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DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Capítulos 1 ao 10 DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Capítulo 1 Olá, aluno! Bem-vindo ao estudo para os concursos de Delegado de Polícia Civil. Preparamos todo esse material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade, garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente. Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal, queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento, pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo sempre! Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de jurisprudência selecionada. E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou comentários, entre em contato através do e-mail pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para a gente! Racionalizara preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina. Faça bom uso do seu PDF Ad Verum! Bons estudos 2 Sumário DIREITOS HUMANOS, Capítulo 1 ........................................................................................................ 4 1. Introdução e conceitos iniciais .................................................................................................... 4 1.1 Direitos humanos, direitos do homem e direitos fundamentais ..................................................... 5 1.2Características dos Direitos Humanos .................................................................................................... 6 1.3As três vertentes dos Direitos Humanos ................................................................................................ 7 1.4Dimensão objetiva e subjetiva dos direitos humanos ........................................................................ 9 1.5Dignidade humana .................................................................................................................................... 10 1.6A dupla função da dignidade da pessoa humana .............................................................................. 12 QUADRO SINÓTICO ............................................................................................................................. 14 GABARITO .............................................................................................................................................. 21 LEGISLAÇÃO COMPILADA ................................................................................................................... 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................... 26 Abordaremos os assuntos da disciplina de Direitos Humanosda seguinte forma: CAPÍTULOS Capítulo 1– Introdução e conceitos iniciais. Capítulo 2–Teoria Geral dos Direitos Humanos. Capítulo 3–Dimensões/gerações de Direitos Humanos. Capítulo 4– A formação e a incorporação dos tratados de Direitos Humanos. Capítulo 5– O sistema global de proteção dos Direitos Humanos. Capítulo 6–A Organização das Nações Unidas – ONU. Capítulo 7–O sistema especial de proteção dos Direitos Humanos. Capítulo 8– O sistema europeu de proteção dos Direitos Humanos. Capítulo 9– O sistema americano de proteção dos Direitos Humanos. Capítulo 10– O sistema brasileiro de proteção dos Direitos Humanos. 4 DIREITOS HUMANOS Capítulo 1 1. Introdução e conceitos iniciais Atenção!Futuro Delta, Direitos humanos está presente na maioria dos editais, portanto, estude com afinco suas características e sua evolução. Foque nas dimensões de direito e não se esqueça de estabelecer a sua distinção com os direitos fundamentais. Fique ligado na literalidade dos tratados, pois eles são bastante cobrados. Direitos Humanos é o ramo do Direito Internacional Público que tem como base a dignidade da pessoa humana, ou seja, o conjunto de direitos inerentes a todo ser humano, que o protege de tratamentos degradantes e lhe assegura condições mínimas de sobrevivência, independente de raça, cor, credo, opinião política, etc. O princípio basilar dos Direitos Humanos é o in dubio pro homine, que se aplica quando há dúvida sobre qual direito prevalecerá em determinada situação. Assim, sempre que houver conflito entre direitos, prevalecerá o que traz maiores benefícios ao ser humano. Onde não há democracia não há Direitos Humanos e, sendo alcançado algum direito, é vedada a sua revogação. A vedação ao retrocesso garante que um direito adquirido apenas será ampliado, como forma de melhorar o que está garantido. É o chamado efeito cliquet. Importante ressaltar, ainda, que a dignidade da pessoa humana, qualidade intrínseca a cada se humano independentemente de sua nacionalidade, cor, raça ou opinião política, é o eixo norteador de todos os demais direitos, servindo tanto como unificadora como vetor interpretativo da ordem positivada. Neste primeiro capítulo abordaremos os principais institutos e conceitos para que, adiante, você possa compreender a matéria como um todo, de forma leve e eficaz. Vamos juntos e bons estudos! 5 1.1 Direitos humanos, direitos do homem e direitos fundamentais Antes de iniciarmos os estudos de forma mais aprofundada, mister se faz distinguirmos as três terminologias: direitos do homem, direitos humanos e direitos fundamentais. Os direitos do homem são, basicamente, os direitos naturais, biológicos, jusnaturais que possuem todos os seres humanos. Eles independem de positivação, pois são natos. Aqui temos valores inerentes à dignidade humana. A expressão “direitos humanos”, por sua vez, traz-nos a ideia de proteção. São direitos que foram conquistados e são universalmente aceitos na ordem internacional. Na doutrina, temos que a definição de Antônio Peres Luño1 se amolda perfeitamente ao nosso estudo. O estudioso afirma que os direitos humanos são Conjunto de faculdades e instituições que, em casa momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional. Por fim, temos os direitos fundamentais. É importante nos atermos ao fato de que essas duas nomenclaturas não se confundem: enquanto “direitos humanos” é, em síntese, a terminologia utilizada para indicar o conjunto de direitos do homem protegidos na ordem internacional, “direitos fundamentais” é o conjunto de direitos do homem já reconhecidos e positivados na ordem interna de cada Estado. 1PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, Estado de Derecho y Constituición. 5 edição. Madrd: Editora Tecnos, 1195, p. 48. 6 Direitos humanos Direitos positivados no ordenamento jurídico externo Direitos Fundamentais Direitos positivados no ordenamento jurídico interno Direitos do homem Direitos pertencentes ao homem por sua própria natureza 1.2 Características dos Direitos Humanos Feita uma breve análise sobre o tema, convém neste momento que analisemos as principais característicasdos Direitos Humanos. Sendo assim, temos que a doutrina no geral traz as seguintes como as mais importantes: Historicidade:Indica que a concepção de Direitos Humanos decorre das condições da sociedade em um determinado momento histórico, de modo que varia de acordo com a evolução de cada povo, no tempo e no espaço; Inalienabilidade:Segundo essa característica, os Direitos Humanos são indisponíveis, não possuindo conteúdo econômico patrimonial e, assim, não podem ser objeto de negociação e/ou comercialização; Imprescritibilidade:De acordo com essa característica, os direitos humanos são sempre exigíveis, não se sujeitando à prescrição e, assim, não possuem prazo para o seu exercício; Irrenunciabilidade:Dispõe que o indivíduo, apesar de poder não exercer os seus direitos caso queira, não pode renunciar a eles; Proibição de retrocesso:A proibição do retrocesso indica que não é possível a supressão normativa dos direitos já consagrados através de medidas legislativas. É o chamado efeito cliquet. 