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LivroDigital_Biodireito

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0 
 
DOCÊNCIA EM 
SAÚDE 
 
 
 
 
 
BIODIREITO 
 
 
 
1 
 
Copyright © Portal Educação 
2012 – Portal Educação 
Todos os direitos reservados 
 
R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 
Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 
Internacional: +55 (67) 3303-4520 
atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS 
Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil 
 Triagem Organização LTDA ME 
 Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 
 Portal Educação 
P842b Biodireito / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 
 216p. : il. 
 
 Inclui bibliografia 
 ISBN 978-85-286-2 
 1. Bioética - Direito. 2. Biodireito. I. Portal Educação. II. Título. 
 CDD 174.9574 
 
 
 
2 
SSUMÁS SUMÁRIO 
 
1 APRESENTAÇÃO...................................................................................................................... 7 
2 AS TRANSFORMAÇÕES DISCIPLINARES............................................................................. 10 
3 CONCEITUANDO ..................................................................................................................... 13 
3.1 O que é Ética? ........................................................................................................................... 14 
3.2 O que é Moral? .......................................................................................................................... 15 
3.3 O que é Direto? ......................................................................................................................... 16 
3.3.1 Direito Natural ............................................................................................................................ 17 
3.3.2 Direito Costumeiro ..................................................................................................................... 17 
3.3.3 Direito Positivo ........................................................................................................................... 18 
3.3.4 Direito Objetivo e Subjetivo ....................................................................................................... 18 
3.3.5 Direito e Moral ........................................................................................................................... 19 
3.4 Saúde, o que é? ........................................................................................................................ 20 
4 CAMINHANDO E CRIANDO CAMINHOS NOVOS .................................................................. 22 
5 NOVOS TERMOS E SUAS CONTRIBUIÇÕES ........................................................................ 23 
5.1 Disciplina ................................................................................................................................... 23 
5.2 Os Novos Termos ...................................................................................................................... 24 
5.2.1 Multidisciplinaridade .................................................................................................................. 24 
5.2.2 Interdisciplinaridade ................................................................................................................... 25 
5.2.3 Transdisciplinaridade ................................................................................................................. 26 
6 O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE ........................................................................................ 27 
6.1 Solidariedade na Constituição Federal ..................................................................................... 27 
7 HUMANISMO IDEAL, HUMANIDADES E HUMANISMO JURÍDICO ....................................... 29 
7.1 Humanismo ............................................................................................................................... 29 
7.2 Humanidades ............................................................................................................................ 30 
7.3 Humanismo Jurídico .................................................................................................................. 30 
 
 
3 
8 SOBRE A DIGNIDADE HUMANA ............................................................................................ 32 
8.1 Os Pensadores .......................................................................................................................... 32 
8.2 A dignidade na Constituição da República Federativa do Brasil ................................................ 34 
8.3 A Dignidade Como Principio Fundamental ................................................................................ 35 
9 PERSONALIDADE.................................................................................................................... 47 
9.1 Direitos da Personalidade .......................................................................................................... 37 
9.2 Direitos da Personalidade no Código Civil ................................................................................. 39 
10 INDIVIDUALISMO, LIBERALISMO E ANARQUISMO ............................................................. 41 
11 INTERESSE PUBLICO E BEM COMUM .................................................................................. 42 
11.1 Bem Comum .............................................................................................................................. 42 
11.2 Interesse Público ....................................................................................................................... 43 
12 RESUMO .................................................................................................................................. 44 
13 A CIÊNCIA E A ÉTICA .............................................................................................................. 46 
14 BIOÉTICA ................................................................................................................................. 48 
14.1 Fontes Histórica e Finalidade .................................................................................................... 48 
14.2 Princípios Bioéticos ................................................................................................................... 50 
14.2.1 Autonomia ................................................................................................................................. 50 
14.2.2 Beneficência .............................................................................................................................. 50 
14.2.3 Não Maleficência ....................................................................................................................... 51 
14.2.4 Justiça ....................................................................................................................................... 51 
15 AS NOVIDADES BIOCIENTÍFICAS E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS ............................ 53 
16 BIODIREITO .............................................................................................................................. 55 
16.1 O Biodireito no Ordenamento Jurídico Brasileiro ....................................................................... 55 
16.2 O Direito à Vida na Constituição Federal .................................................................................. 55 
16.3 O Respeito à Vida no Código Civil............................................................................................57 
16.4 O Respeito à Vida no Código Penal ......................................................................................... 59 
16.5 O Direito ao Nascimento ........................................................................................................... 66 
 
 
4 
16.6 A Proteção à Maternidade ........................................................................................................ 67 
17 O ABORTO ............................................................................................................................... 71 
17.1 A Prática Abortiva Na História Do Mundo .................................................................................. 71 
17.2 O Aborto E A Legislação Brasileira............................................................................................ 72 
17.3 A Biociência, O Aborto, O Alvará Judicial .................................................................................. 77 
17.4 Procedimentos Do SUS ............................................................................................................. 78 
17.5 Argumentos A Favor E Argumentos Contra O Aborto ............................................................... 80 
17.5.1 Contra o Aborto ......................................................................................................................... 81 
17.5.2 A Favor do Aborto..................................................................................................................... 81 
18 PLANEJAMENTOS FAMILIARES E ESTERILIZAÇÃO HUMANA ARTIFICIAL ..................... 84 
18.1 Planejamento Familiar ............................................................................................................... 84 
18.2 O Que Se Entende Por Esterilização Artificial ........................................................................... 86 
18.3 Maternidade E Paternidade Responsável ................................................................................. 87 
18.4 Direito À Descendência ............................................................................................................. 87 
19 RESUMO ................................................................................................................................... 89 
20 SAÚDE FÍSICA E MENTAL – EXPRESSÃO DA DIGNIDADE HUMANA ................................ 90 
20.1 Direito Constitucional À Saúde .................................................................................................. 90 
20.2 O Biopoder: A Medicalização Da Vida E A Judicialização Da Saúde ........................................ 92 
20.3 Direito Sanitário ......................................................................................................................... 97 
21 O DIREITO À SAUDE MENTAL .............................................................................................. 103 
21.1 Tratamento Psiquiátrico E Bioética ........................................................................................... 106 
22 IMPLICAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS DAS TRANSFUSÕES SANGUÍNEAS ............................ 109 
22.1 A Autonomia Da Vontade E A Transfusão De Sangue ............................................................. 113 
22.2 O Direito Da Criança E Do Adolescente E O Credo Dos Pais .................................................. 114 
22.3 A Primazia Da Maior Relevância .............................................................................................. 116 
23 INFECÇÃO HOSPITALAR: PREVENÇÃO E CONTROLE...................................................... 117 
24 A ESTÉTICA HUMANA ........................................................................................................... 120 
 
 
5 
25 A IDENTIDADE SEXUAL: TRANSEXUALIDADE ................................................................... 123 
26 RESUMO .................................................................................................................................. 126 
27 BIODIREITO E BIOTÉCNICAS ................................................................................................ 128 
28 TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS E DE TECIDOS ................................................................... 129 
28.1 Doação De Órgãos No Direito Brasileiro .................................................................................. 129 
28.1.1 Doação de Órgãos Post-Mortem .............................................................................................. 131 
28.1.1.1 Morte encefálica - questões éticas ........................................................................................ 135 
28.1.2 Doação Intervivos ..................................................................................................................... 138 
29 O DIREITO À MORTE DIGNA ................................................................................................. 140 
29.1 O Papel Da Bioética E Do Biodireito ......................................................................................... 140 
29.2 O Paciente Terminal ................................................................................................................. 141 
29.2.1 Cuidados Paliativos ................................................................................................................. 142 
29.3 Suicídio Assistido ..................................................................................................................... 142 
29.4 Eutanásia .................................................................................................................................. 143 
29.5 Distanásia ................................................................................................................................. 144 
29.6 Ortotanásia ............................................................................................................................... 144 
30 A OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA ............................................................................................ 146 
31 AS QUESTÕES CONTROVERTIDAS, A BIOÉTICA E O BIODIREITO ................................. 147 
32 A ÉTICA EM PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS ............................................... 148 
32.1 Orientações Internacionais ....................................................................................................... 148 
32.2 Orientações No Brasil ............................................................................................................... 149 
32.3 Princípios Ético-Jurídicos Das Pesquisas Envolvendo Seres Humanos .................................. 150 
33 BIOTECNOLOGIA ................................................................................................................... 153 
33.1 Engenharia Genética E Genoma Humano ............................................................................... 153 
33.2 A Reprodução Humana Assistida ............................................................................................. 155 
33.2.1 Fertilização In Vitro ................................................................................................................... 155 
33.2.2 Inseminação Artificial ................................................................................................................ 156 
 
