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Sistema renal: anatomia e fisiologia Introdução: o rim é um dos órgãos mais bem diferenciados do corpo. Ao final do período de desenvolvimento embrionário, cerca de 30 tipos diferentes de células formam uma profusão de capilares filtrantes e nefrons segmentados circundados por um interstício dinâmico. Essa diversidade celular modula diversos processos fisiológicos complexos. Basicamente, os mecanismos complexos que conjuntamente chamamos de função renal desempenham funções endócrinas, regulam a pressão arterial e a hemodinâmica intraglomerular, realizam o transporte de solutos e água, mantêm o equilíbrio acidobásico e eliminação dos metabólitos dos fármacos. Anatomia: são órgãos retroperitoneais, pares, localizados lateralmente às vértebras lombares superiores. Em geral, o rim direito se localiza 1 a 2 cm abaixo do rim esquerdo, pois seu desenvolvimento ascendente é bloqueado pelo fígado. Na posição supina relaxada: polo superior nivelado com a 12ª vértebra torácica e o polo inferior com a 3ª vértebra lombar. Na posição ortostática, durante inspiração profunda: nivelados com a crista ilíaca. Encontram-se próximos à aorta abdominal e à VCI. Esses vasos principais estendem ramificações que entram/deixam em cada rim pelo hilo renal, juntamente com o sistema coletor. Essa região em forma de "meia-lua" leva a uma espaçosa cavidade no interior de cada rim conhecida como seio renal. O parênquima renal é circundado por uma membrana conhecida como cápsula fibrosa verdadeira. Córtex renal: borda externa do parênquima renal. Possui coloração rosa acastanhada. Medula renal: numerosas pirâmides de coloração vermelha escura (altamente vascularizada), cujas bases se direcionam para periferias e os ápices se direcionam para o centro. Os ápices são conhecidos como papilas renais (duas ou mais pirâmides podem se fundir na região da papila, portanto, há mais pirâmides do que papilas em cada rim). A região cortical sobrejacente às bases das pirâmides são chamadas de arcos corticais, já as áreas corticais que se projetam para o interior da medula são chamadas de colunas corticais. Apesar de os limites entre as pirâmides e as colunas corticais serem bem definidos, as pirâmides projetam estrias para o interior dos arcos corticais, conhecidas como raios medulares. Essas estrias representam os ductos coletores, que se estendem a partir do córtex até a papila renal, fundindo-se com os ductos papilares. Os ductos papilares drenam para o interior do cálice menor (de uma a três papilas drenam para o interior de cada cálice menor). Os cálices menores drenam o interior do cálice maior (de dois a quatro cálices menores drenam para o cálice maior). Os cálices maiores se unem para formar a pelve renal, que se transforma em ureter ao deixar o hilo. Ureteres: são ductos musculares pareados que conduzem a urina a partir dos rins em direção à bexiga. Cada ureter se inicia medial ao rim ipsilateral como uma continuação da pelve renal, e termina com a inserção na parede posterior da bexiga. Os ureteres são retroperitoneais em todo o seu comprimento, que é de aproximadamente 30 cm. Os ureteres variam em diâmetro de 2 a 8 mm, aumentando em tamanho na área lombar inferior. Eles são geralmente mais estreitos em sua origem a partir da pelve renal, ao atravessar a borda ilíaca (na frente da artéria ilíaca) e em sua passagem pela parede da bexiga. Como resultado, os cálculos renais geralmente comprimem essas três áreas ou as regiões próximas a elas. Vasculatura renal | Artérias renais: em repouso, entre 20 a 25% do DC circulam pelos rins (um indivíduo adulto de 70 kg, o DC for de 5.000 mL/ min, os rins recebem um aporte sanguíneo de 1.250 mL/min pelas artérias renais direita e esquerda). As (1) artérias renais são ramos pares principais da aorta abdominal na altura dos discos intervertebrais L1/L2. Próximo ao hilo, cada a. renal se divide em (2) pequeno ramo posterior e um (2) grande ramo anterior. Tais ramos principais originam as (3) artérias segmentares. Na maioria dos rins, de três a cinco artérias segmentares suprem o parênquima de uma forma característica. As aa. segmentares não se anastomosam. Dessa maneira, a oclusão ou lesão de um ramo segmentar causará isquemia renal segmentar. Cada ramo das aa. segmentares se ramificam em (4) artérias lobares que suprem uma pirâmide renal (ou pirâmides que dividem um ápice comum). Em seguida, as aa. lobares se dividem em (5) duas ou três artérias interlobares, que viajam nas colunas renais em direção aos arcos corticais. Assim que cada a. interlobar se aproxima da base da pirâmide adjacente, ela se divide em várias (de quatro a seis) (6) artérias arqueadas. Tanto as interlobares quanto as arqueadas dão origem às (7) artérias radiadas corticais. O principal propósito das aa. radiadas corticais é fornecer (8) arteríolas aferentes aos glomérulos. Cada arteríola aferente forma um enovelado dentro da cápsula de Bowman (células epiteliais), denominados (1) capilares glomerulares (o conjunto formado pela cápsula de Bowman e pelos capilares glomerulares localizados no seu interior é chamado de glomérulo). As arteríolas aferentes que se localizam