Buscar

07 - Parnaiba por quem tambem faz Parnaiba (2019)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 77 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 77 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 77 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Claucio Ciarlini
ÍNDICE 
1. Entre a casa, a escola e os fogos de artifício.....................10
Entrevista realizada em abril de 2008. Publicado em O Piaguí 8, edição de junho 
de 2008
2. Um exemplo de vida: A trajetória de Neguinho Hot Dog!...
.........................................................................................14
Entrevista realizada em dezembro de 2007. Publicado em O Piaguí 4, edição de 
fevereiro de 2008
3. Do Pimpão ao Central: conversa boa, piadas e jogos de 
dama!...............................................................................16
Entrevista realizada em fevereiro de 2008. Publicado em O Piaguí 6, edição de 
abril de 2008
4. Sobre sentimentos, sonhos e paixões...........................20
Entrevista realizada em maio de 2008. Publicado em O Piaguí 10, edição de agosto 
de 2008
5. O anônimo poeta que consertava o relógio da Praça da 
Graça...............................................................................24
Entrevista realizada em março de 2008. Publicado em O Piaguí 7, edição de maio 
de 2008
6. Das Bancas de Madeira aos dias de Hoje........................28
Entrevistas realizadas em janeiro de 2008. Publicado em O Piaguí 5, edição de 
março de 2008
7. Tia Zezé: Um Exemplo de Amor à Vida e à Educação!.....32
Entrevista realizada em janeiro de 2017. Publicado em O Piaguí 113, 
edição de março de 2017
8. Do tempo em que escutávamos Rock and Roll!...........36
Entrevista realizada em abril de 2010. Publicado em O Piaguí 32, edição de junho 
de 2010
9. O braço, o lábio e a voz................................................40
Entrevista realizada em janeiro de 2016. Publicado em O Piaguí 102, edição de 
fevereiro de 2016
10. Um sobrevivente da árdua batalha da vida................ 44
Entrevista realizada em dezembro de 2009. Publicado em O Piaguí 29, edição de 
março de 2010
11. Lembranças de uma vida inteira, das copas do mundo e 
de muito mais..................................................................46
Entrevista realizada em fevereiro de 2010. Publicado em O Piaguí 30, edição de 
abril de 2010
12. O desenhista parnaibando que teima em querer alcançar 
as estrelas.........................................................................48
Entrevista realizada em meados de 2009. Publicado no meu Blog Cultura Pop, do 
Portal Costa Norte, no ano de 2009
13. Entre os mestres, os idolos e os reis!..........................50
Entrevista realizada em junho de 2008. Publicado em O Piaguí 11, edição de 
setembro de 2008
14. De Educadora a Administradora: uma trajetória de fé e 
resiliência!........................................................................54
Entrevista realizada em outubro de 2018. Publicado em O Piaguí 134, edição de 
dezembro de 2018
15. O Professor, o Poeta e o Amigo....................................60
Publicado em O Piaguí 64, edição de fevereiro de 2013
16. A viagem de Clauder Ciarlini.....................................62
Publicado em O Piaguí 8, edição de junho de 2008
17. Apenas mais um dia de trabalho, na vida de um 
professor..........................................................................64
Entrevistas realizadas entre maio e setembro de 2010. Publicado em O Piaguí 36, 
edição de outubro de 2010
Em memória de:
Aloísio Sousa Cruz
Clauder Ciarlini
Dilton Fernandes Batista
Iweltman Vasconcelos Mendes
José Maria Thomaz Sobrinho
Noeme Vieira dos Santos Pinto
Apresentação
Parnaíba, assim com qualquer outra cidade, não é compos-
ta apenas por seus monumentos ou personagens célebres de ontem 
e hoje. As pessoas que vivem a cidade, que respiram e atuam nos 
bastidores também são responsáveis por sua eterna construção e re-
construção. Como numa peça de teatro, por exemplo, onde existem 
atores, diretores, cenários, ou seja, o que enxergamos de forma mais 
clara. Mas o que seria de um espetáculo sem as pessoas da produção, 
os que nunca aparecem para a multidão, mas que sempre estão lá, 
bem antes do show ter início e por muitas horas após a cortina ter se 
fechado?
 Em cada lugar é assim, existem os prefeitos, ex-prefeitos, 
juízes, médicos, advogados, ou seja, pessoas que costumam estar 
em evidência na sociedade e que prestam um importante papel na 
árdua tarefa de lapidar esta interminável obra de arte humana. Porém 
eles não estão sós, existem também celebres anônimos, pessoas que 
não costumam estampar capas de jornais ou aparecer na televisão, 
nem tão pouco, são assuntos nas bocas e ouvidos do povo, mas que 
também desempenham um papel importantíssimo! Indivíduos que 
trabalham a cada dia e/ou a cada noite, atendendo a população com 
o que eles sabem e tem a oferecer de melhor. Figuras como, por 
exemplo, um vendedor de cachorro-quente, que com simpatia atende 
seus clientes famintos, ou donos de banca de revista que nos man-
tém informados com o que acontece no mundo; um dono de ótica 
que acaba revelando-se também um artista sensacional; experientes 
barbeiros, que entre uma piada e outra, sensibilizam seus clientes, ou 
até mesmo um senhor dono de um comércio de ferragens e fogos de 
artifício, responsável por nos trazer lembranças preciosas de nossas 
vidas.
Ao pesquisarmos esses e muitos outros personagens da vida 
real, ao analisarmos suas histórias de vida, estamos, consequente-
mente, contando a história de onde eles se encontram inseridos, pois 
as cidades são feitas de quem nelas vive ou delas lembra, se não 
fosse dessa forma, não existiriam, passando a serem apenas fúnebres 
cemitérios ou inacabadas construções, onde é predominante a ausên-
cia da vida e das emoções.
E foi na busca incessante de descortinar Parnaíba, seus perso-
nagens, e inspirado por minha paixão, tanto pela história, como pela 
literatura, que tive a iniciativa de criar esta série para o impresso O 
Piaguí, que estreou logos nos primeiros meses do jornal, no que se-
gue até os dias de hoje, embora nos últimos anos, em razão de muitos 
compromissos, tem havido um espaço maior entre uma entrevista e 
outra, mas no que sigo conversando com estas pessoas, que também 
fazem por Parnaíba, dando a elas um pouco de voz, para que com o 
tempo, esses exemplos de vida acabem por refletir a cidade na qual 
vivemos e sentimos.
Claucio Ciarlini 
As entrevistas a seguir foram feitas 
entre os anos de 2007 e 2018, tendo sido 
aprovadas para publicação impressa 
ou virtual, assim como as fotos que 
as ilustram, todas do acervo dos 
entrevistados, que foram gentilmente 
cedidas ao autor.
10 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Entre a casa, a escola e os fogos de artifício.
 O ano é 1988! Com sete anos de idade encontro-me, de 
frente ao Armazém Caboclo e com alguns trocados na mão. É mês 
de junho, e como de costume nessa época, a vida se dividia entre 
casa, escola e fogos de artifício. Da simples bombinha ao foguete, 
comprava quase todos os dias, com o que sobrava do dinheiro da 
merenda do colégio. Quem me vendia era o Sr. José Maria Tho-
maz Sobrinho, dono do estabelecimento, e que me aconselhava a 
ter cuidado na hora de brincar com os fogos. Despedindo-me dele, 
já com o saquinho de bombas e traques na mão, me dirijo à casa de 
um amigo, Bernardo Borges Silva, onde de lá fomos juntar latas, 
no intuito de estourá-las. Encontrando as tais latas, posicionamos a 
bomba, riscamos o fósforo, acendendo o pavio, colocamos a lata em 
cima, esperando o grande momento do estouro... Por um segundo 
pisco os olhos e me vejo sentado à frente do Sr. José Maria, 20 anos 
depois, que me relata: “Nasci em Santana do Acaraú Ceará, em 11 
de novembro de 1946, e logo fui trazido para Parnaíba, por meus 
pais, quando tinha menos de um ano de idade, sou primogênito de 
uma família de 12 irmãos”. José Maria iniciou sua vida profissional 
muito cedo, aos 10 anos, trabalhando em várias lojas e repartições 
públicas da cidade. No ano de 1960, aos 14 anos, começou a traba-
lhar no Armazém Caboclo, fundado pelo comerciante maranhense 
Celso dos Santos Veras, no que comenta: “onome armazém cabo-
clo, deve-se ao fato do Sr. Celso Veras ter trabalhado, quando ainda 
jovem, em uma loja do ramo de ferragens em 
Belém-PA com o mesmo nome”.
 Esta relação patrão-empregado, 
logo se transformou e fez com que José Maria 
se tornasse sócio da empresa, como o próprio 
Celso Veras dizia: “ele é o filho que não tive”, 
pois o mesmo havia perdido seu único filho 
homem. Em meados dos anos 60, José Ma-
ria, passa a ser o titular da empresa e seu pai 
(como o considerava) e patrão, Celso volta a 
concentrar seus negócios na cidade de Tutóia 
onde mantinha residência. José Maria mante-
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 11
12 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
ve o Armazém dentro dos mesmos padrões de seu antecessor, sem-
pre voltado para o comércio de gêneros alimentícios, ferragens e os 
tradicionais fogos de artifício. Foi auxiliado também por um tempo, 
por seu pai biológico, José Thomaz Lourenço Neto, que passou a as-
sessorá-lo, após a aposentadoria como funcionário público federal. 
Por cerca de 20 anos José Maria também lecionou na rede estadual 
de ensino de Parnaíba, no período noturno, enquanto que durante o 
dia cuidava do Armazém, foi professor das disciplinas de Estudos 
Sociais e Geografia, nos colégios Lima Rebelo, Raquel Magalhães, 
Premem e Escola Normal, e enfatiza: “aprendi muito no magistério, 
não apenas ensinei aos alunos, mas também eles me ensinaram”. É 
casado há mais de 30 anos com Rosangela Moreira de Albuquerque 
e teve 3 filhos: Liana, José Celso e José Maria Thomaz Júnior. Mais 
tarde no final da década de 90, em virtude de sucessivas crises no 
ramo de perecíveis, o Armazém Caboclo passa por uma transfor-
mação em seu ramo de atividade, se especializando no comércio de 
ferragens e ferramentas, sem deixar também os fogos. Hoje conta 
com um completo sortimento de ferragens e ferramentas, materiais 
elétricos e hidráulicos, no setor de fogos de artifício, vem diversifi-
cando, trabalhando com montagem de shows pirotécnicos em toda 
circunvizinhança de Parnaíba. Sempre recorda com admiração do Sr. 
