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Table of Contents Front Matter Copyright Revisão Científica e Tradução Consultores Dedicação Este livro é dedicado também a meus amigos que estão aqui e aos que se foram Prefácio PARTE I: FÍSICA RADIOLÓGICA Capítulo 1: Conceitos de Ciência Radiológica Capítulo 2: Fundamentos de Ciência Radiológica Capítulo 3: A Estrutura da Matéria Capítulo 4: Energia Eletromagnética Capítulo 5: Eletricidade, Magnetismo e Eletromagnetismo PARTE II: O FEIXE DE RAIOS X Capítulo 6: O Equipamento de Raios X Capítulo 7: O Tubo de Raios X Capítulo 8: Produção de Raios X Capítulo 9: Emissão da Radiação X Capítulo 10: Interação dos Raios X com a Matéria PARTE III: A RADIOGRAFIA Capítulo 11: Filme Radiográfico Capítulo 12: Processando a Imagem Latente Capítulo 13: Telas de Intensificação Radiográfica Capítulo 14: Controle da Radiação Espalhada Capítulo 15: Técnica Radiográfica Capítulo 16: Qualidade da Imagem Capítulo 17: Artefatos de Imagem Capítulo 18: Controle de Qualidade PARTE IV: EXAMES AVANÇADOS COM RAIOS X Capítulo 19: Mamografia Capítulo 20: Controle de Qualidade em Mamografia Capítulo 21: Fluoroscopia Capítulo 22: Radiologia Intervencionista Capítulo 23: Tomografia Computadorizada Multicorte PARTE V: IMAGEM DIGITAL Capítulo 24: Ciência da Computação Capítulo 25: Radiografia Computadorizada Capítulo 26: Radiografia Digital Capítulo 27: Fluoroscopia Digital Capítulo 28: A Imagem Digital Capítulo 29: Visualizando a Imagem Digital Capítulo 30: Controle de Qualidade do Monitor Digital Capítulo 31: Artefatos na Imagem Digital PARTE VI: RADIOBIOLOGIA Capítulo 32: Biologia Humana Capítulo 33: Princípios Fundamentais da Radiobiologia Capítulo 34: Radiobiologia Celular e Molecular Capítulo 35: Efeitos Imediatos da Radiação Capítulo 36: Efeitos Tardios da Radiação PARTE VII: PROTEÇÃO CONTRA RADIAÇÃO Capítulo 37: Proteção Radiológica Capítulo 38: Projeto para Proteção Radiológica Capítulo 39: Gerenciamento da Dose no Paciente Capítulo 40: Gerenciamento da Dose Ocupacional GLOSSÁRIO RESPOSTAS Índice Crédito das Ilustrações Revisão de Física Básica Unidades Usuais em Radiologia Tabelas de Conversão PARTE I FÍSICA RADIOLÓGICA CAPÍTULO 1 Conceitos de Ciência Radiológica TÔPICOS Natureza da Nossa Vizinhança Matéria e Energia Fontes de Radiações Ionizantes Descoberta dos Raios X Desenvolvimento da Radiologia Moderna Relatórios de Danos por Radiação Proteção Radiológica Básica A Equipe de Imagem Dignóstica OBJETIVOS Ao final deste capítulo, o estudante deverá ser capaz de: 1. Descrever as características da matéria e energia 2. Identificar as várias formas de energia 3. Definir radiação eletromagnética e especificamente radiação ionizante 4. Determinar a intensidade relativa das radiações ionizantes provenientes de várias fontes 5. Relatar a descoberta acidental dos raios X por Roentgen 6. Discutir exemplos de lesões corporais causadas pela radiação 7. Listar os conceitos básicos de proteção radiológica ESTE CAPÍTULO explora os conceitos básicos de ciência e tecnologia de imagem por raios X. Isso inclui o estudo da matéria, da energia, do espectro eletromagnético e da radiação ionizante. A produção e o uso de radiação ionizante como um instrumento de diagnóstico servem como base para a radiografia. Técnicos ou tecnólogos que lidam especificamente com a imagem de raios X serão denominados de tecnólogos em radiologia. Estes têm uma grande responsabilidade em realizar exames de raios X, em conformidade com o estabelecido nas normas de proteção radiológica para a segurança dos pacientes e do pessoal médico. A radiografia é a escolha de uma carreira com grandes e diversas oportunidades. Bem-vindo ao campo das imagens médicas! NATUREZA DA NOSSA VIZINHANÇA Em uma análise física, todas as coisas podem ser classificadas como matéria ou energia. Matéria é qualquer coisa que ocupe espaço e tenha massa. Consiste numa substância material da qual os objetos físicos são compostos. Toda a matéria é formada por blocos fundamentais de construção denominados átomos, que estão arranjados de modo complexo e variado. Estes arranjos atômicos são expostos em detalhes no Capítulo 3. Uma característica primária distintiva da matéria é a massa – quantidade de matéria contida em qualquer objeto físico. Geralmente usamos o termo peso quando é descrita a massa de um objeto e, para nossos objetivos, podemos considerar massa e peso como sendo a mesma coisa. Lembre-se, entretanto, que em sentido científico rigoroso eles não são o mesmo. Massa é, na realidade, descrita por sua equivalência energética, enquanto peso é a força exercida sobre um corpo sob a influência da gravidade. Massa é a quantidade de matéria descrita pela sua equivalência energética. Massa é medida em quilogramas (kg). Por exemplo, na Terra, um homem de 91 kg pesa mais que uma mulher de 55 kg. Isto ocorre por causa da atração mútua, chamada gravidade, entre a massa da Terra e a massa do homem ou da mulher. Sobre a Lua, o homem e a mulher pesariam cerca de um sexto apenas do que pesam sobre a Terra, porque a massa da Lua é muito menor do que a da Terra. Entretanto, a massa do homem e a da mulher permaneceriam inalteradas em 91 kg e 55 kg, respectivamente. MATÉRIA E ENERGIA Matéria é qualquer coisa que ocupe espaço. Corresponde à substância material, com massa, da qual objetos físicos são compostos. Os complexos blocos fundamentais de construção da matéria são os átomos e as moléculas. O quilograma, a unidade científica de massa, não está relacionado com os efeitos gravitacionais. O prefixo quilo significa 1.000; um quilograma (kg) é igual a 1.000 gramas (g). Conto do Pinguim por Benjamin Archer Na grande e bela vastidão da região Antártica, existiu uma vez um grande isolado iceberg flutuando no mar sereno. Devido à sua localização e acessibilidade, o grande iceberg se tornou uma Meca para pinguins de toda área. À medida que mais e mais pinguins se juntavam à nova casa e começavam a cobrir as encostas do campo de gelo, o iceberg começou a afundar cada vez mais no mar. Os pinguins mantiveram-se em escalada, forçando outros para fora do iceberg e de volta para o oceano. Logo, o iceberg se tornou quase submerso devido ao grande número de pinguins que tentaram residir lá. Moral: O PINGUIM representa um fato importante ou um pedaço de informação que temos de aprender para entender um assunto. O cérebro, semelhante ao iceberg, só pode reter certa quantidade de informações antes que fique sobrecarregado. Quando isso acontece, conceitos começam a ficar fora de lugar, como os pinguins do iceberg naufragado. Portanto, a chave para a aprendizagem é reservar espaço para os verdadeiros “pinguins” a fim de preencher os valiosos e