próximo ao córtex externo dão origem aos glomérulos superficiais e médio-corticais, associados a néfrons de alça curta, enquanto as arteríolas aferentes localizadas no córtex interno dão origem aos glomérulos justamedulares, associados a néfrons de alça longa. Em ambos os tipos de glomérulos, a continuidade dos capilares glomerulares fora da cápsula de Bowman é chamada de (9) arteríola eferente. Como o leito dos capilares glomerulares se encontra entre duas arteríolas, a pressão através das paredes desses capilares pode ser finamente ajustada em resposta às demandas homeostáticas. O padrão de ramificação das arteríolas eferentes difere com base no tipo de glomérulo. Glomérulos superficiais: as arteríolas eferentes se dividem em um denso plexo de (2) capilares peritubulares, os quais envolvem e se ancoram aos segmentos corticais dos néfrons de alça curta, permitindo a troca de elementos entre si. Tais capilares peritubulares drenam seu conteúdo para (1) veias radiadas corticais. Glomérulos justamedulares: algumas arteríolas formam um (3) plexo capilar que circunda os segmentos corticais dos néfrons de alça longa, no entanto, a maior parte desce diretamente em direção à medula como longos ramos em forma de alça, que viajam paralelamente às alças de Henle e aos ductos coletores. Os vasos dos (10) vasa recta (descendentes) se transformam em (0) venulae recta (ascendentes), os quais retornam à junção corticomedular e drenam seu conteúdo diretamente no interior das (2) veias arqueadas e, por fim nas (3) veias interlobares. Os vasos retos representam a zona de transição do sangue arterial para o venoso. O sangue que passa por esses vasos apresenta fluxo contrário ao do ultrafiltrado que passa no interior da alça de Henle. Essa característica forma o substrato anatômico para o sistema de troca em contracorrente, que é crítico para a produção de urina concentrada. Veias renais: as veias capsulares e perfurantes, assim como as numerosas veias subcapsulares, chamadas de veias estreladas, drenam seus conteúdos para as veias (1) radiadas corticais interlobulares, que por sua vez, drenam seus conteúdos nas (2) veias arqueadas, e então, nas (3) veias interlobares. As veias interlobulares drenam para as (4) veias lobares, que em seguida se unem em quatro a seis troncos que convergem para o interior do seio renal, drenando para as (5) veias segmentares, quando finalmente formam a (6) veia renal. Diferente do sistema arterial, a rede venosa intrínseca possui colaterais e anastomoses. Em síntese, os rins apresentam uma complexa rede vascular, haja vista que promovem a eliminação de metabólitos celulares, fármacos e substâncias tóxicas, além de regularem o volume e a composição de água e eletrólitos do sangue. Inervação | Simpática: A inervação simpática do sistema urinário começa nos segmentos torácicos inferiores e lombares superiores (T10-L2 ou L3). A via da inervaçãosimpática para os rins e ureteres superiores tem início em fibras pré-sinápticas originadas nos níveis T10-L1 da IML. Essas fibras viajam através dos nervos esplâncnicos para realizarem sinapses com neurônios do gânglio mesentérico superior, gânglio aorticorrenal e com os pequenos gânglios no plexo periarterial renal. Fibras pós-sinápticas alcançam o rim e o ureter superior via plexo periarterial e seus ramos. Função: efeitos tanto na vasculatura quanto nos túbulos renais. Receptores adrenérgicos estão localizados por todo o córtex renal e na faixa externa da zona externa da medula renal, com maior densidade na região justaglomerular do córtex interno. O aumento gradual do tônus simpático renal ocasiona liberação de renina das células granulares justaglomerulares, o que provoca aumento da reabsorção tubular de sódio e queda do fluxo sanguíneo renal (por constrição das arteríolas aferentes). Esses efeitos combinados podem contribuir com o desenvolvimento e a manutenção da hipertensão. A função renal não é afetada por dopamina, nem por agentes anticolinérgicos. Parassimpático: nos rins, o papel da função vagal (colinérgica) não é claro. Aferências: A inervação aferente do sistema urinário, carrega sensações de dor e também desempenha um papel crítico nos reflexos intrínsecos. A dor referida a partir desses órgãos é conhecida nos dermátomos correspondentes aos níveis onde as fibras pré-sinápticas entram na cadeia simpática. A dor da pielonefrite, ou de uma pedra comprimida na pelve renal ou no ureter abdominal, é experimentada nos níveis T10-L1. A sensação de bexiga distendida corresponde aos níveis T12-L2. Drenagem linfática: exceto por ser visto como uma via metastática potente, o sistema de drenagem linfática renal é geralmente esquecido. O volume de linfa que é drenada a partir do rim, entretanto, é de aproximadamente 0,5 mL/min, valor próximo do volume urinário. Sua função primária é de, provavelmente, retornar ao sangue as proteínas reabsorvidas no rim. Alguns pesquisadores determinaram que a concentração de renina é maior na linfa renal do que no plasma da veia renal. Néfrons | Visão geral: cada rim possui aproximadamente 600.000 a 1.400.000 de néfrons e tão pouco quanto 225.000 em adultos que nasceram com baixo peso, condição responsável por