 
6 
34 DOAÇÃO DE OÓCITOS, DE SÊMEN E A CRIOCONSERVAÇÃO ......................................... 157 
35 RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL DA SAÚDE ............................................. 160 
35.1 Responsabilidade Institucional ................................................................................................. 162 
36 OS DIREITOS DO PACIENTE ................................................................................................. 164 
37 A BIOÉTICA, O BIODIREITO E A REALIDADE DO SÉCULO XXI .........................................168 
38 RESUMO .................................................................................................................................. 169 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 171 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
1 APRESENTAÇÃO 
 
 
O conteúdo deste primeiro módulo tem o propósito de nos situar no ambiente no qual 
vem sendo construídos os saberes que compõem o Biodireito. Para que tenhamos a dimensão 
da matéria com que estamos travando, esse contato é importante para sabermos em que 
contexto ela teve seu nascedouro, quais são suas propostas e qual o caminho que vem 
traçando. 
 A evolução humana, em um fluxo contínuo, introduz no mundo, juntamente com novos 
conhecimentos, um novo modo de convívio, exigindo o nascimento de novas regras que venham 
manter a harmonia e a paz social. O ser humano tem uma inesgotável capacidade de evolução, 
de transformação e de adaptação. Por essa razão, todo o saber humano, todo o conhecimento 
está em constante movimentação evolutiva. 
A matéria objeto de nossos estudos encontra-se em seu nascedouro, está em fase de 
construção e crescimento, buscando uma identidade própria. Nasceu da necessidade de 
humanização das relações intersubjetivas. Veio para ajustar o mundo das relações apoiada nos 
apelos da ética reguladora das relações no mundo da técnica, a Bioética. 
As bases para a construção do presente estudo estão fundadas em diversos autores 
de diferentes áreas, todos com reflexões brilhantes e ensinamentos importantes e cujas 
referências encontram-se ao final dos módulos nos dados bibliográficos. Assim não poderia 
deixar de ser, já que o Biodireito vem brotando das relações multi e interdisciplinares. 
Destacamos, entretanto, o trabalho da professora Dra. Maria Helena Diniz em “O Estado Atual 
do Biodireito”, (2007), escolhido dentre tantos outros de excelente nível como norteador de 
nossos passos nesse curso, por o considerarmos o mais abrangente dentro da nossa proposta. 
 Bioética e Biodireito surgiram da necessidade de se regular a vida social a partir das 
inovações científicas na área da saúde. Nascem a posteriori. A ética sai do mundo das 
idealizações para o mundo das realizações e vem lembrar ao homem seu compromisso com sua 
própria humanidade. O direito vem regular comportamentos, impor limites, empunhar a bandeira 
da dignidade humana. 
O progresso da ciência introduz novas discussões à vida prática, como: legalização da 
 
 
8 
eutanásia; manutenção de doentes terminais em estado vegetativo por anos a fio; doentes 
mentais e criminosos são esterilizados por práticas de delitos sexuais; mulheres que são mães 
após a menopausa; reprodução humana assistida e conflitos de paternidade ou maternidade 
sobre uma mesma criança; geração de crianças com a finalidade exclusiva de doação de tecido 
medular para outro filho; estoque de embriões humanos excedentes – subprodutos de 
fertilização in vitro; mapeamento do genoma; abortos eugênicos; diretrizes internacionais para 
pesquisa com seres humanos, e muitas outras novidades tecnocientíficas que modificaram as 
ações e decisões dos envolvidos com a ciência médica e biológica. 
São inúmeras as modificações nas relações humanas advindas da introdução das 
novas técnicas biomédicas na vida social. Socializou-se o atendimento médico, desaparecendo a 
figura do médico de família e surgindo outros padrões de conduta nas relações médico-paciente 
(planos, convênios, atendimentos em massa) com o reconhecimento do direito de todo cidadão 
ser atendido em suas necessidades de saúde. 
Hoje, a denominada telemedicina propicia a possibilidade de tratamento a distância, 
por teleconferência (consultas a especialistas de outros países; por meio de fonemed, aparelho 
que grava a frequência cardíaca do paciente, envia os dados em forma de som e os ruídos 
tornam-se gráficos, sendo possível efetuar o procedimento a partir de qualquer telefone, ligando 
para um call-center. Surgem entidades internacionais preocupadas com as questões éticas 
nascidas a partir da engenharia genética e da embriologia e que editam recomendações acerca 
dos procedimentos e suas implicações éticas. Multiplicam-se as ofertas de serviços médicos com 
atuações em diferentes fases da vida. Embriologia, neonatologia, pediatria, obstetrícia, 
gerontologia, geriatria, cirurgia estética, etc., estabelecendo uma medicalização da vida, a busca 
frenética pelas últimas novidades, que garantam uma juventude eterna, que afastem os 
fantasmas da morte. 
De um lado surgem as multiplicidades de ofertas e, de outro, as dificuldades de 
acesso. O paciente torna-se cliente, consumidor, ao mesmo tempo quer consumir novos 
métodos e drogas de última geração, reclama o reconhecimento e respeito a seus direitos 
fundamentais, à sua autonomia de vontade. Há um clamor mundial pelo respeito à vida de todo 
ser humano, independentemente de raças, de credo, de poder econômico. 
Criam-se os Comitês de Ética Hospitalar e os Comitês de Ética em Pesquisa com 
Seres Humanos com a finalidade de orientar e tutelar os interesses do ser humano, como 
sujeito, não como objeto, das novidades biotécnicas, das pesquisas e das práticas médicas. A 
 
 
9 
sociedade da pós-modernidade reclama padrões morais a serem compartilhados por pessoas 
com diferentes moralidades. 
É necessário reverter a inversão dos valores, retirar a humanidade da apatia e 
fragmentação ética em razão do caráter pluralista da sociedade mundial. O entrecruzamento da 
ética com as ciências da vida e o progresso biotecnológico clama por mudanças no modo de agir 
dos profissionais da saúde e potencializa a bioética, esse novo saber. 
A bioética nasceu e cresceu, nas últimas três décadas, animada pela biologia 
molecular e pela biotecnologia aplicadas à medicina. Denúncias de abusos contra a vida humana 
aproximaram filósofos e teólogos preocupados com a qualidade da vida, com a reprodução, o 
nascimento, o viver e o morrer. O presente estudo tem por objetivo apresentar àqueles que se 
interessam pelo tema uma disciplina que vem se construindo constantemente, na qual a 
formulação teórica vem caminhando lado a lado com o mundo das ações, com o fascínio das 
descobertas, com as inovações da tecnologia. É um caminho que vem sendo construído durante 
o caminhar. 
Não temos pretensões, nem poderíamos ter, de trazer formulações prontas, intocáveis, 
mas desejamos tão somente apresentar uma matéria que se encontra em seu nascedouro e 
estimular contribuições daqueles que se interessam pelas reflexões éticas e pela regulação dos 
comportamentos. Importante destacar que nem todos os assuntos que interessam ao Biodireito 
serão aqui tratados, pois não seria possível, são inumeráveis, brotam das reflexões, dos saberes 
múltiplos, das inter-relações das disciplinas. 
Traremos os aspectos mais comuns da influência das novidades da biotecnologia na 
vida humana. Muitas vezes teremos que transcrever todo teor de uma lei, no qual estão contidos 
os valores a serem preservados, clamando por hermenêutica. Apenas as questões ambientais 
que também desafiam ao Biodireito não estarão contempladas em nosso estudo, pois são de tal 
abrangência que reclamam dedicação particular. Esperamos que nossas reflexões sejam úteis e 
proveitosas. Desejamos que nosso caminhar, lado a lado, seja harmonioso e que nossos 
estudos sejam inovadores e engrandecedores a todos. Vamos, então, aos primeiros passos. 
 
 
 
 
 
10 
2 AS TRANSFORMAÇÕES DISCIPLINARES 
 
 
Tudo o que conhecemos hoje teve sua origem na filosofia, a arte de pensar, e todas as 
reflexões têm por finalidade a resolução das questões humanas. Todo o saber tem uma só 
origem, a alma humana, e uma só finalidade que é tornar o espírito humano mais feliz. O homem 
quer suprir suas necessidades e satisfazer seus desejos.O ser humano é insatisfeito, 
questionador, buscador e almeja uma felicidade transcendente, uma satisfação constante e, em 
regra, busca saciar essa sensação de incompletude no mundo ilusório que cria fora de si 
mesmo. 
As reflexões que fazemos sobre o mundo estão sempre vinculadas à época e ao 
ambiente em que vivemos. Os questionamentos que fazemos referem-se à realidade que vemos, 
queremos encontrar soluções para nossas insatisfações, procuramos transformar o lugar onde 
estamos a fim de que nos proporcione mais conforto, mais alegria, mais saúde, enfim, para que 
possamos ter satisfeitas as nossas necessidades, das mais básicas às mais sofisticadas. 
É também da essência humana o desejo de exercer o domínio sobre o meio e sobre os 
outros. Toda ação humana interfere inevitavelmente, para o bem ou para o mal, na esfera de 
domínio de outro ser humano. A satisfação que queremos pode significar a contrariedade para 
outrem. O domínio pode ser exercido de muitas formas e uma delas é o domínio pelo saber. É 
inegável que em todas as épocas os pensadores, os construtores de saber, foram detentores de 
prestígios e de preponderância sobre os demais. 
Não são poucas as lendas e histórias infantis em que o reino depende dos 
conhecimentos de alguém que vem de longe, de fora, e é chamado de sábio. Ocorre que nem 
sempre o conhecimento vem acompanhado da sabedoria. E é justamente a sabedoria na 
aplicação do conhecimento que fará dele a redenção de toda a sociedade ou a sua subjugação 
ao domínio de poucos. O desconhecimento é uma das causas de submissão. O 
desconhecimento, em qualquer área, deixa em nível de inferioridade o desconhecedor daquele 
assunto. 
Embora nossas considerações sejam, de certo modo, simplistas, é possível 
compreender que a mente humana criou um modelo de construção do poder ligado ao domínio 
do saber. O saber, repetimos, é construção humana e, para ser mais bem compreendido e 
 
