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Direitos humanosDireitos humanos AUTORIA Jaqueline da Silva Paulichi Bem vindo(a)! Olá, caro(a) aluno(a), tudo bem? Vamos estudar sobre direitos humanos neste módulo, matéria que é de extrema relevância para o contexto social em que vivemos. Você já percebeu a quantidade de matérias jornalísticas relacionadas aos direitos humanos ultimamente? Por esse motivo a disciplina aqui em comento é tão necessária e tão importante no nosso dia a dia. Os direitos humanos são os direitos daquelas pessoas que se encontram em situações de vulnerabilidade, pessoas que foram ou ainda são tratadas de forma indigna, protegendo seus direitos como cidadãos. Na Unidade I vamos estudar sobre a Gênese histórica dos direitos humanos, demonstrando uma breve evolução histórica da disciplina e o seu Conceito no pensamento jusnaturalista moderno. Por �m, vamos aprender sobre a positivação dos direitos humanos no constitucionalismo moderno. Na Unidade II iremos abordar acerca dos direitos humanos no direito internacional contemporâneo, sua fundamentação e a crítica doutrinária que se faz acerca do conceito do que são os direitos humanos. Nenhum conceito doutrinário será o su�ciente para abranger toda a complexidade de direitos que compreende essa disciplina, que é tão discriminada nos bancos acadêmicos. Na Unidade III iremos abordar a sua Polissemia conceitual, a ideia de gerações e suas críticas e os principais documentos. Também iremos discutir acerca das características (ou princípios) da universalidade em contraponto à relatividade. Por �m, na Unidade IV vamos analisar a proteção constitucional aos Direitos Humanos, bem como a sua Proteção internacional e os Direitos Fundamentais. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer essa jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e pro�ssional. Muito obrigado e bom estudo! Sumário Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da unidade, assista ao vídeo de considerações �nais. Unidade 1 Introdução aos direitos humanos Unidade 2 Fundamentos e conceitos de direitos humanos Unidade 3 Evolução dos direitos humanos Unidade 4 Direitos humanos e direitos fundamentais Introdução aos direitos humanos AUTORIA Jaqueline da Silva Paulichi Sumário Introdução 1 - Gênese histórica dos direitos humanos 2 - Conceito de direitos humanos no pensamento jusnaturalista moderno 3 - Positivação dos direitos humanos no constitucionalismo moderno Considerações Finais Introdução Olá, estudante, tudo bem? Nesta unidade iremos estudar sobre os conceitos iniciais de direitos humanos, bem como a sua importância como disciplina autônoma para o direito. Iremos abordar também os diferentes conceitos da disciplina e entender o porquê essa matéria é considerada tão complexa pelos estudantes de direito. Vamos analisar a evolução histórica dos direitos humanos, o reconhecimento de documentos internacionais pela ordem jurídica interna, e também vamos ler e analisar os documentos internacionais que tratam sobre direitos humanos. Posteriormente, vamos estudar sobre o jusnaturalismo e sua importância para a disciplina, realizando breve comparação com o positivismo. Por �m, iremos estudar sobre os direitos humanos na ordem constitucional moderna, em que há o reconhecimento de documentos internacionais que tratam sobre direitos humanos na ordem jurídica interna, por meio do reconhecimento e positivação nas Constituições. Veja os materiais complementares e as leituras recomendadas!!! Bom estudo! Plano de Estudo: 1. Conceitos e De�nições sobre Direitos Humanos, evolução histórica e �losó�ca, além da análise dos direitos humanos para o jusnaturalismo e o reconhecimento de documentos internacionais na ordem interna constitucional, e a positivação dos direitos humanos no Constitucionalismo Moderno. Objetivos de Aprendizagem: 1. Conceituar e contextualizar a disciplina de Direitos Humanos. 2. Discutir sobre os diferentes conceitos da disciplina. 3. Analisar o objeto de estudo da disciplina, bem como sua evolução histórica e �losó�ca. 4. Compreender as teorias que tratam sobre o jusnaturalismo e positivismo. 5. Estudar a positivação dos direitos humanos no Constitucionalismo moderno. Gênese histórica dos direitos humanos Introdução Direitos humanos é uma disciplina ligada ao direito internacional público, em que se estudam os direitos dos cidadãos previstos na ordem internacional. Dessa forma, a disciplina possui extrema relevância para a compreensão dos direitos que os cidadãos possuem no ordenamento jurídico brasileiro e na ordem internacional. Os direitos humanos compreendem um conjunto de normas de ordem internacional, que confere direitos e deveres às pessoas, reconhecendo a sua vulnerabilidade, dignidade e necessidade de proteção das minorias e grupos vulneráveis. Esta disciplina abrange muito mais que direitos das pessoas presas ou de pessoas que se encontram em situação de necessidade, eis que os direitos básicos previstos na Constituição Federal de 1988 decorrem de documentos internacionais que reconheceram, por exemplo, a necessidade de proteção ao consumidor, às crianças, às pessoas com de�ciência, o direito ao voto, direito de propriedade, dentre outros. Esses direitos compreendem os direitos civis e políticos, os direitos difusos e coletivos e direitos econômicos, sociais e culturais. Incluem os direitos à vida, à integridade física, à liberdade de ir e vir, liberdade de manifestação, opinião, voto, religiosa, associação, dentre outras, bem como o direito de propriedade, direito de ação, direito ao nome, ao desenvolvimento sustentável, dentre outros. Evolução dos Direitos Humanos Considerando que a pessoa humana é igual em todos os locais, independentemente de suas diversidades culturais, religiosas, geográ�cas etc., o tratamento dispensado às pessoas também deve ser igual. Dessa forma, o jusnaturalismo ressalta a pessoa humana como o fundamento absoluto, atemporal e global dos direitos humanos. O jusnaturalismo é amparado por diversos doutrinadores, como Dalmo de Abreu Dalari e Fábio Konder Comparato. O jusnaturalismo, ou direito natural, é a teoria que fundamenta o direito no bom senso, racionalidade, equidade e pragmatismo. A partir do jusnaturalismo que se pode compreender outras vertentes �losó�cas do direito e, a partir dele, surgiram as outras correntes sobre o direito em si. De acordo com a doutrina do contratualismo, que remonta à �loso�a grega, a sociedade humana e o Estado originaram por um acordo ou contrato estabelecido entre cidadãos autônomos, valorizando, desta maneira, a liberdade individual. Pelo positivismo, todo o direito passa a ser positivo e o direito natural deixa de ser direito. Como diz Bobbio: “o direito positivo é direito, o direito natural não é direito”. Podemosdestacar que a noção de direitos humanos foi cunhada ao longo dos últimos trêsmilênios da civilização. Grande parte da doutrina a�rma que os direitoshumanos foram cunhados ao longo dos últimos três milênios da civilização. Dessaforma, o período de formação do eixo �losó�co ou período axial dos direitoshumanos abrange os anos de 800 antes de Cristo a 200 antes de Cristo, que marcaparte da história em que a China ocidente e a Índia passaram a defenderprincípios �losó�cos semelhantes. Também nesse período nasce a �loso�a e a ideia de igualdade entre as pessoas. Bezerra Leite (2014, p. 2) explica em detalhes sobre o período citado: É possível adotar diversos critérios para estudar a História dos Direitos Humanos, como o mitológico, o religioso, o político, o �losó�co, o sociológico e o jurídico. Nesta obra discorreremos sobre a origem dos Direitos Humanos com ênfase para a perspectiva jurídica. Do ponto de vista jurídico-normativo, vamos encontrar as primeiras leis que, não obstante os rigorismos das sanções que previamem caso de sua inobservância, buscam enaltecer a necessidade da convivência harmônica entre as pessoas. Cronologicamente, podemos citar as primeiras leis que, de certo modo, acabaram in�uenciando a formação histórica dos Direitos Humanos. Ei-las: - 1694 a. C. – Código de Hamurabi (Mesopotâmia) - 3000-1000 a. C. – Civilização Egeia - 1300-450 a. C. – Lei Mosáica (Pentateuco) - 1300-800 a. C. – Código de Manu (Hinduísmo) - 1000 a. C. – Leis Zoroastrianas • Séculos XV-XIV a. C. – surgem as Legislações Budista e Confuciana - 450 a. C. – Lei das XII Tábuas (Roma) - Séculos I a XV – Legislação Cristã - Século VII – Legislação Islâmica Entre os séculos VIII e II a. C., Isto é, entre 600 e 480 a. C., coexistiram, embora desconhecendo-se uns aos outros, Zaratrusta (Pérsia), Buda (Índia), Lao-Tsê e Confúcio (China), Pitágoras (Grécia) e Isaías (Israel). É exatamente nesse período, chamado de axial, que surgem as primeiras formulações teóricas que abandonam as explicações mitológicas e propõem a elaboração dos grandes princípios e diretrizes fundamentais da vida humana, até hoje em vigor. O Cristianismo também contribuiu para a evolução dos direitos humanos, estabelecendo que os homens são iguais perante Deus. A partir do século XIV, com as transformações decorrentes do iluminismo, houve alteração das estruturas da organização social e política da época. Destaca-se que o iluminismo ocorreu entre a Revolução