Celso Veras, personagem deveras importante em sua vida: “tínhamos 
laços muito fortes de amizade, confiança e respeito”, tanto com ele, 
como com sua família, a esposa Umbelina Conceição, que conside-
rava minha segunda mãe e suas filhas Teresinha, Eunice e Felicidade 
Veras, que sempre tive como minhas irmãs”. Num exemplo de que 
nem sempre o sangue é o mais importante, numa relação afetiva, o 
professor José Maria nos ensina uma importante lição, que deveria 
ser seguida por todos. Talvez dessa forma o mundo se tornasse um 
pouco menos áspero e frio.
 Ao fim, encerro a entrevista, contente por mais uma 
conversa com esse Senhor que considero hoje um amigo, e feliz, por 
enxergar em seus olhos sensíveis e experientes, o mesmo respeito e 
admiração aos quais tenho por ele. Relembrando o que ocorreu há 20 
anos, tento lembrar se a bomba funcionara ou não... É difícil, pois a 
memória é algo que sempre está nos “pregando peças”, porém sinto 
que se explodiu ou não, é questão de mero detalhe, pois no fim das 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 13
contas não são os objetos ou ações que importam, na hora de recor-
dar, mas sim as pessoas e os sentimentos, por quais passamos nessa 
constante luta chamada vida.
Claucio Ciarlini (2008)
14 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Um exemplo de vida: A trajetória de Neguinho Hot Dog!
– Simpatia e perseverança!
Talvez sejam as duas qualidades que levaram Francisco de As-
sis a vencer as adversidades da vida e crescer, sem que fosse preciso 
“passar por cima de ninguém”. Nascido em Porto (Piauí), no dia nove 
de novembro de 1970, tendo morado a maior parte da vida em Parnaíba, 
“Neguinho”, como é mais conhecido, vem de família humilde, perdeu 
o pai aos cinco anos e terminou de ser criado apenas pela mãe. Estudou 
sempre em escola pública e desde criança preferiu o trabalho ao invés 
do ócio como ele mesmo disse: “dos seis aos nove anos eu trabalhava 
vendendo alumínio, ferro (…) essas coisas que as pessoas compram 
como ferro velho, vendia bolo em fatias pela cidade; trabalhei em ola-
ria, fui jardineiro em algumas casas, vendia até manga no Pindorama”. 
Apesar das dificuldades que sua condição lhe impusera, Negui-
nho sempre teve responsabilidade e tentou vencer a árdua batalha da 
vida pelo seu próprio esforço e suor: “minha mãe nunca me obrigou 
a trabalhar, eu fazia porque não queria ficar pedindo dinheiro na rua, e 
com isso podia comprar meus bombons, chocolates etc.”. Aos 10 anos 
voltou à cidade de Porto para continuar os estudos na casa da avó. Não 
ficou parado, lá vendia carvão, picolé e batata doce. Aos 13 morou no 
interior de Pirangi e trabalhou na roça por três anos. Aos 16 voltou para 
Parnaíba, onde morou “de favor” na casa de conhecidos; aqui, estudou 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 15
em várias escolas: “estudei no Galhanoni, no Clóvis Salgado, no Edison 
Cunha e terminei os estudos no Lima Rebelo”; durante esses meses, 
trabalhou em serrarias, como ajudante de pedreiro, ajudante de eletri-
cista e construiu calçamentos, como ele mesmo brincou: “eu era mil e 
uma utilidades”. Já aos 21 anos casou. Na ocasião, trabalhava vendendo 
picolés na praia: “na época eu vendia picolé na praia e quando casei fui 
trabalhar na Kibon de 91 a 95”; a Kibon Sorvane (distribuidora e pro-
dutora de picolés e sorvetes), no ano de 1995, diminuiu seu quadro de 
vendedores de rua. A empresa achou por bem fechar a distribuidora em 
Parnaíba. O pagamento dado a ele por mais de quatro anos de trabalho 
foi o valor de 600 reais (e ainda parcelado em 3 vezes), porém, isso não 
foi o suficiente para causar alguma mágoa, ou ressentimento: “saí numa 
boa, depois comprei um carrinho de compensado, carrinho esse que 
pegou até muita chuva, estava todo inchado, comprei por 140 reais, 
mas eu pensei: é… Pra começar tá bom” (sic).
 A capacidade de nunca desistir e jamais perder o bom humor 
lhe foram bem úteis, pois, de carrinho de mão, teve que recomeçar do 
zero: “no primeiro dia levei 30 pães, uma panelinha com carne moída 
e uns refrigerantes, para o Colégio das Irmãs, tive medo de não vender, 
mas Graças a Deus vendi tudo…”. O negócio do cachorro-quente havia 
dado certo e com o passar dos meses, economizando bastante, ele pôde 
comprar uma Kombi. Nas temporadas de dezembro a fevereiro, que 
não havia aula, Neguinho viajava então para São Luís, no Maranhão, e 
ajudava seu cunhado numa empresa desentupidora de esgotos.
 O tempo foi passando e a Kombi foi substituída por uma Taunner. 
E ele não se acomoda em momento algum, além de hoje possuir dois 
transportes para vender cachorro-quente em diversos lugares da cidade 
e em Luís Correia, tem um ponto comercial em casa e um empreendi-
mento maior na Avenida São Sebastião; a comunidade do Orkut criada 
em homenagem a ele pelo estudante Glauber Rodrigues Lima, já possui 
1.835 pessoas, de vários lugares como Teresina, Fortaleza, São Luis e 
Natal. Porém, a maior vitória desse piauiense batalhador não foi a sua 
independência econômica, ou suas conquistas comerciais, mas a humil-
dade que até hoje permanece estampada no sorriso de um vencedor!
Cláucio Ciarlini (2008)
16 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Do Pimpão ao Central: conversa boa, piadas e jogos de dama!
Já passa das 9h da manhã de um sábado ensolarado! Entro 
no Salão Central, como faço há 13 anos, e encontro os três barbei-
ros de costume; jogando uma partida de damas. Dois senhores, que 
enquanto mexem as peças do tabuleiro aproveitam para conversar 
sobre o jogo do Parnahyba e sobre política. Sento na cadeira do bar-
beiro mais antigo, conhecido como Caçula, e de gravador mp3 na 
mão peço permissão para conhecer um pouco de sua vida e da bar-
bearia onde trabalha. Risonho, como sempre, e antes de mais nada, 
ele me conta uma piada, uma de suas marcas registradas. Depoisdo 
ambiente ficar mais descontraído, relata: “Meu nome é Francisco 
Rodrigues do Amaral, sou de 27 de maio de 1928, nasci em Luís 
Correia. Tenho quase 80 anos de batalha!”. E sua vida realmente 
não foi das mais fáceis, em 1957, aos 30 anos, já casado e com filho, 
Caçula precisou sair de Luís Correia para Minas Gerais por proble-
mas de saúde de sua esposa: “por questão de força maior, fui para 
lá, pois minha esposa estava doente, porém não fui feliz, pois ela 
acabou falecendo naquela localidade”.
Caçula passou três 
anos e meio fora do Piauí 
e quando voltou, já viúvo, 
recebeu o convite de seu 
irmão João Rodrigues do 
Amaral, mais conhecido 
como Teixeira, para traba-
lharem juntos numa barbea-
ria na cidade de Parnaíba. 
Depois de um tempo tra-
balhando juntos, tiveram 
que se separar devido ao 
dono do Ponto, em que se 
localizava a barbearia, ter 
vendido o prédio para outra 
empresa. Teixeira então foi 
trabalhar com um barbeiro 
chamado Valentim e Caçula 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 17
passou a exercer a mesma função numa barbearia de Manoel No-
nato, na época conhecida pelo nome de Pimpão. A barbearia, que 
se localizava em frente à Praça da Graça, e ao lado do Banco do 
Nordeste (onde hoje é um estacionamento), na década de 60 e 70, 
foi uma das principais na cidade, personalidades das mais variadas 
cortaram cabelo ou fizeram a barba, ou as duas coisas, indivíduos 
que hoje são deputados, juízes, jornalistas, prefeitos etc. Caçula re-
corda também dos outros três barbeiros da época em que foi para o 
Pimpão: “tinha mais três barbeiros quando cheguei: o Toim, João 
Machado e o João Gomes”. Ainda na década de 60, o dono do es-
tabelecimento Pimpão, que alugava para Manoel Nonato, resolveu 
transferir o mando de aluguel para Caçula, fato que causou certa es-
tranheza para com os outros que ali trabalhavam, pois Caçula havia 
chegado por último na barbearia. Sem muitas explicações por parte 
do dono do estabelecimento, o Pimpão passou a ser administrado 
por Caçula que, passado um tempo, resolveu dar uma “cara nova” ao 
local: “turma, vou fazer uma reforma no Pimpão; vou botar um ar 
condicionado e uma parede de vidro, e também queria que a gente 
passasse a usar uma jaleca”.
A tentativa de tornar o Pimpão mais bem visto passou a ser 
encarada por alguns como exagero, e o clima que já estava um tanto 
diferente com a alteração do administrador, ficou ainda mais com as 
mudanças sugeridas por Caçula. Com o decorrer dos dias, os clientes 
passaram a elogiar as mudanças e os ânimos melhoraram, logo tam-
bém Teixeira, o irmão de Caçula, volta a trabalhar com ele, porém, 
na década de 70, o dono do ponto onde localizava-se o Pimpão, o 
vende, e a barbearia passa a funcionar na rua Duque de Caxias, exa-
tamente por trás de onde era, “viramos o quarteirão”. Nesse local 
o Pimpão durou 14 anos, até no fim dos anos 80, quando o barbeiro 
se viu tendo que mudar de endereço mais uma vez, pois o dono do 
ponto da rua Duque de Caxias pediu para que todos saíssem, dan-
do prazo de um ano. Alguns anos antes, em 1984, Caçula sofreu 
mais um golpe na vida, seu filho de 10 anos, fruto de seu segundo 
casamento, sofre um acidente na escola ao cair de um brinquedo, 
bate a nuca e vai às pressas para o hospital, Caçula lembra de como 
foi naquele dia: “cheguei ao hospital e o médico me informou que 
meu filho já havia chegado morto”. Como sempre foi de tratar todos 
18 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
bem, Caçula encontrou amigos que o confortaram e lhe ofereceram 
ajuda financeira, nesse momento tão difícil. Com uma força ímpar, 
ele levantou a cabeça e seguiu em diante, como poucos fariam…
 Já no início de 90, a barbearia passa a funcionar, onde existe até 
hoje, na rua Marquês do Herval (em frente à loja Macavi), e passou 
a ser chamada de Salão Central; eram novos tempos, a cidade havia 
mudado bastante desde a época de 60, os barbeiros viram a neces-
sidade de alterar o nome, o que na ocasião não agradou a todos, 
porém, os tempos evoluem, e assim como na época do Pimpão, que 
houveram mudanças físicas, como o ar condicionado, por exemplo, 
a barbearia deixou de ser Pimpão e passou a se chamar Central, mas 
a boa conversa, as piadas e os jogos de dama permaneceram intactos, 
assim como a parceria dos irmãos, Caçula e Teixeira, acompanha-
dos por João Batista do Amaral, que desde o Pimpão já era parceiro 
deles no serviço. Amaral, como costumam chamá-lo, é filho de um 
irmão da dupla, o Sr. Albino Teixeira. Quando João Rodrigues do 
Amaral, o Teixeira, teve que se afastar por motivo de saúde, seu 
filho, Francisco das Chagas 
Amaral, assumiu a cadeira 
do barbeiro; Chagas como é 
conhecido, já havia trabalha-
do no Pimpão só que deixou 
a profissão para se aventurar 
em outros ofícios, voltando 
então quando do afastamento 
do pai Teixeira, que em 2007 
faleceu, deixando saudade a 
todos que o conheceram.
