Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Unidade I ESTUDOS DISCIPLINARES Cinema e Educação Prof. Adilson Oliveira A LUA FOI AO CINEMA, de Paulo Leminski A lua foi ao cinema, passava um filme engraçado, a história de uma estrela que não tinha namorado. Não tinha porque era apenas uma estrela bem pequena, dessas que, quando apagam, ninguém vai dizer, que pena! Era uma estrela sozinha, ninguém olhava para ela, e toda a luz que ela tinha cabia numa janela. A lua ficou tão triste com aquela história de amor, que até hoje a lua insiste: – Amanheça, por favor! Falar de cinema? Falar de cinema? Fonte: http://www.cinema7arte.com/ Fonte: Fonte: https://spherageek.wordpress.com Fonte: http://www.letsfamily.com.br/ Falar de cinema? Walter Salles Júnior afirmou que o papel principal do cinema “é gerar uma memória de nós mesmos”, refletir o retrato de uma sociedade num dado momento. “Uma professora muito maluquinha” (2011), resgata a história de cidade pequena da década de 1940. “A menina que roubava livros” (2014) traz história de resistência na II Guerra Mundial. Fonte: http://www.guiadasemana.com.br/ Papel do cinema “O bom filme é aquele que ajuda o espectador a viver. O cinema tem uma função importante na formação do caráter”, segundo Domingos Oliveira (diretor, ator, roteirista). Narradores de Javé (2003): http://www.guiadasemana.com.br/ Formação cultural; crenças; oposição entre memória, história, verdade e invenção; importância da oralidade na construção científica; dimensão da escrita e da fala; confronto entre o progresso e as tradições. Papel do cinema Cinema como arte “Uma pessoa não pode ver o Citizen Kane (Cidadão Kane, 1941) entrando na sala de cinema em qualquer momento e vendo apenas uma parte. É preciso estar no começo para ver o plano de Kane morrendo depois de dizer a célebre palavra “Rosebud”. É preciso acompanhar os repórteres que vão ouvir os amigos e familiares de Kane para tentar descobrir o significado de “Rosebud”. Continua Papel do cinema E, finalmente, é preciso estar presente no final, quando os empregados jogam todos os bens de Kane numa fornalha e a câmera dá um close num trenó infantil onde está escrita a palavra “Rosebud”. O filme tem uma estrutura completa, tem um desenvolvimento planejado para ser fruído ao longo de um tempo e, portanto, não é possível vê-lo num espaço instalativo.” (Arlindo Machado. Revista Z Cultural. Ano IX). Cidadão Kane (1941): Papel do cinema Fonte: http://cinemaedebate.com/ E para você: qual é a função do cinema? Lazer? Prazer? Aprendizagem? Conhecimento de uma determinada época? Questionamento sobre o ser humano? Fuga da realidade? Fonte: http://pt.depositphotos.com/ Papel do cinema INTERVALO Na virada do século XIX para o XX não existia ainda nenhuma forma padronizada de produzir e exibir filmes, a projeção podia ser realizada em várias telas em vez de em uma só, ou então vários projetores diferentes podiam ser apontados para a mesma tela, filmes eram mais frequentemente exibidos nos cafés concerts, que eram ambientes mistos e iluminados para onde as pessoas iam com a intenção de beber, ouvir música ao vivo e dançar. Cinema tem história Os filmes dos primeiros tempos não vinham ainda “fechados” numa montagem definitiva. O exibidor comprava quantos rolos quisesse e montava o seu filme na ordem que bem entendesse. O modo de projeção também não estava definido: cada exibidor podia inventar o seu próprio “cinema”, projetando por detrás da tela, em telas paralelas, ou fundindo duas ou mais imagens simultâneas na mesma tela. Cinema tem história O cinema tal como o conhecemos hoje é uma instalação que se cristalizou numa forma única: um spot de luz situado atrás da plateia, ao atravessar uma película projeta as imagens ampliadas da película numa única tela à frente dos espectadores mergulhados numa sala escura. http://www.rgbstock.com/ Cinema tem história O tipo de filme produzido a partir de então: basicamente narrativo e de longa duração, associado ao efeito ilusionista buscado, exigia o dispositivo elementar, baseado no efeito mimético da fotografia, na ilusão de movimento produzida pela câmera, na sala escura e vedada acusticamente, na projeção numa tela grande e única, e no ocultamento do projetor e das caixas de som. Cinema tem história O modelo de cinema que conhecemos começa a se consolidar na primeira metade do século XX, com