Inglesa de 1688 e a Revolução Francesa de 1789. CONCEITUANDO O iluminismo foi um movimento intelectual que começou na Europa a partir do século XVII e ganhou força no século XVIII. A França é considerada o país que liderou intelectualmente o iluminismo europeu. Tinha como principais características a valorização da razão, considerada o mais importante instrumento para se conseguir qualquer tipo de conhecimento. Para os �lósofos, o pensamento era a única luz capaz de iluminar as “trevas” (antigo regime). Os pensadores de grande reconhecimento dessa época foram René Descarts, Montesquieu, Voltaire, Jacques Rousseau, Denis Diderot, Adam Smith, etc. Foi um momento de contestar os ideais religiosos que eram predominantes na época, além da economia e política, provocando mudanças sociais e culturais. Chamado de “século das luzes”, o iluminismo trouxe ideias voltadas à razão para deslegitimar o modelo de estado predominante na época. Seu ideal era defender a liberdade, progresso, tolerância, fraternidade, governo constitucional e afastamento entre igreja e estado. Junto com o iluminismo, a Revolução Industrial abriu caminhos para a grande mudança política determinada pela Revolução Francesa. O matemático francês René Descartes (1596-1650), considerado o pai do racionalismo, foi um dos precursores desse movimento. Em sua obra “Discurso do método”, que repercutiu na época, Descartes convida as pessoas a questionarem tudo o quanto for possível para se chegar à verdade. Para ele, somente através da dúvida é possível compreender o mundo. No �nal do século XVII e na primeira metade do século XVIII, a in�uência dominante sobre a ideologia do iluminismo veio das percepções mecanicistas (doutrina segundo a qual os seres vivos são analisados ou entendidos a partir de uma sucessão de causas). Neste âmbito, o �lósofo da natureza mais in�uente foi o físico inglês Isaac Newton. Contudo, na metade do século XVIII os iluministas iam se afastando pouco a pouco das ideias mecanicistas e começaram a se aproximar das teorias vitalistas. As teorias sociais e �losó�cas desenvolvidas na segunda metade do século XVIII, por autores que contribuíram com o iluminismo como Denis Diderot e Johann Gottfried von Herder, entre muitos outros, tiveram grande in�uência das obras de naturalistas Johann Friedrich Blumenbach (classi�cou o ser humano em raças). Algumas literaturas colocam o Iluminismo como uma escola �losó�ca, mas não existia somente um movimento. Pensadores e cientistas de áreas distintas colaboraram para as mudanças de pensamento estabelecidos pela época. Foi um momento de mentes brilhantes pesquisarem, escreverem e divulgarem suas descobertas e teorias. O iluminismo desempenhou grande in�uência sobre o aspecto político e intelectual de boa parte dos países ocidentais. Algumas mudanças políticas importantes aconteceram, bem como a implantação e formação de estados-nação, a ampliação de direitos civis, além da A Revolução Francesa trouxe os ideais que representariam os direitos humanos, como a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Com o término da Segunda Guerra Mundial, as pessoas se conscientizaram acerca do tratamento digno ao ser humano. Consequentemente, houve a criação da Organização das Nações Unidas e na declaração de inúmeros Tratados Internacionais de Direitos Humanos, como “A Declaração Universal dos Direitos do Homem”, como ideal comum de todos os povos. Documentos Históricos O primeiro documento a tratar dos direitos humanos foi a Magna Carta, que submeteu o governante a um corpo escrito de normas, ressaltando a inexistência de arbitrariedades na cobrança de impostos. A cobrança de uma multa ou ainda a prisão de uma pessoa necessitava de um julgamento justo. A Petition of Rights tenta incorporar os direitos previstos na Magna Carta, através da obrigatoriedade de consentimento do parlamento para a realização de inúmeros atos. O Habeas Corpus Act instituiu o direito à liberdade de locomoção a todos os indivíduos. A Bill of Rights assegurou a supremacia do Parlamento sobre a vontade do Rei. A Declaração de Direitos do estado da Virgínia prevê que: diminuição do poder da igreja. As ideias dos iluministas espalharam-se com rapidez pela sociedade. Até os reis absolutistas, na época, receosos de perderem seu posto, passaram a adotar algumas ideias do iluminismo. Esses reis eram chamados de Déspotas Esclarecidos, pois tentavam conciliar a maneira absolutista de governar com as ideias de avanço iluministas (MENDES, 2018). A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776) e a Constituição Federal EUA, de 1787, solidi�cam barreiras contra o Estado, como tripartição do poder e assegura alguns direitos fundamentais, como a igualdade entre os homens, a vida, a liberdade, a propriedade. As Emendas Constitucionais americanas permanecem em vigor até hoje, demonstrando o caráter atemporal desses direitos fundamentais. SAIBA MAIS todos os homens são por natureza igualmente livres e independentes e têm certos direitos inatos de que, quando entram no estado de sociedade, não podem, por nenhuma forma, privar ou despojar de sua posteridade, nomeadamente o gozo da vida e da liberdade, com os meios de adquirir e possuir propriedade e procurar e obter felicidade e segurança. Fonte: DIREITO INTERNACIONAL, Legislação. Declaração de Direitos do Bom Povo da Virgínia, 12 de junho de 1776. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/decl776.htm>. Acesso em: 08.12.2020 http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/decl776.htm SAIBA MAIS As 11 emendas da Constituição dos EUA promulgadas em 1798 Artigo 1º - O Congresso não fará lei relativa ao estabelecimento de religião ou proibindo o livre exercício desta, ou restringindo a liberdade de palavra ou de imprensa, ou o direito do povo de reunir-se paci�camente e dirigir petições ao governo para a reparação de seus agravos. Artigo 2º - Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, não se impedirá o direito do povo de possuir e portar armas. Artigo 3º - Nenhum soldado será, em tempo de paz, alojado em qualquer casa sem o consentimento do proprietário, nem em tempo de guerra, salvo pela forma prescrita em lei. Artigo 4º - Não será infringido o direito do povo à inviolabilidade de sua pessoa, casas, papéis e haveres, contra buscas e apreensões irrazoáveis e não se expedirá mandado a não ser mediante indícios de culpabilidade, con�rmados por juramento ou declaração, e nele se descreverão particularmente o lugar da busca e as pessoas ou coisas que tiverem de ser apreendidas. Artigo 5º - Nenhumapessoa será obrigada a responder por um crime capital ou infamante, salvo por denúncia ou pronúncia de um grande júri, exceto em se tratando de casos que, em tempo de guerra ou de perigo público, ocorram nas forças terrestres ou navais, ou na milícia, quando em serviço ativo; nenhuma pessoa será, pelo mesmo crime, submetida duas vezes a julgamento que possa causar-lhe a perda da vida ou de algum membro; nem será obrigada a depor contra si própria em processo criminal ou ser privada da vida, liberdade ou propriedade sem processo legal regular ("due process of law"); a propriedade privada não será desapropriada para uso público sem justa indenização. Artigo 6º - Em todos os processos criminais o acusado terá direito a julgamento rápido e público, por júri imparcial no Estado e distrito onde o crime houver sido cometido, distrito esse que será previamente delimitado por lei; a ser informado da natureza e causa da acusação; a ser acareado com as testemunhas que lhe são adversas; a dispor de meios compulsórios para forçar o comparecimento de testemunhas da defesa e a ser assistido por advogado. Artigo 7º - Nos processos segundo a "common law", em que o valor da causa exceder US$ 20, será garantido o direito a julgamento pelo júri e os fatos julgados por este não serão reexaminados em nenhum tribunal dos Estados Unidos, a não ser de acordo com as regras da "common law". Após a Revolução Francesa, de 1789, foi aprovada a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, que garante os direitos referentes à liberdade, propriedade, segurança e resistência à opressão. Destaca o princípio da legalidade e da igualdade de todos perante a lei e da soberania popular. No século XX ocorreu a regulação dos direitos econômicos e sociais que passaram a incorporar as Constituições Nacionais. A primeira Carta Magna, a prever esses direitos econômicos, foi a Constituição Mexicana, de 1917. Artigo 8º - Não se exigirão �anças exageradas, não se imporão multas excessivas, nem se in�igirão penas cruéis e desusadas. Artigo 9º - A enumeração de certos direitos na Constituição não será interpretada de modo que se neguem ou restrinjam outros retidos pelo povo. Artigo 10º - Os poderes não delegados aos Estados Unidos pela Constituição, nem proibidos pela mesma aos Estados, são reservados aos Estados, respectivamente, ou ao povo. Artigo 11º - O poder judiciário dos Estados Unidos não se entenderá como extensivo a qualquer ação segundo a lei ou a equidade iniciada ou processada contra um dos Estados por cidadãos de outro Estado, ou por cidadãos ou súditos de qualquer estado estrangeiro. Emendas em vigor desde 8 de janeiro de 1798. Fonte: Constituição dos Estados Unidos da América. Conceito de direitos humanos no pensamento jusnaturalista moderno O jusnaturalismo é a teoria que defende a existência de direitos inatos ao ser humano, independente de positivação pelos legisladores. Esse direito natural, por existir independente da lei, é maior que o direito positivo, e, assim, em eventual con�ito de normas, o jusnaturalismo deverá prevalecer. O jusnaturalismo a�gura-se como uma corrente juris�losó�ca de fundamentação do direito justo que remonta às representações primitivas da ordem legal de origem divina, passando pelos so�stas, estoicos, padres da igreja, escolásticos, racionalistas dos séculos XVII e XVIII, até a �loso�a do direito natural do século XX. Com base no magistério de Norberto Bobbio (1999, p. 22), podem ser vislumbradas duas teses básicas do movimento jusnaturalista. A primeira tese é a pressuposição de duas instâncias jurídicas: o direito positivo e o direito natural. O direito positivo corresponderia ao fenômeno jurídico concreto, apreendido pelos órgãos sensoriais, sendo, desse modo, o fenômeno jurídico empiricamente veri�cável, tal como ele se expressa por meio das fontes de direito, especialmente aquelas de origem estatal. Por sua vez, o direito natural corresponderia a uma exigência perene, eterna ou imutável de um direito justo, representada por um valor transcendental ou metafísico de justiça. A segunda tese do jusnaturalismo é a superioridade do direito natural em face do direito positivo. Nesse sentido, o direito positivo deveria, conforme a doutrina jusnaturalista, adequar--se aos parâmetros imutáveis e eternos de justiça. O direito natural enquanto representativo da justiça serviria como referencial valorativo (o direito positivo deve ser justo) e ontológico (o direito positivo injusto deixar de apresentar juridicidade), sob pena de a ordem jurídica identi�car-se com a força ou o mero arbítrio. O direito vale caso seja justo e, pois, legítimo, daí resultando a subordinação da validade à legitimidade da ordem jurídica (SOARES, 2019, p. 141). Assim, para o jusnaturalismo, os direitos humanos são direitos naturais do indivíduo, originários e inalienáveis, que existem independente do Estado. Cabe ao Legislador apenas o reconhecimento dos direitos humanos, eis que esses direitos existem independente do Estado. Nota-se que os direitos humanos na linha jusnaturalista seria o direito à vida, integridade física, liberdades (e suas diversas vertentes), dentre outros direitos fundamentais do cidadão. Para os jusnaturalistas, existe a ideia de anterioridade dos direitos humanos em relação ao Estado. Alguns autores renomados procuram de�nir os direitos humanos para a corrente jusnaturalista, no qual colaciona-se a seguir (LEITE, 2014, p. 37): Pérez Luno de�ne: “conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional”. Maurice Cranston: “uma expressão do século XX tradicionalmente conhecida como direitos naturais, ou, simplesmente, direitos do homem”. Alexandre de Moraes: “sustenta que os direitos humanos fundamentais constituem um conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por �nalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana”. José Afonso da Silva: “reconhece a di�culdade de se conceituar direitos humanos, mas prefere a expressão direitos fundamentais do homem, porque além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas”. Positivação dos direitos humanos no constitucionalismo moderno A era contemporânea dos direitos humanos pode ser destacada a partir da Revolução Francesa e, consequentemente, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. A partir dessa declaração, inúmeras mudanças de impacto surgiram, como: a incorporação das previsões da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão nas Constituições; as decisões que se referem à Declaração como fonte de direito, reconhecendo a sua importância e legitimidade; e, por �m, a previsão nas Constituições acerca da Declaração. Esse reconhecimento da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 pelas Constituições Nacionais demonstra a legitimidade e importância das Declarações que tratam sobre direitos humanos. Segue a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789: Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a �m de que esta declaração, sempre presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus deveres; a �m de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser aqualquer momento comparados com a �nalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a �m de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral. Em razão disto, a Assembléia Nacional reconhece e declara, na presença e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão: Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 2º. A �nalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão. Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei. Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência. Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei. Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei. Art. 11º. A livre comunicação das idéias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei. Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é con�ada. Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades. Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de veri�car, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe �xar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração. Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração. Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização. Fonte: USP, s.d., on-line. REFLITA “Os direitos humanos são, portanto, direitos protegidos pela ordem internacional (especialmente por meio de tratados multilaterais, globais ou regionais) contra as violações e arbitrariedades que um Estado possa cometer às pessoas sujeitas à sua jurisdição. São direitos indispensáveis a uma vida digna e que, por isso, estabelecem um nível protetivo (standard) mínimo que todos os Estados devem respeitar, sob pena de responsabilidade internacional. Assim, os direitos humanos são direitos que garantem às pessoas sujeitas à jurisdição de um dado Estado meios de vindicação de seus direitos, para além do plano interno, nas instâncias internacionais de proteção (v.g., em nosso entorno geográ�co, perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que poderá submeter a questão à Corte Interamericana de Direitos Humanos). Destaque-se, por �m, que, quando se trata da proteção dos direitos humanos, não importa a nacionalidade da vítima, bastando ter sido ela violada em seus direitos de índole internacional por ato de um Estado sob cuja jurisdição se encontrava. No que tange à proteção do sistema global (onusiano), não há maiores problemas, havendo dúvidas no que toca à proteção regional. Tout court, a competência do sistema regional (e do tribunal respectivo) para veri�car a responsabilidade internacional de um Estado, está a depender da jurisdição (não do locus geográ�co) em que tenha sido cometida a violação de direitos humanos, independentemente da nacionalidade da vítima (importando apenas de qual sistema de proteção faz parte o Estado). Assim, uma violação de direitos a cidadão francês no Brasil previne a competência do sistema interamericano de direitos humanos (Comissão e Corte Interamericanas de Direitos Humanos); já uma violação de direitos a cidadão brasileiro na Guiana Francesa (departamento ultramarino francês) previne a competência do sistema europeu de direitos humanos (Corte Europeia de Direitos Humanos)”. Fonte: Mazzuoli (2020, p. 20). Livro Livro Vídeo Web Web Fundamentos e conceitos de direitos humanos AUTORIA Jaqueline da Silva Paulichi Sumário Introdução 1 - Direitos humanos no direito internacional contemporâneo 2 - Fundamentação dos direitos humanos 3 - Crítica ao conceito de direitos humanos Considerações Finais Introdução Olá, estudante, tudo bem? Nesta unidade iremos estudar sobre Direitos humanos no direito internacional contemporâneo, a Fundamentação dos direitos humanos e Crítica ao conceito de direitos humanos. É importante que você leia os materiais recomendados, assim como os tratados e convenções que iremos mencionar nesta apostila, pois irão auxiliar nos seus estudos. Veja os materiais complementares e as leituras recomendadas!!! Bom estudo! Plano de Estudo: 1. Conceitos e De�nições sobre Direitos humanos no direito internacional contemporâneo; 2. Fundamentação dos direitos humanos; 3. Crítica ao conceito de direitos humanos. Objetivos de Aprendizagem: 1. Analisar os direitos humanos na ótica do direito internacional. 2. Re�etir sobre a disciplina e seu fundamento jurídico. 