 Nesse instante a lâmi-
na é passada pela última vez 
em minha face, a cadeira é 
levantada e ao abrir os olhos 
encontro alguns senhores es-
perando para cortar o cabe-
lo. Pergunto para um deles, 
Marcos Barreto, cliente fiel 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 19
da barbearia desde a época do Pimpão, que me explica o por quê 
de nunca ter deixado de fazer a barba e o cabelo com os irmãos Tei-
xeira: “sou Cliente desde a época do Pimpão, e sempre cortei com 
eles devido o bom atendimento, e a amizade que tenho para com 
esses senhores”. O rádio é ligado nas notícias e enquanto a conversa 
rola solta no recinto, me despeço dando um até logo, e prometendo 
regressar para ouvir mais histórias, sorrir de mais piadas e, quem 
sabe, até ter a honra de jogar dama com algum conhecido um dia na 
barbearia que faz parte da cultura e da história da cidade, como bem 
Caçula finalizou: “até quando Deus permitir”. E ele vai, pode ter 
certeza que vai.
Claucio Ciarlini (2008)
20 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Sobre sentimentos, sonhos e paixões
Havia terminado de escrever uma poesia sobre o amor, ao 
meu lado, na carteira da esquerda, encontrava-se um amigo, que 
também concluía seu poema. Ele me mostrou o que escreveu, e fiz o 
mesmo. Já possuíamos o hábito de comentar o trabalho um do outro, 
era o Segundo ano do Ensino Médio e como que “fugindo” de uma 
aula tediosa de química, nos transportávamos para o mundo das sen-
sações e das subjetividades, que tanto a escrita proporcionava.
 A poesia que ele mostrou naquele dia 17 de abril de 1997, in-
titulada “Brasil”, acabaria sendo publicada duas semanas depois no 
jornal “ O Dia”, e o amigo, Frederico Osanan Amorim Lima, ainda 
percorreria uma difícil estrada no decorrer da vida até que enfim al-
cançasse o respeito e a consideração merecidos.
 Desde a ado-
lescência, já traba-
lhava auxiliando na 
loja dos pais, Osa-
nam Elias Lima e 
Haydeé Rego Amo-
rim Lima. Nasceu 
em 25 de fevereiro 
de 1981, na cidade 
de Oeiras, mas desde 
a infância reside em 
Parnaíba. Estudamos 
na mesma sala desde 
pequenos, no Colé-
gio Nossa Senhora 
das Graças, ao fim da 
oitava série do Ensi-
no Fundamental fo-
mos para o Colégio 
Delta, nesse período 
começamos a escre-
ver poesias. Jovem 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 21
bastante sensível, fã de Renato Russo e sua Legião Urbana, Frederi-
co iniciou no caminho das letras com 15 anos, ainda com a mesma 
idade entrou para o teatro, atuando em várias peças, como também 
escrevendo, dirigindo e produzindo roteiros de boa parte delas. Sua 
sensibilidade era tamanha que às vezes chegava a ser incompreendi-
do por quem optava apenas pelo uso da simples e pura razão. Assim 
como seu ídolo na adolescência, esbarrou nas muralhas impostas 
pelo meio social, onde muitas vezes a emoção é deixada de lado e 
onde costuma-se ingenuamente acreditar que seja possível separar 
raciocínio de sentimentos, como quem separa objetos em uma mesa. 
Porém essas dificuldades logo foram ultrapassadasatravés de seu 
talento e força de vontade
 Em 1998 fomos estudar em Fortaleza, capital do Ceará, no 
Colégio Farias Brito, com mais dois amigos: Bruno Carvalho Neves 
e José Carlos Candeira Filho. Na ocasião, Frederico se destacou num 
concurso da escola cearense, no caso, o XX Concurso Farias Brito 
de Poesia, Conto, Redação e Desenho, ficando entre os vencedo-
res das duas primeiras modalidades citadas. Concluindo o Ensino 
Médio, voltamos à Parnaíba, e depois de anos seguindo na mesma 
trilha, escolhemos diferentes destinos, embora a mesma carreira. Fui 
estudar em Sobral (Ceará) História pela Universidade Estadual Vale 
do Acaraú – UVA e Frederico ingressou no curso de História da Uni-
versidade Estadual do Piauí, onde conquistou, através de profundos 
estudos, uma brilhante graduação, tendo ensinado em várias escolas 
da cidade.
 Logo veio a Especialização em História do Brasil pela 
Universidade Federal do Piauí (Campus Parnaíba), e o mestrado em 
História, também, pela UFPI (Campus Teresina). Frederico ocupa já 
há algum tempo os cargos de coordenador do Curso de Licenciatura 
Plena em História da UESPI e coordenador do curso de pós- gra-
duação em Historia do Brasil da Faculdade Piauiense. Atualmente 
desenvolve Projeto de pesquisa financiado pela Funpesq trabalhando 
com temas relacionados a cinema, contracultura e década de 1970. 
É hoje um dos profissionais mais respeitados na área de História no 
Piauí. Ter visto sua evolução artística, como também ter assistido 
seu crescimento profissional, tornou possível para mim, e acredito 
22 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
que para muitos estudantes de História de hoje, acreditar que com 
muita dedicação e esforço ao que se deseja na vida, os sonhos são 
alcançados. Sonhos esses que começam com um simples gesto de 
escrever, que acaba gerando vitórias, conquistas de um incansável 
historiador, que compartilha comigo a mesma paixão pela Arte e 
pela História, e que certamente o futuro conhecerá seu nome e fei-
tos, mas que para sempre em minha memória vou lembrar: do amigo 
de infância que naqueles dias em que as aulas estavam enfadonhas, 
buscávamos refugio no papel a na caneta… seres sensíveis, lutando 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 23
contra as hipocrisias do mundo, tentando sobreviver aos desafios do 
crescimento e falando sobre sentimentos, sonhos e paixões.
Claucio Ciarlini (2008)
24 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
O anônimo poeta que consertava o relógio da Praça da Graça
Relojoeiro, comerciante, fotógrafo, desenhista, escultor, pin-
tor e poeta. Diferentes facetas em um só indivíduo.
 O Sr. Dilton Fernandes Batista, de 68 anos, é natural 
do estado do Maranhão, da capital São Luis, e durante os primeiros 
anos de infância morou com o pai em Guajaramirim (fronteira com a 
Bolívia), partindo aos cinco anos para Rondônia, onde viveu até os 
20. Foi lá que aprendeu a arte da fotografia, como também os ofícios 
de relojoeiro e ourives.
 Antes de mudar para o Piauí, fato que ocorreu em 1960, 
chegou a ser capturado por uma tribo indígena, quando fazia uma 
travessia de barco com um amigo boliviano, Wilis Tabográ, pelo rio 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 25
Madeira a caminho do estado de Mato Grosso, uma forma de buscar 
aventura e também vender produtos. Durante 10 dias foi mantido 
amarrado, até que foi ganhando a confiança dos índios e, passado 
um mês, ele e o amigo ganharam a liberdade, e algo mais: “nos pri-
meiros dias, achávamos que íamos morrer, jovens ainda, chegamos 
a chorar e combinar de que se algum de nós conseguisse sair com 
vida era para avisar para a família do outro, mas depois que a tribo 
se familiarizou com a gente, recebemos até presentes deles, que pu-
demos levar, quando partimos”.
 Deixando para trás Rondônia, Dilton chegou em Parnaí-
ba, e encontrou o Sr. Milton Magalhães, que lhe cedeu um ponto 
comercial para abrir seu comércio, onde até hoje existe. Depois de 
quatro anos, e já instalado em loja própria, Dilton é chamado para 
consertar o relógio que havia na Praça da Graça, e lembrando com 
nostalgia relatou um pouco de como era o funcionamento e a ma-
nutenção desse símbolo da cidade: “o relógio tinha uns 15 metros 
e era constituído de três partes: o comando, na parte inferior, no 
meio, a parte da propaganda e acima o relógio em si… A entrada 
para o conserto se dava por um portão de ferro de 60 centímetros”. 
Na ocasião, Dilton se estabeleceu como técnico responsável pela 
manutenção de um dos monumentos mais marcantes de Parnaíba 
que, depois da reforma ocorrida na década de 70, do qual várias 
mudanças foram realizadas, o relógio foi desmontado e retirado do 
local, fato que causou tristeza para o cidadão que durante mais de 
10 anos zelou por esse patrimônio da cidade: “na época, entrei na 
Praça, já fechada para a reforma, e vi que tinham tirado do lugar e 
desmontado, tentei alguns anos depois (na década de 80) falar com 
o chefe do depósito, onde se encontravam as peças do relógio, para 
que fosse montado novamente, mesmo que fosse em outro lugar, mas 
recebi um ‘é complicado’ como resposta”.
 Passado alguns anos, já na década de 90, seu comércio, 
que desde o inicio localizou-se na Rua Almirante Gervásio Sampaio, 
N.º 680, torna-se uma óptica, numa época onde os ofícios como de 
relojoeiro já não eram mais tão requisitados devido às novas tecno-
logias que surgiram; Dilton, então, acaba por adaptar sua loja aos no-
vos tempos. Pai de seis filhos, Dilton Jr., Fredde, Epitácio, Cristian, 
26 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Hilton e o mais novo Gilton, nascidos do casamento com Jandira de 
Moura Batista que já dura quase 50 anos. Dilton lembra como sua 
vida se estabeleceu nos últimos 48 anos, quando se mudou para Par-
naíba: “cheguei e logo depois, felizmente montei um negocio e casei, 
moro na mesma casa, há mais de 40 anos… finquei raízes ”.
 Artista sensível, escreve poesias desde a mocidade, seus 
textos falam de como foi sua vida, os problemas que enfrentou, 
como também sua visão da sociedade ao qual se encontra inserido. 