o surgimento dos nickelodeons, as primeiras salas dedicadas exclusivamente à exibição de filmes nome nickelodeons: de nickel, cinco centavos de dólar, que era o preço do ingresso, e odeon, teatro, em grego. Com cerca de 100 lugares, exibiam filmes continuamente para um fluxo constante de espectadores. O primeiro foi constituído nos EUA, em 1905. Cinema tem história Com o surgimento do digital e da internet, a ideia de sair para fora do cubo negro ganhou nova força. Em 2008, tivemos em São Paulo um grande evento dedicado a um cinema de tipo instalativo, que exigia novos espaços de exibição. A mostra se chamou “Cinema sim”. Entre os vários trabalhos exibidos na mostra, destacou-se a instalação de Julian Rosefeldt, chamada “Stunned man”(2004). Cinema tem história “Stunned man” (2004): filmado em Super-16 mm e transferido para DVD, era projetado em duas telas colocadas lado a lado. O efeito das duas telas é estonteante. Ora as duas imagens são especulares, ou seja, uma é a inversão simétrica da outra, ora elas são diametralmente opostas: uma mostra um homem destruindo a sua casa num acesso da fúria e a outra mostra o mesmo homem a reconstruindo calmamente. Cinema tem história O homem da tela esquerda atravessa o quadro e entra na tela da direita, enquanto o outro faz o percurso inverso. Então, a casa que estava reconstruída começa a ser demolida, enquanto a outra volta a ser reconstruída. Devido ao trabalho em loop, isso vai se repetir infinitamente: o personagem enfurecido vai sempre destruir a casa e o seu duplo pacífico vai sempre reconstruí-la, apenas invertendo os lados. O resultado é uma estranha forma de caleidoscópio, com imagens especulares e paradoxais. Cinema tem história “Stunned man” (2004). Fonte: http://vimeo.com/55126033 INTERVALO “Alice no País das Maravilhas” (1903). Fonte: http://www.proibidoler.com/ Primeira adaptação, é um filme mudo britânico que se tornou memorável por utilizar efeitos especiais, como o encolhimento de Alice e a sala com muitas portas. Apenas uma cópia do filme original tem existência conhecida e partes estão perdidas. Filmes para o público infantil “O Mágico de Oz” (1939). Fonte: http://www.proibidoler.com/ Adaptação do clássico de L. Frank Baum, foi indicado para seis categorias do Oscar, inclusive melhor filme. Levou as estatuetas de canção com “Over the Rainbow” e trilha sonora. Filmes para o público infantil “A Bela e a Fera”, La Belle et la Bête (França, 1946). Fonte: http://www.proibidoler.com Filmes para o público infantil No mundo ocidental, o cinema infantil tem uma ligação histórica com a literatura infantil. Nos EUA e na Europa, ele surge com base nos clássicos da literatura, da narrativa oral e dos contos de fadas, uma vez que o consumo por este tipo de leitura é bastante significativo entre o público infanto-juvenil. No Brasil, grande parte desses filmes teve como inspiração os enredos e os personagens da televisão. Cinema infantil De 1908 até 2002 foram produzidos 3.415 longas-metragens brasileiros, mas apenas 2% (cerca de 70 filmes) destinaram-se ao público infantil. As duas primeiras produções para crianças são de 1956: “O saci”, de Rodolfo Nani, inspirada na obra de Monteiro Lobato, e “Sinfonia amazônica”, primeiro desenho animado, que traz influências de Walt Disney.Cinema infantil “Os Trapalhões e o Mágico de Oróz” (1984). Entre as maiores bilheterias da história do cinema brasileiro, teve 2.457.156 espectadores no Brasil. Fonte: http://pt.wikipedia.org/ Cinema infantil no Brasil – Exemplo O filme é uma paródia de “O Mágico de Oz”, de 1939, e se passa no nordeste brasileiro. Didi, Soró e Tatu reclamam da seca e da fome e partem para a cidade em busca de condições melhores para sobrevivência. No caminho, eles encontram um Espantalho abandonado (Zacarias) e o Homem Lata (Mussum). Juntos, chegam à pequena cidade de Oróz, castigada pela seca e pela tirania do Coronel Ferreira, em relação ao qual o Delegado Leão (Dedé) não toma atitudes para enfrentá-lo, pois é covarde. Cinema infantil no Brasil – Exemplo “Os Trapalhões e o Mágico de Oróz” é um dos filmes dos Trapalhões que mais enfatizam problemas sociais (fome, sede, pobreza). Logo no início vê-se uma imagem da seca sertaneja da região do nordeste brasileiro. Cinema infantil no Brasil – Exemplo Um narrador discursa sobre isso logo no início: “Vinte e cinco milhões de habitantes. Quase