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GRAMÁTICA APLICADAGRAMÁTICA APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA - Conteúdo Aula III

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Concepções de Linguística Aplicada, de 
Linguagem e de Gramática
APRESENTAÇÃO
A Linguística Aplicada é uma área que trata de questões relacionadas ao uso da linguagem. Mas 
como fica a questão do ensino da gramática e, principalmente, da Gramática Normativa dentro 
da área de LA? É isso que você vai descobrir nesta Unidade de Aprendizagem, que aborda como 
a gramatização do português brasileiro vem sendo trabalhada nos últimos anos.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Identificar o conceito de gramática a partir da visão da LA.•
Reconhecer como os conceitos de linguagem e gramática se relacionam.•
Demonstrar a gramática na prática da LA.•
DESAFIO
Você é professor de Língua Portuguesa no ensino fundamental. Quando planeja suas aulas de 
LP, procura colocar o texto como objeto central da aula. Você trabalha gramática, mas de 
maneira contextualizada, dando menos atenção aos nomes das classes gramaticais e mais 
atenção às suas funções dentro dos textos. Alguns pais começam a reclamar com a direção da 
escola, pois, ao olharem os cadernos dos filhos, não encontram exercícios gramaticais. A 
diretora chama você para conversar e explicar o que você está fazendo na aula de português.
Diante dessa situação, como você explicaria à diretora sobre a metodologia de ensino de 
gramática que você adota em sala de aula?
INFOGRÁFICO
No infográfico a seguir, você vai conhecer os passos para o desenvolvimento de atividades 
epilinguísticas para a aula de língua portuguesa. Observe a importância do uso de textos 
autênticos e do desenvolvimento de questões relacionadas ao texto que estimulem a discussão 
da temática e também a reflexão linguística.
CONTEÚDO DO LIVRO
Agora, você vai estudar um pouco mais sobre as diferentes concepções de Gramática e como a 
Linguística Aplicada as compreende dentro da premissa de uso social da linguagem. Inicie seus 
estudos em Entendendo a gramática a partir da linguística aplicada e siga lendo até A gramática 
a serviço do uso da linguagem. 
Boa leitura!
LINGUÍSTICA
APLICADA AO 
ENSINO DO 
PORTUGUÊS
Juliana Battisti
Bibiana Cardoso 
da Silva
Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094
B336l Battisti, Juliana.
 Linguística aplicada ao ensino do português / Juliana 
 Battisti, Bibiana Cardoso da Silva. – Porto Alegre : SAGAH,
 2017.
 157 p. : il. ; 22,5 cm.
 ISBN 978-85-9502-062-7
 1. Linguística aplicada. I. Silva, Bibiana Cardoso da.
 II. Título. 
CDU 81’33
Linguistica_Aplicada_Iniciais_Impressa.indd 2 10/03/2017 13:13:36
Concepções de linguística 
aplicada, de linguagem 
e de gramática
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 n Identifi car o conceito de gramática a partir da visão da LA.
 n Relacionar como os conceitos de linguagem e gramática se relacionam.
 n Demonstrar a gramática na prática da LA.
Introdução
A linguística aplicada é uma área que trata de questões relacionadas ao 
uso da linguagem. Mas como fica a questão do ensino da gramática e, 
principalmente, da gramática normativa dentro da área de LA? É isso 
que você vai descobrir neste texto, que aborda como a gramatização do 
português brasileiro vem sendo trabalhada nos últimos anos.
Entendendo a gramática a partir da linguística 
aplicada
A linguística aplicada (LA) é a disciplina que trata de questões relacionadas 
ao uso da linguagem. Seu objeto de investigação é a linguagem como prática 
social em contextos de ensino e aprendizagem de línguas ou em qualquer 
outro contexto onde surjam questões relevantes sobre o uso da linguagem nas 
sociedades. Rojo (2008) afi rma que os linguistas aplicados buscam soluções 
de problemas contextualizados, relevantes socialmente, ligados ao uso da 
linguagem. Uma dessas questões é o contexto da gramatização do português 
brasileiro nos últimos anos, ou seja, como o português brasileiro tem sido 
sistematizado nas gramáticas.