7 1.3 As três vertentes dos Direitos Humanos Neste momento, importante abordarmos sobre as três vertentes de proteção internacional da pessoa humana. Essas três vertentes se deram, basicamente, após as grandes Guerras Mundiais, mais especialmente após a Segunda, momento no qual cresceu a preocupação mundial com os direitos humanos. Durante muito tempo o conceito de Direitos Humanos foi discutido pelos juristas, sendo que esta discussão culminou na divisão de sua proteção em três vertentes: o Direito Internacional dos Direitos humanos, o Direito Humanitário e o Direito Internacional dos Refugiados. Direito Internacional dos Direitos Humanos O Direito Internacional dos Direitos Humanos é o mais abrangente deles. Visa, em síntese, proteger e promover a dignidade da pessoa humana de forma universal e em todos os aspectos: civil, político, social, econômico, cultural, etc. Direito Humanitário Historicidade Inalienabilidade Imprescritibilidade Irrenunciabilidade Proibição ao retrocesso 8 Por sua vez, o Direito Humanitário tem raízes principalmente no pós-Primeira Grande Guerra, tendo em vista as crueldades extremas que ali ocorreram. Sendo assim, em 1949 foi elaborada a Convenção de Genebra, na qual, de acordo com Ricardo Castilho2 Segundo a Convenção de Genebra, há três tipos de crime passíveis de serem cometidos em tempo de guerra que devem ser proibidos e impedidos. A primeira categoria é a dos crimes de guerra, que incluem: assassinato ou maus-tratos de civis, deportação ou confinamento (de civis ou militares) para trabalhos forçados, assassinato ou maus-tratos de prisioneiros, pilhagem ou saque, destruição de cidade sem necessidade militar e assassinato de reféns. A segunda categoria é a dos crimes contra a paz. Os dois principais são planejar guerra de agressão ou em violação a tratados internacionais e participar de plano comum ou conspiração para promover esses atos. A terceira é a dos crimes contra a humanidade: extermínio, escravização e outros atos desumanos antes ou durante uma guerra, perseguições por motivos políticos, raciais ou religiosos. Podemos concluir, desta maneira, que o Direito Humanitário tem por finalidade estabelecer regras para o tratamento da população dos países em conflito, garantindo assim os direitos humanos e a dignidade da pessoa humana, limitando a atuação do Estado perante o indivíduo. Direito dos Refugiados Em terceiro lugar temos o Direito dos Refugiados. Antes de adentrarmos especificamente no seu conteúdo, importante fazermos a distinção entre refúgio e asilo. Enquanto o asilo é uma medida empregada quando há perseguição política de caráter individual, constituindo o exercício do ato político e soberano do Estado (portanto, não sujeito aos regramentos internacionais), o refúgio ocorre quando há uma proteção a um grande número de pessoas, não revestido de caráter político.O refúgio ocorre, assim, quando a proteção é conferida àqueles que estão sofrendo agressões generalizadas (ou, ainda, em casos de ocupação ou dominação estrangeira, de fatos que alterem a ordem pública de um país ou em caso de violação dos direitos humanos). Em síntese, o Direito dos Refugiados protege o ser humano desde a saída de seu território até o término da concessão do refúgio. 2CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos – 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 24. 9 (2013 – CESPE – Policial Rodoviário Federal)3– A aplicação das normas de direito internacional humanitário e de direito internacional dos refugiados impossibilita a aplicação das normas básicas do direito internacional dos direitos humanos. ( ) Certo ( ) Errado (2016- FUNCAB - PC-PA - Delegado de Policia Civil - Reaplicação) – Foi considerada correta a assertiva – O direito internacional dos direitos humanos não está sujeito ao princípio da reciprocidade que domina o direito internacional público. 1.4 Dimensão objetiva e subjetiva dos direitos humanos O último ponto que abordaremos neste capítulo inicial no que toca aos direitos humanos propriamente ditos é a dimensão dos direitos humanos, que pode ser subdividida em objetiva e subjetiva. A dimensão subjetiva diz respeito ao fato de os direitos humanos serem proposições jurídicas que visam proteger o ser humano como indivíduo, como sujeito. Já a dimensão objetiva aborda a imposição de proteção dos direitos humanos voltada para os Estados e a sua necessidade de atuação. Aqui, não falamos da preocupação com o 3GABARITO: ERRADO. Gabarito comentado: Consoante já estudado, as três vertentes de proteção internacional da pessoa humana (direito internacional dos direitos humanos, direito dos refugiados e direito humanitário) devem coexistir e ser interpretados de forma que um complemente o outro, sempre tendo em vista a convergência dos valores e a complementaridade dos sistemas, de modo que um nunca excluirá o outro. 10 sujeito em si, mas da preocupação com a criação de mecanismos que promovam os direitos humanos na sociedade como um todo. Em síntese: Dimensão subjetiva Na dimensão subjetiva, os direitos humanos se preocupam com a proteção do sujeito. Dimensão objetiva Na dimensão objetiva, os direitos humanos se preocupam com a criação de mecanismos, por meio do Estado, para a proteção desses direitos. 1.5 Dignidade humana A dignidade da pessoa humana é a essência do conceito de Direitos Humanos. Assegurar essa dignidade nada mais é do que respeitar a todos de forma igualitária, independentemente de raça, cor, gênero ou classe social. Ela está prevista no artigo 1º da Constituição Federal, e é um dos cinco fundamentos da República Federativa do Brasil. Vejamos: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; 11 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Na seara internacional, que iremos aprofundar melhor nos próximos capítulos, também temos diversas previsões e positivações da dignidade da pessoa humana. Vejamos o que diz o preâmbulo e o artigo 1o da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948: Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos gozemde liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum, Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão, Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla, Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades humanas fundamentais e a observância desses direitos e liberdades, (...) Artigo I Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. O Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Sociais, Econômicos e Culturais também reconhecem em seu preâmbulo, identicamente que: PREÂMBULO 12 Os Estados Partes do presente Pacto, Considerando que, em conformidade com os princípios proclamados na Carta das Nações Unidas, o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Reconhecendo que esses direitos decorrem da dignidade inerente à pessoa humana, Reconhecendo que, em conformidade com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o ideal do ser humano livre, no gozo das liberdades civis e políticas e liberto do temor e da miséria, não pode ser realizado e menos que se criem às condições que permitam a cada um gozar de seus direitos civis e políticos, assim como de seus direitos econômicos, sociais e culturais, Considerando que a Carta das Nações Unidas impõe aos Estados a obrigação de promover o respeito universal e efetivo dos direitos e das liberdades do homem, Compreendendo que o indivíduo, por ter deveres para com seus semelhantes e para com a coletividade a que pertence, tem a obrigação de lutar pela promoção e observância dos direitos reconhecidos no presente Pacto, (...) Dada a sua extensa previsão nos diplomas legais, internos e externos, podemos notar a importância da dignidade da pessoa humana, epicentro e eixo norteador de todo o nosso estudo. A seguir, portanto, trataremos de mais um ponto importantíssimo no que toca a esse tema: a sua dupla função. 1.6 A dupla função da dignidade da pessoa humana Por fim, analisaremos brevemente a dupla função da dignidade da pessoa humana, que também pode cair na sua prova. As suas duas funções ou aspectos são, respectivamente, a unificadora e a hermenêutica. Função unificadora Em síntese, a função unificadora da dignidade da pessoa humana diz respeito ao fato de que ela unifica toda a ordem jurídica, justamente por ser o seu eixo axiológico. Portanto, se é um eixo axiológico, ela é um eixo de valores que une toda a ordem jurídica, que nela deve se basear. 13 Função hermenêutica A sua segunda função, qual seja a hermenêutica, traz a ideia de que a dignidade da pessoa humana se traduz em um viés interpretativo para toda a compreensão e aplicação do direito positivado, inspirando e limitando. 14 QUADRO SINÓTICO 1. Introdução e conceitos iniciais Direitos Humanos Direitos positivados no ordenamento jurídico externo Direitos Fundamentais Direitos positivados no ordenamento jurídico interno Direitos do Homem Direitos pertencentes ao homem por sua própria natureza Características dos Direitos Humanos Historicidade Os Direitos Humanos decorrem da evolução do povo no tempo e no espaço Inalienabilidade Os Direitos Humanos são indisponíveis, não podendo ser objeto de comercialização. Imprescritibilidade Os Direitos Humanos não se sujeitam à prescrição. Irrenunciabilidade Os Direitos Humanos não podem ser renunciados. Proibição ao retrocesso Não é possível a supressão normativa de direitos já consagrados. Direito Internacional dos Direitos Humanos Direito Humanitário Finalidade: estabelecer regras para o tratamento da população dos países em conflito Direito dos Refugiados Finalidade: proteger o ser humano desde a saída de seu território até o término da concessão do refúgio Direito Internacional dos Direitos Humanos Finalidade: promover a dignidade da pessoa humana de forma universal 15 Dimensões dos Direitos Humanos Objetiva É a imposição de proteção dos Direitos Humanos aos Estados, que devem atuar. Subjetiva Diz respeito ao fato de os direitos humanos serem proposições jurídicas que visam proteger o sujeito. 