 
11 
dominado foi sendo dividido, fatiado, e o ser humano, embora dotado de múltiplas possibilidades 
de desenvolvimento e expansão, foi voltando o olhar apenas para as partes e perdendo-se da 
totalidade. 
Especializamo-nos, interessamo-nos por fatias e desprezamos o todo. Dividimos o 
mundo e os seres, criamos compartimentos, nomeamos e vamos dando às mesmas explicações 
diversas de acordo com os interesses que queremos defender. O ser humano foi 
compartimentado, estudado e compreendido sob vários olhares. O olhar biológico, sociológico, 
psicológico, antropológico, espiritual. E dentro de cada um desses olhares/saberes há novas 
divisões e por aí vão sendo criados novos campos de domínio do saber. 
Presos às minudências acabamos por nos afastar da concepção do todo, da 
integralidade e do ser biopsicossocioespiritual que somos. Somos inteiros, compostos de partes 
complementares e interdependentes. O surgimento das especializações, se inevitáveis por um 
lado, por outro fez com que cada vez mais fôssemos impondo limites ao conhecimento integral 
em nome de um maior (e ilusório) domínio sobre uma pequeníssima parte. O aprisionamento do 
saber em uma pequena e única disciplina resulta em um limitado entendimento da vida e como 
consequência tornam-se mais escassas as possibilidades de harmonia, de partilhamento, de 
tolerância entre os homens. O resultado é o empobrecimento do conhecimento e das relações 
humanas. 
Sendo a vida um movimento constante, o final do século passado trouxe-nos o 
rompimento de fronteiras, a aproximação de diferenças culturais, a globalização. Tivemos no 
século XX o despertar para a saúde do corpo e da mente. O século XXI vem nos convocar à 
união, à aproximação, à conjugação dos saberes, ao partilhamento da vida e para a volta da 
simplicidade. 
O mundo globalizou-se. As novas tecnologias diminuem distâncias, criam novas 
possibilidades de trocas de conhecimento e informações. Permitem diagnósticos, tratamento e 
cura a distancia. Hoje é possível que nós, em diferentes espaços do planeta, partilhemos nossas 
ideias, troquemos informações e encontremos juntos novas soluções para questões emergentes. 
Estamos, nesse exato momento, eu e você, trilhando por um caminho novo. O Biodireito é um 
saber em formação e crescimento. 
Aspectos sociológicos, psíquicos, econômicos, permeiam a todo o momento, como não 
poderia deixar de ser as nossas ponderações. Este trabalho é um convite à abertura da 
 
 
12 
recepção para a visão holística e integral da vida, para a integralização dos saberes e 
oferecimento de alguns subsídios para reflexões inovadoras. Mais do que trazer respostas 
desejamos suscitar perguntas, questões a serem geradas pela inquietação do espírito, por 
reflexões inovadoras. 
Desta forma, desejamos que esse nosso encontro e convívio possibilitado pela era 
tecnológica, pela quebra de paradigmas, pelo desejo unificador, venham a ser proveitosos para 
todos e que possamos chegar ao final transformados, engrandecidos e verdadeiramente 
inseridos em um contexto de conjugação dos saberes a que somos convocados pela evolução 
humana. 
A Biologia, como toda ciência objetiva, separou-se da filosofia como se possível fosse 
apartar a vida física da reflexão. A ciência nasce, toma corpo e ganha o mundo a partir de uma 
primeira reflexão. Todo saber nasce da arte de pensar. É esse atributo que torna o humano 
diferente dos demais seres do planeta, que lhe outorga a responsabilidade pela vida, pelo 
cuidado consigo, pelo cuidado com o outro e com o ambiente. 
 As produções humanas precisam ser nominadas. Temos necessidade de dar nomes, 
de diferençar, faz parte do nosso modo de compreensão do mundo estabelecer diferenças, 
distanciamentos e aproximações. As novidades técnicas surgidas na área da saúde suscitaram o 
encontro e a imbricação de matérias multidisciplinares, dando à luz novos olhares sobre a vida e 
para nominá-las acrescentou-se o prefixo “Bio” aos saberes, às disciplinas, significando tratar-se 
de novos olhares, ou de olhares conjuntos, às questões que emergiram na área da saúde com 
consequentes repercussões em todas as áreas da vida social. Temos então a Bioética e o 
Biodireito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
3 CONCEITUANDO 
 
 
Para melhor nos situarmos nas dimensões do nosso assunto principal é imprescindível 
que assentemos entendimento acerca de alguns conceitos que, certamente, ampliarão a 
compreensão acerca da disciplina. Sendo o humano um ser curioso, questionador, buscador de 
soluções, consideramos interessante apresentarmos os termos em forma de questões e 
sugerimos que antes de ler a definição oferecida responda você mesmo às perguntas, busque 
dentro de você a resposta e irá se surpreender com a quantidade de saberes que possui. 
Mas, o que é conceituar? De acordo com a doutrina do Conceitualismo, os conceitos 
são ideias trazidas para o mundo real com a finalidade de organizar nossos padrões de 
conhecimento. É, portanto, a objetivação de ideias. Por meio dos conceitos expressamos e 
unificamos um saber. Conceito é um modo de expressar uma compreensão. Conceituamos a 
partir de experiências e de intuições. Conceituar é, enfim, formular uma opinião por meio de 
palavras. 
Os conceitos que traremos a seguir têm o objetivo de suprir nossas imediatas 
necessidades de compreensão do surgimento e do valor da disciplina “Biodireito” e do lugar de 
sua inserção no mundo relacional e seu vínculo com outros saberes. Os objetivos de nosso 
curso não comportam aprofundamentos acerca de cada área do saber. Aqueles que porventura 
desejarem maior profundidade conceitual dos termos poderão buscá-la nas obras relacionadas 
na bibliografia e nos sites que indicamos ao final. 
Passemos então às conceituações. Primeiro pense, sinta, medite, qual é a 
conceituação que há dentro de você acerca de cada termo? Podemos aprender somando, 
acrescendo o novo àquilo que já sabemos, mas muitas vezes é preciso desconstruir nossas 
velhas convicçõespara tomar parte no novo. 
 
 
 
 
 
 
14 
3.1 O QUE É ÉTICA? 
 
 
Ética é parte da filosofia que trata de princípios e valores que regem as relações 
humanas. Faz reflexões acerca do bem e do mal, do certo e do errado, levando em consideração 
valores gerais e abstratos, e regras universalmente aceitas. Retirando o conceito de ética do 
mundo das ideias e trazendo para o mundo dos fenômenos, da realidade social, traçaremos aqui 
uma breve diferenciação entre as regras da ética e as regras da técnica. 
Ética e Técnica são estabelecedoras de normas, de ditames comportamentais. 
Entretanto, as normas estabelecidas pela técnica diferem substancialmente das normas ditadas 
pela ética. As normas técnicas são obtidas após exaustivas observações dos fenômenos e 
repetitivas experimentações. Conclui-se assim que para que se obtenha o resultado desejado é 
preciso que se repitam os mesmos passos sem modificações. A esse guia de procedimentos 
para se obter um resultado desejado denominamos técnica. 
Normas técnicas referem-se à atuação do homem no ambiente em que vive e sobre 
seus fenômenos, no intuito de obter maior proveito das atividades, tais como maior 
produtividade, maior segurança, maior conforto. A inobservância de uma norma técnica trará 
consequências indesejáveis, ou pelo menos não levará ao resultado pretendido. O objetivo 
técnico depende inteiramente de que sejam seguidas, fielmente, as regras prescritas. 
As normas técnicas para um procedimento cirúrgico, as regras de técnica jurídica para 
petição em juízo, as regras para uma edificação, são exemplos de regras técnicas que devem 
ser rigorosamente observadas sob pena de não se atingir ao objetivo almejado. As normas 
éticas estabelecem as regras de convívio entre as pessoas. Estabelecem comportamentos 
individuais adequados ao bem-estar coletivo. São universais. Integram o indivíduo ao grupo 
social. 
Enquanto as normas técnicas determinam “como fazer” para alcançar um objetivo, as 
normas éticas nos questionam “para que” comportar-se de tal modo e “por que” se pretende 
alcançar determinado objetivo. Enfim, enquanto a norma técnica regula o “fazer” para se 
alcançar um objetivo, a norma ética refere-se ao “ser”, volta-se para a razão, para a consciência 
humana. 
 
