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Farmacologia Veterinária Ana Nunes 1 O sistema cardiovascular é composto pelo coração e vasos sanguíneos que levam o sangue para o organismo. Os fármacos que atuam no sistema cardiovascular são classificados em: Agentes hematopoiéticos Agentes hemostáticos Agentes anticoagulantes Inotrópicos positivos Vasodilatadores Antiarrítmicos. agentes hematopoiéticos Eritropoiese ou hematopoese é a formação e maturação das hemácias na medula óssea (MO). São fármacos que induzem a formação de hemácias na medula óssea. Controle da eritropoiese As hemácias são células responsáveis por carregar gases, sendo responsáveis pela hematose. Se há um baixo número de hemácias, a hematose fica prejudicada, e assim, acumula CO2, o que leva a uma acidose. Outro ponto relevante, é que as hemácias também são responsáveis pela quantidade de oxigênio que os tecidos recebem para que eles funcionem adequadamente. A hipóxia ocorre quando a pressão de oxigênio está baixa no organismo. É determinante para morte celular e degeneração dos órgãos. As hemácias vêm de células tronco mielóides encontradas na medula, principalmente na medula de ossos longos. Essas células tronco são estimuladas pelo hormônio eritropoietina, que é produzido no rin. Portanto, com uma hipóxia no organismo, pode deduzir que o número de hemácias carregam menos oxigênio. Essa situação é percebida pelos rins, que começam a produzir e liberar a eritropoetina para que haja a diferenciação nos centros eritropoiéticos. Assim, um maior número de hemácias são encontradas na corrente sanguínea, e consequentemente, aumenta o nível de O2. Assim, a eritropoietina sofre um feedback negativo nos rins, abaixando os seus níveis, mantendo a quantidade adequada de hemácias na corrente sanguínea. Assim, a quantidade de oxigênio, os níveis de eritropoietina e a presença de células tronco mieloides (centros eritropoiéicos) são chaves para a pressão de oxigênio estar adequada. O desequilíbrio da eritropoiese que é caracterizado pela diminuição das hemácias, do volume globular (VG ou hematócrito) e da hemoglobina chama-se anemia. A anemia possui diversas causas, sendo as principais: hemorragias, nutricionais, (ausência de vitaminas e minerais), citotoxicidade (ou efeitos adversos farmacológicos). Tratamento de Distúrbios da Eritropoiese Tratamento antianêmico Reposição de hemácias ou transfusão sanguínea. Não se faz transfusão em todos os casos. Somente em casos muito graves, quando o VG estiver abaixo de 25%. Em casos emergenciais por perda aguda ou choque. A problemática da transfusão sanguínea é a necessidade de se ter um doador disponível ou então a maneira correta de armazenagem das bolsas de sangue. Além disso, também há a questão da compatibilidade sanguínea. Reações adversas: febre, alergia, hemólise, sobrecarga e transmissão de doenças infecciosas. fármacos que atuam no sistema cardiovascular 25/01/2022 Farmacologia Veterinária Ana Nunes 2 Paliativo: repor volemia com solução Ringer Lactato. Tratamento de suporte Utilizada não somente quando há reposição sanguínea, mas também quando há a possibilidade de que a medula do animal possa fazer essa reposição por si só, ou seja, regeneração. Dieta adequada rica em vitaminas e minerais. Administrar um polivitamínico. Fluidoterapia para manter a volemia. Manter até descobrir a etiologia. Correção da deficiência de ferro e vitaminas Há anemias que são consequências de diferenciação de células tronco mielóides, mas principalmente estão relacionadas com a deficiência de minerais, como de Fe (faz parte da hemoglobina) e deficiências de vitaminas do complexo B12 e do ácido fólico. Quando se tem pacientes anêmicos que a causa é a deficiência de nutrientes, é preciso fazer a reposição desses nutrientes. É importante saber a causa dessa anemia para saber como irá ser o tratamento. Um grande erro é achar que se tem anemia, deve-se tratar com sulfato ferroso ou com polivitamínico que tenha Fe na composição. O hemograma é o exame feito para descobrir a causa da anemia, se é ferropriva ou megaloblástica. Administração VO de sais de ferro (anemia