Linguistica_Aplicada_U1_C02.indd 20 10/03/2017 10:03:34
A gramatização é, segundo Auroux (1992), um processo de origem renascentista de 
escrever e instrumentar as línguas ocidentais a partir de duas tecnologias: a gramática 
e o dicionário. 
Quando pensamos em gramática, lembramos das nossas aulas de língua 
portuguesa na escola, da memorização, chata e descontextualizada, de con-
jugações verbais e estruturas. Essa concepção escolar de que a gramática é 
um “conjunto de regras” é muito limitadora, pois refere-se apenas a um tipo 
de gramática. Segundo Franchi (2006), podemos falar, pelo menos, em três 
tipos diferentes de gramática: gramática normativa, gramática descritiva e 
gramática internalizada. Para o autor, essa identificação da gramática como 
conjunto de regras está associada à gramática normativa – esse entendimento 
de que a gramática é um compilado de normas criado para que os usuários da 
língua falem ou escrevam corretamente. É possível dizer que a maioria dos 
usuários percebem a gramática com essa função de ditadora de normas, ou 
seja, a língua é/deve ser o que está descrito na gramática. Essa é, em grande 
parte, uma consequência do trabalho com a gramática desenvolvido nas escolas. 
Dentro da perspectiva da gramática normativa, a única variedade válida 
é a norma culta ou padrão da língua, ou seja, a variedade que não “desvia” 
da gramática. O linguista aplicado Marcos Bagno (2009) utiliza o termo 
“doutrina” para nomear essa tradição gramatical: um conjunto fechado de 
princípios e regras que devem ser transmitidos intactos de uma geração à outra 
e obedecidos de modo dogmático, sem questionamentos. Pesquisas recentes na 
área de linguística aplicada mostram a importância da produção de gramáticas 
que sejam mais descritivas, ou seja, que não ditem normas de como a língua 
deveria ser, mas descrevam como ela é. Apesar desse movimento, ainda temos, 
no português brasileiro, muitas gramáticas normativas tradicionais – podemos 
destacar as reimpressões da Nova Gramática do Português Contemporâneo, 
de Celso Cunha e Luís Felipe Lindley Cintra (1984), da Moderna Gramática 
Portuguesa, de Evanildo Bechara (2009), e da Gramática Normativa da 
Língua Portuguesa, de Carlos Henrique da Rocha Lima (2010). Silva (2015) 
lista algumas características que fazem de uma gramática normativa:
 n concepção de língua estática e homogênea;
 n atitude prescritiva;
21Concepções de linguística aplicada, de linguagem e de gramática
Linguistica_Aplicada_U1_C02.indd 21 10/03/2017 10:03:35
 n construção de um modelo artificial e língua certa;
 n valorização das normas lusitanas em detrimento às brasileiras;
 n desconsideração das normas gramaticais que se afastam da norma padrão;
 n tomada da frase/oração/período como unidade máxima de análise;
 n emprego de uma taxionomia gramatical fixa;
 n comprometimento ideológico explícito com as camas dominantes da 
sociedade.
Com o avanço das pesquisas em linguística aplicada na década de 1980, 
principalmente pesquisas relacionadas ao ensino de línguas, o espaço de 
produção de gramáticas no Brasil modificou-se. Nessa virada linguística, 
foram produzidas muitas gramáticas escolares/pedagógicas que apontam 
para um desejo de mudança e indicam uma nova visão da linguagem dentro 
da perspectiva de ensino e aprendizagem de línguas.
Um exemplo de gramática escolar é a escrita por Cereja e Magalhães (2009): Gramá-
tica reflexiva: texto, semântica e interação. Embora ainda muito presa na tradição da 
gramática normativa, apresenta temáticas que a distinguem: trata, logo nos primeiros 
capítulos, de questões mais relacionadas ao uso da língua, como linguagem verbal 
e não verbal, variedades linguísticas, funções da linguagem, etc. 
