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2 SUMÁRIO Capa Rosto INTRODUÇÃO 1ª PARTE – VER: CARACTERÍSTICAS DO LAICATO Marco Histórico Um relativo perfil do Laicato Rostos do Laicato Quais as formas de expressão do Laicato? Avanços e recuos na Igreja e no Laicato Leigos que precisam de atenção especial Como os leigos vivem a vocação à santidade? Quais as características da espiritualidade dos leigos? Os leigos: sujeitos eclesiais Leigos, sal da terra: Propriedades do sal Leigos, luz do mundo: Propriedades da luz Carta do Papa Francisco sobre os leigos Discurso do Papa ao Pontifício Conselho para os Leigos 2ª PARTE – JULGAR: IDENTIDADE E DIGNIDADE DOS LEIGOS E LEIGAS Quem são os leigos? Qual é sua identidade? O que os leigos não são O que é comum a todos na Igreja? Em que consiste a dignidade dos leigos? O que significa “índole secular” dos leigos? O que é o sacerdócio comum? O sacerdócio de Cristo e o sacerdócio dos leigos O sacerdócio comum Os leigos participam da “infalibilidade do crer” Como os leigos exercem sua função sacerdotal? Como os leigos exercem sua função profética? Como os leigos exercem sua função (régia) pastoral? Quais são os direitos dos leigos? Que são os movimentos eclesiais, as associações, as novas comunidades? Você sabe quais são os “critérios de eclesialidade” para os movimentos, associações de leigos, Cebs, novas comunidades? Carismas, ministérios, serviços: O que são? Os leigos nos documentos do magistério: Catecismo, documentos conciliares e pós-conciliares 1. Os leigos no Catecismo da Igreja Católica 2. Os leigos na constituição dogmática Lumen Gentium 3. Os leigos no Decreto O Apostolado dos Leigos (Apostolicam Actuositatem) 4. Os leigos na Exortação Apostólica Vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo (Christifideles Laici) 5. Os leigos no Documento de Medellín 6. Os leigos no Documento de Puebla 3 kindle:embed:0008?mime=image/jpg 7. Os leigos no Documento de Santo Domingo 8. Os leigos no Documento de Aparecida 9. Os leigos na Encíclica Redemptoris Missio 10. Os leigos na Exortação Apostólica - A Igreja na África a serviço da reconciliação, da justiça e da paz (Africae Munus) 11. Os leigos na Exortação Apostólica - A Igreja na América (Ecclesia in America) 12. Os leigos na Exortação Apostólica - Igreja na Oceania (Ecclesia in Oceania) 13. Os leigos na Exortação Apostólica - Igreja na Europa (Ecclesia in Europa) 14. Os leigos no documento 62 da CNBB - Missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas, 1999 3ª PARTE – AGIR: OS LEIGOS E A MISSÃO Características do mundo globalizado, lugar prioritário da ação dos leigos As tentações e desvios na missão Discernimentos necessários para a evangelização Âmbitos da atuação dos leigos Ação dos leigos no areópago moderno A formação dos leigos Eixos do Documento 105 da CNBB CONCLUSÃO Coleção Ficha Catalográfica 4 INTRODUÇÃO Este livro tem o objetivo de facilitar ao povo e aos fiéis, em geral, a compreensão da identidade, vocação, missão, espiritualidade dos leigos e leigas no mundo e na Igreja. A experiência tem demonstrado que nossas lideranças e o nosso povo têm dificuldade de entender os Documentos oficiais da Igreja. Eu era delegado do Episcopado Catarinense na V Conferência do Celam, em Aparecida (2007) e escrevi uma “Síntese Popular do Documento de Aparecida” que teve boa recepção por parte do povo e das lideranças. Essa experiência inspirou-me a escrever Laicato: vocação e missão. A convite da Presidência da CNBB, assumi a coordenação da Comissão do Tema Central da 46ª Assembleia Geral, cujo tema era exatamente o laicato. Essa tarefa obrigou-me a conhecer mais a fundo os Documentos da Igreja sobre os leigos e leigas. Fui também convidado para ser membro da “Comissão do Ano do Laicato”. Meus horizontes teológicos e pastorais se ampliaram e aprofundaram; desse modo, participei da elaboração do Documento 105 da CNBB. Este livro não é uma síntese popular do Documento 105, mas versa sobre as questões básicas que dizem respeito ao laicato. A intenção é facilitar o acesso do povo ao tema em pauta e oferecer subsídios às lideranças das comunidades. A obra tem três partes, que correspondem ao método ver, julgar e agir. Por ter uma finalidade didática, necessariamente oferece apenas os temas da reflexão em forma sintética e linguagem acessível ao povo, supondo que seus principais destinatários sejam as lideranças da Igreja, as coordenações e assessorias das paróquias e dioceses, que repassarão ao povo os conteúdos tratados. Não se trata de uma reflexão completa, nem de um aprofundamento teológico. O objetivo é facilitar a compreensão da doutrina e da teologia sobre a identidade, vocação e missão dos leigos. Tenho a impressão de que grande parte do nosso povo não tem conhecimento a respeito do sacerdócio comum, da infalibilidade do crer, da dimensão do perfil mariano da Igreja, nem dos direitos dos leigos e da 5 sua participação na função sacerdotal, profética e régia de Jesus Cristo etc. Precisamos fazer chegar até o último dos cristãos o ensino da Igreja sobre os leigos e leigas, inclusive as reflexões do Papa Francisco. O Papa Paulo VI enfatizou a prioridade da ação dos leigos no mundo. O que aconteceu foi o contrário. Os leigos atuam mais no âmbito eclesial do que nas estruturas do mundo. É preciso corrigir essa rota. É mais fácil atuar dentro da Igreja do que fora. O Ano do Laicato é uma excelente oportunidade para a correção da rota e da bússola sobre a ação dos leigos. Seu primeiro campo de ação é o mundo. É necessário desarticular as atitudes de centralização por parte de nós, padres e bispos, e as atitudes de servilismo e de revanchismo a que são forçados os nossos leigos. Parece-me que o povo quer bem os padres. O conflito acontece mais entre agentes do clero e as lideranças das paróquias e dioceses. Paira no ar um medo dos leigos em relação aos párocos e vice-versa. Na verdade, ainda não oferecemos adequada orientação e formação aos leigos. Esse “amadorismo pastoral” cria problemas de relacionamento, de divisões e discórdias, de atitudes, quer de servilismo, quer de revanchismo. Assim, temos leigos da submissão e da contestação, enquanto deveríamos formar leigos “da comunhão e participação”. Atenção especial seja dada às secretárias(os) paroquiais. Elas e eles são o primeiro rosto eclesial que as pessoas encontram no dia a dia. 6 1ª PARTE: VER CARACTERÍSTICAS DO LAICATO - Marco histórico - Um relativo perfil do laicato - Rostos do laicato - Quais as formas de expressão do laicato - Avanços e recuos na Igreja e no laicato - Leigos que precisam de atenção especial - Como os leigos vivem a vocação à santidade? - Quais as características da espiritualidade dos leigos? - Os leigos, sujeitos eclesiais: que significa? - Leigos, sal da terra: propriedades do sal - Leigos, luz do mundo: propriedades da luz - Carta do Papa Francisco sobre os leigos - Discurso do Papa ao Pontifício Conselho para os Leigos 7 MARCO HISTÓRICO 1. QUATRO DOCUMENTOS ESPECÍFICOS SOBRE OS LEIGOS 1.1. Concílio Vaticano II: Decreto Apostolicam Actuositatem sobre o Apostolado dos Leigos, 18 de novembro de 1965. 1.2. Sínodo dos Leigos: Exortação Pós-Sinodal Christifidelis Laici, sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, 1988. 1.3. CNBB – Documento 62: A missão e ministérios de cristãos leigos e leigas, 1999. 1.4. CNBB – Documento 105: Os cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade: sal da terra e luz do mundo, 2016. 1.5. Papa Francisco: Carta ao Presidente da Comissão para a América Latina, Cardeal Marc Ouellet, 2016. 8 2. OUTROS DOCUMENTOS IMPORTANTES 2.1. Constituição Dogmática Lumen Gentium, capítulo IV: Os Leigos 2.2. Documento de Medellin (1968) Documento de Puebla (1979) Documento de Santo Domingo (1992) Documento de Aparecida (2007) 2.3. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 2013, Papa Francisco 2.4. Discurso do Papa Francisco ao Pontifício Conselho para os Leigos (2016) 2.5. Exortação ApostólicaPós-Sinodal: - Ecclesia in Africa – Igreja na África (1995) - Ecclesia in America – Igreja na América (1999) - Ecclesia in Oceania – Igreja na Oceania (2001) - Ecclesia in Europa – Igreja na Europa (2003) 9 3. HISTÓRIA DO LAICATO NO BRASIL – ACENOS 3.1. Ação Católica (1935): Juventude Agrária Católica (JAC); Juventude Estudantil Católica (JEC); Juventude Independente Católica (JIC); Juventude Operária Católica (JOC); Juventude Universitária Católica (JUC) 3.2. Nos anos de pós-Concílio (1965-1970) - Experiência das comunidades eclesiais de base – Cebs - Surgimento das Pastorais Sociais: Comissão Brasileira de Justiça e Paz; Conselho Indigenista Missionário (Cimi); Comissão Pastoral da Terra (CPT); Comissão Pastoral Operária (CPO); Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades); Centro Nacional de Fé e Política (Cefep) 3.3. Criação do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (1970); Secretariado Nacional do Apostolado Leigo; Conselhos Regionais e Diocesanos; Documento 62 da CNBB (1999); aprovação do Conselho Nacional do Laicato no Brasil como Associação Pública de Fiéis (2004). São muito importantes as Assembleias da CNBB com enfoque na questão do laicato (CNBB, Documento 4; Documento 28; Documento 62). O tema central da 56ª Assembleia Geral da CNBB foi o laicato com a aprovação do Documento 105: Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade: sal da terra e luz do mundo e aprovação do Ano do Laicato em 2018. 10 Um relativo perfil do Laicato 1. Os leigos “católicos praticantes”: cumprem o dever dominical e observam as leis da Igreja, especialmente em relação aos sacramentos. Desconhecem a vida pastoral, as estruturas da Igreja, a teologia e a doutrina católica. “São católicos, mas não se sentem Igreja” (Santo Domingo). São fiéis aos seus deveres e geralmente muito corretos, honestos, bons; falta-lhes, porém, o engajamento eclesial e a dimensão missionária e social da fé: seu mundo é a Igreja, não atuam no âmbito da pastoral, da evangelização, do profetismo e da transformação social. 