ferropriva). Cuidado com os leitões: eles possuem uma pré disposição a apresentar, nos primeiros dias de vida, uma anemia ferropriva. Por isso, é obrigatória a reposição de ferro nesses animais. Administração IM em casos de irritação do TGI, diarreia, vômitos - forma de ferro Dextran (exclusivo para ser absorvido pela administração parenteral). Manter até a recuperação do paciente (hematológico), depois suporte associado à dieta rica em ferro. Cuidado: altas doses de sulfato ferros podem intoxicar o animal, sendo a VO a mais segura na dosagem correta. Sinais de intoxicação: palidez cutânea, fezes escuras, diarreia sanguinolenta, taquicardia, hipotensão, dispneia e choque. Anemia megaloblástica – usar complexo vitamínico (ácido fólico e vitamina B12). Cuidado com cimetidina, ranitidina, (bloqueadores histaminérgicos) omeprazol e lanzoprazol (aumento do pH gástrico, e a vitamina B12 é preferencialmente absorvida em pH ácidos), pois inibem absorção de vitamina B12. Medicamentos contendo ferro, vitaminas e outros cofatores para tratamento de anemia Tratamento de anemia por doença renal Causa: Azotemia (ureia e creatinina e quantidade superior ao intervalo de referencia) provoca hemólise dentro do vaso sanguíneo. Baixa EPO: Os centros eritropoiéticos são dependentes da eritropoietina. Em alguns casos de doenças renais, o paciente apresenta anemia. Pois a degeneração dos rins culmina na baixa produção de eritropoietina. Assim, a medula óssea não é estimulada, e por consequência não produz hemácias. Em casos de DR, o ideal é tratar a causa. Se for uma DRC, utiliza-se a EPO recombinante. Se for um animal com azotemia, é preciso fazer hemodiálise para baixar os níveis de ureia e creatinina. O tratamento é contínuo. EPO recombinante humana Necessário certo cuidado por ter origem humana, por isso tem risco de ter uma reação imune. Farmacologia Veterinária Ana Nunes 3 Dose recomendada: 100 a 150 UI/Kg 2 vezes por semana – até o volume globular chegar ao normal (em até 3 a 4 semanas). Importante lembrar que animais desnutridos e desidratados, esses valores serão alterados. Pode haver indução da imunidade com anticorpos anti-EPOrecombinante. Animais não responsivos à EPO: fazer transfusões seriadas de concentrações de hemácias. Tratamento de anemia por deficiência de vitamina K Anemias decorrentes da perda de células, ou seja, de volume, por processos hemorrágicos. O organismo tem um sistema coagulativo, que utiliza a vitamina K, que ativa os fatores de coagulação. Causas: Antagonismo induzido por rodenticida anticoagulantes, que impedem sua reciclagem natural. Doenças hepáticas: O animal não produz fatores de coagulação nem a vitamina K. Doenças da má absorção intestinal ou má nutrição. Dose de ataque 5mg/kg. Após 8 h, 2,5 mg/kg/dia (dividido em 8-12 horas). Uso de 1 a 6 semanas. agentes hemostáticos Causas da hemorragia Deficiência plaquetária Deficiência de fatores de coagulação Deficiência de vitamina K Doenças hepáticas Intoxicação por ag. anticoagulantes Acidentes Cirurgias Mecanismo geral da hemostasia e coagulação Após a lesão vascular, as plaquetasse aderem à parede do vaso no local lesionado. Ou seja, a lesão vascular induz a agregação plaquetária. Processo de hemostasia: as plaquetas se unem ao fibrinogênio. A imobilização do fibrinogênio na lesão atrairá os fatores de coagulação. Os fatores transformam o fibrinogênio em fibrina, que é um polímero. Após um tempo, no processo de coagulação, moléculas de plasmina são atraídas pela fibrina. A plasmina destrói a rede de fibrina (fibrólise). Os produtos da fibrólise são fagocitados por macrófagos e eosinófilos. O fluxo normal é restabelecido no vaso. Tratamento de distúrbios da coagulação Utilizam-se os hemostásicos, que podem ser tópicos ou sistêmicos. Tópicos Usados apenas quando o mecanismo de coagulação está normal. Somente aceleram o processo de coagulação. o Tromboplastina – spray, esponja o Trombina, fibrinogênio – pó o Espuma de fibrina, de gelatina e celulose. Sistêmicos o Sangue e derivados: usados em emergências hemorrágicas graves e casos de trombocitopenia o Vitamina K: uso em hemorragias por intoxicação por