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Ações de Polícia Preventiva Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Me. Luciano Vieira Francisco Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal • Discutir questões práticas sobre a prisão em flagrante e a busca pessoal realizadas na atuação da polícia preventiva. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Introdução; • A Prisão em Flagrante; • A Realização da Busca Pessoal. UNIDADE Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal Introdução A atuação da polícia preventiva, por estar em maior contato com o cotidiano das pessoas, acaba por propiciar maior proximidade com infrações penais praticadas, o que aumenta as possibilidades de confrontos em que é necessário o uso de força e prisões em flagrante. Outro tema que gera muitas polêmicas nas ações de polícia preventiva é a busca pessoal. Dessa forma, mostra-se adequado para aquele que atua em ações de polícia pre- ventiva conhecer, de forma solidificada, as questões penais e processuais atreladas a esses temas. A Prisão em Flagrante Quando tratamos de prisão relacionada à prática de infrações penais, é necessária uma diferenciação importante, pois há duas espécies distintas: • A prisão pena (chamada também de prisão penal): caracteriza-se com a im- posição de uma sanção privativa de liberdade aplicada ao final de um processo ju- dicial do qual não é cabível mais qualquer recurso (decisão transitada em julgado); • A prisão cautelar (chamada também de processual ou provisória): ocorre du- rante o inquérito policial ou ao longo do processo judicial que ainda está em curso. Em nosso sistema a prisão cautelar possui três espécies distintas, podendo ser prisão: • Em flagrante; • Preventiva; • Temporária. Não representam qualquer forma de antecipação de eventual sanção que somente poderá ser aplicada ao final do processo, pois isso representaria uma afronta ao Prin- cípio da Presunção de Inocência. Constituição Federal Art. 5º. [...] LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; Na verdade, as prisões processuais são medidas excepcionais que somente po- dem ser decretadas e mantidas nas situações em que houver absoluta necessidade – aqui podemos utilizar como exemplo situações em que o acusado da prática da infração penal apresenta comportamento que coloca em risco a vida da vítima ou de testemunhas, além de situações em que atrapalha a coleta de provas. No estudo que nos interessa, a prisão em flagrante possui a seguinte previsão constitucional (grifo nosso): 8 9 Constituição Federal Art. 5º . [...] LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escri- ta e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; No Código de Processo Penal (CPP) a prisão em flagrante é disciplinada no Artigo 301 e seguintes dessa norma, sendo que dentre eles precisamos salientar o conteúdo do Artigo 302: Código de Processo Penal Art. 302 . Considera-se em flagrante delito quem: I – está cometendo a infração penal; II – acaba de cometê-la; III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qual- quer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. Nesse artigo encontramos as hipóteses em que a Lei determina a prisão em fla- grante da pessoa que é encontrada nas situações descritas nessa norma – somente em tais situações e em nenhuma outra essa forma de prisão poderá ocorrer. Para os integrantes das carreiras da segurança pública não se trata de uma facul- dade realizar a prisão em flagrante, mesmo em seus horários de folga, visto que há expressado dever nesse sentido, mencionado no Artigo 301 da Lei Processual Penal. Dentre as formas de prisão existentes em nossa legislação processual essa é a única que independe de mandado judicial, sendo que é realizada em razão da gravidade da conduta daquele que se imputa a prática de crime. Segue-se à captura em flagrante o seu registro por delegado de polícia, mesmo nos casos em que foi ele mesmo o autor da prisão. Esse registro, o auto de prisão em fla- grante delito, dará início a um inquérito policial regido pelo Código de Processo Penal. Ao final da lavratura do auto de prisão em flagrante delito deve ser entregue ao preso a nota de culpa, um importante documento que registra os elementos básicos que fundamentam a sua prisão e que, formalmente, reitera a sua ciência dos motivos desse ato. Com a apresentação dos elementos básicos sobre a prisão em flagrante, discutiremos algumas dúvidas que esse instituto apresenta em situações do cotidiano. A Questão das 24 Horas Muitas vezes é dito que não poderá ocorrer a prisão em flagrante se o suspeito “fugir” por 24 horas. Isso é verdade? 