2. Os leigos da “submissão”: são dóceis e agradecidos, não aceitam críticas contra bispos, padres etc., não gostam que se fale em política, em libertação, em direitos humanos. São chamados de “leigos clericalizados”. Têm profunda reverência e veneração pela Igreja e seus pastores. Sofrem com a falta de vocações e os escândalos dos filhos da Igreja e se esmeram pela santidade da Igreja. Por fim, internalizam e imitam a figura do padre, trabalham e se dedicam à comunidade do jeito que o pároco quer. Sua “submissão” é reverencial, obediencial, servil. Outros simplesmente calam e se submetem às ordens, leis e orientações da hierarquia, especialmente do pároco. 3. Os leigos da “ação”: são protagonistas da evangelização e da corresponsabilidade na Igreja. Engajados na comunidade, atuantes dos Conselhos Pastorais, criativos na prática dos ministérios, atuam no âmbito interno da Igreja. Não receberam a orientação suficiente sobre os problemas sociais, as dimensões proféticas do batismo e, modo geral, desconhecem a Doutrina Social da Igreja, sofrendo com os conflitos e diferenças de mentalidade dentro da Igreja. São exemplo de doação, sacrifício, dedicação e trabalho. Assim, fortalecem a pastoral da manutenção, que é necessária à vida interna da Igreja, porém insuficiente. Não basta a pastoral da manutenção, é necessária e urgente a pastoral missionária. 4. Os leigos da “transformação”: são os leigos conscientizados, com abertura para o profetismo, a transformação social, a luta na política. São 11 decididos na opção pelos pobres, na dimensão social da fé, na promoção da justiça, apaixonados pelo Reino de Deus. Quando jovens, pertenceram à Ação Católica, participaram dos grupos de jovens, viveram a experiência do pós-Concílio, conheceram a teologia da libertação, aprofundaram sua formação e sua prática em relação à transformação da sociedade à luz da fé, mas isso ainda é insuficiente. 5. Os leigos dos movimentos eclesiais: normalmente fazem seu encontro vivo e decisivo com Jesus Cristo nos retiros e encontros dos movimentos eclesiais, movimentos de casais, novas comunidades. Eles têm seu direito de associação. Muitos entendem a Igreja a partir do seu movimento, outros estão num processo de maior abertura e engajamento na diocese, na paróquia, na compreensão da dimensão social da fé e na missão. Outros, sem querer, formam a assim chamada “Igreja paralela”, um tanto desvinculados da paróquia e da diocese. “Ficam com uma parte do Evangelho e da Igreja e se transformam em nômades sem raízes” (Papa Francisco). 6. Os leigos da “contestação”: são leigos com perfil profético e crítico, às vezes radical, com ampla cosmovisão da realidade, com desejo de maior abertura da Igreja. Têm vasto conhecimento teológico e ampla experiência na Igreja e no mundo. Muitos foram perseguidos, outros assassinados, derramando seu sangue na defesa dos valores cristãos. Outros se afastaram, ou foram afastados, outros, ainda, se adaptaram aos novos tempos, mas perseveram na esperança da renovação transformadora da Igreja à luz do Reino de Deus. Sentem-se bem nas Cebs, na atuação por um mundo diferente e por uma Igreja profética. Vibram com o Pontificado do Papa Francisco. 7. Os leigos consagrados: pertencem a diversas e variadas associações de fiéis com modos próprios de organização e métodos de ação. Há associações que congregam só leigos, outras agregam leigos e clérigos, e outras ainda, leigos e leigas consagrados. Consagram-se a Deus, à missão na Igreja e no mundo. Procuram crescer na santidade, no aperfeiçoamento do amor a Deus e aos irmãos. Consagram-se como leigos sem pertencer a uma Congregação Religiosa. Outros são aliados a Congregações, como, por exemplo, leigos salesianos, leigos franciscanos, 12 leigos jesuítas, leigos redentoristas etc. 8. Os leigos afastados: o Documento de Aparecida pede que todos nós procuremos os afastados para reencantá-los e incentivá-los a voltar para casa. A questão dos afastados é prioridade da Igreja missionária. Cada um de nós pode ser causa do afastamento dos que deixaram a Igreja. Por outro lado, o consumismo moderno e o aumento de outras religiões, o pentecostalismo, as novas denominações religiosas atraem e conquistam os católicos. São muitas as causas do afastamento dos nossos fiéis. Os afastados são uma multidão à nossa espera. 9. Os leigos católicos não praticantes: são batizados, mas não evangelizados e não praticantes. São talvez o maior desafio missionário no âmbito interior da Igreja, porque esses fiéis, além de acomodados, não transmitem a fé na família, e, assim, cresce o número dos indiferentes. Os não praticantes costumam fazer-se presentes por ocasião da celebração do batismo, do casamento, do enterro, da festa do padroeiro, de procissões, romarias, tradições etc. Não participam das celebrações aos domingos, não buscam os sacramentos, não são engajados em nada. Vivem no “analfabetismo religioso”. 10. Associações de leigos nascidos vinculados aos carismas das Ordens e de Congregações Religiosas: quase todas as Congregações recebem apoio específico de leigos imbuídos do carisma das respectivas Congregações e Institutos. Assim, temos: leigos salesianos, leigos franciscanos, leigos jesuítas, leigos redentoristas etc. São associações laicais nascidas a partir dos carismas, ordens e congregações religiosas que estão a serviço dos pobres, doentes, aflitos. Prestam serviços, colaboração, assessoria, apoio moral às Congregações, Institutos e Ordens. 13 ROSTOS DO LAICATO 1. Os casais: Maria e José são os primeiros leigos da Igreja na família de Nazaré. A Sagrada Família é “ícone do laicato”. Os casais são o rosto do laicato, enquanto estão no fundamento, no alicerce da vida humana, cristã e familiar. 2. O nascituro é um ser humano, um filho, uma vida humana em desenvolvimento; portanto, já tem um rosto definido, é gente, pertence a um pai e uma mãe. Precisamos cuidarde sua fragilidade e respeitar sua dignidade. 3. As crianças da catequese, os coroinhas, a infância missionária, os menores de rua: os rostos das crianças são reflexo do Reino de Deus. Esses pequenos leigos e leigas, ou seja, nossas crianças, necessitam de ensino religioso e de mais respeito, carinho e cuidado na família, na Igreja e na sociedade. 4. Os portadores de deficiência, como também os órfãos, os adotados, as vítimas de abusos: são rostos que doem em nós e que clamam por dignidade. São rostos sofridos, fragilizados e, por isso mesmo, precisam de nossa atenção, carinho, cuidado e valorização. 5. As mulheres: seu rosto nos lembra o rosto materno de Deus. São a maioria em nossas comunidades, muito dedicadas, generosas, prestativas. São a alma das pastorais, da catequese, da liturgia. Precisam de mais espaço no âmbito das decisões pastorais. 6. Os jovens: lembremos que a Igreja, na Conferência de Puebla, faz a “opção preferencial pelos jovens” e o Papa Francisco convocou para 2018 o “Sínodo sobre os Jovens”. Eles rejuvenescem a Igreja. 7. Os avós: são rostos que retratam as lutas e experiências da vida à luz da fé, como também a fragilidade humana. Os avós, em nossos dias, são transmissores e educadores da fé. Sofrem exclusões, abandonos, injustiças. 8. Os solteiros: são rostos que crescem em nossa cultura e muitas vezes são esquecidos. Milhões de pessoas são solteiras ou vivem sozinhas. 14 Ser solteiro pode ser também uma opção de vida. 9. Os viúvos e as viúvas: desde o Antigo Testamento, Deus é conhecido como “Deus dos órfãos, das viúvas, dos pobres”. Paulo Apóstolo criou a “pastoral das viúvas” (cf. 1Tm 5,3-16). 10. As lideranças e coordenações: nossas lideranças precisam de formação permanente. São as mãos, os pés, o rosto “número um” da comunidade. São os leigos e leigas que atuam no coração da Igreja, como secretários paroquiais, catequistas, ministros, administradores, membros dos conselhos. 11. Os vocacionados: são leigos e, como tais, são membros do povo de Deus. Não pertencem à hierarquia. 12. Os missionários: seu rosto nos impele à missão. Esses leigos representam a maturidade da fé e a alta medida do ser cristão católico. 13. Os agentes de pastorais: trata-se de uma multidão de pessoas generosas, voluntárias, altruístas, dedicadas à evangelização. 15 QUAIS AS FORMAS DE EXPRESSÃO DO LAICATO? a) As associações laicais: nascem a partir dos carismas das ordens e congregações religiosas. Exemplos: leigos jesuítas, franciscanos, vicentinos, salesianos, redentoristas etc. b) A vida consagrada: são os leigos e leigas consagrados; uns se consagram individualmente, outros vivem em comunidade. c) Os movimentos eclesiais, as associações de leigos, as novas comunidades. Os leigos têm direito de se associar e o dever de estar em comunhão com a Igreja e viver a dimensão pastoral, profética, missionária e social da fé. d) Os encontros nacionais e regionais promovidos pela Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato. Estas são formas de expressão e ação dos leigos, a partir da organização eclesial: CNBB, Dioceses, Paróquias. e) A presença, a ação e a participação dos leigos nos Conselhos Pastorais, Econômicos, nas Assembleias, nos Sínodos, nos Tribunais Eclesiásticos, nas Pastorais, no Ensino Teológico, na Pregação de Retiros. Nossos leigos e leigas prestam assessoria à Igreja a partir de suas competências. f) A ação dos leigos nos movimentos sociais, nos Conselhos Paritários e Conselhos de Direito. Atuam nos diversos setores e profissões da sociedade, como professores, políticos, juristas, médicos, cientistas, psicólogos, sociólogos, comunicadores, artistas, militares etc. Colaboram na transformação da sociedade e na construção do Reino de Deus. g) A grande maioria dos leigos que vive sua fé no cotidiano, nas tarefas mais humildes, no voluntariado, nos gestos de caridade e solidariedade. Este trabalho escondido no cotidiano, no dia a dia, é um precioso testemunho de fé através da “vida escondida com Cristo em Deus” (São Paulo). No cotidiano, os leigos são sal, luz, fermento na massa. Vivem o ordinário de modo extraordinário, agindo com fé e amor nas lutas de cada dia, na família, no trabalho, na vida social. 