Tem apreço pela pintura desde a infância, seus quadros podem ser 
vistos no interior de sua loja e não tratam apenas de paisagens mor-
tas pintadas sem sentido, pelo contrário, muitos chegam a quase ter 
vida própria, sendo uma representação crítica do que o artista absor-
ve da existência. Não contente, ainda exerce a atividade de escultor, 
esculpindo brilhantemente na madeira. Dilton conta que aprendeu 
bastante nessas décadas e que não se arrepende de nada.
 O anônimo poeta que consertava o relógio da Praça da 
Graça, hoje, coleciona recortes do passado, em forma de objetos e 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 27
lembranças; sempre preocupado com a preservação da história, faz 
um apelo para quem possuir peças antigas e raras, que não queiram 
mais, para entrarem em contato com ele, concluindo: “sou muito fe-
liz, graças a Deus, e com ele, minha família e amigos sigo meu ca-
minho…”.
Claucio Ciarlini (2008)
28 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Das Bancas de Madeira aos dias de Hoje
Antiga Banca do Aloísio (próxima à Ponte Simplício Dias)
 Até o fim da década de 60, as bancas de revista em 
Parnaíba, assim como em várias partes do Brasil, eram bem diferen-
tes de como conhecemos hoje. A distribuidora Abril, empresa que 
comandava a distribuição das principais revistas, resolveu financiar 
a construção de bancas de ferro, no lugar das que existiam antes: as 
de madeira. Dois senhores estiveram nessa época e acompanharam 
todo o processo de mudança, deixando suas marcas até os dias de 
hoje.
O primeiro foi Aloísio Sousa Cruz, o Seu Aloísio, como cos-
tumam chamá-lo, cearense de Santa Quitéria, de 20 junho de 1931. 
Com 10 anos de idade veio ao Piauí, mais precisamente para Campo 
Maior, de onde fixou residência até o limiar de sua juventude, quan-do então se mudou para Parnaíba, tornando-se “um parnaibano de 
coração”. Nos anos 50, trabalhou em várias empresas: “trabalhei na 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 29
loja Marc Jacob, na Sulamerica seguros, depois fui pra Fortaleza, 
trabalhar no deposito de sola…”. A sola, nessa ocasião, era produ-
zida em Parnaíba e enviada ao depósito em Fortaleza, porém, o cur-
tume não conseguiu agüentar a demanda e Aloísio acabou voltando 
para Parnaíba.
Ao regressar, já década de 60, Aloísio recebeu um convi-
te de seu cunhado José de Morais Véras, mais conhecido por Ze-
quinha da Coca-Cola, para trabalhar no ramo das revistas. Como 
Zequinha era dono da distribuidora, Aloísio passou, então, a tra-
balhar na distribuição e venda dos periódicos: “eu era o respon-
sável pela distribuição; recebia a revista, anotava e distribuía 
para o pessoal… Treinei muita gente para assumir as bancas”. 
Na década de 70, com banca já firmada na localidade próxima a pon-
te Simplício Dias da Silva, começou a treinar pessoas, no intuito de 
que elas assumissem as bancas existentes. Empreendedor, “Aloísio 
gostava de ajudar os iniciantes, ao tempo que batalhava na vida, 
em prol do sustento de sua família”, como lembrou a sua esposa, 
Carlota de Moraes Cruz.
 Um dos seus estagiários foi Francisco das Chagas Sampaio, 
rapaz da cidade de Buriti dos Lopes, nascido em 22 de agosto de 
1954, e que veio aos 17 anos para Parnaíba e, logo, começou a tra-
balhar no comércio: “Comecei trabalhando numa loja de vender re-
des, durante um ano e meio, aí, depois, fui trabalhar em banca de 
revistas, Estudava a noite, trabalhava durante o dia”, e brinca, ao 
lembrar do nome que arrumaram para ele, “Louro”: “Peguei esse 
apelido de Louro no primeiro ano que eu fui trabalhar em banca de 
revista, foi até um senhor que morava em frente à Praça Santo Antô-
nio que falava: – Que negocio de Chagas… é louro, tu não é louro? 
Então é louro!” (sic).
No início, Francisco tinha uma banca de madeira, como era 
de costume na época, na Praça Santo Antônio (em frente onde, hoje, 
é o Biola), ele, Louro, recorda: “Comecei fazendo um estágio com 
seu Aloísio de uma semana, em janeiro de 1974, no fim desse mesmo 
mês eu assumi uma banca que estava fechada na praça Santo Antô-
nio, trabalhei lá até 1978…”,ainda ele: “Quando eu trabalhava na 
30 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
praça Santo Antônio, quem trabalhava na praça da Graça era o 
Vicente, em frente a Igreja do Rosário e a Marc Jacob”.
Em 1978, a Praça da Graça estava fechada para reformas, 
a banca que antes ficava em frente ao antigo Palácio dos Móveis e 
que, hoje, é a Receita Federal, terminada a reforma, em 1979, deslo-
cou-se para onde se encontra atualmente, em frente à Caixa Econô-
mica Federal. “As vendas melhoraram quando eu mudei pra Praça 
da Graça, também fui fazendo amigos, fregueses que ficaram com-
prando sempre na minha banca…”. Depois que o Zequinha da Co-
ca-Cola faleceu, Parnaíba perdeu a representação, que passou a ser 
Teresina. Nos últimos anos, cada dono de banca passou a receber seu 
pacote de revistas, o que diferia de antes, onde eles podiam escolher 
na própria distribuidora da cidade.
 “Seu Aloísio”, hoje, tem cinco filhos e 15 netos, uma família 
grande, que tende a crescer ainda mais, e “Louro” é casado com Ma-
ria das Dores Carvalho Sampaio, dessa união nasceu um filho, que 
já trabalha na mesma profissão do pai. Falar da trajetória dos dois 
(Aloísio e Louro), e de suas bancas de revista, não é apenas contar 
mais de 30 anos da história de vida de dois respeitados senhores, 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 31
é mais que isso, é lembrar um pouco da história da própria cida-
de. Quantas personalidades anônimas ou célebres já não compra-
ram jornais e revistas nas mãos dos, aqui, ensaiados comerciantes, e 
aproveitaram para pôr o “papo em dia”: saber das novidades, muitas 
vezes até travar verdadeiros embates ideológicos, ou despejar críti-
cas etc. Confesso que há 20 anos frequento as bancas de Parnaíba, 
quase que diariamente, porém, sempre me firmei mais nessas duas, 
pois foi onde criei laços de amizade e respeito indissolúveis. Senti-
mentos esses que surgiram com o decorrer do tempo, através do bom 
atendimento de ambos, ponto mais importante para qualquer tipo de 
comércio que pretende atravessar 20, 30, 40 ou mais anos!
Claucio Ciarlini (2008)
32 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Tia Zezé: Um Exemplo de Amor à Vida e 
à Educação!
 A pequenina gigante contra os terríveis olhos de desprezo…
Escondida do mundo… Ela assim pensava, porém por debai-
xo da mesa estava… A imaginar mil e uma histórias, no intuito de 
escapar do tédio que era estar ali. Entre um curiar e outro, tentava 
entender como poderia existir, gente de toda sorte e vaidade, alguns 
carregando olhos de sinceridade, outros, uma terrível face de des-
prezo… E ela ali, pequenina (desencontrada), em meio àquela sala, 
que ouvia, vez por outra, alguém dizer que era de aula… Mas que 
nem por um momento, até então, acalentava o seu mais que inquieto 
coração.
 Apenas ir, comer, fingir e partir. Era assim no colégio, ao 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 33
menos até os nove. Até que um dia (e que dia!), uma mulher revesti-
da de coragem e paciência resolveu fazer mais que sua obrigação… 
Mergulhou fundo nas águas geladas, sem tanque de oxigênio e sem 
temer os perigos que pudesse haver em território tão obscuro, à pro-
cura daquela menina… Na verdade não se tratava de rio, e nem lago, 
mas o velho esconderijo, debaixo da mesa… O fato é que ela foi 
encontrada, e de lá, resgatada. Conheceu pela primeira vez, uma aula 
de verdade. Uma aula com amor.
 A partir daquele dia a escola passou a ter cor, a fazer sentido, 
até mesmo sabor, quem diria… Não o suficiente para fazer os pro-
blemas do dia desaparecerem, mas agora ela sentia que dava pra re-
solvê-los… Mesmo que demorasse e assim custasse inúmeras gotas 
de suor e criatividade. Ela passou a enfrentar o mundo, do seu jeito. 
E enfrentar para ela sempre foi lembrar de uma inspiração eterna, 
que mesmo o tempo (por vezes vilão) não apagou… A lembrança 
da adorada mãe, que sozinha criou seis e mais essa pequenina (tra-
quina), que gostava de observá-la, educando e cuidando de todos, 
sem distinção ou crueldade, apenas a realidade, exposta a cada um 
e antes de dormir, as histórias de trancoso, para aguçar ainda mais 
a curiosidade, enquanto divertia e a fazia esquecer a infância pobre, 
porém honesta.
 E de histórias que existiam e outras nem tanto, a juventude chegou, 
e com ela, outros dilemas… Fosse no bairro de origem, ou por ou-
tros que morou, passou dias, ou até horas, vez por outra tropeçando, 
caindo, sem saúde, sem chão e ainda assim, a contragosto daqueles 
mais desumanos, lembrando do quanto é forte, e se reerguendo, fi-
cando de pé, e ensinando, aprendendo, vencendo, se formando… E 
tendo a noção, desde sempre, que é preciso de alegria, muita alegria 
(mesmo na dor) para derrotar o cruel inimigo preconceito… Tendo 
a força da lembrança da mãe, e de todos aqueles que já apoiaram e a 
acompanham como combustível… E inspirada naquela professora, 
que um dia mergulhou, sem pestanejar, fazendo ela ver que também 
poderia resgatar tantos outros meninos e meninas, que a vida tratou 
de magoar (a vida não, os seres com olhos de desprezo) e que escon-
didos estão, estes meninos e meninas, à espera, mesmo sem saber, 
de alguém grandioso como ela, que um dia pode chegar, com uma 
bolsa carregada de sonhos e um punhado de esperança. E os salvar.
