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1 Disciplina: Inteligência emocional Autora: M.e Paula Maria Ferreira de Faria Revisão de Conteúdos: M.e Monika Fritz Designer Instrucional: Vianeis Rodrigues Pereira Revisão Ortográfica: Esp. Alexandre Kramer Morgentern Ano: 2020 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar cobrança de direitos autorais. 2 Paula Maria Ferreira de Faria Inteligência emocional 1ª Edição 2020 Curitiba, PR Faculdade UNINA 3 Faculdade UNINA Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Monika Fritz Designer Instrucional Vianeis Rodrigues Pereira Revisão Ortográfica Alexandre Kramer Morgentern Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA FARIA, Paula Maria Ferreira de. Inteligência emocional / Paula Maria Ferreira de Faria. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2020. 59 p. ISBN: 978-65-86092-00-4 1. Assertividade. 2. Relacionamento interpessoal. 3. Resiliência. Material didático da disciplina de Inteligência emocional – Faculdade UNINA, 2020. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade UNINA 5 Sumário Prefácio ........................................................................................................... 07 Aula 1 – Conceito e desdobramentos da inteligência emocional..................... 08 Apresentação da aula 1................................................................................... 08 1.1 O que é emoção?............................................................................ 08 1.2 O que é inteligência?...................................................................... 12 1.3 O que é inteligência emocional?.................................................... 13 1.4 Os cinco domínios da inteligência emocional................................. 16 Conclusão da aula 1........................................................................................ 18 Aula 2 –Inteligência emocional e relacionamento interpessoal....................... 19 Apresentação da aula 2................................................................................... 19 2.1 Inteligência emocional: retomando o conceito................................ 19 2.2 Inteligência emocional e competência emocional........................... 23 2.3 Relacionamento interpessoal.......................................................... 25 2.4 Assertividade................................................................................... 27 2.5 Resiliência....................................................................................... 30 Conclusão da aula 2........................................................................................ 31 Aula 3 – Inteligência Emocional, estilos pessoais e autoconhecimento.......... 32 Apresentação da aula 3................................................................................... 32 3.1 Estilos pessoais de ação.................................................................. 32 3.2 Habilidades pessoais da inteligência emocional............................ 35 3.3 Autoconhecimento.......................................................................... 36 3.4 Conceitos de ressonância e dissonância........................................ 37 3.5 Liderança e inteligência emocional................................................. 40 Conclusão da aula 3........................................................................................ 43 Aula 4 – Negociação de conflitos e processo de mudança............................. 43 Apresentação da aula 4................................................................................... 43 4.1 Negociação e resolução de conflitos.............................................. 43 6 4.2 Empatia........................................................................................... 46 4.3 Feedback........................................................................................ 48 4.4 Lidando com a diversidade............................................................. 49 4.5 Processo de mudança.................................................................... 50 4.6 Considerações finais....................................................................... 53 Conclusão da aula 4........................................................................................ 54 Conclusão da disciplina................................................................................... 55 Índice Remissivo.............................................................................................. 56 Referências...................................................................................................... 58 7 Prefácio É gratificante podermos trabalhar juntos esta disciplina de Inteligência emocional que abrange assuntos sobre a atualidade da prática organizacional, os entendimentos acerca do termo emoção, as distinções entre os termos “emoção” e “sentimento”, a íntima relação entre a emoção, a cognição (raciocínio) e os domínios da inteligência emocional. Além disso, será estudado os princípios da inteligência emocional e como eles podem ser aplicados no cotidiano da prática organizacional, colaborando para o desenvolvimento das relações interpessoais, sendo possível perceber que a inteligência emocional envolve muito mais do que “dominar as emoções”. Assim como competências emocionais podem proporcionar importantes benefícios ao sujeito. Diante disso, você estudará as características singulares da inteligência emocional, enfatizando à questão do autoconhecimento na gestão das emoções e importantes habilidades pessoais e profissionais, como as questões relacionadas à motivação.Serão ainda abordadas algumas questões de cunho prático no contexto das organizações, nas quais os conhecimentos sobre inteligência emocional são essenciais, assim como estratégias de negociação de conflitos, resolução de problemas, bem como temas como o estresse, a intolerância na atividade profissional, a empatia, os processos de mudança e o desenvolvimento gerencial. Bons estudos! 8 Aula 1 – Conceito e desdobramentos da inteligência emocional Apresentação da aula 1 Nesta aula, você conhecerá um pouco mais sobre esse tema tão importante na atualidade da prática organizacional, compreendendo sua origem e fundamentação teórica, segundo diferentes abordagens. 1.1 O que é emoção? Há diferentes compreensões acerca do termo emoção. De acordo com a neuropsicologia, as emoções podem ser definidas como reações neurais à determinadas situações e eventos, que desencadeiam diversas reações corporais (algumas podem ser percebidas por outras pessoas; outras compõem percepções subjetivas, que somente são acessadas pelo próprio indivíduo). Vocabula rio Emoção: reação moral, psíquica ou física, geralmente causada por uma confusão de sentimentos que, diante de algum fato, situação, notícia etc., faz com que o corpo se comporte tendo em conta essa reação, expressando alterações respiratórias, circulatórias e comoção. Fonte: https://www.dicio.com.br/emocao/ Há, inclusive, distinções entre os termos “emoção” e “sentimento”. Embora o neuropsicólogo António Damásio afirma que os sentimentos se referem à vivência das emoções, o psicólogo Daniel Goleman tende a aproximar ambos os conceitos, não realizando uma distinção entre eles. Na obra inteligência emocional, o autor declara: “entendo que emoção se refere a um sentimento e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma gama de tendências para agir” (GOLEMAN, 2012, p. 303). Os psicólogos norte-americanos Salovey e Mater, por sua vez, defendem que as emoções são “respostas organizadas, cruzando as fronteiras de muitos subsistemas psicológicos, incluindo os aspectos fisiológicos, cognitivos, 9 motivacionais e sistemas experimentais”; para os autores, a reposta gerada pelas emoções cumpre uma função adaptativa, “pode potencialmente levar a uma transformação de interesses pessoais e sociais interação em uma experiência enriquecedora” (SALOVEY; MAYER, 1989, 1990, p. 186). Saiba Mais A ideia de que as emoções são fundamentais, instintivas e estão expressas em nossos rostos está profundamente arraigada na cultura ocidental. [...] Nos anos 60 e 70, a pesquisa científica também começou a apoiar a ideia de que algumas emoções básicas poderiam ser universalmente compreendidas por meio de expressões faciais. Em diferentes países do mundo, o pesquisador Paul Ekman pediu aos participantes que combinassem fotos de expressões faciais com emoções ou cenários emocionais. A conclusão foi de que algumas expressões e seus sentimentos correspondentes eram reconhecidas por pessoas de todas as culturas. (Essas "emoções básicas" foram felicidade, surpresa, repulsa, medo, tristeza e raiva). Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-44285496 As principais emoções apontadas pela maioria dos autores são a tristeza, a ira, o medo, o prazer, o amor, a surpresa, o nojo e a vergonha. Alguns teóricos defendem a existência de grupos de emoções, relacionadas entre si, constituindo “famílias”, por exemplo, a emoção de vergonha poderia incluir culpa, remorso, arrependimento e contrição, (o que seria isso) dentre outras. De acordo com os princípios neuropsicológicos, compreende-se assim, a importante função emocional de alertar e assegurar a sobrevivência do organismo, “protegendo-o” por meio de reações imediatas e instintivas que visam a sua preservação. Assim, por exemplo, em uma situação na qual é desencadeada a emoção de raiva, o aumento do fluxo sanguíneo nas extremidades do corpo facilita o movimento de luta, enquanto a aceleração dos batimentos cardíacos e a liberação de hormônios preparam o organismo para o combate corporal. Tudo isso acontece em instantes, sem nos dar conta de todo o processo: apenas sentimos raiva e “automaticamente” nosso corpo entra em preparação para uma possível situação de conflito. Como declara Damásio 10 (2012): “aí está a beleza no modo como a emoção tem funcionado no decorrer da evolução: ela abre a possibilidade de levar seres vivos a agir de maneira inteligente sem precisar pensar com inteligência”. É importante ressaltar que, apesar da herança biológica advinda da evolução humana, as emoções também são moldadas pelos componentes culturais e históricos que permeiam a situação de vida de cada um de nós, a partir das vivências pessoais em determinada sociedade. Desse modo, por exemplo, muito embora as emoções de tristeza e luto desencadeadas pelo falecimento de um ente próximo sejam universais, a forma como essas emoções são expressas e vivenciadas em cada cultura são diferentes. Há, ainda, contextos específicos que devem ser considerados quanto à expressão das emoções. Imagine um exemplo simples: a emoção de raiva. Embora no contexto familiar possa ser expressada de determinados modos (por exemplo, você pode expressar verbalmente sua raiva ao ver na televisão seu time perder um pênalti, sozinho em sua casa), em outros contextos ela deve ser modulada para outras formas de expressão por exemplo, ao sentir raiva por ser solicitado que você fique após o expediente em determinada data, não é esperado que você grite ou gesticule com seu chefe. Percebe-se, portanto, a íntima relação entre a emoção e a cognição (raciocínio). Tradicionalmente, a cultura ocidental tem costume de separar esses aspectos como polos opostos, enfatizando a dualidade corpo-alma e razão- emoção. Desde Descartes, a razão e a emoção são consideradas não somente separadas como também antagônicas, caberia ao sujeito ser “racional”, “frio”, dominando seus aspectos emocionais e submetendo-os ao jugo da razão. Atualmente, no entanto, inúmeras pesquisas (sobretudo na área neuropsicológica) demonstram que essa compreensão é inconsistente e errônea. O cérebro inteligente é aquele que se vale da emoção como estratégia para a tomada de decisões. Nesse sentido, a emoção não “atrapalha” a razão; pelo contrário, ela ajuda o sujeito a fazer a melhor escolha nos momentos críticos, tomando por base as suas experiências e vivências anteriores. 11 Saiba Mais René Descartes foi um importante filósofo e matemático, além de ter deixado significativas contribuições para a Física. Seu método filosófico introduziu um pensamento mais exato no campo da Filosofia, o que o fez ser considerado o primeiro filósofo da vertente racionalista e colocou-o em posição de destaque para a constituição do pensamento moderno. [...] Suas contribuições deram origem à tradição racionalista que se baseia no entendimento de que o conhecimento racional é inato ao ser humano. Assim como Platão, o filósofo francês concebeu o ser humano como um ser composto por uma dualidade psicofísica, isto é, por uma mente ou alma (psique) e por um corpo. [...] Esses elementos são designados por Descartes como res cogitans (coisa pensante) e res extensa (coisa extensa). Nessa concepção, a alma ou mente (coisa pensante) é o atributo maior do ser humano e o seu corpo (coisa extensa) é a extensão da alma. [...]. Fonte:https://brasilescola.uol.com.br/biografia/rene- descartes. htm As emoções, portanto, são essenciais para a racionalidade. Algumas habilidades, como a tomada de decisão e o julgamento crítico, são especialmente afetadas pelos aspectos emocionais. Ambas as funções, racional e emocional, operam em conjunto e são interdependentes. Isso significa que, para obter êxito em suas atividades diárias (desdeas mais básicas atividades de manutenção da vida até as decisões mais refinadas no contexto de trabalho), cada um de nós precisa desenvolver não somente habilidades cognitivas, mas também emocionais! Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Compreenda melhor sobre a base neuropsicológica das emoções lendo a obra O Erro de Descartes. Neste livro surpreendente e polêmico, António Damásio, que dirige um dos principais centros de estudos neurológicos dos Estados Unidos, mostra como, na verdade, a ausência de emoção e sentimento pode destruir a racionalidade. Utilizando-se das mais recentes descobertas da https://brasilescola.uol.com.br/fisica/ https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/o-que-e-filosofia.htm https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/platao.htm 12 neurobiologia, Damásio desafia os dualismos tradicionais do pensamento ocidental, mente e corpo, razão e sentimento, explicações biológicas e explicações culturais, para oferecer uma visão científica e integrada do ser humano e sugerir hipóteses inovadoras sobre o funcionamento do cérebro humano. Fonte: https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php? codigo=10614 É preciso superar a antiga visão que estabelecia a dicotomia entre afeto, cognição e buscar cada vez mais o desenvolvimento de habilidades que permitam não só o desenvolvimento de cada um desses aspectos, mas sobretudo o equilíbrio entre eles. 1.2 O que é inteligência? Assim como o conceito de emoção, a inteligência tem sido definida de diversas formas, por inúmeros autores. De acordo com a linha racionalista de pensamento, foi disseminada a concepção de uma inteligência única e geral, que seria inata. Nessa compreensão, não era possível desenvolver a inteligência: o indivíduo era ou não “inteligente”. O desenvolvimento de testes psicométricos com vistas a quantificar a inteligência, estipulando um valor numérico, o QI, quociente de inteligência, compreendido sem qualquer relação com outros aspectos da vida e história individual, contribuiu para a popularização dessa visão. Vocabula rio A palavra inteligência tem sua origem na junção de duas palavras latinas: inter (entre) e eleger (escolher). Em seu sentido mais amplo, significa a capacidade cerebral pela qual conseguimos penetrar na compreensão das coisas escolhendo o melhor caminho (ANTUNES, 2015, p. 11). Uma das definições mais utilizadas é a do psicólogo norte-americano David Wechsler (1958, apud SALOVEY e MAYER, 1989, 1990), segundo a qual 13 "a inteligência é a capacidade agregada ou global do indivíduo para agir intencionalmente, pensar racionalmente e lidar efetivamente com seu ambiente" (p. 186). Esse mesmo sentido, que aponta a contribuição para a tomada de decisão e a resolução de situações múltiplas, é enfatizado na definição de Antunes (2015, p. 12): “a inteligência é, pois, um fluxo cerebral e nos leva a escolher a melhor opção para solucionar uma dificuldade e que se completa como uma faculdade para compreender, entre opções, qual a melhor”. Pode-se definir a inteligência como um amplo conjunto de habilidades que permitem ao indivíduo adaptar-se e lidar com as situações cotidianas. É fundamental destacar, no entanto, que a inteligência não é fixa ou imutável, mas é constantemente desenvolvida a partir das interações que o sujeito estabelece com o seu meio. Nesse sentido, a cultura é um elemento essencial para o desenvolvimento da inteligência, pois é a partir das relações que se estabelece em sociedade que o sujeito troca, compartilha, aprende e se desenvolve em todos os aspectos, o que inclui também a inteligência. Assim, a inteligência não pode ser compreendida como um elemento à parte do contexto histórico e cultural. Como explica Antunes (2015, p. 12), “o indivíduo, portanto, não seria inteligente sem sua língua, sua herança cultural, sua ideologia, sua crença, sua escrita, seus métodos intelectuais e outros meios do ambiente”. 1.3 O que é inteligência emocional? Segundo o psicólogo Daniel Goleman (1999), a inteligência emocional “refere-se à capacidade de identificar nossos próprios sentimentos e o dos outros, de motivar a nós mesmos, de gerenciar bem as emoções dentro de nós e em nossos relacionamentos” (p. 337). Apesar da definição de Goleman (1999) ter se popularizado em todo o mundo, com a explosão internacional de sua obra inteligência emocional, o termo inteligência emocional é de autoria de Peter Salovey e John D. Mayer, psicólogos 14 norte-americanos. No ano de 1990, os pesquisadores publicaram um artigo intitulado inteligência emocional, no qual relatam: Definimos inteligência emocional como o subconjunto de inteligência social que envolve a capacidade de monitorar os sentimentos e emoções de alguém e de outras pessoas, discriminar entre elas e usar essas informações para orientar seus pensamentos e ações. (SALOVEY; MAYER, 1989, 1990, p. 189). Como mostra a imagem a seguir, a inteligência emocional é composta por três grandes eixos: avaliação e expressão da emoção, regulação da emoção e utilização da emoção. Conceitualização da inteligência emocional de Salovey e Mayer Fonte: (SALOVEY e MAYER, 1989-1990, p. 190). A avaliação e expressão da emoção envolve o reconhecimento e a expressão das próprias emoções (em si) e nos demais (no outro). Essas habilidades requerem o autoconhecimento e contribuem para um funcionamento social adequado, permitindo ainda que os sujeitos tenham suas necessidades emocionais mais prontamente atendidas. 