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PDF - Livro - Linguística Aplicada ao Ensino do Português

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LINGUÍSTICA
APLICADA AO 
ENSINO DO 
PORTUGUÊS
Juliana Battisti
Bibiana Cardoso 
da Silva
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
B336l Battisti, Juliana.
 Linguística aplicada ao ensino do português / Juliana 
 Battisti, Bibiana Cardoso da Silva. – Porto Alegre : SAGAH,
 2017.
 157 p. : il. ; 22,5 cm.
 ISBN 978-85-9502-062-7
 1. Linguística aplicada. I. Silva, Bibiana Cardoso da.
 II. Título. 
CDU 81’33
Linguistica_Aplicada_Iniciais_Impressa.indd 2 10/03/2017 13:13:36
Adequação descritiva 
e explicativa da 
Gramática Tradicional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 n Relacionar o uso atual da Gramática Tradicional no contexto escolar.
 n Identifi car as contribuições do Gerativismo aos estudos linguísticos.
 n Reconhecer os conceitos de Gramática Descritiva e Explicativa.
Introdução
Para falar de gramática e suas diferentes abordagens, é preciso conhecer 
um pouco sobre as teorias linguísticas e suas diferentes contribui-
ções para o campo ao longo do tempo. A Teoria Gerativa, conhecida 
mundialmente no fim da década de 1950, traz novos caminhos para 
a análise da língua. Neste texto, você vai conhecer como a Gramática 
Explicativa e Descritiva foi elaborada com base no Gerativismo e nos 
estudos de Noam Chomsky.
Qual o papel da Gramática Tradicional no 
contexto escolar?
Ainda muito associado ao ensino de Língua Portuguesa na escola, o ensino 
da Gramática Tradicional ocupa, na maioria das vezes, um espaço central na 
aula de língua. Não é raro encontrarmos escolas que nomeiem a disciplina 
escolar de Gramática e não Língua Portuguesa. Mas o que isso quer dizer? 
Que gramática é essa ensinada na escola? Todos nós já fomos alunos de 
U N I D A D E 2 
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 45 10/03/2017 11:33:37
“gramática” na escola e podemos descrever uma típica aula: memorização 
de nomenclatura e exercícios de fi xação nos quais “aplica-se” o os nomes 
memorizados. Esse é o ensino da Gramática Tradicional, estritamente ligado 
ao ensino de uma terminologia complicada e problemática, ignorando as 
variedades linguísticas da língua e considerando válida apenas uma varie-
dade: a norma padrão. 
É papel da escola ensinar a norma padrão aos alunos, pois essa é uma 
importante variedade da língua portuguesa. Ela é a variedade utilizada em 
diversos contextos institucionais nos quais queremos que nossos alunos 
circulem. Porém, é importante enfatizar que existem outras variedades, 
que podem ser menos ou mais adequadas dependendo da situação. Quando 
a escola transforma a aula de Língua Portuguesa em aula de Gramática 
Tradicional, ela fecha os olhos às outras variedades, induzindo os alunos a 
acreditarem que a norma padrão é a única a ser reconhecida e valorizada. A 
atitude de desconsiderar a dinamicidade da língua fortifica os preconceitos 
e abusos de poder.
Saiba mais sobre o ensino de gramática na escola, lendo Mas o que é mesmo gramática?, 
de Carlos Franchi, Esmeralda Negrão e Ana Lúcia Müller (2006). 
Ao ensinar a gramática de maneira contextualizada e reflexiva, a escola 
ajuda o aluno a ampliar seu repertório de estruturas linguísticas. Também o 
ensino das nomenclaturas da Gramática Tradicional, quando feito de forma 
significativa, pode ser útil aos alunos. Por exemplo, o conhecimento das 
nomenclaturas dá acesso a uma variedade de materiais de apoio como dicio-
nários, gramáticas, guias de ortografia, etc. Ou seja, o ensino da gramática 
tem um papel importante na aula de línguas, apesar de não ocupar o lugar 
central. Em uma perspectiva que adota o ensino reflexivo da gramática, o 
texto é o elemento central da aula e, a partir dele, a gramática faz sentido. A 
temática da aula não será “orações coordenadas e subordinadas”, mas dentro 
da análise linguística de um texto, é de extrema relevância entender como as 
orações se organizam. Portanto, a gramática está a serviço de algo maior: a 
língua, e não vice-versa.