vários riscos de comorbidade. Tais unidades funcionais do rim ficam envoltas pelo interstício, um espaço funcional onde se localizam células residentes e circulantes como fibroblastos, células dendríticas, alguns linfócitos e macrófagos. Os capilares corticais e medulares acima mencionados também fazem parte da trama intersticial, assim como uma teia de tecido conectivo que sustenta a arquitetura típica dos rins com seus túbulos dobrados. As relações precisas entre essas estruturas determinam a fisiologia singular do rim. Cada néfron é constituído por um glomérulo e por túbulos renais, pelos quais passará o líquido resultante da filtração do sangue denominado ultrafiltrado (plasma e solutos não ligados às proteínas). Todos os néfrons possuem os mesmos componentes estruturais, mas, como já mencionado, existem aqueles que são corticais e os que são justamedulares. A maioria dos néfrons é cortical/ alça curta (85%), sendo que um número menor (15%) corresponde aos justamedulares/ alças longas. Estes últimos geram o gradiente hiperosmolar necessário à concentração da urina. Os túbulos renais são formados por diferentes segmentos: túbulo contorcido proximal (TCP), alça de Henle e túbulo contorcido distal (TCD). Esses segmentos tubulares clássicos são constituídos de sub-regiões revestidas por epitélios altamente diferenciados que atendem às funções fisiológicas regionais. Os TCD de diferentes néfrons desembocam em um ducto coletor, que, por sua vez, se une e converge em centenas de grandes ductos papilares, que drenam para os cálices renais menores. As células presentes na parede dos túbulos consistem em células epiteliais de diferentes morfologias, com diferentes características de transporte de água e solutos. O ultrafiltrado que flui na luz dos túbulos renais é passível de reabsorção de seus componentes, que atravessarão as células presentes nas paredes dos túbulos em direção aos capilares peritubulares ou aos vasos retos. A cada minuto, são formados aproximadamente 120 mL de ultrafiltrado, e somente 1% deste conteúdo dará origem à urina final. Assim, os túbulos renais são fundamentais no processo de reabsorção de água e solutos presentes no ultrafiltrado. Glomérulo: formado pelo tufo de capilares envoltos por uma bolsa de células epiteliais, a cápsula de Bowman. As paredes dos capilares glomerulares contêm três camadas: endotélio fenestrado; membrana basal glomerular (MBG) e a mais externa, formada pelos podócitos, também conhecidos como células epiteliais pavimentosas viscerais. A cápsula de Bowman também é formada por duas camadas: a visceral, que corresponde à camada epitelial visceral dos capilares e a parietal, formada pelas células epiteliais pavimentosas parietais. Entre as duas camadas existe o espaço de Bowman, que é ocupado pelo ultrafiltrado. As camadas que compõem a parede dos capilares glomerulares se organizam de tal forma a impor uma filtração seletiva com base no tamanho e na carga elétrica (as camadas são formadas ou revestidas por proteínas negativamente carregadas). O citoesqueleto dos podócitos criam projeções chamadas de pedicelos, que se comunicam com a MBG e com os podócitos adjacentes. Existem espaços remanescentes entre tais comunicações, que são recobertos por um diafragma e por proteínas negativamente carregadas. Os poros, chamadas de fendas diafragmáticas, formados entre os pedicelos e o diafragma, formam a principal barreira de filtração com base no tamanho e na carga elétrica, embora as duas outras camadas também contribuam. As glomerulopatias que provocam perda de proteína na urina (proteinúria) geralmente causam um processo conhecido como extinção, no qual os podócitos se retraem e se encurtam, o que provoca ruptura das fendas diafragmáticas e abre um grande espaço para a passagem de proteínas, assim como podem provocar a ruptura da camada endotelial ou da MBG. Células mesangiais: fornecem suporte estrutural aos capilares glomerulares (ancoram os capilares). Atualmente, as células mesangiais são vistas como uma forma especial de pericitos microvasculares, que formam uma unidade de integração funcional mesângio-endotélio-epitélio. As células mesangiais produzem: componentes estruturais dos glomérulos, agentes vasoativos, fatores de crescimento, citocinas, quimiocinas, eritropoetina e elementos do sistema de complemento. Com efeitos parácrinos, as células mesangiais expressam receptores para diferentes agentes vasoativos (angiotensina II, o ADH, a noradrenalina e o tromboxano), fatores de crescimento, moléculas de adesão, citocinas e quimiocinas, entre outros. Esse conjunto de fatores insere as células mesangiais na regulação funcional e no remodelamento do tecido renal. Uma das principais funções das células mesangiais é a regulação do fluxo capilar e do fluxo do ultrafiltrado, pois têm propriedade contrátil, o que possibilita alterar o fluxo de sangue no interior dos capilares e o fluxo do ultrafiltrado. Além de todas essas funções, uma parcela das células mesangiais apresenta atividade imunológica, pois cerca de 10% das células mesangiais têm fenótipo diferente das demais e exibem capacidade fagocítica. Tais células expressam marcadores de superfície e citocinas