16 AVANÇOS E RECUOS NA IGREJA E NO LAICATO 1. AVANÇOS - O estudo e o aprofundamento da Teologia do Laicato; - O maior esmero e cuidado na formação dos leigos; - A criação do Conselho Nacional do Laicato do Brasil; - O aumento de leigos teólogos especializados e professores de Teologia; - A continuidade dos Encontros Intereclesiais das Cebs; - A compreensão e adesão à dimensão missionária da Igreja; - A santidade dos leigos e leigas na família, no trabalho, na Igreja e no mundo; - A sensibilidade pela vida do nascituro, da criança, do jovem, da mulher, do idoso, da família; - A participação e assessoria dos leigos na administração das dioceses e das paróquias; - O aumento e ação dos movimentos, novas comunidades, associações laicais; - A presença e a ação dos leigos nas estruturas sociais: professores, políticos, juristas, cientistas, psicólogos, comunicadores, médicos, profissionais; - A ampliação da ação dos leigos nos diversos setores da Igreja e na organização da sociedade; - A valorização dos movimentos sociais, das pastorais sociais, da coragem profética; - O trabalho cotidiano onde temos uma multidão de leigos e leigas atuantes nas tarefas de cada dia para a glória de Deus e o bem das pessoas; - Os ensinamentos e o testemunho do Papa Francisco a respeito dos leigos. 17 2. RECUOS - É ainda fraca a ação dos leigos no mundo e realidades temporais; - Os Conselhos Pastorais ainda fracos e até inexistentes ou centralizados no padre; - Os grupos de elite que se acham iluminados, controladores, superiores, com mística sem compromisso social e missionário; - O enfraquecimento do profetismo e da dimensão social da fé; - A sacramentalização e o devocionismo ainda muito presentes, como em relação ao exagero de exorcismos, promessas de cura, ritualismo, volta ao tradicionalismo; - O ecumenismo avança devagar; - O desconhecimento e oposição às Cebs, negros, índios, teologia da libertação, rejeição da política e a tendência ao intimismo; - O enfraquecimento e resistência à opção pelos pobres; - O amadorismo na formação de lideranças; - A falta de transparências nas finanças; - Os desafios e lacunas nas áreas da ecologia, da Bíblia, dos afastados, nas reuniões mal preparadas e excessivas, no comodismo e na mes- mice; - As “doenças curiais”, como escreve o Papa Francisco, que se encontram nas instituições eclesiásticas e outros setores da Igreja: o ativismo, a fraca espiritualidade, o fechamento mental e espiritual, o funcionalismo, a rivalidade, a vanglória, a indiferença, os mexericos, os círculos fechados etc. 18 LEIGOS QUE PRECISAM DE ATENÇÃO ESPECIAL 1. OS CATEQUISTAS: - Colaboram no aumento e na qualidade dos fiéis; - São a alma, o sangue, o coração do Corpo de Cristo que é a Igreja; - São os colaboradores da família, da Igreja e da sociedade; - São a voz da Igreja, as mãos e os pés dos párocos; - Sem catequese, a Igreja desaparece, as pessoas decaem e se prejudicam. 19 2. OS SECRETÁRIOS PAROQUIAIS: - São os que primeiro acolhem e orientam o povo; - São a porta de entrada da comunidade paroquial; - São mais missionários que funcionários; - São porta-vozes da vida da paróquia; - São os colaboradores mais próximos da comunidade; - Santificam-se no trabalho de recepcionistas. 20 3. OS COORDENADORES E LIDERANÇAS PASTORAIS: - São animadores da vida pastoral e da administração da paróquia que trabalham voluntariamente e por amor à Igreja. - Necessitam de apoio, atenção, formação e gratidão. - Carregam a responsabilidade de dinamizar a ação evangelizadora. 4. OS LEIGOS AFASTADOS: é preciso ir ao seu encontro, ouvi-los e reencantá-los por Jesus Cristo e sua Igreja. 5. OS LEIGOS MAIS ESQUECIDOS – como viúvos(as), pessoas solteiras, profissionais,noivos e casais novos – esperam por nossa proximidade, atenção e valorização. 6. OS(AS) VOCACIONADOS(AS) são cristãos(ãs) leigos(as) membros do povo de Deus, chamados, por misericórdia, a servir a Igreja. Vocação não é status, nem vantagem pessoal, nem honra e prestígio. A mentalidade do privilégio é prejudicial, e não corresponde ao Evangelho. 21 COMO OS LEIGOS VIVEM A VOCAÇÃO À SANTIDADE? O lugar próprio de santificação dos leigos é a família e o mundo. Graças ao sacerdócio batismal, santificam-se nos “altares” da vida cotidiana: a vassoura, o martelo, o fogão, a enxada, o bisturi, o volante, o trator, o computador. Santificam-se na vida conjugal e familiar, na inserção e no meio das realidades temporais, na vida profissional e social. A santidade dos membros do povo de Deus torna a Igreja atraente e convincente, pois os santos movem a Igreja e transformam o mundo, tudo fazendo para a glória de Deus, o bem de todos e a salvação do mundo. É preciso descobrir os santos que vivem ao nosso redor. Grande e, muitas vezes, escondida é a santidade dos leigos e leigas na Igreja e no mundo. Os meios indispensáveis para a santificação e a perfeição no amor são: a Palavra de Deus, os sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Confissão. Os santos nos ensinam que a oração, a cruz, o perdão fraterno, o amor aos pobres, as renúncias, os pequenos gestos, o amor a Maria, a devoção aos santos, a prática das virtudes são meios privilegiados de santificação. “Os primeiros no Reino dos céus são os santos, e não os ministros” (Papa Paulo VI). Por isso, a santidade não é privilégio dos consagrados e ordenados. A Igreja canonizou centenas de leigos e leigas. 22 QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DA ESPIRITUALIDADE DOS LEIGOS? a) A espiritualidade dos leigos alimenta-se da Palavra, dos sacramentos, especialmente da teologia da cruz, da oração e do trabalho realizado com amor. b) Os leigos vivem sua espiritualidade na prática das responsabilidades do dever de Estado, a saber: no matrimônio, no celibato, na viuvez, na vida de solteiro, na profissão. No cumprimento de suas funções na família, no mundo, no trabalho cotidiano, nas cruzes, sofrimentos, provações, doenças, nas situações de pobreza e injustiças, os leigos colocam em prática sua espiritualidade. c) Quem age com competência profissional, com espírito de família e de civismo, e vive com honestidade e autenticidade, com espírito de justiça e coragem, está testemunhando sua espiritualidade no meio do mundo. É preciso discernir devoção de devocionismo, sacramento de sacramentalismo, pois ainda persiste na espiritualidade católica o excesso de sacramentalismo e devocionismo. Precisamos crescer na direção de um “catolicismo bíblico”. d) A espiritualidade dos leigos caracteriza-se pela espiritualidade de comunhão, espiritualidade encarnada e inserida na realidade, pois não existe cristianismo sem carne e sem cruz. É de se rejeitar uma espiritualidade intimista, desprovida de compromisso social e missionário. A missão precisa do “pulmão da oração”, pois a mística é força para a missão. Oração e missão se completam. e) Outra dimensão de espiritualidade dos leigos é a “piedade popular”, precioso tesouro da Igreja Católica onde aparece a alma dos povos, fruto do Evangelho inculturado. A espiritualidade popular se expressa de muitas e variadas formas: o olhar para o crucifixo, para o céu, para Maria e os santos, para uma vela acesa. É sempre necessária a evangelização da piedade popular. f) O Papa Francisco nos alerta sobre o perigo do “mundanismo espiritual”, isto é, achar-se iluminado, melhor e superior aos outros, ter rigorismo em relação ao rito e levar vida dupla, criar grupos de 23 elite, viver de aparências, querer servir-se da Igreja e da liturgia para vantagens pessoais. Evite-se o exagero em relação ao exorcismo, às “revelações privadas” e promessas de cura. 24 OS LEIGOS: SUJEITOS ECLESIAIS O leigo é verdadeiro sujeito eclesial mediante a graça do batismo, vivendo a condição de filho de Deus, em comunhão com os pastores. Assume direitos e deveres, sem submissão servil e sem contestação ideológica. Ser sujeito eclesial significa: ser maduro na fé, testemunhar amor à Igreja, servir os irmãos e irmãs; permanecer no seguimento de Jesus, na vida segundo o Espírito, na comunhão eclesial, como também ter coragem, criatividade, ousadia para testemunhar Jesus Cristo faz parte do ser sujeito eclesial. O leigo enquanto sujeito eclesial assume a corresponsabilidade, o protagonismo, a participação na comunidade eclesial, construindo o Reino de Deus. Fundamentado na consciência de sua dignidade batismal, o leigo é verdadeiro sujeito eclesial, exercendo sua liberdade, autonomia e relacionamento, sempre em comunhão com os pastores, em harmonia (e respeito) com as diferentes funções, carismas, serviços, responsabilidades no seio da comunidade eclesial. Como sujeito eclesial, o leigo abre-se de maneira integrada na sua relação com Deus, com o mundo, com os outros, consigo mesmo. É um ser relacional, aberto ao diálogo, promotor de comunhão. Não se deve confundir a condição de sujeito eclesial com revanchismo, radicalismo, competição, bairrismo. Por outro lado, é preciso resguardar a liberdade, a autonomia, a dignidade, a corresponsabilidade e os direitos dos leigos na Igreja. Dois excessos precisam ser superados: de um lado, a divisão, as guerras entre nós, os autoritarismos, o clericalismo e brigas. De outro lado, evite-se o comodismo, o servilismo, a indiferença, o medo. 25 LEIGOS, SAL DA TERRA: PROPRIEDADES DO SAL - O sal dá sabor, gosto, tempero. Há ligação entre sabor e sabedoria, ou seja, saber com sabor. - É propriedade do sal: conservar, proteger, purificar; tem valor de preciosidade e perpetuidade. - O sal também é remédio. - Há culturas em que o sal é usado para afastar o mal. - Há povos que usam o sal como sinal de hospitalidade, de boas-vindas, de acolhimento. - O sal tem a ver com a aliança – “sal da aliança” –, a fidelidade entre os aliados e amigos. - O sal também queima porque contém sódio. - Sal é a raiz das palavras: salário, sabedoria, sabor etc. - O profeta Eliseu jogou sal na fonte insalubre e a água tornou-se potável. A mulher de Ló transformou-se numa estátua de sal e o mar Morto, apesar de salgado, contém 21 elementos químicos. - Quando o sal perde sua força, é jogado fora e pisoteado pelas pessoas. 