 
15 
Para uma única ação poderemos ter normas técnicas e normas éticas. A manipulação 
de substâncias agressivas ao ser humano deve obedecer a um rigoroso procedimento técnico e 
deve ter um fim ético. Também as regras da técnica jurídica não dispensam as normas da ética 
para que a realização da justiça seja alcançada. A Ética, enquanto estipuladora de valores, 
estabelecedoras de comportamentos, engloba a Moral e o Direito que também são estipuladores 
de comportamento. 
 
3.2 O QUE É MORAL? 
 
 
 A moral também se refere a valores e impõe regras de convívio sendo, porém, adstrita 
a uma cultura, a uma sociedade, a um grupo. Enquanto a ética é universal, a moral diz respeito a 
grupos determinados, em locais específicos. Em certo sentido, falar em moral remete-nos a 
costumes, valores e normas de certos grupos, de culturas específicas. Enquanto que a ética é 
geral e abstrata. 
Quando falamos de moral estamos, geralmente, nos referindo a comportamento de um 
determinado grupamento que tem um consenso acerca do valor de determinadas condutas que 
são tidas como boas ou más, certas ou erradas. Podemos falar que há diferentes morais. A 
moral num país difere da moral de outros países, assim como difere entre grupos sociais dentro 
de um mesmo espaço geográfico. 
Assim, por exemplo, atitudes consideradas imorais e reprimidas no Brasil podem ser 
perfeitamente aceitas em outros países e vice-versa. Aquilo que é comum, habitual, aceito 
socialmente no Brasil poderá ser considerado imoralidade em um país de cultura mulçumana, 
por exemplo. Como qualquer regra as normas morais têm sanções para o caso de 
descumprimento. Aquele que infringe uma regra moral sofre a sanção imposta pelo grupo, com 
exclusão, afastamento ou sofre mesmo uma sanção interna, padecendo de culpa, de sentimento 
de inferioridade ou outras afecções psíquicas de caráter íntimo. 
O infrator de uma regra moral pode sofrer a sanção em sua intimidade com a dor da 
exclusão do grupo, pelo isolamento social. A moral religiosa, por exemplo, pode fazer com que 
aquele seguidor de determinada religião que a infringe sinta-se intimamente menor, pecador, 
 
 
16 
mesmo que não haja conhecimento de seus pares acerca da infração que cometeu. A sanção é 
de foro íntimo, é interna, é a dor de não ter atingido um ideal, de ter ofendido a Deus. 
 
 
3.3 O QUE É DIRETO? 
 
 
Direito é um fenômeno social, é conjunto de regras dotadas de sanções que regem a 
conduta do homem em sociedade. Ao contrário da moral, ao direito não interessam as infrações 
de cunho interno, nem sanções de foro íntimo. Ao direito interessa o comportamento humano em 
sociedade. Não há direito para o homem solitário vivendo em uma ilha deserta. O direito reclama 
a existência do outro. 
Filosoficamente, o fato e o direito estão em oposição. Os fatos impõem-se e não 
podem ter sua existência afirmada enquanto não ocorrerem. Nascimento e morte, por exemplo, 
são fatos que se afirmam no momento em que ocorrem. Já o direito é dado, é legitimo, pode não 
depender de nenhum fator, nenhum acontecimento, podendo ser afirmado a qualquer momento. 
Como exemplo, temos o direito à vida, que em nosso ordenamento jurídico é inviolável, 
independentemente de qualquer fator, mas o fator morte é inexorável. 
Etimologicamente, Direito é aquilo que é reto, que segue sem desvios. Socialmente é 
aquilo que está conforme a razão, a justiça e a equidade. O ser humano com suas necessidades 
particulares necessita, em sua rota de evolução, de limites que minimizem os conflitos entre 
desejos opostos, de regras que o façam, coercitivamente, respeitarem os desejos e as 
necessidades alheias. 
A coação é o modo social de se impor comportamentos, de fazer com que se 
respeitem as regras e se mantenha a ordem geral em equilíbrio com os interesses individuais. 
Sem coação o direito como regra jurídica, como lei, como norma, como regra de comportamento 
será inócuo, pois aquele que descumpre a regra e não sofre qualquer penalidade não terá 
parâmetros para compreender a gravidade de seu gesto e certamente repetirá sua ação. 
Nenhuma regra de direito terá eficácia se não vier acompanhada de penalidade para o 
 
 
17 
caso de ser descumprida. No direito penal temos as penas, no direito civil temos, por exemplo, 
as multas, as indenizações, para os casos de descumprimento das regras impostas. O Direito 
não se concebe fora do contexto social, assim como não se pode compreender grupo social sem 
regras de comportamento e sem sanções para o seu descumprimento. Todo grupo tem suas 
regras e suas sanções. Cada família, por exemplo, tem suas normas, muitas vezes tácitas, que 
são construídas em silêncio, mas que todos trazem no íntimo e sabem que descumprimento e o 
desacordo serão geradores de atritos. 
 
 
3.3.1 Direito Natural 
 
 
Direito Natural é aquele que transcende e orienta o Direito Positivo, também 
denominado de Direito Filosófico. O Direito que emana da própria natureza humana é um direito 
ideal, universal, justo. É um sentimento que antecede a qualquer regra positiva. Para a teoria do 
Direito Natural a natureza é a fonte de onde emanam os princípios inspiradores do Direito 
Positivo. 
Os romanos entendiam o direito natural como o direito de todos os homens e animais 
que se opunha ao direito dos homens. Vem da acepção do direito natural como direito emanado 
da razão divina, traz a equidade compreendida como a interpretação benigna da lei, como a 
humanização da interpretação legislativa, como o fundamento da igualdade entre os desiguais 
como realização da justiça. É um conjunto de normas imutáveis, eternas, expressões da 
liberdadee da dignidade humana que devem fundamentar o direito positivo civilizado. 
 
3.3.2 Direito Costumeiro 
 
Juridicamente, costume é o princípio ou a regra que por sua prática continua com o 
consentimento social, que adquiriu força de norma de comportamento a ser seguida. O Direito 
Consuetudinário, ou Costumeiro, é compreendido como o conjunto de regras advindas do 
 
 
18 
costume, de práticas repetidas e aceitas socialmente. 
 
 
3.3.3 Direito Positivo 
 
 
Direito Positivo é aquele composto de normas em uma determinada época, em um 
determinado lugar. No dizer de Dourado de Gusmão (2007), citado por Orlando de Almeida 
Seco, em “Introdução ao Estudo do Direito”: 
 
É o direito que depende da vontade humana, seja na forma legislada 
(lei, estatuto, regulamento, tratado internacional, etc.), seja na forma 
consuetudinária (costume), em ambas objetivamente estabelecidas 
(...) razão pela qual o direito positivo seria histórico e válido em 
determinados ou determináveis espaços geográficos (...) (SECO, 
2007). 
 
Assim, temos o direito brasileiro, o direito espanhol, o direito argentino, etc. 
 
 
 3.3.4 Direito Objetivo e Subjetivo 
 
 
Quando falamos de “Direito Objetivo” estamos nos referindo às normas vigorantes em 
um determinando lugar, dirigida a todos, impondo comportamentos e cominando sanções para o 
descumprimento. O “Direito Subjetivo” é a norma objetiva referida a um sujeito determinado, é a 
regulação da própria conduta, a faculdade de agir. Temos, por exemplo, em vigor em todo 
território brasileiro o Código do Consumidor, que são as regras que regulamentam as relações 
 
 
19 
de consumo, é direito objetivo. 
A partir do momento em que um cliente busca atendimento profissional para a solução 
de uma questão de saúde estabelece-se entre ele e o profissional uma relação jurídica de 
consumo, que deve obedecer às regras consignadas naquele código (direito objetivo) e que 
permitem ao cliente exigir do profissional a prestação do serviço e ao profissional o pagamento 
do preço ajustado. A estas faculdades de ambos chamamos de direito subjetivo. Podemos 
afirmar então que direito subjetivo é o direito objetivo que sai do papel e vem para a existência 
no mundo. 
 
 
 3.3.5 Direito e Moral 
 
 
Direito, então, é o conjunto de regras, emanadas de um poder externo, que regem as 
condutas sociais. O direito difere da moral, que também dita regras de comportamento, mas que 
provém da cultura de grupos sociais. Encontramos, muitas vezes, valores morais diferentes 
dentro de um mesmo território politicamente organizado. Um bom exemplo são as diferentes 
religiões dentro do território brasileiro e cada qual ditando suas regras morais. Em cada religião 
há valores morais que diferem das outras. 
As sanções para a transgressão dos valores morais serão internas, as pessoas podem 
se sentir culpadas, punidas e, às vezes, podem mesmo ser banidas do convívio com o grupo. As 
penas para as transgressões morais não são emanadas de poder externo, são de foro íntimo, 
não atingem a todos indiscriminadamente, mas apenas aos integrantes daquele grupo. 
 