confinados limites do nosso cérebro. Assim, pontos-chave neste livro são destacados e referidos como “PINGUINS”. Embora a massa, a quantidade de matéria, mantenha-se inalterada, independentemento seu estado, pode ser transformada a partir de um tamanho, aparência e forma para outro tipo. Considere um bloco de 1 kg de gelo, em que a forma muda quando o bloco de gelo derrete numa poça de água. Se a poça de água pode secar, a água aparentemente desaparece por completo. Sabemos, no entanto, que o gelo é transformado a partir do estado sólido para o estado líquido e que a água líquida passa para vapor de água suspenso no ar. Se pudéssemos reunir todas as moléculas que compõem o gelo, a água, o vapor d’água e medir suas massas, descobriríamos que cada forma tem a mesma massa. Semelhante à matéria, a energia pode existir em diversas formas. No Sistema Internacional (SI), a energia é medida em joules (J). Em radiologia, a unidade elétron volt (eV) é frequentemente utilizada. Energia é a capacidade de realizar trabalho. Energia potencial é a capacidade de realizarum trabalho em virtude da posição. A lâmina de uma guilhotina erguida por corda e roldana é um exemplo de objeto que possui energia potencial (Fig. 1-1). Se a corda for cortada, a lâmina descerá e realizará sua terrível tarefa. FIGURA 1-1 A lâmina de uma guilhotina oferece um exemplo dramático de ambas as energias potencial e cinética. Quando a lâmina é elevada para a sua altura máxima e está presa no lugar, ela tem energia potencial. Quando se permite que a lâmina caia, a energia potencial é liberada como energia cinética. Um esforço foi necessário para colocar a lâmina no alto e, devido a esta posição, diz-se que a lâmina possui energia potencial. Outros exemplos de objetos que possuem energia potencial incluem um carrinho de montanha-russa no topo da inclinação e uma mola esticada em uma porta aberta. Energia cinética é a energia do movimento. Todos os corpos em movimento a possuem: um automóvel deslocando-se, uma roda de moinho girando, uma lâmina de guilhotina caindo. Todos esses sistemas podem realizar trabalho devido ao seu movimento. Energia química é a energia liberada por uma reação química. Um exemplo importante deste tipo de energia é a fornecida aos nossos corpos por meio de reações químicas envolvendo os alimentos que comemos. Em nível molecular, esta área da ciência é chamada bioquímica. A energia liberada quando explode uma dinamite é o exemplo mais dramático de energia química. Energia elétrica representa o trabalho que pode ser feito quando um elétron se move por meio de uma diferença de potencial elétrico (tensão). A mais conhecida forma de energia elétrica é a eletricidade comum doméstica, que envolve o movimento de elétrons mediante um fio de cobre por uma diferença de potencial elétrico de 110 volts (V). Todos os aparelhos elétricos, tais como motores, aquecedores, ventiladores, funcionam com a utilização de energia elétrica. Energia térmica (calor) é a energia do movimento em nível molecular. Consiste na energia cinética das moléculas e está estreitamente relacionada com a temperatura. Quanto mais rápido as moléculas de uma substância vibram, mais energia térmica a substância possui e maior é a sua temperatura. Energia nuclear é a energia que está contida dentro do núcleo de um átomo. Nós controlamos a liberação e a utilização deste tipo de energia elétrica em usinas nucleares. Um exemplo da liberação descontrolada de energia nuclear é a bomba atômica. Energia eletromagnética é talvez a menos conhecida forma de energia. No entanto, é a mais importante para os nossos objetivos, por ser o tipo de energia utilizada em raios X. Além de raios X, a energia eletromagnética inclui ondas de rádio, micro-ondas, luz ultravioleta, infravermelha e visível. Assim como a matéria pode ser transformada a partir de um tamanho, aparência e forma para outro tipo, a energia também pode sofrer essa transformação a partir de um tipo para outro. Em radiologia, por exemplo, a energia elétrica no sistema de imagem de raios X é usada para produzir energia eletromagnética (os raios X), que depois é convertida em energia química no filme radiográfico. Agora reconsidere a afirmação de que todas as coisas podem ser classificadas como matéria ou energia. Olhe à sua volta e pense em absolutamente qualquer coisa; você ficará convencido da presente declaração. Você deve ser capaz de classificar qualquer coisa como matéria, energia, ou ambas. Frequentemente, matéria e energia existem lado a lado – um automóvel em movimento tem massa e energia cinética; água fervente tem massa e energia térmica; a Torre de Pisa tem massa e energia potencial. Talvez a mais estranha propriedade associada com matéria e energia é que elas são intercambiáveis, característica descrita pela primeira vez por Albert Einstein na sua famosa teoria da relatividade. A equivalência massa-energia na equação de Einstein é o pilar daquela teoria. Massa-Energia E = mc2 onde E é a energia, m é a massa e c é a velocidade da luz no vácuo. Esta equivalência massa-energia serve como base para a bomba atômica, usinas nucleares e certas técnicas de imagem em medicina nuclear. A energia emitida e transferida por intermédio do espaço é chamada de radiação. Quando uma corda de um piano vibra, diz-se que irradia som; o som é uma forma de radiação. Ondulações ou ondas de água irradiam a partir do ponto onde uma pedra cai em uma lagoa calma. A luz visível, uma forma de energia eletromagnética, é irradiada pelo Sol e muitas vezes é chamada de radiação eletromagnética. Na verdade, a energia eletromagnética que viaja através do espaço é normalmente referida como radiação eletromagnética ou, simplesmente, radiação. Radiação é a transferência de energia. Diz-se que a matéria a qual intercepta a radiação e absorve toda ou parte dela foi exposta ou irradiada. Passar um dia na praia expõe você à luz ultravioleta. A luz ultravioleta é o tipo de radiação que causa queimadura solar. Durante um exame radiográfico, o paciente é exposto aos raios X. Fala-se que o paciente foi irradiado. Radiação ionizante é um tipo especial de radiação que inclui raios X. Radiação ionizante é qualquer tipo de radiação capaz de remover um elétron orbital do átomo com o qual interage (Fig. 1-2). Esse tipo de interação entre a radiação e a matéria é chamado de ionização. Esta ocorre quando um raio X passa perto de um elétron orbital de um átomo e transfere energia suficiente a esse elétron para removê-lo do átomo. A radiação ionizante pode interagir e ionizar átomos adicionais. O elétron orbital e o átomo do qual ele foi separado denominam-se par de íons. O elétron é um íon negativo e o restante do átomo é o íon