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1 Disciplina: Psicologia organizacional Autora: M.e Fernanda Renata Lourenço Almeida Mendonça Revisão de Conteúdos: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm Designer Instrucional: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki Ano: 2020 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Fernanda Renata Lourenço Almeida Mendonça Psicologia organizacional 1ª Edição 2020 Curitiba, PR Faculdade UNINA 3 Faculdade UNINA Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Alex de Britto Rodrigues / D.ra Diana Cristina de Abreu / D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Gilian Cristina Barros / D.r João Paulo de Souza da Silva / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de La Iglesia Revisão de Conteúdos Alexandre Kramer Morgenterm Designer Instrucional Alexandre Kramer Morgenterm Revisão Ortográfica Juliano de Paula Neitzki Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério FICHA CATALOGRÁFICA MENDONÇA, Fernanda Renata Lourenço Almeida. Psicologia organizacional / Fernanda Renata Lourenço Almeida Mendonça. – Curitiba: Faculdade UNINA, 2020. 85 p. ISBN: 978-85-5475-535-5 1.Atuação. 2. Indivíduo. 3. Trabalho. Material didático da disciplina de Psicologia organizacional – Faculdade UNINA, 2020. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade UNINA 5 Sumário Prefácio ..................................................................................................... 07 Aula 1 – Psicologia: sua evolução como ciência e aplicação às organizações ............................................................................................. 08 Apresentação da aula 1 ............................................................................. 08 1.1 A psicologia e sua evolução como ciência .................................... 08 1.1.1 Abordagem e teorias psicológicas ............................................. 14 1.1.2 Psicologia como estudo das relações humanas ......................... 18 1.1.3 Psicologia e profissão ................................................................ 19 1.2 Psicologia aplicada às organizações ............................................. 21 1.2.1 Origem da psicologia organizacional .......................................... 22 1.2.2 Conhecimento do campo de intervenções do psicólogo organizacional no mundo do trabalho ........................................................ 24 Conclusão da aula 1 ................................................................................... 24 Aula 2 – Comportamento organizacional e trabalho: significado e ressignificado ............................................................................................. 25 Apresentação da aula 2 ............................................................................. 25 2.1 O significado e ressignificado do trabalho para o homem ............. 26 2.1.1 Constituição social do trabalho ................................................... 31 2.2 O comportamento organizacional do trabalho para o homem ...... 33 2.2.1 Níveis de estudo do comportamento organizacional ................. 35 2.2.2 Nível micro-organizacional ......................................................... 35 2.2.3 Nível meso-organizacional ......................................................... 36 2.2.4 Nível macro-organizacional ........................................................ 37 Conclusão da aula 2 ................................................................................... 38 Aula 3 – Motivação, atitudes e liderança ................................................... 39 Apresentação da aula 3 ............................................................................. 39 3.1 Motivação ...................................................................................... 39 3.1.1 Teorias motivacionais ................................................................ 42 3.2 Atitudes ......................................................................................... 50 3.3 Liderança ...................................................................................... 56 Conclusão da aula 3 ................................................................................... 65 Aula 4 – O adoecer no trabalho e os conflitos organizacionais .................. 66 Apresentação da aula 4 ............................................................................. 66 4.1 O adoecer no trabalho ................................................................... 67 6 4.1.1 Conflitos organizacionais ........................................................... 70 4.2 Doenças ocupacionais .................................................................. 71 Conclusão da aula 4 ................................................................................... 81 Conclusão da disciplina ............................................................................. 83 Índice Remissivo ........................................................................................ 85 Referências ............................................................................................... 87 7 Prefácio Olá, Seja bem-vindo à disciplina de Psicologia organizacional. Aqui, você irá compreender sobre a contribuição da psicologia para o cenário competitivo das organizações. Independentemente do ramo e porte das empresas, elas estão cientes de que seus produtos ou serviços são frutos do trabalho das pessoas, portanto elas são seu diferencial competitivo e ativo intangível. Na primeira aula serão feitas reflexões sobre a psicologia como ciência, sua evolução, história e sua aplicabilidade no campo das organizações de trabalho, compreendendo seu objeto de estudo (o comportamento humano) em nível individual e em grupo. Assim será possível responder as seguintes perguntas: quais os fatores que influenciam o comportamento humano? Como a personalidade, as atitudes e diversos elementos interferemna forma de o indivíduo se comportar na sociedade das organizações? Você sabe a origem e o significado da palavra “trabalho"? Na segunda aula, iremos abordar os aspectos epistemológicos do trabalho, seu significado e ressignificado para o ser humano. Também abordaremos o comportamento organizacional (seus três níveis) nos diferentes e variados contextos de trabalho. Na aula 3, iremos compreender os aspectos conceituais e práticos de temas importantes para o contexto do trabalho nas organizações, tais como motivação, atitudes e liderança. Na quarta aula, vamos conhecer os elementos que influenciam a saúde mental do trabalhador, causando o adoecer no serviço e os conflitos organizacionais. Em cada aula, serão sugeridas algumas atividades para ampliação da sua espiral do conhecimento. Utilize a rota de aprendizagem e o mapa conceitual para uma visão ampla da disciplina e orientação para seu processo de aprendizagem. As avaliações serão um recurso importante para que você possa acompanhar o seu desenvolvimento profissional, sendo estas distribuídas entre questionários, fórum de discussão, perguntas discursivas e provas mistas (questões objetivas e dissertativas). 8 Aula 1 – Psicologia: sua evolução como ciência e aplicação às organizações Apresentação da aula 01 Seja bem-vindo à primeira aula da disciplina Psicologia organizacional. Você vai conhecer a origem do surgimento da psicologia e como ela se tornou ciência, sendo possível aplicá-la em todos os mais variados ambientes, obtendo, então, a compreensão de seu campo nas organizações. Vamos lá? 1.1 A psicologia e sua evolução como ciência A psicologia reúne um conjunto amplo de conhecimentos científicos que se aplicam diariamente em diferentes contextos sociais, sendo provavelmente um dos assuntos de maior interesse e curiosidade das pessoas em geral. Talvez você se pergunte: mas quando surgiu a psicologia? Qual será seu objeto de estudo? Há muitas imagens mentais, reais e outras mais envoltas em mitos e fantasias, em relação à psicologia e aos psicólogos. Existe um certo mistério e às vezes misticismos em relação a essa área de conhecimento, mas que precisam ser desvendados para compreendê-la como ciência. Para um melhor entendimento, é preciso voltar à Antiguidade para entender a origem da psicologia, começando pela definição da palavra, cuja origem vem do grego, resultante da união de duas palavras: psyche (significa alma ou mente) e logos (estudo ou relato). Inicialmente, a psicologia era definida como o estudo da alma ou da mente, tendo sua origem na filosofia especulativa. O termo psicologia (Ψυχολογια) aparece pela primeira vez como título de uma obra publicada em 1590. Tratava-se de um livro escrito por Rudolf Goclenius (1547-1628), um professor da Universidade de Marburgo reconhecido por suas contribuições à terminologia filosófica (Ferrater Mora, 1988). Literalmente, o termo psicologia referia-se ao estudo da ciência da alma, ou da psique ou da mente (GOMES, s.a, p.1). Para o clássico autor Regis Jolivet (1969, p. 32), a Filosofia Especulativa “tem por fim o puro conhecimento, visa conhecer o ser das coisas”, havendo 9 níveis distintos de abstrações, sendo dois relacionados ao mundo material, envolvendo questionamentos em relação ao mundo em geral e perguntas em relação ao homem, representados na filosofia da natureza. O terceiro nível de abstração relaciona-se com as coisas que estão além da natureza, mas que se articula com indagações sobre o ser, a razão e a existência de um ser superior, agrupando-se na filosofia especulativa denominada metafísica. O quadro a seguir apresenta a filosofia dividida em três grandes partes: lógica, filosofia especulativa e filosofia prática. Dessa forma, você poderá identificar as raízes filosóficas da psicologia, que nesta fase não é considerada científica. Divisão da Filosofia Fonte: adaptado de Jolivet (1969, p.34). Na época dos filósofos pré-socráticos, iniciou-se a especulação sobre o ser humano: de onde viemos? Quem somos? Como nos tornamos quem somos? Qual nossa missão? Para aonde iremos? Esses questionamentos nortearam a filosofia especulativa da natureza humana, vindo depois a ser denominada de psicologia. 