 
 
 
 
 
20 
 
3.3.6 Saúde, o que é? 
 
 
A Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu preâmbulo, define 
saúde como: “estado de completo bem-estar físico, mental e social e não consistindo somente 
da ausência de uma doença ou enfermidade”. Ao nos deparamos com tal afirmação temos a 
impressão de estar não diante de um conceito, mas de um desafio. É mais do que um conceito, 
é uma meta a ser alcançada. 
Se para ser e estar saudável o ser humano deve estar gozando de “bem-estar físico, 
mental e social” é necessário que nos desfaçamos de velhos conceitos e preconceitos, que 
permitamos a entrada em nossas vidas, em nossas práticas, de novos paradigmas para 
ampliarmos nossa compreensão e verificarmos que todos nós, de todas as áreas do 
conhecimento, estamos implicados na promoção da saúde. 
O bem-estar, conforme consignado pela OMS, é expressão que nos remete a um 
estado de ausência de transtornos físicos, psíquicos e sociais. E o que isso quer dizer? Em 
suma, temos a afirmação de que a saúde não se resume ao corpo físico, ao equilíbrio fisiológico, 
mas que depende também do equilíbrio emocional, das relações entre os seres, da inclusão 
social, do equilíbrio socioeconômico. 
Para falarmos em saúde sob o signo do atual paradigma é necessário olharmos o ser 
humano de modo integral; um ser biopsicossocioespiritual, para além do corpo físico. É preciso 
atentar para o ser emocional, o ser de relações pessoais e sociais. Pierre Weil (2002), no 
Simpósio “O Espírito na Saúde, Integração das Terapias Perenes e Modernas”, que teve as 
palestras compiladas no livro “O Espírito na Saúde”, assim define: “a saúde verdadeira é um 
estado no qual se leva em consideração que tudo depende de tudo.” 
Esta é uma visão holística, a ideia da integralidade que buscamos. Não se pode 
conceber mais a saúde como ausência de doença. Saúde é muito mais que isso. Estar saudável, 
ter o domínio de si mesmo e a consciência de suas limitações e de suas incontáveis 
possibilidades. Ser saudável é ter o conhecimento de seu corpo, é estar consciente de si 
mesmo, de respeitar seus próprios valores e suas limitações. É tomar posse da sua vida. 
 
 
21 
Saudável é estar disponível para a vida em todas as suas dimensões e suas 
implicações, seus prazeres e dores, suas alegrias e tristezas, e ser feliz por poder experimentar 
sentimentos, ter sensações e se saber maior que eles. O ser humano não é a alegria, nem é a 
tristeza, não é o prazer, e muito menos a dor que sente. O humano é o único ser vivente que 
aprende com os acontecimentos. Aprende com aquilo que vivencia, que experimenta, aprende 
também com os acontecimentos que atingem seus semelhantes. É o único ser capaz de 
transcender, de ir além, de transformar e transformar-se. 
Saudável é perceber-se como agente participante e transformador da vida. É olhar 
para o outro e vê-lo como parceiro nessa caminhada. É perceber que tudo o que fazemos é 
parte de um enorme sistema orgânico e que não é possível caminhar sozinho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
4 CAMINHANDO E CRIANDO CAMINHOS NOVOS 
 
Após a formulação da ideia por meio dos conceitos resta-nos pensar, transcender ao 
estabelecido e refletir acerca da ligação que se pode fazer entre aquilo que já conhecemos e o 
novo que se apresenta. Os acontecimentos atravessam nossas vidas e clamam por definições. 
Não é possível lidarmos com novos acontecimentos usando velhas formulações. O novo clama 
por novidade, por revisão do que é velho, por transformações. 
Seguindo os passos de Hilton Japiassu em “O Sonho Transdisciplinar e as Razões da 
Filosofia”, buscamos então definições para os meios que temos utilizado para o preenchimento 
das fissuras do pensamento científico geradas por uma especialização exacerbada que impõe 
limite à engenhosidade e nega a integralidade humana. 
O intercâmbio entre as diversas disciplinas e seus diferentes métodos é imprescindível 
para a construção da almejada integralidade. É preciso que o especialista permita-se ousar, 
permita-se atravessar a fronteira de seu campo de estudo para interagir com outros aspectos do 
saber, oferecendo os seus saberes e aceitando conhecimentos diferentes, métodos diversos. 
 A troca entre as diferentes disciplinas, a construção de uma linguagem que perpasse a 
todos os campos do conhecimento, trará um novo paradigma para a construção de um novo 
saber mais flexível, mais abrangente, mais integral. É importante que se crie institucionalmente 
espaços para essa troca entre os especialistas e que estes se permitam ser tocados por uma 
abordagem diferente daquela a que estão habituados. 
Tudo o que é novo encontra resistência porque questiona o que já está estabelecido, 
portanto esse novo caminhar depende de atitude, de perseverança.Depende da ousadia 
daqueles que já entenderam que a realização do espírito humano reside na expansão e não no 
aprisionamento e limitação de suas potencialidades. 
O surgimento do novo traz também a criação de novos termos, novas expressões. 
Precisamos então defini-los para nos sintonizarmos com as novidades, falarmos a mesma 
língua. Isso é imprescindível para harmonizar as discussões, principalmente quando estamos 
falando de novos modos de construção do saber, novas abordagens da vida. Caminhando então 
para a finalização desse primeiro caminhar, passemos às definições pertinentes. 
 
 
23 
 
5 NOVOS TERMOS E SUAS CONCEITUAÇÕES 
 
 
Palavras são representações simbólicas de ideias. A cada nova criação 
ressignificamos vocábulos antigos e criamos novos. Enfim, é por meio das palavras e suas 
significações que colocamos no mundo os saberes, que difundimos os conceitos. Atualmente 
sentimos que não é possível lidar com as recentes transformações e necessidades sem a 
ampliação do conhecimento e a conjugação dos saberes. 
Cada fenômeno da vida é imensuravelmente maior do que qualquer saber 
compartimentado, especializado. O que queremos dizer é que o aprofundamento de cada 
questão não poderá solucionar por si só as questões humanas, pois estas não estão confinadas 
em um único modo de saber. Aproveitando as reflexões e conceituações de Hilton Japiassu, 
examinaremos os termos que vêm sendo utilizados atualmente no mundo acadêmico e que 
pretendem explicar o modo como vem sendo construída a interação entre as diferentes 
disciplinas do mundo da ciência. 
 
 
5.1 DISCIPLINA 
 
 
Você deve estar se perguntando por que razão o termo “disciplina”, um velho 
conhecido, está incluído no item que trata de conceituação de novos termos. Expliquemos. É 
justamente por ser um termo utilizado tão comumente e com significações diferentes que 
entendemos ser pertinente conceituá-lo de acordo com a significação desejável para a 
composição das novas expressões das quais falaremos a seguir. 
Para fins dos nossos estudos é importante que tenhamos em mente a ideia de 
disciplina como a reunião de conhecimentos, formando uma especialidade a ser estudada. 
 
 
24 
Referimo-nos à disciplina científica, mais abrangente do que a disciplina escolar. 
 
 
5.2 OS NOVOS TERMOS 
 
 
 Os termos que passaremos a definir referem-se não exatamente a disciplinas, mas a 
movimentos que vem acontecendo no mundo acadêmico. Não há conceitos prontos, fechados, 
mas ao contrário, estão em formação e é possível que se encontre no futuro outras definições 
melhores articuladas. Multidisciplinaridade, Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade são 
acontecimentos aos quais vamos tentando definir, conceituar, à medida que vão se dando no 
mundo dos fatos. São movimentos que partem do particular para o geral e visam à resolução das 
questões do cotidiano. 
 
 
5.2.1 Multidisciplinaridade 
 
 
Um estudo, uma pesquisa multidisciplinar acontece quando várias pessoas, 
pesquisadores, estudiosos, profissionais de diferentes especialidades emitem seus pontos de 
vista acerca de um único objeto. Multidisciplinaridade é o exame, avaliação e definição de um 
único objeto sob diversos olhares de diferentes disciplinas. Cada especialista, neste caso, faz 
suas próprias observações considerando seus saberes, sem estabelecer contato com os 
saberes diferentes do seu. Não há, neste caso, articulações entre os diferentes pontos de vista 
acerca do mesmo assunto. 
Imaginemos vários profissionais, com especialidades diferentes, sendo chamados a 
emitirem parecer acerca de um mesmo paciente. Viria o cardiologista, o dermatologista, o 
nutricionista, o psicólogo, por exemplo, e cada um emitiria seu parecer com base em seus 
 
 
25 
próprios conhecimentos, sem fazer qualquer contato com os outros profissionais e seus saberes. 
Ou, ainda, que vários advogados, juristas, especialistas em direito tributário, direito do trabalho, 
direito econômico sejam chamados a opinar acerca de uma determinada ocorrência e deixem 
seus pareceres sem se comunicarem uns com os outros. 
Não há no trabalho multidisciplinar qualquer intenção de se estabelecer relações 
diretas e integrativas entre as diversas disciplinas. O que se pretende com a reunião das 
diferentes especialidades é que cada especialista emita um ponto de vista único, a partir de seus 
saberes particularizados. 
 