O grande marco na produção de gramáticas voltadas ao uso da linguagem 
foi o Projeto Gramática do Português Falado (PGPF), de Ataliba Castilho 
(1991). As Gramáticas do Português Falado tomaram como corpus linguístico 
o ProjetoNorma Urbana Culta – coletânea de dados de fala de participantes 
com ensino superior completo de cinco metrópoles brasileiras. A publicação 
desse trabalho iniciou uma sequência de produção de gramáticas descritivas 
do português brasileiro, que promoveram um movimento de ruptura com o 
padrão da gramática normativa tradicional. Nessa concepção, a preocupação 
é a de descrever a estrutura e o funcionamento da língua. Diferentemente 
da gramática tradicional, não há noção de certo e de errado, é considerado 
gramatical tudo o que está em consonância com as regras de funcionamento 
da língua em qualquer uma de suas variantes – a noção de certo e de errado 
é substituída pela noção da diferença. As gramáticas descritivas adotam uma 
postura incluente e não excludente. Veja alguns exemplos na Figura 1.
Linguística aplicada ao ensino do português22
Linguistica_Aplicada_U1_C02.indd 22 10/03/2017 10:03:35
Figura 1. Algumas gramáticas descritivas do português brasileiro.
Essas gramáticas afastam-se das prescrições doutrinárias das gramáticas 
normativas, pois não estabelecem um conjunto de normas amparado na re-
corrência do uso de formas dentro de obras literárias. Elas se voltam para a 
descrição e a análise do português brasileiro em uso. 
A gramática a serviço do uso da linguagem
A gramática tradicional exerceu ao longo do século XX o papel de defi nir o que 
era língua e como deveria ser ensinada ou aprendida. Defi nida como um sistema 
de noções, de descrição de regras estruturais do bem falar e do bem escrever, a 
gramática normativa e seu ensino foram sendo solidifi cados através do tempo. 
Esse modelo foi elaborado a partir da análise do uso da língua e das regras 
gramaticais dos seus bons usuários, os grandes escritores. Nessa perspectiva, 
a língua é um objeto autônomo e homogêneo, desvinculado com a realidade do 
falante e, em se tratando de escola, com a língua usada no dia a dia dos alunos.
Nas duas últimas décadas, porém, as ciências linguísticas, encabeçadas pela 
área de linguística aplicada, traçaram uma crítica ao que prescreviam os estudos 
gramaticais. Hoje, há um acordo de que uma gramática normativa não é capaz 
de descrever como os falantes começam a dominar uma língua desde cedo, pois 
as estratégias de aprendizagem de uma língua vão além de regras gramaticais.
A partir dos estudos da linguística, essa compreensão de gramática é mo-
dificada, pois acontece uma ressignificação do que seria língua e linguagem. 
A partir desse momento, a língua começa a ser entendida como discurso e 
enunciação, e a linguagem, como uma faculdade do homem, conforme afirma 
Franchi (2006), independente de fatores sociais, econômicos, raciais, culturais. 
Isso significa que todas as pessoas do mundo desenvolvem uma gramática 
interna. Usamos a língua e nos comunicamos a partir de recursos expressivos 
que vamos desenvolvendo.
23Concepções de linguística aplicada, de linguagem e de gramática
Linguistica_Aplicada_U1_C02.indd 23 10/03/2017 10:03:35
Além da gramática interna, há aquela que foi desenvolvida a partir da constru-
ção teórica de estudiosos e gramáticos. A gramática é uma metalinguagem, uma 
maneira de se referenciar a própria língua. Ao relacionar essas duas gramáticas 
e valorizar o conhecimento que o falante tem da sua própria língua, os linguistas 
aplicados afirmam que estudar e decorar a metalinguagem, a gramática ela-
borada pelos linguistas, pouco contribui para agregar uma maior proficiência 
ao agir no mundo por meio da linguagem. Isso por que falar e escrever sobre a 
língua não é a mesma ação do que falar e escrever por meio da língua.