16 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia):Assinale a alternativa correta a respeito das características dos direitos humanos. A) O Princípio da ilimitabilidade garante que o Estado e a sociedade não podem limitar a fruição dos direitos humanos já conquistados, com o objetivo de disciplinar situações excepcionais que venham a reduzir o alcance desses direitos. B) O Princípio da divisibilidade propõe que os direitos humanos devem obedecer a uma classificação retórica, que divide e categoriza os vários grupos de direitos inerentes ao homem e à sociedade, para que sejam melhor usufruídos pelos seus destinatários. C) O Princípio da essencialidade reza que os direitos humanos devem ser vistos como aquela categoria de direitos inerentes à sociedade em determinada época histórica, podendo ser divididos em essenciais, que devem gozar de livre fruição, e os não essenciais, que ainda demandam reivindicações a serem conquistadas ao longo do tempo. D) O Princípio da inalterabilidade estabelece que os direitos humanos não sofrem alterações com o decurso do tempo, pois têm caráter eterno, não se ganham nem se perdem com o tempo, são anteriores, concomitantes e posteriores aos indivíduos. E) O Princípio da interrelacionariedade dispõe que os direitos humanos e os sistemas de proteção se inter-relacionam, permitindo às pessoas escolher entre os mecanismos de proteção global ou regional, pois não há hierarquia entre eles. Comentário: a) Uma das características dos direitos humanos é a RELATIVIDADE OU LIMITABILIDADE, ou seja, os direitos humanos não são absolutos e ilimitáveis - TODOS são RELATIVOS, isso porque na análise do caso concreto haverá um sopesamento, sendo que um direito prevalecerá ao outro - Errada b) Os Direitos Humanos são INDIVISÍVEIS- Errada 17 C) O princípio da essencialidade dispõe que os direitos humanos são fundamentais a vida em sociedade, não existe direitos humanos não essenciais, a característica da essencialidade pertence a todos os direitos humanos - Errada d) Os direitos humanos não podem retroceder, mas isso não significa que não podem ser modificados, podem ser ampliados, sempre é possível o reconhecimento de novos direitos humanos- Errada e) Correta - Em caso de conflito entre os sistemas será decidido pelo que for mais benéfico a pessoa. Questão 2 (VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia):Esse documento histórico de remota conquista dos direitos humanos foi editado com o escopo de assegurar a Supremacia do Parlamento sobre a vontade do Rei, controlando e reduzindo os abusos cometidos pela nobreza em relação aos seus súditos, em especial declarando, dentre outras conquistas, o direito de petição, eleições livres e a proibição de fianças exorbitantes e de penas severas: A) Petition of Rights, de 1628. B) Habeas Corpus Act,de 1679. C) The Bill of Rights, de 1689. D) Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. E) Magna Carta, de 1215. Comentário: Correta – C - O Bill of Rights (Lista de Direitos) foi uma carta de direitos, criada e aprovada pelo Parlamento da Inglaterra em 1689. Ele foi um importante avanço democrático na Inglaterra, em pleno século XVII, como também na questão dos direitos individuais. 18 Questão 3 (VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia):No tocante à temática dos direitos humanos, considerando seu surgimento e sua evolução histórica, assinale a alternativa que contempla correta e cronologicamente seus marcos históricos fundamentais. A) O iluminismo, o constitucionalismo e o socialismo. B) O cristianismo, o socialismo e o constitucionalismo. C) A Magna Carta, a Constituição Alemã de Weimar e a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América. D) A Magna Carta, a queda da Bastilha na França e a criação da Organização das Nações Unidas. E) O iluminismo, a Revolução Francesa e o fim da Segunda Guerra Mundial. Comentário: Correta – E - Os Três marcos históricos Para os direitos Humanos: 1) ILUMINISMO, Os defensores desse movimento acreditavam que pensamento racional deveria sobrepor as crenças religiosas e misticismos. principais filósofos: Rousseau, Montesquieu e Immanuel Kant; 2) Revolução Francesa, reação a monarquia absolutista, um dos movimentos mais importantes da história, onde surgiu a DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO HOMEM e do CIDADÃO; 3) PÓS SEGUNDA GUERRA, que foi criada pela ONU, em busca de promover a paz entre as ações e evitar as guerras. A ONU proclamou em 1948 a Declaração universal dos Direitos Humanos. 19 Questão 4 (FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto):A Constituição da República de 1988 cuidou expressamente dos direitos humanos, enumerando-os no Título que trata dos direitos e garantias fundamentais. Existem, entretanto, outros direitos humanos não enumerados no texto, mas cuja proteção a própria Constituição assegura, PORQUE: A) Decorrem do regime e dos princípios adotados pela própria Constituição. B) O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional. C) São criados pelo Poder Judiciário, após o trânsito em julgado das decisões. D) Surgem de necessidades que não foram previstas pelo legislador constituinte. Comentário: Correta – A – Conforme o art 5º: § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Questão 5 (FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto):A formação do Estado Moderno está intimamente relacionada à intolerância religiosa, cultural, à negação da diversidade fora de determinados padrões e de determinados limites. Como a proteção dos direitos humanos está diretamente relacionada à atuação do poder dos Estados na ordem interna ou internacional, podemos concluir que: I. Ao lado do ideário iluminista da formação política do Estado, o discurso judaico-cristão criou o pano de fundo para controlar as esferas da vida das pessoas no campo jurídico. II. A uniformização de valores, normalmente estandardizados, como a democracia representativa, a ética e a moral, irá refletir nos fundamentos do direito moderno. III. O sistema jurídico e político europeu é o modelo civilizatório ideal e universal, visto ter surgido da falência do sistema feudal, que era descentralizado, multiético e multilinguístico. IV. O mundo uniforme e global de hoje insere-se no contexto de afirmação do Estado nacional que está condicionado, 20 em sua existência, à intolerância com o diferente. Estão CORRETAS apenas as assertivas: A) I, II e III. B) I, II e IV. C) I, III e IV. D) II, III e IV. Comentário: Correta –B : A assertiva I está correta. Ao lado do ideário iluminista, racional, científico, a formação política do Estado, quer dizer, da formação do Estado com base no poder, o discurso judaico-cristão criou o pano de fundo para controlar as esferas da vida das pessoas no campo jurídico. Como sabemos, os três pilares da sociedade ocidental são o Direito Romano, a filosofia grega e a religião judaico-cristã. A assertiva II também está correta. Com a formação do Estado Moderno e a disseminação desse modelo, houve uma padronização de determinados conceitos como o de democracia representativa, o de ética e o de moral. A uniformização de valores, portanto, é uma realidade, e ela se reflete no direito moderno. A assertiva III, por outro lado, está incorreta. A assertiva começa mal, afirmando que o “modelo civilizatório europeu” é ideal e universal. Isso não é politicamente correto de se afirmar e, portanto, para fins de concurso, está incorreto. A assertiva IV, por fim, está correta. Essa é uma alternativa difícil de marcar, porque parece errada, contudo, ela envolve a ideia de relativismo e universalismo cultural. O trecho “O mundo uniforme e global de hoje insere-se no contexto de afirmação do Estado nacional” se refere à expansão desse modelo de Estado criado na Europa e à soberania. De fato, o modelo de Estado se expandiu por todo o mundo e o que temos hoje é a consolidação desse modelo como o dominante. E a segunda parte da assertiva fala que ele está “condicionado, em sua existência, à intolerância com o indiferente”, o que também pode ser defendido com base na ideia de “nacional”. Como sabemos, mais do que povo, mais do que população, nação traz uma ideia de identidade histórica e de sentimento de grupo, vemos isso no relativismo cultural. 21 GABARITO Questão 1 - E Questão 2 -C Questão 3 -E Questão 4 -A Questão 5 -B 22 QUESTÃO DESAFIO O direito à Democracia se enquadra em que geração de direitos humanos? Máximo de 5 linhas 23 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO De acordo com Paulo Bonavides o direito à democracia pertence à quarta geração de Direitos Humanos, visto que a democracia deixou de ser um mero regime político para se afirmar como um verdadeiro direito humano. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: Quarta Geração De acordo com RAMOS (Curso de Direitos Humanos. – 7. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020, n.p.): “ Posteriormente, no final do século XX, há aqueles, como Paulo Bonavides, que defendem o nascimento da quarta geração de direitos humanos, resultante da globalização dos direitos humanos, correspondendo aos direitos de participação democrática (democracia direta), direito ao pluralismo, bioética e limites à manipulação genética, fundados na defesa da dignidade da pessoa humana contra intervenções abusivas de particulares ou do Estado.” No mesmo sentido, MAZZUOLI (Curso de direitos humanos. – 6. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019, n.p.): “Por sua vez, a quarta geração de direitos humanos resulta da globalização dos direitos fundamentais, de sua expansão e de sua abertura além-fronteiras. Segundo Bonavides, seriam exemplos dos direitos de quarta geração o direito à democracia (no caso, a democracia direta), o direito à informação e o direito do pluralismo, deles dependendo a concretização da sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência.” Em que pese haver divergência no ordenamento jurídico, os direitos humanos de quarta geração se mostram extremamente importantes para a sociedade moderna, vez que são englobados o direito à Democracia, o direito a informação e ao plurarismo. Democracia como direito humano De acordo com BARRETO (Coleção Sinopses paraconcursos, nº 39. Direitos Humanos. 9. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2019 p. 50): 24 “Paulo Bonavides também afirma a existência de novas gerações, falando de uma quarta geração, compreendida pelo direito à democracia, e de uma quinta geração, que compreende o direito à paz. Ele afirma que em tempos atuais a democracia deixou de ser um mero regime político para se afirmar como um verdadeiro direito humano o que também ocorre em relação à paz, que deixa de ser um mero propósito para ser elevada à categoria de direito das pessoas.” É importante trazer também, o que explicita FERNANDES (Curso de Direito Constitucional. 12. ed. rev., atual, e ampl. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2020 N.P.): “Com o avanço da Globalização, Bonavides antecipa uma exigência normativa de universalização dos direitos fundamentais para além do campo estatal, conectando-os a elementos essenciais para a formação de uma sociedade aberta do futuro. Por isso mesmo, enuncia como direitos de quarta geração (dimensão), o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. Em síntese, diz-se que tais direitos alicerçam o futuro da cidadania e da liberdade de todos os povos em uma era de globalização político-econômica. É bom que se diga que, alguns autores, reconhecem na quarta geração (dimensão) os chamados novos direitos frente as novas tecnologias. Nesses termos, teríamos, o direito contra manipulações genéticas, o direito ao patrimônio e respeito à identidade genéticas, a proteção contra as técnicas de clonagem, o direito à mudança de sexo. Aqui a ênfase seria nos direitos relacionados à biotecnologia e ao biodireito. Além desses, teríamos também os direitos da informática e do ciberdireito.” Atualmente, é inconsistente analisar a democracia como mero regime político, mas devemos considerá-la como um verdadeiro direito humano, inerente à toda a população. A participação direta e fiscalizatória caracteriza o direito político que é garantido constitucionalmente, de modo que haja uma melhora significativa na tutela do Estado, simultaneamente em termos de eticidade e eficiência. 25 LEGISLAÇÃO COMPILADA Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de: Dignidade humana Constituição Federal do Brasil: Artigo 1º; Declaração Universal dos Direitos Humanos: preâmbulo e artigo 1º; Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos: preâmbulo; Pacto Internacional de Direitos Sociais, Econômicos e Culturais: preâmbulo. 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos – 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2018. DUARTE, Hugo Garcez; VIANA, Malba Zarrôco Vilaça. A dignidade da pessoa humana enquanto valor supremo da ordem jurídica. Disponível em <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/a-dignidade-da-pessoa- humana-enquanto-valor-supremo-da-ordem-juridica/>, acesso em 27.03.2020. FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 11 ed. São Paulo: JusPodivm, 2019. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2017. PERES LUÑO, Antônio. Derechos humanos, Estado de Derecho y Constituición. 5 edição. Madrd: Editora Tecnos, 1195. ` DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Capítulo 2 26 SUMÁRIO DIREITOS HUMANOS, Capítulo 2 ...................................................................................................... 27 2.Teoria Geral dos Direitos Humanos ................................................................................................. 27 2.1O Código de Hamurabi .................................................................................................................................... 27 2.2Magna Carta ..................................................................................................................................... ....................27 2.3Petition of Right .................................................................................................................................................. 28 2.4Habeas Corpus Act ............................................................................................................................................. 29 2.5Bill of Rights Inglesa .......................................................................................................................................... 29 2.6A Declaração de Direitos da Virgínia ........................................................................................................... 29 2.7A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão ............................................................................. 29 2.8As Convenções de Genebra ............................................................................................................................ 31 2.9A eficácia dos Direitos Humanos .................................................................................................................. 33 QUADRO SINÓTICO ............................................................................................................................. 35 QUESTÕES COMENTADAS .................................................................................................................. 37 GABARITO .............................................................................................................................................. 41 LEGISLAÇÃO COMPILADA ................................................................................................................... 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................... 46 27 DIREITOS HUMANOS Capítulo 2 2. Teoria Geral dos Direitos Humanos Neste segundo capítulo abordaremos algumas considerações sobre a afirmação histórica dos direitos humanos, desde a antiguidade até os dias atuais. Isso significa que analisaremos os principais fatos históricos que culminaram no surgimento das mais variadas formas de proteção da dignidade da pessoa humana, bem como dos Direitos Humanos propriamente ditos. Além disso, trataremos da eficácia dos Direitos Humanos em suas quatro vertentes objetivas: horizontal, vertical, vertical com repercussão lateral e diagonal. Vamos lá? 2.1 O Código de Hamurabi O Código de Hamurabi data de 1694a.C. É um monumento de estrutura geológica, onde há vinte e uma colunas de escrita cuneiforme, sendo um dos primeiros exemplos de lei escrita que se tem notícia. Apesar de prever a aplicação de penas de morte, mutilações corporais e outras pelas infamantes, o Código de Hamurabi é um grande avanço pois representa o fim das penas arbitrárias, além de prever o direito a uma espécie de salário mínimo por dia trabalhado, o direito da mãe e dos filhos de receberem alimentos quando abandonados pelo genitor, etc. 2.2 Magna Carta A Magna Carta, de 1215, foi um instrumento cujo o Rei João da Inglaterra foi obrigado a assinar. Em síntese, este documento restringia o poder do rei e de seus sucessores, impedindo o exercício de qualquer poder pleno. Pela primeira vez foram previstos direitos dos súditos. 28 Em latim, Magna Carta Libertatum significa “Grande Carta das Liberdades”. O artigo mais conhecido da Magna Carta é o 39: em síntese, ele determina que seja seguido o devido processo legal quando houver prisão ou privação de propriedade, de modo que sejam evitadas possíveis arbitrariedades. Vejamos. Nenhum homem livre será preso, encarcerado ou privado de seus direitos ou propriedades, ou tornado fora da lei, ou exilado, ou de maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares,ou pela lei da terra. 