cumarínicos, plantas tóxicas e distúrbios hepáticos (síntese hepática deficiente dos fatores de coagulação). agentes anticoagulantes Para impedir a formação e o desenvolvimento de trombos e coágulos se usa os anticoagulantes e os antiagregantes plaquetários. O anticoagulante age em todos os fatores de coagulação. O antiagregantes plaquetário impede apenas a agregação das plaquetas. Quando já tem a presença de coágulos e trombos, se utiliza trombolíticos ou fibrinolíticos para dissolvê-los in vivo Que possuem ação sobre a cascata de coagulação HEPARINA Utilizado com0 profilaxia no âmbito hospitalar. Só pode ser administrada por IV. Um erro na Farmacologia Veterinária Ana Nunes 4 dose (para mais), o animal apresenta deficiência na coagulação sanguínea. Possui ação reduzida na presença de tetraciclina, anti-histamínicos e digitálicos. Uso clínico relativamente perigoso. Não aplicar IM, pois há risco de hemorragia. Usar em casos de trombose, tromboembolismo arterial, vasoespasmo coronariano e lesões ateroscleróticas. Caso já tenha essas lesões instaladas, usar agentes antiagregantes plaquetários, pois impedem a adesão e agregação plaquetária ao endotélio vascular, e agentes trombolíticos ou fiibrinolíticos, que ativam direta ou indiretamente a conversão do plasminogênio em plasmina. Agentes Antiagregantes plaquetários Bloqueadores adrenérgicos AINEs Antagonista de serotonina Inibidores da fosfodiesterase Anti-histamínicos Bloqueadores de cálcio ASS – ÁCIDO ACETILSALICÍLICO AINEs – Bloqueia a ciclooxigenase, e assim não se tem a formação do tromboxano que é um fator ativador de plaquetas. Em excesso pode causar hemorragia. CLOPIDOGREL Usado em casos de hipercoagulabilidade em cães e na prevenção de doença tromboembólica em gatos. Muito utilizado por pacientes que sofrem infarto. Mecanismo de ação: Ele se liga a um receptor na superfície da plaqueta, que é responsável pela sua ativação Como uma plaqueta se ativa: Na plaqueta tem os receptores agonistas que induzem a ativação (receptores de colágeno, de trombina, de tromboxanos). Uma vez que essas substâncias se ligam a esses receptores, inicia-se a produção de adenosina fosfato (ADP) e a liberação de tromboxano a2 para a agregação plaquetária. Além disso, essa ativação ativa um receptor para o fibrinogênio que irão fazer a agregação para a formação do coágulo. Ex de como bloquear isso: A aspirina bloqueia a COX, que impede a formação de TXA2, e assim não ativam as plaquetas. O clopidrogel quando se liga ao seu receptor bloqueia a ligação com a ADP e modifica o receptor de fibrinogênio. Agentes Fibrinolíticos ESTREPTOQUINASE – ativador indireto Catalisa a degradação de fibrinogênio e fatores de coagulação. É uma proteína retirada do Streptococcus beta- hemolítico. Usado em casos de embolia pulmonar, trombose venosa profunda, infarto agudo do miocárdio. Por ser uma proteína oriunda de um microrganismo, as chances de desenvolver hipersensibilidade são altas. UROQUINASE – ativador direto Proteína obtida da urina humana. Também pode causar resposta do sistema imunológico por ser de outra espécie. Degradação de fibrina e fibrinogênio Casos de hipersensibilidade à estreptoquinase Custo elevado. Farmacologia Veterinária Ana Nunes 5 inotrópicos positivos Se há alguma falha no bombeamento sanguíneo, há como corrigir isso farmacologicamente. Uma das funções do coração é manter a débito cardíaco; A sua manutenção é fundamental para uma excelente oxigenação e uma excelência distribuição de nutrientes para o organismo. Os inotrópicos positivos são aqueles que alteram o inotropismo. Inotropismo: capacidade de musculatura cardíaca tem de contrair. O inotropismo pode estar aumentado quando se tem um hipertrofismo cardíaco ou na presença de cateocalminas e outros fármacos. Ou o inotropismo pode estar diminuindo, sendo chamado de inotropismo negativo. Sempre que se tem um inotropismo negativo, pode contrabalancear com os fármacos inotrópicos positivos para que se estabilizem os batimentos cardíacos. Débito Cardíaco Consiste na quantidade de sangue ejetado pelo coração durante um minuto. É medido em litros por minuto ou mililitros por minuto. Fórmula: DC = VS x FC Sendo DC o débito cardíaco, VS, o volume sistólico e FC a frequência cardíaca (batimentos por minuto). O VS é a quantidade de sangue ejetado por batimento (mL/batimento). Determinantes do débito cardíaco: 1) Frequência cardíaca: É influenciada por fatores cronotrópicos positivos (aumentam a FC) e fatores cronotrópicos negativos (diminuem a FC). Alguns fatores cronotrópicos são o SNA, alterações hidroeletrolíticas e algumas medicações. O volume sistólico depende de três fatores: 2) Pré-carga Estresse na parede ventricular antes do início da contração. 