Como podemos perceber, a definição de gramática na linguística aplicada depende de 
como compreendemos os conceitos de linguagem e língua. Para a LA, a linguagem é 
uma construção social que possibilita ao homem interagir com os outros e se constituir 
um ser social. A linguagem permite que uma identidade social seja construída a partir 
das ações que se faz no mundo. Já a língua é um conjunto organizado de recursos 
constituídos por sons, gestos, palavras que possibilitam a comunicação. A língua é 
um sistema vivo e se modifica por ser um diálogo entre os seres sociais. A linguagem, 
como percebemos, não é só a língua, mas é o modo com o qual lidamos com os 
outros na nossa sociedade.
Dessa forma, os linguistas aplicados defendem que os estudos gramaticais 
não devem ser excluídos do ensino e da aprendizagem de línguas. Não há 
como usar a língua sem que haja uma gramática, pois não podemos escolher, 
a cada novo enunciado, como falar, como combinar letras e sons. Nossa língua 
é organizada em um sistema gramatical. Assim, defende-se que a gramática 
não deve ser passiva, mas operativa. O que isso quer dizer? Que o estudo da 
gramática deve servir para aumentar o repertório de recursos linguísticos 
e expressivos para comunicarmos de forma mais proficiente em diferentes 
espaços e situações. A gramática deve servir para deixar seus falantes mais 
confiantes para atuar por meio da linguagem tendo em vista os propósitos 
de cada interação social. Isso por que ao considerar a modificação da língua, 
estamos afirmando que não há uma só forma de dizer como ela funciona, 
não há uma só forma de catalogar as definições de como se usa determinada 
estrutura.
A linguagem é sempre analisada e acontece de certa forma. A maneira que 
ela acontece é definida pelo contexto, pelos sujeitos que participaram da inte-
ração e pelos propósitos comunicativos. É, então, dessa forma, que a gramática 
Linguística aplicada ao ensino do português24
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é vista pela área de LA em relação ao ensino: de modo contextualizado. Falar 
de contextualização, linguagem e interação é defender que a competência 
comunicativa do aluno em sua própria língua materna, no caso do português, 
seja desenvolvida. Por isso, começou-se a defender que a unidade de ensino 
das aulas de línguas não seja mais a gramática, mas sim o texto. Importante 
reafirmar: isso não quer dizer que a gramática deve ser excluída. É também 
direito do aluno ter acesso a esse tipo de estudo. O caminho a ser percorrido 
é que deve ser modificado, evitando a supervalorização do objeto gramática.
Obras importantes no contexto nacional vêm modificando e tirando a gra-
mática do papel central da aula de português e de línguas. Um exemplo são os 
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documento orientador desde 
1997. Neles há a defesa de que a reflexão sobre a língua é uma etapa impor-
tante para a ampliação do repertório linguístico dos estudantes. Essa reflexão 
se centra na análise das diferentes formas de se expressar linguisticamente, 
materializadas nos diferentes gêneros e textos – sejam eles orais ou escritos 
– de diferentes situações comunicativas. A partir disso, o aluno deve lançar 
mão de estratégias para ser capaz de analisar os recursos linguísticos e o modo 
como a língua vai para o mundo. A partir disso, o estudante deve concluir que 
a escolha do falante sobre os diferentes modos de dizer (oral e escrito) é o que 
vai definir os efeitos de sentido produzidos na interação com as outras pessoas.
Você já deve ter ouvido falar sobre atividade metalinguística, termo mais conhecido 
na área de ensino de línguas, justamente por estar conectado ao ensino da gramática 
tradicional. Outros termos, como atividade epilinguística e linguística, começaram a 
ser usados com mais frequência, já que hoje se defende um ensino que ofereça ao 
aluno a oportunidade de ler e escrever e refletir sobre essas ações. Abaixo, as definições 
sobre o que é cada um desses conceitos (MILLER, 2003):
a) atividade epilinguística: é o exercício de reflexão sobre o texto
lido/escrito e da operação sobre ele a fim de explorá-lo em suas diferentes pos-
sibilidades. Dizendo em outras palavras, é a reflexão que quem escreve ou lê 
faz enquanto escreve ou lê, para compreender ou atribuir sentidos ao texto, 
verificar sua lógica, coesão, coerência,adequação das categorias gramaticais e
ortografia, seja como leitor que precisa entender o que lê, seja como autor que 
deseja que seu leitor entenda o que escreve.
b) atividade linguística: o próprio ato de ler e escrever.
c) atividade metalinguística: capacidade de falar sobre a linguagem, descrevê-la 
e analisá-la como objeto de estudo (a gramática convencional).