positivo. FIGURA 1-2 Ionização é a remoção de um elétron de um átomo. Juntos, o elétron ejetado e o átomo resultante carregado positivamente são chamados de par de íons. Ionização é a remoção de um elétron de um átomo. Assim, qualquer tipo de energia capaz de ionizar a matéria é conhecido como radiação ionizante. Raios X, raios gama e luz ultravioleta* são as únicas formas de radiação eletromagnética com energia suficiente para ionizar. Algumas partículas em movimento rápido (partículas com alta energia cinética) são também capazes de ionizar. Exemplos do tipo de radiação ionizante na forma de partículas são as partículas alfa e beta (Cap. 3). Embora partículas alfa e beta sejam, por vezes, chamadas raios, esta designação é incorreta. FONTES DE RADIAÇÕES IONIZANTES Muitos tipos de radiação são inofensivos, mas radiações ionizantes podem causar danos em humanos. Estamos expostos a muitas fontes de radiação ionizante (Fig. 1-3). Essas fontes podem ser divididas em duas categorias principais: radiação natural do ambiente e radiação artificial. FIGURA 1-3 Contribuição das diversas fontes para a média da dose de radiação da população dos Estados Unidos, 1990. A radiação natural ambiental resulta em uma dose anual de cerca de 300 milirem (mrem) (3 milisievert [mSv]). A radiação artificial resulta em aproximadamente 60 mrem (0,6 mSv). Um mrem é de 1/1.000 de um rem. O rem é a unidade de dose equivalente.* É usado para expressar a exposição às radiações da população (Cap. 2). A radiação natural ambiental consiste em três componentes: raios cósmicos, radiação terrestre e radionuclídeos internamente depositados. Raios cósmicos são partículas e radiação eletromagnética emitidas pelo Sol e pelas estrelas. Na Terra, a intensidade da radiação cósmica aumenta com a altitude e a latitude. A radiação terrestre resulta dos depósitos terrestres de urânio, tório e outros radionuclídeos.A intensidade é muito dependente da geologia da área local. Radionuclídeos internamente depositados, principalmente potássio-40 (40K), são metabólitos naturais. Eles têm estado sempre conosco e contribuem com a mesma dose para cada um de nós. A maior fonte de radiação natural ambiental é o radônio. Radônio é um gás radioativo, produzido pelo decaimento radioativo natural do urânio, que está presente em pequenas quantidades na Terra. Todos os materiais à base de terra, como o concreto, tijolos e gesso contêm radônio. O radônio emite partículas alfa, que não são penetrantes e, portanto, contribui com a dose de radiação apenas para o pulmão. Coletivamente, estas fontes de radiação natural ambiental resultam em aproximadamente 2 a 10 microroentgens (μR)/h ao nível da cintura nos Estados Unidos (Fig. 1-4). Isso equivale a uma exposição anual de cerca de 20 miliroentgen (mR)/ano (0,2 miligray [mGy]/ano) ao longo da Costa do Golfo e Flórida e 90 mR/ano (0,9 mGy/ano) ou mais na região das Montanhas Rochosas. FIGURA 1-4 Exposição à radiação no nível da cintura em toda parte dos Estados Unidos. (Cortesia de U.S. Geological Survey.) Lembre-se, no entanto, que os seres humanos existem há várias centenas de milhares de anos, na presença deste nível da radiação natural do ambiente. A evolução humana, sem dúvida, tem sido influenciada pela radiação natural ambiental. Alguns geneticistas sustentam que a evolução é influenciada principalmente pela radiação ionizante. Se for assim, devemos estar preocupados de fato com o controle da exposição desnecessária às radiações porque ao longo do século passado, com o aumento de aplicações médicas da radiação, a média anual de exposição à radiação da nossa população aumentou significativamente. O diagnóstico com raios X constitui a maior fonte artificial de radiação ionizante (39 mrem/ano) (0,39 mSv/ano). Essa estimativa foi feita em 1990 pelo Conselho Nacional de Proteção Radiológica e Medidas dos EUA (National Council on Radiation Protection and Measurements – NCRP). Estimativas mais recentes colocam esta fonte em cerca de 320 mrem/ano (3,2 mSv/ano), com aumento principalmente devido à crescente utilização do Tomógrafo Multicorte (Multislice Spiral Computed Tomography – MSCT) e a fluoroscopia de alto nível. Os benefícios derivados da aplicação de raios X na medicina são indiscutíveis, porém tais aplicações devem ser feitas com prudência e com cuidado para reduzir a exposição desnecessária dos pacientes e do pessoal. Essa responsabilidade recai em particular sobre o tecnólogo em radiologia porque este normalmente controla o funcionamento do sistema de imagem de raios X durante um exame radiológico. Em geral, a dose anual aceita, resultante de aplicações médicas das radiações ionizantes, é de aproximadamente 50 mrem (0,5 mSv). Em contraste com a dose natural ambiental, este nível leva em conta tanto as pessoas que não estão fazendo nenhum exame radiológico quanto aquelas submetidas a vários exames no período de um ano. A exposição à radiação médica para alguns em nossa população será zero, mas para outros pode ser bastante elevada. Embora esse nível médio seja comparável aos níveis de radiação natural ambiental, ele realmente apresenta uma quantidade pequena de radiação. Alguém poderia questionar, então, por que é necessário se preocupar com o controle da radiação e com a segurança radiológica em radiologia. Questão: Qual a porcentagem da nossa dose média anual é adequada ao diagnóstico de raios X? (Fig. 1-3) Resposta: Outras fontes de radiação de origem humana incluem a geração de energia nuclear, aplicações em pesquisa, fontes industriais e itens de consumo. As usinas nucleares e outras aplicações industriais contribuem muito pouco para a nossa dose de radiação. Produtos de consumo como mostradores de relógios, sinais de saída, detectores de fumaça, capas de lanterna de camping e os sistemas de vigilância de aeroportos contribuem com poucos milirems para a nossa dose anual. DESCOBERTA DOS RAIOS X Os raios X não foram desenvolvidos; eles foram descobertos e muito por acaso. Durante os anos de 1870 e 1880, muitos laboratórios de física nas universidades estavam investigando a condução de raios catódicos, ou elétrons, por meio de um grande tubo de vidro, parcialmente sob vácuo, conhecido como tubo de Crookes. Sir William Crookes, um inglês bastante humilde, foi um gênio autodidata. O tubo que leva o seu nome foi o precursor das modernas lâmpadas fluorescentes e dos tubos de raios X. Havia muitos tipos diferentes de tubos Crookes; a maioria deles era capaz de produzir raios X. Wilhelm Roentgen estava experimentando um tipo de tubo Crookes quando descobriu os raios X (Fig. 1-5). FIGURA 1-5 O tipo de tubo Crookes usado por Roentgen quando ele descobriu os raios X. Raios catódicos (elétrons) que