 
5.2.2 Interdisciplinaridade 
 
 
O trabalho interdisciplinar é articulado entre especialidades distintas com o 
estabelecimento de diálogo entre seus saberes. A interdisciplinaridade busca, diante do objeto 
de observação e estudo, estabelecer pontos comuns entre as diferentes disciplinas, seus 
métodos, suas regras, procurando sintetizá-los para a aplicação concreta. 
Busca-se o ponto de contato, o entrelaçamento entre as diferentes disciplinas. É 
interdisciplinar, por exemplo, o estudo realizado no ponto onde se dá o encontro entre a 
psicologia, a sociologia e o direito. Para o saber interdisciplinar a hegemonia de uma disciplina é 
desprezada em prol da construção de uma síntese entre as diferentes proposições. 
A prática interdisciplinar tem por objetivo solucionar as questões concretas que nos 
afligem no dia a dia. O que se quer é fazer nascer uma nova abordagem das questões do 
cotidiano. O trabalho interdisciplinar flexibiliza os velhos modelos de exame dos fenômenos da 
realidade. O movimento interdisciplinar tem seu foco no objeto a ser estudado, na solução das 
questões reais, objetivas e não na defesa de posições ortodoxas, nas pretensões de ser o 
detentor da verdade, nas posições acadêmicas. 
Pode acontecer que das investigações conjuntas e da busca pelo ponto comum das 
diferentes disciplinas surja outra disciplina, embora não seja este o objetivo primário, gerada pela 
 
 
26 
interdisciplinaridade, como por exemplo, a bioquímica. 
 
 
5.2.3 Transdisciplinaridade 
 
 
O estudo transdisciplinar atravessa o campo das disciplinas, estabelecendo-se no 
âmbito do conhecimento indiviso. A transdisciplinaridade conjuga e transcende aos diversos 
campos cognitivos com vistas à produção de um novo saber, à construção de novo paradigma 
que permita a interação das diferentes expressões do conhecimento. 
O saber transdisciplinar não despreza o conhecimento disciplinar, aproveita-o, 
expande-o, trazendo-o para o mundo dos fatos, da realidade. A visão transdisciplinar é ampla, 
globalizante, inclusiva, não despreza saberes, ao contrário, percebe no diferente a oportunidade 
de crescimento. Não há qualquer pretensão de fazer nascer uma nova disciplina, mas de 
integralizar a visão de mundo. 
A transdisciplinaridade permite que coexistam saberes distintos, prescindindo de 
formas instituídas. Constitui um novo campo onde coexistem as ciências humanas e as ciências 
da natureza, sem hierarquias. Busca o saber no interior da cultura, nas construções filosóficas e 
científicas. Todos partilham o mesmo espaço. Reúne em torno do mesmo objeto diversos 
segmentos sociais com seus saberes distintos. O homem de dentro e de fora se expressa livre e 
harmonicamente. 
Não há intenção de criar novas disciplinas, nem novos termos, ou uma nova técnica, 
mas de ir além do que já está posto e lançar um olhar unificado, sem hegemonia, sem 
hierarquia, mas harmônico, completo, integral. E a razão de tal fenômeno está no afastamento 
que se dá entre o saber e a realidade. Seja qual for a origem do saber, científico ou filosófico, 
para que sobreviva ao mundo da pós-modernidade é necessário que seja aplicável à realidade 
comum, que seja palpável por todos os mortais. Não se pode permanecer perscrutando o que 
está além sem se olhar para o que está acontecendo ao redor. 
 
 
 
27 
 
6 O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE 
 
 
Podemos falar de solidariedade sob pontos de vista diferentes, mas o resultado será 
sempre semelhante. A solidariedade acontece quandoo homem toma consciência da 
interdependência que há entre ele e seus semelhantes. Decorre das obrigações recíprocas que 
temos uns com os outros. Quanto menos racional, mecanizado é o ato solidário, quanto mais 
dotado de verdade, de gentileza, maior será a liberdade de cada um. 
O sentido da solidariedade na biologia é de uma interdependência orgânica. 
Reciprocamente há uma dependência sistemática, na micro ou na macrobiologia. A 
solidariedade é mais do que um envolvimento emocional com a causa. A solidariedade 
pressupõe ações modificativas da situação que gera a dor para outrem. 
 
 
6.1 SOLIDARIEDADE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
 
 
O art. 3º, inciso I, da Constituição Federal, norma programática, traça as metas que 
deverão nortear as políticas públicas do Estado brasileiro: 
 
TÍTULO I 
Dos Princípios Fundamentais 
Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da 
República Federativa do Brasil: 
I- construir uma sociedade livre, justa e solidária. 
(CF/88, art. 3º, inciso I). 
 
 
28 
 
Ao constitucionalizar metas, tais como erradicação da pobreza e marginalização, 
redução das desigualdades, o legislador constituinte consagrou o princípio da solidariedade, 
alçando-a o nível de fundamentação das relações intersubjetivas na sociedade. Tirou-a do plano 
da transcendência e trouxe-a para o mundo dos acontecimentos, para o concreto. Assim, foi 
consagrada no mundo jurídico a necessidade da colaboração intersubjetiva. O coletivo e o 
individual interagindo. O bem de um interligado ao bem do outro, vinculado ao bem do conjunto. 
É o prestígio da colaboração à frente da obrigação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
7 HUMANISMO IDEAL, HUMANIDADES E HUMANISMO JURÍDICO 
 
 
Usarmos o vocábulo humanidade com diversos sentidos. Usamos a palavra para 
designar o conjunto dos seres humanos, mas também para designar atributos positivos. 
Costumamos qualificar as ações com a expressão humanidade. “Agir com humanidade” dá a 
ideia de uma ação eivada de bondade, de delicadeza, de justiça. “Tratamento desumano” é 
aquele onde não há respeito à dignidade da pessoa. 
 
 
7.1 HUMANISMO 
 
 
O movimento humanista nascido no fim da Idade Média teve como escopo principal a 
demonstração da grandeza humana, da dignidade do ser humano. Movimento de confiança na 
razão e no espírito crítico. O termo ‘humanismo’ alargou-se e ganhou novas significações. 
Filosoficamente, humanismo significa a doutrina que tem o ser humano como centro de suas 
reflexões e, como consequência, o humanismo pretende encontrar os meios para as realizações 
humanas. 
Para a filosofia humanista o homem é o centro de tudo. Todas as atitudes devem ter 
como parâmetro a dignidade do homem. Na atualidade o humanismo vê o homem como 
construtor de si mesmo. Não há dúvidas de que a evolução humana tem origem no próprio 
homem. O homem é criador de si mesmo. 
 
 
 
 
 
30 
7.2 HUMANIDADES 
 
 
Atualmente usa-se no meio acadêmico o termo “humanidades” para designar os 
saberes necessários à formação do ser humano, à construção de subjetividades, à incorporação 
de valores. A finalidade almejada pelas disciplinas denominadas humanas, incluindo as artes, 
não é a construção nem transmissão de saberes científicos e é justamente neste aspecto que 
reside a dificuldade acadêmica das “ciências humanas”, pois há a pretensão das ditas 
“humanidades” e a edificação do ser humano de acordo com um ideal de civilidade. 
A conquista da consciência de que a cientificidade deve obediência aos valores éticos 
e respeito à dignidade humana trouxe à bioética e ao biodireito as luzes do humanismo. A justiça 
está inegável e irremediavelmente vinculada aos progressos científicos. Não se pode vilipendiar 
a dignidade e a personalidade em nome de quaisquer avanços em nome da ciência. 
É inconcebível que se fale em progressos científicos em prol da humanidade, que é 
uma abstração, e se desrespeite ao ser humano que se apresenta concretamente expondo-se 
aos riscos das pesquisas. A grande conquista da humanidade é a consciência do respeito ao ser 
humano, seus valores, sua dignidade, sua liberdade. 
 
