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CASOS CLINICOS CASO CLÍNICO 1 M.R.S., feminino, 50 anos, com histórico de viagem à zona rural com relato de picada de inseto. Apresentando febre por mais de 15 dias, com calafrio, anorexia (perda de 3kg), tosse seca e náuseas.. Ao exame, apresentava chagoma de inoculação em membro inferior esquerdo, edema peri-orbitário e de membros inferiores, hepatomegalia, ausculta cardíaca com ritmo cardíaco regular. Laboratorialmente com anemia discreta. A ultrassonografia demonstrava esplenomegalia discreta, eletrocardiograma com taquicardia e no ecocardiograma discreto, derrame pericárdico RESOLUÇÃO O caso se trata de fase aguda, jpa que febre e chagoma de inoculação (picada do barbeiro) são característicos deste período CASO CLÍNICO II Paciente do sexo masculino, 60 anos, cor branca, pedreiro, com primeiro grau incompleto, internado por 51 dias devido à regurgitação alimentar e obstrução intestinal. Apresentava história de outras internações há quatro meses. Relatou há seis meses queda do estado geral e déficit ponderal de aproximadamente 12 kg em quatro meses associados à dificuldade de deglutição desde a infância e ter residido em casa de pau a pique quando criança Ao exame clínico, apresentava-se emagrecido, descorado (+++/++++), sem edemas, com diminuição da força, fecaloma e obstrução intestinal RESOLUÇÃO Fecaloma: massa ressecada de fezes Fase crônica digestiva, em que o sistema digestório foi danificado tanto que não há peristaltismo DOENÇA DE CHAGAS AGENTE ETIOLÓGICO Trypanossoma cruzi MORFOLOGIA Nos hospedeiros vertebrados e na cultura de tecidos, são encontradas intracelularmente as formas amastigotas e extracelularmente as formas tripomastigotas presentes no sangue circulante.. À microscopia eletrônica, observa-se em todas as formas evolutivas do T. cruzi uma organela especial, o “cinetoplasto”, que constitui uma mitocôndria modificada, com alto conteúdo de DNA. FORMAS DE VIDA FORMA AMASTIGOTA Localizada em células do sistema fagocitário, cardíacas, esquelética e lisas É uma forma intracelular, que faz divisão binária simples e que se transforma na tripomastigota Sem flagelo e circular Relacionada à patogenia: seus ninhos levam ao aumento do órgão, a exemplo do coração FORMA TRIPOMASTIGOTA Metacíclica: forma infectante liberada pelo triatomíneo É localizada na corrente sanguínea do hospedeiro vertebrado e não se divide Relacionada à transmissão e ao diagnóstico FORMA EPIMASTIGOTA Multiplica-se no intestino do vetor e em cultura, onde realiza divisão binária simples CLASSIFICAÇÃO CICLO BIOLÓGICO HOSPEDEIRO VERTEBRADO Amastigotas, epimastigotas e tripomastigotas interagem com células do hospedeiro vertebrado e apenas os epimastigotas não são capazes de nelas se desenvolver e multiplicar Os tripomastigotas metacíclicos eliminados nas fezes e urina do vetor, penetram pelo local da picada e interagem com células do sistema fagocitário da pele ou das mucosas. Neste local, ocorre a transformação dos tripomastigotas em amastigotas, que aí se multiplicam por divisão binária simples longitudinal. A seguir, ocorre a diferenciação dos amastigotas em tripomastigotas, que são liberados da célula hospedeira e que caem no interstício. Estes tripomastigotas caem na corrente circulatória, atingem outras células de qualquer tecido ou órgão para cumprir novo ciclo celular ou são destruídos por mecanismos imunológicos do hospedeiro ou podem ainda ser ingeridos por triatomíneos, onde cumprirão seu ciclo extracelular. No início da infecção do vertebrado (fase aguda), a parasitemia é mais elevada, podendo ocorrer morte do hospedeiro. Na espécie humana, a mortalidade nesta fase da infecção ocorre principalmente em crianças. Quando o hospedeiro desenvolve resposta imune eficaz, diminui a parasitemia e a infecção tende a cronificar. Na fase crônica, o número de parasitos é pequeno na circulação, só sendo