34 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Nota: Maria José Veras Ferreira, mais conhecida como Tia 
Zezé ou a pequenina gigante deste breve conto inspirado em sua 
vida, enfrentou preconceitos, obstáculos e pedras no caminho… Su-
perou todos! E é um exemplo para quem já fez parte de sua história 
(os que possuem coração). Nasceu em 10 de abril de 1965, é par-
naibana e residiuboa parte de sua vida no Bairro São José, tendo 
morado também em outros lugares e hoje no Bairro Pindorama. É 
graduada em Pedagogia e especialista em Educação Infantil, tendo 
atuado em várias escolas e faculdades (tanto públicas, como parti-
culares) sempre com o mesmo empenho e entrega, a citar o Colégio 
Nossa Senhora das Graças, onde lecionou por 25 anos. É referência 
na área de educação e cultura de Parnaíba, também é poetisa, rotei-
rista, escreveu e dirigiu várias peças em escolas. O nome da profes-
sora que a resgatou e lhe serviu de inspiração é Ana Teles e o nome 
de sua mãe: Teresinha de Jesus Pascoal Veras. Os irmãos: Francisca, 
Socorro, Antônia Maria, Maria Ozanete, Regina Célia e José Carlos. 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 35
Os filhos: Darcon e Dalila. Sua caminhada pessoal e profissional, 
que tive o privilégio de conhecer através de nossas conversas (que 
muito me emocionaram), é uma grande lição de resiliência e de amor 
à sua cidade e à Educação, numa linda e vibrante trajetória que pre-
cisaria de inúmeras páginas… Um livro! E que livro seria… Quem 
sabe um dia!
Claucio Ciarlini (2017)
36 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Do tempo em que escutávamos Rock and Roll
O som se fazia inconfundível, e por vezes até ensurdece-
dor… Black Dog, um cover ledzepeliano, se mostrava com toda sua 
força e genialidade, numa noite de sexta-feira, 26 de junho de 2009, 
no ambiente do Sesc – Beira Rio. Embora, acredito que, muitos ali, 
nem mais conseguissem distinguir as notas e arranjos, emitidos pelas 
guitarras furiosas e experientes, de uma banda que, com toda certe-
za, carrega a bandeira e o espírito de seus ídolos, o famoso grupo 
de rock inglês Led Zeppelin. E era tão perfeita a entrega da pla-
teia que ali se encontrava, imersos na aura setentista, mergulhados 
nas profundezas do que muitos chamariam de “O bom e velho rock 
and roll”, que estes indivíduos já não mais enxergavam uma banda 
à sua frente, nem tão pouco escutavam os acordes distorcidos dos 
instrumentos amplificados pelos auto-falantes, mas sim um univer-
so paralelo, uma outra dimensão de cores e formas infinitas, que a 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 37
todo instante se sobressaíam, umas às outras, produzindo mágicas 
melodias que viajavam por todos os sentidos, fazendo com que sur-
gissem emoções, das mais variadas… Ao meu lado, um amigo, Is-
rael Galeno Machado, colega de escola desde a época das séries ini-
ciais, conversávamos sobre nossa juventude, no início dos anos 90, 
e lembrando de inúmeras situações e pessoas pelas quais havíamos 
passado, acabamos por recordar do tempo em que descobrimos os 
sons de Iron Maiden, Metallica, Guns and Roses, Aerosmith e Bon 
Jovi, para não citar várias outras bandas de rock que, aos 12 anos de 
idade, escutávamos à exaustão, como que numa maneira de expurgar 
todos os problemas e questionamentos surgidos no período da ado-
lescência… No meio da conversa nostálgica surge em nossa frente, 
de forma apressada e com uma mochila nas costas, simplesmente o 
organizador do evento, o roqueiro e professor Paulo Roberto Rocha 
Bastos, o Paulim, como costumo chamá-lo.
 Nascido em 11 de julho de 1961, na cidade de Fortaleza (Ceará), 
mas mudando-se para Parnaíba aos 4 anos de idade, trazido pelos 
pais Francisco Ferreira Bastos e Cosma Rocha Bastos, Paulim, que 
se considera de fato parnaibano, pois residiu nos últimos 45 anos 
nesta cidade, estudou em diversos colégios, tendo concluído o ensi-
no médio na escola estadual Lima Rebello. Formado em Adminis-
tração de Empresas pela Universidade Federal do Piauí, onde atual-
mente é professor, e servidor do estado há 21 anos, detém hoje, além 
de algumas especializações e cursos, o cargo de diretor da escola 
estadual Cândido de Oliveira. Porém não é apenas o ofício do ma-
gistério que faz com que Paulo Bastos seja reconhecido e elogiado 
pelos quatro cantos da “velha Parnaíba”, mas também sua paixão 
exacerbada pelo rock, nascida desde ainda muito jovem, em meados 
dos anos 70, quando escutou em um programa do locutor Bernardo 
Silva, chamado “O som nosso de cada dia”, da Rádio Educadora de 
Parnaíba, uma canção da banda Led Zeppelin, intitulada Black Dog 
– sim, caro leitor, Black Dog, o mesmo nome que, décadas depois, 
uma banda cover do Led pegaria emprestado e, certo dia, faria um 
38 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
show em Parnaíba, que este humilde escritor acabaria por comentar 
no início deste artigo. Depois de ter escutado o rock da banda ingle-
sa, Paulo Bastos foi tomado pela essência deste estilo e desde então, 
nunca o abandonou. Na década de 80, já tendo aprendido a tocar 
violão, montou um grupo de Heavy Metal chamado Condutores de 
Cadáver, onde a formação tinha: Paulo Bastos (Guitarra), Nilson 
Borges (Voz e Baixo) e Netinho (Bateria). A banda não durou muito, 
mas serviu para Paulim conhecer várias pessoas ligadas à música na 
cidade, e principalmente aqueles que pertenciam ao gênero roqueiro. 
O rock em Parnaíba, como em todo Brasil, estava em alta durante os 
anos 80, em decorrência do surgimento de várias bandas nacionais 
de destaque, como também do festival ocorrido em 1985, no Rio de 
Janeiro, no qual Paulim teve o prazer de ser espectador, evento este 
que trouxe para o nosso país nomes como Scorpions, AC/DC, Ozzy 
Osborn e Withesnake – logicamente, caro leitor piaguiense, que es-
tou falando da primeira edição do Rock in Rio.
 Entre o fim de 80 e início de 90, Paulim teve que deixar de lado 
a cena roqueira, ao menos profissionalmente, para trabalhar como 
professor da rede estadual de ensino, porém nunca esqueceu o rock, 
como ele mesmo afirma: “Nunca deixei minhas raízes”. E foi com 
esse pensamento que Paulim teve a ideia, em 1994, de montar uma 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 39
loja de artigos de rock, chamada Metal Vídeo. Vendas de camisas 
e cds, gravações de fitas-cassete (e posteriormente cds) era no que 
Paulo trabalhava, ao mesmo tempo em que exercia o cargo de pro-
fessor, tanto do estado como, também, já nesse período, da Univer-
sidade Federal do Piauí. Dois anos depois, em 96, casa-se com Ligia 
Thomaz Bastos, de onde surgiram os dois filhos, Samuel (12) e Ga-
briel (9), ambos fãs de rock e que já tocam violão e guitarra, mesmo 
com a pouca idade. A loja Metal Vídeo, que se situava na Rua 
Padre Castelo Branco, em 1998 teve sua mudança para o endereço 
localizado à Rua Caramuru, que depois se tornou também locadora. 
Em 2004, ainda não satisfeito, começa a promover festivais de rock 
na cidade, trazendo bandas de vários lugares do Brasil, como foram 
os casos de: Dark Season (Teresina), Paradise in Flames (Belo Hori-
zonte), Andrals (São Paulo) e Desgrace and Terror (Pará), para não 
citar outras. Foram sete eventos já realizados em diversos palcos de 
Parnaíba, fortalecendo, assim, a cena roqueira da cidade nos últimos 
anos.
 O último evento, realizado em 2009, que trouxe a banda carioca 
Black Dog e que tive o prazer de presenciar, significou um dos pon-
tos altos, segundo o próprio Paulo Bastos, em sua jornada como 
propagador e incentivador do rock em Parnaíba. Sempre na busca 
de ajudar tanto veteranos quanto grupos recém-formados, ele segue, 
assim como o vi naquela nostálgica noite, de forma apressada e com 
uma mochila nas costas, mochila esta que traz uma bagagem rica de 
conhecimentos e atitudes, de alguém que soube amadurecer e enve-
lhecer, sem nunca deixar de lado os anseios de quando era apenas 
um jovem, igual a muitos, igual a mim ou a vocês, rebeldes, senti-
mentais, inseguros, sonhadores, indomáveis, inesquecíveis, e muitas 
outras coisas…
Claucio Ciarlini (2010)
40 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
O braço, o lábio e a voz.
1968! Protestos pelo Brasil. Nas ruas, praças e aveni-das, o descontentamento. O movimento em prol da Democracia ganha força. 100 mil, que logo se 
torna muito mais. Em resposta, a ditadura militar aumentaa repressão. 
E com o Ato Institucional N° 5 lacra de vez quaisquer direitos que 
ainda restassem de proferir, reclamar. É o governo do calar, obedecer.
 Enquanto isso, um jovem sonhador, filho de Parnaíba e ainda 
alheio aos conturbados acontecimentos, deixa Fortaleza (cidade que 
morava há dois anos) para continuar os estudos em Salvador, a primei-
ra capital do Brasil. Até então, o que sempre prevalecia na mente deste 
simpático indivíduo era a paixão pelo futebol, a vontade de se divertir, 
passear; o apreço pela família e a fé que sempre devotou a todos os 
Santos e ao Deus do Cristianismo.
 Porém, ao chegar à Bahia, começou a perceber que nem 
tudo na vida era belo, que o mundo de antes, tão divertido, exibiria um 
universo de caras feias e de momentos imprestáveis. Ele estaria longe 
da família, tendo que contar, por inúmeras vezes com apenas um: ele 
próprio. E a fé, de sempre, seria testada, e por vezes até abalada, na 
medida em que assistia uma sociedade controlada, amordaçada, no 
passar de cada dia e mês, em que percebia as imperfeições, os perigos, 
os preconceitos. A hipocrisia em sua mais alta plenitude.
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 41
 Era a vida batendo forte. E ele tendo que aprender. A fim de 
não ser nocauteado. E conseguiu. Porém, para entendermos melhor, de 
onde veio a fé quefez com que Mario Pires Santana, nascido em 1946, 
sobrevivesse aos inúmeros golpes e rasteiras que a vida lhe proporcio-
nou, é preciso que regressemos à Parnaíba da década de 50, quando 
ainda garoto, e aos sete anos, acompanhou a mãe numa procissão pela 
chegada de Nossa Senhora de Fátima:
 Era 1953, e me marcou profundamente a Chegada da San-
ta, as pessoas aguardando com ansiedade… Lembro que eu cheguei 
a me perder de minha mãe, tamanha era a multidão… Todos muito 
emocionados.
