Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MECÂNICA DOS FLUIDOS AULA 5 Prof. Alysson Nunes Diógenes 2 CONVERSA INICIAL Olá, caro aluno, cara aluna. Espero que você esteja gostando do conteúdo da mecânica dos fluidos. Hoje, iniciamos a parte que eu considero mais divertida da disciplina. Já passamos pelos equacionamentos em que fizemos modelos na forma de médias e também modelos bastante detalhados. Agora, é hora de observar o movimento do fluido como uma energia. Essa forma de ver o fluido tem uma série de vantagens, e eu destaco uma: é bastante simples de aplicar. Assim sendo, vamos começar? CONTEXTUALIZANDO Imagine a seguinte pergunta: por que o avião voa? Alguém poderia dizer que é porque tem motores. Outro poderia dizer que é porque o piloto o opera. A resposta mais comum talvez fosse um “não sei”, mas observe essa imagem. Ela representa um aerofólio com um escoamento ao redor dele. Note que a velocidade é maior acima do aerofólio. Você também pode ver esse vídeo: www.shutterstock.com/video/clip-4301774-stock-footage-airplane-wing-is-tested-in- the-wind-tunnel.html Isso não explica porque o avião voa, não é? Mas e se eu dissesse que pela observação da velocidade isso é possível? Guarde essa imagem, pois vamos voltar a esse assunto dentro no Tema 5. TEMA 1 – EQUAÇÃO DE BERNOULLI Quando estávamos desenvolvendo o equacionamento para a conservação da energia na forma integral, chegamos a um conjunto de equações da seguinte forma. Partindo do Teorema de Transporte de Reynolds, fazendo B=E e b=E/m=e: 3 𝑑𝐸 𝑑𝑡 = 𝑑 𝑑𝑡 ∫ 𝑒𝜌𝑑∀ ∀ + ∫ 𝑒𝜌�⃗� ∙ 𝑑𝐴 𝐴 Utilizamos a primeira lei da termodinâmica e um trabalho de pressão e chegamos a: 𝑄 − �̇�𝑒𝑖𝑥𝑜 = 𝑑 𝑑𝑡 ∫ (𝑢 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧)𝜌𝑑∀ ∀ + ∫ ( 𝑃 𝜌 + 𝑢 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧)𝜌�⃗� ∙ 𝑑𝐴 𝐴 Após alguns cálculos, em regime permanente, sem atrito, sem transferência de calor e para um escoamento incompressível, ou seja, aquele cuja densidade é constante, pudemos escrever a equação de Bernoulli, que era da forma: �̇�1 ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 1 = �̇�2 ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 2 E para um escoamento onde as vazões são iguais nos dois referenciais: ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 1 = ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 2 A pergunta é: esse escoamento existe? Claro que sim! Essas considerações são válidas para muitos escoamentos em tubulações pouco rugosas, com baixa velocidade, e em especial para escoamentos abertos, como no caso de aviões. 4 Exemplo: o ar (densidade ρ=1,2kg/m3) flui continuamente à baixa velocidade através de um bocal horizontal convergente (por definição, um dispositivo para acelerar o fluxo), descarregando para a atmosfera. A área na entrada do bocal é de 0,1 m2. Na saída do bocal, a área é de 0,02 m2. Determine a pressão manométrica necessária na entrada do bocal para que a velocidade de saída seja 50 m/s. Um dos pontos interessantes da equação de Bernoulli é que, pela primeira vez, estamos trabalhando com relacionamentos diretos entre a pressão e a velocidade. Esse tipo de desenvolvimento permitirá a você, mais à frente, dimensionar bombas e ventiladores. Imagine que o bocal desse exemplo é o da figura abaixo. A equação a utilizar será a própria equação de Bernoulli. ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 1 = ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 2 Preste atenção. Qualquer aplicação da equação de Bernoulli tem boa parte de sua resolução como a escolha dos referenciais. E Bernoulli sempre vai ter dois referenciais. Para esse problema, vamos escolher os pontos 1 e 2 da figura, tendo o cuidado que eles fiquem na mesma altura. Faremos isso para reduzir o número de incógnitas, uma vez que a velocidade e a pressão são os parâmetros de interesse para esse problema. Assim, simplificando a equação: ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 1 = ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 2 𝑧1 = 𝑧2 Logo: ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 ) 1 = ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 ) 2 5 Como a pressão desejada é manométrica, consideramos que a pressão atmosférica já estará considerada na medida da pressão em 1. Assim, podemos tratar o termo de pressão no lado 2 meramente como Patm, o que leva a equação a: 𝑃1 𝜌 + 𝑉1 2 2 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝜌 + 𝑉2 2 2 Ou: 𝑃1 − 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝜌 = 𝑉2 2 2 − 𝑉1 2 2 A velocidade em 1 não foi dada, todavia estão disponíveis as áreas do bocal. Como está em regime permanente, há uma outra equação que relaciona as velocidades e as áreas para um sistema: a conservação da massa. Em regime permanente, para escoamento incompressível: 𝑄1 = 𝑄2 Ou: 𝑉1𝐴1 = 𝑉2𝐴2 Substituindo os valores: 𝑉1 ∙ 0,1 = 50 ∙ 0,02 𝑉1 = 10𝑚/𝑠 Agora, voltando à equação de Bernoulli: 𝑃1 − 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝜌 = 𝑉2 2 2 − 𝑉1 2 2 𝑃1 − 𝑃𝑎𝑡𝑚 1,2 = 502 2 − 102 2 𝑃1 − 𝑃𝑎𝑡𝑚 1,2 = 2500 − 100 2 𝑃1 − 𝑃𝑎𝑡𝑚 = 1,2 ∙ 1200 = 1440𝑃𝑎 = 1,44𝑘𝑃𝑎 (𝑚𝑎𝑛𝑜𝑚é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎) Note que a pressão em questão é uma medida manométrica e inclui a pressão atmosférica. Essa medida é comum para que se calcule a pressão em relação ao local que o instrumento está instalado. O bocal poderia estar a nível do mar ou sobre uma montanha, mas nossos cálculos seriam os mesmos. Caso 6 se desejasse a pressão absoluta, se deve somar o valor da pressão atmosférica local ao valor de 1,44kPa. Por exemplo, para a pressão no nível do mar Patm=101,5kPa. Assim: 𝑃1 = 1,44𝑘𝑃𝑎 + 101,4𝑘𝑃𝑎 = 102,84𝑘𝑃𝑎 (𝑎𝑏𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑎) TEMA 2 – TUBO DE PITOT Você já se perguntou como funcionam os velocímetros? Nos carros, o atrito dos pneus com o piso gira as rodas, essa rotação é medida e convertida em uma velocidade, por exemplo, 40km/h. E nos navios? Nos submarinos? E nos aviões? Como funciona os velocímetros nesses veículos? O instrumento utilizado para medir velocidade nesses veículos é chamado tubo de Pitot (desenvolvido pelo engenheiro francês Henri Pitot em 1732). Podemos ver uma imagem de um tubo de Pitot na foto abaixo, da asa de um avião. Ok, professor, mas como funciona o tubo de Pitot? Ele funciona com base nos chamados referenciais de pressão, que vamos definir agora. Há vários tipos de pressão. Vamos a eles. Tipos de pressão Pressão estática: é a pressão termodinâmica e a própria pressão da equação. Ela significa a pressão que a partícula de fluido “sente” e é a pressão de coluna de um