3. Discutir acerca do Conceito de Direitos Humanos. Direitos humanos no direito internacional contemporâneo Os Direitos Humanos no Direito Internacional têm início a partir do Pós Guerra, sendo considerado uma resposta às atrocidades realizadas durante o movimento nazista. Assim, procurou-se redesenhar os aspectos de dignidade e direitos humanos, elaborando um referencial teórico apto a orientar a ordem internacional contemporânea. Dessa forma, foi adotada a conversão dos direitos humanos em tema de legítimo interesse da comunidade internacional. Consequentemente, formou-se um sistema normativo internacional de proteção de direitos humanos, em âmbito regional e global. Esses documentos trazem rumos norteadores da proteção da pessoa, baseados no princípio da dignidadeda pessoa humana (PIOVESAN, s.d.). O princípio da dignidade da pessoa humana está previsto no art. 1º, inc. III da Constituição Federal, elevando-o a fundamento da República Federativa do Brasil. Esse princípio é utilizado como fundamentação em diversos julgados do STF e STJ. Veja alguns casos já decididos pelo STF: Deixar a cargo da mulher autora da representação a decisão sobre o início da persecução penal signi�ca desconsiderar o temor, a pressão psicológica e econômica, as ameaças sofridas, bem como a assimetria de poder decorrente de relações histórico-culturais, tudo a contribuir para a diminuição de sua proteção e a prorrogação da situação de violência, discriminação e ofensa à dignidade humana. Implica relevar os graves impactos emocionais impostos pela violência de gênero à vítima, o que a impede de romper com o estado de submissão. [...] Descabe interpretar a Lei Maria da Penha de forma dissociada do Diploma Maior e dos tratados de direitos humanos rati�cados pelo Brasil, sendo estes últimos normas de caráter supralegal também aptas a nortear a interpretação da legislação ordinária. Não se pode olvidar, na atualidade, uma consciência constitucional sobre a diferença e sobre a especi�cação dos sujeitos de direito, o que traz legitimação às discriminações positivas voltadas a atender as peculiaridades de grupos menos favorecidos e a compensar desigualdades de fato, decorrentes da cristalização cultural do preconceito. [...] Procede às inteiras o pedido formulado pelo PGR, buscando-se o empréstimo de concretude maior à CF. Deve-se dar interpretação conforme à Carta da República aos arts. 12, I; 16; e 41 da Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha – no sentido de não se aplicar a Lei 9.099/1995 aos crimes glosados pela lei ora discutida, assentando-se que, em se tratando de lesões corporais, mesmo que consideradas de natureza leve, praticadas contra a mulher em âmbito doméstico, atua-se mediante ação penal pública incondicionada. [...] Representa a Lei Maria da Penha elevada expressão da busca das mulheres brasileiras por igual consideração e respeito. Protege a dignidade da mulher, nos múltiplos aspectos, não somente como um atributo inato, mas como fruto da construção realmente livre da própria personalidade. Contribui com passos largos no contínuo caminhar destinado a assegurar condições mínimas para o amplo desenvolvimento da identidade do gênero feminino. [ADI 4.424, voto do rel. min. Marco Aurélio, j. 9-2-2012, P, DJE de 1º-8-2014.] = ARE 773.765 RG, rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-4-2014, P, DJE de 28-4-2014, Tema 713 (BRASIL, 2008) [...] a dignidade da pessoa humana precede a Constituição de 1988 e esta não poderia ter sido contrariada, em seu art. 1º, III, anteriormente a sua vigência. A arguente desquali�ca fatos históricos que antecederam a aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei 6.683/1979. [...] A inicial ignora o momento talvez mais importante da luta pela redemocratização do País, o da batalha da anistia, autêntica batalha. Toda a gente que conhece nossa história sabe que esse acordo político existiu, resultando no texto da Lei 6.683/1979. [...] Tem razão a arguente ao a�rmar que a dignidade não tem preço. As coisas têm preço, as pessoas têm dignidade. A dignidade não tem preço, vale para todos quantos participam do humano. Estamos, todavia, em perigo quando alguém se arroga o direito de tomar o que pertence à dignidade da pessoa humana como um seu valor (valor de quem se arrogue a tanto). É que, então, o valor do humano assume forma na substância e medida de quem o a�rme e o pretende impor na qualidade e quantidade em que o mensure. Então o valor da dignidade da pessoa humana já não será mais valor do humano, de todos quantos pertencem à humanidade, porém de quem o proclame conforme o seu critério particular. Estamos então em perigo, submissos à tirania dos valores. [...] Sem de qualquer modo negar o que diz a arguente ao proclamar que a dignidade não tem preço (o que subscrevo), tenho que a indignidade que o cometimento de qualquer crime expressa não pode ser retribuída com a proclamação de que o instituto da anistia viola a dignidade humana. [...] O argumento descolado da dignidade da pessoa humana para a�rmar a invalidade da conexão criminal que aproveitaria aos agentes políticos que praticaram crimes comuns contra opositores políticos, presos ou não, durante o regime militar, esse argumento não prospera. [ADPF 153, voto do rel. min. Eros Grau, j. 29-4-2010, P, DJE de 6-8-2010.] (BRASIL, 2010). A pesquisa cientí�ca com células-tronco embrionárias, autorizada pela Lei 11.105/2005, objetiva o enfrentamento e cura de patologias e traumatismos que severamente limitam, atormentam, infelicitam, desesperam e não raras vezes degradam a vida de expressivo contingente populacional (ilustrativamente, as atro�as espinhais progressivas, as distro�as musculares, a esclerose múltipla e a lateral amiotró�ca, as neuropatias e as doenças do neurônio motor). A escolha feita pela Lei de Biossegurança não signi�cou um desprezo ou desapreço pelo embrião in vitro, porém uma mais �rme disposição para encurtar caminhos que possam levar à superação do infortúnio alheio. Isso no âmbito de um ordenamento constitucional que desde o seu preâmbulo quali�ca "a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça" como valores supremos de uma sociedade mais que tudo "fraterna". O que já signi�ca incorporar o advento do constitucionalismo fraternal às relações humanas, a traduzir verdadeira comunhão de vida ou vida social em clima de transbordante solidariedade em benefício da saúde e contra eventuais tramas do acaso e até dos golpes da própria natureza. Contexto de solidária, compassiva ou fraternal legalidade que, longe de traduzir desprezo ou desrespeito aos congelados embriões in vitro, signi�ca apreço e reverência a criaturas humanas que sofrem e se desesperam. Inexistência de ofensas ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com células-tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os �ns a que se destinam) signi�ca a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade (ministro Celso de Mello). [...] A Lei de Biossegurança caracteriza-se como regração legal a salvo da mácula do açodamento, da insu�ciência protetiva ou do vício da arbitrariedade em matéria tão religiosa, �losó�ca e eticamente sensível como a da biotecnologia na área da medicina e da genética humana. Trata-se de um conjunto normativo que parte do pressuposto da intrínseca dignidade de toda forma de vida humana, ou que tenha potencialidade para tanto. A Lei de Biossegurança não conceitua as categorias mentais ou entidades biomédicas a que se refere, mas nem por A proteção internacional dos direitos humanos traz um mecanismo de responsabilização e controle internacional que pode ser acionado toda vez que a ordem nacional interna não se mobilizar para corrigir as violações aos direitos humanos. Assim, quando o estado acolhe essa forma de proteção internacional, bem como se torna signatário das obrigações internacionais, ele passa a aceitar o monitoramento internacional. Consequentemente, os indivíduos se tornam sujeitos de direito internacional (PIOVESAN, s.d.). No Brasil, o marco inicial desse processo de incorporação dos documentos internacionais que versam e protegem os direitos humanos foi a rati�cação, em 1º de fevereiro de 1984, da Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (PIOVESAN, s.d.). Após a Constituição Federal de 1988, os tratados internacionais que versam sobre direitos humanos foram rati�cados pelo Brasil, que são (PIOVESAN, s.d.).: 1. a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989; 2. a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, em 28 de setembro de 1989; 3. a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembrode 1990; 4. o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992; 5. o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; 6. a Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992; 7. a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995. Nota-se que na Constituição Federal de 1988, com alteração da Emenda Constitucional 45 de 2004, existe a previsão sobre a incorporação dos tratados internacionais que versam sobre direitos humanos. Assim, caso algum tratado seja votado em dois turnos, nas duas casas do Congresso Nacional, por 3/5 dos votos de seus membros, o tratado internacional que versar sobre direitos humanos terá status de Emenda à Constituição. Já os tratados que não versarem sobre direitos humanos, possuem status de lei ordinária. Por �m, os tratados e convenções internacionais que tratam de direitos humanos, mas que foram incorporados pelo ordenamento jurídico antes da Emenda Constitucional 45 de 2004, possuem status de norma de sobredireito, acima das leis ordinárias e abaixo da Constituição Federal de 1988. Leia o parágrafo terceiro do art. 5º da Constituição Federal: isso impede a facilitada exegese dos seus textos, pois é de se presumir que recepcionou tais categorias e as que lhe são correlatas com o signi�cado que elas portam no âmbito das ciências médicas e biológicas. [ADI 3.510, rel. min. Ayres Britto, j. 29-5-2008, P, DJE de 28-5-2010.] (BRASIL, 2012). 