 Com o passar do tempo, e ainda em formação para a vida 
adulta, ele seria novamente arrebatado por um momento único de fé, 
quando do evento do Cruzeiro das Santas Missões:
Tinha padre de tudo quanto era lugar, confessando na Pra-
ça da Graça… Foi impressionante, eu tinha meus treze pra quatorze 
anos, bonito de ver, acompanhar, a fé de todos… Um acontecimento 
que serviu para fortalecer a minha crença… Ainda na adolescência, 
na São Sebastião, eu fiz as nove primeiras sextas feiras do mês, de 
comunhão e confissão… Se perdesse uma, podia estar na quinta, por 
qualquer motivo, tinha que recomeçar e eu consegui fazer todas, sem 
quebrar a corrente.
 Tudo isso, hoje, faz parte de sua mais que sensível memória. 
Assim como guarda no peito os amigos, os momentos incríveis que 
passou ao lado deles. A companhia prazerosa dos parentes, as precio-
sas lições repassadas por seu pai e por sua mãe, os filmes que assistiu 
no Éden, as voltas que deu na Praça da Graça. Uma época de sonhos e 
de sorriso no rosto, quase sempre.
 Bem diferente da realidade desafiadora de Salvador, de onde 
Mario pôde perceber os inúmeros problemas dos quais sua pátria vi-
via. Onde esteve, por vezes, bem próximo de celebres nomes da cultu-
ra brasileira que atuaram contra o sistema opressor:
 Por diversas vezes eu estive há poucos metros de Caetano, 
Gil e de outros nomes da cultura brasileira (…)
 Ao mesmo tempo em que a consciência política de Mario era 
42 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
aflorada, ele foi sendo obrigado a se adaptar ao ambiente de trabalho, 
que para ele foi tudo, menos favorável:
 Eu passei no Concurso para Técnico Químico da Petrobras, 
e fui trabalhar num laboratório, que, infelizmente, na ocasião, não 
tinha a segurança que se tem hoje… Trabalhando com produtos peri-
gosos, benzeno, tolueno… Acetona… Destilação de gás em um quar-
tinho apertado… Foram onze anos de sofrimento, que me renderam 
problemas de saúde… Mas era o meu trabalho, minha responsabili-
dade, e eu tive que cumprir. Até que, enfim, consegui minha transfe-
rência em 85 para Fortaleza, e as coisas melhoraram.
 O ano de 1985 marcou o fim da Ditadura e o principio da re-
democratização brasileira. Foi o ano em que Mario, enfim, obteve sua 
transferência, a fim de estar mais próximo de seus parentes e onde ele 
passaria a trabalhar em melhores condições, mudando de setor.
 Não que a Bahia tenha lhe rendido apenas momentos cruéis
 A Bahia lhe conduziu à leitura, que por sua vez aguçou seu 
senso crítico – reflexivo. O que serviu para alimentar o seu lado escri-
tor, que anos depois surgiria com força e coragem. A Bahia lhe rendeu 
alguns anos na faculdade de Química. E um emprego na Petrobras, 
que foi seu sustento e de onde se aposentou com todos os méritos em 
1997, regressando no ano seguinte à sua amada Parnaíba.
 Salvador também lhe deu de presente o amor de toda a vida, 
a querida Lia, fiel companheira desde os tempos de dificuldade e que 
foi, por várias vezes, a sua força, quando nos momentos de fraqueza, 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 43
própria do ser humano, Mario pensou em desistir… Lá estava ela, para 
lhe mostrar o quão poderia ser forte e continuar.
 Da união amorosa, que já se encaminha aos 40 anos de feliz 
convivência, nasceram as filhas, Marina e Marisa, respectivamente em 
78 e 79. Hoje ele já brinca e caduca com os netos, que chegaram para 
tornar a família ainda mais bela e unida.
 Mario é uma dessas raras pessoas que além de ter forte sen-
sibilidade, consegue demonstrar. Sensibilidade que para tantos pode 
significar fraqueza, e no que rebato: as pessoas mais sensíveis que já 
encontrei pela vida, foram as que mais conseguiram enfrentar o desco-
nhecido, sofrendo, por vezes, nas mãos do impensável e ainda assim, 
ao final de cada ciclo de agonia e dor, renasceram ainda melhores e 
com a humildade e capacidade de amar intactas.
 Ele é assim, um ser humano maravilhoso, com qualidades 
que se sobressaem aos defeitos. Um cidadão consciente de seu papel 
para com a cidade que tanto admira e que a eterniza, em crônicas belís-
simas lançadas nos jornais, livros e páginas da internet. É dessa forma 
que ele tenta ajudar Parnaíba, terra da qual ele tem um amor, que só 
cresce com o tempo, desde ainda pequeno, sempre e a cada dia mais. 
Filho de uma cidade que já foi Gigante em se tratando de comércio, 
economia, mas que nas últimas cinco décadas vem se tornando cada 
vez mais frágil e pequena, por razões político – sociais.
 Mario é um escritor que diz a verdade, mesmo que ela inco-
mode, pois sabe que é um direito adquirido a duras penas e através do 
sangue de inúmeros que lutaram para que a Nação se tornasse livre de 
um governo que durante 21 anos limitou o direito de livre expressão e 
implantou o medo de questionar. Ele sempre estará disposto a lutar por 
essa liberdade, do jeito que for preciso, e como diria Belchior: é para 
isso que se faz o seu braço, o seu lábio e a sua voz.
Claucio Ciarlini (2016)
44 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Um sobrevivente da árdua batalha da vida
Até quando um ser hu-
mano pode suportar o peso da 
existência? Antes mesmo que 
você, leitor, comece a refletir 
sobre essa complicada ques-
tão, me permita contar a histó-
ria de Francisco de Assis Lemos, 
hoje conhecido como Guerreiro. 
Nascido na cidade de Altos, Piauí, 
em nove de maio de 1954, filho de 
José Luiz Lemos e Cândida Viana Lemos, Guerreiro, ao me relatar seu 
passado, contou como foi sua infância: “Eu era criança de seis para sete 
anos e já ajudava meu pai na roça, o trabalho era duro e sobrava pouco 
tempo para descanso”. Porém, lembra que havia também momentos fe-
lizes: “Nossa família era unida e sempre havia brincadeiras, até no cami-
nho e na volta da roça, sempre conversávamos e nos divertíamos” (sic). 
 Quando nem havia completado oito anos, Guerreiro despertou a 
atenção de alguns conhecidos ao desenhar com habilidade, figuras e paisa-
gens no chão, não utilizando um lápis ou pincel, mas pedaços de carvão. 
Fato que acabou resultando numa proposta por parte de alguns parentes 
de levá-lo à Teresina,para que lá pudesse aprimorar sua arte, assim como 
exibi-la para um maior contingente de pessoas. E eis que era a década de 60 
e Guerreiro chegando à capital do estado, logo arrumou o que, para ele, foi: 
“um trampo para ilustrar numa coluna de um jornal conhecido da época” 
(sic). Durante um bom tempo a “nova vida” em Teresina transcorreu com 
certa tranquilidade, até Guerreiro se deparar pelo caminho com algumas 
“puxadas de tapete”: “Trabalhei durante uns meses, em fase experimental, 
num jornal de destaque, fazia charges e caricaturas, mas chegou um mo-
mento que não deu mais certo e tive que sair do jornal (…) Passei a dese-
nhar rostos de pessoas à domicilio”. Jovem e ainda um tanto inexperiente 
perante as malícias do meio publicitário e jornalístico, acabou perdendo o 
emprego no jornal e se viu tendo que encarar de frente o selvagem mundo 
da concorrência: “Expus meus desenhos no Teatro 4 de Setembro algumas 
vezes, e participei de concursos e festivais de humor, mas haviam pessoas 
com mais experiência e ´amizades` do que eu, o que não ajudou muito, 
pois estava numa cidade que não era a minha e onde eu tinha poucos co-
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 45
nhecidos, mas sempre toquei o barco pra frente e fui lutando com o suor do 
rosto” .
Durante décadas, Guerreiro aprimorou sua habilidade e amadure-
ceu bastante, passando até a adotar diferentes estilos. Porém, como “nem 
tudo eram flores”, à medida que crescia artisticamente, recebia proporcio-
nalmente diversas “pancadas da vida”, primeira-mente com “diversas difi-
culdades financeiras e sentimentais pelos quais passava durante a época”, 
e depois com a morte dos pais, fatos que lhe causaram bastante melancolia; 
acontecimentos que, diversas vezes, quase o levaram à loucura, se não fos-
se tudo que havia aprendido no decorrer de sua trajetória de altos e baixos, 
como sobrevivente da árdua batalha da vida.
Na última década, depois de idas e vindas, à Teresina e Altos, como 
também excursões pelo interior do Piauí e algumas cidades do Nordeste, 
Guerreiro muda-se para Parnaíba, cidade pela qual ele mesmo comenta: 
“tenho um apreço muito grande, pois foi uma cidade que me acolheu e que 
já a tenho em meu coração”. Boêmio assumido, mas “na medida saudável”, 
sempre simpático com todos “não importando classe social, sexo ou cor” e 
deveras preocupado com os problemas que assolam o Piauí, Guerreiro bus-
ca retratar em seus trabalhos as várias percepções de seu olhar como artista 
sensível, desenhando desde laços de amizade, como bem exemplifica o mu-
ral existente na lanchonete situada abaixo da Casa Grande de Simplício Dias, 
ou então aspectos sociais e políticos de nossa terra, acrescentaria ainda a re-
presentação de ídolos que povoaram sua mente durante muitos anos, como 
é o caso do cantor Roberto Carlos, do qual Guerreiro devota bastante admi-
ração: “Sou fã de vários cantores, desde Raul Seixas a Ivete Sangalo, mas o 
meu preferido é o Rei!”, revelou ao mesmo tempo em que mostrou em sua 
pasta, recheada de rostos eternizados no papel, a imagem do cantor e ídolo. 
 Destemido e incansável, busca a cada dia conquistar seu espaço, 
demonstrando seu talento de forma humilde, honesta e cativante, ultrapas-
sando barreiras, vencendo medos e resistindo aos desafios do tempo, sem 
nunca desistir e, principalmente, sabendo viver intensamente todas as expe-
riências que o mundo lhe oferece; e isto nos conduz novamente à pergunta 
do início: Até quando um ser humano pode suportar o peso da própria exis-
tência? Acredito que, através da história de Guerreiro seja possível come-
çarmos a perceber que caminhos, cada um de nós pode traçar, a fim de que, 
um dia, encontremos nossas respostas.
Claucio Ciarlini (2009)
46 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Lembranças de uma vida inteira, das Copas do Mundo e de 
muito mais…
 “Ainda lembro deste dia, como se ti-
vesse sido há poucas horas…”.