 
7.3 HUMANISMO JURÍDICO 
 
 
As concepções do Humanismo influenciam de modo muito positivo as construções 
jurídicas, dando início ao movimento de Humanismo Jurídico. A ordem jurídica positiva não pode 
ser contrária aos direitos humanos, que são o conjunto das necessidades básicas de todo ser 
humano e a garantia de suas satisfações. O Direito Positivo, que se consubstancia nas regras, 
nas leis internas, não pode se contrapor aos ideais de justiça nem à ética exigida pela dignidade 
do ser humano. 
Embora ainda haja no mundo muita resistência, muita luta para a manutenção de 
 
 
31 
privilégios. Embora a força militar e a força econômica ainda sejam armas para impedir 
mudanças que tragam melhor divisão das riquezas, maior liberdade, menos humilhações, menos 
preconceito e discriminação, e mais respeito à dignidade, já podemos perceber as mudanças no 
direito positivo de todos os povos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
8 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA 
 
 
Conforme temos afirmado desde o início da nossa conversa, estamos tratando de 
saberes em construção, estamos falando do novo. Assim sendo, a construção do conhecimento 
vai se dando à medida que os fatos, que as transformações das relações humanas vão 
acontecendo. Tratar de conhecimento em seu nascedouro é ousar falar daquilo que se 
transforma e que nos transforma, que nos inquieta, e que está em permanente crescimento e 
modificação. Devemos ter em mente que o farol que deve nos guiar por todo o caminho do saber 
é o respeito e a preservação da dignidade do ser humano. 
O centro de todas as pretensões progressistas deve ser a pessoa e sua dignidade. As 
novas técnicas devem ter por objetivo a maior interação humana. Devem estar a serviço do bem-
estar, da dignidade humana. Não se poderá falar em avanços científicos ou tecnológicos se não 
estiverem fundados no bem-estar do ser humano, na defesa e manutenção da sua dignidade. 
Sendo a pessoa humana o centro de todas as atividades, de todos os saberes, passaremos 
agora às considerações sobre a Dignidade Humana. 
 
 
8.1 OS PENSADORES 
 
Immanuel Kant 
 
Kant defendia a possibilidade da convivência harmônica entre a ciência e a moral. Sua 
principal obra é a “Crítica da Razão Pura” e seu pensamento é o maior influenciador da filosofia 
contemporânea. Em sua análise dos fundamentos da lei moral, formulou o seguinte princípio: 
“Age de tal forma que a norma de tua ação possa ser tomada como lei universal”. 
Para Kant Dignidade tem a seguinte definição: “Aquilo que constitui a condição única, 
 
 
33 
permitindo que algo possua um fim em si, não somente tendo um valor relativo, isto é, um preço, 
mas um valor intrínseco, ou seja, uma dignidade.” Quando afirmamos a dignidade do ser 
humano estamos, portanto, falando de seu valor intrínseco, não de valor relativo. 
A existência humana tem um valor em si mesmo, sem que precise estar relacionada a 
nada mais. O nascimento do ser humano já é por si só um fato merecedor do mais profundo 
respeito e reverência, devendo ser o núcleo de todas as atividades, científicas ou não. 
 
Giovanni Pico Della Mirandola 
 
Humanista excepcional, considerado na Itália como o mais sábio, belo e rico de sua 
época. Seus textos têm beleza e leveza ímpares, e datam do século XV, mas possuem uma 
dimensão atemporal. É corrente o entendimento de que seu pensamento demonstra 
preocupação com a tecnologia. 
Hoje é eticamente inconcebível a existência de ordenamentos jurídicos ofensivos à 
dignidade humana, embora em algumas sociedades as regras jurídicas ainda sejam 
instrumentos de repressão. Todos os ordenamentos jurídicos de todas as sociedades deveriam 
se pautar no respeito à dignidade do ser humano. A responsabilidadepelas escolhas que se faz 
depende da liberdade que se tem para fazê-las. 
Em novembro de 1975 a ONU, no art. 6º da Declaração sobre a Utilização do 
Progresso Científico e Tecnológico no Interesse da Paz e em Benefício da Humanidade, assim 
pronunciou-se: 
 
Todos os Estados adotarão medidas tendentes a estender a todos os 
estratos da população os benefícios da ciência e da tecnologia e a 
protegê-los, tanto nos aspectos sociais quanto materiais, das possíveis 
consequências negativas do uso indevido do progresso científico e 
tecnológico, inclusive sua utilização indevida para infringir os direitos 
do indivíduo ou do grupo, em particular em respeito à vida privada e à 
proteção da pessoa humana e de sua integridade física e intelectual. 
(ONU, 1975). 
 
 
 
34 
O Conselho da Europa adotou, em novembro de 1996, a prescrição do art. 2º da 
Convenção sobre Direitos Humanos e Biomedicina que afirma que: “os interesses e o bem-estar 
do ser humano devem prevalecer sobre o interesse isolado da sociedade ou da ciência.” 
 
 
8.2 A DIGNIDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 
 
 
A Constituição é lei, na qual se fundamentam as regras de organização do Estado, ou 
seja, uma sociedade politicamente organizada composta de território, povo e soberania. Para 
nossos propósitos do momento não é necessário aprofundamento acerca da formação do 
Estado. Importa-nos saber apenas que as regras de convivência dentro da nossa sociedade 
estão fundadas na Constituição da República. 
Alexandre de Moraes (2005), citado por Nelson Rosenvald em “A Dignidade Humana e 
a Boa-Fé no Código Civil”, assim a define: 
 
A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à 
pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação 
consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a 
pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se 
em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, 
de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações 
ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar 
a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres 
humanos. (ROSENVALD, 2005). 
 
Concluímos então que a dignidade é um atributo inato, natural do ser humano. A 
pessoa deve, apenas por sua existência e essência, ser respeitada pelo Estado. O poder estatal 
não pode desconhecer a dignidade da pessoa. A dignidade, sendo um atributo inato, antecede a 
qualquer direito, constituindo-se como um valor ético. É o núcleo de qualquer direito. A dignidade 
é um valor da ética. 
 
 
35 
A dignidade não é um valor cultural. É um valor que antecede a qualquer cultura. Antes 
de se agrupar o homem traz em si a dignidade, ela não lhe é conferida socialmente, pelo 
contrário, a dignidade social é garantida pelo respeito à dignidade individual. No Título I que trata 
dos Princípios Fundamentais, ou seja, dos princípios que constituem a base da República, a 
Constituição Federal consigna a “dignidade da pessoa humana” como um dos pilares do Estado 
Democrático de Direito, conforme transcrevemos: 
 
 
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I- a soberania; 
II- a cidadania; 
III- a dignidade da pessoa humana; 
IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V- o pluralismo político. 
 
Parágrafo Único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio 
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta 
constituição. (CF/88, art. 1º, grifo nosso). 
 
 
8.3 A DIGNIDADE COMO PRINCIPIO FUNDAMENTAL 
 
 
E qual seria então a importância de estar consignada “a dignidade da pessoa humana” 
 
 
36 
dentre os princípios fundamentais da nossa Constituição? Se os princípios fundamentais são as 
diretrizes do nosso ordenamento jurídico, isto é, se qualquer norma legal deve estar em sintonia 
com os princípios fundamentais da República democrática, concluímos que qualquer regra de 
conduta para ter validade em nosso território não poderá ser ofensiva à dignidade da pessoa 
humana. 
E mais que isso, o não atendimento a um princípio fundamental é de extrema 
gravidade, pois significa desrespeito a todo o sistema jurídico, teremos uma insubordinação aos 
valores socialmente considerados como fundamentais, como imprescindíveis para a existência 
do Estado Democrático de Direito. A dignidade deve ser o valor que orienta as atividades 
humanas, inclusive e, principalmente, àquelas que têm existência no mundo jurídico. 
A inserção da dignidade como fundamento do Estado Democrático de Direito é a 
garantia de que o sistema normativo do Estado brasileiro estará comprometido com o respeito à 
dignidade do ser humano. Todo o ordenamento jurídico brasileiro deve respeitar a dignidade da 
pessoa, que é o começo e fim de todos os objetivos sociais. Nenhuma regra de conduta que 
ofenda a dignidade deve ter aplicação. O princípio da Dignidade Humana deve ser a base de 
toda construção normativa social. A pessoa deve ser a razão primeira e última das regras sociais 
ou institucionais dentro do território nacional. 
Chamamos a atenção para o seguinte: estamos falando de reconhecimento dos 
valores humanos, do respeito à dignidade e não podemos evitar a perplexidade ao tratar de tal 
assunto porque é certo que é o ser humano que olha para seu semelhante como objeto e não 
como sujeito de direitos. É o mesmo ser humano que reivindica seus direitos, que se entende 
merecedor de privilégios, como se sua vida, sua dignidade, tivesse mais valor do que a vida e a 
dignidade de seu semelhante. Por essa razão pensamos que para que se possa compreender 
verdadeiramente o significado e o valor de cada regra é necessário buscar dentro de si mesmo o 
valor da dignidade. 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
9 PERSONALIDADE 
 
 
A Personalidade é atributo jurídico para o desempenho dos papéis sociais. 
Diferentemente da Dignidade, que é um atributo inato do ser humano, a Personalidade é uma 
atribuição jurídica. Filosoficamente, Personalidade é “o conjunto de qualidades que constituem a 
pessoa”, conforme De Plácido e Silva, in “Dicionário Jurídico”. 
Historicamente, temos diferentes modos de atribuição da personalidade ao homem 
pelo ordenamento jurídico. Na Idade Média o status social era determinante para o 
reconhecimento jurídico da personalidade. Chegando à Modernidade, e ao liberalismo do século 
XIX, temos a vinculação do indivíduo ao patrimônio. Para ser “sujeito” de direito, de relações 
jurídicas era necessário ser proprietário de bens materiais. 
O humano foi desvalorizado em si mesmo, passando a instrumento do mercado. E 
sendo a pessoa proprietária de seu próprio corpo, a ideia liberal era de que este era também 
comercializável. O corpo, sendo de propriedade da pessoa era, de acordo com as concepções 
da época, coisa dentro do comércio, podendo inclusive ser reivindicado pelo credor em face da 
inadimplência do devedor. Para o liberalismo não havia preponderância do valor humano em si 
sobre a prescrição jurídica. 
Nossa Codificação Civil de 1916 foi contaminada pelo ideário liberal e também não 
dedicava, como faz o Código Civil de 2002, um capítulo aos Direitos da Personalidade. Tendo a 
criatura humana um valor em si mesmo, podemos entender que o reconhecimento deste valor é 
que dá origem aos direitos concedidos pela ordem jurídica. 
 