fluido em movimento. Note que a pressão não 7 é direcional. Da mesma forma, a pressão atmosférica e a pressão da equação de Bernoulli utilizadas até o momento são formas de pressão estática. A forma de medir essa pressão é através de orifícios perpendiculares ao escoamento, como na figura (a) abaixo. Quando não se deseja perfurar a tubulação, pode-se utilizar uma sonda, como a figura (b). O importante é que os furos estejam perpendiculares ao escoamento, para que não sejam influenciados pelo mesmo. Pressão de estagnação: O segundo tipo de pressão é a pressão para levar a velocidade de um fluido a zero. Esse é um referencial muito comum na termodinâmica. A forma de medir essa pressão é através de uma sonda com um orifício direcionado contrário ao escoamento. No interior dessa sonda, a velocidade do fluido é nula, ou seja, o escoamento teve sua velocidade reduzida a zero. 8 É possível montar um equacionamento para essa pressão. Vamos definir um processo qualquer que vá levar a velocidade de um fluido que esteja escoando a zero. Para este dois pontos quaisquer a uma mesma altura, vamos chamar o primeiro estado meramente de P (seria longe da entrada da sonda, na figura acima) e o segundo estado, onde o fluido estará parado de P0 (poderia ser na entrada da sonda, na figura acima). 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧 = 𝑃0 𝜌 + 𝑉0 2 2 + 𝑔𝑧 Mas como o fluido está parado no lado direito da equação e os dois pontos foram colocados na mesmaaltura: 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 = 𝑃0 𝜌 Ou: 𝑃0 = 𝑃 + 1 2 𝜌𝑉2 Sabemos que P é a pressão estática. O outro termo da equação ( 1 2 𝜌𝑉2) é chamado pressão dinâmica e não possui um significado físico direto, mas é uma definição bastante útil. Note que dessas três pressões, a maior sempre é a pressão de estagnação e que a pressão estática não depende da velocidade do fluido. A definição de pressão dinâmica é usada para um sistema com manômetros e é a base para o desenvolvimento de um sistema conhecido como tubo de Pitot, comumente utilizado para a medição de velocidade. Resolvendo a equação anterior para a velocidade: 𝑉 = √ 2(𝑃0 − 𝑃) 𝜌 Note que há uma diferença de pressão. Na aula 1, nós definimos que, para um fluido parado, a diferença de pressão poderia ser expressa como: Δ𝑃 = 𝜌𝑔ℎ E de onde vem esse fluido parado? Do interior de um manômetro. Vamos ilustrar melhor na figura abaixo que representa a forma de medir velocidade usando um tubo de Pitot. 9 Note que, tanto na figura (a) quanto na (b), as duas sondas vão para instrumentos de medição, comumente manômetros diferenciais ou de coluna de fluido. Dentro de manômetros diferenciais, a velocidade é nula. Assim, pode-se considerar que: Δ𝑃 = 𝑃0 − 𝑃 = 𝜌𝑚𝑎𝑛𝑜𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑔ℎ Dessa forma, a equação que desenvolvemos para medir velocidade de um escoamento se torna: 𝑉 = √ 2𝜌𝑚𝑎𝑛𝑜𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜𝑔ℎ 𝜌𝑒𝑠𝑐𝑜𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 Onde a densidade 𝜌𝑒𝑠𝑐𝑜𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 é a densidade do fluido que está escoando e 𝜌𝑚𝑎𝑛𝑜𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜, a densidade do fluido manométrico. TEMA 3 – EFEITO VENTOURI Uma outra aplicação da equação de Bernoulli é o chamado efeito Venturi. O