 85.980 acessos (Prossiga em números, 2003). Até janeiro de 2005, eram 19 os temas cobertos pelas bibliotecas digitais. Abaixo, em ordem alfabética, são informados o tema, a data de criação, o URL e resumo do projeto. (CUNHA; MCCARTHY, 2005, p. 28) Seguindo de forma cronológica na área de tecnologia e ciência, os autores destacam o surgimento dos seguintes espaços: 1. Agropecuária na Amazônia (28 de março de 2003) [URL: http:// www.prossiga.br/embrapa/agropecuaria/]; 2. Astronomia ( 14 de agosto de 2001 ) [URL: http://www.prossiga.br/ astronomia/]; 3. Ciências Sociais (17 de novembro de 1999) [URL: http:// binac.nce.ufrj.br/cienciassociais/]; 4. Economia (13 de janeiro de 1998) [URL: http://www.prossiga.br/ nuca-ie- ufrj/economia/]; 5. Educação (2 de setembro de 1998) [URL: http://bve.dbec. inep.gov.br]; 6. Educação a Distância (13 de maio de 1998) [URL: http://www.prossiga.br/edistancia/]; 32 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. Energia [URL: http://www.prossiga.br/cnencin/bvenergia/]; 8. Engenharia Biomédica (6 de julho de 2000) [URL: http:// www.prossiga.br/fem-unicamp/bvbiomedica/]; 9. Engenharia do Petróleo (13 de maio de 1998) [URL: http:// www.prossiga.br/dep-fem-unicamp/petroleo/]; 10. Estudos Culturais (3 de julho de 2000) [URL: http://binac.nce.ufrj.br /estudos culturais/] Obviamente, hoje em dia dificilmente uma única publicação conseguiria abarcar a quantidade quase que ilimitada de bibliotecas digitais que surgiram desde então, ainda assim, essas primeiras iniciativas foram fundamentais para o avanço do que hoje são conhecidas como bibliotecas virtuais no Brasil e para o desenvolvimento de estudos a respeito da difusão, circulação, acesso, recuperação dos mais variados tipos de informação. Por isso, a compreensão de que as bibliotecas digitais representam muito mais que meros repositórios informacionais e são parte da própria web, possibilitou o desenvolvimento de estudos relacionados à Arquitetura da Informação aplicados ao aos sistemas dessas bibliotecas. Esses estudos partem da observação de como os recursos que surgiram com a internet possibilitaram o compartilhamento de informações através de um sistema de rede que foi se tornando cada vez mais complexo, demandando então, que o acesso a essas informações fosse mais estruturado. CAMARGO, Liriane Soares. Metodologia de desenvolvimento de ambientes informacionais digitais a partir dos princípios da arquitetura da informação. Tese de Doutorado, UNESP, 2010. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/103357 CUNHA, Murilo Bastos; MCCARTHY, Cavan. Estado atual das bibliotecas digitais no Brasil. In: MARCONDES et al (orgs). Bibliotecas digitais: saberes e práticas. Universidade de Brasília, 2005. LIMA, Gercina Angela de (org.). Bibliotecas Digitais: Novas Tendências na Navegação em Contexto. Interciência, 2018. Biblioteca Pearson. 33 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. DESENVOLVIMENTO DE AMBIENTES INFORMACIONAIS DIGITAIS Objetivo Nessa unidade iremos explorar a relação da Arquitetura da Informação com as bibliotecas digitais a partir de elementos pertinentes à disciplina. Introdução Como demonstrado até aqui, a informática foi responsável por revolucionar a maneira como a informação passou a ser gerada, armazenada, processada e transmitida. Ou seja, “a mudança do suporte impresso para o suporte eletrônico criou grande mudança no modo como organizamos e acessamos a informação” (NONATO et al, 2008, p.125). Por isso, metodologias para sua estruturação que sejam fundamentadas nos princípios da Arquitetura da Informação assegurariam o acesso às informações disponibilizadas pelas bibliotecas digitais. 