10 Vocabula rio Especulação: investigação, análise ou pesquisa teórica sem fundamentos empíricos que se baseia, geralmente, no raciocínio abstrato. Pressuposição, suposição acerca de alguma coisa, sem comprovação. (Dicionário online) A alma era concebida como imaterial; pensamentos, sentimentos, irracionalidade, desejo, sensação e percepção. Tales de Mileto, matemático e filósofo, considerava muito importante o autoconhecimento para as relações humanas e dizia “conhece-te a ti mesmo”, sendo sua ideia reconhecida e difundida pelo filósofo Sócrates, inclusive muitos atribuem a autoria dessa frase a ele. Platão postulava que a mente e o corpo eram dissociados, enquanto que Aristóteles resgata a ideia de Sócrates, associando mente e corpo. Nesse período em que a psicologia está associada à Filosofia, os estudos eram empíricos e concentrados nos processos de pensamento (razão), sensações; percepções, emoções e sentimentos. A razão e o processo de pensamento foram elementos diferenciadores e importantes para a classificação dos seres humanos como animal racional, sendo Sócrates um dos grandes defensores desta ideia. Esse filósofo criou um método para o pensamento racional chegar à verdade interior de cada um, denominado de maiêutica, que significa “parto de ideias”. A maiêutica socrática consistia em realizar perguntas às pessoas com que ele se deparava a dialogar, perguntas que tinham dois estágios. No primeiro deles, Sócrates fazia perguntas simples sobre assuntos que o indivíduo julgava conhecer bem. No segundo, essas perguntas continuavam sendo feitas de maneira simples e contextualizadas, mas dessa vez, levando o indivíduo a questionar sua própria certeza, gerando, assim, uma nova visão sobre um mesmo tema. Daí veio o nome “parto”, pois consistia em literalmente dar a luz a novas ideias sobre assuntos até então esclarecidos. Platão era ateniense, matemático e filósofo, fundador da Academia de Atenas, que foi a primeira instituição de ensino superior do ocidente. Ele desenvolveu a famosa teoria das ideias, na qual considera que a realidade se 11 divide em duas: realidade inteligível e realidade sensível. A primeira reflete aquilo que pode-se distinguir e expressar a outrem. É a realidade imutável das coisas. A segunda, como o nome sugere, é aquela que afeta os nossos sentidos, que são dependentes e modificáveis. Platão entendia que a essência do conhecimento não estava nas coisas, que são corruptíveis e mutáveis. Como filósofo, ele buscava a essência nas realidades imutáveis, nos fatos. Ele entendia que o corpo e a alma do homem são separados, que o corpo corresponde ao caráter material, mutável e corruptível, enquanto a alma representa a porção divina do ser, portanto é imutável e perfeita. Saiba Mais Para conhecer mais sobre o tema, acesse o link: http://origem -da-filosofia.info/socrates-platao-e-aristoteles/platao.html Para conhecer mais sobre as influências dos filósofos pré- socráticos na psicologia, leia: http://www.ufrgs.br/museupsi/p re-socraticos.htm Aristóteles escreveu o livro Da Anima, no qual analisa os processos psíquicos associados à alma: sensação, percepção, pensamento e imaginação. Lembre-se de que a psicologia nesta fase consistia no estudo da alma e a ela foram atribuídos diferentes processos psíquicos conforme o posicionamento dos filósofos. Saiba Mais Leia o livro Da Alma: De Anima, escrito pelo filósofo Aristóteles. Com o objetivo de analisar os principais problemas relacionados à alma, o filósofo discute a imaginação e o pensamento, além das relaçõesentre sensação e intelecto, apresentando suas teorias do intelecto ativo e do intelecto passivo. Obra traduzida diretamente do grego pelo mestre helenista Edson Bini. Indicada para filósofos, estudiosos e para todos aqueles que querem saber um pouco mais da alma, de sua profundidade, com 12 esclarecimentos de Aristóteles, considerado por muitos o primeiro psicólogo da humanidade. A partir das concepções filosóficas sofistas, socráticas, platônicas e aristotélicas, adquiridas exclusivamente pela especulação, existiam, contudo, também já na Antiguidade, estudos amplos sobre processos cerebrais, sobre as funções dos órgãos sensoriais e sobre perturbações dessas funções em caso de lesões cerebrais. Dessa forma, a psicologia tem sua origem associada primeiramente à filosofia e posteriormente associada à fisiologia e medicina, com um segundo olhar sobre os fenômenos psicofisiológicos, sendo estudados a partir do uso do método científico experimental. Muito se houve falar sobre a doutrina dos quatro temperamentos, sobretudo em livros norte-americanos de Psicologia. Mas a grande verdade é que esta doutrina remonta ao grande médico grego Hipócrates (cerca de 400 a.C.), retomada e desenvolvida pelo médico romano Galeno (131 até 201 a.C.). Segundo ele, existem quatro temperamentos, determinados pela predominância de um dos quatro "humores": o sanguíneo (sangue: folgazão e superficial), o colérico (bílis amarela: vontade forte e iras repentinas), o melancólico (bílis negra: pensativo e triste) e o fleumático (muco: sossegado e inativo). Apesar do seu funcionamento pseudocientífico, a doutrina dos quatro temperamentos afirmou-se na prática e os quatro tipos foram finalmente introduzidos como noções da nossa linguagem do dia-a- dia (SOURNIA, 1996). Durante o Império Romano e a Idade Média, a psicologia recebeu influência de dois grandes pensadores, associados à religião, mas que na época não eram santos e sim, cidadãos comuns como nós. Estes homens foram Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Aurelius Augustinus ou Agostinho de Hipona (354-430 d.C) viveu no final da queda do Império Romano e início da Idade Média, tornando-se um filósofo e escritor proeminente. Buscava a verdade a partir da interioridade do homem e sua relação com Deus. Para Agostinho, o tempo não tem realidade em si, é uma invenção do homem, constituído por três nadas: o passado, que não existe mais; o futuro, que ainda não existe; e o presente, tão fugaz que é uma mistura de passado e futuro. É a partir daí que se compreende com certa facilidade a concepção agostiniana de Deus (OLIVIEIRI, 2019). 13 Os períodos do Iluminismo e do Renascimento foram marcados por grandes mudanças no pensamento vigente até aquela época, proporcionando avanços em diversos campos das ciências e expansão territorial. Descartes defendia a ideia de que o corpo e a alma eram dissociados, portanto que o corpo não era sagrado. Essa dessacralização do corpo alavancou os avanços em pesquisas e estudos na anatomia, fisiologia, medicina e psicologia. Os séculos XVIII e XIX foram marcados pelas revoluções, e nesse período intensificaram-se os estudos científicos sobre personalidade, desenvolvimento e aprendizagem. [...] com a descoberta da hipnose, a natureza misteriosa da mente popularizava-se, levando cientistas sérios a considerar que a vida mental poderia conter mais elementos do que o pensamento consciente. Esses cientistas começaram a analisar a natureza do “inconsciente” e sua influência sobre nosso raciocínio e comportamento (COLLIN, 2012, p.16-17). Em 1879, Wilhelm Wundt fundou em Leipzig, Alemanha, o primeiro laboratório de psicologia experimental, ancorado em princípios quantitativos da física, marcando o início dela como ciência moderna. Além dele, Hermann Ebbinghaus e Emil Kraepelin também adotaram a abordagem científica. Ambos desenvolveram pesquisas relacionadas à memória. Ebbinghaus se destacou por ter sido o primeiro autor na psicologia a desenvolver testes de inteligência. Nos Estados Unidos, William James e seus discípulos de Harvard adotaram uma abordagem mais teórica e filosófica, utilizando a metodologia de pesquisa científica social, sendo ele o autor considerado como o “pai da psicologia”, publicando, em 1890, o livro Os princípios da psicologia, no qual pondera sobre as emoções e suas raízes psicofisiológicas. James define a Psicologia como a descrição e explicação dos estados de consciência enquanto estados de consciência. Por estados de consciência entende James as sensações, os desejos, as emoções, os conhecimentos, os raciocínios, etc. Sua explicação compreende o estudo e a determinação científica de suas causas, condições e consequências imediatas (PENNA, 1991, p. 141). O quadro a seguir apresenta um paralelo da história da humanidade com a história da psicologia, destacando-se as principais contribuições de cada 14 período e as grandes personalidades que impactaram direta ou indiretamente para a evolução da psicologia como ciência. Evolução histórica da psicologia Fonte: elaborado pelo autor (2019) Ví deo Para que você possa compreender melhor a origem dessa ciência e seus dois grandes caminhos evolutivos a partir da filosofia e da fisiologia, assista à