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma deste parágrafo: DLG nº 186, de 2008 , DEC 6.949, de 2009 , DLG 261, de 2015 , DEC 9.522, de 2018) (BRASIL, 1988). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc45.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/CONGRESSO/DLG/DLG-186-2008.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6949.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/CONGRESSO/DLG/DLG-261-2015.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Decreto/D9522.htm Fundamentação dos direitos humanos Tratar da fundamentação dos direitos humanos signi�ca a análise da razão de ser desta disciplina, o porquê de sua existência e seu fundamento primordial. Os direitos humanos nasceram para tutelar e proteger os interesses das pessoas, do ser humano. Em que pese toda a história mundial, em que realizaram inúmeras atrocidades contra vários grupos e minorias, deturpando o conceito de pessoa e diminuindo as suas existências, os direitos humanos surgem para proteger os cidadãos. Nota-se que, mesmo com a existência de leis, tratados internacionais, Constituições, dentre outros aspectos normativos, o ser humano ainda trata outros seres humanos como inferiores. É o que ocorre com as pessoas em situação de rua, com a população LGBTQIA+, com os índios, dependentes químicos, pobres, mulheres, negros, idosos, quilombolas, dentre outros grupos e minorias vulneráveis. Os direitos humanos retiram seu fundamento primordial do princípio da dignidade da pessoa humana (MAZZUOLI, 2017), em consonância com o que estabelece o art. 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”. A partir da Declaração Universal de 1948 podemos retirar três princípios basilares. A inviolabilidade da pessoa: o ser humano é inviolável, o que abrange o seu direito à vida e a integridade física, a vedação a tortura e ao tratamento degradante, assim como a proibição de condição análoga a de escravo. A pessoa humana não pode ser submetida a sacrifícios que irão resultar em benefícios, sejam patrimoniais ou pessoais, a outra pessoa. Ou seja, o ser humano deve ser considerado como um �m em si mesmo, e não como meio para se atingir algum outro resultado. A autonomia da pessoa; o ser humano é livre para ir e vir, para ter a liberdade de pensamento, liberdade religiosa, de convicções políticas e ideológicas. Assim, pode-se inferir que o sujeito é livre para fazer suas escolhas, desde que não inter�ra o direito de outros. A autonomia da pessoa é princípio previsto em todo ordenamento jurídico brasileiro. Por exemplo, no direito civil existe a previsão acerca da autonomia para contratar, ser contratado, liberdade para estabelecer suas obrigações, casamento, regime de bens, sucessões, dentre outros. Assim, a autonomia da vontade, ou liberdade, é importante princípio que regulamenta o direito brasileiro. O terceiro princípio básico que podemos extrair é o da dignidade da pessoa humana, que, por sua vez, é o núcleo rígido de todos os demais direitos da personalidade, direitos fundamentais, dentre outros. Dessa forma, a dignidade da pessoa humana traz o fundamento dos direitos humanos, e a partir dele podemos interpretar diversas outras normas jurídicas e de�nir sua aplicabilidade conforme o que é melhor ao ser humano. Leia a seguir um importante trecho de artigo publicado por Flávia Piovesan (2005, p. 132) acerca da dignidade da pessoa humana: No dizer de Hannah Arendt, os direitos humanos não são um dado, mas um construído, uma invenção humana, em constante processo de construção e reconstrução. Considerando a historicidade destes direitos, pode-se a�rmar que a de�nição de direitos humanos aponta a uma pluralidade de signi�cados. Tendo em vista tal pluralidade, destaca-se neste estudo a chamada concepção contemporânea de direitos humanos, que veio a ser introduzida com o advento da Declaração Universal de 1948 e reiterada pela Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993. 2 Esta concepção é fruto do movimento de internacionalização dos direitos humanos, que constitui um movimento extremamente recente na história, surgindo, a partir do pós- guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. Apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos, a era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descartabilidade da pessoa humana, que resultou no envio de 18 milhões de pessoas a campos de concentração, com a morte de 11 milhões, sendo 6 milhões de judeus, além de comunistas, homossexuais, ciganos, etc. O legado do nazismo foi condicionar a titularidade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direitos, à pertinência a determinada raça - "a raça pura ariana". No dizer de Ignacy Sachs, "o século XX foi marcado por duas guerras mundiais e pelo horror absoluto do genocídio concebido como projeto político e industrial". 3 É neste cenário que se desenha o esforço de reconstrução dos direitos humanos, como paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea. Se a 2.ª Guerra signi�cou a ruptura com os direitos humanos, o Pós-Guerra deveria signi�car a sua reconstrução este sentido, em 10 de dezembro de 1948, é aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como marco maior do processo de reconstrução destes direitos. Introduz ela a concepção contemporânea de direitos humanos, caracterizada pela universalidade e indivisibilidade destes direitos. Universalidade porque clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a dignidade e titularidade de direitos. Indivisibilidade porque a garantia dos direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais e vice-versa. Quando um deles é violado, os demais também o são. Os direitos humanos compõem assim uma unidade indivisível, interdependente e inter-relacionada, capaz de conjugar o catálogo de direitos civis e políticos ao catálogo de direitos sociais, econômicos e culturais. Crítica ao conceito dedireitos humanos O conceito de direitos humanos que temos hoje não é o su�ciente para abarcar toda a complexidade de direitos que envolvem a disciplina de direitos humanos. Nota-se que os direitos humanos tratam dos direitos do sujeito, da pessoa. Basta que seja pessoa humana que esta terá os seus direitos garantidos. No entanto, nem todo país adere às normas de direitos humanos ou aos tratados e convenções internacionais. Dessa forma, �ca difícil discutir direitos das mulheres, por exemplo, em países que entendem que as mulheres são seres inferiores. Mesmo no Brasil, em que temos diversas normas que procuram tutelar e proteger os grupos e vulneráveis, ainda temos di�culdade em fazer valer os direitos dessas pessoas. Mazzuoli (2017, p. 47) explica o seguinte: Direitos humanos é uma expressão intrinsecamente ligada ao direito internacional público. Assim, quando se fala em “direitos humanos”, o que tecnicamente se está a dizer é que há direitos que são garantidos por normas de índole internacional, isto é, por declarações ou tratados celebrados entre Estados com o propósito especí�co de proteger os direitos (civis e políticos; econômicos, sociais e culturais etc.) das pessoas sujeitas à sua jurisdição.1 Tais normas podem provir do sistema global (pertencente à Organização das Nações Unidas, por isso chamado “onusiano”) ou de sistemas regionais de proteção (v.g., os sistemas europeu, interamericano e africano). Atualmente, o tema “direitos humanos” compõe um dos capítulos mais signi�cativos do direito internacional público, sendo, por isso, objeto próprio de sua regulamentação. O conceito da disciplina é basicamente a explicação de que essa matéria nasceu e se desenvolve para tratar dos assuntos conexos ao ser humano, a sua proteção e seus interesses, para que não ocorram as atrocidades que já vivenciamos anteriormente. Assim, tem-se atualmente os sistemas de proteção internacional e regional, além das normas internas de cada país que regulamentam sobre o assunto. Continuando, o autor aduz que: https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788530988852/epub/OEBPS/Text/08_chapter01.xhtml?favre=brett#pg20a2 Destaque-se, por �m, que, quando se trata da proteção dos direitos humanos, não importa a nacionalidade da vítima, bastando ter sido ela violada em seus direitos de índole internacional por ato de um Estado sob cuja jurisdição se encontrava. No que tange à proteção do sistema global (onusiano), não há maiores problemas, havendo dúvidas no que toca à proteção regional. Tout court, a competência do sistema regional (e do tribunal respectivo) para veri�car a responsabilidade internacional de um Estado, está a depender da jurisdição (não do locus geográ�co) em que tenha sido cometida a violação de direitos humanos, independentemente da nacionalidade da vítima (importando apenas de qual sistema de proteção faz parte o Estado). Assim, uma violação de direitos a cidadão francês no Brasil previne a competência do sistema interamericano de direitos humanos (Comissão e Corte