7.1. Bibliotecas digitais e a arquitetura da informação Com a possibilidade de disponibilizar suas coleções e serviços para além de suas edificações físicas, o alcance das bibliotecas ganhou novas dimensões. Nesse sentido, parte significativa dos elementos que constituem a Arquitetura da Informação está relacionado ao desenvolvimento da web e aos recursos gerados a partir dela: Surgida no início da década de 1990, a World Wide Web (www) é apenas mais um serviço da internet, como os serviços de correio eletrônico, listas de discussão, FTP ou HTTP. Na criação da web, buscava-se oferecer interfaces mais amigáveis e intuitivas para a informação que era disponibilizada via internet. Com vista nisso, a ideia de hipertexto, tal qual imaginada por Teodor Nelson e Douglas Engelbart em 1962, foi implementada. Assim, pode-se citar a escrita hipertextual e a utilização da linguagem de marcação HTML (Hiper Text Markup Language) como duas das principais características da web. (NOTATO et al, 2008, 127) Então, os hipertextos, que se configuram como meios de estruturação e de manipulação de textos, oferecem uma leitura não-linear ao usuário. Ou seja, os documentos estariam dispostos em bases de dados cheias de conexões que formariam uma rede hipertextual e essas conexões são realizadas por meio de links que estão relacionados aos conteúdos aos quais se referem. “A estrutura de um hipertexto determina e descreve o sistema de ligações e de relacionamentos entre as unidades de informação” (MARQUES, 1995 apud NONATO et al, 2008, p.127) e representa um fator significativo quando se trata da facilidade de criar, utilizar e atualizar o “hiperdocumento”. 34 Arquitetura da informaçãoUniversidade Santa Cecília - Educação a Distância Considerando então as tecnologias de informação, Nonato et al (2008) recorre a autores da área para dividir as bibliotecas digitais em três componentes que se interrelacionam, interface, base de dados textual e base de dados intertextual: A interface é a superfície de contato, de articulação entre dois espaços (virtual e real), é o meio no qual o utilizador acessa e manipula a informação num sistema informatizado (LIMA, 2004). A base de dados textual é o meio onde são arquivados os materiais da coleção digital, podendo ser subdividida em texto completo (dado) e metadados (dados a respeito dos textos completos). Finalmente, a base de dados hipertextual é a representação das conexões/ligações possíveis ao usuário no momento de navegação (browsing) na interface. (NONATO et al, 2008, p.127) Portanto, o arquiteto da informação, ao conduzir o usuário ao local onde os dados se encontram, contribuiria para uma melhor gestão do conhecimento a partir da criação de bibliotecas digitais de melhor qualidade. 35 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7.2. Sistemas de organização de informação Retornando às considerações de Rosenfeld e Morville (1998), vale destacar que eles afirmam haver quatro elementos que sustentariam a Arquitetura da Informação: 1. Sistemas de organização – maneira como o conteúdo de um site pode ser agrupado; 2. Sistema de rotulagem – forma como é representada cada unidade de informação do site; 3. Sistema de navegação – ferramentas auxiliares que permitem ao usuário folhear ou navegar através dessas unidades de informação; 4. sistema de busca – permite ao usuário realizar consultas no todo informacional dentro do site. É por meio da articulação desses conceitos e de técnicas pertinentes à área da Ciência da Informação que os arquitetos de informação podem desenvolver projetos cujo principal objetivo seja o de tornar as bibliotecas digitais mais acessíveis aos seus usuários. Refletimos anteriormente sobre como o usuário é um elemento chave para o desenvolvimento dos nossos projetos, isso porque, de acordo com Rosenfeld e Morville (1998), sites que apresentam problemas constantes ou não são centrados na experiência do usuário, comprometem a usabilidade desses espaços. Nesse sentido, seguimos com Rosenfeld e Morville (1998) quando dividem os sistemas de organização para uma biblioteca digital em dois gupos, esquemas de organização e estruturas de organização: Os esquemas de organização são divididos em exatos e ambíguos. No esquema exato, a informação é separada em seções exclusivas e bem definidas. Entre esses critérios de agrupamento, os mais comuns são o alfabético e o cronológico. Há de se salientar que esse tipo de esquema é útil ao usuário que sabe exatamente os dados da informação procurada. Por outro lado, os esquemas de organização ambíguos dividem a informação