Linguística aplicada ao ensino do português46
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 46 10/03/2017 11:33:37
Um exemplo extremamente ilustrativo de como as variedades linguísticas podem 
ser trabalhadas em aula é a abordagem trazida na questão 123 do Exame Nacional 
do Ensino Médio (ENEM) em 2016. Nessa questão, é interessante observar a questão 
oralidade/escrita. 
 Fonte: Brasil (2016)
Alternativa correta: E
47Adequação descritiva e explicativa da Gramática Tradicional
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 47 10/03/2017 11:33:38
O papel dos estudos linguísticos na transformação do 
ensino de gramática
Por que linguística na escola? A linguística auxilia o professor a compreen-
der as concepções de linguagem, entender como a língua funciona. Nesse 
processo, o professor não pode esquecer que a linguagem oral também é 
constitutiva da língua e está em constante mudança. Geraldi (1996) afi rma 
que “[...] a língua nunca pode ser estudada ou ensinada como um produto 
acabado, fechado em si mesmo.”. Portanto, os estudos linguísticos são essen-
ciais na formação dos professores de língua – o professor tem que se colocar 
muitas vezes no papel de pesquisador da língua. Para ser um investigador, 
é importante que o docente saiba da existência de diferentes correntes de 
pesquisa dentro da linguística geral. Além disso, é essencial que ele saiba 
no que uma linha de pesquisa acaba infl uenciando a outra, contribuindo ou 
acrescentando para se alcançar os atuais achados da LA, por exemplo. As 
defi nições de língua e linguagem para diferentes correntes foram constituindo 
a consistência teórica e histórica da linguística. Dessa forma, ao falarmos de 
ensino, temos que entender a historicidade e a relação entre esses conceitos 
para compreender como eles circulam no contexto da educação pública 
brasileira, por exemplo.
Os estudos linguísticos são extremamente úteis ao professor de línguas. Isso não 
quer dizer que o professor deve ensinar linguística em aula, mas ele pode fazer uso 
desses conhecimentos no seu planejamento. Chomsky (1996) faz uma comparação 
com o fato de ser extremamente importante que o professor de Educação Física 
saiba algo sobre fisiologia. 
Para percebermos os reflexos dos Estudos Linguísticos em sala de aula, 
basta analisarmos as mudanças dos Parâmetros Curriculares Nacionais 
(PCNs) e como essas mudanças se refletiram nas práticas dos professores. 
Nos PCNs, podemos observar o esforço para a formação de professores 
mais críticos e questionadores, sujeitos conhecedores da língua e suas 
Linguística aplicada ao ensino do português48
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 48 10/03/2017 11:33:38
variedades, que incentivam a pesquisa e a pluralização do idioma. Esse 
professor pode revisar as diferentes concepções de gramática, enfatizando 
as interações discursivas. Trabalhar com as contribuições da linguística 
nas aulas de língua significa prestar atenção aos usos da linguagem e sua 
relevância dialógica.
Britto (1997, p. 150-151), linguista aplicado brasileiro, que trata sobre ques-
tões de sala de aula, afirma que: “[...] o reconhecimento de que a Gramática 
Tradicional é inadequada e não oferece uma descrição coerente do português, 
nem em sua modalidade culta, seja pelo normativismo abusivo, seja pelas 
incoerências teóricas e descritivas, seja ainda por sua desatualização, seja, 
finalmente pela ausência de progressão de sua apresentação na prática peda-
gógica [...]” é uma constatação consolidada por meio dos avanços dos estudos 
da linguagem ao longo dos anos. Dentro dos estudos linguísticos, podemos 
afirmar que os estudos sobre a Gramática Gerativa (CHOMSKY, 1986) 
contribuíram de maneira substancial para o abandono de uma preocupação 
somente na forma, para uma preocupação com a forma e o significado das 
expressões de uma língua, além da mente do indivíduo. Um ponto interes-
sante no programa de Chomsky, quando pensamos no ensino da gramática na 
escola, é a substituiçãoda noção de certo e errado pela noção de gramatical/
agramatical. Para Chomsky (1986), todos os falantes possuem uma gramática 
internalizada e, portanto, são capazes de distinguir sentenças gramaticais de 
sentenças agramaticais. A frase incorreta segundo a perspectiva da Gramática 
Tradicional pode ser uma frase gramatical.