26 LEIGOS, LUZ DO MUNDO: PROPRIEDADES DA LUZ - É próprio da luz iluminar, brilhar, aquecer, queimar. - Amanhecer, anoitecer, dia, iluminação, aurora, irradiação, auréola, visão, olhar... são realidades que têm tudo a ver com a luz. - Há muitas luzes: do vagalume, do fósforo, das velas, das lâmpadas, dos astros, do farol, de aparelhos eletrônicos, da lanterna, da tocha, da lamparina, de Deus. - A luz dos olhos. - A luz da mente. - A luz da fé. - O céu é luz. - O Espírito Santo é luz. - A Palavra de Deus é luz. - O fogo é luz. - Nascer é ver a luz, dar à luz. - A vida é luz: sem luz não há vida. - Jesus é a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo. - Brilhe a luz das boas obras: o bem é luz! - A ressurreição é luz. - A oração é luz. - As pedras preciosas refletem a luz. - Uma boa ideia, uma boa ação é luz. - A solução dos problemas é luz. - As descobertas da ciência são luzes. - A luz elétrica, a eletricidade, a energia são efeitos da luz. 27 CARTA DO PAPA FRANCISCO SOBRE OS LEIGOS Chegou a Hora dos Leigos Carta ao Cardeal Marc Ouellet, Presidente da Comissão para a América Latina (L’Osservatore Romano, 28 de abril de 2016). Todos ingressamos na Igreja como leigos. O batismo é o primeiro sacramento que selou nossa dignidade e identidade cristã de filhos e filhas de Deus. Disso devemos sempre nos orgulhar. A unção do Espírito nos consagrou para ser um sacerdócio santo. Nossa primeira consagração é o batismo, sinal indelével dos leigos que não pode ser cancelado. Ninguém foi batizado como sacerdote ou bispo.A respeito dos leigos, não bastam frases bonitas e teorias, é preciso apoiar sua vida, pois o pastor é sempre pastor de um rebanho. Que a especulação não mate a ação. Chegou a “hora dos leigos”, mas parece que o relógio parou. A Igreja é povo de Deus cuja identidade é a dignidade e a liberdade de filhos de Deus. A Igreja não é uma “elite de sacerdotes, bispos, mas povo santo. Devemos estar abertos à unção do povo de Deus para evitar o clericalismo. O padre vira um “mandatário dos leigos”. Isso limita as iniciativas e audácia dos leigos. O clericalismo apaga o fogo profético, esquece que a visibilidade e a sacramentalidade da Igreja pertencem a todo o povo de Deus. Convoco os pastores a encorajar, acompanhar e estimular a ação dos leigos na vida pública, visto que principalmente nas cidades a vida é apenas sobrevivência. Urge dar importância para a Pastoral Popular, porque nela não há clericalismo e os leigos atuam com generosidade e sacrifício, e fazem uma intensa experiência de Deus nos seus compromissos apostólicos. Percebem e experimentam a paternidade, a providência, a presença amorosa e constante de Deus na religiosidade popular. A cruz, a paciência, a devoção, o desapego, são expressões populares da fé do povo de Deus. Ali se percebe e se vê a presença do Espírito Santo, que dá ao povo o “olfato” da fé, pois o Espírito não é propriedade da hierarquia. Sejamos atentos à unção do Espírito para evitar o clericalismo e não anular a personalidade dos cristãos nem diminuir ou subestimar a graça batismal. Não é o pastor que deve dizer ao leigo o que ele deve fazer ou dizer. Ele 28 sabe tanto ou até melhor do que nós. Não é o pastor que deve estabelecer o que os fiéis devem dizer nos diversos âmbitos da vida. O que devemos fazer é estimular e promover a caridade e a profundidade, o desejo do bem, da verdade, da justiça, para que a corrupção não venha a se aninhar em nossos corações. É necessário refletir sobre o modo como acompanhar nossos fiéis leigos na sua vida pública e cotidiana. Sem isso, geramos uma “elite laical”. O clericalismo ocupa-se mais em dominar espaços que em gerar processos. Nós, pastores, não temos o monopólio das soluções para os desafios da realidade. Precisamos estar do lado do povo, discernindo com ele e nunca sem ele a melhor solução, segundo as necessidades, lugares, tempo e pessoas. Cuidemos para não uniformizar, mas, pelo contrário, estimular a inculturação. Recebemos a fé por meio de nossas famílias, não podemos perder essa memória. O pastor não pode erradicar-se do seu povo. Somos chamados a servir os leigos, e não a servir-nos deles. 29 DISCURSO DO PAPA AO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA OS LEIGOS Discurso do Papa ao Pontifício Conselho para os Leigos (cf. L’Osservatore Romano, 23/06/2016, p. 17). Este Conselho assumirá uma nova fisionomia. Para o beato Paulo VI, o Conselho para os leigos é “um dos melhores frutos do Concílio Vaticano II”. Sua função não é controlar, mas ser centro de coordenação, de estudo, de consulta para animar os leigos na participação da vida e missão da Igreja. O Pontifício Conselho existe para animar, impelir os fiéis leigos a participar cada vez mais e melhor na missão evangelizadora da Igreja, não por “decreto da hierarquia”, mas porque o seu apostolado é participação na própria missão salvadora da Igreja, graças ao batismo e à confirmação. Essa é a porta de entrada. Na Igreja, entra-se pelo batismo, e não pela ordenação sacerdotal ou episcopal. Entra-se pelo batismo. Entramos todos por essa mesma porta. É o batismo que torna cada fiel leigo um discípulo-missionário do Senhor, sal da terra, luz do mundo, fermento que transforma a realidade a partir de dentro. Na atual reforma da Cúria Romana, o Conselho para os leigos unir-se-á ao Conselho da Família e à Academia da vida. O novo Dicastério que vai nascer terá como centro a família e a defesa da vida. “Igreja em saída – laicato em saída.” Olhemos para os afastados, olhemos para fora, para as famílias, para os campos de apostolado ainda inexplorados. Olhemos para os leigos de coração bom e generoso, que precisam ser mais valorizados e acompanhados. Precisamos de leigos com experiência pessoal do encontro com Jesus Cristo, que corram o risco da missão e das opções da vida, sujem as mãos, não temam os erros e persistam na evangelização. Leigos com visão do futuro, não, portanto, fechados nas insignificâncias da vida. Leigos que ousem sonhar, principalmente os jovens que precisam dos sonhos dos idosos. Não nos acostumemos com o descarte dos idosos. Diz o profeta Joel que “os idosos terão sonhos”. Cabe-nos impulsioná-los a novas visões apostólicas. 30 2ª PARTE – JULGAR IDENTIDADE E DIGNIDADE DOS LEIGOS E LEIGAS - Quem são os leigos? Qual sua identidade? - O que os leigos não são? - O que é comum na Igreja? - Em que consiste a dignidade dos leigos? - O que significa “índole secular” dos leigos? - O que é sacerdócio comum? - O Sacerdócio de Cristo e o sacerdócio dos leigos. - O sacerdócio comum. - Os leigos participam da “infalibilidade do crer”. - Como os leigos exercem sua função sacerdotal (profética, régia e pastoral)? - Quais são os direitos dos leigos? - Que são os movimentos eclesiais, as associações, as novas comunidades? - Você sabe quais são os “critérios de eclesialidade” para os movimentos, associações de leigos, novas comunidades e Cebs? - Carismas, ministérios, serviços: o que são? - Os leigos nos Documentos do Magistério (Catecismo, Documentos Conciliares e pós-Conciliares): 1. Os leigos no Catecismo da Igreja Católica 2. Os leigos na Constituição Dogmática Lumen Gentium 3. Os leigos no Decreto O Apostolado dos Leigos (Apostolicam Actuositatem) 4. Os leigos na Exortação Apostólica Vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo (Christifideles Laici) 5. Os leigos no Documento de Medellin 6. Os leigos no Documento de Puebla 7. Os leigos no Documento de Santo Domingo 8. Os leigos no Documento de Aparecida 9. Os leigos na Encíclica Redemptoris Missio 10. Os leigos na Exortação Apostólica A Igreja na África a serviço da 31 reconciliação, da justiça e da paz (Africae Munus) 11. Os leigos na Exortação Apostólica A Igreja na América (Ecclesia in America) 12. Os leigos na Exortação Apostólica Igreja na Oceania (Ecclesia in Oceania) 13. Os leigos na Exortação Apostólica Igreja na Europa (Ecclesia in Europa) 14. Os leigos no Documento 62 da CNBB (1999) 32 QUEM SÃO OS LEIGOS? QUAL É SUA IDENTIDADE? - São filhos e filhas de Deus pelo batismo. - São cristãos incorporados a Cristo, constituem o Corpo da Igreja, cuja cabeça é Cristo. - São membros constituídos, integrados, inseridos no povo de Deus. - São participantes da função sacerdotal, profética e pastoral (real) de Jesus Cristo. Exercem a função de profetas, pastores, pela graça batismal, ou seja, o sacerdócio batismal, o sacerdócio comum. - São embaixadores de Cristo. - São portadores de cidadania própria do povo de Deus. - São corresponsáveis, junto com os membros da hierarquia, na missão da Igreja. - São sujeitos eclesiais na comum dignidade dos batizados. Não são cristãos de segunda categoria. - Têm direitos próprios na Igreja. - Receberam a unção espiritual que lhes confere o “sentido da fé” (infalibilidade no crer), o “senso de fé”. - São Igreja, não só pertencem à Igreja. - São chamados à santidade, que é um chamado universal. - São enriquecidos pelo Espírito Santo com dons, carismas, ministérios, serviços. - São luz, sal, fermento no meio do mundo por sua índole secular, ou seja, vivem no século, no meio do mundo, e nas condições temporais, tais como a família, o trabalho, as responsabilidades, funções e estruturas da sociedade. 