9 UNIDADE Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal Essa é uma das questões sempre mal explicadas em relação à prisão em flagrante, pois a questão temporal não deve ser tratada dessa forma. Na verdade, o que ocorre é que depois de várias horas do ocorrido essa forma de prisão cautelar não poderá ser caracterizada, pois, como pode ser observado nos incisos do Artigo 302 do CPP, a sua realização somente pode ocorrer após um curto lapso temporal do crime – particularmente, devemos observar nesses incisos o emprego das expressões “logo após”, “logo depois”, “está cometendo” e “acaba de cometê-la”. Há, contudo, duas situações em que se admite um tratamento diverso para essa questão, ou seja: • Na hipótese do Inciso III do Artigo 302 do CPP, pois a prisão pode se dar após várias horas (e mesmo após dias), mas desde que a perseguição que se iniciou logo após a prática do crime seja contínua; e • Nos crimes permanentes, tais como na extorsão mediante sequestro (Art. 159 do CP), a consumação se alonga no tempo, fazendo com que a prisão em fla- grante possa ocorrer enquanto estiver caracterizada – é o caso de um crime desse tipo em que a vítima fica em poder dos sequestradores por vários dias, de modo que se a prisão dos envolvidos ocorrer nessa situação, mesmo passados vários dias, poderá ser, normalmente, lavrada. Neste particular caso, devemos observar a disposição encontrada no Artigo 303 do CPP: Código de Processo Penal Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência. O que acaba por causar as maiores confusões neste caso é que os parágrafos 1º e 2º do Artigo 306 do CPP determinam a entrega da nota de culpa ao indiciado no prazo máximo de 24 horas após a realização da prisão. Dessa forma, o prazo de 24 horas é para a entrega desse documento – e não para que ocorra a prisão. Prisão em Flagrante de Autoridades Eleitas Uma autoridade eleita pelo voto popular pode ser presa em flagrante delito? A resposta dependerá de dois elementos: • Qual é essa autoridade (cargo que ocupa); e • Qual foi o crime praticado e se é inafiançável. Com esses elementos, analisaremos as diversas situações: • Presidente da República: não pode ser preso durante o exercício do mandato, qualquer que seja o crime praticado; Constituição Federal Art. 86. [...] § 3º. Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações co- muns, o presidente da República não estará sujeito a prisão. 10 11 • Senadores, deputados federais, deputados estaduais e deputados distri- tais: somente podem ser presos em flagrante pela prática de crimes inafian- çáveis, sendo que o respectivo auto de prisão deverá ser encaminhado à res- pectiva Casa (Senado Federal, Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa ou Câmara Legislativa), nas 24 horas seguintes, para que esta decida sobre a manutenção ou não da prisão – Artigo 53, Parágrafo 2º e Artigo 27, Parágrafo 1º, ambos da ConstituiçãoFederal; • Governadores, prefeitos e vereadores: em regra, não encontramos qualquer dispositivo impeditivo da prisão em flagrante. Um importante detalhe é que a relação de crimes inafiançáveis, tão importantes nessas e em outras situações, é atualmente diminuta, o que impossibilita a prisão em flagrante nas hipóteses em que ela, normalmente, poderia ocorrer. Código de Processo Penal Art. 323 . Não será concedida fiança: I – nos crimes de racismo; II – nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; III – nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; IV – (revogado); V – (revogado). Prisão em Flagrante de Magistrados e Membros do Ministério Público Os magistrados (juízes, desembargadores e ministros dos Tribunais Superiores) e os membros do Ministério Público somente podem ser presos em flagrante pela prática de crime inafiançável, sendo que, após a lavratura dos registros, devem ser apresentados após a prisão, no caso dos membros do: • Poder Judiciário: ao presidente do Tribunal a que estão vinculados – Artigo 33 da Lei Complementar n.º 35/79; • Ministério Público: ao procurador-geral de sua instituição – Artigo 40, Inciso III da Lei n.º 8.625/93. Prisão em Flagrante de Menores de 18 Anos de Idade Os menores de 18 anos de idade são penalmente inimputáveis, razão pela qual não se submetem ao sistema criminal, não havendo aplicação das regras do Código Penal e do Código de Processo Penal. Entretanto, na legislação que lhes é própria, ou seja, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/90), há previsão da apreensão em flagrante, contudo, 11 UNIDADE Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal isso somente poderá ocorrer nos atos infracionais praticados “[...] mediante violência ou grave ameaça a pessoa [...]” – Artigo 173 dessa lei, sendo que, após a lavratura, o adolescente deverá ser encaminhado para a Vara da Infância e Juventude. Outro ponto que merece ser ressaltado é a questão de transporte do adolescente em veículo policial, assunto este tratado no Artigo 178 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Estatuto da Criança e do Adolescente Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veí- culo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. Prisão em Flagrante de Candidatos a Cargos Eletivos Os candidatos aos diversos cargos eletivos não podem ser presos, a não ser em flagrante, nos quinze dias que antecedem às eleições – Artigo 236, Parágrafo 1º, do Código Eleitoral. Prisão em Flagrante de Eleitor Qualquer forma de prisão de eleitor é vedada no período de: • 5 dias antes da eleição; e • 48 horas após o seu encerramento. Essa regra somente é