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Problema 1 – Abertura Módulo XIX – Dispneia, Dor Torácica e Edemas Introdução Define-se lactente sibilante ou “bebê chiador” como aquele que apresenta três ou mais episódios de sibilância dentro de um ano, nos dois primeiros anos de vida; • Atualmente, outras definições sugeridas são a presença de três episódios de sibilância dentro de dois meses, ou crise de sibilância que persiste por mais de trinta dias durante os dois primeiros anos de vida; A prevalência desta entidade varia de 4 a 32%, sendo, portanto, um quadro muito prevalente na infância, graças às condições anatômicas e funcionais das vias aéreas neste período inicial de vida; Fenótipos Recentemente, as Academias Europeia e Americana de Asma, Alergia e Imunologia publicaram consenso sobre sibilância em lactentes, que descreve quatro padrões distintos de sibilância (fenótipos) durante a infância, assim como sua evolução; São eles: • Sibilância transitória (sibilos durante os três primeiros anos de vida e não mais após essa idade); • Sibilância não atópica (sibilância desencadeada principalmente por vírus que tende a desaparecer com o avançar da idade); • Asma persistente (sibilância associada a manifestações clínicas de atopia; eosinofilia e/ou níveis séricos elevados de IgE total ou sensibilização comprovada a alimentos e/ou aeroalérgenos ou ter pai e/ou mãe com asma); • Sibilância intermitente grave (episódios pouco frequentes de sibilância aguda associados a poucos sintomas fora dos quadros agudos, e com a presença de características de atopia); Etiologia A síndrome do lactente sibilante pode ser a expressão clínica de diversas doenças, como: • Inflamação (ex.: asma, fibrose cística, displasia broncopulmonar); • Infecções (ex.: vírus, tuberculose); • Doença do refluxo gastroesofágico; • Malformações congênitas (anel vascular, cisto esofágico); • Compressão brônquica e traqueal (ex.: linfonodos, corpo estranho); A infecção viral é a causa mais comum de sibilância em lactente; • Os principais vírus são o rinovírus, parainfluenza, influenza, adenovírus, coronavírus, e VSR (Vírus Sincicial Respiratório), que podem provocar síndromes respiratórias, como rinofaringite, bronquiolite, pneumonia e asma; • O principal agente causador de bronquiolite na infância é o VSR, respondendo por 80% dos casos; • O vírus influenza produz um quadro clínico de gravidade variável: de rinofaringites agudas leves até pneumonia grave, fato que dependerá da imunidade do hospedeiro versus virulência do agente; • O parainfluenza destaca-se como agente do crupe (laringotraqueobronquite viral) em crianças pequenas; • O adenovírus também tem espectro clínico variável, responsável por resfriados comuns e até casos graves de bronquiolite obliterante; • O coronavírus é agente comum nos resfriados e apenas raramente provoca sintomas pulmonares; Fisiopatologia A fisiopatologia da sibilância recorrente ainda não está claramente definida; Problema 1 – Abertura Módulo XIX – Dispneia, Dor Torácica e Edemas Acredita-se que na criança predisposta o contato com vírus respiratórios, o uso indiscriminado de antibióticos e alta densidade populacional desencadeiam desequilíbrio no balanço da resposta dos linfócitos Th1 e Th2, levando ao processo inflamatório nas vias aéreas, onde e observam-se edema da parede brônquica, secreção de muco e contração da musculatura peribrônquica; Esses três fatores levam à obstrução ao fluxo aéreo, de grau variável, responsável pela tosse, sibilos e esforço respiratório, notadamente expiratório; Cabe ressaltar ainda que as características anatômicas e funcionais das vias aéreas dos lactentes favorecem o aparecimento de sinais de esforço respiratório como consequência da obstrução ao fluxo aéreo, considerando que apresentam: • Maior resistência nasal; • Vias aéreas de menor calibre; • Caixa torácica mais complacente; • Maior resistência nas vias aéreas periféricas; • Menor número de poros de Khon e canais de Lambert. Fatores de Risco Estudos mostraram que cerca de 40% dos lactentes sibilantes apresentarão sibilância persistente aos seis anos de idade; 1. Estas mesmas crianças possuem mães com história de asma e níveis elevados de IgE aos nove meses de vida; 2. Tabagismo materno: o fumo materno durante a gestação e no período neonatal está associado à redução do fluxo expiratório pulmonar e à sibilância persistente; 3. Hipertensão materna durante a gravidez; 4. Prematuridade (< 33 semanas); 5. Baixo peso de nascimento (< 2.500 g); 6. História familiar de asma; 7. Infecções respiratórias virais (rinovírus, VSR e parainfluenzavirus); 8. Exposição a antígenos da poeira; 9. Introdução precoce em creches; O aleitamento materno parece exercer papel protetor, reduzindo a incidência de sibilância na infância; OUTROS FATORES DE RISCO QUE ENCONTREI EM ALGUNS ARTIGOS: • Sexo masculino; • Etnia (crianças negras); • Antecedentes pessoais e familiares de atopias em geral; • Número de irmãos; • Condições socioeconômicas; Índice preditor de asma do lactente: Foi desenvolvido para auxiliar no diagnóstico preciso de asma em lactentes sibilantes, visto que o seu diagnóstico é considerado difícil nessa população e pode ser confundido com outras doenças; Critérios maiores: • Um dos pais com asma; • Diagnóstico de dermatite atópica; Critérios menores: • Diagnóstico médico de rinite alérgica; • Sibilância não associado a resfriado; • Eosinofilia maior ou igual a 4% Diagnóstico Geralmente o primeiro episódio de sibilância no lactente durante o período do inverno está