Interamericanas de Direitos Humanos); já uma violação de direitos a cidadão brasileiro na Guiana Francesa (departamento ultramarino francês) previne a competência do sistema europeu de direitos humanos (Corte Europeia de Direitos Humanos) (MAZZUOLI, 2017, p. 49). REFLITA “Os desastres humanos das guerras, especialmente aquilo que assistiu o mundo no período da Segunda Guerra Mundial, trouxe, primeiro, a dignidade da pessoa humana para o mundo do direito como contingência que marcava a essência do próprio sóciopolítico a ser traduzido no sistema jurídico” Fonte: Rocha (2004, p.12 ). Livro Filme Web Web Web Web Web Evolução dos direitos humanos AUTORIA Jaqueline da Silva Paulichi Sumário Introdução 1 - Polissemia conceitual 2 - Ideia de gerações e suas críticas 3 - Principais documentos 4 - Universalidade x Relatividade Considerações Finais Introdução Olá, estudante, tudo bem? Nesta unidade iremos estudar sobre os conceitos de direitos humanos e suas gerações. Iremos abordar as diferenças terminológicas e analisar as características da disciplina, como a universalidade e a relatividade cultural, no qual vamos abordar as características de um povo e as consequências para os direitos humanos. Também iremos estudar acerca das gerações de direitos humanos, como os direitos relativos à liberdade, à igualdade e à solidariedade, e os documentos internacionais que tratam de direitos humanos relativo aos temas. Veja os materiais complementares e as leituras recomendadas!!! Bom estudo! Plano de Estudo: 1. Conceitos e De�nições sobre a Polissemia conceitual; 2. Ideia de gerações e suas críticas; 3. Principais documentos; 4. Universalidade X Relatividade. Objetivos de Aprendizagem: 1. Analisar os direitos humanos e sua polissemia conceitual; 2. Re�etir sobre as gerações de direitos humanos; 3. Discutir acerca dos principais documentos que versam sobre direitos humanos. 4. Estudar sobre as características principais da disciplina. Polissemia conceitual A polissemia quer dizer que existem inúmeros conceitos acerca do que se trata os direitos humanos. Ressalta-se que os direitos humanos tratam dos direitos das pessoas, basta ser sujeito de direitos, basta ser pessoa que estará protegido pelas leis nacionais e internacionais que tratam de direitos humanos. No entanto, existem diversos signi�cados para mesma disciplina, pois deve ser analisada sob a ótica da proteção nacional, da proteção regional e da proteção internacional dos direitos humanos, além dos documentos que protegem os sujeitos em relação a tratamento degradante ou desumano, a condição análoga de escravo, a proteção das mulheres, proteção das crianças e dos adolescentes, proteção dos idosos, proteção das pessoas com de�ciência, dentre outras minorias e grupos vulneráveis. Lembrando que tratamos do conceito de direitos humanos sobre a ótica da dignidade da pessoa humana. Também tratamos dos direitos humanos sobre a ótica da análise das normas que regulamenta essa disciplina. Agora vamos analisar outros conceitos que tratam do tema. Leite (2014, p. 33) explica o conceito de direitos humanos para os juspositivistas da seguinte maneira: Os juspositivistas sustentam que os direitos humanos são fundamentais e essenciais, desde que reconhecidos pelo Estado, pelo Poder Político. Esta concepção identi�ca o direito com a lei formalmente posta. Nasce, assim, a ideia dos direitos humanos como direitos públicos subjetivos. Há, nesse caso, a ideologia constitutiva dos direitos humanos. A abordagem temática é feita no plano eminentemente jurídico- normativo. Conforme já estudado em outras unidades, os jusnaturalistas defendem que: [...] a existência de direitos naturais do indivíduo, originários e inalienáveis, decorre da ideia de que ao Estado não incumbe outorgá-los, mas tão somente reconhecê-los e aprová-los formalmente. Jus divinum (Tomás de Aquino) e Contrato Social (Rousseau) são termos inerentes ao jusnaturalismo. Há para os jusnaturalistas a ideia de anterioridade dos direitos humanos em relação ao próprio Estado, sendo a sua abordagem estudada no plano �losó�co (LEITE, 2014, p. 33). Perez Luno, autor contemporâneo, explica da seguinte maneira: [...] conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional (LEITE, 2014, p. 34). Além da polissemia conceitual, insta salientar acerca da expressão utilizada para de�nir o que são esses direitos, no qual alguns autores preferem se utilizar “direitos fundamentais do homem”, conforme citado: José Afonso da Silva reconhece a di�culdade de se conceituar direitos humanos, mas prefere a expressão direitos fundamentais do homem, por- que além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar,no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas (LEITE, 2014, p. 37). O conceito de Direitos Humanos é muito amplo. Pode ser considerado sob dois aspectos (SORONDO, s.d., on-line): - constituindo um ideal comum para todos os povos e para todas as nações, seria então um sistema de valores; - este sistema de valores, enquanto produto de ação da coletividade humana, acompanha e re�ete sua constante evolução e acolhe o clamor de justiça dos povos. Por conseguinte, os Direitos Humanos possuem uma dimensão histórica. Mas, então, o que são direitos humanos? De forma livre, podemos concluir que direitos humanos são a forma como você espera ser tratado pelos demais. De forma digna (SORONDO, s.d). Dessa forma, os direitos humanos possuem inúmeros conceitos e signi�cados, o que demonstra a sua importância no âmbito jurídico e social. Eis que os diversos autores que tratam do tema se preocupam com o mesmo: a proteção do ser humano. Assim, podemos entender que os direitos humanos estudam e protegem o ser humano. Ideia de gerações e suas críticas As gerações de direitos humanos remetem os princípios �losó�cos da revolução Francesa, quais sejam liberdade, igualdade e fraternidade. Assim, iremos abordar a gerações de direitos humanos e as suas consequências jurídicas, pois os autores que tratam do tema estabeleceram a divisão da evolução da disciplina em três ou mais gerações, delimitando a primeira geração como os direitos advindos da Liberdade e os seus documentos históricos e normativos, a segunda geração como direitos advindos da igualdade e a terceira geração os direitos de fraternidade ou solidariedade. Leite (2014, p. 86) assevera que: Pode-se dizer que a primeira dimensão dos direitos humanos surgiu com as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII. São direitos inerentes ao liberalismo clássico, encontrando, pois, inspiração no iluminismo racionalista, base do pensamento ocidental entre os séculos XVI e XIX. São também chamados de direitos individuais, direitos subjetivos ou direitos de liberdade e têm por titulares os indivíduos isoladamente considerado. Os direitos civis e políticos, que também são chamados de direitos humanos de primeira geração ou dimensão, têm por fundamento a liberdade, segurança e a integridade psíquica e física da pessoa humana no qual é assegurado a participação na vida pública e também no governo. Os direitos humanos de primeira geração são exigíveis contra o estado, pois cabe a ele garantir a sua efetivação e a sua positivação no ordenamento jurídico. Apesar do Estado ser reconhecido como maior violador dos direitos humanos, cabe a ele a tutela e a proteção dos direitos humanos contra qualquer abuso de outra pessoa ou outro órgão político. É importante destacar que os direitos humanos possuem aplicabilidade imediata, ou seja, tão logo sejam reconhecidos devem ser aplicados de forma efetiva aos sujeitos de direito. O Estado deve proporcionar à sociedade meios para que esses direitos sejam garantidos e efetivados, para que os direitos e garantias fundamentais não sejam apenas textos de lei e passem a ser garantias dos cidadãos brasileiros. Os direitos de primeira geração tratam do “não fazer”, ou seja, são garantias dos cidadãos de que o Estado não irá intervir nos seus atos, possuindo um status negativo. A segunda geração de direitos humanos diz respeito aos direitos sociais, econômicos e culturais. Os direitos humanos de segunda geração possuem um status positivo, necessitando que o Estado realize atos, um dever de fazer, de contribuir, de ajudar por parte dos órgãos que compõem o Poder Público. Leite (2014, p. 88) explica que: A positivação desses direitos deu origem ao que se convencionou chamar de “Constitucionalismo Social”, a demonstrar que os direitos humanos de primeira dimensão, especialmente o direito de propriedade, quando do seu exercício, têm que cumprir uma função social. Assim, pode-se a�rmar que os direitos de segunda dimensão se traduzem nos direitos de inclusão social, necessitando da efetivação de políticas públicas. São os direitos que tratam da igualdade entre pessoas. NA PRÁTICA São exemplos de direitos civis e políticos (LEITE, 2014): direito à vida: contra a privação da vida e do “desaparecimento”; direito à integridade física: antitortura; direito à liberdade: contra a escravidão e detenção ilegal; direito à igualdade perante a lei; direito à liberdade de expressão; direito ao respeito da vida privada; direito de viver sem violência na família: proteção das mulheres, crianças e pessoas idosas contra a violência