 …Era 17 de julho de 1994 e, de pé, 
junto a um grupo de pessoas, assistia, no clube 
da AABB, o atacante italiano Roberto Baggio 
chutar a bola para bem distante do gol, pro-
vocando uma alegria geral de todos que ali 
estavam. Afinal, depois de um longo jejum 
de 24 anos, o Brasil vencia novamente uma 
Copa do Mundo. Naquele instante, uma onda 
eufórica percorria os corações de muitos fãs do tão amado futebol, atingindo 
até aqueles que nem simpatizavam tanto com tal modalidade esportiva, mas 
que, tragados por essa onda benéfica, se uniam num grande coro em come-
moração à conquista do Tetra. Próximo ao local onde eu estava, a poucos 
quarteirões de distância, mas precisamente na Coroa (hoje Bairro do Car-
mo), encontrava-se um homem que, ao vibrar com a vitória do Brasil sobre 
a Itália, acabou por mergulhar no passado, de quando ainda era garoto, e ou-
viu pelos quatro cantos da “Velha Parnaíba”, os brados de – “É campeão!” 
– quando o Brasil venceu sua primeira Copa, há mais de cinco décadas. Este 
homem era José Maria Alves Costa Filho.
Zé Maria, como muitos o chamam, nasceu no dia 12 de março de 
1952, na cidade de Araioses (Maranhão), porém, ainda com um ano de ida-
de, foi levado pelos pais para Parnaíba, cidade que considera sua terra natal. 
Ele veio ao mundo apenas dois anos após a amarga derrota do Brasil para 
o Uruguai na Copa que nosso próprio país foi sede, e adquiriu o interesse 
pelo futebol ainda muito jovem, aos seis anos, quando vencemos por 5 a 2 a 
Suécia, conquistando, assim, a primeira Copa em 1958. Apenas quatro anos 
depois, nosso time vencia, pela segunda vez, o torneio mundial, desta vez 
em cima da Tchecoslováquia, e Zé Maria, agora com 10 anos, já despontava 
perante os colegas a habilidade que tinha como centroavante, fato que des-
pertaria com o tempo a atenção de pessoas ligadas ao futebol em Parnaíba, e 
que o conduziria para um tempo de glórias e gols inesquecíveis.
Ainda na infância, junto aos irmãos Antônio, Raimundo e Alcionei-
de, Zé Maria, estudante das escolas José Narciso, Comercial da Parnaíba 
e, posteriormente, Estadual Lima Rebello, aprendia lições de matemática 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 47
e português, dentre outras, enquanto crescia na prática do futebol, perce-
bendo, pouco a pouco, a infância iria terminar e, junto dela, a inocência, a 
tranquilidade e muitas outras coisas…
 Na década de 70, aos 18 anos, e já jogador experiente, Zé Maria 
teve a felicidade de acompanhar o tricampeonato brasileiro, conquistado 
no México em cima da rival, Itália. Durante alguns anos, jogou nos times 
e seleções de futebol da cidade e, principalmente, no Payssandu, eterno 
adversário do Parnahyba Sport Club. Porém, chegou um momento em que 
Zé Maria teve que deixar o estado do Piauí para ganhar seu sustento, pois a 
carreira de futebol, até os de dias de hoje, infelizmente, nem sempre assegu-
ra quem dela tenta viver, e partindo para o Centro do País, ele abandona as 
chuteiras, deixando de lado o sonho de ser um artista dos pés para se tornar 
um nobre trabalhador das mãos. Foi nesse período, passando pelos estados 
de Goiás e Mato Grosso que Zé Maria casou-se e teve dois filhos, mas a sau-
dade o trouxe de volta anos depois, em 1991, para a sua cidade do coração, 
Parnaíba. Divorciado, casa-se novamente em 1993, e como que numa incrí-
vel coincidência ou mágica do destino, o Brasil volta a vencer, desta vez, na 
Copa dos Estados Unidos e, novamente, sobre a Itália. Daí veio a Copa de 
2002, trazendo o pentacampeonato, e hoje Zé Maria trabalha no condomínio 
no qual resido, e local que tive a oportunidade de conhecê-lo.
Com um rádio na mão, e sempre ligado nos jogos do Flamengo, seu 
time preferido, este veterano do futebol e da vida, já aposentado dos grama-
dos, possui um olhar distante, porém sereno, quando lembra do passado e 
de suas inúmeras vitórias como jogador e ser humano; campeão dos inúme-
ros obstáculos que surgiram e ainda surgem do amadurecimento diário de 
conquistas e derrotas, impostas pelo cotidiano de uma sociedade cada vezmais fria e sem sentimentos. E é com um sorriso cativante que ele termina a 
conversa, aliás, uma das muitas que já tivemos no decorrer desses três anos 
de amizade.
Quando me despeço deste eterno craque, começo novamente a lem-
brar daquela Copa do Mundo de 1994, quando tive o prazer de gritar bem 
alto: – “É tetra, é tetra!” Da mesma forma que, em 1958, ele vibrou. Alegrias 
que hoje lhe trazem recordações nostálgicas de um tempo em que a vida 
era menos complicada e os problemas mais facilmente resolvidos. E num 
último instante, quase posso ouvi-lo sussurrar, como que apenas para si…
“Ainda lembro deste dia, como se tivesse sido há poucas horas…”.
Claucio Ciarlini (2010)
48 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
O Desenhista Parnaibano que teima em querer alcançar as 
estrelas
Há milhões de anos luz da terra, na imensidão e frieza do espaço 
sideral, existe um pirata, ou melhor, um Corsário Azul. Ávido de 
alcançar e dominar nosso enfermo planeta. E ao mesmo tempo em 
que este ser, dotado de coragem, astúcia e humor, enfrenta mil aven-
turas, lutando contra robôs e espaçonaves em prol de seus desejos, 
em contrapartida, existe um desenhista (aqui mesmo em Parnaíba) 
que persegue, a todo custo seus ideais, com bastante humildade, in-
teligência e humor.
Um ser, de nome Enio Silva, que desde jovem teima em sonhar com 
as estrelas, mesmo quando estas aparentam estar, bem mais distantes 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 49
do que seu coração possa senti-las.
O Corsário Azul, fanzine parnaibano que já possui cinco edições lan-
çadas, entre o período de 2006 a 2009, é uma criação do talentoso 
(e guerreiro) Enio Silva. E é da escrita do próprio Enio, que retiro 
um trecho (do editorial da edição número três), para que possamos 
entender um pouco mais de ambos os personagens: O da Ficção e o 
da Vida Real.
 “Corsário Azul é o personagem que apareceu para ajudar a extinguir 
o fraco hábito de leitura em nossa cidade, além de ser criado também 
para a garotada que curte animes e mangas, histórias criadas por um 
fanzineiro louco por mangás, que sempre foi doente por animes e 
que foi contaminado pela inspiração dos mesmos para criação do 
Fanzine Corsário Azul.”
Porém, este dedicado profissional e pai de família, está longe de ser 
apenas o criador do “Pirata Viajante das Estrelas”. Chargista com 
forte veia critica, utiliza seu dom de desenhar com brilhantismo e 
destemor, na luta contra as injustiças sociais e as trapaças políticas 
existentes no mundo, e não se amedronta perante os desafios e di-
ficuldades, sempre levando um sorriso, no lugar de escudo, quando 
se depara com as hipocrisias e mentiras de uma sociedade leviana. 
E é nessas horas que fico a pensar, e começo a perceber o quanto de 
Corsário tem em Enio, e o quanto de Enio há no Corsário…
Guardo em meu armário de colecionador, as edições de Corsário 
Azul, esperando ansiosamente pela sexta edição (contendo, quem 
sabe, a possível chegada do pirata em nosso planeta), ao mesmo tem-
po em que agradeço aos “deuses dos quadrinhos”, por terem me pro-
porcionado conhecer este incrível cara, que nunca desiste de lutar, e 
que nos presenteia a todo instante, com sua criatividade extraordiná-
ria e sem limites…
Claucio Ciarlini (2009)
50 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
Entre os mestres, os ídolos e os reis
 
 
Existe um clássico dos quadrinhos americanos que há gerações di-
verte e emociona uma porção de adolescentes que, depois, se tornam 
adultos, mas nunca esquecem dele. Trata-se de Conan, o Bárbaro, 
personagem criado pelo escritor texano Robert E. Howard em 1932, 
uma obra literária que, com o tempo, foi adaptada para os quadri-
nhos; narra a história de um aventureiro, da era antiga, hábil espada-
chim, de disposição violenta e contrária às hipocrisias e fraquezas da 
civilização de sua época, e que se defrontava com ameaças sobrena-
turais sobre as quais sempre prevalecia, fossem elas magos, demô-
nios ou outras criaturas de eras perdidas no tempo. Um guerreiro de 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 51
destemida força e enorme coração. Nos últimos anos fui apresentado 
por um amigo e também colecionador, Isaac dos Santos, a literatura 
deste bárbaro, que antes o conhecia apenas por alguns filmes, lança-
dos nos nostálgicos anos 80. E é justamente depois de ter conhecido 
a lenda de Conan, que pude entender mais a fundo a personalidade 
de um de seus maiores fãs, o desenhista, músico e historiador Mauro 
Júnior Rodrigues Sousa, o Mauro Jr., como os amigos costumam lhe 
chamar.
 Nascido em Floriano (PI), em meados de 70, foi trazido pelos pais, 
para a cidade de Parnaíba quando tinha apenas um ano de idade, cur-
sou o primário na Unidade Escolar Lauro Correia, e desde criança já 
esboçava seus talentos artísticos. Aos sete anos começou a desenhar 
inspirado nos arquétipos de sua adolescência, o já citado Conan e 
He-man, um personagem de desenho animado que lutava em prol da 
justiça. Aos nove anos passou a ler clássicos da literatura mundial, 
através de uma coleção intitulada Reino Colorido da Criança, uma 
série de livros, que lhe transmitiram muitas informações, principal-
mente sobre cultura e história medieval. No início da adolescência, 
aprendeu a tocar bateria, 
inspirado nos seus ídolos do 
rock, como, por exemplo, as 
bandas Black Sabbath, Rush 
e Iron Maiden. Como tam-
bém influenciado pelo irmão 
mais velho José Carlos Ro-
drigues Sousa, um excelente 
guitarrista, no qual Mauro se 
espelhava e pessoa de fun-
damental importância tanto 
em sua vida como no que 
diz respeito ao início de sua 
carreira musical.