mídia A história da psicologia sob dois olhares: https://www.youtube.com/watch?v=mVtT6 QBDMxc 1.1.1 Abordagem e teorias psicológicas A partir da abordagem científica, surgiram vários olhares sobre o estudo da psicologia em diferentes países, influenciando o surgimento de escolas e teorias psicológicas, as quais vamos apresentar algumas. Ainda é importante ressaltar que as ideias psicológicas foram sendo gestadas em diferentes países da Europa e nos Estados Unidos, assumindo a influência da composição de forças do tecido social e cultural do país de origem e marcadas pela esperança na ciência como 15 conhecimento, que solucionaria os problemas humanos. A definição do objeto de estudo da Psicologia sofreu alterações ao longo do tempo, o que é ressaltado por Gomes (2005, p.107) ao considerar que “da alma substancial da Psicologia racional ao ‘eu’ fenomenal da Psicologia empírica o progresso em direção do psiquismo foi enorme, pois o objeto da Psicologia desceu do céu transcendente da metafísica para o solo fenomenal da ciência” (BARRETO, MORATO, 2008, p. 148). A dispersão existe em diferentes teorias psicológicas e reside no fato de que as concepções epistemológicas e metodológicas de pesquisa científica foram se constituindo muitas vezes uma em oposição à outra. Surgem então duas grandes escolas com pensamentos diferentes: estruturalismo e o funcionalismo, as quais irão influenciar o desenvolvimento de teorias distintas. Vocabula rio Estruturalismo: é uma abordagem de pensamento compartilhada pela psicologia, filosofia, antropologia, sociologia e linguística, que vê a sociedade e sua cultura formadas por estruturas sob as quais baseamos nossos costumes, língua, comportamento, economia, entre outros fatores. Funcionalismo: foi o primeiro sistema de psicologia exclusivamente americano. Enfatiza os atos ou processos mentais como objeto de estudo da psicologia. Sustenta que a mente deve ser estudada em função de sua utilidade para o organismo, tendo em conta a adaptação ao seu meio. Wundt e Tichener foram os principais cientistas do estruturalismo, enquanto James, Dewey, Angell, Yerkes, Ribot, Janet e Binet despontam no funcionalismo em diferentes países, preocupados com a aplicação da psicologia, das funções psíquicas. O surgimento do condutivismo ou behaviorismo, com John Watson (1878-1958), nos Estados Unidos, foi influenciado pela teoria evolutiva de Darwin, pela teoria objetiva e mecanicista da aprendizagem de Edward Lee Thorndike (1874-1949) e pelas técnicas de condicionamento (reflexos condicionados) deIvan Petrovich Pavlov (1849-1936). Em relativa oposição à atitude funcionalista em Psicologia, marcou uma transição importante na Psicologia americana: mudança do foco de estudo da consciência para o comportamento mesmo e suas interações com o ambiente, na direção da adaptação à normalidade (BARRETO, MORATO, 2008, p. 153). 16 A teoria behaviorista de Watson marcou, portanto, o final do introspeccionismo e o início de uma psicologia voltada à predição e ao controle do comportamento humano, redefinindo-a como “ciência do comportamento”. Skinner é considerado um dos principais autores dessa teoria, sendo que seus estudos enfatizaram o comportamento humano operante, passível de observação, controle e manipulação por meio do uso adequado de reforçamento positivo. Por meio da manipulação de estímulos positivos e negativos é possível controlar o comportamento humano, sendo este procedimento denominado de condicionamento operante. Essa teoria reúne conceitos como reforço (positivo e negativo), punição, generalização e discriminação, todos estes aplicando-se ao processo de aprendizagem de comportamentos em contextos como escolas e trabalho. Na Alemanha, influenciada pelas ideias originais do fundador da psicologia, Wundt, surge a teoria da forma ou Gestalt. Utilizando-se de método científico da fenomenologia, centrou os estudos na compreensão do processo de percepção, essencial para a aprendizagem e para o comportamento humano. Essa teoria reúne diversos conceitos importantes como as leis, princípios, figura e fundo. O comportamento humano é influenciado pela percepção que cada indivíduo tem de si mesmo, dos objetos, conceitos, pessoas e mundo. A aplicação dos conceitos está presente em todos os contextos, pois a percepção se configura com um dos principais processos psíquicos para todas as demais funções. A seguir, uma clássica imagem para explicar os conceitos dessa teoria: Figura e fundo: o vaso ou duas pessoas? Fonte: https://www.whatpsychologyis.com/wp-content/uploads/2016/02/Gestalt-Psychol ogy.jpg 17 Pela imagem acima, pode-se compreender que a percepção da figura do vaso ocorre quando a parte preta é percebida como fundo, sendo que ao invertermos, colocando a parte branca como fundo, emerge a figura de duas pessoas em perfil, frente a frente. Isso se aplica ao nosso dia a dia, pois, se duas pessoas colocarem o fundo de forma diferente, cada uma irá perceber uma figura, sendo que cada uma irá defender o seu ponto de vista, ou seja, de que a sua visão é a correta. Para Refletir Será que você já vivenciou uma situação de conflito resultante de percepções diferentes? Será que ambos não estavam certos, conforme a Gestalt individual? A psicanálise surge contemporânea às teorias behaviorista e gestáltica, contudo com um objeto de estudo principal que não pode ser pesquisado por meio da metodologia científica experimental de laboratório, o inconsciente humano. Seu fundador, Sigmund Freud, por ser médico fisiologista, buscou compreender o funcionamento da psique em relação aos fenômenos “esquecidos”, mas que influenciam fortemente o comportamento. A psicanálise desenvolvida por Freud é uma teoria, um método de investigação do inconsciente e um processo de análise do comportamento humano, em especial, o patológico. Sua teoria reúne um conjunto de conceitos importantes, muitas vezes difundido de forma equivocada, o que dificulta a compreensão e aceitação de muitos deles. Dentre os principais conceitos estão: a estrutura da personalidade (id, ego e superego), qualidade psíquica (consciente, pré- consciente e inconsciente), mecanismos de defesa, conflitos manifestos e latentes, entre outros. Saiba Mais Quer conhecer um pouco melhor a psicanálise? Acesse: https://prezi.com/fgpc4p8odtwt/a-psicanalise-como-um-sistema- de-personalidade/ 18 Analogia do iceberg e qualidades psíquicas Fonte: http://www.claudetedemorais.com.br/arquivos/thumbnails/400-300/servico/psica nalise.jpg A analogia do iceberg para explicar o inconsciente proposto por Fechener impactou as ideias de Freud. O iceberg é constituído da mesma matéria, mas ele não está visível totalmente, há aspectos que jamais ou dificilmente se tornarão acessíveis. Da mesma forma ocorre com o conteúdo psíquico, que ora pode estar consciente, ou pré-consciente e depois tornar-se inconsciente. Contudo, para acessar o conteúdo inconsciente é necessário um tempo e um “modo” especial, sendo que mesmo assim haverá aspectos que não serão alcançáveis. 1.1.2 Psicologia como estudo das relações humanas As relações humanas ocorrem quando há o encontro de duas ou mais pessoas, sendo necessário o contato, troca de ideias, informações, relacionamento, entre outros. Este encontro poderá ocorrer em qualquer ambiente envolvendo pessoas da mesma idade ou faixas etárias diferentes. Considerando que cada pessoa traz consigo uma bagagem de conhecimentos, pensamentos, convicções, crenças, valores, afetividade, preferências e não preferências, é possível que desta interação resulte a formação de sentimentos positivos, conduzindo à construção de laços afetivos e de amizade, como também poderá ocorrer divergências, do menor ao maior grau. Diante das divergências, poderá ocorrer um relacionamento com respeito e distanciamento, 19 apenas para as interações inevitáveis, como também poderão surgir conflitos latentes ou manifestos. A psicologia das relações humanas envolve o estudo e a compreensão dos fenômenos psíquicos presentes nas relações sociais: comunicação, mediação de conflitos, criatividade, liderança, atitudes (iniciativa, proatividade, empatia, respeito, entre outras), inteligência emocional, inteligência intra e interpessoal. O estudo deste tema é de fundamental importância para compreender como as pessoas são afetadas e afetam os outros nas múltiplas e variadas relações humanas, entendendo o que pode-se fazer para contribuir para a construção de um relacionamento harmonioso nos contextos social, familiar, escolar, de trabalho e demais locais. 1.1.3 Psicologia e profissão A primeira instituição a formar psicólogos foi a Universidade de Leipzig, na Alemanha, onde Wundt criou o primeiro laboratório de psicologia experimental. A profissão de psicólogo em nosso país foi regulamentada no dia 27 de agosto de 1962, tornando-se esta data o dia comemorativo desse profissional. Para Bernardes (2004 apud Baptista, 2010), o contexto social decorrente da necessidade de organização do trabalho a partir do processo de industrialização iniciado na década de 1930, bem como a crescente urbanização das cidades, demandou práticas psicológicas nas escolas e nas clínicas infantis. O processo de regulamentação da profissão teve início na década de 1950, portanto levou um pouco mais de 10 anos, o que comparado com outras profissões foi um tempo relativamente curto, porém sinuoso, com idas e vindas, até a aprovação final da lei. Contudo, somente em 1975, treze anos depois da promulgação da lei, que foram criados os conselhos de psicologia e o Código de Ética. O final da década de 1950 caracterizou-se pela disseminação das concepções de reforma de base: agrária, política, universitária e jurídica, sendo elas o pano de fundo para o desenvolvimento e regulamentação da psicologia como profissão (BAPTISTA, 2010). 