excetuada nos casos de prisão em flagrante e em virtude de sentença condenatória por crime inafiançável – Artigo 236 do Código Eleitoral. Prisão em Flagrante de Fiscais de Partido e Membros das Mesas Receptadoras No dia da eleição os fiscais de partido e membros das mesas receptadoras somente podem ser presos em flagrante, sendo vedada qualquer outra forma de prisão – Artigo 236 do Código Eleitoral. Código Eleitoral Art. 236. Nenhuma autoridade poderá, desde 5 (cinco) dias antes e até 48 (quarenta e oito) horas depois do encerramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor, salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto. § 1º. Os membros das mesas receptoras e os fiscais de partido, durante o exercício de suas funções, não poderão ser detidos ou presos, salvo o 12 13 caso de flagrante delito; da mesma garantia gozarão os candidatos desde 15 (quinze) dias antes da eleição. § 2º . Ocorrendo qualquer prisão o preso será imediatamente conduzido à presença do juiz competente que, se verificar a ilegalidade da detenção, a relaxará e promoverá a responsabilidade do coator. Prisão em Flagrante de Advogados A prisão em flagrante de advogados possui as seguintes particularidades: • Não havendo nexo entre o exercício da atividade profissional e os fatos que mo- tivaram a prisão em flagrante, não há qualquer restrição, devendo ser aplicadas as regras normais da legislação processual penal; • Já se a prisão em flagrante estiver ligada ao exercício profissional, somente poderá ocorrer em razão da prática de crime inafiançável, situação em que se torna obrigatória a presença de um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na repartição policial onde os atos estiverem sendo registrados. Estatuto da OAB – Lei n.º 8.906/94 Art. 7º . São direitos do advogado: [...] IV – ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respec- tivo, sob pena de nulidade e, nos demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB; [...] § 3º . O advogado somente poderá ser preso em flagrante, por motivo de exercício da profissão, em caso de crime inafiançável, observado o disposto no inciso IV deste artigo. Prisão em Flagrante nas Infrações Penais de Menor Potencial Ofensivo As infrações penais de menor potencial ofensivo são aquelas que se inserem na competência dos juizados especiais criminais, abrangendo: • Todas as contravenções penais; • Crimes cujas penas máximas previstas sejam de até 2 anos. Lei n.º 9.099/95 Art. 61 . Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. 13 UNIDADE Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal Em geral, com a ocorrência dessas infrações penais a apuração não se dá por meio de inquérito policial. Neste caso é realizado o registro de uma forma bem mais simplificada denominada “termo circunstanciado”. Nessas infrações penais o chamado “autor do fato” não será preso em flagrante após a lavratura do termo circunstanciado se: • For imediatamente encaminhado ao Juizado Especial Criminal – situação de difícil ocorrência em razão da falta de estrutura para que isso ocorra; • Firmar o compromisso de comparecer ao Juizado quando for futuramente intimado. Lei n.º 9.099/95 Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência la- vrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários. Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convi- vência com a vítima Outras Restrições para a Realização da Prisão em Flagrante Não há outras restrições à realização da prisão em flagrante, além das mencionadas; contudo, devem ser sempre observadas as restrições relativas à inviolabilidade do domi- cílio previstas no texto constitucional. Com essas observações, a prisão em flagrante pode ocorrer em qualquer lugar e em qualquer horário. Código de Processo Penal Art. 283. [...] § 2º. A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio. A prisão em Flagrante em Domicílio A questão da inviolabilidade do domicílio, em razão da grande relevância desse assunto, encontra expressa proteção em nosso sistema jurídico por meio da seguinte previsão no texto constitucional; Constituição Federal Art. 5º. [...] XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo,ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desas- tre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; 14 15 Como pode ser observado no dispositivo constitucional, a regra é que a entrada em qualquer casa somente poderá ocorrer se houver consentimento do morador; contudo, nele estão elencadas situações em que, mesmo que não haja esse consenti- mento, a entrada é permitida, sendo que uma delas é para a realização da prisão em flagrante delito – de dia ou de noite. [...] prisão em flagrante: mesmo contra a vontade do morador, pode-se invadir a residência, a qualquer hora, do dia ou da noite, para prender o agente que esteja em situação de flagrância, desde que a medida seja amparada por fundadas razões, passíveis de demonstração a pos- teriori, de que a infração estivesse ocorrendo. (GONÇALVES; REIS, 2017, p. 429) O ingresso em casa alheia nessas situações não se caracteriza como uma conduta desviada e ilegal, devendo, nesse particular, ser observado o disposto no Parágrafo 2º do Artigo 22 da Lei de Abuso de Autoridade (Lei n.