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DIREITO DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE
RESUMO. O presente estudo, por meio de pesquisa bibliográfica, buscou analisar o desenvolvimento do ambientalismo, datado da década de 1950, que culminou com a consolidação do termo desenvolvimento sustentável. Pretende-se através deste, explanar os principais eventos e documentos que contribuíram para a formação destes conceitos, tendo como ponto de partida o Pós Segunda Guerra Mundial, a partir da qual tem-se o grande desenvolvimento industrial, onde movimento ambiental começou como uma resposta à industrialização. Para entender o início das discussões políticas sobre o tema, é necessário destacar os movimentos desde a década de 1960, até a atualidade, analisando as reuniões internacionais, e as agendas propostas por essas conferências sobre o desenvolvimento sustentável. Diante disso, busca-se analisar brevemente os principais encontros e documentos sobre o tema, bem como, ao final, destacar a importância do saber ambiental para tal questão.
PALAVRAS-CHAVE: Ambientalismo. Revolução Industrial. Desenvolvimento Sustentável. Saber Ambiental.
INTRODUÇÃO
A crise ambiental tem origem em fenômenos periféricos da relação homem-natureza, caracterizando-se hoje como um dos efeitos colaterais de todo um modelo de construção da sociedade delimitada pelo nosso próprio processo de civilização.
A problemática ambiental se tornou centro de discussões no cenário político e jurídico mundial permite atualmente que se tenha maior conscientização e noção dos reflexos que a degradação ambiental sem limites causará as presentes e futuras gerações, fazendo com que aumentem consequentemente as pautas de discussão sobre a problemática ambiental e suas possíveis soluções. 
O marco histórico mais significativo nessa questão é a Revolução Industrial, a qual trouxe uma alta concentração populacional em decorrência da urbanização acelerada; o consumo excessivo de recursos naturais, dos quais alguns não renováveis; contaminação do ar, do solo, das águas; e grandes índices de desflorestamento entre outros.
A preocupação internacional com os limites do desenvolvimento do planeta ganhou maior enfoque a partir da década de 60, quando começaram as discussões sobre os riscos da degradação do meio ambiente. A partir de então vários eventos e documentos foram promovidos e construídos ao longo dos tempos com o fim de se atingir a proteção e preservação necessárias à natureza, para as presentes e futuras gerações. 
Desenvolvendo-se através de uma abordagem dialética e bibliográfica, o presente trabalho pretende analisar os principais eventos promovidos com o intuito de traçar metas e objetos que promovessem o desenvolvimento sustentável, bem como os principais documentos assinados com esse fim.
METODOLOGIA
Este estudo busca abordar os principais documentos e eventos que tratam do desenvolvimento do ambientalismo até a consolidação do desenvolvimento sustentável, através de pesquisa bibliográfica, que, pode ser conceituada como a que “é elaborada com base em material já publicado. Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de eventos científicos” (GIL, 2010, p.29).
Para os resultados almejados serem atingidos, será utilizado todo material disponível, como monografia, artigos científicos, periódicos, livros, legislação pertinente, noticia e editorial no intuito de elucidar todas as questões levantadas e discutir as pertinências sobre o tema.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os problemas ambientais sempre acompanharam a humanidade desde que os seres humanos aprenderam a dominar o fogo e a criar ferramentas, multiplicando, de maneira gradativa, sua capacidade de trabalho e também de destruição. Essa problemática acarretou mudanças globais que comprometeram a manutenção de diversos sistemas socioambientais, prejudicando a sustentabilidade do planeta. Pode-se afirmar que tal situação está intimamente vinculada ao modo de compreensão que se estabelece na relação existente entre as ações ou o modo de existir humano e a natureza. 
Apesar das preocupações ambientais na modernidade se iniciarem na década de 50 do século passado, somente na década de 60 o movimento de inquietação e consciência ambiental a nível global ganha enfoque, assumindo, todavia, diferentes percepções e formas de enfrentamento da questão ecológica. 
O florescimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável e sua emergência como um novo paradigma de desenvolvimento pode ser explicado pelo crescimento do ambientalismo internacional e estudos de desenvolvimento de meados do século XX.
Nos anos de 1960, documentos, como a “Tragedy of the Commons” de Hardin (1968), o qual demonstrava através de exemplos que, quando se explora o meio ambiente, que é um bem comum, buscando o benefício privado, podem ser causados impactos ambientais que afetam negativamente o bem-estar de outras pessoas que não têm relação com quem os gera. E o “The population bomb” de Ehrlich (1968) que alertava sobre os problemas originados da conexão entre população humana, exploração dos recursos naturais e o meio ambiente, apresentando um quadro catastrófico, indicando que o mundo tinha pessoas em excesso, e que milhões morreriam de fome, caso não houvesse controle populacional, traziam um debate sobre a questão ambiental. Os temas, entretanto, eram tratados de forma superficial. 
A consciência ambiental só emerge com a obra de Rachel Carson, Silent Spring (Primavera Silenciosa) nos anos de 1962, que denunciou os malefícios causados pelos pesticidas à saúde humana e à vida selvagem. 
Em abril de 1968, foi criado o Clube de Roma para tratar de temas relacionados com o ambiente humano. Nas palavras de Dias o evento (pág. 93)
 (...) teve importância nos anos seguintes divulgando periodicamente estudos sobre o meio ambiente e o estado geral do planeta (...). Foi criada uma organização informal que tinha entre suas finalidades: promover o entendimento dos componentes variados, mas interdependentes – econômicos, políticos, naturais e sociais –, que formam o sistema global, chamar a atenção dos que são responsáveis por decisões de alto alcance, e do público do mundo inteiro, para aquele novo modo de entender e, assim, promover novas iniciativas e planos de ação.
Desse evento, foi publicado no ano de 1972 um relatório que tratava dos limites do crescimento, também conhecido como Relatório Meadows, o mesmo trazia um alerta sobre os perigos da continuidade do consumo, prevendo a possibilidade de que o planeta pudesse experimentar um desastre ecológico caso continuasse com os padrões econômicos de produção e consumo. O relatório contribuiu para colocar a questão da crise ambiental como um dilema da humanidade e exerceu grande influência na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada naquele mesmo ano.
A Conferência (CNUMAH) realizada em Estocolmo, significou o primeiro passo a fim de discutir e resolver a problemática ambiental e institucionalizar a questão na agenda política em nível internacional (WENCESLAU, ANTEZANA e CALMON, 2012). Como resultado, a Conferência de 1972 produziu grandes decisões de ampla repercussão, dentre as quais se pode destacar a Declaração de Estocolmo, que enunciou 24 princípios para preservar e melhorar o meio ambiente, entre os quais se encontram as bases do que viria a ser o novo paradigma de desenvolvimento.
 No entanto, a Conferência recebeu críticas por ter principalmente abordado a primeira onda do ambientalismo, que focou preferencialmente os problemas de contaminação do meio ambiente e só tardiamente, e em parte, abordou os problemas ambientais e de desenvolvimento do mundo em desenvolvimento. Também houve pouca discussão sobre a relação entre pobreza e degradação ambiental. Todavia a conferência foi significativa, pois alegou que as questões de desenvolvimento e ambientais poderiam ser integradas de forma a otimizar tanto os sistemas econômicos como os ecológicoslevando também a uma maior sensibilização para as necessidades dos países em desenvolvimento e o reconhecimento de que os problemas ambientais também precisam ser vistos de uma perspectiva do terceiro mundo. (DIAS, pág. 102)
No ano de 1979, foi realizada a Convenção de Berna, um instrumento chave que discutiu sobre a conservação da vida selvagem e do meio natural na Europa, em particular das espécies e habitats que exigiam a cooperação de diversos Estados, assinada pelo Conselho da Europa e a Convenção de Genebra, no mesmo ano, destinada a proteger o meio ambiente contra os efeitos negativos da poluição e a prevenir e reduzir gradualmente a degradação da qualidade do ar, instituindo o quadro europeu de cooperação em matéria de poluição atmosférica de longa distância (SILVA e DIAS, 2012).