efeito Venturi é a redução da pressão do fluido, que resulta quando um fluido flui através de uma seção estreitada (ou restrição) de um tubo. O efeito Venturi foi estudado por Giovanni Battista Venturi (1746-1822), um físico italiano. O efeito Venturi possui grandes aplicações, como pulverizadores, pistolas de tinta e até mesmo o carburador. Além disso, pode-se citar que o efeito Venturi é a causa da doença chamada “morte súbita”, que acomete esportistas. Ela ocorre quando há um estreitamento de uma das válvulas do coração, mas vamos às equações. Para esse caso em específico, as equações se tornam mais fáceis de desenvolver com um exemplo. Considere que o efeito Venturi se passa quando um escoamento passa por uma redução de área. Observe a figura abaixo. 10 Vamos supor que ar (densidade ρ=1,2kg/m3) escoe por uma redução da área em 1 de 0,5m2 para a área em 2 de 0,05m2. Se a velocidade em 1 é 5m/s a uma pressão manométrica de 10kPa (dez mil Pascal), qual é a pressão em 2? Vamos considerar que os pontos 1 e 2 estarão na mesma altura. Assim, vamos montar a equação de Bernoulli. ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 1 = ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 2 Mas os pontos estão na mesma altura, assim: 𝑃1 𝜌 + 𝑉1 2 2 = 𝑃2 𝜌 + 𝑉2 2 2 A velocidade em 2 é desconhecida até o momento. Mais uma vez, vamos usar a conservação da massa em regime permanente para escoamento incompressível. 𝑄1 = 𝑄2 Ou: 𝑉1𝐴1 = 𝑉2𝐴2 Substituindo os valores: 5 ∙ 0,5 = 𝑉2 ∙ 0,05 𝑉2 = 50𝑚/𝑠 Agora voltando na equação de Bernoulli: 𝑃1 𝜌 + 𝑉1 2 2 = 𝑃2 𝜌 + 𝑉2 2 2 10.000 1,2 + 52 2 = 𝑃2 1,2 + 502 2 𝑃2 1,2 = 10.000 1,2 + 25 2 − 2.500 2 𝑃2 = 1,2 ∙ (8.333,33 + 12,5 − 1.250) 11 𝑃2 = 8.515𝑃𝑎 O efeito Venturi é justamente essa redução de pressão quando há uma constrição do escoamento. Vamos complementar esse exemplo da seguinte forma. A queda de pressão que ocorre na constrição pode ser usada para sugar um fluido, por exemplo, como uma pistola de tinta. Vamos calcular a mínima velocidade na saída para que isso ocorra? Vamos supor que a altura h (entre a superfície livre da água e o início da garganta) da figura abaixo seja 10cm, que o bocal saia para a atmosfera e que A3 seja igual a A1, ou seja, 0,5m2 e as demais dimensões sejam as mesmas anteriores. Novamente, vamos aplicar a equação de Bernoulli, mas, dessa vez, em relação a um novo ponto, o 3, que fica na saída do bocal (a pressão P3 será a mesma que a Patm, pois o ponto está na saída do bocal). Note que o ponto 3 será na mesma altura que o ponto 2, ou seja, não os colocaremos mais no centro da garganta, e sim, na parede da garganta, como nos pontos vermelhos. Isso será feito para que o limite da água que vai ser sugada esteja quase na garganta, mas a água ainda esteja parada. ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 2 = ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 3 Por conveniência, antes de cortarmos as alturas, vamos dividir a equação de Bernoulli pela gravidade em ambos os lados da equação. Assim: ( 𝑃 𝜌𝑔 + 𝑉2 2𝑔 + 𝑧) 2 = ( 𝑃 𝜌𝑔 + 𝑉2 2𝑔 + 𝑧) 3 Com o ponto 2 no centro da constrição e o ponto 3 na saída, agora podemos cortar a altura e substituir a pressão na saída em 3: 𝑃2 𝜌𝑔 + 𝑉2 2 2𝑔 + 0 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝜌𝑔 + 𝑉3 2 2𝑔 + 0 12 Mas, da conservação da