25Concepções de linguística aplicada, de linguagem e de gramática
Linguistica_Aplicada_U1_C02.indd 25 10/03/2017 10:03:35
A gramática na prática da linguística aplicada
As produções em LA a partir dos anos 1980 começam a questionar o objetivo 
da disciplina de língua portuguesa na escola. O ensino da gramática, ainda 
hoje, e ao longo dos anos, se constituiu um ensino excludente. A suposta 
neutralidade dos conteúdos e das regras gramaticais acaba por apagar e eli-
minar os processos históricos e subjetivos da língua. Esse apagamento leva a 
se pensar que a língua é homogênea, única e uniforme. Além disso, algumas 
mudanças que acontecem ao longo do tempo são consideradas erros por não 
estarem presentes na gramática.
Durante muito tempo, focalizou-se, então, o ensino das exceções das regras 
gramaticais, deixando de lado o trabalho com a oralidade e com a leitura, 
escrita e interpretação de textos. Além disso, não se dispensava tempo para 
formar os alunos como leitores e incentivar a descoberta dos gostos de leitura. 
Assim, havia uma exclusão em diferentes níveis para alunos que advinham 
das classes populares. Considerava-se que eles não sabiam português, pois 
suas variantes linguísticas não seguiam a gramática normativa.
Além disso, era um ensino descontextualizado, com tarefas que não 
faziam sentido para o aluno. Dizia-se que a disciplina de Língua Portuguesa 
deveria dar subsídios para ler e escrever melhor, porém, os estudantes passam 
por toda a escolarização sem, muitas vezes, terem escrito um texto sequer. 
Ou, quando escreviam, essa escrita era totalmente controlada e vigiada 
pelos padrões da redação escolar. Quando se escrevia, era para o professor 
guardar em sua gaveta e não para que o texto, seja ele oral ou escrito, ir 
para o mundo.
Antunes (2010) afirma que ao concentrar o tempo em expor regras e ex-
ceções da língua, a escola se distancia das relações sociais que as pessoas 
estabelecem por meio da linguagem. O que deveria ser um encontro de pessoas 
em atividades de interação verbal, acaba sendo um lugar onde se busca de 
todas as maneiras afirmar a tendência de o português ser uma língua muito 
difícil, sustentada por um ensino de conjunto de regras abstrato que mantém a 
perspectiva reducionista do estudo da palavra e da frase descontextualizados. 
Logo, um aluno que estudou durante mais de uma década em um sistema que 
supervaloriza uma língua que não existe fora das obras normativas sai da escola 
e “[...] se vê frustrado no seu esforço de estudar outras disciplinas e, quase 
sempre, deixa a escola com a quase inabalável certeza de que é incapaz, de que 
é linguisticamente deficiente, inferior, não podendo, portanto, tomar a palavra 
ou ter voz para fazer valer seus direitos, para participar ativa e criticamente 
daquilo que acontece à sua volta.” (ANTUNES, 2010, p. 20).
Linguística aplicada ao ensino do português26
Linguistica_Aplicada_U1_C02.indd 26 10/03/2017 10:03:35
Tendo em vista essas constatações, ao decorrer desses últimos anos há 
um movimento que pretende desconstruir o que historicamente foi sendo 
consolidado sobre a disciplina de Língua Portuguesa. Autores como Geraldi 
(1991) e Franchi (2006) abriram essas discussões defendendo um ensino não 
mais baseado apenas na metalíngua, na exemplificação, na memorização de 
nomes sintáticos. A nova maneira de se pensar o ensino é por meio dos usos 
sociais da linguagem. A gramática deve ser acessada dentro de um ensino 
operacional e reflexivo, voltado para a realidade social e necessidades dos 
estudantes.