Na década seguinte, em 1982, a UNEP realiza a Conferência de Nairóbi, ocasião em que se deliberou pela criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU). A ONU constituiu essa comissão com o propósito de preparar um relatório sobre a questão do desenvolvimento e o meio ambiente, também conhecida como Comissão Brudtland. Essa comissão tinha como fim realizar avaliação dos avanços da degradação ambiental e a eficácia das políticas ambientais para o seu enfrentamento. E após 3 anos de pesquisas, deliberações e audiências públicas, a comissão publicou o Nosso Futuro Comum, conhecido também como Relatório Brundtland ou Informe Brundtland (LEFF, 2005).
É nesse contexto que se divulgou a definição do desenvolvimento sustentável, por intermédio do livro Nosso Futuro Comum, que foi considerado um marco formal dessa mudança de atitude, a saber, “[...] aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (CMMAD, 1991, p. 46).
Este documento denuncia a insustentabilidade dos paradigmas de desenvolvimento econômico vigente, explorando e degradando os recursos ecossistêmicos, pondo em risco a própria possibilidade vindoura de desenvolvimento. Relata também outras questões relevantes como a pobreza, a ausência de desenvolvimento e superpopulação humana as quais têm vinculações muito estreitas com as questões ambientais globais. Consegue, ainda, dar notoriedade mundial ao termo desenvolvimento sustentável, colocando-se a necessidade urgente de revisão dos modelos econômicos de desenvolvimento, colocando uma visão antropocêntrica e negando o ecocentrismo.
O relatório é fundamental na evolução do conceito de desenvolvimento sustentável, pois traz uma abordagem sobre o desenvolvimento do ponto de vista econômico, social e ambiental, formando o que se convencionou denominar posteriormente de tripé da sustentabilidade (DIAS, pág. 107). A partir de então o conceito de desenvolvimento sustentável começou a ser difundido, se consolidando nos eventos posteriores. 
Na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992, a comunidade internacional ao fim dos debates, aceitou formalmente a necessidade de mudança nos padrões de desenvolvimento, resumindo em 27 princípios que compõem a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, e adoção da Agenda 21, que constitui o Programa de Ação para o Desenvolvimento Sustentável Global.
É a partir da Conferência do Rio que se reconhece que o desenvolvimento sustentável se inicia com as pessoas, e o ambiente passa a ser visto como pré-requisito fundamental, sem o qual não há desenvolvimento. Como consequência, entende-se que dentro do conceito de Desenvolvimento Sustentável se inclui um conjunto de requisitos mínimos para todas as sociedades, que envolve uma alimentação adequada, bem como moradia, emprego, saúde e educação (DIAS, pág. 108).
De um modo particular, a Agenda 21 consistia em um programa de cunho mundial instituído para regulamentar o desenvolvimento fundado nos princípios da sustentabilidade. Assim foi se prefigurando uma política para a mudança global a fim de suprimir os antagonismos havidos entre ambiente e processos de desenvolvimento (LEFF, 2005).
Naquela ocasião, as atenções se prenderam ao meio ambiente e aos processos de desenvolvimento, como se percebeu nos discursos sobre a conciliação entre qualidade ambiental e o paradigma de desenvolvimento da economia. Além disso, ratificou a disseminação e consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável. A Rio-92 constituiu-se num marco internacional relevante para a confirmação de compromissos dos governantes no que diz respeito a desenvolvimento sustentável, pautando que as atenções se prendem à relação entre qualidade ambiental e modelo de crescimento da economia ou meio ambiente e desenvolvimento. Todavia, as divergências políticas e conflitos decorrentes de interesses econômicos não trouxeram o cumprimento dos acordos no patamar esperado e necessário.