2.3 Petition of Right Ricardo Castilho1 ao tratar sobre o tema aduz que A transformação da Inglaterra de monarquia absolutista em monarquia constitucionalista representou um avanço no sentido de reconhecimento dos direitos humanos e se deveu à chamada Petição de Direitos (Petition of Rights), que constituiu a semente da chamada Revolução Francesa. A Petition of Rights é o documento que marcou o início do constitucionalismo moderno. Esse constitucionalismo moderno, em linhas gerais, é um movimento que questionou profundamente os dogmas políticos, jurídico e filosóficos tradicionais, almejando um novo modo de poder político. Esta Petição foi apresentada pelo rei pelos membros do parlamento inglês (liderados por Sir Edward Coke), sendo que o primeiro foi obrigado a assiná-la e a cumpri-la. Dentre as exigências contidas no bojo do documento, estava o fato de que o rei deixasse para o parlamento o controle da política financeira e o controle do exército, além de ter oficializado os direitos fundamentais do homem. 1CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos – 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 74. 29 2.4 Habeas Corpus Act Outro documento de enorme importância para a evolução dos Direitos Humanos ao longo do tempo foi o chamado Habeas Corpus Act, de 1679. O Habeas Corpus Act foi uma lei elaborada pelo Parlamento da Inglaterra no ano de 1679, durante o império do rei Carlos II. Esta lei resgatava uma importante garantia: a de que toda pessoa detida fosse levada a um tribunal, onde seria analisada a legalidade de sua prisão. É, em verdade, uma tutela da liberdade individual contra a prisão abusiva, arbitrária ou ilegal. Esta lei é considerada, até os dias atuais, como um dos documentos mais importantes da história da Inglaterra. 2.5 Bill of Rights Inglesa A Bill of Rights inglesa foi criada no ano de 1689, quando Maria Stuart e o marido Guilherme de Orange assumiram o trono sob controle do Parlamento inglês e tiveram que aceitar e promulgar este documento. A Declaração dos Direitos inglesa proibiu a aplicação de penas cruéis e consagrou o direito de petição. Para além disso, foi a gênese do princípio da separação dos poderes, uma vez que previu a independência do Parlamento. 2.6 A Declaração de Direitos da Virgínia Elaborada em Williamsburg no ano de 1776, a Declaração de Direitos da Virgínia que teve ideais iluministas prevê, dentre outros, que todo poder emana do povo e que o ser humano é titular de direitos fundamentais como o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. 2.7 A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão 30 A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada em 1789, consolidou os princípios da Revolução Francesa, inspirada nos ideais iluministas. Ela estabeleceu reformas políticas que concediam ao cidadão o direito à liberdade, pregando um Estado laico, o direito de associação política, o estado de inocência, a livre manifestação do pensamento, o princípio da reserva legal e o princípio da anterioridade. Todos esses direitos seriam alcançados pela tripartição dos poderes, independentes entre si. Confira abaixo algumas de suas disposições: Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão. Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei. Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência. Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei. 31 2.8 As Convenções de Genebra Por fim, temos as Convenções de Genebra. O primeiro tratado internacional que recebeu o nome de Convenção de Genebra foi assinado em 1864, em Genebra, na Suíça. Essa Convenção, totalmente voltada para o desenvolvimento do direito humanitário internacional, teve como objetivo amenizar os efeitos das sucessivas guerras entre as nações que ocorreram até então, principalmente no que tange à população civil. Em 1907 na Holanda ocorreu a II Convenção de Genebra, onde foram estendidos todos os princípios da primeira Convenção para os conflitos marítimos, que não haviam sido previstos, protegendo-se os náufragos, doentes e feridos. Em 1925 ocorreu a III Convenção de Genebra, onde se determinou que fosse dado tratamento humanitário a todos os prisioneiros de guerra. Por fim, em 1949 ocorreu a IV Convenção de Genebra, que levou em consideração as experiências da II Guerra Mundial. Seu objetivo era tratar também dos civis, não tratados nas convenções adotadas antes de 1949. Foi quando se deu origem ao Direito Internacional dos Direitos Humanos e ao Direito Internacional Humanitário. A IV Convenção de Genebra possui 159 artigos e continua em vigor, sendo aplicada mesmo quando não há uma declaração de guerra. Em 1977 foram aprovados dois Protocolos Adicionais à Convenção de Genebra, sendo que o Primeiro ampliou a definição de vítimas de conflitos armados internacionais e o Segundo reforçou a proteção das pessoas afetadas por conflitos armados no âmbito interno. 32 1.694 a.C • Código de Hamurabi 1.1215 • Magna Carta 1.628 • Petition of Right 1.679 • Habeas Corpus act 1.689 • Bill of rights inglesa 1.776 • Declaração de Direitos da Virgínia 1.789 • Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão 1.864-1949 • Convenções de Genebra 33 2.9 A eficácia dos Direitos Humanos As normas que definem os direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata, consoante a literalidade do parágrafo 1odo artigo 5oda Constituição Federal: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”. Isso indica, por si só, a força normativa privilegiada que possuem os direitos fundamentais. Sendo assim, dada a sua importância e a sua grande incidência nos concursos públicos, neste momento iniciaremos os nossos estudos no que tange à eficácia dos direitos humanos/ direitos fundamentais no que toca ao seu aspecto objetivo. Ela se divide em eficácia vertical, eficáciahorizontal, eficácia diagonal e eficácia vertical com repercussão lateral. Eficácia vertical A eficácia vertical dos direitos humanos diz respeito aos órgãos estatais. Isso quer dizer que, apesar de a Constituição Federal não ser expressa ao dizer quem são os seus destinatários, temos que ela se volta principalmente para o Estado, limitando a sua atuação das relações perante os indivíduos. Para se lembrar que a eficácia vertical diz respeito ao Estado, lembre-se que ela faz alusão à posição de verticalidade ocupada pelo Estado frente ao indivíduo. Eficácia horizontal De seu turno, a eficácia horizontal indica a oponibilidade dos direitos aos particulares no bojo de suas relações privadas. De acordo com Rogério Saraiva Xerez2 Assim o conceito de eficácia privada ou horizontal baseia-se na ideia de oponibilidade dos direitos fundamentais nas relações privadas, ou seja, não somente nas relações Estado-Cidadão, mas também entre os particulares. Significa, portanto, aplicação direta e imediata dos direitos fundamentais nas relações privadas como direito subjetivo, com fundamento na Constituição. 2 XEREZ, Rogério Saraiva. Direitos fundamentais: eficácia na esfera das relações privadas. Revista Eletrônica Direito e Política, Itajaí, 2014. 34 A eficácia horizontal, que consiste na aplicação dos Direitos Humanos entre os particulares, também é conhecida com Drittwirkung, em alemão. Eficácia diagonal Já a eficácia diagonal dos Direitos Humanos consiste na aplicação destes direitos nas relações de trabalho, entre empregado e empregador. E qual o motivo dessa nomenclatura? É simples: a posição do empregador em relação ao empregado não é exatamente horizontal, mas sim um pouco acima – diagonal. Eficácia vertical com repercussão lateral Por fim temos a eficácia vertical com repercussão lateral. Esse conceito foi desenvolvido por Luiz Guilherme Marinoni e pode cair na sua prova. Segundo o citado doutrinador, a eficácia horizontal dos direitos fundamentais deve ser mediada pela lei e, quando o legislador se omitir, devemos recorrer à jurisdição. Caso o juiz conclua que o legislador negou proteção ao direito fundamental, deve este determinar uma medida que efetive a tutela do referido direito. Em síntese, temos que o direito fundamental será efetivado e resguardado por uma atuação judicial. 35 QUADRO SINÓTICO 2 Afirmação histórica dos Direitos Humanos Código de Hamurabi 1.694 a.C Instituiu o fim das penas arbitrárias Magna Carta 1.215 Previsão do devido processo legal Petition of right 1.628 Oficializou os direitos fundamentais do homem Habeas Corpus Act 1.679 Tutelou a liberdade individual contra a prisão abusiva, arbitrária ou ilegal Bill of Rights inglesa 1.689 Consagrou o direito de petição e a separação dos poderes Declaração de Direitos da Virgínia 1.776 Reconheceu que todo poder emana do povo, que o ser humano é titular do direito à vida, à liberdade, à busca da felicidade, etc. Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão 1.789 Instituiu o Estado Laico, o princípio da reserva legal, o estado de inocência e o direito à liberdade. Convenções de Genebra 1.864-1949 Direito Internacional Humanitário e Direito Internacional dos Direitos Humanos. 