Essa nova proposta se baseia no uso real e efetivo da língua e considera:
1. Os diferentes usos de expressões e construções linguísticas;
2. Os efeitos de sentido;
3. A relação que cada aluno tem com a linguagem como sujeito do mundo;
4. As conclusões que cada aluno chega sobre a língua.
Dessa forma, a escola precisa se preocupar em oferecer ao aluno a opor-
tunidade de desenvolver, ampliar conhecimentos sobre a língua materna 
e outras línguas por meio do contato com diferentes tipos de perspectivas 
e problemas relacionados às demandas sociais e linguísticas do país. Essa 
postura de escola é pertencente à visão de educação linguística, defendida 
por autores como Bagno (2005).
A educação linguística defende também que é dever da escola oferecer 
o “[...] acesso à escrita e aos discursos que se organizam a partir dela [...]” 
(BRITTO, 1997, p. 14), transformando o aluno em um membro proficiente 
desses circuitos sociais, apresentando domínio dos gêneros que o grupo, que 
pretende e/ou faz parte, utiliza para interagir. Em outras palavras, a escola, hoje, 
tem por função trabalhar com os diferentes contextos comunicativos, dando 
ao aluno o acesso à cultura escrita e à possibilidade de se tornar proficiente 
em diferentes gêneros do discurso para interatuar em distintas esferas sociais. 
Lembrando que ser proficiente não é somente pura e simplesmente saber as 
regras gramaticais de uma língua, mas saber usá-la nos diferentes contextos 
do dialogismo da linguagem.
“Enfim, partimos do ponto de vista de que o recado da aula de portu-
guês é que o objeto de ensino é o trabalho sobre a linguagem e de que a 
aprendizagem se traduz por novas formas de participação no mundo social, 
que se abrem a partir da experiência com novas práticas de letramento e 
a partir de novas compreensões das práticas já conquistadas.” (SIMÕES, 
2012, p. 42).
27Concepções de linguística aplicada, de linguagem e de gramática
Linguistica_Aplicada_U1_C02.indd 27 10/03/2017 10:03:35
Desse modo, a visão de língua que permeia essa nova proposta, nascida nos 
estudos da LA, gira em torno da língua portuguesa e sua função social, ou seja, 
da reflexão de que o fazer humano repousa na linguagem. Tendo ciência de que 
“[...] a unidade em torno da qual se faz todo o trabalho de Língua Portuguesa e 
Literatura é o texto, ponto de partida e de chegada, em torno do qual todas as 
tarefas propostas aos alunos se estruturam” (FILIPOUSKI; MARCHI; SIMÕES, 
2009, p. 52). O trabalho com a língua deve ser constituído por textos reais, 
que abrem espaço para a criação de hipóteses linguísticas e entendimento das 
variedades da língua conforme a interlocução solicitada e o suporte analisado. 
A língua a ser estudada deve estar inserida em práticas sociais, com a possibi-
lidade de os alunos utilizarem e transferirem o conhecimento linguístico com 
eficácia para seus projetos de vida. Sendo assim, defende-se que não se ensina 
diretamente a língua portuguesa, mas se ensina a fazer “coisas” nessa língua.
Linguística aplicada ao ensino do português28
Linguistica_Aplicada_U1_C02.indd 28 10/03/2017 10:03:36
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língua portuguesa. Brasília, DF: Secretaria de Educação Fundamental, 1997.
RIO GRANDE DO SUL. Referenciais curriculares do Estado do Rio Grande do Sul: linguagens, 
códigos e suas tecnologias. Porto Alegre: Secretaria de Estado da Educação, 2009. Dis-
ponível em: <http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/refer_curric.jsp?ACAO=acao1>. 
Acesso em: 30 jun. 2012
30Concepções de linguística aplicada, de linguagem e de gramática
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da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:
 
DICA DO PROFESSOR
"A aula de português é chata?" "Eu acho português muito difícil!" "Não consigo aprender 
português!" Essas são falas comuns de pessoas que estudam português ao longos de mais de 13 
anos de escolarização. Vamos descobrir por que, mesmo sendo falantes nativas do idioma, os 
sujeitos continuam afirmando que não sabem sua própria língua materna?