um continente esquecido. Nordeste. Massa de um todo que a seca reduziu a pó. Resto de verdade. Resto de mundo. Resto de esperanças. Resto de gente. Resto de vida num lugar em que a vida confunde-se com a morte. Diz o sofrido sertanejo, que a seca é a vida sem vida. Por mais que grite, este homem não consegue ser ouvido. Suas esperanças vão se diluindo à medida em que aumenta a surdez dos homens insensíveis. E o povo carece da prece, pois acredita que o Nordeste não é uma terra sem Deus.” Cinema infantil no Brasil – Exemplo Em seguida dessas imagens há três personagens, um deles é Didi, que fala da pobreza e da luta pra sobreviver. As três personagens estão trabalhando na terra seca do Sertão quando um dos amigos fala: Amigo 1 – “São cinco anos de sofrimento. Sem chuva, sem fruta, sem caça e sem esperança de melhora.” Didi – “É verdade. Se ficar a gente morre. Se não ficar, morre também. Então vamos embora!” Continua Cinema infantil no Brasil – Exemplo Amigo 2 – “Melhor do que ficar aqui, nessa terra seca, sofrendo.” Amigo 1 – “Sofrendo e fazendo ela sofrer. Cava aqui, cava acolá e nada dá.” Amigo 2 – “Já ouviu dizer que o sertanejo é antes de tudo um forte?” Didi – “Nós éramos. Agora ficamos só no antes de tudo. Tou certo ou não tou, Salvação?” (Didi olha para o burro, que começa a relinchar). Cinema infantil no Brasil – Exemplo INTERVALO O Instituto Nacional de Cinema Educativo é criado em 1936 e dirigido por Roquette-Pinto, tendo o cineasta Humberto Mauro como técnico do Instituto. No INCE, entre 1936 e 1964, Mauro realizou 357 filmes pedagógicos e científicos. Nas décadas de 1930 e 1940, principalmente, os filmes produzidos correspondiam ao objetivo de reinventar o Brasil, mostrando a natureza exuberante e o homem primitivo como marcas de nossa nacionalidade. Cinema e educação A possibilidade de uso do cinema como instrumento pedagógico, doutrinário ou de propaganda, estava introduzida, no início do século XX, em vários países do mundo, independentemente da ideologia que professavam. Porém, um filme não precisa ser didático para ensinar valores importantes na formação dos alunos. O cinema é capaz de alimentar o intelecto com diversão e criticidade. Cinema e educação A utilização do cinema como veículo e ferramenta de ensino- aprendizagem oportuniza enfocar os aspectos culturais, históricos, literários e políticos, proporcionando uma visão integral do cinema enquanto mídia educativa. Cinema e educação Por que usar o cinema na sala de aula? Para mobilizar a expressão e a comunicação pessoal. Intensificar as relações dos indivíduos tanto com seu mundo interior como com o exterior. Auxiliar o aluno a compreender a diversidade de valores que orientam tanto seus modos de pensar e agir quanto os da sociedade. Cinema e educação Favorecer o entendimento da riqueza e da diversidade da imaginação humana. Tornar o aluno capaz de perceber sua realidade cotidiana mais vivamente, reconhecendo e decodificando formas, sons, gestos e movimentos que estão à sua volta. Por que usar o cinema na sala de aula? Função político-pedagógica do cinema: possibilidade de politização dos indivíduos por meio do acesso à cultura, A reprodutibilidade da obra de arte passa a ser de livre acesso a todos. Atuação da escola: formação de indivíduos críticos e conscientes. Cinema e educação Filmes de Walt Disney: “Aladim”, “O Rei Leão”, “A Pequena Sereia” e tantos outros, trazem mensagens para as crianças. Tais mensagens nada têm de inocentes. Elas estão, de alguma forma, narrando concepções de racismo, sexismo, genocídio dos índios americanos, questões de poder etc. Cinema e educação Pais e professores podem tomar os filmes animados da Disney como material de discussão e reflexão. Mais do que veículos de entretenimento, fantasia, emoção, eles estão vendendo produtos e ensinando valores, por isso devem ser considerados como sérios locais de aprendizagem e, portanto, podem e talvez devam ser incorporados no currículo escolar como objetos de conhecimento social e análise crítica. Cinema e educação Trabalhar com o cinema como recurso em sala de aula é propiciar à escola o reencontro com a cultura cotidiana e elevada ao mesmo tempo. O cinema é a área na qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores sociais mais abrangentes são compostos numa só obra de arte. Cinema e educação ATÉ A PRÓXIMA!
Compartilhar