detectados por métodos especiais (xenodiagnóstico, hemocultura e inoculação em camundongos) Independentemente da via de invasão, verificou-se que a fusão dos lisossomas com o vacúolo parasitóforo é essencial para reter as formas tripomastigotas altamente móveis no interior da célula hospedeira A interação entre o parasito na forma tripomastigota e a célula hospedeira ocorre em três fases sucessivas FASES DA INTERAÇÃO PARASITA- HOSPEDEIRO I: ADESÃO CELULAR Contato membrana-membrana II: INTERIORIZAÇÃO Formação de pseudópodes e fagocitose III: FENÔMENOS INTRACELULARES Tripomastigota resiste à ação das enzimas lisossômicas; 3 horas depois transforma-se em amastigota; divisão binária a cada 12 horas; em 9 gerações há cerca de 540 parasitos que se diferenciam em tripomastigota e rompem a célula HOSPEDEIRO INVERTEBRADO Os triatomíneos vetores se infectam ao ingerir os tripomastigotas presentes na corrente circulatória do hospedeiro vertebrado durante o hematofagismo. No estômago do inseto, eles se transformam em formas arredondadas denominadas esferomastigotas, circundadas ou não por flagelo, e em epimastigotas Na ampola retal, porção terminal do tubo digestivo, epimastigotas se diferenciam em tripomastigotas (infectantes para os vertebrados), sendo eliminados nas fezes ou na urina OBS: Como se tem reprodução apenas assexuada, não se considera hospedeiro definitivo e intermediário; apenas vertebrado ou invertebrado CURSO NATURAL DA DOENÇA TRANSMISSÃO I: ORAL (72%) Pode acontecer em várias situações, como na amamentação, pois T. cruzi já foi encontrado em leite materno na fase aguda da infecção; animais ingerindo triatomíneos infectados; canibalismo entre diferentes espécies de animais; pessoas ingerindo alimentos contaminados com fezes ou urina de triatomíneos infectados II: VETORIAL (9%) Este mecanismo de transmissão é o que tem maior importância epidemiológica. A infecção ocorre pela penetração de tripomastigotas metacíclicos (eliminados nas fezes ou na urina de triatomíneos, durante o hematofagismo) em solução de continuidade da pele ou mucosa íntegra III: SEM IDENTIFICAÇÃO (18%) TRANSFUSÃO SANGUÍNEA Constitui o segundo mecanismo de importância epidemiológica na transmissão da doença de Chagas TRANSMISSÃO CONGÊNITA A transmissão ocorre quando existem ninhos de amastigotas na placenta, que liberam tripomastigotas e que alcançam à circulação fetal. Este mecanismo de transmissão tem diminuído progressivamente de importância à medida que avança o controle vetorial nos diferentes países. ACIDENTE DE LABORATÓRIO Pode ocorrer entre pesquisadores e técnicos que trabalham com o parasito, seja com sangue de animais, vetores e pessoas infectadas e cultura do parasito. A contaminação pode ocorrer por contato do parasito com a pele lesada, mucosa oral ou ocular ou autoinoculação COITO Este mecanismo de transmissão já foi demonstrado experimentalmente e nunca foi comprovado na espécie humana. Há apenas relato de encontro de tripomastigotas em sangue de menstruação de mulheres chagásicas e no esperma de cobaios infectados. TRANSPLANTE Este mecanismo de transmissão pode desencadear fase aguda grave, pois o indivíduo que recebe um órgão transplantado infectado faz uso de drogas imunossupressoras e, consequentemente, tornam-se menos resistentes à infecção. Este mecanismo pode também participar da transmissão da doença em países não endêmicos, onde não se faz o controle específico da doença de Chagas Além de todas estas possibilidades descritas, os caçadores com as mãos feridas podem se infectar ao lidar com caça recém-abatida infectada INSETOS VETORES: HOSPEDEIRO INVERTEBRADO I: Triatoma infestans II: Rhodnius prolixus III: Panstrongylus megistus RESERVATÓRIOSMuitos mamíferos silvestres: tatus, marsupiais, como o gambá, além de roedores e macacos A DOENÇA FASE AGUDA Pode ser sintomática (aparente) ou assintomática (inaparente). Há predomínio da forma aguda