º 13.869/2019). Lei de Abuso de Autoridade Art. 22 . Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. [...] § 2º . Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em ra- zão de situação de flagrante delito ou de desastre. Para a completa compreensão desse tema é importante destacar que o Código Penal estabelece o conceito de casa, o que interfere na aplicabilidade dos elementos que foram analisados. Código Penal Art. 150 . [...] § 4º . A expressão “casa” compreende: I – qualquer compartimento habitado; II – aposento ocupado de habitação coletiva; III – compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. § 5º . Não se compreendem na expressão “casa”: I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; II – taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. Deve ser ressaltado que o conceito de “casa” apresentado por nossa legislação é bem amplo, englobando, inclusive, o local onde uma atividade profissional é realizada. 15 UNIDADE Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal Resistência para a Realização da Prisão em Flagrante O primeiro ponto a ser destacado sobre esse assunto é que o agente da segurança pública tem o dever de prender quem seja encontrado em situação de flagrância, não sendo aceitável que o infrator ou qualquer outra pessoa realize atos que, por meio de violência ou ameaça, tentem impedir a realização desse ato revestido de legalidade. Esse tipo de oposição contra o agente público, bem como a outra pessoa que o es- teja auxiliando, caracteriza-se como o crime previsto no Artigo 329 do Código Penal. Código Penal Resistência Art. 329. Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou amea- ça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja pres- tando auxílio: Pena – detenção, de dois meses a dois anos. § 1º. Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena – reclusão, de um a três anos. § 2º. As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspon- dentes à violência. É importante destacar que a caracterização desse crime exige, dentre outros ele- mentos, que a conduta do agente público seja legal, razão pela qual não pode ser acusado de sua prática aquele que resiste a um ato ilegal que, de forma ilegítima, atinge os seus direitos. Os sujeitos passivos desse crime (ofendidos) são: • A Administração Pública que, sem qualquer dúvida, é lesada com essa conduta; • O funcionário público que realiza o ato legal; • Eventual terceiro (não funcionário) que esteja auxiliando o funcionário público para que este, mesmo diante da violência ou ameaça, consiga ou tente dar cum- primento ao ato legal. É importante salientar que além desse crime, o agente também responderá por eventuais lesões corporais que venha a praticar contra o funcionário público (§ 2º). Já se os atos de ilegal violência acarretarem a morte do agente público ficará carac- terizada a prática de homicídio qualificado. Código Penal Art. 121. [...] Homicídio qualificado [...] § 2º. Se o homicídio é cometido: [...] 16 17 VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Cons- tituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: Pena – reclusão, de doze a trinta anos. Além disso, essa forma de homicídio qualificado também se caracteriza como crime hediondo (Artigo 1º, Inciso I, da Lei n.º 8.072/90). Essa questão, em razão de sua relevância, é tratada pela legislação processual penal. Código de Processo Penal Art. 292 . Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à pri- são em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o execu- tor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. Ressaltaremos, em relação a esse dispositivo, os seguintes elementos: • É autorizado pela Lei o uso de força – “meios necessários” – para que o funcio- nário público (e eventual particular que o esteja auxiliando) se defenda ou vença a resistência, situação em que teremos a caracterização da legítima defesa e do estrito cumprimento do dever legal, conforme o caso; • A ameaça deve ser entendida como a promessa de causar a outrem um mal injusto e grave; • Já a violência abrange situações em que o contato físico ou o uso de meios vul- nerantes se caracterizem como vias de fato, lesão corporal ou homicídio (estes dois últimos na forma consumada ou tentada); • O uso de força por parte do agente público deve ser objeto de registro pela polícia judiciária, em documento denominado auto de resistência, que deverá integrar o inquérito policial. Entre as medidas voltadas para vencer a resistência está incluída a utilização de algemas, sendo que sobre isso precisamos destacar que a regulamentação desse uso está, basicamente, no Decreto n.º 8.858/2016, sendo que devemos evidenciar o seguinte Artigo: Decreto n.º 8.858/2016 Art. 2º . É permitido o emprego de algemas apenas em casos de resistên- cia e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, causado pelo preso ou por terceiros, justificada a sua excepcio- nalidade por escrito. Há vedação ao uso em mulheres grávidas durante o parto e seus preparati- vos, bem como no período de puerpério imediato (período logo após o término do parto). 