15 No artigo intitulado inteligência emocional, Salovey e Mayer apresentam um esquema representativo da inteligência emocional e suas estruturas, como a figura a seguir. As emoções em si mesmo podem ser avaliadas a partir de aspectos verbais, principalmente a habilidade de falar claramente sobre elas e de elementos não-verbais, que envolvem o gestual, expressões faciais e a postura corporal As emoções no outro, por sua vez, podem ser reconhecidas por meio da percepção não-verbal, que envolve a identificação de expressões faciais e o reconhecimento de gestos e da empatia, compreendida como a capacidade de compreender os sentimentos de outras pessoas e de reexperimentá-las. A regulação da emoção envolve a capacidade de modular as emoções. Dirigida para si, pode contribuir para a melhora do humor e para a motivação; voltada ao outro, auxilia no estabelecimento de relações afetivas e pode provocar reações positivas, criando uma impressão favorável (por exemplo, um comunicador ao realizar uma palestra pode comover a plateia). Levada a extremos, no entanto, pode conduzir à manipulação e mesmo a fins antissociais. A utilização da emoção se refere ao uso das emoções nas situações cotidianas de forma adaptativa, ou seja, de modo saudável, contribuindo para o desenvolvimento de suas atividades de forma criativa e flexível, fazendo com que atinjam seus objetivos de modo mais efetivo e respeitando as vivências internas de si e dos outros. Envolve o estabelecimento de um planejamento flexível às mudanças de humor frente às situações e oportunidades, o pensamento criativo como ferramenta para adequação às demandas circunstanciais, a atenção redirecionada do humor para novos problemas, quando emoções poderosas ocorrem, reorientando a atenção para os estímulos mais importantes em seu ambiente e as emoções motivadoras, que indica o uso das habilidades afetivas como meio de motivação frente a tarefas desafiadoras, levando-as a persistir diante de obstáculos e experiências aversivas. 16 Importante Segundo Salovey e Mayer (1989, 1990) as pessoas que desenvolveram habilidades relacionadas à inteligência emocional compreendem e expressam suas próprias emoções, reconhecem as emoções dos outros, regulam o afetoe usam humores e emoções para motivar comportamentos adaptativos. São habilidades essenciais para o estabelecimento de bons relacionamentos em todos os contextos de vida, especialmente nas relações de trabalho, nas quais as habilidades interpessoais têm sido cada vez mais requisitadas. 1.4 Os cinco domínios da inteligência emocional Segundo Daniel Goleman, autor renomado da temática, a inteligência emocional é uma habilidade fundamental e seu quociente, o QE revela a apropriação da inteligência pelo sujeito, o que pode ser traduzido em capacidades profissionais. Para Goleman, as competências emocionais podem ser aprendidas, mas não necessariamente resultam da ou refletem o desenvolvimento da inteligência emocional como um todo. O autor aponta a existência de cinco domínios da inteligência emocional: Conhecer as próprias emoções; Lidar com as emoções; Motivar-se; Reconhecer emoções nos outros; Lidar com relacionamentos. Conforme mostra a figura a seguir. 17 Os cinco domínios da inteligência emocional Fonte: elaborado pelo autor (2019). Em uma obra posterior, Goleman (1999) renomeia os cinco domínios, como autopercepção, autorregulamentação, motivação, empatia e habilidades sociais. A descrição de cada uma das competências emocionais e sociais básicas, no entanto, mantém seu sentido original. Cada um dos domínios pode ser compreendido da seguinte forma: Conhecer as próprias emoções: esse domínio refere-se à autoconsciência, ou seja, à habilidade de identificar as emoções no momento em que elas ocorrem. O reconhecimento das emoções permite que o indivíduo, a partir dessa consciência, possa tomar decisões acertadas, mesmo nas situações e momentos mais críticos, evitando intempestividades e arrependimentos futuros; Lidar com emoções: reporta ao autocontrole e à habilidade de controlar a expressão e a repercussão das próprias emoções. Nesse sentido, engloba a capacidade de manter-se centrado e calmo, evitando ainda as consequências resultantes do fracasso no controle das emoções desagradáveis; Motivar-se: alinha-se à automotivação, no sentido de utilizar as emoções como meios a serviço de determinados objetivos, 18 maximizando os resultados obtidos. Nesse sentido, permite traçar estratégias e rever o percurso, colaborando para a realização de mudanças e para o alcance das próprias metas; Reconhecer emoções nos outros: trata-se da empatia, ou seja, da habilidade de colocar-se na posição de um terceiro e reconhecer as necessidades dos outros. Envolve, portanto, a compreensão mútua e proporciona a melhoria do relacionamento com os demais; Lidar com relacionamentos: refere-se ao conjunto de habilidades que envolvem relacionar-se e viver em sociedade, o que perpassa pelo reconhecimento e pela valorização das emoções de si mesmo e do outro. Goleman (1995) aponta a existência de dois tipos de inteligência: o QI (quociente de inteligência) e o QE (quociente emocional). No contexto atual do mundo do trabalho, as habilidades exclusivamente cognitivas não são mais suficientes para garantir bons resultados. Nesse sentido, as organizações têm buscado profissionais que possuam, para além das habilidades intelectivas (que podem, por exemplo, ser sintetizadas em um bom currículo), também o desenvolvimento da inteligência emocional, que envolve a “capacidade de criar motivações para si próprio e de persistir em um objetivo apesar dos percalços; [...] de se manter em bom estado de espírito e de impedir que a ansiedade interfira na capacidade de raciocinar; de ser empático e autoconfiante” (GOLEMAN, 2012, p. 58). O desenvolvimento de cada um desses domínios contribui para o desenvolvimento integral do indivíduo. Especialmente no contexto das organizações, a inteligência emocional pode ser benéfica no sentido de promover a melhora nas interações entre os colaboradores; sobretudo nos cargos de gestão e liderança, tais habilidades têm sido cada vez mais desejáveis. Conclusão da aula 1 Nesta aula, nos aproximamos do conceito de inteligência emocional. 19 Como vimos, o desempenho pessoal e profissional de cada indivíduo é determinado tanto por suas habilidades cognitivas como pelas emocionais, sempre considerando a contribuição do contexto cultural e histórico em que cada sujeito se insere e atua. Atividade de Aprendizagem Com base nos estudos desenvolvidos nesta aula, como os princípios da inteligência emocional podem ser aplicados em seu contexto acadêmico, contribuindo para o desenvolvimento de sua própria aprendizagem enquanto estudante? Aula 2 – Inteligência emocional e relacionamento interpessoal Apresentação da aula 2 Nessa segunda aula, você compreenderá como os princípios da inteligência emocional podem ser aplicados no cotidiano da prática organizacional, contribuindo para o desenvolvimento das relações interpessoais. Nesse percurso abordaremos alguns importantes conceitos, como competência interpessoal, resiliência e assertividade. 2.1 Inteligência emocional: retomando o conceito A inteligência emocional é usada por alguns pesquisadores para referir- se a uma longa lista de atributos ou capacidades provenientes de diversos aspectos da personalidade. Uma dessas interpretações da inteligência emocional (IE) aparece em Goleman (2012). O autor indica que a IE é composta por cinco domínios: conhecer emoções, administrar emoções, motivar a si mesmo, reconhecer emoções nos outros e manejar relacionamentos. O conceito de inteligência emocional de Goleman é bastante amplo e acaba por abranger toda a personalidade. 20 Alguns autores, no entanto, apontam a necessidade de não generalizar e acabar compreendendo o conjunto da personalidade como sinônimo de inteligência emocional. Nesse sentido, Reuven Bar-On e James Parker (2002) apontam que a IE é constituída por habilidades, aptidões ou capacidades mentais e sugerem que a inteligência emocional se refere a uma parte específica, que pode ser manejada e quantificada de forma diferenciada dos demais elementos da personalidade. A partir da definição inicial de Salovey e Mayer (que estudamos na aula anterior), Bar-On e Parker apresentam seu modelo de inteligência emocional, que envolve quatro divisões: percepção, integração, entendimento e administração emocional. Cada uma dessas dimensões apresenta características particulares que se integram às demais áreas, constituindo um conjunto único e integrado que pode ser definido como IE, representando em um círculo. A figura a seguir das quatro divisões da inteligência emocional ilustra esse processo. As quatro divisões da inteligência emocional Fonte: (Bar-On e Parker, 2002, p. 93). 