1. A porta está aberta. – gramatical
2. *Porta aberta está a. – agramatical 
Com a evolução dos estudos linguísticos, já não faz mais sentido falar do 
ensino de uma gramática normativa tradicional. Muitas pesquisas têm sido 
direcionadas para o estudo de práticas pedagógicas relacionadas ao ensino 
da gramática reflexiva e relacionada ao uso da língua. Cabe ao professor de 
línguas conhecer esses estudos e transformar sua prática de sala de aula.
49Adequação descritiva e explicativa da Gramática Tradicional
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 49 10/03/2017 11:33:39
A adequação descritiva e explicativa da 
Gramática Tradicional
As teorias de Noam Chomsky relacionadas à Gramática Gerativa da língua 
chegaram ao Brasil no fi nal da década de 60 e tiveram um refl exo marcante 
nas obras publicadas por linguistas brasileiros. Dessa forma, a LA passou a 
coexistir com a linguística gerativo-transformacional de Chomsky e com os 
estudos formalistas de base gerativista. Nessa época, os estudos linguísticos 
se tornaram quase matemáticos e buscavam uma precisão em suas análises 
linguísticas, tendo em vista que o conceito de ciência era estritamente asso-
ciada à exatidão. 
A Gramática Gerativa tem como objeto de estudo a gramática universal. 
Nessa teoria, todas as línguas têm aspectos sintáticos em comum, ou seja, 
há uma gramática subjacente a todas as línguas. Essa seria transmitida 
geneticamente, levando em conta a existência de mecanismos inatos, de 
matriz biológica que projeta o desenvolvimento da linguagem. O objetivo 
da corrente gerativista não se relacionou primeiramente com o processo 
de ensino de língua, mas, sim, à elaboração de teorias que explicassem a 
aquisição de línguas.
É importante que o professor de línguas saiba sobre o gerativismo, por 
que comprova a afirmação de que já nascemos sabendo a nossa língua. Isso 
significa dizer que é falsa a frase “eu não sei português”, dita e repetida 
por muitos estudantes sobre sua própria língua materna, pois se não sou-
bessem, não interagiriam por meio da linguagem no mundo. A concepção 
de língua para Chomsky é de base biológica. Isso quer dizer que o cientista 
acredita que ela seja uma capacidade natural que os humanos tenham para 
a linguagem. A língua é um sistema radicado na mente e no cérebro dos 
indivíduos.
O Quadro 1 organiza as principais obras (monografias e manuais) que 
trabalharam a perspectiva da Gramática Gerativa.
Linguística aplicada ao ensino do português50
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 50 10/03/2017 11:33:39
 Fonte: Adaptado de Batista (2010). 
Data Autor Título Editora
1973 Nádia V. Tondo Uma teoria integrada 
da comunicação 
linguística: introdução 
à gramática 
transformacional
Porto Alegre: Sulina
1973 Eunice Pontes Verbos auxiliares no 
português coloquial
Petrópolis: Vozes
1974 Mary Kato A semântica gerativa 
e o artigo definido
São Paulo: Ática
1975 Leila Barbara A sintaxe do 
modo verbal
São Paulo: Ática
1976 Francisco da 
Silva Borba
Fundamentos da 
gramática gerativa
Petrópolis: Vozes
1976 Mário Perini A gramática gerativa: 
introdução ao estudo 
da sintaxe portuguesa
Belo horizonte: 
Vigilia
1977 Mário Perini Gramática do 
infinitivo português
Petrópolis: Vozes
1978 Carly Silva Gramática 
Transformacional: 
uma visão global
Rio de Janeiro: Ao 
Livro Técnico
1983 Gustavo Adolfo 
P. Silva
Estruturas sintáticas 
do português: uma 
abordagem gerativa
Petrópolis: Vozes
1984 Miriam Lemle Análise sintática: teoria 
geral e descrição 
do português
São Paulo: Ática
 Quadro 1. Principais obras que trabalharam a perspectiva da Gramática Gerativa. 