17 UNIDADE Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal Código de Processo Legal Art. 292. [...] Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grávidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em mulheres durante o período de puerpério imediato. Não menos importante é a Súmula Vinculante n.º 11, do Supremo Tribunal Federal (STF): Supremo Tribunal Federal Súmula Vinculante n.º 11 Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Essa súmula indica que a utilizaçãode algemas é medida excepcional, sendo jus- tificável nos casos de: • Resistência; • Fundado receio de fuga; • Perigo para a integridade física do preso ou do agente público, provocado por ação do próprio preso ou de terceiros. A Realização da Busca Pessoal A busca pessoal é uma das ações de polícia preventiva que, apesar de ser reali- zada com bastante frequência e com excelentes resultados, de tempos em tempos acaba por gerar diversas polêmicas. Em primeiro lugar, a sua utilização está inserida no exercício do poder de polícia, sendo que, neste particular, devemos lembrar que o exercício regular desse poder somente pode ocorrer: • Por parte de órgão competente; • Nos limites da Lei aplicável; • Com observância do processo legal (se previsto), ou sem abuso ou desvio de poder nos demais casos. 18 19 Com isso temos que a busca pessoal somente pode ser realizada por agentes da segurança pública, buscando as finalidades estabelecidas em Lei – especialmente o Artigo 244 do CPP (como veremos) – e sem abuso ou desvio de poder. Uma situação de claro desvio ocorre, por exemplo, se o agente da segurança pública realizar, de forma frequente, busca pessoal em um vizinho motivado, simplesmente, em desentendimentos pretéritos e que não guardam qualquer relação com a prática de crimes. Na Lei processual penal encontramos o trato para essa questão nos seguintes artigos: Código de Processo Penal Art. 244 . A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. [...] Art. 249 . A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência. A dinâmica do trabalho das ações preventivas, apesar de necessitar dessa ferra- menta operacional, não permite detalhada previsão na Lei de todas as possibilidades que autorizariam o seu uso; contudo, podemos estabelecer as seguintes situações contidas nessas normas: • Durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão domiciliar; • Quando da realização de prisões (em flagrante, preventiva, temporária ou em virtude de condenação); • Nas hipóteses de fundada suspeita de que alguém esteja trazendo consigo arma proibida ou objeto e papéis que constituam corpo de delito (prova da prática de uma infração penal). Dessas situações a última, por ser a mais genérica, acaba por receber as maiores críticas, particularmente em razão da utilização da expressão “fundada suspeita”; contudo, a amplitude desse termo deve ser balanceada com a aplicação dos requisi- tos do poder de polícia – que destacamos. De forma diversa ocorre a previsão da busca pessoal no Estatuto do Torcedor, visto que neste é apontado que entre os requisitos para ingresso e permanência do torcedor no local em que ocorrem as competições esportivas está a de consentir na realização da busca pessoal. Estatuto do Torcedor – Lei n.º 10.671/2003 Art. 13-A . São condições de acesso e permanência do torcedor no recin- to esportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em Lei: [...] III – consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança; 19 UNIDADE Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal Em Síntese A prisão em flagrante e a busca pessoal são ferramentas muito presentes nas ações de polícia preventiva e que merecem especial atenção dos agentes públicos que atuam na segurança pública, pois tratam de situações em que há grande risco – visto que podem desencadear reações que, em muitos casos, podem ser realizadas com grande violência. Dessa forma, conhecer bem as normas que regem essas ações, aliado à técnica na sua realização é essencial para o trabalho de preservação da ordem pública. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Decreto-Lei Nº 3.689, de 3 de Outubro de 1941 https://bit.ly/33b3LKH Lei Nº 4.737, de 15 de Julho de 1965 https://bit.ly/3cN3TTZ Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940 https://bit.ly/3cFXv0C Decreto Nº 8.858, de 26 de Setembro de 2016 https://bit.ly/3ikkCPS Lei Nº 10.671, de 15 de Maio de 2003 https://bit.ly/2Sb2Bsl 21 UNIDADE Polícia Preventiva, a Prisão em Flagrante e a Busca Pessoal Referências GONÇALVES, V. E. R.; REIS, A. C. A. Direito Processual Penal esquematizado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. MARCÃO, R. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. NUCCI, G. de S. Curso de Direito Processual Penal. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. PACELLI, E. Curso de processo penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2018. 22
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