sintomática na primeira infância A fase aguda inicia-se através das manifestações locais, quando o T. cruzi penetra na conjuntiva (sinal de Romanã na pele) O sinal de Romanã se caracteriza por edema palpebral unilateral, congestão conjuntival, com linfonodos pré- auriculares, submandibulares e outros aumentados de volume, palpáveis, celulite do tecido, gorduroso periorbitário e palpebral e presença de parasitos intra e extracelulares em abundância. O complexo cutâneo-linfonodal caracteriza-se pelo aparecimento, em qualquer parte do corpo, do chagoma primário e da linfadenite-satélite. O primeiro é representado pela inflamação aguda local na derme e na hipoderme, no ponto de inoculação do parasito As manifestações gerais da fase aguda são representadas por febre, edema localizado e generalizado, poliadenia (hipertrofia múltipla de gânglios linfáticos), hepatomegalia, esplenomegalia e, às vezes, insuficiência cardíaca e perturbações neurológicas. FASE CRÔNICA ASSINTOMÁTICA Esta fase é chamada de forma indeterminada (latente) e caracterizada pelos seguintes parâmetros: (1) positividade de exames sorológicos e/ou parasitológicos; (2) ausência de sintomas e/ou sinais da doença; (3) eletrocardiograma convencional normal, e (4) coração, esôfago e cólon radiologicamente normais. FASE CRÔNICA SINTOMÁTICA Certo número de chagásicos, após permanecerem assintomáticos por vários anos, com o correr do tempo apresentam sintomatologia relacionada com o sistema cardiocirculatório (forma cardíaca), digestivo (forma digestiva), ou ambos (forma cardiodigestiva ou mista). Isto ocorre devido ao fato de mudar inteiramente a fisionomia anatômica do miocárdio e do tubo digestivo (esôfago e cólon, principalmente). Observa-se reativação intensa do processo inflamatório, com dano destes órgãos, nem sempre relacionada com o parasito, que se encontra extremamente escasso nesta fase. FORMA CARDÍACA Na cardiopatia chagásica crônica sintomática, o fato clínico principal é a insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e isto se deve à diminuição da massa muscular que se encontra muito destruída devido à substituição por áreas de fibrose interrompendo fibras e fascículos; à destruição do SNA simpático e parassimpático e ao próprio exsudato inflamatório em atividade que são os responsáveis pelos sintomas Outro fator responsável pelas arritmias é uma lesão encontrada no ápice dos ventrículos, na qual há pobreza de células musculares com consequente herniação do endocárdio Além da insuficiência cardíaca, devido ao retardamento da circulação e da hipóxia, são frequentes os fenômenos tromboembólicos. Os trombos cardíacos são frequentes (76% dos casos que desenvolvem insuficiência cardíaca), mas também podem se formar nas veias dos membros inferiores. A partir destes trombos, desprendem-se êmbolos que podem originar infartos no coração, pulmões, rins, baço, encéfalo etc., causando assim a morte súbita MIOACARDITE CHAGÁSICA AGUDA Parasitismo intenso dos Cardiomiócitos, com ninhos de amastigotas de Trypanossoma cruzi Infiltrado inflamatório misto, predominantemente de células mononucleares MIOCARDITE CHAGÁSICA CRÔNICA Não se observam ninhos de amastigotas Áreas de extensa fibrose e infiltrado FORMA DIGESTIVA No Brasil, a forma digestiva da doença está presente em cerca de 7 a 11% dos casos A incoordenação motora (aperistalse, discinesia) caracterizam o megaesôfago e o megacólon. Os sintomas principais são: disfagia, odinofagia (dor ao engolir), dor retroesternal, regurgitação, pirose (queimação), soluço, tosse e sialose (salivação). Devido a alterações na secreção, o megaesôfago é muito associado ao câncer. As complicações mais graves do megacólon são a obstrução intestinal e a perfuração, esta levando à peritonite PATOGÊNESE Na doença de Chagas, são inúmeros os fatores que atuam direta ou indiretamente no aparecimento das lesões produzidas por T. cruzi. Alguns