3) Pós-carga Estresse na parece ventricular durante a ejeção. A pós-carga do VE é igual a pressão arterial sistêmica e a pós carga do VD é igual a pressão arterial pulmonar. 4) Contratilidade Propriedade do músculo cardíaco modulada por fatores inotrópicos positivos (aumento) e inotrópicos negativos (diminuição). O SNA, as alterações hidroeletrolíticas e algumas medicações atuam sobre a contratilidade dessa forma. Os fármacos inotrópicos são utilizados para pacientes com cardiomiopatia dilatada ou outras causas de insuficiência cardíaca, incluindo cães com regurgitação de mitral avançada. A base da terapêutica cardiovascular leva em consideração a pré-carga, a pós-carga e o inotropismo. Digitálicos São os inotrópicos mais antigos. Mecanismo de ação: Inibição da Na/K ATPase, com acúmulo de Na no interior da célula cardíaca favorecendo o influxo de Ca. (Mais Ca disponível para as proteínas contráteis – maior contração). DIGOXINA Indicado para ICC, taquiarritminas supraventriculares e fibrilação atrial. Contra-indicação: Doença pericárdica, micoardiopatia hipertrófica, estenose, aórtica e a arritimias ventriculares graves. É preciso ter cuidado com animais prenhes, lactentes e idosos. Os digitálicos têm baixo índice terapêutico e a intoxicação é frequente – interromper o tratamento. A determinação da dose é individual de acordo com o caso e o paciente. É importante medir os níveis séricos após 3 a 5 dias para poder regular a dose. Se houver sinais de intoxicação (maior letargia,anorexia, vômito, diarreia, arritmia) reduzir a dose. Os níveis séricos devem ser > 2,5 ng/mL. Farmacocinética: Administrar em jejum. Pouca solubilidade lipídica. IM é dolorosa, absorção imprevisível e necrose muscular. Exclusiva da 01/02/2022 Farmacologia Veterinária Ana Nunes 6 VO. Possui uma filtração glomerular grande e em nefropatas, é recomendado reduzir a dosagem, Na maioria das vezes é preciso ser manipulada por causa das doses serem tão baixas. AMINAS SIMPATOMIMÉTICAS Possuem relação com o SNA. Mimetizam o SNA Simpático. Isoproterenol Nodradrenalina Adrenalina Dobutamina* Dopamina* *Possuem mais destaque e preferência como inotrópicos positivos. Usadas no tratamento emergencial de ICC descompensada. São utilizadas em níveis hospitalar e clínica. DOBUTAMINA E DOPAMINA Mecanismo de ação: Ligação com os receptores B-adrenérgicos, melhorando a contratilidade cardíaca. Dobutamina: IV em infusão lenta. Meia vida de 2 min. Aplicação contínua (melhor se for em bombas de infusão). Dopamina: IV em infusão lenta. Mesmo sendo um neurotransmissor no SNC não causa efeitos centrais por não atravessar a BHE. Aplicação contínua (melhor se for por bombas de infusão). As duas também possuem a vantagem de ser dilatadoras do leito renal, ajudando a controlar a pressão arteriolar, promovendo uma maior filtração glomerular, retirando mais líquido da circulação sistêmica, diminuindo a pressão. A dobutamina apresenta menos efeitos colaterais. Ambas são indicadas para o tratamento de ICC descompensada, refratária a tratamento clássico, pois tem efeito inotrópico superior aos digitálicos. A dobutamina tem menor ação sobre a FC e a pós carga, sendo preferível. A dopamina é usada preferencialmente quando também houver comprometimento renal associado à ICC, pois em baixas doses, aumenta o fluxo sanguíneo renal. INODILATADOR PIMOBENDAN É um inotrópico e vasodilatador = inodilatador Inibe a fosfodiesterase III que resulta em vasodilatação e aumento de Ca intracelular, com maior oxigenação miocárdica e melhor contratilidade. Sucesso na terapia e