saem do cátodo são atraídos pela alta tensão para o ânodo, onde produzem os raios X e luz fluorescente. (Cortesia de Gary Leach, Hospital Memorial Hermann.) Em 8 de novembro de 1895, Roentgen estava trabalhando em seu laboratório de Física na Universidade Würzburg, na Alemanha. Ele havia escurecido seu laboratório e fechado completamente seu tubo de Crookes com papel fotográfico preto para visualizar melhor os efeitos dos raios catódicos no tubo. Uma placa revestida com platinocianeto de bário, um material fluorescente, estava depositada por acaso sobre uma mesa a vários metros do tubo de Crookes. Nenhuma luz visível escapava do tubo de Crookes devido ao papel preto que a recobria, mas Roentgen observou que o platinocianeto de bário brilhava. A intensidade do brilho aumentava quando a placa era aproximada do tubo; consequentemente havia poucas dúvidas sobre a origem do estímulo do brilho. Este brilho é chamado de fluorescência. A abordagem imediata de Roentgen para investigar a “luz X”, como ele a chamava, foi contrapondo diversos materiais – madeira, alumínio, a sua mão! – entre o tubo de Crookes e a chapa fluorescente. O “X” era para o desconhecido! Ele ansiosamente continuou as investigações por várias semanas. As investigações iniciais de Roentgen foram extremamente rigorosas, e ele foi capaz de relatar seus resultados experimentais para a comunidade científica antes do final de 1895. Por este trabalho, em 1901, o pesquisador recebeu o primeiro Prêmio Nobel de Física. Roentgen reconheceu o valor de sua descoberta para a medicina. Produziu e publicou a primeira imagem de raios X médica, no início de 1896. Era a imagem da mão de sua esposa (Fig. 1-6). A Figura 1-7 é uma fotografia do que é relatado como sendo o primeiro exame de raios X nos Estados Unidos, realizado no início de Fevereiro de 1896, no Laboratório de Física no Dartmouth College. FIGURA 1-6 A mão mostrada nesta radiografia pertence a Sra. Roentgen. Esta primeira indicação das possíveis aplicações médicas de raios X foi feita dentro de poucos dias após a descoberta. (Cortesia de Roentgen Deutsches Museum.) FIGURA 1-7 Esta fotografia registra o primeiro exame de raios X médico nos Estados Unidos. Um jovem paciente, Eddie McCarthy de Hanover, New Hampshire, quebrou o seu pulso enquanto patinava sobre o Rio Connecticut e foi submetido à fotografia pela “luz X”. Com ele estão (da esquerda para a direita) o Professor E.B. Frost, Dartmouth College e, seu irmão, o Dr. G.D. Frost, Diretor Médico, Mary Hitchcock Hospital. O aparelho foi montado pelo professor F.G. Austin em seu laboratório de Física em Reed Hall, Dartmouth College, em 3 de fevereiro de 1896. (Cortesia de Hospital Mary Hitchcock.) A descoberta dos raios X é caracterizada por muitos aspectos surpreendentes, e isso fazcom que o fato esteja entre os mais importantes eventos da história humana. Em primeiro lugar, a descoberta foi acidental. Em segundo lugar, provavelmente, pelo menos uma dúzia de contemporâneos de Roentgen tinha observado anteriormente a radiação X, mas nenhum desses outros físicos havia reconhecido a sua importância ou investigado-a. Em terceiro lugar, Roentgen deu sequência a sua descoberta científica com tal vigor que, dentro de pouco mais de um mês, ele havia descrito a radiação X com quase todas as propriedades que reconhecemos hoje. DESENVOLVIMENTO DA RADIOLOGIA MODERNA Existem dois tipos gerais de exames de raios X: radiografia e fluoroscopia. A radiografia utiliza filmes de raios X e, geralmente, um tubo de raios X montado a partir do teto em uma faixa a qual permite que o tubo seja movido em qualquer direção. Esses exames fornecem ao radiologista imagens fixas. A fluoroscopia é por vezes realizada com um tubo de raios X localizado abaixo da mesa de exame. O radiologista é provido com imagens dinâmicas em um monitor de televisão ou em um visor plano. Existem muitas variantes desses dois tipos básicos de exames, mas, em geral, o equipamento de raios X é semelhante. Para produzir um feixe de raios X que seja satisfatório para a imagem, você deve fornecer ao tubo de raios X uma alta tensão e uma corrente elétrica suficientes. As tensões de raios X são medidas em quilovolt de pico (kVp). Um quilovolt (kV) é igual a 1.000 V de potencial elétrico. As correntes de raios X são medidas em miliampères (mA), onde o ampère (A) é uma medida de corrente elétrica. O prefixo mili representa 1/1.000 ou 0,001. Questão: A distância habitual entre a fonte de raios X e o receptor de imagem (DFR) é de 1 metro. A quantos milímetros isso corresponde? Resposta: 1 mm = 1/1.000 m ou 10−3 m, portanto 1.000 mm = 1 m. Hoje, tensão e corrente são fornecidos a um tubo de raios X por intermédio de circuitos elétricos bastante complicados, mas no tempo de Roentgen, somente geradores simples estáticos estavam disponíveis. Essas unidades podiam fornecer correntes de apenas alguns miliampères e tensões de 50 kVp. Hoje, 1.000 mA e 150 kVp são comumente utilizados. Procedimentos radiográficos que envolvem equipamentos elétricos com essas limitações de corrente e potencial elétrico necessitam com frequência de tempos de exposição de 30 minutos ou mais para um exame satisfatório. Exposição longa resulta em imagens borradas. Uma evolução que ajudou a reduzir este tempo de exposição foi o uso de uma tela intensificadora fluorescente em conjunto com chapas fotográficas de vidro. Conta-se que Michael Pupin demonstrou o uso de uma tela radiográfica intensificadora em 1896, mas só muitos anos mais tarde ela recebeu adequado reconhecimento e uso. As radiografias no tempo de Roentgen eram feitas pela exposição de uma placa de vidro revestida com uma camada de emulsão fotográfica em um dos lados. Charles L. Leonard constatou que, expondo duas placas radiográficas de vidro com as superfícies com emulsão juntas, o tempo de exposição seria reduzido para metade e a imagem, consideravelmente reforçada. Essa demonstração de emulsão radiográfica dupla foi conduzida em 1904, mas o filme de dupla emulsão não foi disponível comercialmente até 1918. Grande parte dos vidros de alta qualidade utilizados na radiografia vinha da Bélgica e de outros países europeus. Tal fornecimento foi interrompido durante a Primeira Guerra Mundial; os radiologistas, por isso, começaram a fazer uso do filme, em vez de placas de vidro. As demandas do exército pelo aumento dos serviços radiológicos tornaram necessário um substituto para a chapa de vidro. O substituto foi o nitrato de celulose. Rapidamente ficou claro que o substituto era melhor do que a placa original de vidro. O equipamento de fluoroscopia foi desenvolvido em 1898 pelo inventor americano Thomas A. Edison (Fig. 1-8). O material fluorescente