somente encontrados nas células do sistema imune, motivo pelo qual são chamadas de células dendríticas mielóides. As células mesangiais expressam ainda receptores toll‑like (TLR): TLR-1, 2, 4, 5 e 6 (reconhecem antígenos de superfície bacterianos) e TLR-3 (reconhece RNA viral). Isso evidencia a estreita ligação do sistema imune inato com as células mesangiais, tornando-as um gatilho para a resposta inflamatória e um importante sítio de interação com imunocomplexos no decurso de danos renais e de doenças sistêmicas. Por fim, controle da celularidade renal tambémsofre interferência das células mesangiais, que produzem tanto citocina mitogênica (IL-6) quanto pró-apoptótica (TNF). Também existem as células mesangiais extraglomerulares, as quais juntamente com a arteríola aferente final, a arteríola eferente inicial, o ramo espesso do TCD (especificamente as células especializadas, chamadas de mácula densa) e as células granulares (contêm numerosas vesículas preenchidas com renina) compõem o aparelho justaglomerular. Em condições de fluxo tubular inadequado, por exemplo, a mácula densa desencadeia a dilatação da arteríola aferente, o que aumenta a taxa de filtração e estimula a secreção de renina a partir da células granulares, localizadas nas paredes das arteríolas aferente e eferente. Determinantes da filtração glomerular e sua regulação: os néfrons possuem dois sistemas capilares dispostos em série (1) e (2), que separados pela arteríola eferente, a qual possui a propriedade de regular a pressão hidrostática destes dois leitos capilares. O gradiente da pressão hidrostática no interior da rede capilar glomerular é a principal força motriz da filtração glomerular. A pressão oncótica no lúmen capilar, determinada pela concentração das proteínas plasmáticas não filtradas, supera parcialmente o gradiente de pressão hidrostática, opondo-se à filtração glomerular. À medida que a pressão oncótica aumenta ao longo do capilar glomerular, a força motriz da filtração cai a zero quando chega à arteríola eferente. Também existe um mecanismo de autorregulação da TFG, que por sua vez resulta da interação de três fatores, que modulam o tônus das arteríolas aferente e eferente. São eles: 1) Reflexo vasorreativo (miogênico) → primeira linha de defesa contra as oscilações do fluxo sanguíneo renal. As alterações súbitas da pressão de perfusão renal provocam constrição ou dilatação reflexa da arteríola aferente em resposta ao aumento ou à redução da pressão, respectivamente. Essa reação ajuda a proteger o capilar glomerular das alterações repentinas da pressão sistólica. 2) Feedback tubuloglomerular → altera a TFG e o fluxo tubular por vasoconstrição ou vasodilatação reflexa da arteríola aferente. Tal feedback é mediado pelo já mencionado aparelho justaglomerular. As células da mácula densa atuam como sensores da concentração de solutos e da taxa de fluxo tubular. Com taxas elevadas do fluxo tubular, que indica uma taxa de filtração inadequadamente alta, a quantidade de solutos que chega à mácula densa é maior e isto provoca vasoconstrição da arteríola aferente, resultando na normalização da TFG. Um dos componentes solúveis que sinalizam a mácula é o trifosfato de adenosina (ATP) liberado pelas células durante a absorção das quantidades maiores de NaCl. O ATP é metabolizado no espaço extracelular para formar adenosina, que atua como potente vasoconstritor da arteríola aferente. A angiotensina II e as EROs também ativam o feedback tubuloglomerular, enquanto o NO atenua esta resposta. 3) Vasoconstrição da arteríola eferente mediada pela angiotensina II → o terceiro componente da autorregulação intrínseca da taxa de filtração é a angiotensina II. Em condições de redução do fluxo sanguíneo renal, a renina é secretada pelas células granulosas dentro da parede da arteríola aferente, nas proximidades da mácula densa, numa região conhecida como aparelho justaglomerular. Por ser uma enzima proteolítica, a renina catalisa a conversão do angiotensinogênio em angiotensina I, que depois é convertido em angiotensina II pela enzima conversora da angiotensina (ECA). A angiotensina II causa vasoconstrição da arteríola eferente e o aumento resultante da pressão hidrostática glomerular eleva a filtração aos níveis normais. Transporte tubular renal | tipos: existem dois tipos de transporte epitelial. 1) Transporte celular: transferência sequencial de líquidos e solutos através das membranas celulares apical e basola- teral (ou vice-versa), mediada por transportadores, canais ou bombas. 