manutenção sistólica de cães, sem o aparecimento de efeitos adversos relatados pelos demais medicamentos. Indicado para ICC secundárias à doença valvar ou cardiomiopatia dilatada. Dose de 0,25 a 0,3 mg/kg a cada 12 horas. Administrar em jejum. Contraindicado para pacientes com hipertrofia miocárdica vasodilatadores Irá influenciar a pré-carga e pós-carga. Está relacionado com a pressão sanguínea. A dilatação vascular tem a intenção de reduzir a resistência vascular, que irá diminuir a pressão vascular, diminuindo o esforço cardíaco. Durante o uso pode-se observar uma arritmia ou uma taquicardia reflexa até o coração ser estabilizado. O papel dos vasodilatadores é controlar os efeitos deletérios causados pela vasoconstrição observada na ICC. Em um coração que apresenta ICC, observa-se uma queda do débito cardíaco. Com o débito cardíaco o organismo precisa se adaptar. Redução da perfusão renal pois o organismo precisa reter líquido para manter um volume de sangue suficiente Contraindicados em pacientes com ICC por induzirem o aparecimento de arritmias Farmacologia Veterinária Ana Nunes 7 para tentar estabilizar o DC. Faz isso por meio da constrição de arteríolas aferentes, mobilizando o SNS. Isso também aciona o sistema renina-angiotensina-aldosterona. O angiotensinogênio vai ser transformando em ANG I por intermédio da renina. A enzima conversora de angiotensina (ECA) vai transformar a ANG I em ANG II. A ANG II vai induzir a liberação de aldosterona, que irá aumentar a reabsorção de Na, fazendo com que retenha líquido no organismo, aumentando a pré-carga. Isso pode levar a edemas e efusões (pericárdicas, pulmonares). Esse sistema de renina-ang-aldosterona, vai aumentar a sede para aumentar a captação de água, irá ativar o SNS, vai aumentar o ADH para diminuir a filtração glomerular, vai promover a vasoconstrição para equilibrar através da resistência periférica, induzindo a liberação de citocinas, além da própria ANG II que irá agir sobre a musculatura cardíaca fazendo um remodelamento (ajuste). Quanto mais grave a insuficiência, mais fina fica a musculatura. Isso prejudica ainda mais o débito cardíaco. Do ponto de vista do SNS, terá um aumento na frequência cardíaca, um aumento do ADH, aumento da contratilidade, terá vasoconstrição. Tudo isso irá aumentar a pós carga, gerando um maior trabalho cardíaco, com risco de desenvolver fibrose, hipóxia e arritmias. Basicamente, em um tratamento de ICC, se tem o controle do sistema renina-ang- aldosterona e o controle da vasoconstrição, já diminui o esforço cardíaco, estabilizado o DC. A base do tratamento é a utilização de vasodilatadores, e de maneira preventiva, utilizam-se os vasodilatadores para não chegar aos casos de ICC. Inibidores da ECA Captopril Enalapril Benazepril Lisinopril Ramipril. São vasodilatadores arteriolares e venosos por bloquear a ação da angiotensina I. Inibição secundária da aldosterona ajuda a reduzir a retenção de Na e água. Reduzindo o edema ou efusões e reações adversas da aldosterona no coração. São fundamentais na fase inicial da IC por retardarem a progressão da doença. Aumentam a sobrevida. ENALAPRIL (LISINOPRIL é igual) É o mais utilizado; Possui metabolização hepática em enalaprilato (não utilizar em hepatopatas). A excreção é renal, tomar cuidado com as IR – reduzir a dose ou trocar por benazepril. BENAZEPRIL Tem sido o mais utilizado. Metabolização hepática em benezaprilato IECA de escolha em nefropatas (principalmente felinos). Excreção renal (proeminente em cães) e biliar (proeminente em gatos) CAPTOPRIL Primeiro IECA a ser utilizado. É o menos eficaz. Possui boa absorção por VO. Alimentação reduz em 30 – 40% a biodisponibilidade – admnistrar em jejum e esperar de 30 a 40 min para a refeição. Nitratos: ação direta venosa e arterial NITROGLICERINA Pouco usada em veterinária. Ação venodilatadora direta – autoadesivos (via transdérmica) Indicada para edema pulmonar agudo (reduz a PA diastólica). Possui rápido desenvolvimento de tolerância à droga, requerendo ajuste da dose. Farmacologia Veterinária Ana Nunes 8 Ação direta arteriolar HIDRALAZINA Ação direta na musculatura lisa arteriolar. Possui