em categorias bem definidas, são projetados levando-se em consideração as características do domínio do conhecimento o qual se quer organizar. (NONATO et al, 2008, p. 129) Para a implementação de esquemas de organização, podem ser usados instrumentos como tesauros, listas de cabeçalho de assuntos, CDU e CDD (Classificação Decimal Universal e Classificação Decimal de Dewey). Nas bibliotecas digitais, a aplicação de esquemas de organização e indexação pode ser realizada tanto no momento do 36 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância desenvolvimento do projeto da interface que será apresentada ao usuário como no momento de inserção de um novo item da coleção (NONATO et al, 2008). Basicamente, as estruturas de organização têm como principal função a de ilustrar os trajetos possíveis para que os usuários possam navegar pela biblioteca digital. Assim, Rosenfeld e Morville (2001) definem três estruturas que costumam ser mais utilizadas no desenvolvimento de sites. São elas: hierárquica, hipertextual e base relacional, como registrado por Nonato et al (2008) a seguir: Nas estruturas de organização hierárquica, a informação é disposta considerando-se os conceitos gerais e específicos e procurando- se organizá-los de maneira a formar uma hierarquia. Nesse ponto, Rosenfeld e Morville (2001, p. 33) chamam a atenção para a necessidade de se respeitarem os limites da mente humana, limitando- se o número máximo de níveis, até se chegar à informação final, entre quatro ou cinco níveis. Dias (2003), ao discutir a usabilidade em websites, pontua que um sistema deve ser de fácil aprendizado e memorização, pois o uso exagerado de níveis de especificidade compromete sua usabilidade. A organização da informação digital é fator importante na garantia da As estruturas de organização hipertextuais são formas de organização que fazem o uso de links. De forma genérica, os hipertextos são compostos de unidades de informação (nós) conectados por links (elos ou ligações). Essas 37 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância LIMA, Gercina Angela de. Biblioteca Digital Hipertextual: Caminhos para a Navegação em Contexto. INterciência, 2016. NONATO, R.; BORGES, G.; MACULAN,B.;LIMA, G.. Arquitetura da Informação em Bibliotecas Digitais: uma abordagem da ciência da informação e da biblioteconomia. In: Inf. Inf., v.13, n.2, jul/dez, 2008. ROSENFELD, L.; MORVILLE, P.. Information Architecture for the World Wide Web. Sebastopol, CA: O’Reilly, 1998. ______. Information architecture for the World Wide Web. 2. ed. Sebastopol, CA: O´Reilley, 2001. As estruturas de organização base- relacional utilizam informações organizadas em base de dados relacionais que permitem a realização de consultas em vários campos de registro. Para Rosenfeld e Morville (2001, p. 36), é uma estrutura de organização de base indutiva, pois propõe a reunião de informações específicas para se chegar à unidade de informação geral. A base de dados relacional é essencial ao processo de concepção de uma biblioteca digital, não apenas porque pré-define os elementos de metadados da base de dados textual, mas, também, porque influencia os sistemas de busca da coleção. 38 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. SISTEMAS DE ROTULAGEM, NAVEGAÇÃO E BUSCA Objetivo Nessa unidade iremos abordar os demais sistemas que estruturam a Arquitetura da Informação de acordo com Rosenfeld e Morville (1998). Introdução Ainda que nem todo mundo que se forma em Biblioteconomia tenha a intenção de projetar sistemas, o fato é que entender os conceitos básicos do funcionamento dos sites e sistemas de acesso à informação é tão necessário quanto entender sobre indexação, organização de coleções, pois o bibliotecário é responsável em mediar a relação entre usuários e dados disponíveis em uma coleção, seja ela analógica ou digital. Em um mundo hiper conectado, entender o papel das bibliotecas digitais e dos recursos e dispositivos existentes para que uma pessoa possa encontrar uma informação de maneira mais eficiente possível, possibilita que a usabilidade do site seja maior e, consequentemente, a qualidade de tempo que se passa nele também melhora. Por isso, seguindo rumo ao final de nossa disciplina, que tal conhecer um pouco mais sobre os sistemas mencionados anteriormente? 