massa, mais uma vez: 𝑄3 = 𝑄2 𝑉3𝐴3 = 𝑉2𝐴2 Ou: 𝑉2 = 𝐴3 𝐴2 𝑉3 Assim, substituindo esse resultado em V2 na equação de Bernoulli (note que V2 está ao quadrado): 𝑃2 𝜌𝑔 + ( 𝐴3 𝐴2 ) 2 𝑉3 2 2𝑔 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝜌𝑔 + 𝑉3 2 2𝑔 ( 𝐴3 𝐴2 ) 2 𝑉3 2 2𝑔 − 𝑉3 2 2𝑔 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 − 𝑃2 𝜌𝑔 𝑉3 2 [( 𝐴3 𝐴2 ) 2 − 1] = 2𝑔 𝑃𝑎𝑡𝑚 − 𝑃2 𝜌𝑔 Como foi falado antes, a água no tubo de sucção estará parada, na iminência de ser sugada. Assim, podemos usar a equação da estática dos fluidos, que poderíamos escrever: 𝑃𝑎𝑡𝑚 − 𝑃2 = 𝜌á𝑔𝑢𝑎𝑔ℎ Assim, substituindo na equação anterior: 𝑉3 2 [( 𝐴3 𝐴2 ) 2 − 1] = 2𝑔 𝜌á𝑔𝑢𝑎𝑔ℎ 𝜌𝑎𝑟𝑔 = 2𝜌á𝑔𝑢𝑎𝑔ℎ 𝜌𝑎𝑟 Acrescentei as equações acima e abaixo para ficar mais detalhado 𝑉3 2 = 2𝜌á𝑔𝑢𝑎𝑔ℎ 𝜌𝑎𝑟 [( 𝐴3 𝐴2 ) 2 − 1] 𝑉3 = √ 2𝑔𝜌á𝑔𝑢𝑎ℎ 𝜌𝑎𝑟 [( 𝐴3 𝐴2 ) 2 − 1] Essa é a velocidade mínima para que o escoamento provoque sucção no fluido desejado. Para as dimensões que já temos: 𝑉3 = √ 2 ∙ 9,81 ∙ 1000 ∙ 0,1 1,2 [( 0,5 0,05 ) 2 − 1] 𝑉3 = 4,06𝑚/𝑠 13 Substituindo na equação das velocidades, tem-se: 𝑉2 = 𝐴3 𝐴2 𝑉3 = 0,5 0,05 4,06 Logo V2=40,6m/s TEMA 4 – EXERCÍCIOS Mais uma vez vamos aplicar o conteúdo. Exemplo 1 – Um duto de 8” de diâmetro está anexado a um tanque como a figura. Qual é a velocidade e a vazão de saída do fluido? Mais uma vez vamos trabalhar com o sistema de unidades britânico. Solução Os pontos já vieram marcados na figura. Assim, apenas precisamos fazer as considerações a respeito deles. A pressão é atmosférica em ambos, uma vez que o ponto 1 está na superfície livre e o 2 na saída do tanque. A velocidade no ponto 1 pode ser considerada nula. Isso ocorre considerando o reservatório com um volume muito maior do que o que sai pela descarga. Assim, a linha de nível tem sua altura reduzida muito lentamente, ou seja, sua velocidade pode ser considerada nula. Lembramos, também, que a gravidade tem valor de 32,2ft/s2 e que a conversão de pé para polegada é 1pé=12”. Assim: ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 1 = ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 2 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝜌 + 0 + 32,2 ∙ 15 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝜌 + 𝑉2 2 2 + 0 14 𝑉2 = √32,2 ∙ 15 ∙ 2 = 𝑉2 = 31,08𝑓𝑡/𝑠 E, da equação da vazão: 𝑄 = 𝑉𝐴 𝑄 = 𝑉 𝜋𝐷2 4 Mas o diâmetro precisa ser convertido de polegada para pé. Vamos dividir por 12: 𝑄 = 31,08 ∙ 𝜋 ( 8 12 ) 2 4 = 10,85𝑓𝑡3/𝑠 Exemplo 2 – Um bocal está preso a uma mangueira como a da figura. O diâmetro interno da mangueira é 100mm e o jato d’água tem 50mm. Se a pressão na seção 1 é 500kPa, determine a velocidade de saída da água. Considere a densidade da água ρ=1.000kg/m3. Agora, um caso semelhante a uma mangueira de bombeiro. Inclusive o procedimento para cálculo da pressão necessária para mover o fluidoé semelhante ao que vamos fazer. Solução Dessa vez, vamos aplicar a conservação da massa antes de Bernoulli. Como não temos nenhuma velocidade, vamos meramente deixar uma em função da outra. Assim, da conservação da massa: 𝑄1 = 𝑄2 𝑉1𝐴1 = 𝑉2𝐴2 𝑉1 𝜋𝐷1 2 4 = 𝑉2 𝜋𝐷2 2 4 15 Note que o diâmetro deve ser utilizado em metros, não em mm. 