ação rápida. Indicado para ICC aguda e grave associada à regurgitação de mitral. Toxicidade: hipotensão, taquicardia reflexa, alterações gastrointestinais. Dose: 0,75 a 1 mg/kg por via oral, repetir as doses em 2 ou 3 horas até estabilizar a PASS (pressão arterial sistólica sistêmica). (ação rápida de uso clínico). Vasodilatador arteriolar ANLODIPINA É bloqueador dos canais de cálcio (antiarrítmico de classe IV) Meia vida de 30 horas no cão Indicado como hipotensor em cardiomiopatias, insuficiência de mitral, hipertensão em gatos. Terapia adjuvante à ICC refratária Aniodipina + nitroprussiato em cães que não toleram IECA Metabolizado no fígado e excretado na urina e fezes. Bloqueadores A-1 adrenérgicos PRAZOZIN Produz dilatação de artérias e veias, reduzindo a pressão sanguínea e a resistência vascular, aumentando o DC. Tem boa absorção por VO, metabolismo hepático e excreção biliar e urinária. O efeito dura em torno de 10 horas,prolongando-se em nefropatas e cardiopatas. Toxicidade: hipotensão, podendo ressaltar em síncope, letargia Associado com diuréticos agrava a hipotensão. RESUMINDO Reduzem o esforço cardíaco ocasionado pela vasoconstrição na ICC. Fármacos de escola para tratamentos anti- hipertensivos Principal efeito adverso: hipotensão Enalapril é o mais utilizado em ICC e hipertensão em cães. Aniodipina é o escolha anti-hipertensivo em gatos. O SINDENAFIL (principio ativo do Viagra) é bloqueados da fosfodiesterase V, aumentando o GMPc, e promove o relaxamento. É o fármaco usado para tratar hipertensão pulmonar (em cães) promovendo vasodilatação. antiarrítmicos Usados para taquicardia, braquicardia... Estão relacionados a FC. Serão utilizados quando o ritmo do coração estiver acelerado (taquicádico) e for necessário abaixá-lo. Em casos de braquicardía serão utilizados os simpatomiméticos, como a adrenalina, acetilcolina e seus antagonistas e agonistas. Eletrofisiologia Cardíaca O coração é, basicamente, um músculo que contrai e bomba o sangue. É composto por células especializadas, os miócitos cardíacos. Essas células contraem a partir de um impulso elétrico, conhecido como potencial de ação. O potencial de ação possui início nas células conhecidas como marcapasso. As células do nódulo sinoatrial disparam espontaneamente, gerando um PA que irá se espalhar pelos miócitos contráteis dos átrios. Os miócitos são ligados por junções GAP que permitem o acoplamento elétrico de células vizinhas. As células marcapasso e os miócitos contráteis possuem formas diferentes de potencial de ação. Farmacologia Veterinária Ana Nunes 9 As células marcapasso do nódulo sinoatrial disparam espontaneamente cerca de 80 PA por minuto, sendo cada um responsável por um batimento cardíaco. As células marcapasso não têm um potencial de repouso verdadeiro. Nas células marcapasso, a voltagem tem início em -60 mV, e se move espontaneamente até -40 mV, onde atinge seu limiar. Isso se deve a uma ação chamada de correntes engraçadas, presente somente nas células marcapasso. Os canais engraçados se abrem quando a voltagem da membrana se torna menor do -40 mV e permite um pequeno influxo de Na. A despolarização resultante é conhecida como potencial marcapasso. No limiar, os canais de Ca se abrem, os íons de Ca fluem para dentro da célula, despolarizando mais ainda a membrana. Isso resulta na fase ascendente. No seu pico, os canais de K se abrem e os canais de Ca se tornam inativos, e os íons de K deixam a célula, e a voltagem, retorna para – 60 mV. Essa é fase descendente do potencial de ação. Os miócitos contráteis têm um conjunto diferente de canais de íons. Seu retículo sarcoplasmático (RS) aloja uma grande quantidade de cálcio. Elas também contêm miofibrilas. As células contrateis possuem um potencial de repouso estável de – 90mV e despolarizam apenas quando estimuladas. Quando as células são despolarizadas, têm mais Na e Ca dentro da célula. Esses íons positivos escapam através junções GAP, até a célula adjacente e aumentam a voltagem da célula até o limiar – 70 mV. Nesse ponto, canais de Na velozes se abrem, criando um influxo rápido de Na e um aumento acentuado na voltagem. Essa