8.1. Sistemas de Rotulagem, Navegação e Busca Nos sistemas de rotulagem, o uso de rótulos e etiquetas é uma forma de representar uma unidade de informação em sistemas de hipertextos para remeter o usuário à informação desejada (NONATO et al, 2008, p.132). Entre as maneiras de se representar a informação em um contexto digital podemoscitar as que são feitas por meio de grupos de palavras, ícones (como imagens ou símbolos sonoros) ou mista. Essa ação de rotular os elementos de uma página, por exemplo, impactam as ações relacionadas aos demais sistemas de um site. Isso porque, no caso de indicações mal representadas nos sites, o sistema de busca é comprometido, porque as informações de onde encontrar determinada informação não estão facilmente acessíveis. Por isso, “um website de biblioteca digital requer em sua base de dados hipertextual um sistema de rotulagem formado por conceitos ricos em representatividade e que interajam entre si” (NONATO et al, 2008, p.133): Uma unidade de informação de um website de biblioteca digital é, antes de tudo, uma informação fragmentada, textual ou multimídia, passível de tratamento temático. Aos profissionais a que foi atribuída a tarefa de “rotular” unidades de informações é sugerido utilizar a técnica de indexação de assuntos, procurando, permanentemente, 39 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância fazer emergir conceitos dessas unidades informacionais que façam sentido ao usuário, a quem seu produto é destinado. (NONATO et al, 2008, p.133) A ilustração abaixo exemplifica um sistema de rotulagem: Em relação aos sistemas de navegação, Nielsen (2002) afirma que um sistema de navegação deve responder a três perguntas a todo momento: Onde estou? Onde estive? Onde posso ir? Esses sistemas podem estar organizados de forma hierárquica, hipertextual (ou ad hoc), ou seja, dependem do tipo de organização que estudamos na unidade anterior; e também podem ser estruturados de forma local ou global, de maneira que seus menus estejam dispostos das seguintes formas, como previsto em Rosenfeld e Morville (1998): 1. Sistemas de navegação hierárquicos: links que partem do menu principal do website e apresentam seções secundárias ramificadas; 2. Sistemas de navegação global: complementam a informação hierárquica, habilitando os movimentos verticais e laterais. Esse tipo de sistema de navegação global Processo de atribuição de rótulos (NONATO et al, 2008) 40 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. Sistemas de navegação local: complementam a navegação global, pois são específicos ao conteúdo apresentando naquele exato momento; 4. Sistemas de navegação ad hoc: links inseridos no corpo de texto que fornecem informações adicionais sobre um assunto, são também chamados de embutidos. Em nossas videaulas os exemplos podem ser explorados de maneira mais visual, mas, em relação aos conceitos, o que precisamos ter em mente é: que tipo de recursos serão importantes para que o usuário chegue até a informação que ele necessita? Qual o caminho que ele irá percorrer até lá? O menu do site é intuitivo? Ele será um menu fixo? Quantos itens serão disponibilizados em cada menu de cada página e como cada página deverá parecer para os usuários? Ou seja, nosso trabalho como arquiteto é literalmente o de fazer o que o arquiteto de um prédio deveria fazer, indicar aos engenheiros como que o prédio, seus andares e suas salas devem estar dispostos e quais meios serão utilizados para que as pessoas cheguem onde precisam. Por fim, chegamos aos sistemas de busca. Quando Rosenfeld e Morville (1998) descreveram sistemas de busca como elementos empregados na internet para permitir a localização de informações que podem estar armazenadas em qualquer computador conectado a ela, mesmo depois da atualização de seu livro nos anos 2000, sites de busca como o Google não possuíam o mesmo nível de mapeamento e indexação de dados que possuem hoje, quando podemos acessar