Dez anos mais tarde, 2002, ocorre em Johanesburgo, na África do Sul, um novo encontro para avaliação da implementação das decisões tomadas na Conferência Rio-92, conhecido como Rio+10, tendo como objetivo de realizar um balanço dos compromissos firmados na Rio 92. Todavia, apesar das intenções manifestadas na Rio 92, houve no período entre as duas conferências uma piora nos indicadores socioambientais e uma redução percentual da ajuda dos países ricos ao desenvolvimento dos países pobres. A Conferência de Johanesburgo concentrou-se no objetivo prioritário da redução da pobreza, adquirindo assim um caráter marcadamente socioambiental (JOTABÁ, CIDADE e VARGAS, 2009, p. 59).
Após 20 anos da realização da Conferência do Rio, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), conhecida como Rio+20 com o objetivo foi o de revigorar o comprometimento político com o desenvolvimento sustentável, de modo a avaliar o progresso e as brechas na implementação da agenda ambiental, e ainda discutir e tratar novas e emergentes temáticas.
Como fruto da Rio+20 temos o relatório “The Future We Want” (O futuro que queremos), dividido em seis capítulos com os títulos de “Nossa visão comum”, “Renovação dos compromissos políticos”, “Economia verde”, “Estrutura institucional”, “Estrutura de ação” e “Meios de implementação”, o documento reafirma compromissos de conferências anteriores, principalmente, os princípios da Eco-92, sendo baseado no desenvolvimento sustentável.
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento sustentável tem raízes profundas e complexas como uma combinação de diversos fatores que moldaram significativamente o conceito e suas crenças básicas. O atual paradigma capitalista apresenta sua crença de que a crise ambiental surge como possibilidade ideológica para orientar novos processos sociais e para modificar os já existentes a fim de enquadrá-los às necessidades ambientais.
Apesar dos muitos encontros e dos documentos elaborados ao longo do tempo, a sustentabilidade embora muito discutida, é um desafio global e requer estratégias conjuntas. As disparidades de acesso a tecnologias e a recursos ambientais, a assimetria da distribuição da riqueza socialmente produzida e a marcante ausência de formas de existências dignas intra e internacional são uma marca histórica da insustentabilidade da humanidade. E isto precisa ser superado se quiser alcançar a sustentabilidade.
Estando a questão ambiental diretamente ligada à social, faz-se necessário pensar na mudança do âmbito social, dos valores sociais impostos pela classe dominante, o qual nos induz a um viés individualista, utilitarista e egoísta, no qual o ambiente natural não é levado em consideração, resultando em muitas agressões ao mesmo. O saber ambiental, uma forma de designar um saber decorrente de um processo de Educação Ambiental, volta-se para os valores éticos, conhecimentos práticos e saberes tradicionais, sendo idealizado como um processo em construção que envolve aspectos institucionais tanto de nível acadêmico, que se contrapõem aos "paradigmas normais"do conhecimento, quanto de níveis social e político, por meio de movimentos sociais e de práticas tradicionais de manejo dos recursos naturais.
REFERÊNCIAS
CMMAD. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1991.
DIAS, Reinaldo Sustentabilidade: origem e fundamentos; educação e governança global; modelo de desenvolvimento / Reinaldo Dias. -- São Paulo: Atlas, 2015.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. - São Paulo: Atlas, 2010.
JATOBÁ, S. U. S.; CIDADE, L. C. F.; VARGAS, G. M. Ecologismo, ambientalismo e ecologia política: diferentes visões da sustentabilidade e do território. Sociedade e Estado. Brasília, v. 24, n. 1, p. 47-87, jan./abr. 2009.
LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
SILVA, P. C. S.; DIAS, V. B. As mudanças climáticas na região amazônica e sua repercussão no direito internacional ambiental. Revista C@LEA, v. 1, n, 1, p. 20, 2012.
WENCESLAU, J.; ANTEZANA, N. L.; CALMON, P. du P. Políticas da Terra: existe um novo discurso ambiental pós Rio+20. Cadernos EBAPE.BR (FGV), v. 10, p. 584-604, 2012.

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