51Adequação descritiva e explicativa da Gramática Tradicional
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 51 10/03/2017 11:33:39
Para Chomsky, “[...] uma teoria da linguagem deve satisfazer as condições 
de adequação explicativa na medida em que pode construir uma teoria de 
linguagem descritivamente adequada” (DILLINGER; PALÁCIO, 1997, p. 
203-204). Portanto, para entendermos essa teoria da linguagem, é importante 
discutirmos quais as concepções de adequação descritiva e adequação 
explicativa. Um dos aspectos da Gramática Gerativa, que consideramos 
radical, era que somente a união dessas duas adequações poderia promover 
uma descrição adequada da língua, ou seja, não se faz uma teoria da linguagem 
contando apenas com a descrição. Para esse grupo de teóricos, trabalhos de 
descrição de língua não chegam a propor elementos teóricos o suficiente para 
que o ideal explicativo possa ser alcançado. Por isso, Chomsky fala sobre uma 
tensão entre a adequação explicativa e a adequação descritiva: “Houve um 
problema crítico que apareceu bem no início da Gramática Gerativa. Havia 
uma tensão crucial, ainda não resolvida, que de certo modo direcionou a área 
desde o início: a tensão entre o que chamamos tecnicamente de adequação 
descritiva e explicativa.” (DILLINGER; PALÁCIO, 1997, p. 203)
Sobre os critérios de adequação descritiva e adequação explicativa, uma 
gramática satisfaz o primeiro critério se descreve corretamente os fenômenos 
linguísticos, se pode modelar o conhecimento tácito exibido pelos falantes-
-ouvintes. A gramática satisfaz o segundo critério quando, além de descrever 
adequadamente, também explica como os falantes adquirem esse conhecimento. 
Chomsky afirma que as gramáticas tradicionais não são descritivamente 
adequadas, porque nem mesmo tentam descrever os fatos, procuram apenas 
descrever propriedades gerais e exceções, mas não como as coisas realmente 
funcionam na linguagem (DILLINGER; PALÁCIO, 1997). Para Chomsky, 
como a adequação descritiva não é o objetivo da Gramática Tradicional, não 
pode ser considerado um problema o fato de ela não ser adequada (DILLIN-
GER; PALÁCIO, 1997). 
Chomsky vê a Gramática Gerativa como uma tentativa de entender os fatos 
essenciais da melhor maneira possível, a partir do momento que você começa 
a entendê-los, a gramática passa a ser descritivamente adequada: “Quando se 
tenta descrever os fatos, no início eles parecem ser incrivelmente complexos. 
Cada língua parece ser diferente das outras e dentro de uma mesma língua, 
parece não haver duas construções semelhantes.” (DILLINGER; PALÁCIO, 
1997) Para ilustrar essa colocação, Chomsky usa como exemplo a língua 
inglesa: “[...] orações relativas não se parecem com interrogativas, elas têm 
propriedades bem diferentes e as passivas também não se parecem com inter-
rogativas [...]” (DILLINGER; PALÁCIO, 1997). Isso mostra como os sistemas 
de regras são ricos e variam muito de língua para língua.
Linguística aplicada ao ensino do português52
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O objetivo da Gramática Gerativa não era ditar regras, mas, sim, identificar 
todas as frases gramaticais e, a partir delas, gerar um número infinito de frases. 
Ou seja, a partir de uma identificação de como se realizam os processos na 
língua e suas estruturações, a partir de uma teoria abstrata, se baseiam as 
mensagens que vão para o mundo. Essa identificação e descrição se centra 
na competência do falante e se materializa no desempenho. A competência é 
a capacidade inata que o sujeito tem sobre as estruturas da sua própria língua. 
O desempenho é o uso, a performance do falante conforme o contexto. Dessa 
forma, o gerativismo vai contra a teoria estruturalista de apenas descrever as 
estruturas e não explicar como que o falante chega a ela. Embora surgindo 
como corrente contrária ao estruturalismo, não podemos esquecer essas duas 
correntes são consideradas linguísticas formais, ou seja, ciências que não 
analisavam a interação, nem o social da língua, mas, sim, a sua estrutura de 
diferentes perspectivas.Segundo Vitral (1992), uma evidência que dá legitimidade à gramática 
universal é a aquisição da linguagem pela criança. As crianças não repetem 
o que os adultos falam. Elas já têm ativas estruturas linguísticas internas que 
permitem que elas façam associações sobre frases gramaticais e agramaticais. 