 
9.1 DIREITOS DA PERSONALIDADE 
 
 
 
 
38 
Francisco Amaral (2005), citado por Nelson Rosenvald in “Dignidade e Boa-Fé no 
Código Civil”, conceitua os direitos da personalidade como “direitos subjetivos que têm por 
objetivo os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual.” 
Quando falamos em direitos à personalidade estamos nos referindo à pessoacomo centro do 
bem a ser tutelado pela ordem jurídica. 
Os direitos da personalidade são oponíveis erga omnes (em relação a todos, 
indistintamente), o quer dizer que devem ser respeitados por quem quer que seja. O limite do 
direito da personalidade é o direito do outro. É dever de todos o respeito aos direitos da 
personalidade de outrem e, consequentemente, de abstenção de prática que venha a lesar 
àqueles direitos. 
Os Direitos da Personalidade têm caráter extrapatrimonial e são indisponíveis. Significa 
que além de imensuráveis quantitativamente, não têm valor de mercado e ninguém deles poderá 
privar-se. Não é possível a expropriação, isto é, a perda dos direitos da personalidade. São 
direitos inatos. Extinguem-se os direitos da personalidade apenas com a morte do ser humano, 
embora alguns atributos desses direitos possam ser estendidos após, possibilitando aos 
descendentes a preservação da memória e da dignidade do morto. 
 Todos têm direito a reivindicar o direito à diferença, à individualidade. Entretanto, 
necessário se faz para a saúde social que cada um, ao se reconhecer como ser único também 
reconheça no outro um titular dos mesmos direitos à diferença, merecedor de respeito a seus 
valores e crenças. Não podemos esquecer que toda coletividade é uma soma de 
individualidades. A dignidade e a personalidade não podem ser sobrepujadas por quaisquer 
outros interesses. O interesse pelo coletivo não pode ignorar o individual. O interesse econômico 
não pode ser um atentado contra a dignidade e a personalidade. 
Globalização e avanço tecnológico não podem desprezar a solidariedade, massificar o 
ser humano, tornando-o objeto. E o que é mais estarrecedor é que todos os desrespeitos, todas 
as violações desses direitos, da dignidade, seja pela busca de lucro, seja em nome do progresso 
da ciência, são cometidos pela vaidade, pelo egoísmo de seres humanos escondidos atrás de 
discursos progressistas. 
O ser humano é, em si mesmo, o maior valor, a razão de existência da sociedade, não 
pode ser tratada como meio, pois que toda a batalha humana tem por fim tornar melhor a própria 
vida humana. 
 
 
39 
 
 
9.2 DIREITOS DA PERSONALIDADE NO CÓDIGO CIVIL 
 
 
Consagrando os direitos da personalidade e tendo a dignidade como núcleo do direito 
privado, o Código Civil trata Dos Direitos da Personalidade, do art. 11 ao art. 21. Consagra-se o 
direito civil como direito da pessoa e não do patrimônio. A pessoa deve preponderar sobre o 
patrimônio, este só existe em função daquela, e não o contrário. A existência da pessoa 
independe do patrimônio, cujo valor é atribuído justamente pela pessoa. Não há patrimônio sem 
a existência da pessoa. 
Todos têm a faculdade de exercício de seus atributos da personalidade. Todos têm 
direito à vida, direito ao nome, direito ao corpo, sendo este limitado pelos bons costumes e pela 
preservação da integridade física. O próprio Estado cuida de proteger a integridade física do 
indivíduo. A seguir transcreveremos os artigos 11 a 15 do Código Civil: 
Capítulo II 
Dos Direitos da Personalidade 
 
Art.11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos à 
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o 
seu exercício sofrer limitação voluntária. 
 
Art.12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da 
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras 
sanções previstas em lei. 
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimidade para 
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou 
qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. 
 
Art.13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do 
 
 
40 
próprio corpo, quando importar em diminuição permanente da 
integridade física, ou contrariar os bons costumes. 
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de 
transplante, na forma estabelecida em lei especial. 
 
Art.14. É válida com objetivo científico, ou altruístico, a disposição 
gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. 
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser revogado a qualquer 
tempo. 
 
Art.15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de 
vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. (CÓDIGO CIVIL, 
art. 11 a 15). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
10 INDIVIDUALISMO, LIBERALISMO E ANARQUISMO 
 
 
O individualismo, teoria surgida no século XIX, considera que sociedade nada mais é 
do que a soma de individualidades, sem que se cogite da interação e da colaboração entre seus 
membros. O cerne da doutrina do individualismo é a defesa de que os direitos individuais devem 
ser preservados e protegidos pelo Estado. O individualismo é uma forma de liberalismo. 
Tanto o liberalismo quanto o anarquismo defendem a preservação da liberdade 
individual diante das pressões sociais. Para o liberalismo o Estado não deve intervir nas relações 
intersubjetivas, respeitando as vontades individuais. O poder estatal é limitado. 
O anarquismo prega a liberdade da organização humana em grupos, por acreditar que 
os homens são essencialmente bons e sociáveis e não precisam do Estado. Em sentido oposto 
encontramos a teoria do coletivismo, que afirma a despersonalização do indivíduo para dar 
origem à comunidade, não se falando em direitos da pessoa, visto que esta só existiria em 
função da sociedade. Nenhuma dessas teorias se sustenta, pois tem visões limitadas e idealistas 
que não se apoiam na realidade humana. 
O ser humano não pode viver egoisticamente. As diferenças individuais são 
complementares. É a relação de troca entre os seres humanos que possibilita a realização de 
desejos, o suprimento de necessidade, a sobrevivência e um viver digno, material e 
psicoemocional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
11 INTERESSE PÚBLICO E BEM COMUM 
 
 
Por último, mas não menos importante examinaremos o significado das expressões 
“Bem Comum,” para onde deverão convergir as atividades públicas e particulares, e “Interesse 
Público”. 
 
 
11.1 BEM COMUM 
 
 
O homem é um ser social. Os anseios de progresso, de transcendência, só podem ser 
realizados na presença do outro. O valor intrínseco do ser humano, seu valor em si mesmo, só 
pode ser reconhecido na vida em sociedade. Ao contrário da ideia da dignidade, que é um 
atributo, um valor intrínseco do ser humano, o ‘Bem Comum’ é um princípio que só faz sentido 
na vida em sociedade. 
Alceu Amoroso Lima, citado por Yves Gandra Martins (2009) em artigo dedicado ao 
Bem Comum afirma: “A Alma do Bem Comum é a solidariedade. E a solidariedade é o próprio 
princípio constitutivo de uma sociedade realmente humana”. O Bem Comum é o bem do 
indivíduo que é parte da comunidade. O bem da comunidade é o bem de cada indivíduo que a 
compõe. Cada integrante da comunidade deseja o bem desta uma vez que será seu próprio 
bem. 
O bem particular almejado é em última análise a felicidade, que mesmo tendo um 
conceito abstrato/subjetivo tem um significado geral de satisfação de seus anseios, de interesse 
alcançado. Ao aspecto transcendental do homem interessam os bens espirituais, enquanto sua 
natureza animal tem exigências de ordem material. Tanto um quanto outro aspecto deve ser alvo 
de cuidado e atenção, pois o ser humano tem necessidades biopsicossocioespirituais que 
 
 
43 
precisam ser satisfeitas. 
Os homens unem-se socialmente e organizam a sociedade que compõem em função 
“bem comum” que pretendem alcançar. E que se distingue do bem particular buscado 
individualmente por cada um, isoladamente. 
 
 
11.2 INTERESSE PÚBLICO 
 
 
Quando o bem é almejado pela comunidade temos então o Interesse Público. O 
interesse público é a relação entre uma determinada sociedade e o Bem Comum que pretende. 
Cabe aos componentes do grupo social que estão investidos de autoridade a persecução do 
bem almejado

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