20 Durante a década de 1950, alguns profissionais que atuavam como psicologistas ou técnicos em psicologia foram visitar universidades e instituições de ensino de psicologia no exterior e, ao retornarem, escreveram artigos sobre a necessidade de desvincular dos cursos de filosofia e pedagogia o processo para a formação do psicólogo. Nesse período, surgiram alguns cursos de especialização em psicologia focados em determinados campos de atuação profissional: clínica e escolar. O I CongressoBrasileiro de Psicologia foi realizado em 1953, na cidade de Curitiba, sendo um marco devido aos debates suscitados em prol à regulamentação da profissão. Muitos diálogos se sucederam, uns defendendo a ideia do curso de psicologia estar ligado à faculdade de filosofia, evitando de ele estar vinculado ou subordinado ao curso de medicina. Os primeiros cursos de psicologia tinham a opção de formar bacharéis para atuarem como auxiliares em pesquisa científica de psicologia. Com mais um ano de licença, poderiam atuar como professores de psicologia e acrescentando mais um ano teriam habilitação para atuarem como psicologistas em escolas e empresas. Para a formação clínica era necessário ter atividades supervisionadas em instituições com atendimento clínico público. Atualmente, o curso de formação em psicologia tem duração total de 5 anos, sendo necessária a realização de estágio supervisionado curricular no mínimo em dois campos de atuação profissional. Reconhece a Avaliação Psicológica como especialidade da Psicologia e altera a Resolução CFP nº 13, de 14 de setembro de 2007, que institui a Consolidação das Resoluções relativas ao Título Profissional de Especialista em Psicologia. Art. 1º Incluir a Avaliação Psicológica no rol das especialidades de que trata o artigo 3º da Resolução CFP nº 13, de 2007, que passa a ter a seguinte redação: Art. 3º As especialidades a serem concedidas são as seguintes: I - Psicologia Escolar/Educacional; II - Psicologia Organizacional e do Trabalho; III - Psicologia de Trânsito; IV - Psicologia Jurídica; V - Psicologia do Esporte; VI - Psicologia Clínica; VII - Psicologia Hospitalar; VIII - Psicopedagogia; IX - Psicomotricidade; X - Psicologia Social; XI - Neuropsicologia; XII - Psicologia em Saúde; XIII - Avaliação Psicológica. (RESOLUÇÃO Nº 18, DE 05 DE SETEMBRO DE 2019) 21 O psicólogo em seu processo de formação se constituiu de um olhar clínico, mesmo que venha a atuar em campos diferentes da psicologia clínica, tendo sempre como principais objetos de estudo a mente e o comportamento humano. Saiba Mais Conheça a legislação que regula a profissão de psicólogo: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l4119.htm 1.2 Psicologia aplicada às organizações O termo “organização” possui mais de um significado e será adotado no decorrer da disciplina o contexto do trabalho e das empresas. Nesta perspectiva, a organização se refere a um conjunto de pessoas, recursos físicos, financeiros, equipamentos e máquinas orientados a um objetivo comum. O termo é utilizado para representar a somatória dos grupos envolvidos dentro da empresa, a forma como os trabalhos estão estruturados e distribuídos para os diversos níveis e funções hierárquicas. A psicologia aplicada às organizações estuda o comportamento humano, em diferentes níveis, em seu contexto de trabalho, as forças propulsoras e restritivas, as relações interpessoais, a liderança e seus estilos, o processo de formação de grupos, os conflitos, a comunicação e todos os aspectos relacionados ao comportamento individual e grupal nas empresas. Além disso, a psicologia tem como campo de atuação profissional o contexto organizacional, colaborando para os processos de gestão de pessoas, como recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, avaliação de potencial e de desempenho humano, atuando em diversos sistemas de Recursos Humanos. 22 Para compreender melhor a contribuição da psicologia aplicada às organizações, te convido a conhecer a origem da Psicologia Organizacional e o campo de intervenção no mundo do trabalho. 1.2.1 Origem da psicologia organizacional O campo da psicologia organizacional possui duas divisões principais: a industrial (de recursos humanos) e a organizacional. Apesar desses dois conteúdos se sobreporem e não poderem ser facilmente separados, tradicionalmente eles têm origens diferentes. Foi nos Estados Unidos que este campo teve início em termos de pesquisas e atuação profissional. A origem da psicologia organizacional e do trabalho é antiga, resultante principalmente das demandas surgidas a partir das revoluções industriais no século XIX. Nessa fase inicial, a psicologia foi denominada de psicologia industrial, tendo como principal foco de estudo as questões do trabalho relacionadas à indústria, à produção e ao departamento de recursos humanos. Os conhecimentos e práticas da psicometria foram empregados para identificar as habilidades, interesses e aptidões dos candidatos a uma determinada função dentro da organização, ou seja, aplicados ao processo seletivo. Também foram utilizados internamente para processos de mudança de função e promoção, associados a uma política de carreira e tática motivacional para os trabalhadores. Assim, esta parte da psicologia, a industrial, deu início a este campo de atuação, visando gerenciar a eficácia organizacional por meio do uso adequado dos recursos humanos. Ela se preocupa com a questão de eficiência no projeto de tarefas, seleção e treinamento de funcionários e avaliação de desempenho (SPECTOR, 2005). Há um consenso (Braverman, 1987; Malvezzi, 1999; Spink,1996; Zanelli & Bastos, 2004) de que o primeiro psicólogo a escrever sistematicamente sobre o tema trabalho foi Hugo Münstenberg. Seu livro intitulado "Psicologia e eficiência industrial" costuma ser considerado "o primeiro esboço sistemático da Psicologia Industrial" (Braverman, 1987, p.126), tendo sido publicado em 1912 (BERNARDO et al, 2017, p.1). Para Münstenberg (1912), era necessário desenvolver pesquisas científicas para dar à psicologia um novo campo de aplicabilidade dos 23 conhecimentos: as organizações. Ele considerava que o serviço de seleção representava um marco positivo tanto para a empresa quanto para o trabalhador, visto que por meio deste processo seria possível identificar as habilidades e competências melhores do indivíduo, contribuindo para a sua satisfação no trabalho e melhor produtividade, o que agradaria a empresa. Segundo Zanelli, Borges-andrade & Bastos (2004, p 468), “as investigações de Elton Mayo na Western Eletric Company marcaram as décadas de 1920 e 1930, e revelaram a importância de considerar fatores sociais ligados às situações de trabalho”. Assim, a parte organizacional da psicologia se desenvolveu a partir do movimento das relações humanas nas empresas, como exemplo deste estudo em Hawthorne por Mayo, que perdurou mais de 10 anos de pesquisa. Até quase o final do século XIX, a economia brasileira era essencialmente escravocrata. Com o aumento do fluxo migratório e a chegada dos imigrantes europeus, deu-se início ao cultivo do café foram incrementadas as manufaturas e pequenos negócios, sobretudo nas regiões sul e sudeste (ZANELLI, BORGES-ANDRADE & BASTOS, 2004, p. 473). No Brasil, Visconde de Mauá, devido à diversidade em seus negócios, contribuiu para atrair a atenção de estrangeiros para investir em nosso país, no início do século XX. Antunes (1998, apud ZANELLI, BORGES-ANDRADE & BASTOS, 2004 p. 473) coloca que psicologia aplicada ao trabalho surge nesta época, ligada às tentativas de racionalização e à procura de um caráter científico e inovador no controle dos processos de produção, exigindo assim maior eficiência econômica sob o argumento de melhoria das condições de trabalho dos operários. A psicologia organizacional tem seu foco no trabalhador, como indivíduo. Ela se preocupa em entender e compreender o comportamento individual e aumentar o bem-estar dos colaboradores no ambiente de trabalho. Os aspectos organizacionais abordam o comportamento, as atitudes dos funcionários, o estresse no trabalho e práticas de supervisão, além de outros comportamentos sociais ligados às questões do trabalho (SPECTOR, 2005). 