são devidos ao parasita (eventos iniciais na relação parasito-hospedeiro dependentes de mecanismos ligantes específicos) Os mecanismos pelos quais T. cruzi determina as lesões devem ser multifatoriais e deles depende o aparecimento ou não: das formas anatomoclínicas da doença, ou seja: a forma indeterminada, a cardíaca sintomática ou não, a digestiva: (megaesôfago e megacólon) além, é claro, das formas mistas. FASE AGUDA A partir da porta de entrada (chagoma de inoculação, por exemplo), o T. cruzi pode parasitar qualquer célula. As mais frequentemente parasitadas são: macrófagos, células de Schwann, micróglia, fibroblastos, células musculares lisas estriadas e outras. Durante a fase aguda da infecção, o macrófago deve ser a célula que tem mais chances de adesão. Nesta fase, o parasito ao se multiplicar pode sofrer degeneração, como também a célula hospedeira, ocorrendo liberação do mesmo no interstício, seja na forma de amastigota, epimastigota ou tripomastigota, bem como de organelas citoplasmáticas da célula hospedeira Surge uma inflamação aguda focal estabelecendo-se, já na segunda semana, uma imunidade. Na fase aguda, o coração pode ser lesado intensamente. A miocardite surge em correspondência com os ninhos rompidos. O exsudato inflamatório que predomina é o de células monocucleadas, como linfócitos, macrófagos e por vezes granulócitos neutrófilos e eosinófilos. A presença de focos inflamatórios é proporcional aos ninhos de parasitos presentes Macroscopicamente, há aumento da área cardíaca devido ao hidropericárdio e ao próprio coração que se mostra globoso, flácido e muito congesto em consequência da inflamação que acomete simultaneamente os três folhetos FASE CRÔNICA FORMA INDETERMINADA Os indivíduos que sobrevivem à fase aguda assintomática ou sintomática evoluem para a fase crônica e podem permanecer assintomáticos ou com infecção latente (forma indeterminada) por vários anos ou durante toda a sua vida. FORMA CARDÍACA Alguns pacientes podem 20 a 30 anos após a infecção, apresentar a cardiopatia chagásica crônica (CCC) sintomática que pode levá-los à morte MACROSCOPICAMENTE O coração mostra-se aumentado de volume e mais pesado que o normal FORMA DIGESTIVA O tubo digestivo, ainda durante a fase aguda da infecção, também é atingido pelo T. cruzi que parasita, ao acaso, as células musculares, os fibroblastos e principalmente o sistema nervoso intramural (plexos de Meissner e Auerbach). Dependendo do grau e da extensão das lesões é que surgem os primeiros sinais de incoordenação motora acompanhados de alterações de secreção e absorção Muitos são os fatores patogenéticos e fisiopatológicos, entre eles o mais importante seria a denervação parasimpática tanto no coração quanto nos megas chagásicos A gênese das alterações patológicas na doença de chagas depende: I: Estado imunológico e nutricional do indivíduo II: Grupos de risco: crianças III: Cepas do T. cruzi IV: Características morfológicas do parasito: tropismo por diferentes tipos celulares. Há formas delgadas, que são mais infectantes, penetram rapidamente e são sensíveis aos anticorpos, e as largas, que são menos infectantes, penetram lentamente e são mais resistentes aos anticorpos IMUNIDADE NA DOENÇA DE CHAGAS A infecção por T. cruzi mobiliza vários mecanismos da resposta imune inata e adaptativa que levam ao controle da infecção, mas que não elimina o parasito do hospedeiro vertebrado, resultando em uma baixa parasitemia e persistente parasitismo tecidual. Acredita-se que lesões teciduaisresultantes da resposta imune prolongada desencadeada pela permanência do parasito no tecido participam na patogênese de diversas formas clínicas da doença Ao atingir a corrente sanguínea, T. Cruzi torna-se um alvo da via do complemento. Embora suas 3 vias sejam distintas nos passos iniciais das respectivas cascatas, elas convergem para produzir uma C3 convertase, e, em seguida, uma