2) Transporte paracelular: transferência de líquido e solutos através das junções estreitas entre as células adjacentes é conhecida como transporte paracelular. O transporte paracelular ocorre pelas junções estreitas. Na verdade, algumas camadas de células epiteliais permitem transporte paracelular abundante (epitélios frouxos), enquanto outros epitélios possuem junções estreitas mais coesas (epitélios coesos). Além disso, como a capacidade de os íons fluírem através das junções paracelulares determina o grau resistência elétrica, os epitélios frouxo e coeso também são conhecidos como epitélios de baixa ou alta resistência, respectivamente. O túbulo proximal possui epitélios frouxos, enquanto os segmentos mais distais, como o ducto coletor, têm epitélios coesos. Os epitélios frouxos estão mais bem adaptados à reabsorção volumosa de água, enquanto os epitélios coesos permitem o controle mais refinado e a regulação do transporte. Por meio de reações sequenciais de reabsorção e secreção ao longo dos tubos coletores, o ultrafiltrado é progressivamente transformado em urina. O conhecimento dos principais mecanismos tubulares responsáveis pelo transporte de solutos e água é fundamental ao entendimento da regulação hormonal da função renal e à manipulação farmacológica da excreção renal. Túbulo contorcido proximal (TCP): constituído por células epiteliais de aspecto cuboide e com uma extensa membrana de borda, presente na membrana plasmática apical, que projeta suas microvilosidades para o interior do lúmen, aumentando dramaticamente a área de superfície disponível para o transporte de solutos. Por esse motivo, o TCP é considerado o principal sítio de reabsorção de solutos no néfron, sendo responsável pela reabsorção de cerca de 60% do NaCl e da água filtrados, assim como cerca de 90% do bicarbonato filtrado e da maioria dos nutrientes essenciais, como a glicose e aminoácidos. O túbulo proximal utiliza mecanismos de transporte celulares e paracelulares. A maior parte dos líquidos reabsorvidos pelo túbulo proximal é atraída pela pressão oncótica alta e pela pressão hidrostática baixa dentro dos capilares peritubulares. Os ajustes fisiológicos da TFG, efetuados pelas alterações do tono das arteríolas eferentes, provocam alterações correspondentes na reabsorção, fenômeno conhecido como equilíbrio glomerulotubular. Por exemplo, a vasoconstrição da arteríola eferente pela angioten- sina II aumenta a pressão hidrostática dos capilares glomerulares, mas diminui a pressão nos capilares peritubulares. Ao mesmo tempo, os aumentos da TFG e da fração de filtração elevam a pressão oncótica adjacente ao final do capilar glomerular. Essas alterações (redução da pressão hidrostática e aumento da pressão oncótica) aumentam a força motriz para a absorção de líquidos pelos capilares peritubulares. O transporte celular da maioria dos solutos pelo túbulo proximal está relacionado com o gradiente de concentração do Na+ gerado pela atividade de uma Na+/K+-ATPase basolateral. Esse mecanismo de transporte ativo mantém um gradiente elevado de Na+, conservando as concentrações intracelulares baixas deste íon. A reabsorção dos solutos está relacionada com o gradiente de Na+ ge- gerado pelos transportadores dependentes de Na+ (cotransportadores de Na+-glicose e Na+-fosfato). Além da via paracelular, a reabsorção da água ocorre pela via celular oferecida pelos canais de água constitutivamente ativos (aquaporina-1) existentes nas membranas apical e basolateral. Os pequenos gradientes osmóticos locais próximos às membranas plasmáticas são gerados pela reabsorção celular de Na+ e provavelmente são responsáveis pela transferência direcionada da água por meio das células dos túbulos proximais, mas a reabsorção ao longo do túbulo proximal não acarreta alteração global da osmo- lalidade do líquido tubular. As células tubulares proximais reabsorvem bicarbonato por um mecanismo dependente das anidrases carbônicas. Primeiramente, o bicarbonato filtrado é combinado com os prótons liberados na luz do túbulo por permuta de Na+/H+. O ácido carbônico(H2CO3) resultante é metabolizado pela anidrase carbônica da borda em escova e libera água e dióxido de carbono. Em seguida, o dióxido de carbono dissolvido difunde-se para dentro da célula, onde é hidratado enzimaticamente pela anidrase carbônica citoplasmática para formar novamente ácido carbônico. Por fim, o ácido carbônico intracelular dissocia-se em prótons livres e ânions bicarbonato e este último sai da célula por ação de um cotransportador de Na+/HCO3– basolateral. Esse processo é saturável e provoca excreção urinária de bicarbonato quando os níveis plasmáticos estão acima da variação fisiológica normal (24 a 26 mEq/L). Os inibidores da anidrase carbônica, como a acetazolamida, formam uma classe de diuréticos fracos que bloqueiam a reabsorção tubular proximal de bicarbonato e são úteis à alcalinização da urina. O cloreto não é bem reabsorvido ao longo do primeiro segmento do túbulo proximal e a elevação da sua concentração compensa a remoção do ânion bicarbonato do líquido tubular. Nos segmentos distais do túbulo proximal, a reabsorção celular de Cl– começa com a permuta apical do HCOO- celular para aumentar as concentrações luminares do Cl-. Quando estão presentes no lúmen tubular, os ânions HCOO- ligam-se ao H+ (fornecido pela permuta de Na+/H+) e formam ácido fórmico neutro, que pode difundir-se passivamente através da membrana apical e voltar para dentro da célula, onde se dissocia em um próton e é reciclado. A saída basolateral do Cl– é mediada por um cotransportador de K+/Cl–. A reabsorção da glicose é praticamente concluída no final do túbulo proximal. O transporte celular da glicose é mediado pelo co- transportador de Na+-glicose e pela difusão basolateral facilitada por um transportador de glicose. Esse processo também é saturável