é a fase despolarizadora. Os canais de Ca tipo L, também se abrem a – 40 mV, causando um influxo lento e constante. No seu pico, os canais de Na se fecham rapidamente e os canais de K dependente de voltagem se abrem e isso resulta numa pequena diminuição do potencial de membrana conhecido como fase de repolarização precoce. Os canais de Ca se mantém aberto e o efluxo de K é equilibrado eventualmente pelo efluxo de Ca, o que mantém o potencial de membrana um pouco estável por 200 ms, resultando na fase Plateu, característica dos potenciais de ação cardíacos. O Ca é crucial no acoplamento da excitação elétrica, a contração muscular física. O influxo de Ca do fluido extracelular, não é suficiente para induzir a contração. Então, no lugar ativa uma liberação de Ca muito maior do RS em um processo conhecido como “liberação de Ca induzida por Ca”. O Ca desencadeia a contração muscular pelo mecanismo de filamentos deslizantes. A medida que os canais de Ca se fecham o efluxo de K predomina e a voltagem da membrana retorna ao repouso. O período refratário absoluto é muito maior no músculo cardíaco. Arritimias são anormalidades na FC decorrente de alterações na origem do impulso cardíaco, na condução ou por associação de ambos os fenômenos. As causas são desequilíbrio entre SNA simpático e parasimpático, alterações iônicas (K e Ca), trauma, hipóxia, isquemia, distúrbios endócrinos, miocardites, medicamentos arritmogênicos e ICC. 08/02/2022 Farmacologia Veterinária Ana Nunes 10 Alguns Conceitos Importantes Automaticidade ou cronotropismo é a capacidade do músculo cardíaco gerar o próprio impulso. A condutibilidade ou dromotropismo é a capacidade de uma única célula transmitir o estímulo elétrico às suas células vizinhas Excitabilidade ou batmotropismo é a capacidade de autoestimulação quando chega próximo ao potencial de repouso Contratibilidade ou inotropismo é a capacidade de receber o estímulo e se contrair. Os fármacos antiarrítimos são classificados em quatro classes: Classe I São potentes anestésicos locais. Modo de Ação: Inibe os canais de Na+ [dependendo da utilização, principalmente de forma sistêmica, ou se o anestésico está em grandes quantidades no organismo, pode chegar ao coração causando efeitos cardiovasculares – redução do ritmo/cronotropismo negativo – pois inibe o influxo de Na para o interior da célula para despolarizar a membrana da célula], aumentando o limiar de excitabilidade [retarda a resposta de contração da célula e faz com que o ritmo volte ao normal.] e diminuindo o período refratário. Tem maior ação em células marca passo, principalmente nas ectópicas. Usado no controle de arritmias causadas por aumento de automaticidade. A lidocaína atua sobre a automaticidade reduzindo a deflagração do potencial elétrico nas células marca passo. Classe II Possui efeito antiadrenérgico – atuam no SNA simpático. Atuam na fase 4 do potencial de ação, diminuindo a velocidade de condução – diminui a FC – potencial cronotrópico negativo. Bloqueiam a estimulação simpática cardíaca. Atuam sobre os receptores B1, causando aumento ou diminui? de contratilidade (inotrópico positivo), FC e velocidade de condução atrioventricular reduzida, bem como aumentam a automaticidade de fibras especializadas. Nos receptores B2, promovem a broncodilatação e vasodilatação. Indicados para cardiomiopatia hipertrófica (tem maior contratilidade e reduz o espaço da câmara cardíaca – para dar conta do DC aumenta a FC), taquiarritmias ventriculares e supraventriculares e outras doenças ou intoxicação que causem estimulação simpática excessiva. Ex: felcomocitrona, venenos, picadas de escorpiões (principalmente em mais jovens). Farmacologia Veterinária Ana Nunes 11 Classe III Atuam sobre os canais de K responsáveis pela repolarização aumentando o período refratário, prolongam diretamente a condução dos NSA e NVA. Classe IV São inibidores dos canais de Ca (A falta do Ca para induzir a contração reduz a contratilidade), causando vasodilatação coronária e sistêmica, aumentamo relaxamento do miocárdio e reduzem a contratilidade cardíaca.
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