convertase C5, que conduz à formação do complexo de ataque à membrana (MAC) e à subsequente lise do patógeno. Por outro lado, em mamíferos, as formas tripomastigotas são capazes de bloquear a via do complemento Os receptores da imunidade inata mais bem estudados na infecção pelo parasito são os do tipo toll (TLR), que reconhecem padrões moleculares associados a patógenos A ligação de moléculas de T. cruzi nos TLRs induz a produção de citocinas pró-inflamatórias. Ocorre a produção principalmente de IL-12 e TNF-a, que induzirão a síntese de IFN-y e a consequente produção de intermediários reativos de oxigênio e nitrogênio que apresentam propriedades microbicidas. A indução da produção de IL-12 por células dendríticas também levará ao desenvolvimento de uma resposta de perfil Thl e produção de IFN-y, propiciando o estabelecimento da imunidade mediada por células, bem como a produção de anticorpos, eventos geralmente necessários para o estabelecimento de uma imunidade protetora. IMUNIDADE HUMORAL Aparentemente, a imunidade humoral exerce um papel fundamental no controle da infecção No primeiro estágio da doença, é observada uma grande mobilização do sistema imune com o objetivo de conter o parasito e os danos da infecção. O parasito promove a ativação inespecífica de macrófagos e células natural killer (imunidade celular), acompanhada de ativação de linfócitos T e B, resultando na produção de imunoglobulinas (imunidade humoral). Alguns meses após a infecção (três ou mais) e depois da queda da parasitemia, os níveis de IgM diminuem progressivamente até desaparecerem. São raros os casos de IgM positiva durante a fase crônica da infecção. Por outro lado, anticorpos IgG aumentam por mais alguns meses e depois decrescem lentamente, estabilizando-se em níveis variáveis de hospedeiro para hospedeiro, podendo ser facilmente detectáveis pelos testes sorológicos ao longo da infecção Alguns estudos têm encontrado correlação entre a presença de altos níveis de IgM e cardiopatia chagásica crônica, níveis elevados de IgA e forma digestiva da doença e níveis elevados de IgE anti T. cruzi em pacientes chagásicos com a forma cardíaca. IMUNIDADE CELULAR Em relação à imunidade celular na doença de Chagas, sabe-se que o parasito ativa as células NK a produzirem o IFN-y. Esta citocina constitui um importante mediador da resistência à infecção e passa nos estágios posteriores da infecção a ser produzida por células T CD4+ e T CD8+ Quando se analisam as linhagens de células T, verifica-se que as células T CD4+ aparentemente são mais importantes na proteção contra a infecção por T. cruzi na fase aguda da infecção, devido à produção de citocinas As células T CD8+ parecem ter participação mais importante na fase crônica da infecção e na gênese das lesões, sendo associadas a fenômenos de citólise, fibrose tecidual e, portanto, às manifestações cardíacas e intestinais da doença. AUTOIMUNIDADE A hipótese da autoimunidade como determinante na evolução da doença tem perdido força com o surgimento de métodos mais sensíveis para a detecção do parasito nos tecidos lesionados DIAGNÓSTICO CLÍNICO A origem do paciente, a presença dos sinais de porta de entrada (sinal de Romanã e/ou Chagoma de inoculação) acompanhadas de febre irregular ou ausente, adenopatia- satélite ou generalizada, hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema generalizado ou dos pés, fazem suspeitar de fase aguda de doença de Chagas. As alterações cardíacas acompanhadas de sinais de insuficiência cardíaca confirmadas pelo eletrocardiograma e as alterações digestivas do esôfago e do cólon (reveladas pelos raios X) fazem suspeitar de fase crônica da doença. Entretanto, em ambos os casos, há necessidade de confirmação do diagnóstico por métodos laboratoriais. LABORATORIAL Os métodos de diagnóstico laboratorial apresentam diferentes resultados se aplicados na fase aguda ou crônica da infecção. FASE