33 O QUE OS LEIGOS NÃO SÃO - Não são fiéis de segunda categoria. - Não são cristãos inferiores. - Não são menos Igreja. - Não são menos dignos. - Não são meros suplentes dos párocos, nem das carências de evangelização. - Não são meros colaboradores, mas corresponsáveiscom a hierarquia. - Não agem por mera concessão da autoridade, mas pela condição de batizados; portanto, como filhos de Deus. - Não são coroinhas da hierarquia. - Não são subalternos de um mandatário hierárquico. - Não são apenas executores de ordens, são sujeitos eclesiais. 34 O QUE É COMUM A TODOS NA IGREJA? - Comum é a dignidade de todos. - Comum é a corresponsabilidade de todos. - Comum é a vocação à santidade. - Comum é a missão. - Comum é a fé, a graça, a redenção. - Comum é a filiação divina. 35 EM QUE CONSISTE A DIGNIDADE DOS LEIGOS? Os leigos são o perfume de Cristo, o fermento do Reino, a glória do Evangelho. No batismo, recebem o caráter sacramental que os diferencia dos não batizados. No povo de Deus há uma igualdade de dignidade. Todos somos filhos de Deus, irmãos uns dos outros, portadores de direitos. Os leigos são a maioria do povo de Deus, são o “Corpo de Cristo”. A serviço dessa maioria está uma “minoria”, que são os ministros ordenados. “Foi para fortalecer o sacerdócio comum dos leigos que o Senhor previu o sacerdócio ministerial, conferido a alguns batizados pelo sacramento da ordem” (Ecclesia in America, n. 44). Graças à dignidade batismal, os leigos são pedras vivas no edifício que é a Igreja. São “Casa de Deus”. São corresponsáveis no ser e no agir da Igreja. Não atuam no meio do povo de Deus por uma “concessão de autoridade”, mas pela força do batismo e da crisma. Antes de sermos diferentes, somos iguais na Igreja. As tarefas distintas não justificam a superioridade de uns sobre os outros, pois, escreve o Papa Paulo VI: “Os maiores no Reino dos céus não são os ministros, são os santos” (Inter Insigniores, 115, citado em CIC, n. 51). Paulo Apóstolo chama os leigos da comunidade de Filipos de “muito amados irmãos, alegria e coroa minha” (cf. Fl 4,1). Para entendermos melhor a dignidade dos leigos, servimo-nos da reflexão de Santo Agostinho: “Atemoriza-me o que sou para vós, consola- me o que sou convosco. Pois para vós sou bispo; convosco sou cristão. Aquele nome é do ofício recebido; este, da graça; aquele, do perigo, este da salvação” (cf. LG, n. 32). A dignidade batismal dos leigos confere-lhes direitos na Igreja e sua índole de sujeitos eclesiais, sua cidadania própria no povo de Deus. 36 O QUE SIGNIFICA “ÍNDOLE SECULAR” DOS LEIGOS? - Século quer dizer o mundo, as realidades do mundo e da sociedade. Índole secular significa que os leigos, antes de atuar na Igreja, devem estar no mundo para iluminar e ordenar as coisas temporais, as realidades sociais, políticas, econômicas. O mundo é seu hábitat natural. - Dizia Pio XII: “Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da Igreja. Graças a eles, a Igreja é o principio vital da sociedade humana” (Discurso, 20/2/1946). - “A primeira e imediata tarefa dos leigos não é a instituição eclesial, mas o vasto e complicado mundo da política, da realidade social, econômica”, escreveu o Papa Paulo VI (EN, 70). - A vocação específica do leigo é estar no meio do mundo, à frente das tarefas variadas da ordem temporal. Seu primeiro campo de ação é o mundo. - Escreveu São João Paulo II: “O homem é o primeiro caminho que a Igreja deve percorrer no desempenho de sua missão” (Redemptoris Missio, 14). O mundo é o primeiro lugar da missão evangelizadora do laicato. - A secularidade é a nota característica e própria do leigo. Sua peculiaridade é estar no mundo (índole secular) como sal da terra, luz do mundo, fermento da massa, iluminando e ordenando as realidades temporais. - A índole secular define a “laicidade dos leigos”, isto é, sua especial ligação com o mundo, tornando a Igreja presente nas realidades e organizações civis, sociais, temporais. - Com seu modo de agir, os leigos levam o Evangelho para dentro das estruturas do mundo. “Consagram a Deus o próprio mundo” (Ecclesia in America, 44). - “A vivência dos carismas e o exercício dos ministérios no interior da Igreja não devem substituir, nem mesmo diminuir, o empenho dos leigos no campo do mundo” (idem, 44). - O mundo é o primeiro âmbito de ação dos leigos a partir do “caráter secular ou índole secular”, seu hábitat natural é o mundo. Diz o Papa 37 Francisco: “Apesar de se notar uma participação de muitos nos ministérios laicais, este compromisso não se reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um exemplo real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade” (EG, 102). 38 O QUE É O SACERDÓCIO COMUM? 1. Os fiéis leigos recebem no batismo o caráter sacramental que os diferencia dos não batizados. O novo povo de Deus é “um reino de sacerdotes para Deus Pai” (Ap 1,6). Os batizados, pela regeneração e unção do Espírito Santo, são consagrados como sacerdócio santo para oferecer sacrifícios. São pedras vivas na casa de Deus, cuja pedra fundamental é Jesus Cristo. 2. Os batizados oferecem-se a Deus como hóstia viva, santa, agradável a Deus (cf. Rm 12,1) e dão testemunho de Cristo. Esse é o exercício do sacerdócio comum. 3. O sacerdócio comum é a participação no sacerdócio de Cristo e, por isso, os leigos têm parte integrante na celebração da Eucaristia, exercem seu sacerdócio na recepção dos sacramentos, na oração, no testemunho de vida, na abnegação e na caridade. 4. Pelo seu sacerdócio, os leigos consagram o mundo a Deus, produzem frutos no Espírito, agem para a glória de Deus e a salvação dos homens. 39 O SACERDÓCIO DE CRISTO E O SACERDÓCIO DOS LEIGOS O Sacerdócio de Cristo é, antes de tudo, ser ungido pelo Espírito Santo: “Jesus Cristo é aquele que o Pai ungiu com o Espírito Santo e que constituiu Sacerdote, Profeta e Rei” (CIC, n. 783). Ungido e enviado, Jesus é o único e eterno Sacerdote, Sumo Sacerdote e Pontífice. Sacerdócio quer dizer, também, ser mediador. Jesus é o único Mediador entre Deus e a humanidade. Ele é o Sumo Sacerdote e o Pontífice máximo, isto é, construtor da ponte entre Deus e nós. Ele foi ungido e enviado por Deus como Mediador entre o Pai e a humanidade. Sacerdócio significa, ainda, sacrifício de si, entrega de si, oblação de si ao Pai em favor dos irmãos, pela salvação do mundo. Jesus é o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Cristo crucificado e ressuscitado é o único Sumo Sacerdote do verdadeiro santuário. Doando sua vida em sacrifício, Jesus é, ao mesmo tempo, sacerdote e vítima. Os leigos participam do sacerdócio de Cristo pela consagração do sacramento do batismo e da crisma. Seu sacerdócio chama-se sacerdócio comum, sacerdócio batismal, sacerdócio dos leigos. 40 O SACERDÓCIO COMUM Pela consagração batismal, os fiéis leigos são casa espiritual, “geração escolhida no sacerdócio régio, gente santa, povo adquirido por Deus” (cf. 1Pd 2,9). Os batizados são pedras vivas para a “construção de um edifício espiritual, para um sacerdócio santo” (cf. 1Pd 2,5). Assim, incorporados à Igreja pelo batismo, os fiéis recebem o caráter sacramental que os consagra para o culto religioso cristão. Cristo, sumo sacerdote e único mediador, fez da Igreja “um Reino de sacerdotes para Deus, seu Pai” (Ap 1,6). Assim, toda a comunidade é, como tal, sacerdotal. O sacerdócio ministerial (hierárquico) dos bispos e presbíteros, embora ambos participem, cada qual a seu modo, do único sacerdócio de Cristo, difere, essencialmente, um do outro, mesmo sendo “ordenados um ao outro” (LG 10). O sacerdócio comum se realiza no desenvolvimento da graça batismal, na vida de fé, de esperança e de caridade, vida segundo o Espírito. Os leigos participam do sacerdócio de Cristo, unindo-se, cada vez mais, a Ele, desenvolvendo a graça do batismo e da confirmação em todas as dimensões da vida pessoal, familiar, eclesial e social, e realizam, assim, o chamado à santidade dirigido a todos os batizados. 41 OS LEIGOS PARTICIPAM DA “INFALIBILIDADE DO CRER” Esta questão esclarece e confirma a dignidade, identidade, corresponsabilidade dos leigos na Igreja,ou seja, eles participam da infalibilidade do crer. Este dom se chama: “o senso sobrenatural da fé”, também chamado de “sensus fidelium ou sensus fidei”. Precisamos conhecer, divulgar e praticar este dom tão elevado, este carisma tão especial que é o sensus fidei – a infalibilidade no crer. Assim se expressa o Catecismo da Igreja Católica: “Todos os fiéis participam da compreensão e da transmissão da verdade revelada. Receberam a unção do Espírito Santo que os instrui e os conduz à verdade em sua totalidade. O conjunto dos fiéis não pode enganar-se no ato de fé. E manifesta esta sua peculiar propriedade mediante o senso sobrenatural da fé de todo o povo, quando, desde os bispos até o último dos fiéis leigos, apresenta um consenso universal sobre questões de fé e de costumes. Por esse senso da fé, o Povo de Deus, sob a direção do sagrado Magistério, adere indefectivelmente à fé” (CIC, n. 91 -93). 42 COMO OS LEIGOS EXERCEM SUA FUNÇÃO SACERDOTAL? - Pela entrega de si ao Pai e aos irmãos. - Pela prática, pelo ensino da oração e pela oração de intercessão. - Pela busca da conversão pessoal. - Na celebração e consumação do sacramento do matrimônio, onde atuam como sacerdotes, ministros, celebrantes do sacramento. - No cotidiano da família: o fogão, a vassoura, o trator, o volante, o bisturi, o computador são os altares onde os leigos se santificam. - Pelo ensino e transmissão da fé na família e no âmbito profissional. - Na participação ativa e frutuosa da celebração eucarística. - Por ocasião da profissão da fé. - Na vivência das virtudes infusas: fé, esperança e caridade. - Na procura e esforço pela santificação pessoal. - Na função e missão de padrinhos e madrinhas. - No trabalho cotidiano, na vida conjugal, no encontro íntimo do casal, na gravidez, na educação dos filhos, como expressão de fé e vivência do sacramento do matrimônio. - Na observância do descanso dominical. - Nas cruzes, sofrimentos, provações pacientemente suportados. - Na consagração e santificação do mundo, através do testemunho de vida, vida espiritual e vida de oração. - O martírio é a consumação deste sacerdócio 43 COMO OS LEIGOS EXERCEM SUA FUNÇÃO PROFÉTICA? - Pelo testemunho e pregação da Palavra. - Pela missão evangelizadora local e além-fronteiras. - Pelo apostolado missionário. - Pelo exercício do ministério da catequese. - Pela prática da formação cristã. - Pelo ensino das ciências sagradas. - Pela atuação nos meios de comunicação social. - Pela defesa da fé e dos valores cristãos. - Pelo direito e dever de manifestar sua opinião para o bem da Igreja. - Na luta pela justiça e pelo bem comum. - Na opção evangélica pelos pobres. - Pelo ensino da teologia. - Pelas iniciativas em favor da comunidade: anúncio e denúncia. - Pela criação de comunidades, capelas, grupos de vida e família. - Pelas obras de misericórdia. - Pela coragem em denunciar erros, injustiças, crueldades, imoralidades. - Pela defesa da vida, da dignidade da pessoa e dos direitos fundamentais. 