Além disso, a criança aprende todo o sistema linguístico de forma homogênea, 
ou seja, não aprende primeiro a estrutura interrogativa para depois aprender 
a estrutura relativa, por exemplo. Para Chomsky (1981, p. 103): 
[...] o conhecimento da gramática, e portanto o da linguagem, se de-
senvolve na criança através da interação de princípios geneticamente 
determinados e de um determinado curso de experiências. Referimo-nos 
a este processo, de modo informal, como ‘aprendizagem linguística’. [...] 
sob certos aspectos fundamentais, na verdade não aprendemos uma 
língua; o que ocorre é que a gramática se desenvolve (cresce) na mente.
Assim sendo, o falante de uma língua pode elaborar hipóteses linguísticas 
diversas a partir do seu conhecimento inato sobre a sua língua. Pode falar 
sobre ela e sobre o que pode ser gramatical e agramatical, pois é, do ponto de 
vista genético, predisposto linguisticamente. 
A Gramática Gerativa de Perini
Podemos citar obras muito importantes para o cenário de estudos da língua 
advindos da Teoria Gerativa. A primeira delas foi escrita por Perini (1986), 
53Adequação descritiva e explicativa da Gramática Tradicional
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 53 10/03/2017 11:33:40
chamada “Para uma nova gramática do português”. O autor afi rma que a 
obra surgiu da constatação sobre a inexistência de materiais que abordassem 
o trabalho sobre a língua que não fosse a Gramática Tradicional. Para Perini 
(1986), a gramática por ele elaborada não serve para ser utilizada em sala 
de aula, não serve para ser livro didático, mas para ser uma orientadora de 
professores que desejam saber mais sobre os estudos linguísticos descritivos. 
Afi rma que a gramática como ainda se trabalha hoje é contraproducente do 
ponto de vista educacional e pergunta-se até quando manteremos essa tradição 
que dissemina falta de coerência teórica, falta de adequação à realidade da 
língua e um normativismo sem controle. Esses problemas encontrados na 
Gramática Tradicional não incentivam que o aluno escreva e leia melhor. Ao 
contrário, o afastam de textos escritos.
Perini (1986) escolheu descrever o português padrão brasileiro. A moda-
lidade de língua utilizada no Brasil, na maior parte dos textos escritos, está 
no padrão técnico-jornalístico. Dessa forma, escolhendo esse corpus, o autor 
acredita que agrega um valor de realidade ao estudo da língua. Perini explica 
que, tradicionalmente, o método de obtenção de dados em sintaxe depende 
do julgamento dos falantes sobre as frases isoladas. Às vezes, se recorre à 
análise de textos. “Assim, tipicamente, o linguista constrói exemplos e utiliza 
seu próprio julgamento quando este é claro; caso contrário, pode também 
testá-lo com outros falantes. E nada impede que recorra ao exame de textos 
para a verificação de pontos específicos” (PERINI,1986, p. 39).
Com base em Leite e Figueiredo (2010), trazemos o tratamento do mesmo 
tópico gramatical sendo tratado por duas perspectivas gramaticais distintas: 
Gramática Tradicional e gramática descritiva. Para as autoras, a GT define as 
classes gramaticais como se elas fossem mudar de função. A GD não deixa 
de prescrever, no entanto, está mais preocupada com a função do que com as 
classes. Para exemplificar o tratamento das duas gramáticas, as autoras trazem 
o exemplo de tratamento dado às classes de substantivo e adjetivo. Para a GT, o 
substantivo é a palavra variável em gênero, número e grau. O adjetivo é também 
variáveis em gênero, número e grau e caracteriza o substantivo. Ou seja, são 
definições que não consideram a função dessas palavras em orações especificas. 