𝑉1 ∙ 𝜋0,12 4 = 𝑉2 ∙ 𝜋0,052 4 Assim, o resultado para a velocidade é: 𝑉1 = 0,25𝑉2 Agora vamos montar a equação de Bernoulli. Vamos selecionar os dois pontos na mesma altura, nas seções 1 e 2: ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 1 = ( 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧) 2 Mas os pontos estão na mesma altura: 𝑃1 𝜌á𝑔𝑢𝑎 + 𝑉1 2 2 = 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝜌á𝑔𝑢𝑎 + 𝑉2 2 2 Vamos considerar que o valor de 500kPa é uma medida manométrica, então essa medida já considera a pressão atmosférica. Logo: 𝑃1 𝜌á𝑔𝑢𝑎 − 𝑃𝑎𝑡𝑚 𝜌á𝑔𝑢𝑎 = 500𝑘𝑃𝑎 𝜌á𝑔𝑢𝑎 Assim, substituindo os valores: 500.000 1.000 + (0,25𝑉2) 2 2 = 𝑉2 2 2 𝑉2 2 2 − 0,0625𝑉2 2 2 = 500 0,9375𝑉2 2 = 1.000 𝑉2 2 = 1066,667 𝑉2 = √1066,667 𝑉2 = 32,66𝑚/𝑠 E assim chegamos ao valor da velocidade para essa pressão. TEMA 5 – APLICAÇÃO DE BERNOULLI NA AVIAÇÃO Eu gostaria de caminhar para encerrar a aula de hoje com uma aplicação direta da equação de Bernoulli. Não vamos resolver a equação diretamente (deixaremos isso para a próxima aula), todavia vamos observar o efeito das velocidades e das pressões e como elas se comportam no avião. Esse material foi baseado num artigo sobre o ensino de física para a engenharia, e faço menção aos professores Nelson Studart da Universidade Federal de São Carlos 16 e Silvio Dahmen da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O link para o artigo completo é http://sbfisica.org.br/fne/Vol7/Num2/v13a07.pdf. Para os físicos, as forças da natureza são quatro: a forte, responsável pela coesão nuclear, a fraca, que produz a radioatividade, a eletromagnética, que está relacionada à maioria dos fenômenos com os quais convivemos no cotidiano e, finalmente, a gravitacional, que atua entre quaisquer corpos que possuem massa. No jargão aeronáutico também se costuma falar em “quatro forças”. A menção obviamente restringe-se ao mundo particular de quem lida com o voo e seu conhecimento é fundamental para que os pilotos possam voar apropriadamente. O vento fluindo em uma determinada direção em relação ao avião produz uma força sobre o aeroplano chamada de força aerodinâmica total. Outra grandeza intimamente ligada à força aerodinâmica e também muito importante na descrição do voo é o ângulo de ataque definido como o ângulo formado pela direção do vento (chamado usualmente de “vento relativo”) e a direção do avião. A força aerodinâmica total pode ser decomposta em duas componentes: a sustentação e o arrasto. Além desta, atuam sobre o avião o peso e a força de tração (ou propulsão). Podemos definir mais especificamente as quatro forças envolvidas na física do voo como: Sustentação (S) é a componente da força aerodinâmica perpendicular à direção do movimento do voo; Arrasto (R), essencialmente uma força de atrito, é a componente da força aerodinâmica paralela à direção de voo; Peso é a força da gravidade (W=mg), atuando sobre o avião e dirigida para o centro da Terra; Tração (T) é a força produzida pelo motor e é dirigida ao longo do eixo longitudinal do avião. Antes de discutir o movimento do avião, é instrutivo calcular as forças de sustentação e arrasto na simples experiência com uma pipa. Para nossos propósitos, é suficiente considerar a pipa como uma placa plana de área A. Na figura abaixo, apresentamos as forças atuando sobre a pipa suposta em repouso. Nesta situação, a tensão no fio exercida por quem empina a pipa deve ser igual à resultante das forças. 