21 Saiba Mais Aprofunde seus conhecimentos acerca da origem do conceito de inteligência emocional e como ele tem sido compreendido pela comunidade científica; leia o artigo Inteligência emocional: teoria, pesquisa, medida, aplicações e controvérsias, de Carla Woyciokoski e Claudio Simon Hutz. Acesse: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/30589 A percepção emocional: envolve o reconhecimento das emoções e a apreensão das informações emocionais. Para isso, é preciso que o indivíduo esteja aberto à vivência das emoções, estando atento às suas diversas expressões em si mesmo e nos outros, das mais diversas formas (o que inclui, além da expressão corporal, também outros meios, como as produções artísticas e os artefatos culturais). A integração emocional: engloba o uso da emoção na melhoria dos processos cognitivos. Ou seja, há uma inter-relação entre emoção e cognição: as emoções atuam sobre o sistema cognitivo e auxiliam o processo de raciocínio. Conformeas prioridades situacionais, por exemplo, as emoções podem conduzir à mudança de perspectiva, alternando entre diferentes pontos de vista. O entendimento emocional: abrange o processamento cognitivo de informações emocionais, tendo em vista a resolução de problemas. Em outras palavras, enfatiza a habilidade de compreender as emoções, seus sentidos, como se expressam e se modificam ao longo do tempo, o que possibilita fazer ao sujeito se beneficiar desses processos tanto individualmente como nas relações interpessoais. A administração emocional inclui a autoadministração das emoções e a administração de emoções em outras pessoas. Embora conduza à vivência das emoções, nem sempre encoraja a sua expressão, visto que considera a adequação às condições de seu contexto. Podemos perceber, portanto, que a inteligência emocional envolve muito mais do que “dominar as emoções”. Exige, em primeiro lugar, que o sujeito esteja aberto e disposto a sentir e vivenciar as emoções, o que, por si só, já pode ser 22 uma tarefa bastante difícil. Mas é somente a partir do conhecimento das próprias emoções que será possível compreendê-las e beneficiar-se racionalmente delas. Importante A administração envolve a consideração de diversos caminhos emocionais diferentes e uma escolha entre eles. Para acomodar as diversas reações emocionais possíveis em cada situação, a administração das emoções é plástica por necessidade: ela permite que a pessoa proceda da maneira que achar melhor, com base em aspectos emocionais, espirituais, pragmáticos ou outros. Ser emocionalmente inteligente não significa necessariamente que a pessoa se manterá em uma situação, por exemplo, em um casamento ou trabalhando na mesma empresa (BAR-ON; PARKER, 2002, p. 94). Embora a abertura às emoções seja fundamental, isso não significa fazê- lo todo o tempo ou em qualquer contexto. É justamente a articulação entre cognição e emoção que permitirá que o indivíduo à medida que reconhece as emoções em si mesmo compreenda em quais situações deve demonstrá-la e quais os melhores modos de realizar essa expressão, adequando-se às demandas situacionais que envolvem sua interação social. Um exemplo disso ocorre nas situações profissionais de trabalho. Para Refletir Muitos de nós acham que os empregos estão tão escassos atualmente que temos sorte de possuir algum. Parece que reclamavam justiças e frustrações é lamuriar-se, o que nos faz sentir culpa e mais preocupação do que nunca por sermos incapazes. Quando surgem problemas, somos condicionados a achar que devemos resolver silenciosamente por nós mesmos, em quaisquer circunstâncias, então simplesmente mostrar uma "cara boa" e continuar trabalhando por mais tempo e com mais intensidade. Contudo, esse clima de medo e repressão emocional mata todas as ideias que levam à inovação. E quando isso acontece e a empresa provavelmente está de qualquer modo condenada, o que é uma das principais razões por que precisamos de mais inteligência emocional no trabalho [...] (COOPER; SAWAF, 1997, p. 27). 23 Especificamente no mundo do trabalho, as competências relacionadas à inteligência emocional são essenciais para o desempenho profissional. Cada vez mais, as organizações têm demandando por essas habilidades e muitas delas investem em treinamentos que visem ao seu desenvolvimento. Além disso, não custa lembrar que o ambiente de trabalho é o local em que a maioria dos adultos passa a maior parte de seu tempo, o que torna pertinente investir no desenvolvimento de estratégias que tornem esse período mais agradável e prazeroso. Nesse sentido, investir no conhecimento e no desenvolvimento da inteligência emocional contribui para a criação de condições favoráveis à vida profissional e pessoal de cada um. 2.2 Inteligência emocional e competência emocional É importante distinguir os conceitos de inteligência emocional e competência emocional. A inteligência emocional pode ser definida como um conjunto de capacidades referentes ao processamento de informações emocionais. Esse conceito, portanto, diz respeito ao uso de diversas competências emocionais, atreladas às habilidades cognitivas do sujeito. Curiosidade De acordo com Bar-On e Parker (2002), cognição e emoção são elementos que se articulam constantemente, o acesso emocional ao sistema cognitivo pode ocorrer por meio de emoções percebidas, como ocorre ao pensar “me sinto triste” e como cognições alteradas, como quando alguém pensa “não sirvo para nada”. Percebe-se, assim, o entrelaçamento entre as emoções e os pensamentos, que muitas vezes não são notados nas práticas cotidianas. A competência emocional pode ser compreendida como a demonstração de autoeficácia nas interações sociais que produzem emoções. Em outras palavras, competência emocional é a forma como cada pessoa responde emocionalmente, por meio das relações interpessoais em seu contexto cultural, de modo a atingir seus objetivos. Assim, as competências emocionais podem 24 proporcionar importantes benefícios ao sujeito, como a sensação subjetiva de bem-estar e o desenvolvimento da capacidade de se adaptar a novos contextos e situações, frente a eventos desencadeadores de estresse (desenvolvimento da resiliência). Pode-se elencar oito habilidades da competência emocional: Percepção do próprio estado emocional: refere-se à possibilidade de vivenciar múltiplas emoções. Em níveis mais complexos, inclui o reconhecimento de que nem sempre é possível perceber conscientemente todas as emoções; Capacidade de discernir as emoções dos outros: possível a partir de indicativos de expressão, contextualizados em cada situação e compreendidos a partir das convenções culturais de cada sociedade; Capacidade de utilizar o vocabulário de expressão emocional: conforme as características socioculturais, podendo inclusive, em níveis mais complexos, envolver o reconhecimento da inter-relação entre as emoções e os diversos papéis sociais assumidos; Capacidade de envolvimento empático e simpático: inclui reconhecer as vivências emocionais de outros e ser capaz de compreendê-las, assim como relacionar-se bem com os demais; Capacidade de compreender a diferença entre os estados emocionais interiores e exteriores: nem sempre o estado emocional interior corresponde à expressão exterior. Em níveis mais complexos, engloba o reconhecimento de que a forma como expressamos nossas emoções pode afetar os demais; Capacidade de lidar de forma adaptativa com emoções adversas ou perturbadoras: requer o uso de estratégias de autorregulação, que permitem lidar com a intensidade das emoções e sua duração; Percepção da participação das emoções na estrutura ou natureza dos relacionamentos: essa estrutura é definida também pela expressão emocional e pela aceitação (ou não) dessas expressões nos relacionamentos, de modo mútuo ou assimétrico; 25 Capacidade de autoeficácia emocional: compreende a aceitação das próprias vivências emocionais e busca o equilíbrio entre o que se quer (ou como o indivíduo deseja) sentir e aquilo que se sente. Como se pode perceber, as competências emocionais são habilidades necessárias à constituição da inteligência emocional. Para Refletir As competências emocionais podem ser desenvolvidas, mas cada uma delas se refere às situações que variam conforme as necessidades do indivíduo e as circunstâncias de seu contexto. Nesse sentido, mais importante do que mensurar se determinado sujeito tem “mais” ou “menos” inteligência emocional, é compreender a forma como ele utiliza suas competências emocionais em suas relações pessoais e profissionais cotidianas. Assim, muda-se o foco quantitativo para o qualitativo, modulado pelas experiências socioculturais que envolvem cada situação vivenciada. 