24 1.2.2 Conhecimento do campo de intervenções do psicólogoorganizacional no mundo do trabalho Este campo de atuação não se restringe ao ser humano inserido no contexto organizacional, pois envolve também estudos e pesquisas sobre aspectos anteriores ao ingresso da pessoa no trabalho, voltando-se às questões de gestão de carreira e de orientação vocacional. Também há estudos e pesquisas relacionados aos sentimentos e doenças adquiridas quando a pessoa se encontra afastada do trabalho, quer seja por motivos de doenças ocupacionais ou não, quer seja por desligamento da empresa (independente da iniciativa ter sido ou não do trabalhador) ou os impactos da aposentadoria. Dessa forma, pode-se afirmar que o psicólogo organizacional tem muitas opções de intervenção e atuação profissional no mundo do trabalho, pois pode atuar inserido nas organizações, mais especificamente na área de gestão de pessoas (antigo recursos humanos), como pode atuar prestando serviços de assessoria e consultoria tanto à pessoa jurídica (organizações) como à pessoa física. O campo de intervenção compreende um leque diversificado de ações relacionadas desde à seleção, avaliação, treinamento e desenvolvimento de pessoas, como o repensar à carreira em processos de recolocação profissional, transição de carreira e aposentadoria, assim como na prevenção e tratamento das doenças ocupacionais ou derivadas do trabalho, tais como síndrome de Burnout, depressão, entre outras. Atualmente vive-se uma sobreposição da 3ª Revolução Industrial com a 4ª Revolução Industrial, nelas as tecnologias, em especial a nanotecnologia, a robótica e a necessidade de repensar as relações tradicionais do trabalho, apontam para uma necessidade de estudos e um novo posicionamento da ciência da psicologia frente às demandas do trabalho. Conclusão da aula 1 Chegamos ao final da nossa primeira aula e vamos relembrar as principais aprendizagens dela. Iniciou-se refletindo sobre o significado da palavra 25 psicologia, sua origem epistemológica. Assim, você aprendeu que o termo “psicologia” vem do grego e significa “estudo da alma”, mas que com a evolução histórica foi substituído para “ciência que estuda o comportamento e a mente”. Entendeu que a psicologia teve sua origem na filosofia especulativa e que a partir do Renascimento foi vinculando-se mais à fisiologia e depois tornou-se ciência. Dois grandes nomes se destacam para a psicologia científica: Wilhelm Wundt, o qual fundou o primeiro laboratório de psicologia na Alemannha, em Leipzig, e a primeira faculdade sistemática de ensino desta ciência, e, William James, considerado o pai da psicologia por meio de seus estudos e publicação acerca dos processos psicofisiológicos da emoção, sentimentos e percepção. Viu ainda sobre a psicologia como ciência e profissão, destacando o campo de atuação do psicólogo no contexto organizacional, por ser o foco da nossa disciplina. Participe das atividades de aprendizagem e avaliação para a fixação das informações e construção do seu conhecimento. Atividade de Aprendizagem Convido você a fazer uma pesquisa sobre algum marco histórico no Brasil que tenha contribuído para a consolidação do campo da psicologia organizacional. Pode ser até alguma lei que esteja ou não em vigor. Aula 2 – Comportamento organizacional e trabalho: significado e ressignificado Apresentação da aula 2 Olá! Iniciaremos esta aula refletindo sobre o significado do trabalho para o homem e ressignificando-o para o mundo contemporâneo. Naturalmente, tanto o trabalho quanto o trabalhador mudaram ao longo do tempo, mas será que os princípios do comportamento organizacional também mudaram? Vamos 26 entender os três níveis do comportamento organizacional e sua relação com o trabalho do homem. Então, vamos ler e aprender mais sobre estes temas! 2.1 O significado e ressignificado do trabalho para o homem A palavra “trabalho” tem origem no latim, deriva do termo tripalium, que era um instrumento constituído de três (tri) pedaços de madeira, pau (palium) utilizado para triturar o trigo na lavoura. Contudo, passou a ser utilizado como uma forma de tortura: tripaliare era o ato de martirizar a pessoa que não trabalhava direito. A pessoa era amarrada no tripalium grande e torturada de diversas formas. Tripalium Fonte: http://artecult.com/wp-content/uploads/2016/03/tripalium1.jpg Como pôde-se observar, o tripalium era um instrumento de tortura muito utilizado pelos romanos no século VI, e que lembra a cruz ou a crucificação, que era uma forma de condenação romana às pessoas que cometiam erros graves, era a mais severa punição. Portanto, a palavra “trabalho” traz em sua raiz epistemológica um significado triste, associado à dor e à tortura, influenciando muitas pessoas a perceberem o seu trabalho como algo difícil, castigante e torturante. Ao se analisar o fato histórico de que durante a Idade Média o trabalho na lavoura e os serviços pesados eram realizados pelos servos e escravos, pode- se constatar que havia uma percepção de que esses serviços eram negativos, 27 pesados e punitivos, os quais não eram compatíveis com a realidade das pessoas favorecidas, do ponto de vista econômico daquela época. Saiba Mais Você pode conhecer mais alguns aspectos curiosos sobre a origem do trabalho lendo: http://www.ufrgs.br/e-psico/subjetivac ao/trabalho/etim_trab.htm# Em decorrência dessas questões históricas, a palavra “trabalho” assumiu um significado negativo que perdura até os dias atuais para algumas pessoas. Contudo, há uma segunda visão sobre esse termo, sendo esta positiva, pois associa o trabalho à [...] aplicação das capacidades humanas para propiciar o domínio da natureza, sendo responsável pela própria condição humana. Acompanha a noção de empenho, esforço para atingir determinado objetivo. Trabalhar algo, significa também fazer com cuidado, esmerar- se na execução de uma ação, de uma tarefa (BASTOS, PINHO & COSTA, 1995, p. 25). Sob essa visão, pode-se identificar a própria história de evolução do ser humano, por meio da qual ele foi descobrindo as formas de transformação de recursos naturais em ferramentas que contribuíram para a caça, pesca e até como armas, visando melhorar a sua condição de vida. Instrumentos do período neolítico Fonte: https://www.clickescolar.com.br/wp-content/uploads/2016/10/idade-da-pedra-pol ida.jpg 28 Existem, portanto, duas vertentes históricas distintas em relação à origem e significado do trabalho: a negativa, como forma de tortura, e a positiva, como forma de transformação e melhoria da condição de vida. Para Refletir E você, com qual visão se identifica? Para você o trabalho representa uma forma de tortura, um castigo, algo que gostaria de evitar ou o trabalho é uma oportunidade para transformação da sua realidade atual, melhorando a sua condição de vida e de sua família? No transcorrer da evolução histórica do homem e do trabalho, diferentes visões acerca deles foram construídas. Sem dúvida os autores concordam entre si em relação à dimensão social do trabalho, visto que ele tem uma finalidade para atender a necessidade de outro ser, direta ou indiretamente, sendo o trabalho realizado individualmente ou em grupo. O trabalho nos identifica e nos diferencia dos animais irracionais. Para Marx (1983), é justamente essa capacidade que o homem tem de transmitir significado à natureza por meio de uma atividade planejada, consciente e que envolve uma dupla transformação entre o homem e a natureza, que diferencia o trabalho do homem de qualquer outro animal. Para o autor, é pelo trabalho que o homem transforma a si e à natureza, e, ao transformá-la de acordo com suas necessidades, imprime em tudo que o cerca a marca de sua homonidade (NEVES et al, 2018, p. 319). Já os autores Sachuk e Araújo (2007 apud NEVES et al, 2018,p. 320) consideram que o trabalho e a evolução do homem são indissociáveis, que a própria sobrevivência individual e coletiva do homem girou em torno do trabalho, como fonte de transformação da natureza em prol de suas múltiplas necessidades. Os autores refletem sobre a dimensão política e histórica do trabalho como elemento estruturante e organizador da vida humana. Bastos, Pinho & Costa (1995) também apontam para dois eixos avaliativos em relação ao termo trabalho, implicando em significados distintos conforme o eixo escolhido pelo indivíduo. Para os autores, o primeiro eixo está relacionado à origem etimológica da palavra trabalho, a qual reforça a ideia de 29 algo ruim, difícil, árduo, vinculado à escravidão e à punição. Já o segundo eixo está associado a uma valorização positiva da capacidade humana para propiciar o domínio e transformação da natureza em atendimento à própria condição do ser humano. Na década de 1980, houve uma pesquisa liderada pela Meaning of Working lntemational Research Team (1987 apud BASTOS, PINHO & COSTA, 1995, p. 22), que estudou o significado do trabalho em oito países dentro de uma perspectiva psicológica e cognitivista, para entender a percepção e o impacto que o trabalho tem sobre os trabalhadores, qual o sentido e seu significado sobre suas vidas e como este significado foi construído. Segundo esses pesquisadores cujo grupo passou a ser identificado conforme a publicação dos resultados: MOW, o significado do trabalho é construído na mente das pessoas a partir de três grandes domínios: a centralidade do trabalho, os resultados e objetivos valorizados do trabalho e as normas societais do trabalho. Em relação à centralidade do trabalho, esta depende do valor e importância que o serviço tem na vida do indivíduo, quer seja do ponto de vista econômico-financeiro, afetivo, social e outros valores. O componente valorativo do trabalho possui duas propriedades, conforme a pesquisa realizada: • Identificação: resultante de processos cognitivos que envolvem a comparação do trabalho como atividade com a percepção do self, podendo o trabalho ser central ou periférico na definição da sua autoimagem; • Envolvimento ou comprometimento: implica respostas comportamentais e afetivas ao trabalho, indicando o grau em que o trabalho é considerado, pelo indivíduo, como parte de sua própria vida. Esses dois componentes são vistos como mutuamente reforçadores (BASTOS, PINHO & COSTA, 1995, p. 23). Os resultados e objetivos valorizados do trabalho respondem, segundo dados do MOW (1987 apud BASTOS, PINHO & COSTA, 1995), à pergunta sobre o porquê o indivíduo trabalha, ou seja, quais os