doméstica; direito de acesso à informação; direito à livre circulação (refugiados, exilados, migrantes, pessoas deslocadas); direito a uma nacionalidade; direito a participar em qualquer atividade; direito de eleger e ser eleito; liberdade de reunião ou de associação; direito à honestidade administrativa (contra a corrupção praticada por servidores públicos ou governantes). É importante assinalar que a Constituição brasileira de 1988 (art. 6o) prescreve que são direitos sociais: “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. Esse rol dos direitos sociais previsto no artigo 6º não é exaustivo, na medida em que ele é complementado pelo Título VIII da mesma Constituição, que trata da Ordem Social (Cap. II), abrangendo o direito à seguridade social, à saúde, à previdência social e à assistência social; à educação, à cultura e ao desporto (Cap. III), à ciência e à tecnologia (Cap. IV); à comunicação social (Cap. V); ao meio ambiente (Cap. VI); além dos direitos da família, da criança e do adolescente (Cap. VII) e dos índios (Cap. VIII) (LEITE, 2014, p. 89). Os direitos humanos de terceira geração também são conhecidos como direitos de fraternidade ou de solidariedade, e ainda existem autores que denominam como jeito de interesses metaindividuais A ideia desse direito de terceira geração surge como um meio de conscientizar a sociedade de que o mundo é dividido em diferentes nações desenvolvidas e subdesenvolvidas e, por isso, defende-se que tais direitos decorrem de uma re�exão sobre os temas referentes ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à relação de consumo, dentre outros. Esses direitos de terceira geração não se destinam à proteção ou a tutela do indivíduo individualizado ou isoladamente considerado. Os direitos de solidariedade e fraternidade tratam de pessoas indeterminadas ou indetermináveis, ou seja, seus destinatários são o gênero humano. O reconhecimento desses direitos decorre da passagem do estado liberal ao estado social que se observa uma transformação nas relações sociais, econômicas, políticas e jurídicas em escala mundial. Por esse motivo existe a preocupação com o meio ambiente, com relação de consumo, com questões de patrimônio histórico e social, com direitos coletivos e difusos, o extrato dos interesses da massa que passam a exigir do Estado a inserção do reconhecimento no ordenamento jurídico. A Constituição Federal de 1988 reconhece os direitos difusos e coletivos, e confere a legitimação para tutelar esses interesses ao ministério público, ao cidadão e outros entes coletivos. Grande exemplo do reconhecimento, tutela e garantia dos direitos de solidariedade direitos de terceira geração de direitos humanos é o código de defesa do consumidor. Principais documentos Os principais Documentos internacionais que tratam de direitos humanos são (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, s.d.): 1. Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio (1948). 2. Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965). 3. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966). 4. Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). 5. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formasde Discriminação contra as Mulheres (1979). 6. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (1982). 7. Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). 8. Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (1996). 9. Convenção Internacional para a Supressão do Financiamento do Terrorismo (1999). 10. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com De�ciência (2006). Universalidade x Relatividade Os direitos humanos se dirigem a todas as pessoas, independente da raça, religião, sexo, origem étnica, dentre outros. A universalidade nasce da percepção de que é necessário ser pessoa, ser humano, para usufruir dos direitos humanos. Dessa forma, ao se a�rmar que os direitos humanos são universais, estamos aplicando as normas de direitos humanos a todas as pessoas, sem discriminação. Inclusive aos sujeitos provenientes de países que não reconhecem os direitos humanos. É por esse motivo que existem as políticas de minorias e grupos vulneráveis. Leite (2014, p.67 )explica que: A característica da universalidade dos direitos humanos decorre da constatação de que a condição de pessoa é o único requisito para a titularidade de direitos, uma vez que o ser humano é um ser essencialmente moral, dotado de unicidade existencial e dignidade. Além disso, a universalidade dos direitos humanos é uma decorrência lógica das necessidades humanas universais, como a necessidade de respirar, de comer, de beber, de vestir-se, de amar, de ser respeitado etc. Nota-se que existe a diversidade cultural, ou seja, cada região possui suas características peculiares, no qual alguns direitos podem não ter sentido para aquelas pessoas. Citam-se os casos de países que não reconhecem às mulheres os mesmos direitos que os homens. [...] a universalidade dos direitos humanos decorre de sua própria concepção, ou de sua captação pelo espírito humano, como direitos inerentes a todo ser humano, e a ser protegidos em todas e quaisquer circunstâncias. Não se questiona que, para lograr a e�cácia dos direitos humanos universais, há que tomar em conta a diversidade cultural, ou seja, o substratum cultural das normas jurídicas; mas isto não se identi�ca com o chamado relativismo cultural. Muito ao contrário, os chamados “relativistas” se esquecem de que as culturas não são herméticas, mas sim abertas aos valores universais, e tampouco se apercebem de que determinados tratados de proteção dos direitos da pessoa humana já tenham logrado aceitação universal (TRINDADE, 2007, p.418 ). Atrelada à característica da universalidade estuda-se a generalidade, pois as normas não podem ser criadas para uma única pessoa. Pode ser para um determinado grupo ou minoria. Já a Universalidade clama pela extensão universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único para a dignidade e titularidade de direitos. Dessa forma, questiona-se: os direitos humanos podem ser extensíveis aos entes não humanos? Ex.: rinhas de galo? Farra do boi? Não há extensão dos direitos humanos aos animais. No entanto, tem-se forte linha que defende o direito animal. Existe a vedação a experimentos cientí�cos que coloquem em risco a vida e a saúde do ser vivo. Farra Do Boi: RE 153.531/SC: o STF já entendeu haver violação ao meio ambiente em tal prática, sem se debruçar sobre a suposta universalidade dos direitos humanos ampliados aos animais. Ingo Sarlet Wolfgang (2016, on-line) ensina que [...] são titulares de direitos fundamentais na condição de direitos subjetivos, é sem dúvida possível e mesmo desejável reconhecer a possibilidade de atribuição de uma peculiar dignidade aos animais e mesmo à natureza em geral, no sentido de uma dignidade da vida humana. No caso dos animais tal dignidade implica o reconhecimento de um dever de respeito e consideração, assim como correspondentes deveres de proteção, de tal sorte que os animais não podem ser reduzidos à condição de mera coisa (objeto), e, portanto, não possuem tal um valor meramente instrumental. O relativismo diz respeito aos direitos relacionados ao sistema econômico, social e cultural de uma determinada sociedade. Dessa forma, cada região, cada Estado, possui seu discurso sobre direitos humanos. Já o relativismo cultural analisa a perspectiva da antropologia, que veri�ca diferentes culturas livres do etnocentrismo, em que a visão de mundo característica de quem considera o seu grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais. O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos assegura que o ser humano não poderá alcançar os direitos previstos na Declaração Universal de Direitos Humanos se não houver previsão legal que permita a concretização dos direitos civis e políticos. Assim, o pacto aduz que todos têm o direito à autodeterminação, inclusive ao desenvolvimento cultural, conforme previsto no artigo1º: “Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural” (BRASIL, 1992). Se houver incompatibilidade entre as normas internacionais de direitos humanos e o direito interno, devem ser analisadas as condições culturais deste povo. Cada sociedade pode ter suas crenças e princípios próprios, conforme a sua evolução cultural, social, econômica e política, desde que valorize as pessoas e entenda que estas devem ter tratamento digno. A Constituição Federal, no Título VIII, estabelece sobre a Ordem social. Assim, seu art. 215 dispõe que: Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. 