AGUDA Na fase aguda, observam-se alta parasitemia, presença de anticorpos inespecíficos e início de formação de anticorpos específicos. Nesta fase, recomenda-se pesquisa direta e, se necessário, pesquisa indireta do parasito FASE CRÔNICA Na fase crônica, observam-se baixíssima parasitemia e presença de anticorpos específicos (IgG) Recomendam-se métodos sorológicos (imunofluorescência indireta, ELISA, hemaglutinação indireta ou fixação de complemento) ou a pesquisa do parasito por métodos indiretos (xenodiagnóstico, hemocultura ou inoculação em animais de reservatório) DIAGNÓSTICO DE FASE AGUDA EXAMES PARASITOLÓGICOS DIRETOS I: Exame de sangue a fresco II: Exame de sangue em gota espessa III: Esfregaço sanguíneo corado pelo Giemsa INDIRETO I: Xenodiagnóstico e hemocultura EXAMES SOROLÓGICOS O diagnóstico sorológico evidencia a presença de anticorpos específicos no soro do paciente I: Reação de imunofluorescência indireta (RIFI IgM) II: Enzime-linked immunosorbent assay (ELISA) EXAME MOLECULAR I: PCR DIAGNÓSTICO DE FASE CRÔNICA EXAMES PARASITOLÓGICOS Sendo a parasitemia da fase crônica subpatente e muito escassa, a detecção do parasito se dá por métodos parasitológicos indiretos I: Xenodiagnóstico II: Hemocultura III: Inoculação em Camundongos Jovens IV: Reação em cadeia da polimerase (PCR) EXAMES SOROLÓGICOS I: Reação de fixação de complemento (RFC) ou de Guerreiro e Machado II: Reações de imunofluorescência indireta (RIFI) III: Reação de hemaglutinação indireta (RHA) IV: Enzime-linked immunosorbent assay (ELISA) OBS: Resultados falso-positivos: proximidade com Leishmania PROFILAXIA A profilaxia da doença de Chagas está intimamente ligada à melhora das condições de vida de nosso camponês, bem como à modificação do hábito secular de destruição da fauna e da flora. Sabe-se que para se alcançar isto será necessário modificar a estrutura agrária brasileira e a educação sanitária Atualmente, as medidas que podem ser sugeridas na profilaxia são: I: Melhoria das habitações rurais II: Combate ao barbeiro III: Controle do doador de sangue IV: Controle de transmissão congênita V: Vacinação: resultados pouco promissores TRATAMENTO A terapêutica da doença de Chagas continua parcialmente ineficaz Cura parasitológica: 60 a 85% do tratamento em fase aguda O objetivo é, precocemente, diminuir ou eliminar a infecção, o que tem sido mais fácil durante a fase aguda ou infecção recente. Nos casos crônicos, apesar da pouca eficiência dos medicamentos, aconselha-se o seu emprego, principalmente em crianças ou nos acometidos com a forma indeterminada da doença ou formas cardíacas ou digestivas leves, visando a melhora de prognóstico do paciente Ainda, os danos ao coração e ao sistema nervoso, por exemplo, que podem ocorrer ao longo da fase crônica, são irreversíveis. A cardiopatia chagásica é medicada como as de outras etiologias e o Megaesôfago e o Megacólon são tratados cirurgicamente NIFURTIMOX Age contra as formas sanguíneas e parcialmente contra as formas teciduais BENZONIDAZOL Possui efeitos apenas contra as formas sanguíneas DADOS EPIDEMIOLÓGICOS Endémico na América do Sul, Central e México: prevalência de 8 milhões de infectados. Ainda, é endêmica em 22 países da América Latina A transmissão pelos dejetos do triatomíneo é a que tem maior importância epidemiológica,embora nos centros urbanos possa ocorrer transmissão através de transfusão sanguínea A transmissão por via oral tem sido constatada em pessoas que ingerem o açaí ou alimentos preparados com açaí contaminados com os tripomastigotas metacíclicos Indivíduos vivendo em áreas rurais possuem maior risco pela condição de moradia, casas de pau-a-pique, onde há proliferação dos triatomíneos, e domesticação de animais silvestres É considerado um problema médico social grave e uma das principais causas de morte súbita em fase produtiva do cidadão
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