componentes motivacionais que o levam a optar por um trabalho em detrimento a outro. No estudo desenvolvido pelo MOW, os produtos valorizados do trabalho envolvem as seguintes funções abrangentes, expressivas e instrumentais, que o trabalho pode desempenhar para o indivíduo, apoiando-se largamente na proposta de Kaplan e Tausky (1974): a. o trabalho que permite a obtenção de status e prestígio; b. a função econômica, obtenção dos rendimentos necessários; c. a função de manter o indivíduo ocupado, em atividade; d. a função de contato 30 social, de permitir estabelecer relações interpessoais; e. a função de se sentir fazendo algo útil à sociedade; e f. a função auto expressiva ou intrínseca, quando se valoriza o trabalho interessante e que permite a autorrealização (BASTOS, PINHO & COSTA, 1995, p. 23). As normas societais dizem respeito às normas em relação ao trabalho e que são socialmente aceitas pelos indivíduos, pois viabilizam e mantêm a coesão dos grupos no ambiente de trabalho. A figura a seguir apresenta os resultados dos pesquisadores da MOW, sendo que é possível perceber que a família aparece como o principal valor e o trabalho como segundo valor mais importante para as pessoas nos diferentes países pesquisados, tendo algumas diferenças em relação à importância atribuída para à religião, lazer e comunidade. Quando os resultados da Bahia são comparados aos de outros países, indicam que o padrão encontrado na Bahia aproxima-se daquele observado nas sociedades ocidentais, diferenciando-se do Japão, onde o peso do trabalho é mais elevado, superando inclusive a esfera família. (BASTOS, PINHO & COSTA, 1995, p. 29) Resultado da pesquisa MOW (1987) Fonte: http://www.scielo.br/pdf/rae/v35n6/a04v35n6.pdf Certamente que a importância atribuída ao trabalho e à família depende da faixa etária, do nível de escolaridade, assim como o nível socioeconômico e financeiro da pessoa. 31 Naturalmente, são necessárias novas pesquisas mais abrangentes para a compreensão do significado do trabalho para as pessoas nas diferentes regiões do nosso país. As ideologias social, política e econômica impactam também no significado que o trabalho assume sob a ótica dos trabalhadores e dos teóricos. Por exemplo, para Marx, o trabalho pode ser percebido como positivo se identificarmos a capacidade humana de se transformar e a natureza para o seu bem, mas para ele o trabalho pode ser alienante dentro de um sistema capitalista. No entanto, se questionarmos as pessoas no sistema capitalista, talvez algumas não tenham a mesma percepção de alienação atribuída ao trabalho por esse autor. O cenário atual é de intensa competitividade entre trabalhadores e empresas para a sua sobrevivência no mercado. Aliado a este fator, tem-se a contribuição e impacto da tecnologia, que requer novas habilidades e conhecimentos, como também pode vir a substituir a força humana. Nesse contexto, de forma compatível com o ideário neoliberal, a ética individualista e a competitividade são intensificadas no mundo do trabalho. Os trabalhadores submetidos à ameaça constante da demissão e a insegurança em relação à permanência no emprego concorrem entre si para que possam “garantir” sua permanência nele. Assim, o desejo de vencer e obter sucesso se torna uma “obsessão”, requisitando do trabalhador uma dedicação extra sem limites, que se estende para além dos muros das organizações (ANTUNES, 2000 apud NEVES et al, 2018, p. 320) Portanto, o significado do trabalho depende do contexto histórico, do momento socioeconômico e político, sendo que cada indivíduo irá ressignificar o trabalho conforme seu quadro de valores, assim como seu contexto pessoal. 2.1.1 Constituição social do trabalho O trabalho assume diferentes significados e funções de acordo com a sociedade em um determinado momento histórico e cultural, associado a própria evolução do homem e às transformações econômicas. Ao se voltar o olhar para o homem primitivo, tem-se o trabalho diretamente relacionado à sobrevivência individual e coletiva, vinculando-se à pesca, caça e lavoura, com esforço físico intenso e jornada de trabalho regida pelo sol; 32 enquanto houvesse a luz do sol, as pessoas trabalhavam. Nessa época, o trabalho braçal era realizado predominantemente pelos homens, enquanto as mulheres se ocupavam de serviços domésticos e na criação dos filhos, não sendo reconhecidas como trabalho essas atividades. Os grupos sociais foram se organizando em tribos, que à medida que se juntavam se constituíam as vilas e depois as cidades, povos e países. A necessidade de um grupo dominar o outro resultou em lutas, guerras e revoluções. A sociedade se estratificava, se organizava e cada indivíduo, conforme sua classe, ocupava uma função e um tipo de trabalho. Assim, foram surgindo novas formas de trabalho além da pesca, caça e lavoura, aparecendo os políticos, os governantes, os fiscais de impostos, os artesãos, os soldados, os pajens, os filósofos, o clero, o pedagogo (servo que conduzia as crianças para receberem educação), os curandeiros, as parteiras e assim por diante. Evidentemente que as formas de trabalho disponíveis na Pré-história,Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea são bem distintas, sendo que a diversificação do trabalho em cada época apresenta significados muito diferentes. O trabalho foi se transformando, ao longo da história, de atividades manuais e de força física para uma mescla de tarefas com esforço físico e outras com esforço mental. As quatro revoluções industriais impactaram neste processo de mudança na forma de se trabalhar, sendo que a tecnologia exerceu grande influência neste processo de transformação social do trabalho. A automação, a informatização, o processo de gestão, a inovação tecnológica, entre outros, contribuíram para que novas formas de serviço fossem criadas. Da Antiguidade até esse período ocorreram as principais mudanças. O trabalho, que durante muitos anos esteve delimitado por um espaço físico, atualmente ganha liberdade no espaço cibernético, com o home office, trabalho autônomo, com o empreendedorismo e com novo sentido e significado atribuído a eles pelas novas gerações. Essas mudanças nas formas de trabalho e emprego trazem implicações objetivas e subjetivas, já que a noção de trabalho envolve tanto as condições socioeconômicas nas quais essa atividade humana 33 desenvolve-se como no significado, no sentido e nos valores socioculturais dessa experiência. As condições de trabalho são relativas às circunstâncias nas quais ele ocorre, já os significados remetem a diferentes valores e concepções sobre trabalho (COUTINHO, 2009 apud NEVES et al, 2018, p. 321) A transformação social do trabalho requer novos paradigmas, novas formas de gestão, de recrutamento e seleção, de desenvolvimento de pessoas e compreensão dos fatores psicológicos e contingenciais que permeiam o sentido e o significado do trabalho para os indivíduos e organizações. Curiosidade Você sabia que a geração Z e a nova geração denominada de “millennials” possuem um posicionamento positivo e negativo bem consolidado e que mostra um sentido e significado diferente para o trabalho, impactando fortemente nas formas de gestão das empresas? Este novo olhar, no qual o trabalho tem uma centralidade reduzida, faz com que as empresas tenham que repensar as formas de atração e retenção de pessoas? Qual será o futuro das organizações? Saiba Mais Para entender o que pensam os “millennials” e a geração Z em relação ao trabalho, leia as reportagens nos links: https://www.consumidormoderno.com.br/2019/05/31/millenia ls-z-menos-otimistas/ https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/human-capital/articles /millennials-survey.html# 2.2 O comportamento organizacional do trabalho para o homem Para compreender o comportamento organizacional, é necessário, antes, entender o contexto em que ele se insere e como que as organizações passaram a se preocupar com o fator humano para o sucesso delas. 34 Robbins (2002, p. 2) define organização como “uma unidade social conscientemente coordenada, composta por duas ou mais pessoas, que funciona de maneira relativamente contínua, para atingir um objetivo comum”. Segundo essa definição, pode-se considerar como organizações as empresas de serviço, as indústrias, instituições de ensino, hospitais, os órgãos públicos em suas diversas instâncias e níveis, lojas, dentre muitos tipos de negócio. As organizações podem ser nacionais, multinacionais, capital misto e ter portes diferentes e finalidades diversas. Dentro das organizações há algumas pessoas que atuam como executivos, os quais, conforme Robbins (2002, p. 2), “atingem seus objetivos por meio do trabalho de outras pessoas. Eles tomam decisões, alocam recursos e dirigem atividades de outros com o intuito de atingir determinados objetivos”. Dentro deste contexto, pode-se observar que para atingir os objetivos organizacionais tanto os executivos como as demais pessoas vão aplicar suas habilidades técnicas e interpessoais. Algumas empresas utilizam o termo “administradores” ao invés de “executivos”. Diante do mundo empresarial atual, a vantagem competitiva pode fazer a diferença entre a vida e a morte de uma organização. Gerir um negócio ao sucesso e à sua sustentabilidade, portanto, requer a identificação de uma ou mais vantagens competitivas. Ao se analisar a história de sucesso de grandes organizações, como, por exemplo, a Harley-Davidson, muitas pessoas não imaginariam que ela já