inicial de Edison foi o platinocianeto de bário, largamente utilizado em laboratórios. Ele investigou as propriedades fluorescentes de mais de 1800 materiais, incluindo sulfeto de zinco e cádmio e tungstato de cálcio – duas substâncias em uso atualmente. FIGURA 1-8 Thomas Edison é visto visualizando a mão do seu desventurado assistente, Clarence Dally, por meio de um equipamento de fluoroscopia de sua própria concepção. Dally repousa sua mão sobre a caixa que contém o tubo de raios X. É impossível dizer quais seriam as outras invenções de Edison se ele tivesse dado prosseguimento às suas pesquisas com raios X; o cientista abandonou-as quando o seu assistente e amigo de longa data, Clarence Dally, sofreu uma grave queimadura com raios X, requerendo, ao final, a amputação de ambos os seus braços. Dally morreu em 1904 e é considerado a primeiro morto por raios X nos Estados Unidos. Dois dispositivos destinados a reduzir a exposição dos pacientes aos raios X e, assim, minimizar a possibilidade de queimadura com raios X foram introduzidos antes da virada do século XX por um dentista de Boston, William Rollins. Rollins utilizava raios X para fazer a imagem de dentes e concluiu que, ao restringir o feixe de raios X com uma folha de chumbo incluindo um orifício no centro – um diafragma – e inserir um filtro de couro ou alumínio, havia melhora da qualidade do diagnóstico das radiografias. Esta primeira aplicação da colimação e filtração foi aos poucos seguida pela adoção geral dessas técnicas. Posteriormente reconheceu-se que esses dispositivos reduziam os riscos associados com raios X. Dois acontecimentos, que ocorreram aproximadamente ao mesmo tempo, transformaram o uso dos raios X, a novidade nas mãos de uns poucos físicos, em uma valiosa especialidade médica de grande escala. Em 1907, H. C. Snook substituiu as máquinas estáticas e bobinas que estavam em uso na época por uma fonte de alimentação de alta tensão, um transformador ininterrupto. Mesmo que o transformador de Snook fosse muito superior a esses outros dispositivos, a sua capacidade ultrapassava largamente a capacidade do tubo de Crookes. Só quando houve a introdução do tubo de Coolidge o transformador de Snook foi amplamente adotado. O tipo de tubo de Crookes que Roentgen utilizava em 1895 já existia por vários anos. Embora algumas modificações tenham sido feitas por trabalhadores de raios X, ele se manteve praticamente inalterado até segunda década do século XX. Após consideráveis ensaios clínicos, William D. Coolidge revelou seu tubo de raios X com cátodo quente para a comunidade médica em 1913. Foi imediatamente reconhecido como sendo muito superior ao do tubo Crookes. Consistia em um tubo de vácuo que permitia selecionar a intensidade e a energia dos raios X separadamente e com grande precisão. Isso não tinha sido possível com tubos cheios de gás, os quais dificultavam o estabelecimento dos padrões para as técnicas. Os tubos de raios X hoje em uso são refinamentos do tubo de Coolidge. A radiologia surgiu como uma especialidade médica devido ao transformador de Snook e ao tubo de raios X de Coolidge. A era da radiografia moderna é datada a partir da congruência do tubo de Coolidge com o transformador de Snook; somente com eles, níveis aceitáveis de kVp e mA tornam-se possíveis. Poucos progressos desde aquela época tiveram uma grande influência sobre o diagnóstico por imagens. Em 1913, Gustav Bucky (alemão) inventou a grade estacionária (“Espaçador de cintilação”); dois meses depois, ele pediu uma segunda patente para uma grade móvel. Em 1915, H. Potter (americano), provavelmente desconhecendo a patente de Bucky por causa da primeira Guerra Mundial, também inventou uma grade móvel. Para o seu crédito, Potter reconheceu o trabalho de Bucky,e a grade de Potter-Bucky foi introduzida em 1921. Em 1946, o tubo amplificador de luz foi demonstrado nos Laboratórios da Bell Telephone. Adaptou-se esse dispositivo para fluoroscopia em 1950. Hoje, a fluoroscopia de imagem intensificada é universal. Cada uma das últimas décadas viu notáveis melhorias na imagiologia médica. O diagnóstico por ultrassom apareceu nos anos de 1960, tal como a gama câmara; a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e a tomografia computadorizada (TC) foram desenvolvidas na década de 1970. A imagem por ressonância magnética (IRM) se tornou uma modalidade aceita na década de 1980 e, agora, a magnetoencefalografia (MEG) está sendo investigada. O Quadro 1-1 resume cronologicamente alguns dos mais importantes desenvolvimentos. QUADRO 1-1 Datas Importantes no Desenvolvimento da Radiologia Moderna DATA EVENTO 1895 Roentgen descobre os raios X. 1896 São feitas as primeiras aplicações médicas dos raios X no diagnóstico e na terapêutica. 1900 É fundada a American Roentgen Society, a primeira organização americana de radiologia. 1901 Roentgen recebe o primeiro Prêmio Nobel de Física. 1905 Einstein apresenta sua teoria da relatividade e a famosa equação E = mc2. 1907 É introduzido o transformador ininterrupto de Snook. 1913 Bohr teoriza seu modelo do átomo, caracterizado por um núcleo e por elétrons planetários. 1913 O filamento quente de Coolidge para os tubos de raios X é desenvolvido. 1917 A base dos filmes de nitrato de celulose é amplamente adotada. 1920 Vários pesquisadores demonstram a utilização de compostos solúveis de iodo como meio de contraste. 1920 É fundada a American Society of Radiologic Tecnology (ASRT). 1921 É introduzida a grade de Potter-Bucky. 1922 Compton descreve o espalhamento dos raios X. 1923 É apresentado o filme de raios X “seguro” de acetato de celulose (Eastman Kodak). 1925 O Primeiro Congresso Internacional de Radiologia é convocado em Londres. 1928 O roentgen é definido como a unidade de intensidade de raios X. 1929 Forssman demonstra o cateterismo cardíaco… sobre si mesmo! 1929 É introduzido o ânodo giratório nos tubos de raios X. 1930 Dispositivos tomográficos são apresentados por vários pesquisadores independentes. 1932 A tonalidade azul é adicionada ao filme de raios X (Dupont). 1932 A U.S. Committee on X-ray and Radium Protection (hoje NCRP) publica os primeiros limites de dose. 1942 Morgan apresenta um dispositivo fotocontador eletrônico. 1942 É apresentada a primeira processadora automática de filmes (Pako). 1948 Coltman desenvolve o primeiro intensificador de imagem fluoroscópica. 1951 É apresentada a tomografia multidirecional (politomografia). 1953 O rad é oficialmente adotado como a unidade de dose absorvida. 1956 A xerorradiografia é apresentada. 1956 É introduzida a primeira processadora automática de filmes transportados por rolos (Eastman Kodak). 1960 É apresentado o filme com a base de poliéster (Dupont). 