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
 
EXERCÍCIOS
1) A questão da gramatização do português: 
A) É considerada um problema social e linguístico.
B) A instrumentalização das línguas somente por meio de dicionários.
C) É um assunto que só pode ser tematizado pela linguística aplicada.
D) É abordada conforme estudos sobre uma língua única.
E) É a maneira como o português brasileiro tem sido didatizado nas gramáticas e nos livros 
didáticos.
2) Assinale a alternativa que contenha todas as características da Gramática 
Normativa: 
A) Prescrição; valorização das variedades linguísticas; emprego de nomenclaturas para 
classificar a língua.
B) Descrição da língua a partir dos usos; emprego de uma nomenclatura fixa; valorização do 
português brasileiro.
C) Análise da língua no plano do enunciado; modelo real de língua; contrária ao preconceito 
linguístico.
D) Prescrição de regras; valorização da norma lusitana; concepção de língua estática.
E) Comprometimento com as camadas populares da sociedade; valorização das variedades 
linguísticas trazidas pelos alunos à escola; descrição feita com base em dados de fala 
urbana.
3) Escolha a alternativa que preenche corretamente as lacunas: Historicamente, as 
aulas de língua portuguesa são aulas de _________________, baseadas em regras e 
teorias que reduzem a __________________a um objeto homogêneo e não vivo. Por 
isso que muitos falantes de português como língua materna afirmam que não sabem 
português, pois não conseguiram ao longo de mais de 13 anos de escolarização 
decorar as regras gramaticais. 
A) Língua oral; Gramática.
B) Gramática; língua.
C) Leitura; linguagem.
D) Análise Linguística; escrita.
E) Escrita de textos; redação.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais fazem parte do conjunto de obras 
desenvolvidas a partir de estudos da Linguística Aplicada e que defendem uma 
4) 
proposta de ensino que vai contra a visão de aula de português historicamente 
consolidada. Essa nova proposta: 
A) Orienta que o papel central da aula de língua deve ser a gramática.
B) Afirma que o papel central da aula de língua deve ser a reflexão linguística.
C) Defende que o papel central da aula de língua deve ser o texto e os discursos que se 
organizam a partir da escrita.
D) Está de acordo que as diferentes variedades linguísticas devem ser tratadas na aula de 
português, principalmente a norma de prestígio.
E) Preconiza que a análise linguística deve ser feita por meio do estudo bibliográfico da 
Gramática Normativa.
5) A Educação Linguística é uma proposta que visa principalmente: 
A) Fazer com que os estudantes saiam da escola proficientes na língua padrão.
B) A memorização de conhecimentos sobre a nomenclatura da língua.
C) Dar subsídios para que os alunos possam ter contato com diferentes linguagens e seus usos 
sociais.
D) Uniformizar as aulas de língua em todo o país para que todos os alunos possam ter acesso 
aos mesmos conteúdos linguísticos.
E) Ampliar o repertório de leituras canônicas.
NA PRÁTICA
Os Referenciais Curriculares do Rio Grande do Sul são obras que orientam os estudos e as 
propostas pedagógicas nas escolas do Rio Grande do Sul. Os textos relacionados à área de 
linguagens foram elaborados a partir de investigações da área de Linguística Aplicada. Há três 
volumes para cada disciplina escolar: o livro orientador, com os pressupostos e as explicações 
do porquê se segue certo caminho pedagógico; o livro do professor; e o livro do aluno. No 
caderno do aluno das disciplinas de Português e Literatura, há uma parte específica de análise 
linguística. Agora acompanhe a prancheta com as anotações de um dos professores responsáveis 
por analisar de forma mais aprofundada os Referenciais Curriculares do RS.
SAIBA MAIS
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do 
professor:
A língua é viva
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Por que (não) ensinar gramática na escola?
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Língua portuguesa e literatura
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

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