e há glicosúria quando os níveis plasmáticos ficam acima de 180 a 200 mg/dL, como se observa no diabetes melito não tratado. Secreção: o túbulo proximal possui transportadores específicos capazes de secretar vários ácidos (ânions de carboxilato) e bases (principalmente cátions de aminas primárias) orgânicos. Os ânions orgânicos trans- portados por esses sistemas consistem em urato, ânions cetoácidos e vários fármacos ligados às proteínas e que não foram filtrados no glomérulo (penicilinas, cefalosporinas e salicilatos). A probenecida inibe a secreção dos ânions orgânicos renais e pode ser utilizada clinicamente para aumentar as concentrações plasmáticas de alguns fármacos como a penicilina e o oseltamivir. Entre os cátions orgânicos secretados pelo túbulo proximal estão várias aminas biogênicas neurotransmissoras (dopamina, acetilcolina, epinefrina, norepinefrina e histamina) e creatinina. O transportador glicoproteína-P ATP- -dependente está expressa em grandes quantidades nas membranas da borda em escova e secreta vários fármacos importantes à prática médica, inclusive ciclosporina, digoxina, tacrolimo e diversos agentes quimioterápicos. Alguns fármacos como a cimetidina e a trimetoprima competem com os compostos endógenos pelo transporte pelas vias dos cátions orgânicos. Embora esses fármacos aumentem os níveis da creatinina sérica, não há alteração da TFG efetiva. Por meio de diferentes tipos de sistemas transportadores Na -dependentes e Na+-independentes, o túbulo proximal reabsorve os aminoácidos de maneira eficiente. Esses transportadores são específicos para os diferentes grupos de aminoácidos. Os hormônios peptídicos como a insulina e o GH e outras proteínas pequenas são captados pelo túbulo proximal por um processo de endocitose absortiva e, em seguida, são decompostos nos lisossomos endocitóticos acidificados. A amoniagênese renal a partir da glutamina no túbulo proximal gera o principal tamponador do líquido tubular e assegura a excreção do íon H+ secretado sob a forma de NH4+ pelo ducto coletor. Os níveis celulares de K+ modulam inversamente a amoniagênese e, em presença de níveis séricos altos associados ao hipoaldosteronismo, a amoniagênese diminuída facilita o desenvolvimento da acidose tubular renal tipo IV. Alça de Henle: apresenta a forma de “U” e faz a conexão entre o TCP e TCD. É dividida em ramos descendente, ascendente delgado e ascendente espesso. O ramo descendente da alça de Henle está localizado mais próximo do TCP, sendo constituído por células epiteliais escamosas. Já ramo ascendente da alça de Henle, dividido em ramos delgado e espesso, formada por células cubóides. O ramo descendente da alça de Henle realiza predominantemente a reabsorção de água do ultrafiltrado, quase não reabsorvendo solutos. Por sua vez, o ramo ascendente realiza a reabsorção de solutos (principalmente íons), mas não a reabsorção de água, pois suas células cubóides têm a membrana apical recoberta por glicoproteínas hidrofóbicas. Cerca de 15 a 25% do NaCl filtrado são reabsorvidos na alça de Henle, principalmente no ramo ascendente espesso. Essa estrutura é o local de ação da classe mais potente de diuréticos (diuréticos de alça) e também contribui para a reabsorção dos íons cálcio e magnésio. O ramo descendente delgado é altamente permeável à água em razão da expressão profusa dos canais de água constitutivamente ativos (aquaporina-1). Por outro lado, a permeabilidade à água é praticamente nula no ramo ascendente. No ramo ascendente espesso, há níveis altos de transporte ativo secundário de sal possibilitado pelo cotransportador de Na+/K+/2Cl– existente na membrana apical, em combinação com os canais de Cl– e da Na+/K+-ATPase da membrana basolateral. O cotransportador de Na+/K+/2Cl– é o principal alvo dos diuréticos de alça. O K+ do líquido tubular é o substrato limitante desse cotransportador (a concentração tubular do K+ é se- melhante à plasmática, ou seja, cerca de 4 mEq/L), mas a atividade do transportador é mantida pela reciclagem deste íon por um canal de potássio da membrana apical. A reciclagem do potássio também contribui para a carga eletrostática positiva do lúmen tubular em relação com o interstício, que promove a reabsorção dos cátions divalentes (Mg2+ e Ca2+) por uma via paracelular. Um receptor acoplado à proteína G e sensível ao Ca2+ (CaSR) existente nas membranas basolaterais regula a reabsorção do NaCl no ramo ascendente espesso por meio de mecanismos de sinalização dependentes do AMP cíclico ou dos eicosanoides. Esse receptor possibilita uma relação direta entre os níveis plasmáticos e a excreção renal do Ca2+. A alça de Henle contribui para a capacidade de concentração urinária porque gera o interstício medular hipertônico que facilita a reabsorção da água pelo ducto coletor medular interno da medula situado mais adiante. A multiplicação de contracorrente gera o interstício medular hipertônico utilizando dois sistemas de contracorrente: a alça de Henle (ramos descendente e ascendente em sentidos contrários) e vasa recta (capilares peritubulares medulares que circundam a alça de Henle). O fluxo de contracorrente desses dois sistemas ajuda a manter o ambiente hipertônico