2.3 Relacionamento interpessoalAs questões que envolvem a inteligência emocional sempre indicam a relação entre as próprias emoções e sua expressão na interação social com os outros. Torna-se importante, portanto, abordar a temática do relacionamento interpessoal. No contexto específico das organizações, habilidades para se relacionar com os demais são fundamentais para o desempenho de todas as funções e se expressam tanto em nível micro (nas relações indivíduo-indivíduo, entre colaboradores, por exemplo) como também em nível macro (no modo como cada colaborador se relaciona com a instituição como um todo, por exemplo). Envolve, portanto, atividades que se desenvolvem individual e coletivamente em cada realidade organizacional. Pode-se compreender, desse modo, que o mundo do trabalho é tecido por uma rede relacional na qual pessoas com diferentes posicionamentos, 26 necessidades e emoções estão constantemente se relacionando, visando metas específicas distintas entre si. Nessas contínuas interações, o conflito entre diferentes posicionamentos e intencionalidades é inevitável e o desenvolvimento de habilidades de relacionamento interpessoal facilita não somente a comunicação, mas também o alcance dos objetivos. Saiba Mais Complemente seus estudos acerca deste tema lendo o artigo: “Um espaço para o desenvolvimento interpessoal no trabalho”, de Rosângela Rocio Jarros Rodrigues, Rosy Yuri Imai e Wanessa de Freitas Ferreira. Acesse: http://www.scielo.br/pdf/pe/v6n2/v6n2a17.pdf As relações interpessoais desenvolvem-se em decorrência do processo de interação. No cotidiano das atividades profissionais, em que as equipes de trabalho não são formadas por afinidade ou escolha pessoal, ocorre o choque entre uma grande diversidade de culturas, crenças, opiniões e emoções. Para além do domínio técnico da atividade e das características pessoais de cada indivíduo, torna-se necessário lidar com todas essas diferenças e construir uma identidade que extrapole as singularidades, constituindo um novo grupo. O êxito do grupo depende da forma como cada um de seus membros é capaz de se comunicar, de aceitar diferentes pontos de vista e de expressar-se frente aos demais. O relacionamento interpessoal pode tanto ser fonte de prazer, proporcionando um ambiente harmonioso em que a diversidade é valorizada, como também contribuir para a construção de relações tensas e conflituosas, nas quais há desgaste de energia com situações que dispersam e obstacularizam o alcance dos objetivos de trabalho. Nesse processo, portanto, destaca-se a importância da competência interpessoal. Segundo Moscovici (1998, p. 36), a competência interpessoal é “a habilidade de lidar eficazmente com relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada às necessidades de cada uma e à exigência da situação”. 27 Moscovici destaca que a competência interpessoal é fundamental tanto para a participação como para a liderança de grupos. Essa habilidade é fruto da percepção das características individuais aplicada às circunstâncias exigidas pelo meio, resultando em relacionamentos autênticos, satisfatórios e duradouros. A autora cita alguns aspectos essenciais da competência interpessoal: A habilidade de percepção: é preciso desenvolver a percepção das situações interpessoais. Trata-se de um processo contínuo de crescimento pessoal que envolve a autopercepção, a tomada de consciência de suas emoções e autoaceitação; A habilidade de lidar com situações interpessoais: envolve a flexibilidade da percepção e do comportamento, permitindo vislumbrar a mesma situação sob diferentes pontos de vista. Conduz à transformação das práticas, desenvolvendo novas formas alternativas de atuação; O relacionamento em si: diz respeito especialmente à dimensão afetiva e emocional, considerando sua íntima relação com os processos cognitivos e buscando o equilíbrio entre esses elementos. A competência interpessoal não é, portanto, inata ou imutável, ou destinada exclusivamente a alguns; trata-se de uma capacidade que pode e deve ser desenvolvida por todas as pessoas. 2.4 Assertividade Outra habilidade que pode ser desenvolvida e, portanto, aprendida, é a assertividade. A assertividade diz respeito a uma comunicação direta, clara (que não deixa margem para dúvidas), moderada e respeitosa, que expressa ideias, preocupações e conceitos. Envolve, portanto, a emissão de feedbacks, ou seja, a transmissão de uma devolutiva acerca do desempenho de outras pessoas. 28 Vocabula rio Assertividade: é uma palavra que se deriva de "asserto", que significa uma proposição decisiva. Uma pessoa que demonstra assertividade é autoconfiante, ou seja, que não tem dificuldades em expressar a sua opinião. Assertividade é uma competência emocional que determina que um indivíduo consegue tomar uma posição clara, ou seja, não fica "em cima do muro". Uma pessoa assertiva afirma o seu eu e a sua autoestima, demonstra segurança e sabe o que quer e qual alvo pretende alcançar. Fonte: https://www.significados.com.br/assertividade/ Os comportamentos assertivos abrangem formas de relatar, descrever e corrigir o comportamento dos colaboradores pela liderança. Cabe destacar que, no contexto organizacional, a assertividade envolve a comunicação, pelo líder ou gestor, daquilo que é esperado para seu grupo de colaboradores. Assim, só é possível ser assertivo ao conhecer profundamente o contexto da instituição e identificar os objetivos e práticas organizacionais. Tradicionalmente, a psicologia identifica quatro tipos principais de comportamento nas relações interpessoais: comportamento agressivo, passivo, passivo-agressivo e assertivo. Saiba Mais Comportamento agressivo: consiste em respostas vigorosas e sem comprometimento com a razão, costuma ser uma postura muito instintiva e na maioria das vezes desrespeitosa com o próximo, fato esse que costuma gerar um sentimento de culpa após uma devida reflexão sobre as atitudes tomadas. Comportamento passivo: consiste na tendência de ter respostas para as situações apenas após o ocorrido, dando a impressão de sempre estar “engolindo sapos” por conta dessa demora na formulação de argumentos. É comum nesse tipo de postura ser manipulado pela falta de posicionamento em diversas situações. Comportamento passivo-agressivo: nesse tipo de comportamento a formulação de argumentos é formada após as situações apresentadas ao indivíduo, a frustação por esse retardo na formulação dos argumentos dá vazão a um comportamento agressivo com terceiros. Esse comportamento 29 é muito comum com cônjuges após um dia difícil de trabalho, a agressividade é extravasada com os mais próximos. O quarto tipo de comportamento é o assertivo. Fonte:https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/a dministracao/assertividade-nas-relacoes-interpessoais/48010 A assertividade consiste em estabelecer um equilíbrio entre esses tipos comportamentais, de modo a interagir com os outros de forma clara, sendo compreendido e sabendo se comunicar, sem agredir ou desvalorizar os demais. O desenvolvimento da assertividade contribui também ao desenvolvimento da inteligência emocional, pois colabora para o estabelecimento de relações interpessoais autênticas e saudáveis. Ser assertivo é uma habilidade essencial no contexto organizacional, sobretudo nos momentos em que é necessário fazer uma crítica. O desafio está em não conduzir o discurso como um ataque pessoal, mas como uma mensagem proveitosa para quem a recebe. Desse modo, os fracassos não devem ser atribuídos a características pessoais (do tipo: “você é [...]”, mas a circunstâncias que podem ser modificadas positivamente, para a obtenção dos resultados desejados (por exemplo, “como você poderia fazer para”)? Nesse sentido, algumas características importantes para ser assertivoao fazer uma crítica envolvem realizar a devolutiva pessoalmente (estabelecer comunicação direta, evitando desentendimentos), ser específico (não generalizar as situações e abordar claramente a questão apontada), apontar caminhos (oferecer possibilidades de solução para o problema) e ser sensível (estabelecer vínculo emocional). Ao receber a crítica, em contrapartida, a assertividade pode ser demonstrada por uma postura de receptividade, compreendendo não como um confronto pessoal, mas como oportunidade de melhoria, evitando a postura defensiva de simplesmente negar a crítica ou justificá-la, até mesmo responsabilizando outras pessoas. Para críticas mais profundas, ainda é válido retomar a questão em um momento posterior, após a reflexão individual, para esclarecer melhor a questão, com respeito e empatia. 2.5 Resiliência https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/assertividade-nas-relacoes-interpessoais/48010 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/assertividade-nas-relacoes-interpessoais/48010 30 Outra importante característica associada à inteligência emocional é a resiliência, ela pode ser definida como a capacidade de recuperar-se rapidamente após a vivência de situações adversas. Vocabula rio Resiliência: significa voltar ao estado normal, é um termo oriundo do latim resiliens. [...] Resiliência é a capacidade de voltar ao seu estado natural, principalmente após alguma situação crítica e fora do comum. [...] Na área da psicologia, a resiliência é a capacidade de uma pessoa lidar com seus próprios problemas, vencer obstáculos e não ceder à pressão, seja qual for a situação. Fonte: https://www.significados.com.br/resiliencia/ A resiliência envolve a capacidade do indivíduo de adaptar-se a novas situações e de tomar decisões frente a situações inesperadas adversas, conduzindo assim a um processo de mudança. Envolve, portanto, capacidades como a flexibilidade de pensamento, a utilização de conhecimentos e vivências prévias como fonte para novas ações, a criatividade e a proatividade. Como se pode perceber, exige o envolvimento tanto de aspectos cognitivos como também habilidades relacionadas aos aspectos emocionais e afetivos. Ví deo Assista a este vídeo, que apresenta o conceito e dicas acerca da temática da resiliência. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=qwRwb0mwaWQ Embora se refira à ação individual, é importante ressaltar que a resiliência não pode ser dissociada dos relacionamentos sociais, pois sempre se fundamenta a partir das vivências socioculturais (a bagagem prévia constituída pelas experiências físicas e emocionais de cada um, em determinado contexto cultural e histórico). 