1963 Kuhl e Edwards demonstram a tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT). 1965 É apresentada a processadora rápida de 1966 O diagnóstico por ultrassom entra em uso rotineiro. 1972 O filme de emulsão única e a mamografia de um écran tornam-se disponíveis (Dupont). 1973 Hounsfield completa o desenvolvimento do primeiro sistema de imagem por tomografia computadorizada (TC) (IME, Ltd.). 1973 Damadian e Lauterbur produzem a primeira imagem por ressonância magnética (IRM). 1974 As telas intensificadoras radiográficas de terra rara são introduzidas. 1977 Mistretta demonstra a fluoroscopia com subtração digital. 1979 O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina é atribuído a Allan Cormack e Godfrey Hounsfield pela TC. 1980 O primeiro sistema comercial IRM supercondutor é introduzido. 1981 A radiografia de tórax com sistema de varredura é demonstrada por Barnes. 1981 O Sistema Internacional de Unidades (SI) é adotado pela Comissão Internacional de Unidades e Medidas (International Commission on Radiation Units and Measurements [ICRU]). 1982 Sistemas de arquivamento de foto e de comunicação (PACS) se tornam disponíveis. 1983 É desenvolvido o primeiro filme com emulsão de grãos tabulares (Eastman Kodak). 1984 Surgem os fósforos estimulados por laser para radiografia computadorizada (Fuji). 1988 É utilizado pela primeira vez um dispositivo supercondutor de interferência quântica (SQUID) para magnetoencefalografia (MEG). 1990 O último sistema de xeromamografia é produzido. 1990 A TC helicoidal é apresentada (Toshiba). 1991 A TC de corte duplo é desenvolvida (Elscint). 1992 O Programa Americano de Qualidade em Mamografia (Mammography Quality Standard Acts [MQSA]) foi aprovado. 1996 A radiografia digital que usa transistores de filmes finos (TFTs) é desenvolvida. 1997 A radiografia digital com dispositivo de carga acoplada (CCD) é introduzida por Swissray. 1997 Painel plano receptor de imagem de selênio amorfo é demonstrado por Rowlands. 1998 É introduzida a TC multicorte (General Electric). 1998 O receptor de imagem de CsI-silício amorfo é apresentado para a radiografia digital. 2000 O primeiro sistema de mamografia de imagem digital direta é disponibilizado (General Electric). 2002 A TC helicoidal de 16 cortes é apresentada. 2002 Tomografia por emissão de pósitrons (PET) é colocada em serviço de rotina clínica. 2003 O Nobel em Fisiologia ou Medicina é atribuído a Paul Lauterbur e Sir Peter Mansfield pela IRM. 2004 A TC helicoidal de 64 cortes é apresentada. 2005 TC de dupla fonte é anunciada (Siemens). 2006 A TC helicoidal de 256 cortes é apresentada (Toshiba). RELATÔRIOS DE DANOS POR RADIAÇÃO A primeira fatalidade por causa de raios X nos Estados Unidos ocorreu em 1904. Infelizmente, as lesões por radiação foram bastante frequentes nos primeiros anos. Essas lesões em geral assumiam a forma de danos à pele (às vezes severos), incluíam perda de cabelo e anemia. Médicos e, mais comumente, pacientes sofreram danos, em particular devido à baixa energia da radiação então disponível, que resultava na necessidade de uma longa exposição para obter uma radiografia aceitável. Por volta de 1910, essas lesões agudas começaram a ser controladas como efeitos biológicos dos raios X e foram cientificamente investigadas e relatadas. Com a introdução do tubo de Coolidge e do transformador de Snook, a frequência de relatos de lesões de tecidos superficiais diminuiu. Anos mais tarde, descobriu-se que desordens do sangue, tais como anemia aplástica e leucemia, estavam ocorrendo em radiologistas numa taxa muito mais elevada do que em outras pessoas. Devido a estas observações, dispositivos de proteção e de vestuário, como luvas e aventais de chumbo, foram desenvolvidos para utilização por radiologistas. Os profissionais de raios X eram rotineiramente observados sob qualquer efeito de sua exposição ocupacional e foram providos de dispositivos de proteção individual para radiação. Este cuidado com a segurança no que tange à radiação em radiologia tem sido eficaz. Por causa das práticas eficazes de proteção contra as radiações, a radiologia é agora considerada uma profissão segura. PROTEÇÃO RADIOLÔGICA BÁSICA Hoje, a ênfase no controle da radiação em radiodiagnóstico tem se voltado para a proteção do paciente. Estudos atuais sugerem que mesmo baixas doses de radiação X utilizadas nos procedimentos de rotina diagnóstica podem resultar em uma baixa incidência de efeitos nocivos latentes. Também é bem estabelecido que o feto humano é sensível à radiação X no início da gravidez. Espera-se que esta introdução tenha enfatizado a importância de fornecer uma proteção adequada para ambos, o técnico radiologista e o paciente. Enquanto você progride no seu treinamento em tecnologia radiológica, aprenderá rapidamente como utilizar osseus sistemas de imagem de raios X de forma segura, com o mínimo de exposições à radiação, seguindo procedimentos padrões em radioproteção. Um cuidado é necessário bem no início de sua formação: após trabalhar com sistemas de imagem de raios X, você ficará tão acostumado com o seu ambiente de trabalho que pode se tornar complacente com o controle da radiação. Não se permita desenvolver essa atitude porque pode levar à exposição desnecessária à radiação. A proteção contra as radiações deve ser uma consideração importante durante cada procedimento de raios X. O Quadro 1-2 relata os Dez Mandamentos da Proteção Radiológica. QUADRO 1-2 Os Dez Mandamentos da Proteção Radiológica 1. Compreender e aplicar os princípios fundamentais do controle da radiação: tempo, distância e blindagem. 2. Não permitir que a familiaridade resulte em falsa segurança. 3. Nunca permanecer no feixe primário. 4. Sempre usar vestuário protetor quando não estiver atrás de uma barreira protetora. 5. Sempre utilizar um monitor de radiação ocupacional e posicioná-lo fora do colarinho do avental de proteção. 6. Nunca segurar um paciente durante o exame radiográfico. Utilizar dispositivos mecânicos de retenção quando possível. Caso contrário, deixar que parentes ou amigos segurem o paciente. 7. A pessoa que está segurando o paciente deve sempre usar um avental protetor e, se possível, luvas protetoras. 8. Utilizar blindagem para as gônadas sobre todas as pessoas em idade fértil, quando essa utilização não interferir com o exame. 9. Exames da pelve e abdome inferior de uma paciente grávida devem ser evitados sempre que possível, especialmente durante o primeiro trimestre. 