da camada interna da medula, mas a reabsorção do NaCl no ramo ascendente espesso é o principal evento desencadeante. A reabsorção do NaCl sem água dilui o líquido tubular e acrescenta mais osmólitos ao líquido intersticial medular. Como o ramo descendente delgado é muito permeável à água, o equilíbrio osmótico ocorre entre o líquido tubular do ramo descendente e o espaço intersticial, resultando na retenção progressiva de solutos na medula interna. A osmolalidade máxima do interstício medular também depende da reciclagem parcial da ureia no ducto coletor. Túbulo contorcido distal (TCD): O túbulo contorcido distal reabsorve cerca de 5% do NaCl filtrado. Esse segmento é formado por um epitélio compacto com pouca permeabilidade à água. A via principal de transporte do NaCl utiliza um cotransportador de Na+/Cl– eletroneutro sensível aos tiazídicos, que está presente na membrana apical em paralelo com os canais de Cl– e a Na+/K+-ATPase da membrana basolateral. Os canais seletivos ao Ca2+ da membrana apical (TRPV5) e a permuta de Na+/K+ na membrana basolateral sãoresponsáveis pela reabsorção do cálcio no túbulo contorcido distal. A reabsorção do Ca2+ está inversamente relacionada com a reabsorção do Na+ e é estimulada pelo paratormônio. O bloqueio apical de Na+/Cl– reduz o Na+ intracelular e favorece o aumento da permuta de Na+/Ca2+ na membrana basolateral, bem como a entrada passiva do Ca2+ pela membrana apical. As quinases WNK influenciam a atividade de vários transportadores iônicos tubulares. As mutações associadas a esse distúrbio causam a hiperatividade do cotransportador de Na+/Cl– da membrana apical do túbulo contorcido distal, que é o principal estímulo para o aumento da reabsorção de sal, a expansão do volume extracelular e a hipertensão. A hiperpotas-semia pode ser causada pela redução da atividade dos canais de K+ da membrana apical do ducto coletor, que é o mecanismo principal de secreção deste íon. Um complexo molecular formado pelas proteínas TRPM6 e TRPM7 é essencial à reabsorção do Mg2+ no túbulo contorcido distal. Apresentam células principais nos segmentos inicial e final, envolvidas no ajuste fino da reabsorção de solutos e água . Contudo, no segmento final do túbulo contorcido distal e no início do ducto coletor, as células principais realizam a reabsorção de sódio mediada pela aldosterona. Em todo o ducto coletor, as células principais fazem a reabsorção de água mediada pela vasopressina. Entre as células principais do fim do túbulo contorcido distal, encontram-se as células intercaladas, que apresentam função distinta daquela desempenhada pelas células principais. As células intercaladas são responsáveis pela secreção de íons hidrogênio e pela reabsorção de bicarbonato. Por isso, têm atuação fundamental no equilíbrio ácido básico, contribuindo para a manutenção do pH dos líquidos corporais Ducto coletor modula a composição final da urina. Os dois seg- mentos principais – ducto coletor cortical e ducto coletor medular interno – contribuem para a reabsorção de cerca de 4 a 5% do Na+ filtrado e são importantes para a regulação hormonal do equilíbrio hidrossalino. O ducto coletor cortical tem epitélio de alta resistência com dois tipos de célula. As células principais são os elementos prin- cipais responsáveis pela reabsorção de água e Na+ e pela secreção de K+ e o local de ação da aldosterona, dos diuréticos poupadores de potássio e dos antagonistas dos receptores dos mineralocorticoides (p. ex., espironolactona). Os outros elementos celulares são as células intercaladas tipos A e B. As células intercaladas tipo A são responsá- veis pela secreção de ácido e reabsorção do bicarbonato, também sob influência da aldosterona. As células intercaladas tipo B medeiam a secreção de bicarbonato e reabsorção de ácidos. Quase todo o transporte é mediado pelas vias celulares das célu- las principais e intercaladas. Nas células principais, a entrada passiva de Na+ pela membrana apical ocorre por um canal de Na+ epitelial sensível à amilorida (ENaC), com saída pela membrana basolateral por meio da Na+/K+-ATPase (Fig. 1.3E). Este processo de reabsorção do Na+ é rigorosamente controlado pela aldosterona e, em condições fisiológicas, é ativado por várias enzimas proteolíticas que clivam os domínios extracelulares do ENaC; por exemplo, a plasmina do líqui- do tubular dos pacientes com síndrome nefrótica ativa o ENaC e cau- sa retenção de sódio. A aldosterona entra na célula pela membrana basolateral, liga-se a um receptor de mineralocorticoide citoplasmá- tico e, em seguida, transfere-se para dentro do núcleo onde modula a transcrição genética resultando em aumentos da reabsorção de Na+ e da secreção de K+. As mutações ativadoras do ENaC aumentam a rea- bsorção do Na+ e causam hipopotassemia, hipertensão e alcalose me- tabólica (síndrome de Liddle). Os diuréticos que conservam potássio (p. ex., amilorida+e triantereno) bloqueiam o ENaC e diminuem a reabsorção do Na . + As células principais secretam K por um canal de potássio da membrana apical. Várias forças controlam a secreção desse cátion. A mais importante é a concentração intracelular alta de K+, gerada pela Na+/K+-ATPase, que produz