17 Considerando o sistema ortogonal de coordenadas orientado na direção da Terra, obtemos: ∑𝐹𝑥 = 0 → 𝑅 = 𝑇𝑐𝑜𝑠𝜃 ∑𝐹𝑦 = 0 → 𝑆 = 𝑇𝑠𝑒𝑛𝜃 + 𝑊 Se você medir com um dinamômetro (um tipo de balança) a força sobre o fio T e o ângulo de inclinação θ, você terá uma boa estimativa das forças de sustentação e de arrasto. É importante notar que o ângulo θ destas equações é o ângulo que o fio da pipa faz com a relação à horizontal e não deve ser confundido com o ângulo que a pipa faz com relação a esta mesma horizontal. Este último é o chamado ângulo de ataque e, embora não apareça explicitamente nas equações acima, ele entra implicitamente nas fórmulas que determinam a sustentação S e o arrasto R. Além disso quem já empinou sabe que a tensão no fio depende da velocidade do vento. Assim também as forças de sustentação e arrasto. Lembra-se da figura abaixo, que foi usada no começo da rota? O interessante desse tema não é somente as forças atuando no avião, mas a pergunta “por que existe sustentação?”. Eu já vi alguns artigos feitos por pessoas que questionam a terra ser plana ou oval em pleno século XXI, argumentando que o avião não poderia voar caso a Terra não fosse plana. Pois bem. Essas pessoas meramente não estão considerando de forma correta a equação de Bernoulli. Observe a figura abaixo, de minha autoria. A primeira 18 figura mostra os campos de velocidade e a segunda mostra os campos de pressão. Note que, na imagem da velocidade, acima do aerofólio há um aumento deste parâmetro. Por outro lado, na imagem da pressão, ocorre exatamente o contrário. A pressão cai acima do aerofólio. Como isso acontece? A área da face superior da asa é maior do que a área da face inferior. Se pressão é força sobre área, para uma área maior, a pressão é menor. E da equação de Bernoulli, quando a pressão é menor, a velocidade aumenta. Observe a equação mais uma vez. 𝑃 𝜌 + 𝑉2 2 + 𝑔𝑧 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 Assim sendo, essa redução de pressão é o que causa um efeito que conhecemos como “força de sustentação”. Esse é o efeito que faz a pipa voar, como falamos no início do tema. E o mesmo efeito que levanta a pipa, pode levantar um avião. 19 FINALIZANDO Caro aluno, cara aluna, acabamos aqui a penúltima aula. Foram explorados todos os conteúdos relativos ao escoamento incompressível, ou seja, aquele onde a densidade é constante. Trabalhamos a equação de Bernoulli e duas das suas principais aplicações: o tubo de Pitot e o efeito Venturi. Vimos também que o escoamento potencial é uma técnica que pode ser usada para resolver escoamentos abertos. Como um treinador que incentiva seus alunos, pela penúltima vez eu reforço: não acredite que o conteúdo é simples. O correto entendimento das equações só virá com a prática. Assim, você deve praticar e não esqueça de estudar os capítulos e fazer bastante exercícios. NA PRÁTICA Na aula de hoje resolvemos alguns exercícios com o objetivo de fixação e aplicação do conteúdo ministrado. No tema 1 – Equação de Bernoulli, aplicamos essa equação para um bocal convergente. No tema 4 – Exercícios, aplicamos todo o conteúdo ministrado, verificando a velocidade de saída para uma tubulação e para um bocal convergente de uma mangueira. REFERÊNCIAS Capítulo 6 FOX, R. W; McDonald, T. Introdução à mecânica dos fluidos. 8 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
Compartilhar