10. Sempre colimar para a menor área do campo apropriada para o exame. Sempre pratique ALARA (sigla originada de “As Low As R easonably A chievable”): Mantenha as exposições às radiações tão baixas quanto razoavelmente exequíveis. Minimizar a exposição à radiação para o técnico e paciente é fácil se os sistemas de imagens radiográficas e fluoroscópicas, concebidos para esse fim, forem reconhecidos e compreendidos. A seguir, há uma breve descrição de alguns dos principais dispositivos de radioproteção. Filtração Filtros metálicos, geralmente de alumínio ou cobre, são inseridos na saída do tubo de raios X para que estes, com baixa energia, sejam absorvidos antes que alcancem o paciente. Esses raios X têm pouco valor diagnóstico. Colimação A colimação restringe o feixe útil de raios X para a parte do corpo que deve ser examinada e assim poupa as partes de tecido adjacente da exposição desnecessária. Colimadores assumem muitas e variadas formas. Colimadores de luz ajustável são os dispositivos mais frequentemente utilizados para colimação. A colimação também reduz o espalhamento da radiação e, portanto, melhora o contraste da imagem. Telas Intensificadoras Hoje, a maioria dos filmes de raios X é exposta em um chassi,* com telas radiográficas de intensificação de ambos os lados do filme. Exames radiográficos realizados com as telas de intensificação reduzem a exposição do paciente aos raios X em mais de 95%, em comparação com os exames radiográficos realizados sem as telas de intensificação. Trajes de Proteção Material impregnado com chumbo é utilizado para fazer aventais e luvas usadas pelos radiologistas e tecnólogos em radiologia durante a fluoroscopia e alguns procedimentos radiográficos. Proteção das Gônadas Utiliza-se o mesmo material impregnado com chumbo usado em aventais e luvas para fabricar a proteção para as gônadas. Utiliza protetores de gônadas em todas as pessoas na idade fértil, quando as gônadas estiverem dentro ou próximo do feixe útil de raios X e quando essa utilização não interferir no valor diagnóstico do exame. Barreiras Protetoras O console do controle radiográfico está sempre localizado atrás de uma barreira protetora. Muitas vezes, a barreira é forrada com chumbo e equipada com uma janela de vidro plumbífero. Sob circunstâncias normais, o pessoal permanece por trás da barreira durante um exame de radiografia/fluoroscopia. A Figura 1-9 mostra a construção de uma sala de exame radiográfico ou fluoroscópico. Muitas características de segurança radiológica são ilustradas. FIGURA 1-9 Um sistema de imagem radiográfica/fluoroscópica (R & F) com propósito geral inclui um tubo radiográfico suspenso (A) e uma mesa de exame fluoroscópico (B) com um tubo de raios X sob a mesa. Alguns dos dispositivos de proteção radiológica mais comuns são a cortina de chumbo (C), a blindagem do Bucky (D), o avental e as luvas de chumbo (E), bem como o visor de proteção (F). A localização do intensificador de imagem (G) e do equipamento de imagem associado é mostrada. Outros procedimentos devem ser seguidos. Exames radiográficos abdominais/pélvicos de mulheres grávidas não devem ser realizados durante o primeiro trimestre, a menos que seja absolutamente necessário. Todo o esforço deve ser feito para garantir que um exame não seja repetido por erro técnico. Repetir o exame sujeita o paciente por duas vezes à radiação necessária. Quanto à proteção de pacientes nos exames de raios X, deve-se considerar sua condição médica do mesmo. Exceto para a mamografia rastreadora, exames de pacientes assintomáticos não são indicados. Pacientes que necessitam de assistência durante o exame nunca devem ser auxiliados pelo pessoal do raios X. Dispositivos de imobilização mecânica precisam ser usados. Quando necessário, um membro da família do paciente deve prestar assistência. A EQUIPE DE IMAGEM DIAGNÔSTICA Para fazer parte desta excitante profissão, o estudante deve completar os cursos acadêmicos prescritos, obter experiência clínica e passar no exame nacional de certificação dado pelo American Registry of Radiologic Technologists (ARRT)*. Tanto a especialidade acadêmica quanto as habilidades clínicas são necessárias para os tecnólogos em radiologia (Quadro 1- 3). QUADRO 1-3 Inventário de Tarefas para Radiografia conforme Exigido para o Exame da American Registry of Radiologic Technologists CUIDADOS COM O PACIENTE 1. Confirmar a identidade do paciente. 2. Avaliar a capacidade do paciente de compreender e cumprir os requisitos para o exame pedido. 3. Explicar e ratificar a preparação do paciente (p. ex., restrições dietéticas, medicações preparatórias) antes da realização dos exames radiográficos/fluoroscópicos. 4. Examinar a requisição radiográfica para verificar a exatidão das informações e se elas estão completas (p. ex., histórico do paciente, diagnóstico clínico). 5. Sequenciar os procedimentos de imagens para evitar efeitos de materiais de contraste residual sobre futuros exames. 6. Manter a responsabilidade sobre os equipamentos médicos que acompanham os pacientes (p. ex., intravenosos, oxigênio) durante procedimentos radiográficos. 7. Fornecer ao paciente segurança, conforto e moderação. 8. Comunicar atrasos de programação aos doentes em espera. 9. Verificar ou obter o consentimento do paciente, sempre que necessário (p. ex., em estudos com contraste). 10. Explicar as instruções do procedimento para o paciente ou para a família do paciente. 11. Exercitar as precauções padrão. 12. Seguir os procedimentos adequados quando em contato com o paciente em isolamento. 13. Selecionar dispositivos de imobilização, quando indicado, para impedir o movimento do paciente. 14. Usar adequada mecânica do corpo e/ou dispositivos mecânicos de transferência quando assistir o paciente. 15. Antes de ministrar um agente de contraste, recolher informação para determinar a dose adequada e para discernir se o paciente apresenta risco elevado de uma reação adversa. 16. Confirmar o tipo de meio de contraste para ser utilizado e prepará-lo para a administração. 17. Utilizar técnicaasséptica ou estéril, quando indicado. 18. Realizar venipunctura. 19. Ministrar meio de contraste IV. 20. Observar o paciente após a administração do meio de contraste para detectar reações adversas. 21. Obter os sinais vitais. 22. Reconhecer a necessidade de pronto atendimento médico e ministrar cuidados de emergência. 23. Explicar instruções de pós-procedimento para o paciente ou para a família do paciente. 24. Manter a confidencialidade das informações do paciente. 25. Documentar informações necessárias (p. ex., requisições radiográficas, radiografias) no prontuário do paciente. PROTEÇÃO RADIOLÔGICA 26. Limpar, desinfetar ou esterilizar as instalações e os equipamentos, bem como colocar no lixo itens contaminados, na preparação para o próximo exame. 27. Avaliar a necessidade de proteção e utilização de blindagem. 