44 COMO OS LEIGOS EXERCEM SUA FUNÇÃO (RÉGIA) PASTORAL? - Há maneiras distintas de os leigos participarem da função régia de Cristo. No sentido ético e espiritual, a vivência da função régia significa reger a própria vida, isto é, ser livre de pecados e vícios, converter-se, mudar de vida. No sentido social, entende-se por vivência da função régia sanar as instituições, ambientes, condições do mundo que levam ao pecado, que não são conformes à justiça, impregnando a cultura de valores morais. - O sentido pastoral da vivência da função régia é o trabalho pastoral, o serviço na comunidade eclesial, o exercício de ministérios, na participação de sínodos particulares, nos conselhos pastorais e econômicos, nos tribunais eclesiásticos, nos encargos de coordenação pastoral. - Enquanto membros da sociedade, os leigos, deixando-se conduzir pela consciência cristã, dando testemunho de fé, sendo instrumentos vivos da missão da Igreja no mundo, estão vivenciando, praticando e participando da função régia de Cristo. Em outras palavras, os leigos exercem sua função régia: - Na promoção do Reino de Deus, na ação transformadora, na oposição a tudo o que incita ao pecado pessoal e social. - Na defesa dos valores morais, da ética, da moralidade e da cultura. - No exercício dos ministérios e serviços segundo os carismas dados pelo Espírito Santo. - Pela contribuição cultural, jurídica, administrativa no âmbito eclesial. - Pela participação nos Conselhos Pastorais, Econômicos, nos Tribunais Eclesiásticos, nos Conselhos de Direito. - Pela coordenação das pastorais e serviços, pela atuação nos cargos públicos, nos partidos políticos, nas políticas públicas. - No exercício do voluntariado. - Pela ação transformadora no mundo da família, da política, do trabalho, da cultura e educação, das comunicações, do cuidado com a nossa Casa Comum etc. 45 - Pela promoção humana, dignidade da pessoa, respeito e defesa da vida. 46 QUAIS SÃO OS DIREITOS DOS LEIGOS? - Direito de associar-se em movimentos de espiritualidade e de apostolado no seio do povo de Deus. - Direito de conhecer a fé: direito à instrução religiosa, ao estudo, ao aprofundamento da fé, à catequese. - Direito de participar dos sacramentos, respeitando, porém, as condições necessárias para a recepção deles. - Direito de manifestar-se e ser ouvidos em questão da fé: são muitas as modalidades de manifestação da fé, tanto pessoal como pública. - Direito de cooperar na edificação do povo de Deus: esse direito provém do batismo e da crisma, não é concessão de autoridade eclesiástica. - Direito de educar os filhos na fé: tal direito protege os cidadãos do autoritarismo e do excesso de abuso do poder do Estado. 47 QUE SÃO OS MOVIMENTOS ECLESIAIS, AS ASSOCIAÇÕES, AS NOVAS COMUNIDADES? São dons do Espírito, um sinal da Providência de Deus em todos os tempos, um tesouro para a vida e a evangelização da Igreja, um meio de atração para o encontro e a experiência viva com Jesus Cristo, uma porta de entrada na comunidade eclesial. Para facilitar a integração, a comunhão, a pertença à Igreja por parte dos movimentos e associações, o Magistério prescreveu a observância dos “critérios de eclesialidade”, a fim de evitar o risco e a prática de “Igrejas paralelas”, discórdias, divisões, e “guerras entre nós”. O Papa Francisco pede “que os movimentos e associações não percam o contato com a paróquia, integrem-se na diocese, participem de bom grado na pastoral diocesana, paroquial e comunitária. Essa integração evitará que fiquem só com uma parte do Evangelho e da Igreja, ou que se transformem em nômades sem raízes” (Papa Francisco, EG, n. 29). Vejamos, então, os “critérios de eclesialidade” a serem colocados em prática pelos movimentos, associações e novas comunidades. 48 VOCÊ SABE QUAIS SÃO OS “CRITÉRIOS DE ECLESIALIDADE” PARA OS MOVIMENTOS, ASSOCIAÇÕES DE LEIGOS, CEBS, NOVAS COMUNIDADES? a) Todos os fiéis devem dar primazia à vocação à santidade, à vocação universal à santidade. Santidade não é privilégio de alguns, é vocação de todos. b) Devem professar e guardar a fé católica no seu conteúdo integral: os movimentos não estão autorizados a ensinar doutrinas contrárias à fé da Igreja. c) Devem estar em comunhão com o Papa, o bispo, o pároco, para a união de todas as formas de apostolado. Sem comunhão e respeito pela hierarquia, facilmente se cai em heresias, divisões, cismas, discórdias. d) Devem agir em conformidade com a finalidade apostólica da Igreja, que significa adquirir espírito e consciência missionária. A missão é parte essencial da Igreja de Cristo. e) Devem empenhar-se na participação da vida social para construir condições mais justas e fraternas na sociedade. É preciso evitar o intimismo, a acomodação, para ser sal da terra e luz do mundo. f) Devem conhecer, praticar e divulgar a Doutrina Social da Igreja. A dimensão social da fé e do Evangelho, a promoção humana, o profetismo, que tem seufundamento nas Escrituras, na Doutrina Social da Igreja, no Ensino do Magistério. De modo geral, a Doutrina Social da Igreja é ainda desconhecida. 49 CARISMAS, MINISTÉRIOS, SERVIÇOS: O QUE SÃO? 1. Carismas: são múltiplas graças especiais, por meio das quais o Espírito Santo torna os fiéis aptos e preparados a tomar sobre si os vários trabalhos e ofícios que contribuem para a renovação e maior incremento da Igreja. “O Espírito Santo distribui, entre os fiéis, ‘graças especiais’ para a edificação da Igreja e a utilidade de todos” (Catecismo da Igreja Católica, CIC, n. 951). Carismas são graças dadas a cada um de nós para o bem dos outros. Somos instrumentos da graça para o bem dos irmãos, o bem comum, a utilidade de todos. Há diversos tipos de carismas: uns extraordinários, outros simples e humildes, para o bem da Igreja e as necessidades do mundo, contribuindo para a vitalidade apostólica, para a santidade da Igreja, a construção do Reino de Deus no mundo. Percebemos que carisma é: favor divino, dom gratuito, graça especial, benefício do Espírito. É preciso haver discernimento dos carismas. Nenhum carisma dispensa a reverência e submissão aos pastores da Igreja. Cabe, porém, aos pastores não extinguir o Espírito, mas provar as coisas e ficar com o que é bom. 2. Ministérios: são os serviços, as funções, as atividades, as práticas concretas dos carismas. Os ministérios se referem à ação, à prática, ao exercício dos carismas. Ministério é a administração do carisma; portanto, refere-se ao agir, à ação, à vivência e ao exercício dos dons recebidos. “Uns são apóstolos, profetas, outros são doutores” (cf. 1Cor 12,27-30). Através dos ministérios, os leigos colaboram com os pastores no serviço da comunidade, ou seja, o ministério é o modo prático de compartilhar e participar da vida e missão da Igreja. Todo ministério é um verdadeiro lava-pés, é dedicação, doação, serviço, não é status, honra, privilégio. Ser ministro é ser servo, tudo fazer para a glória de Deus, o bem da Igreja, a salvação do mundo. É preciso que Cristo cresça e o ministro diminua. 3. Serviços: “A atuação cristã no social e no político não deve ser 50 considerada ‘ministério’, mas ‘serviço cristão ao mundo’, na perspectiva do reino. Assim, a participação consciente e decisiva dos cristãos nos movimentos sociais, entidades de classe, partidos políticos, conselhos de políticas públicas e outros, sempre à luz da Doutrina Social da Igreja, constitui-se num inestimável serviço à humanidade e é parte integrante da missão de todo o povo de Deus” (Documento 105, n. 162). 51 OS LEIGOS NOS DOCUMENTOS DO MAGISTÉRIO: CATECISMO, DOCUMENTOS CONCILIARES E PÓS- CONCILIARES 1. OS LEIGOS NO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA É específico dos leigos procurar o Reino de Deus exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus. Cabe a eles iluminar e ordenar de tal modo todas as coisas temporais, para que elas cresçam segundo Cristo e contribuam para o louvor do Criador e Redentor (n. 898). A iniciativa dos cristãos leigos consiste em descobrir e inventar meios para impregnar as realidades sociais, políticas e econômicas com as exigências da doutrina e da vida cristãs. Essa iniciativa é um elemento normal da vida da Igreja (n. 899). Assim expressou-se Pio XII no discurso de 20 de fevereiro de 1946: “Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja. Graças a eles, a Igreja é o princípio vital da sociedade humana. Por isso, especialmente eles devem ter uma consciência sempre mais clara não somente de pertencerem à Igreja, mas também de serem Igreja, isto é, a comunidade dos fiéis na terra, sob a direção do Papa e dos bispos, em comunhão com eles. Eles são a Igreja”. Em virtude do batismo e da crisma, os leigos são encarregados por Deus do apostolado, têm direito e obrigação de formar associações para que os homens e as mulheres possam ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo. A ação deles é tão necessária que, sem eles, o apostolado dos pastores não pode, o mais das vezes, obter seu pleno efeito (n. 900). 