esteve à beira da falência em 1985. Como que essa empresa deu a volta por cima? A Harley-Davidson identificou a necessidade de melhorar a produtividade, mas ela estava diretamente relacionada ao nível de satisfação e motivação de seus trabalhadores. Buscou soluções focando no comportamento humano e não na tecnologia aplicada à produtividade. Esse caso é apenas mais um que ilustra a importância do fator humano. Wagner III & Hollenbeck (2000, p. 6) apontam que o “comportamento organizacional é um campo de estudo voltado a prever, explicar, compreender e modificar o comportamento humano no contexto das empresas”. Os autores ainda analisam que há três considerações importantes que precisam ser ponderadas: 35 ➢ O comportamento organizacional, embora tenha o foco em comportamentos observáveis como conversar com colegas, usar máquinas e equipamentos, preparar relatórios, atender clientes, também lida com as ações internas, tais como pensar, sentir, perceber e decidir. As ações internas acompanham as ações externas; ➢ Estuda o comportamento tanto do indivíduo como deles em unidades sociais maiores; ➢ Analisa o “comportamento” dessas unidades sociais maiores (os grupos) por si, pois eles são muito mais que a soma dos comportamentos dos indivíduos que o compõem, sendo analisado como resultante de processos grupais ou organizacionais. O estudo do comportamento organizacional se apoia na contribuição de diversas ciências sociais aplicadas, como: psicologia, sociologia, antropologia e ciências políticas. O comportamento organizacional é um campo de estudos que investiga o impacto que indivíduos, grupos e estrutura têm sobre o comportamento dentro das organizações, com o propósito de utilizar esse conhecimento para promover a melhoria da eficácia organizacional. (ROBBINS, 2002, p. 6) 2.2.1 Níveis de estudo do comportamento organizacional Considerando a definição apresentada pelos autores Wagner III & Hollenbeck (2000) e Robbins (2002), o estudo do comportamento organizacional se divide na compreensão dele em três níveis distintos: ➢ Indivíduo ou nível micro-organizacional; ➢ Grupo ou nível meso-organizacional; ➢ Estrutura da empresa ou nível macro-organizacional. 2.2.2 Nível micro-organizacional Neste nível, os estudos se concentram na compreensão do comportamento humano do indivíduo, utilizando-se de muitos conhecimentos 36 oriundos da psicologia. O foco de estudo envolve a aprendizagem, a motivação, a percepção, o stress, a personalidade e o desenvolvimento humano. A psicologia organizacional contribui com suas teorias sobre a seleção de pessoas, as atitudes no local de trabalho e avaliação de desempenho. As perguntas de pesquisa neste nível são: [...] quais os efeitos das diferenças de aptidões sobre a produtividade do empregado? Como as pessoas sentem o seu local de trabalho? O que motiva os funcionários a desempenhar seus cargos? Por que alguns sentem-se satisfeitos com seu trabalho enquanto outros julgam- no estressante? (WAGNER III & HOLLENBECK, 2002, p. 7). No nível individual, estudam-se as características biográficas, a personalidade, as emoções, os valores e atitudes, a percepção, a motivação, o processo de tomada de decisão, a aprendizagem e as habilidades de cada pessoa. Como atender a satisfação individual em consonância com as demandas organizacionais? Será possível equilibrar os interesses dos indivíduos com o interesse da organização, respeitando-semutuamente? Essas questões orientam este olhar neste nível do comportamento organizacional, buscando-se a eficácia e o equilíbrio. 2.2.3 Nível meso-organizacional Os estudos neste nível se concentram na compreensão dos comportamentos dos indivíduos inseridos em equipes e grupos no contexto empresarial. As ciências que contribuem para este entendimento são a comunicação, a psicologia social e a sociologia interacionista, cujos estudos dizem respeito à socialização, liderança, confiança, comunicação, dinâmica de grupo, conflitos, tomada de decisão no grupo, equipes de trabalho, poder e política, mudança e estresse. As questões norteadoras são: quais formas de socialização incentivam os que trabalham juntos a cooperar entre si? Qual combinação de aptidões entre os indivíduos de uma equipe melhoram o desempenho do grupo? Como se pode melhorar a produtividade de uma equipe de trabalho? Como se pode determinar qual líder será o mais eficaz para uma equipe? 37 2.2.4 Nível macro-organizacional O comportamento organizacional no nível macro diz respeito aos sistemas e à estrutura da organização, tendo como objeto de estudo as políticas e práticas de recursos humanos, a cultura organizacional, o desenho, estrutura da empresa, o desenho do trabalho e a tecnologia. As ciências que contribuem para o entendimento do nível macro- organizacional são a sociologia, a ciência política, a antropologia e a economia. As questões de investigação neste nível são: de que forma o poder é adquirido e retido? Quais mecanismos podem ser utilizados para coordenar as atividades de trabalho? De que forma os conflitos poderão ser solucionados? Por que há diferenças nas estruturas organizacionais? Como que uma empresa deverá ser estruturada para que possa lidar melhor com as circunstâncias que a rodeiam? Modelo básico de comportamento organizacional Fonte: https://www.researchgate.net/profile/L_Neto/publication/317619868/figure/fig4/A S:505877578489860@1497622021264/Figura-1-Modelo-de-Comportamento-Organiza cional-de-Robbins-Fonte-Adaptada-de-Robbins.png 38 Todos os questionamentos nos diferentes níveis são importantes e se complementam para a busca de uma maior eficácia a partir da otimização do comportamento organizacional. Não é uma tarefa simples, mas sendo abraçada por mais de uma pessoa dentro da mesma organização e ancorada na contribuição das diversas ciências será possível encontrar as respostas adequadas para cada tipo de empresa, pois não há uma fórmula única que se aplica a todo tipo de organização. Conclusão da aula 2 Nesta aula, você aprendeu que a palavra “trabalho” traz em sua origem duas visões, uma negativa e outra positiva. Para algumas pessoas, o trabalho poderá ser percebido como algo árduo, difícil e punitivo, como para outras representa uma oportunidade de transformação pessoal e social por uma melhor condição de vida para si e para a família. A percepção que cada pessoa possui sobre o trabalho irá impactar na forma de como irá exercê-lo e se relacionar com as outras pessoas no ambiente organizacional, influenciando no resultado de sua equipe. A compreensão do comportamento humano nos níveis do indivíduo, do grupo e da estrutura organizacional, contribui muito para a eficácia das empresas e dos indivíduos que nela trabalham. Atividade de Aprendizagem Pesquise a história de alguma organização, (exceto a Harley- Davidson, que já foi abordada nesta aula) que se beneficiou com o estudo do comportamento organizacional. Que nível de comportamento foi pesquisado e aplicado à intervenção? Que tipo de ação você sugeriria para a sua organização atual, ou alguma anterior, ter maior eficácia? 39 Aula 3 – Motivação, atitudes e liderança Apresentação da aula 3 Olá! Está gostando de conhecer estes temas estudados pela psicologia organizacional e que impactam na sua conduta no trabalho? Nesta aula, vamos abordar os fatores influenciadores no comportamento organizacional: motivação, atitudes e liderança! Qual será a sua identificação com estes temas? 3.1 Motivação Desde os primórdios da humanidade, a motivação se fez presente e influenciou a própria evolução do ser humano. Se voltar o olhar para essa época, constata-se que o homem primitivo foi motivado a buscar recursos na natureza para a sua sobrevivência e evolução. Ao descobrir o fogo e como ele podia ser usado para aquecer, identifica-se uma postura motivadora nesta ação. Ví deo Para saber mais, assista ao vídeo O pensamento e a descoberta da ferramenta "2001: Uma Odisseia no Espaço", que que mostra o pensamento e a descoberta da ferramenta pelos hominídeos, disponível no link: https://www.youtube.com/ watch?v=9etefsYMm5o O homem pré-histórico era motivado a fazer novas descobertas, sendo que o interesse por estudar os fatores influenciadores no ser humano surgiu na Grécia Antiga com os filósofos. A palavra em latim movere significa movimento em direção a algo. Considerando que a palavra motivação é um termo composto constituído pela junção de duas palavras: “motivo” mais “ação”, assim ela envolve o movimento que uma pessoa ou animal faz em busca de algo para atender a sua necessidade ou desejo. Sem dúvida este é um dos temas em que há um grande e diversificado campo de pesquisas e especulações. Cabe aos bons profissionais e empresas saberem diferenciar informações científicas e sérias sobre motivação de dados 40 sem consistência técnica. É fácil se intitular expert em motivação, mas será que por trás de muitos discursos não há uma intenção escusa? Diante deste cenário em que há a mistura de literaturas, palestrantes, teóricos e pesquisadores, separar o ‘joio’ do ‘trigo’ não é uma missão fácil, mas não é impossível. E, uma das formas para se realizar esta tarefa é adquirindo informações concisas sobre o tema. É importante diferenciarmos entretenimento de motivação, pois há muitas práticas intituladas como motivacionais, sendo que na realidade são atividades de entretenimento. Vocabula rio Entretenimento: ato ou efeito de entreter-se; o que entretém ou diverte; passatempo. (Dicionário Michaelis Online, disponível em: http://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t= 0&palavra=entretenimento) Motivação: ato ou efeito de motivar-se; (psic.) série de fatores de natureza afetiva, intelectual ou fisiológica, que atuam no indivíduo, determinando-lhe o comportamento; (jur.) conjunto de princípios que legitimam uma decisão judicial; antônimo: desmotivação. Observem que há uma diferença muito significativa nestas atividades, pois os atos que proporcionam o entretenimento às pessoas são pontuais, seus efeitos são imediatos e de curta duração. Por exemplo, uma brincadeira ou um jogo com bolas, bexigas ou outros objetos lúdicos vão proporcionar uma integração, descontração e alegria durante a sua execução, despertando sentimentos de satisfação, mas não necessariamente terão efeitos motivacionais, pois carecem de outras atividades associadas que correlacionem a brincadeira com outros fatores que prolonguem o efeito e impacto da satisfação momentânea. Para Refletir Você já ouviu alguém comentando: “ah foi legal o curso, a gente riu muito, foi divertido!” E, você, perguntou à pessoa: “o que aprendeu no curso?” Ela ao responder te disse: “não 41 me lembro, mas foi legal!”