31 Para Refletir A história nos lembra que, ao longo da vida, homens e mulheres notáveis enfrentaram períodos de adversidade. De vez em quando tiveram de encarar obstáculos desanimadores e suportar falhas ou contratempos. O modo como lidaram com essas experiências moldou a pessoa em que se tornaram. Seu triunfo final deveu-se, muitas vezes, em grande parte, à sua recusa em sucumbir aos erros e derrotas. Todos nós já passamos por períodos difíceis em nossa vida e nosso trabalho. O modo como respondemos a esses desafios, com instinto e intuição criativa, e, então, posteriormente, com reflexão, transforma uma parte de nosso coração e molda nosso futuro e o daqueles que estão à nossa volta. (COOPER; SAWAF, 1997, p. 155). Conclusão da aula 2 Nesta aula foi estudado sobre a inteligência emocional e aspectos a ela associados, como competência emocional, assertividade e resiliência. Todas essas habilidades podem ser aprendidas e desenvolvidas, e são fundamentais não somente para a atuação profissional, como em todos os contextos relacionais da vida. Atividade de Aprendizagem Imagine uma situação profissional de demissão de um colaborador. Com base nos estudos desenvolvidos nesta aula, exemplifique a aplicação dos conceitos de assertividade e de resiliência, sob o ponto de vista dos diferentes profissionais envolvidos (o gestor de recursos humanos e o colaborador que está sendo desligado da empresa). Aula 3 – Inteligência Emocional, estilos pessoais e autoconhecimento Apresentação da aula 3 32 Nesta aula, você vai conhecer como os estilos pessoais revelam características singulares da inteligência emocional, enfatizando a questão do autoconhecimento na gestão das emoções. Exploraremos importantes habilidades pessoais e profissionais, como as questões relacionadas à motivação, à ressonância, dissonância cognitiva e a características da liderança, dentro do enfoque da inteligência emocional. 3.1 Estilos pessoais de ação Cada pessoa possui características singulares que desvelam suas formas pessoais de ser e estar no mundo. Entretanto, alguns traços podem ser identificados em diversas pessoas, sobretudo no exercício da atividade profissional. Essas características gerais da personalidade podem ser compreendidas em termos de forças (uso positivo) e fraquezas (atributos negativos) que se evidenciam nas relações interpessoais. É importante reconhecer que essa classificação é dinâmica, por exemplo, uma característica considerada como qualidade em um contexto pode ser uma fraqueza, sob outro ângulo. Considerando a especificidade do contexto organizacional, Atkins e Katcher (1967) apresentam uma classificação dos estilos pessoais de atuação condensada em seu modelo de “orientações de vida”, Life Orientations, conhecido pela sigla Lifo®. Saiba Mais O Método Lifo® (Life Orientations) foi criado no sul da Califórnia, na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), em 1967, pelo cientista comportamental aplicado Dr. Stuart Atkins em conjunto com o psicólogo Dr. Elias Porter. Atkins e Katcher basearam o Life Orientations ® no trabalho de Erich Fromm, Carl Rogers, Peter Drucker e Abraham Maslow, sintetizados com suas próprias observações. O Lifo® é uma metodologia prática que descreve o comportamento humano e identifica seus propulsores, e já foi utilizado em mais de 30 países. Conheça melhor o Método Lifo acessando o site de seus autores. http://en.wikipedia.org/wiki/Elias_Porter http://www.erich-fromm.de/e/index.htm http://www.carlrogers.info/ http://www.pfdf.org/ http://en.wikipedia.org/wiki/Abraham_Maslow http://en.wikipedia.org/wiki/Abraham_Maslow 33 Acesse:https://www.lifeorientations.com/public-zone/lifo- area/background-page-1.aspx O Modelo Lifo® elenca quatro tipos de estilo pessoal, cada qual associado a uma palavra-chave: apoio (excelência), controle (ação), conservação (razão) e adaptação (harmonia). Os estilos são ilustrados nesta figura a seguir. Estilos pessoais: modelo Lifo® Fonte: (ATKINS E KATCHER, s/d). As principais características da tipologia e apoio são responsabilidade, cooperação, confiança e lealdade. São pessoas que gostam de aconselhar quando solicitadas e que se preocupam com as necessidades de outros. Encorajam os demais e confiam no trabalho dos outros. Em excesso ou no contexto inadequado, pode se manifestar como um excesso de amabilidade, aceitando facilmente qualquer ponto de vista e tendo dificuldade em colocar as próprias opiniões. Pode, ainda, ter a tendência a rapidamente assumir a culpa por todos os conflitos, como se fosse responsável por eles, tentando apaziguá- los. Os principais traços do controle são liderança, energia, dedicação e inovação. São pessoas que se sentem produtivas ao tomar inciativas e assumir o comando das situações, apresentando bom desempenho frente a desafios que demandem novas ideias. Comunicam-se claramente, são independentes e estão 34 dispostas a assumir riscos. Em contrapartida, podem tender à impulsividade, à agressividade e ao excessode competitividade. As características centrais da conservação são objetividade, racionalidade, análise e rigor. São pessoas que buscam otimizar os ganhos e minimizar as perdas, utilizando estratégias detalhadas e minuciosas, com precisão e atenção aos detalhes. Agem de forma calma e consistente, aderindo a orçamentos, cronogramas e planejamentos detalhados de ação. Em seu extremo, o preciosismo com os detalhes e a obediência ao planejamento podem ser considerados como apego à tradição, falta de inovação ou mesmo indiferença. A atenção exagerada aos detalhes pode ainda implicar no acúmulo de dados e informações desnecessários e na demora na tomada de decisões. Os traços essenciais da tipologia adaptação são sensibilidade, flexibilidade e otimismo. São pessoas que aplicam suas habilidades sociais no alcance de suas metas que são carismáticas, ativas, espirituosas e acabam se tornando populares. Relacionam-se bem com todos, valorizam diferentes opiniões e são diplomáticas na negociação de conflitos, evidenciando uma postura positiva frente às situações. A má aplicação dessas características pode tender à ocultação das próprias emoções e também à manipulação. Além disso, a necessidade de apaziguar os conflitos a qualquer preço pode conduzir à posturas infantilizadas, que ignoram os problemas e negam a situação real. Segundo os autores, a utilização do Modelo Lifo® proporciona o desenvolvimento de diversas habilidades, como “explorar como aumentar seus pontos fortes, reconhecer o que o impede de alcançar mais alto desempenho e minimizar comportamentos ineficazes”; além disso, há também benefícios interpessoais: “o feedback também aponta para maneiras de melhorar com outras pessoas; e como aproveitar ao máximo seus pontos fortes” (ATKINS; KATCHER, s/d). A ideia preconizada pelo Modelo Lifo® pode ser bastante útil para a autopercepção e o reconhecimento de estilos pessoais de atuação em diferentes situações e contextos. O que se deve buscar é um equilíbrio entre esses estilos, entendendo que nenhuma característica é puramente “boa” ou “ruim”, mas que cada traço pode ser útil se aplicado na situação adequada, evitando-se os extremismos. 35 3.2 Habilidades pessoais da inteligência emocional Como vimos, a inteligência emocional se manifesta e pode ser desenvolvida a partir das habilidades pessoais. Entre essas habilidades, Goleman (2015) destaca a autoconsciência, a autogestão, a empatia e a habilidade social. A autoconsciência se refere à percepção de como as emoções afetam a nós mesmos, aos demais e como influenciam o desempenho profissional. Essa percepção permite que, reconhecendo suas potencialidades e limitações, o indivíduo se planeje e trace estratégias para atingir seus objetivos. A autogestão (ou autocontrole) revela a forma como cada pessoa é capaz de lidar com a expressão das próprias emoções, considerando o contexto situacional. Algumas de suas características são: “uma propensão pela reflexão e ponderação; adaptação à ambiguidade e mudança; e integridade, uma capacidade de dizer não aos impulsos” (GOLEMAN, 2015, p. 19). A empatia (ou consciência social) se refere a reconhecer e considerar as emoções dos outros. É importante frisar que não se trata de sentimentalismo nem da tentativa de agradar a todos; no contexto organizacional, especialmente, envolve levar em conta as emoções de todos os envolvidos no processo de tomada de decisão. Por isso, é uma habilidade especialmente importante nos cargos de gestão. Por fim, a habilidade social (ou gestão de relacionamentos), assim como a empatia, se refere ao relacionamento interpessoal. Trata-se de uma cordialidade que tem a intencionalidade de conduzir as pessoas em determinada direção. Essa habilidade é especialmente útil em situações organizacionais, como obter a concordância acerca de determinada estratégia de ação ou mesmo promover o entusiasmo da equipe frente a um novo produto ou ideia. Envolve, portanto, a motivação e a persuasão, mas só consegue ser efetivada a partir do desenvolvimento das características pessoais do gestor (a autoconsciência e o autocontrole). 36 Importante A despeito da importância do desenvolvimento de todas as habilidades pessoais, cabe ressaltar que, em cada instituição, “as competências-chave correspondem à realidade de uma dada organização. Cada companhia e setor possui sua própria ecologia emocional, que ocasionará diferentes repertórios de adaptação por parte de seus empregados” (GOLEMAN, 1999, p. 40). Mais uma vez, destaca-se aqui o fato de que os traços pessoais estão sempre inter-relacionados com o contexto cultural, no qual se insere cada sujeito. 