52 1.1. PARTICIPAÇÃO DOS LEIGOS NA FUNÇÃO SACERDOTAL DE CRISTO Os leigos, em virtude de sua consagração a Cristo e da unção do Espírito, produzem frutos abundantes. Assim, todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas, vida conjugal e familiar, trabalho cotidiano, descanso do corpo e da alma, se praticados no Espírito, e mesmo as provações da vida, pacientemente suportadas, se tornam hóstias espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (1Pd 2,5), oferecidas ao Pai na celebração da Eucaristia. É assim que os leigos consagram a Deus o próprio mundo, prestando a Ele um culto de adoração. Assim, podem exercer o ministério da Palavra, presidir as orações litúrgicas, administrar o batismo e distribuir a sagrada comunhão (n. 901). 53 1.2. SUA PARTICIPAÇÃO NO MÚNUS PROFÉTICO DE CRISTO Por meio dos leigos, Cristo exerce sua função profética, fazendo deles testemunhas através do senso da fé e da graça da palavra. Ensinar a fé é também tarefa de cada crente. Os leigos exercem sua missão profética também na evangelização, pelo testemunho de vida e pela palavra, nas condições comuns da vida civil. Colaboram como profetas na formação catequética, no ensino religioso teológico, na atuação nos meios de comunicação social. Têm o direito de manifestar aos pastores sua própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja, levando em conta a utilidade comum (n. 904). 54 1.3. SUA PARTICIPAÇAO NA FUNÇÃO RÉGIA DE CRISTO Vencer o reino do pecado, por meio da abnegação, para viver a santidade é uma maneira de exercer a função régia. Vencer as paixões é também reger a própria vida, libertando-se de uma escravidão culposa. Sanar as instituições e condições do mundo que incitam ao pecado é também exercer a função régia. Agindo assim, os leigos defendem a justiça, favorecem o exercício das virtudes e impregnam do valor moral a cultura e as obras humanas. Exercer ministérios na comunidade, cooperar com os pastores nos conselhos pastorais e econômicos, nos sínodos diocesanos, nas pastorais e nos tribunais eclesiásticos, são maneiras de exercer a função régia (n. 908). 55 2. OS LEIGOS NA CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA LUMEN GENTIUM Os leigos são incorporados a Cristo pelo batismo, constituídos no povo de Deus e, a seu modo, partícipes da função sacerdotal, profética e real de Cristo. A índole secular caracteriza os leigos, é específico e próprio deles instaurar o Reino de Deus no exercício de suas funções temporais, ordenando-as segundo Deus. Vivem no século (mundo), vivem nas condições ordinárias da vida social e familiar, onde agem guiados pelo espírito do Evangelho a modo de fermento, dentro do mundo, para a santificação do mesmo mundo. No mundo, dão testemunho de fé, esperança e caridade, ordenando de tal modo as coisas temporais para que elas cresçam segundo Cristo. A eles cabe iluminar e ordenar as coisas temporais para o louvor do Criador e Redentor (n. 31). A Igreja Corpo de Cristo é constituída de muitos membros e funções distintas. Mas somos um só corpo, temos um só Senhor, uma só fé, um só batismo. O que é comum no povo de Deus? Comum é a dignidade de todos em Cristo, comum é a graça de filhos, comum é a vocação à santidade. Não há na Igreja nenhuma desigualdade de raça, nação, condição social, sexo. Todos somos um em Cristo Jesus (cf. Gl 3,28; Cl 3,11). Reina, pois, no povo de Deus uma verdadeira igualdade da dignidade e ação comum. Os leigos têm Cristo como irmão e em Cristo têm como irmãos os seus pastores. Assim escreveu Santo Agostinho: “Para vós sou bispo, convosco sou cristão”. Pastores e fiéis estão intimamente relacionados entre si, unidos em Cristo. São membros uns dos outros. Pastores e leigos são cristãos com a missão de servir. Os pastores exercem sua missão em benefício dos demais (n. 32). Os leigos são: - congregados no povo de Deus; - constituídos num só Corpo de Cristo; - membros vivos da Igreja; - chamadosà santificação da Igreja; - participantes da missão salvífica; 56 - destinados ao apostolado; - chamados a tornar a Igreja presente e operosa nos lugares onde apenas através deles a Igreja pode chegar e à cooperação com o apostolado da hierarquia; - incumbidos de levar o plano divino de salvação a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares; - sejam-lhes dadas amplas oportunidades na ação evangelizadora (n. 33). Participação dos leigos no sacerdócio comum e no culto: - Jesus quer continuar seu testemunho e seu serviço também através dos leigos, para que Deus seja louvado e os homens salvos. - Consagrados a Cristo e ungidos pelo Espírito, tornam-se hóstias espirituais agradáveis a Deus, oferecidas ao Pai na celebração da Eucaristia. Assim, consagram o próprio mundo a Deus. Como acontece isso? Acontece nas obras de cada dia, nas preces, nas iniciativas apostólicas, na vida conjugal e familiar, no trabalho cotidiano, no descanso do corpo e da alma, nos incômodos da vida pacientemente suportados (n. 34). A participação dos leigos na função profética de Cristo: Como acontece a vivência da função profética dos leigos? - Na proclamação do Reino; - No ensino da Palavra (pregação, testemunho etc.); - Na vivência do Evangelho na vida cotidiana, familiar e social; - Na esperança e luta por um mundo melhor, luta contra o espírito do mal, no esforço pela salvação eterna; - Na conjugação entre fé e vida, entre profissão pessoal e pública da fé nas estruturas do mundo e da sociedade; - Na santificação da vida conjugal e familiar através do sacramento do matrimônio; - Nas tarefas temporais, na dilatação e incremento do reino de Cristo no mundo (n. 35). A participação dos leigos na função régia de Cristo: - por uma vida santa e pela abnegação para vencer o pecado; - servindo os outros com paciência e humildade; 57 - na dilatação do Reino de Deus; - no reconhecimento do valor das criaturas; - na implantação do espírito de Cristo através da justiça, do amor e da paz; - no crescimento e aperfeiçoamento da competência científica e no aperfeiçoamento de si e do mundo através do trabalho, da técnica, da cultura, para o bem comum; - no esforço pela distribuição dos bens para todos; - na união de forças para sanar as instituições e condições do mundo que levam ao pecado; - na defesa e promoção da justiça social e das virtudes cristãs, impregnando de valor moral a cultura e as obras humanas; - no seguimento da consciência cristã, na vida social e profissional e no cumprimento dos deveres de cidadãos e rejeitando as doutrinas que combatem a religião, atacam e destroem o direito à liberdade religiosa (n. 36). Relação entre os leigos e a hierarquia: - Os leigos têm direito de receber de seus pastores os bens espirituais e manifestar aos pastores suas necessidades e desejos, com liberdade e confiança que convêm aos filhos de Deus e irmãos em Cristo. - Os leigos têm o direito e o dever de exprimir sua opinião a respeito de coisas que dizem respeito ao bem da Igreja. Façam isso com veracidade, coragem e prudência, reverência e caridade. - Aceitem com obediência cristã o que os pastores determinaram na Igreja e rezem por eles. - Os pastores reconheçam e promovam a dignidade e responsabilidade dos leigos na Igreja. Utilizem-se do seu prudente conselho. Entreguem a eles ofícios a serviço da Igreja. Deixem-lhes em liberdade e raio de ação. Encorajem-nos a empreender iniciativas próprias. Considerem atentamente as iniciativas e desejos propostos pelos leigos. Reconheçam a justa liberdade que a todos compete na cidade terrestre. - Haja convivência familiar entre leigos e pastores. Assim se reforça a responsabilidade, o entusiasmo e trabalho dos leigos. Os pastores, ajudados pela experiência dos leigos, podem decidir clara e 58 competentemente nas coisas espirituais e temporais. Assim a Igreja cumpre sua missão a favor da vida do mundo (n. 37). Conclusão O leigo: - é testemunha da ressurreição e da vida do Senhor; - é sinal do Deus vivo; - alimenta o mundo com a espiritualidade; - difunde o amor aos pobres; - valoriza os humildes e mansos; - é a alma do mundo (n. 38). 59 3. OS LEIGOS NO DECRETO O APOSTOLADO DOS LEIGOS (APOSTOLICAM ACTUOSITATEM) - Os leigos, na realidade em que vivem, são sal da terra e luz do mundo, tendo em vista a implantação do Reino de Deus nas realidades temporais. Seu trabalho é absolutamente necessário e tem caráter único e insubstituível. Desde o início da Igreja, o testemunho dos leigos gerou mártires. - É missão dos leigos, com a força do Espírito Santo, ordenar as coisas temporais, transformá-las sob a ótica do Reino, através da justiça, do bem comum e da caridade. É necessário que os leigos se guiem pela luz do Evangelho, a mente da Igreja e o testemunho da caridade. Cooperem com a sua fé e sua competência na construção de um mundo melhor. - O apostolado dos leigos é pessoal, comunitário e associativo no âmbito da Igreja e do mundo, sempre em comunhão com os pastores e respeitando a autonomia de cada vocação. - O apostolado dos leigos não depende do mandato da hierarquia, mas da condição de batizados no exercício do sacerdócio comum. É Cristo que envia. O apostolado é uma resposta ao chamado do Senhor. Assim, os leigos são a presença da Igreja nos locais onde só eles podem estar presentes. Sua ação não está subordinada a um membro da hierarquia. - A autonomia dos leigos não é sinônimo de rebeldia, mas sinal de maturidade da fé e do compromisso com o Reino. O apostolado é fruto da convicção da fé e da experiência de Deus. Tudo seja realizado num espírito de comunhão e cooperação, corresponsabilidade e maturidade. - É necessário o equilíbrio entre a autonomia do apostolado dos leigos e a comunhão com os pastores. 