1º. O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileira, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional (BRASIL, 1988). A Proteção à Cultura Indígena está prevista no art. 213: Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que ocupam, competindo à União, demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens (BRASIL, 1988). REFLITA “Os elementos que compõem os direitos humanos não se desenvolveram na mesma época. Pelo contrário, tiveram seu desenvolvimento e apogeu em contextos históricos distintos, como veri�cado no tópico anterior. Os períodos de destaque de cada direito (civis, políticos e sociais) �cam nítidos na busca de caminhos distintos e autônomos desses elementos, mas não signi�ca dizer que caminharam totalmente independentes. Tanto os direitos civis quanto os políticos e os sociais tiveram momentos de ligação. Pode-se até mesmo a�rmar que os elementos políticos e os sociais contribuíram – por haver interligação em alguns momentos entre eles – para a formação da cidadania do Estado Democrático de Direito no século XX, já que os ingleses, pelo direito ao voto, tiveram a possibilidade de intervir no governo inglês, com a eleição de candidatos que representariam os desejos do povo, implementando uma legislação social.” Fonte: Guerra (2017, p.157 ). Livro Filme Web Direitos humanos e direitos fundamentais AUTORIA Jaqueline da Silva Paulichi Sumário Introdução 1 - Proteção na constituição de 1988 2 - Proteção internacional 3 - Direitos fundamentais Considerações Finais Introdução Olá, estudante, tudo bem? Nesta unidade vamos analisar os direitos humanos que estão inseridos na Constituição Federal de 1988, vamos analisar os art. 4º da CF/88 e seus princípios que regulamentam as relações internacionais. Posteriormente vamos ver sobre os documentos internacionais que tutelam os interesses básicos dos cidadãos, como o direito à vida, integridade física, a liberdades – e seus desdobramentos –, à segurança, propriedade, dentre outros. Veja os materiais complementares e as leituras recomendadas!!! Bom estudo! Plano de Estudo: 1. Conceitos e De�nições sobre os direitos humanos na ordem interna,analisando os direitos fundamentais que os documentos internacionais que tratam do tema. Objetivos de Aprendizagem: 1. Analisar os direitos humanos sob a ótica da Constituição Federal 2. Aprender sobre o sistema internacional de proteção aos direitos humanos. 3. Re�etir sobre os direitos fundamentais. Proteção na constituição de 1988 Os direitos humanos também são tutelados pela Constituição Federal de 1988. O artigo 4º da Constituição Federal trata dos princípios que regulamentam as relações internacionais, como a independência nacional, a prevalência dos direitos humanos, a autodeterminação dos povos, a não-intervenção, a igualdade entre os Estados, a defesa da paz na solução pací�ca dos con�itos, o repúdio ao terrorismo e ao racismo, a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e a concessão de asilo político. Como exemplo, podemos citar o artigo 5º que prevê diversos direitos fundamentais e que também se desdobra em direitos humanos. Salienta-se que a Constituição também prevê em outros artigos sobre direitos sociais, direitos previdenciários, direito ao meio ambiente equilibrado, direito de família, da ordem econômica e social, dentre outros direitos que são essenciais para proteção do ser humano. Essa previsão decorre de documentos internacionais que protegem as pessoas contra trabalho a condição análoga de escravo ou ainda contra o tratamento degradante que violem os princípios gerais como a dignidade da pessoa humana. Nota-se que o código penal pune aquele que cometer crime contra a vida, conforme artigo 121, aquele que realizar lesão corporal contra outra pessoa, bem como a criminalização do infanticídio e do aborto (todos eles crimes contra a vida). A consolidação das leis trabalhistas também garante aos trabalhadores que recebam salário mínimo e que tenham horas de descanso para que não seja caracterizada a condição análoga de escravo. O direito à liberdade também está previsto na Constituição Federal, abrangendo o direito à liberdade de expressão, de pensamento, de opinião, de ir e vir, de crença religiosa, dentre outras. CONCEITUANDO O caput do artigo 5º da CF/88 prevê o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Com relação ao direito à vida existem duas vertentes que tratam da tutela desse direito como direito de nascer com vida e o direito de permanecer vivo e, assim, o inciso terceiro no artigo quinto a�rma que ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante. O Direito à igualdade se relaciona com os direitos das minorias e grupos vulneráveis. Percebeu-se que não era su�ciente buscar apenas uma igualdade formal na lei, e então buscamos também uma igualdade material. A igualdade material é também entendida como uma forma de discriminação positiva. Dessa vertente que temos a atuação do Estado, tanto no momento de legislar, quanto no de aplicar e executar a lei, uma postura de promoção de políticas governamentais voltadas a grupos vulneráveis. O direito à igualdade não pode ser enquadrado puramente na primeira dimensão de direitos humanos (liberdade) e nem tão somente na segunda dimensão (igualdade): é maior que a primeira, pois tem preocupação com o desenvolvimento de grupos vulneráveis, o que requer ações a�rmativas, mas não deixa de fazer parte dela, já que a igualdade é acima de tudo. O Protocolo de San Salvador (PCADH), adicional à convenção americana sobre direitos humanos, tem por foco os direitos econômicos, sociais e culturais, traz o direito à igualdade e o especí�co em artigos sobre o tratamento de grupos vulneráveis, notadamente crianças, idosos e pessoas portadoras de de�ciências. O comitê de direitos humanos então reforça a importância da não discriminação e a�rma a importância dos Estados adotarem ações positivas não só para eliminar a discriminação das leis, mas para erradicar a discriminação de fato. A construção do direito de igualdade em sua faceta material encontra substrato no denominado sistema especial de proteção aos direitos humanos. As pessoas que se encontram em desvantagem são chamadas de grupos vulneráveis ou minorias. Assim, temos normas especiais voltadas para aqueles que foram marginalizados pela sociedade, por motivos históricos, sociais, culturais, econômicos ou outros. A não discriminação é componente essencial da teoria dos direitos humanos – a ponto da igualdade ser considerada mais do que um princípio, e sim um verdadeiro fundamento. Contudo, seria ingênuo imaginar que a simples a�rmação desta igualdade seria su�ciente para alcançá-la. Devido essa consciência o sistema de Proteção de direitos humanos começa a ganhar novos rumos e ter preocupação concreta com as pessoas que necessitam de proteção especial. Inicialmente temos a elaboração e rati�cação de documentos voltados a proteção de categorias sociais especí�cas, como a não discriminação por fatos étnico-sociais, avançando-se para a proteção das mulheres, das crianças, da população indígena e da pessoa com de�ciência. As providências são tomadas por meio de ações a�rmativas, que basicamente consistem em políticas e programas governamentais voltados a grupos especí�cos de pessoas. Se adotado um rigor TEÓRICO em relação ao princípio da igualdade, percebe-se que essas ações a�rmativas são DISCRIMINATÓRIAS e atentatórias aos direitos humanos. No entanto, a concepção material do direito à igualdade conduz invariavelmente a percepção de que existem discriminações positivas e negativas. As discriminações que são atentatórias aos direitos humanos, que humilham, que marginalizam, que ofendem a dignidade da pessoa humana, podem ser vistas como negativas. Mas as discriminações que visam promover a inclusão social e permitir que a pessoa seja retirada da margem da sociedade são positivas, logo, são compatíveis com os direitos humanos. Essas ações a�rmativas possuem caráter excepcional e temporário. Ou seja, deveriam existir apenas por certo tempo, até que a igualdade fosse realmente implantada. Ex. art. 4º da Convenção da Organização das Nações Unidas para a eliminação de discriminações contra a mulher prevê (BRASIL, 2002): 1. A adoção pelos Estados – partes de medidas especiais de caráter temporário destinadas a acelerar a igualdade de fato entre o homem e a mulher não se considerará discriminação na forma de�nida nesta convenção, mas de nenhuma maneira implicará, como consequência, a manutenção de normas desiguais ou separadas; essas medidas cessarão quando os objetivos de igualdade de oportunidade e tratamento houverem sido alcançadas. 2. a adoção pelos estados- partes de medidas especiais, inclusive as contidas na presente convenção, destinadas a proteger a maternidade, não se considerará discriminatória. No mesmo sentido, o art. I da convenção da organização das nações unidas sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial (BRASIL, 1969): [...] 4. Não serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que, tais medidas não conduzam, em conseqüência, à manutenção de direitos separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sidos alcançados os seus objetivos. A convenção da organização das nações unidas sobre os direitos da pessoa com de�ciência (BRASIL, 2009ª): [...] Artigo 5 Igualdade e não-discriminação 1.Os Estados Partes reconhecem que todas as pessoas são iguais perante e sob a lei e que fazem jus, sem qualquer discriminação, a igual proteção e igual benefício da lei. 2.Os Estados Partes proibirão qualquer discriminação baseada na de�ciência e garantirão às pessoas com de�ciência igual e efetiva proteção legal contra a discriminação por qualquer motivo. 3.A �m de promover a igualdade e eliminar a discriminação, os Estados Partes adotarão todas as medidas
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