associado a um quadro clínico de bronquiolite viral; • Episódios repetidos de sibilância sempre que o lactente é exposto a uma infecção viral, tabagismo, poeira e temperaturas frias sugerem o diagnóstico de “lactente sibilante”; Assim, se houver três ou mais episódios de broncoespasmo em um ano nos lactentes (< 2 anos), definimos o critério para o diagnóstico de bebê chiador; Favorecem o diagnóstico a presença de asma na família e a presença de outras doenças atópicas, como, por exemplo, o eczema atópico; No exame físico devem ser pesquisados os sinais de atopia: • Dupla prega palpebral (linha de Dennie- Morgan); Problema 1 – Abertura Módulo XIX – Dispneia, Dor Torácica e Edemas • Protrusão no lábio superior (tubérculo de Kaminski); • Rarefação do terço externo das sobrancelhas (sinal de Hertog); O exame do tórax tem fundamental valor na avaliação do lactente sibilante; O broncoespasmo produz um ruído agudo e musical, acompanhado de expiração prolongada; • É provocado pela obstrução de vias aéreas inferiores (sibilos expiratórios) ou, menos comumente, de superiores (sibilos inspiratórios); • Já o estridor é um som mais alto e ruidoso e representa a obstrução alta de faringe e laringe; Nos lactentes é comum considerar o diagnóstico de asma naqueles que apresentam sibilância recorrente, especialmente na presença de fatores de risco para atopia, como: história familiar, tabagismo materno, prematuridade, aleitamento artificial e exposição a alérgenos; A presença de regurgitações frequentes, vômitos, dificuldade de ganhar peso, irritabilidade, engasgos e sibilância devem chamar atenção para a possibilidade de DRGE; De outro modo, a presença de esteatorreia, déficit pondero-estatural e baqueteamento digital sugerem a presença de fibrose cística; História de prematuridade e ventilação mecânica invasiva com baqueteamento digital apontam para a possibilidade de displasia broncopulmonar; Avaliação Laboratorial • Hemograma: Útil no diagnóstico diferencialde etiologia viral e bacteriana; • Sorologia e cultura para vírus: Importante na detecção do agente viral responsável pelo quadro de bronquiolite; • Sorologia para Mycoplasma pneumoniae: Apesar de incomum nesta faixa etária, apresenta importante potencial lesivo ao endotélio e desencadeamento de broncoespasmo; • Dosagem de cloro e sódio no suor: Teste de rastreio de fibrose cística; • Dosagem de imunoglobulinasséricas e contagem de linfócitos: Muitas imunodeficiências cursam com infecções respiratórias de repetição, por isso, recomenda- se a dosagem de imunoglobulinas séricas (IgG, IgA, IgM, e IgE, contagem de linfócitos T CD4 e CD8 e linfócitos B CD19 e CD20); • Avaliação de atopia: A dosagem de IgE sérica total e IgE específica (ex.: contra ácaros, epitélio de animais, fungos e baratas) pode ser solicitada para avaliação de atopia; • Avaliação de alergia alimentar: A alergia à proteína do leite de vaca, soja, ovo e trigo aparecem geralmente ainda na fase de lactente e podem se manifestar com sintomas respiratórios. Por isso, testes cutâneos de leitura imediata e dosagem de IgE específica para estas substâncias devem fazer parte do rastreio diagnóstico; • Avaliação de refluxo gastroesofágico: A monitorização do pH esofágico por 24 horas (pHmetria) é o exame de escolha para avaliação do refluxo. Outros possíveis exames são a ultrassonografia abdominal, seriografia esôfago-estômago-duodeno e cintilografia. Exames Complementares A decisão de investigar um caso de sibilância em lactente deve basear-se na observação clínica cuidadosa, com atenção para anamnese, exame físico e, particularmente, dados evolutivos; A criança que "não vai bem" pode necessitar de investigação, dependendo de evidências obtidas com anamnese, exame físico e RX de tórax; O RX de tórax pode ajudar em diagnósticos, como: malformações, cardiopatias, ou aspiração de corpo estranho; O RX de tórax normal sugere situações de pouca gravidade, reduz a possibilidade de malformações congênitas, aspiração de corpo estranho e displasia broncopulmonar; Problema 1 – Abertura Módulo XIX – Dispneia, Dor Torácica e Edemas Causas mais comuns associada a achados radiológicos: Tratamento O tratamento se baseia na redução da inflamação, manutenção da função pulmonar e qualidade de vida, prevenção de futuras exacerbações e disponibilização de fármacos; Diretrizes nacionais e internacionais de asma recomendam corticosteróides por via inalatória como primeira escolha para tratamento e, como alternativa, os antagonistas dos receptores de leucotrienos; Corticóides orais e teofilina de liberação lenta são usados exepcionalmente como drogas de controle da asma grave, em pacientes <5 anos de idade; - Medidas não farmacológicas: Controle ambiental: • Evitar creches nos 2 primeiros anos; • Poeira doméstica; • Pais fumantes; • Pólen; Controle dietético: • Nunca alimentar deitado; • Evitar deitar imediatamente após ingestão; • Cuidado com o estado nutricional; Atualização do calendário vacinal; Acompanhamento médico periódico; Medidas preventivas: • Promoção de ambiente saudável; • Aleitamento materno; • Evitar aglomeração; • Vacinação básica, Influenza e Pneumocócica; - Medidas farmacológicas: No atendimento de emergência hospitalar: • Nebulização com broncodilatador beta-2 agonista ou spray/inaladores com uso de espaçador a cada 20 minutos, até 1 hora (associar brometo de ipratrópio, se crise grave); • Oxigenioterapia; • Hidratação; • Repouso Problema 1 – Abertura Módulo XIX – Dispneia, Dor Torácica e Edemas
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