2 Eficácia dos Direitos Humanos Eficácia vertical Oponibilidade dos direitos humanos ao Estado Eficácia horizontal Oponibilidade dos direitos humanos aos particulares 36 nas relações privadas Eficácia diagonal Oponibilidade dos direitos humanos nas relações entre empregado e empregador Eficácia vertical com repercussão lateral Eficácia dos direitos humanos decorrente da tutela jurisdicional 37 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (VUNESP – 2018 –PC/SP–Delegado de Polícia)Esse documento histórico de remota conquista dos direitos humanos foi editado com o escopo de assegurar a Supremacia do Parlamento sobre a vontade do Rei, controlando e reduzindo os abusos cometidos pela nobreza em relação aos seus súditos, em especial declarando, dentre outras conquistas, o direito de petição, eleições livres e a proibição de fianças exorbitantes e de penas severas: a) Petition of Rights, de 1628; b) Habeas Corpus Act, de 1679; c) The Bill of Rights, de 1689; d) Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789; e) Magna Carta, de 1215. Comentário: A assertiva correta é a letra “C”. Com efeito, a Petition of Rights, impunha ao rei o reconhecimento de direitos e liberdades civis, o Habeas Corpus Act regulamentou a questão das prisões ilegais ou abusivas, a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão visou declarar direitos inerentes aos homens e a Magna Carta estabeleceu algumas garantias e imunidades aos nobres. A Bill of Rights, por sua vez, criou o direito de petição, as imunidades parlamentares, a vedação às penas cruéis, etc. Questão 2 38 (FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Policia Civil - Reaplicação) Sobre o aspecto internacional dos direitos humanos e seus tratados, está correto afirmar que: A) As sanções aplicadas pela Organização das Nações Unidas podem violar os direitos humanos em caso de rompimento da paz. B) É um direito de proteção que visa proteger os estados. C) Não contém aspecto ideológico e político acentuado. D) Os direitos humanos pertencem a jurisdição doméstica e ao domínio reservado dos estados. E) O direito internacional dos direitos humanos não está sujeito ao princípio da reciprocidade que domina o direito internacional público. Comentário A assertiva correta é a letra “E” - "O DIDH não está sujeito ao princípio da reciprocidade que domina o DIP. A reciprocidade que é extremamente comum no DIP principalmente nos aspectos políticos e econômicos não pode servir para o desrespeito ou mesmo um ameaça do não cumprimento dos direitos humanos. O artigo da convenção de Viena sobre tratados concluídos entre estados (Viena – 1969) afasta a reciprocidade nos tratados de direitos humanos" (Celso D. de Albuquerque Mello, Curso de Direito Internacional Público, v. 1, 15ª ed., Rio de Janeiro, Renovar, 2004, p. 817). Questão 3 (VUNESP - 2014 - PC-SP - Delegado de Polícia)Considerando a sua evolução histórica, bem como o sistema internacional de proteção dos direitos humanos, assinale a alternativa correta. A) No sistema processual de proteção dos direitos humanos, as pessoas físicas são titulares de direitos perante os órgãos de supervisão internacional, mas carecem de capacidade processual nesse sistema. B) No campo dos direitos humanos, desde a Declaração Universal de 1948, verifica-se a coexistência de diversos instrumentos de proteção estabelecendo regras de efeitos e conteúdo essencialmente formais. 39 C) A resolução de conflitos nos casos concretos de violações de direitos humanos é tema de interesse exclusivamente nacional dos Estados. D) Os tratados podem agir como normas de direito interno, desde que ratificados e incorporados, podendo influenciar a alteração, ou criação, de regulamentação nacional específica. E) A partir de 1950, depois de estabelecida uma unidade conceitual dos direitos humanos, sua proteção internacional viu-se em acentuado declínio. Comentário: A assertiva correta é a letra “D” - Os tratados podem agir como normas de direito interno, desde que ratificados e incorporados, podendo influenciar a alteração, ou criação, de regulamentação nacional específica. Questão 4 (FUMARC - 2011 - PC-MG - Delegado de Polícia) A verdadeira consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos surge em meados do século XX, em decorrência da Segunda Guerra Mundial, por isso o moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós-guerra. Dentre as proposições abaixo, assinalea que NÃO corrobora com o enunciado acima: A) O desenvolvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era Hitler e, após, à crença de que somente uma guerra poderia por fim a essas violações no âmbito internacional para garantir internamente em cada Estado nacional a dignidade da pessoa humana. B) A internacionalização dos direitos humanos constitui um movimento extremamente recente da história, surgido a partir do pós-guerra, como proposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. Se a Segunda Guerra signifcou a ruptura com os direitos humanos, o pós-guerra deveria signifcar sua reconstrução. C) No momento em que os seres humanos se tornam supérfuos e descartáveis, no momento em que vigea lógica de destruição, em que cruelmente se abole o valor da 40 pessoa humana, torna-se necessária a reconstrução dos direitos humanos como paradigma ético capaz de restaurar a lógica do razoável. D) A barbárie do totalitarismo signifcou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, por meio da negação do valor da pessoa humana, como valor fonte do direito. Essa ruptura fez emergir a necessidade da reconstrução dos direitos humanos como referencial e paradigma ético que aproxime o direito da moral. Comentário: A assertiva correta é a letra “A” -A questão faz referência ao processo de internacionalização dos direitos humanos, cujos marcos são a criação da Organização Internacional do Trabalho, da Liga das Nações e a criação da própria Organização das Nações Unidas, após a Segunda Guerra Mundial. Em linhas gerais, as afirmativas B, C e D trazem pontos corretos deste processo de internacionalização, pois, com o passar do tempo, a proteção dada ao indivíduo deixa de ser um assunto exclusivamente nacional e passa a se tornar um tópico relevante da agenda internacional (a ponto de ser expressamente mencionado na Carta da ONU, que fala do dever de proteção dos "direitos humanos e liberdades fundamentais para todos"). A afirmativa A está errada porque, ainda que se possa considerar que os horrores do nazismo impulsionaram a proteção internacional dos direitos humanos e o reconhecimento do valor da dignidade humana a todos os seres humanos, a segunda parte da afirmativa está errada, pois o contexto da guerra e pós-guerra levou à conclusão de que não se poderia confiar apenas ao Estado a proteção da dignidade humana e que este tema deveria ser alçado a um dos objetivos da futura Organização das Nações Unidas - cujo tratado constitutivo começa a ser elaborado em 1942 e que entra, de fato, em funcionamento, em 1945. 41 GABARITO Questão 1 - C Questão 2 –E Questão 3 -D Questão 4 -A 42 QUESTÃO DESAFIO Qual é a natureza jurídica da Comissão Interamericana de Direitos Humanos? Como é a sua composição? Máximo de 5 linhas 43 GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO Natureza jurídica ambivalente, vez que é órgão da OEA e também do Pacto de San José da Costa Rica, possuindo caráter dúplice. Compor-se-á de 7 membros, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e reconhecido saber sobre Direitos Humanos. Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta: Natureza jurídica ambivalente SILVA (Direito Constitucional – Direitos Humanos - 3. a edição revista e atualizada – Editora: Revista dos Tribunais Ltda. 2012, p. 106) foi brilhante ao explanar que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos: “Tem natureza jurídica ambivalente, uma vez que é órgão da Organização dos Estados Americanos (Carta da OEA, art. 53, e, e Capítulo XV, art. 106) e também do Pacto de San José da Costa Rica (Capítulo VII, arts. 34 a 51, e Capítulo IX, arts. 70 a 73). Por esse motivo, afirma- se que tem caráter dúplice ou desdobramento funcional. Tem sede em Washington, nos Estados Unidos da América.” Assim, por fazer parte desses dois institutos, é considerado que a CIDH tem natureza jurídica ambivalente. Composição da CIDH RAMOS (Curso de Direitos Humanos. – 7. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020, n.p.) explicita que: “A Comissão Interamericana de Direitos Humanos é órgão principal da Organização dos Estados Americanos (OEA), sendo composta por sete membros (denominados Comissários ou, mais usualmente como decorrência de termo em espanhol, “Comissionados”), que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos. Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reeleitos uma vez, sendo que o mandato é incompatível com o exercício de atividades que possam afetar sua independência e sua imparcialidade, ou a dignidade ou o prestígio do seu cargo na Comissão. O conhecimento jurídico não é tido como indispensável para o cargo. Os membros da Comissão serão eleitos a título pessoal, pela Assembleia Geral da OEA, de uma lista de candidatos propostos pelos Governos dos Estados-membros. Cada Governo pode propor até 44 três candidatos (ou seja, também pode propor apenas um nome), nacionais do Estado que os proponha ou de qualquer outro Estado-membro. Quando for proposta uma lista tríplice de candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente. Em resumo, a Comissão é um órgão principal da OEA, porém autônomo, pois seus membros atuam com independência e imparcialidade, não representando o Estado de origem.” A comissão é composta por 7 membros, que devem ser pessoas que possuem alta autoridade moral e que possuam reconhecimento notório em matéria de Direitos Humanos. É válido ressaltar que os membros da CIDH possuirão mandato de 4 anos, sendo permitida uma reeleição, podendo ter nacionalidade de qualquer um dos Estados que fazem parte da OEA, no entanto, não será admitido 2 membros da mesma nacionalidade (BARRETO, Coleção Sinopses para Concursos. Direitos Humanos– Vol. 39 Editora: Jus PODIVM. 2019). Assim sendo, a CIDH é um dos órgãos por onde a OEA atinge os seus objetivos, tendo como principal função a observação da defesa dos Direitos Humanos, além de desepenhar papel de órgão de consulta da OEA. A CIDH será composta por 7 membros, que devem ser pessoas que possuem alta autoridade moral e que possuam reconhecimento notório em matéria de Direitos Humanos, que serão eleitos a partir de listas de candidatos propostos pelos governos dos Estados-membros. O mandato dos membros pertencentes da CIDH será de 4 anos sendo permitida apenas uma reeileção. 45 LEGISLAÇÃO COMPILADA Nesta matéria, faz-se de extrema importância a leitura de: Afirmação histórica dos Direitos Humanos Magna Carta (1.215); Petition of Right (1.628); Habeas Corpus Act (1.679); Bill of Rights inglesa (1.689); Declaração de Direitos da Virginia (1.776); Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (1.789); Convenções de Genebra (1.864-1949). 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, Rafael. Direitos Humanos – 8. Ed, revista, ampliada e atualizada. Salvador:Juspodivm, 2018. CASTILHO, Ricardo. Direitos Humanos – 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2018. MALHEIRO, Emerson. Curso de Direitos Humanos – 3. Ed. Revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Atlas, 2016. XEREZ, Rogério Saraiva. Direitos fundamentais: eficácia na esfera das relações privadas. Revista Eletrônica Direito e Política, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.9, n.2, 2º quadrimestre de 2014. Disponível em: <https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/rdp/article/view/6043/3317>. Acesso em 01.04.2020. DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL Direitos Humanos Capítulo 3 Sumário 3. Dimensões/geraçõesde Direitos Humanos ............................................. 52 3.1Primeira Dimensão ........................................................................................................... 53 3.2 Segunda Dimensão ...................................................................................................... 54 3.3 Terceira Dimensão ........................................................................................................ 56 3.4 Quarta Dimensão .......................................................................................................... 57 3.5 Quinta dimensão ........................................................................................................... 57 QUADRO SINÓTICO .............................................................................................. 58 GABARITO ............................................................................................................... 65 LEGISLAÇÃO COMPILADA ................................................................................... 71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 72 52 DIREITOS HUMANOS Capítulo 3 3. Dimensões/gerações de Direitos Humanos Continuando nossos estudos acerca da análise evolutiva dos Direitos Humanos, temos as chamadas dimensões (ou gerações) dos Direitos Humanos. Primeiramente cumpre ressaltar que a expressão “dimensões” é mais precisa do que “gerações”. Isso porque essa pressupõe que a geração subsequente seja superada, eliminada, o que não é verdade. Como já estudado, os Direitos Humanos são dotados de historicidade, o que nos faz concluir que eles se aperfeiçoam com o passar do tempo, de modo que uma dimensão se relaciona intrinsecamente com a outra para garantir a sua efetividade. Por isso iremos dar preferência à expressão “dimensões”. Essa sistematização foi proposta por Karel Vsak, um jurista tcheco, com base nos princípios da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade), buscando demonstrar a evolução histórica dos Direitos Humanos. Norberto Bobbio, neste sentido, sistematizou as referidas dimensão da seguinte maneira: 1. Primeira:Liberdade, alcançando os direitoscivis e políticos; 53 2. Segunda:Igualdade, alcançando os direitos sociais, econômicose culturais; 3. Terceira:Fraternidade, também conhecida como princípio da solidariedade, alcançando direitos difusos com destaque ao meio ambiente e a paz. Bobbio também visualizou uma quarta dimensão, ainda em evolução, alcançando a globalização dos Direitos Humanos. Com o passar do tempo a doutrina apontou a existência de outras dimensões cujo destaque é a quinta, com o direito à paz. 3.1Primeira Dimensão Aqui temos os direitos de liberdade. Ela compreende os direitos civis e políticos, tendo ocorrido na passagem do Estado Absolutista (onde o rei concentrava a figura do Estado) para o Estado Liberal de Direito. Essa dimensão teve como referenciais jurídico-positivo a Constituição Americana de 1787 e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França, de 1789. Os principais referenciais teóricos dessa geração são John Locke, com a obra intitulada “Segundo Tratado sobre o Governo” e Jean JacquesRousseau, 54 com a obra “O Contrato Social”. Em síntese, ambos afirmavam a existência de direitos naturais dos indivíduos que não estavam sendo respeitados pela existência de governos arbitrários. Aqui temos direitos de aplicabilidade imediata que atribuem ao Estado uma obrigação de não fazer, uma liberdade negativa do Estado, que não poderia intervir na esfera de liberdade das pessoas. Em provas objetivas, a afirmação de que os direitos de primeira dimensão são direitos negativos tem sido reputada como correta. Entretanto, na verdade, nem todos o são: em provas discursivas e orais, é interessante que se aborde o fato de que os direitos políticos necessitam da participação das pessoas na vida política estatal. É o que chamamos de plano de participação. 3.2 Segunda Dimensão Aqui temos os direitos de igualdade. A segunda dimensão, por sua vez, compreende os direitos sociais, econômicos e culturais. 55 Essa dimensão se situa, historicamente, após a Revolução Industrial e após a transição do Estado Liberal para o Estado Social. Nesse sentido, Malheiro aduz que1 No entanto, a orientação mais correta se encontra no sentido de que a sua gênese se concebeu na Revolução Industrial, no século XIX, em face das lamentáveis condições laborais que ali se apresentavam e os movimentos sociais em defesa dos trabalhadores, bem como o apoio ao desenvolvimento e harmonização de legislação trabalhista para a melhoria nas relações de trabalho. Apesar disso, é incontestável que o fim da cruenta Primeira Guerra Mundial (28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918), que ceifou milhares de vidas em razão de preitesias desmesuradas, e a elaboração do Tratado de Versalhes (1919) em muito contribuíram para estabelecer melhorias nas condições sociais dos trabalhadores. O Tratado de Versalhes, além de fazer curvar a Alemanha, levá-la praticamente à bancarrota e ser o embrião da Segunda Guerra Mundial (1 de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945), criou a Liga das Nações, que originou a atual Organização das Nações Unidas (ONU) e também a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A concepção de uma legislação trabalhista nas relações exteriores originou-se como consequência de especulações éticas e econômicas sobre o custo humano da Revolução Industrial. A Constituição mexicana (1917) foi historicamente bastante importante por conter em seu bojo direitos de segunda dimensão. Portanto, aqui temos que esses direitos demonstram um momento histórico onde havia a necessidade de o Estado intervir na seara econômica 1MALHEIRO, Emerson. Curso de Direitos Humanos – 3. Ed, p. 40. 56 e prestar serviços essenciais como educação e saúde. Assim, temos que eles são direitos positivos, de natureza prestacional. Os seus referenciais teóricos são a “Encíclica RerumNovarumsobre a condição dos operários”, da Igreja Católica, de 1891, e o “Manifesto do Partido Comunista” de Karl Marx e Friedrich Engels, de 1848. No Brasil, a Constituição de 1934 traz os direitos de segunda dimensão. 