. Será que você já viveu essa situação? Você se sentiu motivado? Algumas organizações e profissionais interpretam a baixa produtividade de um grupo como decorrência de problemas motivacionais e para solucionar programam atividades de treinamento motivacional com uso de técnicas de dinâmica de grupo, e, ficam surpresos com o resultado, pois ele nem sempre reflete no aumento da produtividade. Você já se perguntou o porquê será que isso acontece? O uso inadequado das ferramentascomo jogos vivenciais e técnicas de dinâmica de grupo poderá ser a resposta para esse caso, visto que são metodologias eficazes quando bem planejadas, contextualizadas e aplicadas por profissionais que detenham o conhecimento técnico-científico com experiência. Portanto, cabe ao profissional de recursos humanos (RH) diagnosticar os fatores atrelados à motivação humana no contexto organizacional para apresentar propostas de intervenção consistentes. Saber investigar, perguntar e diagnosticar será a chave que fará a diferença para a atuação profissional. Considerando que a motivação influencia muito o comportamento humano, é fundamental compreender melhor este processo psicológico. Há uma grande variedade e diversidade de teorias e posicionamento dos autores frente a este tema, contudo, há pontos em comum entre as diferentes teorias. Vamos conhecê-los melhor! A motivação resulta de fatores ou necessidades diferentes das pessoas, sendo que algo que motiva um indivíduo em uma determinada idade poderá não ser motivador em outra fase da vida. Isso significa que há também uma influência da percepção que cada pessoa tem dos fatores motivadores, necessidades e desejos. As teorias da motivação são uma tentativa... de explicar por que (1) os estímulos evocam respostas; (2) um determinado estímulo evoca uma certa resposta em vez de quaisquer outras concebíveis; (3) certos estímulos têm um valor de recompensa e outros não; (4) certas respostas parecem surgir por si mesmas, sem nenhum desencadeante exterior aparente (LINDGREEN & BYRNE, 1982, pp. 214-215). As teorias motivacionais buscam explicar, portanto, os fatores motivadores e como este processo ocorre nos seres humanos. Há teorias que 42 consideram que a motivação ocorre de dentro para fora, ou seja, que no interior do indivíduo há forças, impulsos, necessidades e desejos que quando intensos irão direcionar o comportamento na busca de estímulos externos que venham a atendê-los. Há outros teóricos que consideram que a motivação é provocada de fora para dentro, visto que há estímulos externos que irão provocar o desencadeamento de necessidades e desejos. Sem dúvida que há estímulos externos que vão atender à satisfação das necessidades e desejos humanos, no entanto, um mesmo estímulo terá um significado motivador para uma pessoa enquanto para outra poderá até ser aversivo ou indiferente. Vamos ilustrar com um exemplo: se como professora eu disser que vou presentear a turma de uma disciplina trazendo um prato salgado para um almoço ou jantar, o que você sentiria? Certamente, a princípio eu seria aplaudida pelos alunos, concorda? Mas, ao informar que vou trazer “dobradinha”, talvez alguns estudantes vão sorrir, gostando e outros vão fazer caretas, não gostando. Isso demonstra que o estímulo em si (a dobradinha) não tem um efeito motivador, ele será percebido como motivador ou não pelo indivíduo. Nesse exemplo, pode-se identificar o caráter intrínseco da motivação (percepção conforme a história de vida e afetividade de cada um em relação ao estímulo) e o aspecto extrínseco, afinal o estímulo está fora do indivíduo. A questão que provavelmente você esteja se fazendo é: como que o estímulo é percebido por uma pessoa como motivador e por outra não? Como identificar os fatores externos motivadores em um ambiente organizacional a fim de motivar os funcionários de uma organização? Para compreender melhor a motivação humana, serão apresentadas algumas teorias motivacionais. 3.1.1 Teorias motivacionais Na década de 1950, houve um desenvolvimento dos conceitos sobre motivação de forma frutífera, sendo que três teorias desse período se destacam, embora atualmente haja alguns questionamentos sobre a validade delas. As teorias motivacionais dessa época são: a teoria das necessidades motivacionais, de Abraham Maslow, a teoria X e Y, de Douglas McGregor, e a teoria dos dois fatores, de Frederick Herzberg. Vamos abordá-las brevemente. 43 Maslow era psicólogo clínico e observou que muitos dos conflitos de seus pacientes estavam relacionados com o trabalho e a motivação. Assim, após muitos anos de pesquisa, ele apresentou sua teoria motivacional, amplamente conhecida como a pirâmide de Maslow. Para Maslow, o ser humano tem em seu interior cinco fatores de necessidades motivacionais, que são: 1. Fisiológicas: incluem fome, sede, abrigo, sexo e outras necessidades corporais. 2. Segurança: inclui segurança e proteção contra danos físicos e emocionais. 3. Sociais: incluem afeição, aceitação, amizade e sensação de pertencer a um grupo. 4. Estima: inclui fatores internos de estima, como respeito próprio, realização e autonomia; e fatores externos de estima, como status, reconhecimento e atenção. 5. Autorrealização: a intenção de tornar-se tudo aquilo que a pessoa é capaz de ser; inclui crescimento, autodesenvolvimento e alcance do próprio potencial (apud ROBBINS, 2002, p. 152). Essas necessidades emergem como fatores motivadores quando não estão satisfeitas, fazendo com que o indivíduo tenha comportamentos em busca de estímulos que atendam a sua necessidade. Teoria motivacional de Maslow Fonte: acervo do autor (2019), adaptado de (ROBBINS, 2002, p. 152). 44 Para Maslow, as necessidades de segurança e fisiológicas são básicas para a sobrevivência do ser humano enquanto indivíduo e espécie; as necessidades sociais, estima e autorrealização, são necessidades psicológicas, um colaborador bem capacitado deve ser ouvido pelo seu gestor. Há autores que fizeram uma tradução ou releitura diferente das ideias desse autor, recomendamos para um aprofundamento ler sua teoria no original, evitando os possíveis ruídos de comunicação que ocorrem naturalmente nas traduções. Segundo Maslow, as necessidades estão dispostas em uma ordem hierárquica, mas essa sequência pode ser diferente de pessoa para pessoa, conforme as suas percepções sobre as prioridades em sua vida. Douglas McGregor apresenta em sua teoria duas visões distintas do ser humano em relação ao trabalho e aos seus gestores, sendo uma visão positiva (a teoria X), e a outra uma visão negativa (a teoria Y). O quadro a seguir apresenta as principais premissas dessas duas teorias. X e Y, de McGregor TEORIA X TEORIA Y Os funcionários não gostam de trabalhar e tentam evitar o trabalho. Os funcionários podem achar o trabalho tão natural quanto descansar e se divertir. Como não gostam de trabalhar, precisam ser coagidos, controlados e ameaçados. Quando as pessoas estão comprometidas com o objetivo, demonstram auto-orientação e autocontrole. Os funcionários evitam responsabilidades e buscam sempre orientação, são dependentes. As pessoas podem até aceitar ou buscar a responsabilidade. Os funcionários priorizam a segurança e mostram pouca ambição. A capacidade de tomar decisões inovadoras pode estar em qualquer pessoa, não sendo um privilégio exclusivo daquelas em posições hierárquicas mais altas. Fonte: acervo do autor (2019), adaptado de ROBBINS (2002) e adaptado pelo DI (2020). Não há evidências em relação à validade de cada uma dessas teorias, embora ambas se apliquem a determinadas situações. McGregor acreditava mais nas premissas da teoria Y em relação à teoria X, propondo atividades com 45 maior participação decisória por parte dos funcionários como estratégia para maximizar a motivação. A teoria dos dois fatores, de Frederick Herzberg, também conhecida como Teoria dos fatores higiênicos e motivadores, considera que os fatores intrínsecos estão associados à satisfação com o trabalho, enquanto os fatores extrínsecos estão relacionados com a insatisfação. Herzberg baseou-se no conceito de homeostase, da teoria de Canon, para postular sobre os fatores higiênicos, considerando que esses elementos quando presentes não provocam a motivação,
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