28. Tomar as precauções adequadas para minimizar a exposição à radiação do paciente. 29. Perguntar ao paciente do sexo feminino em idade fértil se há possibilidade de gravidez e tomar as medidas adequadas (ou seja, documentar a resposta, entrar em contato com o médico). 30. Restringir o feixe para limitar a área exposta, melhorar a qualidade da imagem e reduzir a dose de radiação. 31. Definir o kVp, o mA e o tempo ou modo de exposição automática para obter uma imagem com ótima qualidade, condições seguras de funcionamento e dose de radiação mínima. 32. Impedir todas as pessoas desnecessárias de permanecer na área durante a exposição aos raios X. 33. Tomar precauções adequadas para minimizar a exposição ocupacional às radiações. 34. Usar um dispositivo de monitoração pessoal enquanto estiver de plantão. 35. Avaliar relatórios individuais de exposição ocupacional a fim de determinar se valores para o período relatado estão dentro dos limites estabelecidos. PERAÇÃO DO EQUIPAMENTO 36. Preparar e operar a unidade radiográfica e os acessórios. 37. Preparar e operar a unidade de fluoroscopia e os acessórios. 38. Preparar e operar as unidades especializadas. 39. Preparar e operar os dispositivos de imagens digitais. PRODUÇÃO DAS IMAGENS 40. Remover do paciente ou da mesa todos os materiais radiopacos que poderiam interferir na imagem radiográfica. 41. Selecionar a combinação adequada tela-filme. 42. Selecionar equipamentos e acessórios adequados (p. ex., grade, filtros compensadores, blindagem) para o exame solicitado. 43. Utilizar marcadores radiopacos para indicar lados anatômicos, posição ou outras informações relevantes (p. ex., tempo, ereto, decúbito). 44. Explicar instruções sobre a respiração antes de dar início à exposição. 45. Posicionar o paciente para demonstrar a anatomia desejada com marcações corporais. 46. Usando calibradores e tabelas técnicas, determinar fatores de exposição adequados. 47. Modificar fatores de exposição para circunstâncias, tais como movimentos involuntários, gessos e talas, condições patológicas ou incapacidade do paciente em cooperar. 48. Processar a imagem exposta. 49. Recarregar os chassis e depósitos, selecionando filmes de tamanho e tipo adequados. 50. Preparar o receptor de imagem digital/computadorizada para a exposição. 51. Verificar a precisão da identificação do paciente na radiografia. 52. Avaliar radiografias para a qualidade do diagnóstico. 53. Determinar medidas corretivas, que devem ser feitas se a radiografia não estiver com qualidade para diagnóstico, e tomar medidas adequadas. 54. Armazenar e manusear o filme/chassis de maneira que reduza a possibilidade de produção de artefatos. MANUTENÇÃO DO EQUIPAMENTO 55. Reconhecer e comunicar maus funcionamentos na unidade radiográfica ou fluoroscópica e nos acessórios. 56. Realizar avaliações básicas do equipamento radiográfico e dos acessórios. 57. Reconhecer e comunicar maus funcionamentos no equipamento de processamento. 58. Realizar avaliações básicas do equipamento de processamento e dos acessórios. PROCEDIMENTOS RADIOGRÁFICOS 59. Posicionar o paciente, o tubo de raios X e o receptor de imagens para produzir as seguintes imagens diagnósticas: • Tórax • Abdome e estudos gastrointestinais • Estudos urológicos • Coluna vertebral e pelve • Crânio • Extremidades • Outros: artrografia, mielografia, venografia… RESUMO A radiologia oferece oportunidades profissionais em muitas áreas da imagem médica, exigindo um conhecimento modesto de medicina, biologia e física (ciência radiológica). Este primeiro capítulo tece a história e o desenvolvimento da radiografia com uma introdução à física médica. Física médica inclui o estudo da matéria, da energia e do espectro eletromagnético do qual a radiação X é uma parte. A produção de radiação X e seu uso seguro no diagnóstico servem de base para a radiologia. Assim como enfatiza a importância da segurança radiológica, este capítulo apresenta uma lista detalhada das habilidades clínicas e dos cuidados com os pacientes, exigida do tecnólogo em radiologia. QUESTÕES 1. Defina ou identifique o que se segue: a. Energia b. Equação de equivalência massa-energia de Einstein c. Radiação ionizante d. O mrad e. O nível médio da radiação natural do ambiente f. O tubo de Coolidge g. Fluoroscopia h. Colimação i. O termo aplicado para a química do corpo j. Platinocianeto de bário 2. Associe as seguintes datas com o evento apropriado: a. 1901 1. Roentgen descobre os raios X b. 1907 2. Roentgen recebe o primeiro Prêmio Nobel de Física c. 1913 d. 1895 3. O transformador de Snook é desenvolvido 4. O tubo de raios X com cátodo quente de Cooligde é introduzido 3. Descreva a diferença entre peso e massa. 4. Nomeie quatro exemplos de radiação eletromagnética. 5. Como a interação dos raios X é diferente em relação à interação observada em outros tipos de radiação eletromagnética? 6. Qual é o propósito da filtração do feixe de raios X? 7. Descreva o processo que resulta na formação de um íon negativo e um íon positivo. 8. Qual o percentual médio de exposição à radiação por raios X médico é apropriado para um homem? 9. Por que a descoberta de raios X foi um acontecimento tão surpreendente na história da humanidade? 10. Por que agora a radiografia é considerada um emprego seguro da radiação? 11. O acrônimo ALARA significa o quê? 12. Nomeie os dispositivos concebidos para minimizar a exposição à radiação para o paciente e para o operador. 13. Descreva brevemente a história do filme de raios X. 14. Quais são as três fontes naturais de exposição à radiação de corpo inteiro? 15. Qual tipo de fonte de radiação natural é responsável pela dose no pulmão? 16. Como você definiria o termo “radiação”? 17. O que são os raios catódicos? 18. Coloque as seguintes frases na ordem de aparecimento cronológico: a. Fluoroscopia digital b. American Society of Radiologic Technologists (ASRT) c. Tomografia computadorizada (TC) d. Grades radiográficas e. Processamento automático de filmes 19. Liste cinco habilidades clínicas exigidas pela ARRT. 20. Liste cinco competências pessoais exigidas pela ARRT. As respostas das questões podem ser encontradas no fim do livro. * Nota da Tradução: Luz ultravioleta não é considerada, usualmente, radiação ionizante. * Nota da Tradução: A sigla rem origina-se do inglês radiation equivalent man. * Nota da Tradução: Chassi e cassete representam o mesmo objeto (é a caixa que coloca-se o receptor de imagem). Neste texto será utilizado chassi para radiografia convencional e cassete para CR. * Nota da Tradução: No Brasil, a profissão de Técnico e Tecnólogo em Radiologia é reconhecida e o exercício profissional é regulado pelo Conselho de Técnicos em Radiologia.
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