uma diversidade quase ilimitada de informações com base em nossos perfis, ou seja, os algoritmos desses sites personalizam as informações que recebemos com base nos dados que nós fornecemos a eles. Ainda assim: As formas de busca utilizadas podem demonstrar a variedade de expectativas dos usuários, e estão assim divididas: por item conhecido, por ideias abstratas, exploratória e compreensiva. Os recursos para efetuar a busca podem ser: lógica booleana, linguagem natural, tipos específicos de itens e operadores de proximidade. Os recursos para a apresentação dos documentos recuperados podem ser listagens (ordenadas), relevância e refinamentos de busca. (NONATO et al, 2008, p. 137) Em outras palavras: na busca por item conhecido, o usuário sabe o que quer e como descrever; na busca por ideias abstratas ele sabe o que quer, mas não sabe como descrever; na busca exploratória o usuário não sabe o que quer, mas sabe descrever o que quer; e na busca compreensiva ele quer todas as informações. No entanto, só saberemos como adequar as ferramentas de busca às expectativas de um usuário se nossa pesquisa sobre ele for aprofundada, pois entre as informações que 41 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância precisamos para realizar essa adequação estão as informações sobre o perfil desse usuário: ele é um usuário novato? É experiente? É frequente ou utiliza raramente? Considerando que o site de uma biblioteca digital é um sistema de informação, ele deve incluir um acervo de informações que seja e estruturado e organizado para que o usuário não sinta dificuldade em acessar as informações que lhes são necessárias. Nesse sentido, a indexação representaria a ligação entre o que está disponível no sistema e necessidade do usuário. Isso significa dizer que bibliotecário ou o arquiteto de informação responsável pelo projeto de uma biblioteca digital precisa dedicar um tempo considerável analisando o conteúdo que será disponibilizado para que cada item seja inserido ao campo do conhecimento que pertence. Essa análise não deve ser realizada considerando um documento como parte isolada de uma coleção, ou seja, ele precisa ser analisado de forma contextual, como parte de um conjunto. Por apresentar essas relações de indexação e recuperação, o tesauro costuma representar um importante aliado do arquiteto de informação: Segundo Currás (1995), o tesauro foi utilizado “na área de documentação, associado à forma de organização do vocabulário de indexação/recuperação”. Esse instrumento pode ser utilizado na entrada dos dados do sistema, no momento da indexação, quanto o conteúdo é identificado e “traduzido” em termos contidos nesse tesauro. (NONATO et al, 2008, p. 137) Se pensarmos em nosso atual contexto, o de um mundo que teve que se adaptar às mudanças causadas por uma pandemia mundial e que nos obrigou a repensar a forma como lidamos com a tecnologia, além do fato de nossa interação se dar dentro do ambiente virtual de um curso EAD, considerar a relevância de uma biblioteca digital é de extrema importância para os futuros bibliotecários. Ainda que os conceitos de Arquitetura da Informação não tenham sido desenvolvidos exclusivamente pensando nesses espaços, é fato que as bibliotecas digitais representam um recurso significativo para a manutenção, acesso, recuperação e difusão do conhecimento. Nesse sentido, atentar para os sistemas aqui exemplificados e buscar aplicá-los às aos sites que abrigam coleções de itens como livros e outros objetos de interesse cultural, não seria uma função apenas dos bibliotecários, mas de uma sociedade que preze e zele pelo conhecimento que produz. 42 Arquitetura da informação Universidade Santa Cecília - Educação a Distância JOÃO, Belmiro N. Sistemas de Informação. Pearson, 2012. Biblioteca virtual Pearson MORVILLE, P; ROSENFELD, L. Information Architecture for the World Wide Web. Sebastopol, CA: O’Reilly, 1998. NIELSEN, Jakob. Homepage usabilidade: 50 websites desconstruídos. Rio de Janeiro: Campus, 2002. NONATO, R.; BORGES, G.; MACULAN,B.;LIMA, G.. Arquitetura da Informação
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