3.3 Terceira Dimensão São os direitos de fraternidade. O final da Segunda Guerra Mundial e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, simbolizaram o marco para uma grande nova ordem mundial, da qual decorreram os direitos de terceira dimensão. Eles são os direitos difusos, dos povos, da humanidade, da solidariedade, decorrentes principalmente de um sentimento gerado frente aos abusos cometidos durante a segunda grande guerra. A sua principal característica está relacionada com o fato de serem esses direitos reconhecidos pela simples condição humana de todos os indivíduos. São exemplos o direito ao desenvolvimento, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, à comunicação, dentre outros. Aqui não temos um referencial teórico específico. Por retirar do indivíduo o seu foco, partindo para a coletividade, temos que a titularidade dos direitos de terceira dimensão é indeterminada. 57 3.4 Quarta Dimensão Sobre a quarta dimensão, temos que essa já foi afirmada por Norberto Bobbio em 1990 na obra intitulada “A Era dos Direitos”, referente aos efeitos da pesquisa biológica e da manipulação do patrimônio genético humano. Além dos direitos relativos à área genética, a quarta dimensão engloba também os direitos relacionados à área da cibernética. 3.5 Quinta dimensão Por fim, ante os graves acontecimentos do século XXI, temos que autores como Paulo Bonavides sustentama existência de uma quinta dimensão de Direitos Humanos. É o direito à paz. 1. Dimensão: Direitos civis e políticos 2. Dimensão: Direitos sociais, econômicos e culturais 3. Dimensão: Direitos de fraternidade 4. Dimensão: Direitos dos povos 5. Dimensão: Direito à paz 58 59 QUADRO SINÓTICO 3. Direitos Humanos 1aGeração 2aGeração 3aGeração Valor Liberdade Igualdade Fraternidade Direitos Civis e políticos Econômicos, sociais e culturais Difusos/de solidariedade Características Direitos negativos Direitos positivos Direitos de todos Marco jurídico Constituição Americana de 1787 e Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 Constituição de Weimar e Constituição Mexicana de 1917 Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948 Marco teórico “O Contrato Social”, de Jean Jacques Rousseau e “Segundo Tratado sobre o Governo”, de John Locke “Encíclica Rerum Novarum sobre a Condição dos Operários”, de 1891, e o “Manifesto do Partido Comunista”, de Karl Marx e Engels - 60 3. Direitos Humanos 4aGeração 5aGeração Direitos Dos povos À paz Características Preservação do ser humano Preservação da segurança e paz mundial Referencial teórico Norberto Bobbio Paulo Bonavides 61 QUESTÕES COMENTADAS Questão 1 (CEFET-BA - 2008 - PC-BA - Delegado de Polícia)“Cidadania, portanto, engloba mais que direitos humanos, porque, além de incluir os direitos que a todos são atribuídos (em virtude da sua condição humana), abrange, ainda, os direitos políticos. Correto, por seguinte, falar-se numa dimensão política, numa dimensão civil e numa dimensão social da cidadania”. (Prof. J. J. Calmon de Passos) Ao alargar a compreensão da cidadania para as três dimensões supra- referidas, o prof. Calmon de Passos A) Inova, ao focar somente o caráter educacional da cidadania plena na Grécia. B) Contribui, doutrinariamente, para que a noção da cidadania ultrapasse a clássica concepção que a restringia tão-somente ao exercício dos direitos políticos. C) Restringe o entendimento da cidadania ao exercício dos direitos de primeira geração – especialmente quanto à igualdade. D) Promove reflexão crítica em torno dos interditos proibitivos à construção de uma sociedade respeitosa para com as nuanças de sexo, gênero, raça e idade. E) Contradiz a noção fundamental de extensão da cidadania a todos sem distinção – mulheres especialmente. Comentário: Correta a alternativa "B" - Pela concepção clássica Cidadania é a condição da pessoa natural que, como membro de um Estado, se acha no gozo dos 62 direitos que lhe permitem participar da vida política. A cidadania é, segundo essa noção, portanto, o conjunto dos direitos políticos de que goza um indivíduo e que lhe permitem intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração, seja ao votar (direto), seja ao concorrer a cargo público (indireto). Questão 2 (PC-MG - 2008 - PC-MG - Delegado de Polícia)Encontramos na doutrina dos Direitos Humanos a afirmação de que, para compreender a evolução dos direitos individuais no contexto da evolução constitucional, é preciso retomar alguns aspectos da evolução dos tipos de Estado. Analise as seguintes afirmativas e assinale a que NÃO corrobora o enunciado acima. A) A primeira fase do Estado Liberal caracteriza-se pela vitória da proposta econômica liberal, aparecendo teoricamente os direitos individuais como grupo de direitos que se fundamentam na propriedade privada, principalmente na propriedade privada dos meios de produção. B) As mudanças sociais ocorridas no início do século XX visavam armar os indivíduos de meios de resistência contra o Estado. Desse modo, a proteção dos direitos e liberdades fundamentais torna-se o núcleo essencial do sistema político da democracia constitucional. C) As constituições socialistas consagraram uma economia socialista, garantindo a propriedade coletiva e estatal e abolindo a propriedade privada dos meios de produção, dando uma clara ênfase aos direitos econômicos e sociais e uma proposital limitação aos direitos individuais. 63 D) A implementação efetiva dos direitos sociais e econômicos em boa parte da Europa Ocidental no pós-guerra, como saúde e educação públicas, trouxe consigo o germe da nova fase democrática do Estado Social e da superação da visão liberal dos grupos de direitos fundamentais. Comentário: Correta a alternativa "B": A (Correta): Interessante sobre tais direitos é a verificação de que a sua defesa foi feita, sobretudo pelos EUA. Estes defendiam a perspectiva liberal dos direitos humanos, os quais foram consagrados no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; B (Incorreta): As mudanças sociais, ocorridas no início do século XX, não tinham como principal finalidade dotas os indivíduos de meios de resistência contra o Estado. Ademais, as democracias constitucionais tornaram-se realidade como forma de governo somente no pós-guerra; C (Correta): O socialismo refere-se à teoria de organização econômica que advoga a propriedade pública ou coletiva, a administração pública dos meios de produção e distribuição de bens para construir uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades para todos os indivíduos. O socialismo moderno surgiu no final do século XVIII tendo origem na classe intelectual e nos movimentos políticos da classe trabalhadora que criticavam os efeitos da industrialização e da sociedade calcada na propriedade privada. Importante apontar o papel da URSS, pois esta defendia a perspectiva social dos direitos humanos, os quais foram consagrados no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; D (correta): A formatação de estados sociais (welfare state) na Europa ocidental do pós-guerra tem como grande finalidade a implementação dos 64 direitos econômicos, sociais e culturais de sua populações que muito sofreram como os conflitos mundiais e tinham pouca esperança para o futuro. Questão 3 (PC-MG - 2008 - PC-MG - Delegado de Polícia)O Direito Internacional dos Direitos Humanos resultou de um processo histórico de gradual formação, consolidação, expansão e aperfeiçoamento da proteção internacional dos direitos humanos. É um direito de proteção dotado de especificidade própria. Com relação a esse processo histórico, assinale a afirmativa INCORRETA. A) A aceitação universal da tese da indivisibilidade dos direitos humanos eliminou a disparidade entre os métodos de implementação internacional dos direitos civis e políticos e dos direitos econômicos, sociais e culturais, deixando de ser negligenciados estes últimos. B) A gradual passagem da fase legislativa de elaboração dos primeiros instrumentos internacionais de direitos humanos, à fase de implementação de tais instrumentos, pode ser considerada como resultado da primeira Conferência Mundial de Direitos Humanos, ocorrida em Teerã no ano de 1968. C) Uma das grandes conquistas da proteção internacional dos direitos humanos é, sem dúvida, o acesso dos indivíduos às instâncias internacionais de proteção e o reconhecimento de sua capacidade processual internacional em casos de violações dos direitos humanos. D) Graças aos esforços dos órgãos internacionais de supervisão nos planos global e regional, logrou-se salvar muitas vidas, reparar muitos danos denunciados e comprovados, bem como adotar programas educativos e outras medidas positivas por parte dos governos. 65 Comentário: Correta a alternativa "A": estava incorreta pela crise existente entre o universalismo cultural e o relativismo, motivo pelo
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