um gradiente de concentração favorável à secreção do K+ no líquido tubular. Com a reabsorção de Na+ sem um ânion correspondente, o lúmen tubular torna-se negativo em comparação com o interior da célula, gerando um gradiente elétrico favorável à secreção do potássio. Quando a reabsorção do Na+ é blo- queada, o componente elétrico da força motriz para a reabsorção do K+ fica arrefecido e isto explica porque não há perdas urinárias exces- sivas durante o tratamento com diuréticos poupadores de potássio. A secreção de K+ também é promovida pelas ações da aldosterona, que aumenta o transporte regional de Na+, aumenta a eletronegatividade e amplia a quantidade e a atividade dos canais de potássio. Por fim, as taxas aceleradas de fluxo do líquido tubular, que ocorrem nas condi- ções de expansão do volume ou com o uso de diuréticos que atuam “acima” do ducto coletor cortical também aumentam a secreção do K+, assim como a presença de ânions relativamente inabsorvíveis (como o bicarbonato e penicilinas semissintéticas), que contribuem para o potencial negativo do lúmen tubular. Os efeitos colaterais de alguns antibióticos (p. ex., trimetoprima e pentamidina) bloqueiam os ENaCs e predispõem à hiperpotassemia, principalmente quando a capacidade renal de regular o K+ está alterada por outras razões. Conforme foi mencionado antes, as células principais também parti- cipam da reabsorção de água pelo aumento da permeabilidade à água em resposta à vasopressina. + As células intercaladas não participam da reabsorção de Na , mas estão envolvidas na secreção acidobásica. Estas células realizam dois tipos de transporte: transporte ativo de H+ mediado pela H+-ATPase (bomba de prótons) e permuta de Cl–/HCO3–. As células intercaladas conciliam os dois mecanismos de transporte nas membranas opostas para possibilitar a secreção de ácidos ou bases. As células intercaladas tipo A possuem uma bomba de prótons apical que medeia a secreção de ácidos e um permutador de ânions Cl-/HCO3– basolateral envolvi- do na reabsorção do bicarbonato (Fig. 1.3E); a aldosterona aumenta a quantidade de bombas de H+/ATPase e, em alguns casos, contribui para a ocorrência de alcalose metabólica. Por outro lado, as células intercaladas tipo B possuem um permutador de ânions na membrana apical para mediar a secreção de bicarbonato, enquanto a bomba de prótons localiza-se na membrana basolateral e possibilita a reabsor- ção de ácidos. Em condições de acidemia, o rim utiliza preferencial- mente as células intercaladas tipo A para secretar o excesso de H+ e gerar mais HCO3–. O contrário ocorre nos estados em que há excesso de bicarbonato com alcalemia, quando as células intercaladas tipo B predominam. Uma proteína extracelular conhecida como hensina regula essa adaptação. As células do ducto coletor medular interno têm algumas seme- lhanças com as células principais do ducto coletor cortical. As pri- meiras possuem canais de Na+ e K+ apicais responsáveis pela reabsor- ção de Na+ e secreção de K+, respectivamente (Fig. 1.3F). As células do ducto coletor medular interno também possuem canais de água regulados pela vasopressina (aquaporina-2 na membrana apical, aquaporinas-3 e 4 na membrana basolateral). O hormônio antidiuré- tico vasopressina liga-se ao receptor V2 presente na membrana baso- lateral e desencadeia uma via de sinalização intracelular por meio da ativação da adenililciclase mediada por uma proteína G, resultando no aumento dos níveis celulares do AMP cíclico. Essa via de sina- lização estimula a inserção de canais de água na membrana apical das células dos ductos coletores medulares internos para aumentar a permeabilidade à água. Esse aumento da permeabilidade possibilita a reabsorção de água e produção de urina concentrada. Na ausência da vasopressina, as células dos ductos coletores medulares internos são impermeáveis à água e a urina continua diluída. A reabsorção de sódio pelas células do ducto coletormedular interno também é inibida pelos peptídios natriuréticos conheci- dos como peptídio natriurético atrial e peptídio natriurético renal (urodilatina); o mesmo gene codifica os dois peptídios, mas utiliza mecanismos diferentes de processamento pós-translacional de um pré-hormônio comum para gerar proteínas distintas. Os peptídios natriuréticos atriais são secretados pelos miócitos atriais em respos- ta à expansão do volume, enquanto a urodilatina é secretada pelos epitélios dos túbulos renais. Os peptídios natriuréticos interagem com receptores da membrana apical (urodilatina) ou da basolateral (peptídios natriuréticos atriais) das células do ducto coletor medular interno, estimulam a guanililciclase e aumentam os níveis do GMPc citoplasmático. Por sua vez, esse efeito reduz a atividade do canal de Na+ apical dessas células e atenua a reabsorção final do referido cá- tion, resultando em natriurese. O ducto coletor medular interno transporta ureia para fora do lú- men tubular e permite seu retorno ao interstício, onde ela contribui para a hipertonicidade do interstício medular. A ureia é reciclada por difusão do interstício para os ramos descendente e ascendente da alça de Henle
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