3.3 Autoconhecimento Como pode-se perceber, a inteligência emocional volta-se às relações do sujeito em seus mais diversos contextos relacionais. No entanto, o primeiro passo para estabelecer relações saudáveis e comunicar-se de forma assertiva com os outros inicia-se com o desenvolvimento pessoal. Por isso, é importante frisar a importância do autoconhecimento. Embora conhecer as próprias emoções seja útil em qualquer relação social, adquire uma importância ainda maior nos contextos de liderança organizacional. Ao coordenar uma equipe, é preciso lidar com pessoas que sentem e expressam as mais variadas emoções, além disso, uma mesma situação pode ser experienciada emocionalmente de modos distintos por diferentes pessoas. Por isso, o gestor precisa ser capaz de, além de lidar com as próprias emoções, compreender a variedade de nuances emocionais com as quais se deparará em sua prática profissional diária. O autoconhecimento contribui para que o gestor compreenda a forma como suas emoções influenciam seu comportamento e facilita a modulação emocional para adequar sua expressão na realização de suas tarefas (como relacionar-se com outros colaboradores, comunicar-se em uma reunião, traçar estratégias de vendas, entre outras). A partir do autoconhecimento, o gestor pode gradualmente desenvolver também novas habilidades por exemplo, à medida que reconhece suas emoções, é capaz de compreender também as emoções dos outros. Esse é um 37 processo longo e muitas vezes difícil, pois o contato com os próprios aspectos emocionais pode desencadear desconforto e sofrimento. Paulatinamente, no entanto, gera o autoconhecimento. E cada vez mais o sujeito é capaz de se conhecer, aprendendo como lidar com suas próprias características do modo mais adequado para cada situação. Por isso, o autoconhecimento é um processo contínuo, que acompanha o desenvolvimento do indivíduo ao longo da vida e que pode trazer importantes benefícios para a forma de relacionar-se em seus mais diversos contextos de interação. 3.4 Conceitos de ressonância e dissonância Um aspecto diretamente influenciado pelo autoconhecimento emocional é a ressonância, que se refere à capacidade de sintonizar-se com as demais emoções, atuando em sincronia. Vocabula rio Ressonância: na definição do Oxford English Dictionary, refere-se ao “reforço ou prolongamento de sons por reflexão”, ou, mais especificamente, “por vibração sincrôncia”. O análogo humano da vibração sincrônica ocorre quando duas pessoas estão emocionalmente no mesmo comprimento de onda, quando se sentem “em sincronia”. E, fazendo jus ao sentido original de ressonância, essa sincronia “ressoa”, prolongando o tom emocional positivo.Fonte: (GOLEMAN; BOYATZIS; MCKEE, 2018, s/p). A ressonância pressupõe habilidades de empatia, associadas à construção de relacionamentos alinhados à visão organizacional, auxiliando e motivando a equipe. Desse modo, só é possível criar ressonância a partir do desenvolvimento da inteligência emocional. Segundo Goleman, Boyatzis e McKee (2018): Um bom indício do líder ressonante é o grupo de seguidores que vibra com a energiaotimista e entusiástica do líder. Uma máxima da liderança ressonante é que ela amplia e prolonga o impacto emocional da liderança. Os autores ainda apontam que, “quanto mais ressonantes 38 forem as pessoas no trato umas com as outras, menos estáticas serão as interações entre elas (s/p). A criação da ressonância, portanto, faz com que haja sintonia entre as emoções de todos os membros, conduzindo-os na mesma direção. Assim, a ressonância envolve a criação de um vínculo emocional que faz com que cada membro se sinta pertencente ao grupo e se implique, pessoal e emocionalmente, no desenvolvimento da tarefa desse coletivo. Em contrapartida, a ausência da ressonância pode resultar na execução de um trabalho cujo produto final até pode ser considerado satisfatório, mas que é realizado de forma mecânica, sem o real envolvimento de seus participantes. Curiosidade A dissonância, em seu sentido musical original, descreve um som desagradável e áspero; tanto em termos musicais como humanos, dissonância indica falta de harmonia. A liderança dissonante produz grupos que se sentem emocionalmente discordantes, nos quais as pessoas têm a sensação de estar eternamente desafinadas. Fonte: (GOLEMAN; BOYATZIS; MCKEE, 2018, s/p). O conceito de dissonância cognitiva foi desenvolvido em 1957, pelo psicólogo americano chamado Leon Festinger. De modo mais abrangente, o termo aponta a falta de congruência entre o que uma pessoa acredita e o que vivencia, ou seja, entre suas crenças e experiências. Como esse é um processo desagradável, a pessoa tende a buscar a manutenção desse equilíbrio, visando a coerência cognitiva (entre suas opiniões e convicções). É importante transpor o conceito de dissonância também para as questões emocionais, o que é evidenciado quando o indivíduo não consegue estabelecer um vínculo saudável entre as emoções e sua expressão, acarretando desentendimentos e dificuldades relacionais. Saiba Mais 39 Quando uma pessoa tem uma crença sobre algo e age diferente do que acredita, ocorre uma situação de dissonância. A dissonância é a contradição e uma das principais fontes de inconsistência no comportamento. O elemento cognitivo é uma convicção que o indivíduo tem sobre si mesmo e o ambiente. Esses três elementos podem estar relacionados de três maneiras: Relação dissonante: quando a pessoa tem uma opinião sobre algo e age de outra forma. Exemplo; o indivíduo sabe que beber e dirigir são atos perigosos, no entanto mantém essa atitude, mesmo conhecendo os riscos; Relação consonante: usando o exemplo anterior; o indivíduo sabe que beber e dirigir são comportamentos perigosos e então os abandona; Relação irrelevante: quando os elementos da relação não possuem ligação: o indivíduo dirige e joga futebol. Fonte:https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/p sicologia/teoria-da-dissonancia-cognitiva/41439 Goleman, Boyatzis e McKee (2018) apresentam o conceito de liderança ressonante, discutindo como os termos ressonância e dissonância podem ser aplicados no âmbito das empresas e organizações. Segundo os autores, líderes dissonantes são aqueles que não conseguem ser empáticos nem compreender as emoções dos demais, gerando desconforto entre o grupo. Essa situação de desconforto acaba por se tornar o foco da atenção do grupo, que se dispersa de sua atividade principal, por exemplo, compreender a mensagem que estava sendo transmitida pelo líder. A dissonância pode ser caracterizada também pela transmissão de informação emocional truncada, que é recebida com valorização negativa pelo outro. Um feedback assertivo, por exemplo, é substituído por comentários hostis e irônicos, o que produz aversão imediata em quem o recebe. Desse modo, a dissonância “se alastra” pelo ambiente organizacional, gerando colaboradores insatisfeitos e resultando em emoções como raiva, tristeza e insegurança, que podem, ainda, ser em expressas em atitudes de indiferença e conformismo, nas quais o indivíduo realiza somente o necessário para manter-se na situação de emprego. 40 É importante ressaltar que nem sempre a dissonância é realizada de modo intencional, com a finalidade deliberada de agredir o outro. Em muitos casos, o que ocorre é a falta do desenvolvimento das habilidades da inteligência emocional, tais como a autopercepção, a empatia e a habilidade social, que acabam resultando na ação dissonante. 3.5 Liderança e inteligência emocional O desenvolvimento da inteligência emocional nas funções de liderança tem sido não somente aceito, como também valorizado e estimulado dentro da maioria das organizações da atualidade. Em uma compreensão que enfatiza as capacidades de aprendizagem e de desenvolvimento humano ao longo da vida, não é mais possível defender o ideal do líder que nasceu com “o dom inato” para a liderança. O grande diferencial é a crença de que essas habilidades podem ser desenvolvidas por cada indivíduo, a partir de seu próprio potencial. Ou seja, nem todos serão ótimos líderes, mas as pessoas que desejarem desenvolver essas características e se empenharem no desenvolvimento dessas habilidades certamente atingirão resultados que o diferenciarão daqueles que, a despeito de seu “talento natural”, não desenvolveram suas potencialidades da inteligência emocional. Um líder emocionalmente inteligente impacta seu grupo e, é ciente das influências que este grupo gera sobre si; desse modo, é capaz de reconhecer características indesejáveis e evitá-las, mantendo o foco sobre o objetivo principal de sua ação. Consegue, portanto, compreender as dinâmicas que permeiam a organização, possuindo habilidades para manejar essas dinâmicas no sentido de beneficiar os membros e a instituição como um todo. Algumas das habilidades que revelam uma liderança exercida a partir dos princípios da inteligência emocional são a empatia (ser sensível às necessidades dos outros); a ressonância (estado de sintonia com os demais); a percepção organizacional (conhecer e compreender a cultura da organização); a influência (capacidade de posicionar-se e ser aceito e de obter o apoio de outras pessoas) e o trabalho colaborativo (estímulo à participação de todos e valorização da contribuição dos demais). 