Para Perini (2000), não se pode falar em duas classes, pois há palavras 
que podem ser tanto substantivo quanto adjetivo. Por exemplo, nas frases: 
“Meu menino ainda está no maternal” e “Meu amor por você é maternal”, já 
trariam confusões para a GT, pois seria uma primeira das muitas exceções às 
regras da norma. “Maternal” tem função de substantivo na primeira oração 
e de adjetivo na segunda. Perini (2000) sugere, então, a análise da palavra 
no contexto em que ela ocorre antes de defini-la como uma coisa ou outra.
Linguística aplicada ao ensino do português54
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 54 10/03/2017 11:33:41
Do mesmo modo, Perini (2000) critica a definição de classes a partir da 
análise da sua forma. Segundo ele, não há como afirmar que o substantivo 
pode aparecer sempre depois do artigo, recebe aumentativo e diminutivo, 
faz plural, pois esses critérios podem também ser aplicados ao adjetivo. 
Para resolver isso, o gramático descritivo sugere que as palavras sejam 
analisadas a partir do potencial funcional. Ou seja, que a palavra seja 
analisada não tendo uma pré-classificação, pois é sua função em um deter-
minado sintagma que pode defini-la. Leite e Figueiredo (2010) trazem dois 
exemplos: “um avião inimigo” e “um inimigo terrível”. “Inimigo” exerce 
diferentes funções nas duas frases. A partir dessa análise, Perini (2000) 
afirma que uma função não pode ser vista como derivada de outra, já que 
ambas existem na língua.
Perini (1996) define dois principais aspectos de análise gramatical: formal e 
semântico. No formal, se analisa a pronúncia, a morfologia, o comportamento 
sintático; no semântico, se considera o significado mínimo da palavra e o seu 
contexto. Em sua gramática, o autor traz uma frase para exemplificar esses 
dois aspectos de análise:
Joanita plantou jerimum no jardim.
Do ponto de vista da forma, Joanita é uma palavra que:
1. Está no início da frase.
2. É o elemento da oração que está em relação de concordância com o 
verbo: plantou está conjugado conforme o sujeito Joanita: terceira 
pessoa, singular.
Do ponto de vista semântico, podemos dizer que Joanita:
1. Refere-se a uma pessoa do sexo feminino.
2. Realizou uma ação, é o agente.
3. É uma pessoa só, não várias.
Do ponto de vista formal, Joanita é o sujeito, do ponto de vista semântico, 
é o agente que pratica a ação. A partir dessas análises, podemos colocar os 
dois aspectos em relação e afirmar que o sujeito é o agente da ação. Mas ele 
é o agente da ação nesse caso, nessa frase. Porém, não podemos criar uma 
regra a partir da constatação e da análise de uma frase. Veja outro exemplo 
discutido por Perini (1996).
55Adequação descritiva e explicativa da Gramática Tradicional
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 55 10/03/2017 11:33:41
Eu apanhei de Joanita.
O sujeito não é aquele que age. Evidentemente a ação é realizada por Joanita. 
Logo, nesse caso, não há como dizer que todo o sujeito é o agente da ação.
Para fechar esse capítulo sobre as contribuições da gramática de Perini (1996) 
e dos estudos gerativistas para a linguística, podemos afirmar que a análise e a 
posterior relação entre forma e semântica estabelecem uma crítica fundamentada 
e clara à análise da Gramática Tradicional que, historicamente, faz o tratamento 
e o estudo das palavras a partir de seu isolamento frasal e contextual.
Linguística aplicada ao ensino do português56
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 56 10/03/2017 11:33:43
BATISTA, R. de O. Em busca de uma história a ser contada: a recepção brasileira à 
Gramática Gerativa. Rev. Anpoll, Florianópolis, n. 29, v. 1, p. 260-291, 2010.
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1992. Tese (Doutorado) – Universidade de Paris 8, Saint-Denis, 1992.
Leituras recomendadas
BRITTO, L. P. L. Contra o consenso: cultura escrita, educação e participação. Campinas: 
Mercado de Letras, 2003.
FRANCHI, C. Criatividade e gramática. Trabalhos em lingüística aplicada, Campinas, 
v. 9, p. 5-45, 1987.
Linguística aplicada ao ensino do português58
Linguistica_Aplicada_U2_C01.indd 58 10/03/2017 11:33:44
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esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual 
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