 O garoto, que já demons-
trava bastante talento na arte 
do desenho, passava agora 
52 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
também a despontar na música. Em 1988, com 11 anos, ingressou 
como desenhista na ASARTEP (Associação dos Artistas e Técnicos 
de Parnaíba), entidade que funcionou durante cerca de dois anos e 
que tinha como finalidade a integração dos jovens de talento da épo-
ca, ajudando-os no amadurecimento de seus respectivos dons. No 
início da década de 90, Mauro Jr. se une com alguns amigos e juntos 
fundam a banda de rock n´ roll “Artéria”, que passa a fazer shows 
no underground de Parnaíba, porém, depois de um tempo, ele deixa 
a banda e logo ingressa em outra, intitulada “Rabiscos Urbanos”, na 
qual tinha entre seus integrantes o cantor de renome nacional Teófilo 
Lima. A banda fez bastante sucesso e ganhou diversos prêmios, mas 
em 1993 Mauro parte em busca de novos ritmos. Chegou ainda a se 
integrar em outras bandas, e ao fim do ensino médio já havia evoluí-
do bastante sua música e desenho.
 Um novo milênio surgiu e trouxe um Mauro Jr. mais maduro, já 
integrante da Banda Municipal de Parnaíba desde 1999. Entra para o 
curso de pedagogia da UESPI em 2001, e um ano depois une-se em 
matrimônio com a professora Silvia Milane, de onde geraram até este 
momento, dois frutos, Letícia e Guilherme. Em 2007, já formado em 
Pedagogia, ingressa no curso de História – UESPI, e no mesmo ano 
passa a integrar o grupo fiel de colaboradores do “O Piagüi”, onde 
com seus desenhos, sejam eles na forma de caricatura, linha clara 
ou reprodução, trouxe mais riqueza e brilhantismo a este meio de 
comunicação. E não satisfeito, Mauro Jr. passa a colaborar também 
com artigos ligados à história, expondo e analisando os resultados 
de suas pesquisas acadêmicas. Obcecado por quadrinhos de horror 
dos anos 60, 70 e 80, onde começou a ler influenciado por um amigo 
Lourival Júnior, o Lourival “Krueger”, (referência ao personagem 
de terror da série de filmes A Hora do Pesadelo), Mauro Jr. é leitor e 
colecionador de quadrinhos, hobby que coincide com o meu, já não 
bastasse a devoção que compartilhamos pelo estudo da História.
 Desde 1990 (ainda com nove anos de idade), eu havia começado 
a colecionar heróis em quadrinhos, e admito que sou um apaixona-
do por esse mundo de emoção, suspense e aventuradaqueles que 
nunca desistem e sempre lutam (cada um a seu modo) em prol da 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 53
humanidade. Ter lido essas histórias que iam de Superman a Homem 
Aranha, passando por Hulk, Homem de Ferro, Batman, me ensinou 
muito sobre como sobreviver às adversidades, e como sempre fazer 
o possível para tentar ajudar o próximo. Lições que foram passadas 
também para esse incrível ser humano conhecido como Mauro Jr., 
que assim como seu ídolo nos quadrinhos, lutou desde cedo, cres-
cendo e amadurecendo em múltiplos dons. E digo desde já que assim 
como Conan, ao fim de sua jornada, tornou-se rei, por mérito e bra-
vura, os mesmos dons levarão Mauro Jr. ao lugar que lhe é de direito, 
ou seja, entre os mestres, os ídolos e os reis.
Claucio Ciarlini (2008)
54 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
De Educadora a Administradora: uma trajetória de fé e 
resiliência
E se durante toda a 
vida, você tivesse passado 
por enormes dificuldades, 
muitas vezes até contemplan-
do o abismo, tendo que se 
reerguer das maiores perdas, 
armadilhas e traições, porém, 
mesmo assim, demonstrando, 
ao fim de cada ciclo de dor, 
que a sua fé em Deus se tor-
nou ainda maior?
Há cerca de oito anos, 
eu tive a honra de conhecer 
alguém assim, que já viven-
ciou os piores cenários, desde 
a infância, e, ainda assim, não 
permitiu que o seu coração 
congelasse e nem tão pouco 
que os seus sonhos fossem reduzidos a pó.
Estou falando de Rosilda Sales Dias, nascida em Parnaíba, na data 
de 24 de dezembro de 1961 e que possui uma história de vida, das 
mais desafiadoras. Filha de pais separados, logo ao nascer, tendo 
sido criada por seus avós até os sete anos, mas que em razão de um 
lamentável ocorrido, sua vida foi novamente alterada, e para pior: 
Aos sete anos, meu avô morreu, e fui morar com uns tios meus em 
Teresina, onde sofri bastante. Para completar, quando eu estava lá, 
com doze anos, recebi a notícia da morte do meu pai, o que fez com 
que minha situação piorasse mais, pois além das minhas perdas ain-
da muito nova, minha tia havia dispensado todos os empregados da 
casa e me colocado para trabalhar no lugar deles. Para você ter uma 
ideia, eu com dez anos, não poderia estudar à noite, mesmo assim 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 55
ela me colocou para estudar nesse turno! Só quando o pessoal des-
cobriu, é que fizeram com que ela me colocasse para estudar durante 
o dia.
 Porém dias mais felizes estariam por vir, principalmente 
quando do regresso à Parnaíba: Fiquei em Teresina até os 14 anos, 
depois voltei e vim morar com minha mãe, pois ela tinha conseguido 
comprar uma casa no Bairro Santa Luzia, e certo dia, quando tinha 
meus 14 pra 15 anos, fui no comércio perto de casa comprar uns 
picolés pros meus irmãos e lá estava o Nery: foi paixão à primeira 
vista! Todavia, não foi tão fácil, como relata Rosilda: Na época 
tinha um fazendeiro que tinha pedido minha mão em casamento, e 
minha mãe tinha aceito sem que eu nem soubesse e daí ela se zan-
gou bastante comigo, até me bateu muito e quando Nery descobriu, 
pediu para que eu fugisse com ele. Eu brinquei, falando que fugir 
não, mas para casar eu aceitaria! Para que? No outro dia ele já es-
tava com meus documentos atrás do fórum, queria casar logo padre 
e civil. Só que como eu era de menor, minha mãe tinha que assinar. 
Ela não queria, mas meu irmão, sem eu saber (vim saber há pouco 
tempo numa reunião de família), tomou a frente e disse para o Nery 
que eu iria casar, mas que ele tinha de deixar eu estudar até concluir 
o ensino superior, pois como sempre ele dizia, a pessoa só se torna 
alguém na vida, se tiver um curso superior, e ele está certo! Sou mui-
to agradecida ao meu irmão, assim como aos demais irmãos.
 Rosilda me relata que muitos pensavam que o casamento 
nunca duraria… Profecia que não se concretizou, pois no último 24 
de setembro, eles comemoraram 38 anos de casamento! No que ela 
declara: Nery, melhor pai do mundo, melhor marido do mundo, é 
tudo pra mim! Sempre tivemos uma vivência maravilhosa e pacífica!
 Depois do casamento, Rosilda concluiu os estudos básicos 
e ingressou na faculdade. Em meio a esse percurso, com 16 anos, 
engravidou de Adriano, sete anos depois veio Hielly, e oito meses 
após nasceu Diony.
 O primeiro curso que passou, de Administração na UFPI, ini-
ciado em 1999, acabou não concluindo, tendo cursado apenas dois 
56 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
anos, mas revela que pôde aprender bastante: as lições aprendidas 
me servem até hoje. Fez curso técnico de enfermagem, no que traba-
lhou por um período de quase três anos no hospital Nossa Senhora 
de Fátima. Em seguida foi fazer Pedagogia, ao mesmo tempo em que 
chegou a trabalhar também no escritório do Doutor Antonio Tomás 
durante alguns anos. Nesse período da faculdade, surgiram também 
outros trabalhos, como descreve: eu consegui algumas portarias, 
através da ajuda do meu irmão, na época do Paulo Eudes, também 
com o professor Iweltiman, que foi meu professor na faculdade, e 
comecei a trabalhar na Educação, fazer pedagogia e comecei a ser 
diretora, no que Rosilda compartilha: A primeira vez que fui diretora 
numa escola, foi na Mário Reis. No primeiro dia, fiz uma reunião na 
sala de aula com todos, e não cheguei impondo, mas querendo que 
todos trabalhassem juntos e compartilhassem suas ideias.
 Rosilda passou também a ministrar aulas: comecei também a 
dar aula na Educação de Jovens e Adultos, foi aí que eu me apaixo-
nei de vez pela Educação, ao ensinar para aqueles senhores e senho-
ras, bem de idade mesmo, de 50, 60, 70… Daí quando eu me formei, 
recebi um convite para dar aula no ensino superior pela primeira 
vez, foi em São João do Piauí, através da professora Josimeire, que 
era dona de duas faculdades. Quando eu cheguei lá, estava abrindo 
curso de pedagogia, era tanta gente que foi preciso transferir a aula 
para um auditório! Eu saí de lá no dia seguinte sem voz! Para você 
ter uma ideia, antes de iniciar, eu fui ao banheiro e fiz uma oração pe-
dindo a Deus que me concedesse força! A disciplina foi Educação de 
Jovens e Adultos! E Graças a Deus, os alunos depois assinaram um 
papel, pedindo para que eu fosse novamente com outra disciplina, 
e a partir daí fui trabalhar também em outras faculdades e cidades. 
Cheguei a ministrar aulas todos os finais de semana, foi onde fui jun-
tando um dinheiro pra comprar meu carro… Foi um momento muito 
corrido e muitas vezes tive de passar dias longe de casa, mas também 
de muitas lembranças boas.
 Nas eleições de 2004 e de 2008, época dos dois últimos man-
datos do prefeito José Hamilton, Rosilda foi candidata a Vereadora, 
mas segundo ela: no primeiro, eu consegui apenas ser suplente de 
| Parnaíba, por quem também faz por Parnaíba |
 57
vereadora, no segundo, a porca comeu por completo! (risos)
 Embora a sua carreira política não tenha deslanchado, a fez 
ficar bastante conhecida em vários locais de Parnaíba. E unindo isso, 
aos trabalhos já desenvolvidos por ela na Educação como Gestora e 
professora, Rosilda recebeu no ano de 2009 uma missão deveras im-
portante, através de um amigo e professor, dono de faculdade: abrir 
turmas em Parnaíba e atuar como coordenadora de polo: abri duas 
turmas aqui, uma em Luís Correia, outra em Chaval. Tudo transcor-
ria bem, até que no ano de 2011, veio o falecimento dele, o que a 
deixou numa situação complicada, pois: as pessoas que se matricu-
laram na faculdade, se matriculavam comigo, confiando em mim, eu 
tive então que procurar outra faculdade que aceitasse a transferência 
destes alunos, ou seja, tive que “assumir” as turmas… Não foi fácil, 
mas consegui!
 Rosilda seguiu então, coordenando as turmas, porém o ano 
de 2013 traria a mais difícil das tragédias e adversidades que ocorre-
ram em sua vida: a perda do filho mais velho, Adriano, pelas mãos da 
violência. Fato que a mergulhou por um período em depressão, mas 
que com seu grande poder

Continue navegando