41 Desse modo, um líder que aplica a inteligência emocional compreende a necessidade de habilidades como inteligência, comunicação e autoridade, mas as utiliza de modo conjunto com suas próprias competências emocionais, tendo em vista determinado objetivo. Goleman (2015) propõe seis estilos de liderança: Líderes visionários: mobilizam pessoas rumo a uma visão; indicam caminhos e dão liberdade às pessoas para que inovem e corram riscos calculados; Líderes afetivos: criam vínculos emocionais e harmonia. Consideram as necessidades pessoais e emitem feedbacks positivos. São flexíveis e dão aos colaboradores liberdade para agir; Líderes democráticos: obtêm consenso pela participação, ouvindo e obtendo a adesão dos demais. Desenvolve, assim, respeito, compromisso e confiança com seus colaboradores; Líderes modeladores: esperam excelência dos colaboradores, a partir de seu próprio exemplo. Estabelece padrões altos e exige o cumprimento por todos, garantindo o alcance das metas dentro (ou antes) do esperado; Líderes treinadores: desenvolvem pessoas para o futuro. Delegam tarefas e encorajam os colaboradores a estabelecer e planejar metas. Emitem devolutivas e auxiliam a identificar pontos fortes e fracos, vinculando-os às metas pessoais e profissionais dos colaboradores; Líderes coercitivos: exigem o cumprimento imediato, centralizando a tomada de decisões e agindo de forma direta e inflexível. Para Refletir Com qual desses estilos de liderança descrita na página anterior você se identifica mais? Quais habilidades da inteligênciaemocional estão mais vinculadas a esse estilo? 42 É importante compreender que essas tipologias devem ser combinadas entre si, conforme as necessidades de cada contexto em cada situação específica. Nenhuma delas deve ser considerada puramente positiva ou negativa, pois há situações em que cada uma delas pode ser necessária e eficaz. Desse modo, o líder mais preparado seria aquele capaz de exercer os quatro tipos de liderança, sabendo quando e como aplicá-los tendo e em vistas as metas e necessidades da organização. Nesse sentido, o ideal é que o líder procure ampliar seu repertório pessoal de estilos, mas, para isso, deve compreender quais habilidades da inteligência emocional são necessárias para isso. Uma alternativa pode ser a formação de uma equipe, incluindo membros que empreguem estilos de maior dificuldade pelo líder. A despeito dos estilos de liderança, o desafio que se impõe a todo líder emocionalmente inteligente é a capacidade de avaliar como suas emoções afetam os outros. Nas palavras de Goleman (2015, p. 62), isso “requer que um executivo avalie, mediante uma análise reflexiva, como sua liderança emocional determina os humores e ações da organização e então, com a mesma disciplina, ajuste seu comportamento de forma compatível”. Conclusão da aula 3 Nesta aula, pode-se compreender como os estilos pessoais de ação podem ser otimizados por cada indivíduo no exercício de sua atuação profissional, por meio do desenvolvimento da inteligência emocional. Dentro dessa perspectiva, o conhecimento das próprias emoções e a valorização dos aspectos emocionais das outras pessoas são elementos fundamentais que colaboram para a ressonância emocional e contribuem para a construção de um ambiente organizacional mais saudável. 43 Atividade de Aprendizagem De acordo com os estudos desta aula, descreva como a habilidade do autoconhecimento pode contribuir para que o gestor organizacional desenvolva a ressonância emocional em seu contexto de trabalho? Aula 4 – Negociação de conflitos e processo de mudança Apresentação da aula 4 Nesta quarta e última aula, vai ser abordado algumas questões de cunho prático no contexto das organizações, nas quais os conhecimentos sobre inteligência emocional são essenciais. Estudaremos estratégias de negociação de conflitos e resolução de problemas, bem como temas como o estresse e a intolerância na atividade profissional, a empatia, processos de mudança e desenvolvimento gerencial. 4.1 Negociação e resolução de conflitos As pessoas diferem entre si; cada um tem suas próprias crenças, costumes e pensamentos, reagem e se sentem de modo singular frente às situações do dia a dia. Essa diversidade se reflete também no meio organizacional: ao compor um grupo de trabalho, o desafio é transcender as diferenças individuais em prol de um objetivo comum. Nesse processo, obviamente, é comum haver discordâncias, que se expressam em tensões e situações de conflito e afetam o clima emocional da equipe. Assim como as características pessoais não podem ser consideradas como “boas” ou “ruins”, mas variam conforme a circunstância e o contexto, também as situações de conflito inevitáveis aos relacionamentos humanos não devem ser consideradas como puramente negativas. Acerca da utilização das 44 habilidades emocionais para resolução de conflitos: as situações de conflito apresentam elementos positivos e negativos. Para Refletir O conflito, em si, não é patológico nem destrutivo. Pode ter consequências funcionais e disfuncionais, a depender de sua intensidade, estágio de evolução, contexto e forma como é tratado (MOSCOVICI, 1998, p. 146). Você consegue identificar quais os aspectos positivos de uma situação de conflito? Assim como todas as questões que envolvem a subjetividade humana nos relacionamentos interpessoais, não há uma resposta única, uma “senha” para a resolução instantânea dos conflitos. A busca por caminhos precisa considerar os objetivos do grupo e as características de cada um de seus membros, primando sempre pelo respeito, diálogo e pela assertividade, características que, assim como as pessoas, também devem amadurecer ao longo do relacionamento profissional. A situação que desencadeou o conflito deve ser analisada em suas múltiplas variáveis, o que permitirá compreender sua dinâmica e, a partir daí, traçar um plano de ação. Mas é importante compreender que o conflito também proporciona possibilidades de desenvolvimento. Dentre suas características positivas, Moscovici (1998, p. 146) elenca que o conflito “previne a estagnação decorrente do equilíbrio constante da concordância, estimula o interesse e a curiosidade pelo desafio da oposição, descobre os problemas e demanda sua resolução”. Desse modo, para a autora, o conflito é o motor que impulsiona o desenvolvimento das mudanças individuais e grupais na sociedade. A opção por um modo específico de abordagem das situações de conflito precisa considerar diversos fatores, como: A razão do conflito; Motivações implícitas; Grau de intensidade e extensão das consequências; Contexto atual do grupo; 45 Experiências prévias do grupo e de seus membros; Tentativas anteriores de resolução. Há diversas estratégias para lidar com os conflitos. Algumas posições comumente utilizadas são: Evasão: é a tentativa de evitar ou fugir da situação de conflito, negando-o. Pauta-se em assumir uma postura neutra e de distanciamento, em que há a recusa em assumir ou participar de qualquer tensão. Discordar de alguém é considerado um comportamento negativo, a ser evitado; Harmonização: a fuga do conflito é justificada pela preservação de um ambiente pacífico. O conflito é visto como fonte de discórdia, ressentimento e por isso é evitado. Mantem-se, assim, um clima superficial (e, na maioria das vezes, artificial) de concordância e cordialidade; Repressão: o conflito é controlado e suprimido pela força; estratégias de coerção e de punição ajudam a manter esse controle. A obediência às normas obriga que qualquer situação potencial de conflito (até mesmo o surgimento de novas ideias, por exemplo) seja reprimida e dissipada; Confrontação: o conflito é expresso abertamente, para que possa ser enfrentado e solucionado por todos os membros do grupo. Os pontos de divergência são claramente apontados e as dificuldades grupais são expostas e debatidas, em busca de uma resolução; Acomodação: o conflito é superado por meio de negociação, buscando-se a melhor opção viável. Prima por uma solução prática, ao invés da busca por uma posição “verdadeira” ou “correta”. Opta-se por um acordo em que todos devem ceder, resultando na solução “possível”, embora nem sempre “ideal” para cada um dos membros do grupo. 46 Busca-se, cada vez mais, no ambiente organizacional, a adoção de posturas que primem pela resolução criativa de conflitos. Essa estratégia pressupõe considerar diferentes pontos de vista e abandonar a dicotomia “certo” e “errado”, visando a descoberta de novas formas de lidar com as situações que sejam vantajosas para todos. Abandonando a posição em que cada membro deve “defender” a sua opinião e “minar” a do outro, a resolução criativa de problemas busca transformar a compreensão das diferenças, cada um é encorajado a conceber as divergências como experiências enriquecedoras e potencialmente vantajosas para o seu desenvolvimento. Esse processo demanda tempo, habilidades emocionais e precisa ser conduzido pela liderança de forma sensível, respeitando as singularidades e promovendo um clima de segurança que conduza à maturidade do próprio grupo. Exige, portanto, uma série de habilidades, intimamente relacionadas à inteligência emocional do condutor do processo,
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