60 4. OS LEIGOS NA EXORTAÇÃO APOSTÓLICA VOCAÇÃO E MISSÃO DOS LEIGOS NA IGREJA E NO MUNDO (CHRISTIFIDELES LAICI) • O desafio do Sínodo foi indicar os caminhos concretos para que a maravilhosa “teoria” sobre o laicato, expressa pelo Concílio, possa converter-se numa autêntica “praxe” eclesial. Esta Exortação Apostólica se propõe a criar e alimentar uma tomada de consciência mais decidida do dom e da responsabilidade que os leigos têm na comunhão e missão da Igreja (n. 2). • Os leigos tomem parte viva, consciente e responsável na missão da Igreja, nesta hora magnífica e dramática da história, no limiar do terceiro milênio. As novas situações reclamam com uma força toda particular a ação dos fiéis leigos. O desinteresse foi sempre inaceitável e, no tempo presente, torna-se mais culpável. Não é lícito a ninguém ficar inativo. Há uma crescente necessidade de participação, de ser protagonistas e criadores de uma nova cultura humanista (n. 3). • Pio XII dizia: “Os leigos encontram-se na linha mais avançada da vida da Igreja. Eles não só pertencem à Igreja, mas são Igreja” (n. 9). • Os leigos participam da função sacerdotal de Jesus Cristo, unindo-se a Ele e ao seu sacrifício na Eucaristia, fazem a oferta de si mesmos e de todas as suas atividades. Participam da função profética no anúncio do Evangelho com a palavra e as obras, sem medo de denunciar corajosamente o mal. Fazem brilhar a novidade e a força do Evangelho na vida cotidiana, familiar e social, com paciência e coragem. Participam quer da fé sobrenatural da Igreja que “não pode errar no crer”, quer da graça da palavra. • Participam da função régia no serviço do Reino de Deus e sua difusão na história da humanidade. Vivem esta “realeza”, vencendo dentro de si o reino do pecado, no dom de si a serviço da caridade e da justiça, sobretudo em favor dos menores. • Os leigos são corresponsáveis na missão da Igreja, cuja modalidade é indicada na expressão “índole secular”, ou seja, são corresponsáveis na missão de maneira própria e peculiar. Atuando na missão e em outras responsabilidades a eles confiadas, santificam-se no cotidiano, nas ações de caridade (n. 15). • Os pastores devem reconhecere promover as funções e ofícios dos 61 leigos que têm seu fundamento no batismo, na crisma, no matrimônio. Quando os pastores confiam aos leigos ofícios e funções ligadas ao seu ministério de pastores, isso não transforma o leigo em pastor. Ainda mais, os leigos participam da liturgia por força do sacramento do batismo, visto que uma ação sagrada não é só do clero, mas de toda a assembleia (n. 23). • São várias as “vocações” laicais: solteiro, casado, viúvo, consagrado etc. Cada um é chamado pelo seu nome, na unicidade e irrepetibilidade da sua história pessoal, a dar o próprio contributo para o advento do Reino de Deus (n. 56). 62 5. OS LEIGOS NO DOCUMENTO DE MEDELLÍN • Os leigos realizam sua missão específica no âmbito temporal, colaborando na construção da história, ordenando a sociedade segundo Deus. O compromisso no mundo é tipicamente laical. A força dessa missão está na participação da tríplice função: sacerdotal, profética e real de Jesus Cristo (10.8). • Os leigos não vacilem em impulsionar novas iniciativas, não esperem passivamente as diretrizes, pois, no campo social, gozam de autonomia e compromisso. Impregnem com o espírito cristão a mentalidade, as leis, os costumes, as estruturas da realidade onde vivem. Não pensem que seus pastores possam dar solução imediata para todas as questões que surgem (10.9). • Os leigos contribuem com a santificação do mundo, atuando no interior da família, da profissão, dos âmbitos temporais como fermento na massa. Assim, iluminam e ordenam as realidades temporais, as condições ordinárias da vida (10.11). • A espiritualidade própria dos leigos facilita sua entrega a Deus e aos irmãos, sua perseverança na oração, sua participação na liturgia, sua criatividade na missão (10.17). 63 6. OS LEIGOS NO DOCUMENTO DE PUEBLA 6.1. OS LEIGOS E A IGREJA • O sentido da pertença dos leigos à Igreja cresceu nas tarefas litúrgicas, nos trabalhos apostólicos, nas comunidades eclesiais de base. Não tem sido suficiente o compromisso do laicato para a mudança das estruturas do mundo. Há uma maior presença do laicato na Igreja (n. 125). • No povo de Deus, a hierarquia, os leigos e religiosos são servidores do Evangelho. Cada um segundo seu carisma (n. 271). • Existe hoje mais consciência e prática a respeito dos direitos e deveres dos leigos como membros da comunidade (n. 621). • Os leigos e leigas são homens e mulheres da Igreja no coração do mundo e homens e mulheres do mundo no coração da Igreja (n. 786). • Os leigos olham para seus pastores com os olhos da fé e, assim, podem contribuir para a construção da Igreja como comunidade de fé, de oração, de caridade fraterna. Fazem isso através da catequese, dos sacramentos e da ajuda aos irmãos (n. 788). • Os leigos e a evangelização (n. 777) Nós, bispos (reunidos em Puebla), estimulamos os leigos a que contribuam na tarefa de evangelização, apresentando o rosto de uma Igreja comprometida com a promoção da justiça nos nossos povos. A promoção da justiça é parte integrante e indispensável à missão de todos na Igreja. Exortemos a uma presença organizada do laicato, a qual supõe integração e coordenação dos distintos movimentos e serviços numa pastoral orgânica (cf. n. 828). • Os leigos e a espiritualidade (n. 796) As dimensões essenciais da espiritualidade do leigo são: - não fuja das realidades temporais; - impregne a realidade temporal com a fé e o amor; - descubra nas realidades do mundo a presença de Deus; - para superar as dificuldades, conflitos e tensões, renove sua identidade cristã com a meditação da Palavra, com a intimidade eucarística, sacramental e com a oração. Esta espiritualidade dará à Igreja e ao 64 mundo cristãos sólidos na fé, seguros na doutrina, firmes e ativos na evangelização, cimentados numa densa vida espiritual, perseverantes no testemunho, coerentes e valentes nos compromissos temporais, constantes promotores da paz e da justiça contra a violência e a opressão, agudos no discernimento crítico, confiantes na esperança. 65 6.2. OS LEIGOS E O MUNDO • A política partidária é o campo próprio dos leigos. A Doutrina Social da Igreja oferece critérios adequados para sua ação na política em relação ao bem comum e às necessidades dos mais fracos e pequeninos. A hierarquia ofereça-lhes formação, espiritualidade e estímulo (n. 524). • Os leigos dirigentes da ação pastoral não devem usar sua autoridade em função dos partidos ou ideologias (n. 530). • O leigo, por sua vocação cristã, está comprometido com a construção do Reino na realidade temporal. O mundo é seu campo específico de ação para ordenar as realidades temporais e colocá-las a serviço da instauração do Reino de Deus (n. 789). • As realidades temporais que exigem especial atenção dos leigos são: a família, a educação, as comunicações sociais e a política. No âmbito da política sobressai a ação de votar, a militância nos partidos, o exercício de cargos públicos, a promoção do bem comum, a defesa da dignidade da pessoa, a proteção dos mais frágeis e necessitados, a promoção da justiça, da liberdade e da paz, a criação de estruturas justas e fraternas. Os leigos colaboram com sua experiência no âmbito do mundo secular para o bem da Igreja e da evangelização. Com sua competência profissional, científica, trabalhista, promovem o desenvolvimento do Ensino Social da Igreja (n. 791-795). 66 6.3. OS LEIGOS E SUA FORMAÇÃO • É necessária a organização da formação (n. 155): - Devem receber formação humana, doutrinal, social, apostólica, tanto por parte dos pastores como dos movimentos eclesiais (n. 794); - Seja fomentada a criação de centros e serviços de formação integral, com ênfase na pedagogia, na formação sistemática da fé e do Ensino Social da Igreja (n. 832). • Problemas a superar (n. 780-783): - a ideologia da fé; - as dificuldades de relação entre leigos e pastores; - a tensão entre política e fé; - a incoerência entre fé e vida. 67 7. OS LEIGOS NO DOCUMENTO DE SANTO DOMINGO 7.1. OS LEIGOS E A IGREJA (N. 94 E 95) • O grande número de leigos comprometidos na Igreja, a saber: exercendo ministérios, assumindo responsabilidades, promovendo comunidades, participando de movimentos, é um sinal dos tempos. Eles vivem o tríplice ofício: sacerdotal, profético e real. Sabemos, porém, que os leigos não são adequadamente acompanhados pelos pastores. • A eclesiologia de comunhão leva à eclesiologia da missão. Comunhão e missão se abraçam. A ação dos leigos não se reduz ao âmbito intraeclesial: cabe-lhes penetrar nos ambientes socioculturais. Os pastores promovam os Conselhos de Leigos como lugar de encontro, diálogo, comunhão e serviço. Os Conselhos de Leigos são espaços de formação e de integração com os movimentos eclesiais. Seja respeitado o direito de associação dos leigos. Por outro lado, os leigos estejam em comunhão com os pastores. • O Espírito Santo impulsionou o nascimento de movimentos e associações dos leigos como resposta ao secularismo, ao ateísmo, à indiferença religiosa. Os movimentos e associações produziram muitos frutos. A Igreja espera que elas se integrem na pastoral de conjunto e marquem presença na vida social. Na Igreja, todos são convocados à nova evangelização (n. 102). 68 7.2. A PRESENÇA DOS LEIGOS NO MUNDO • Evitem os leigos agir só no ambiente intraeclesial. Sejam impulsionados a penetrar os âmbitos temporais, sociais, culturais, e ser neles protagonistas da transformação à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja (n. 98). • Os leigos exerçam influência na política, na economia, e lutem para eliminar a corrupção e a descentralização administrativa, econômica e educacional (n. 203). • Os pastores formem os leigos no exercício da tríplice função: profética, sacerdotal e régia. A função profética acontece no campo da palavra, do pensamento, dos valores. A função sacerdotal se exerce no âmbito da liturgia, do sacramento, da arte, da comunicação. A função real acontece na sociedade, na
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