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Parábolas sobre a Fé - Darlei Zanon

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Prévia do material em texto

2
Darlei Zanon
 
3
Título original:
Parábolas de Fé
© PAULUS Brasil, 2005
Imagem da capa:
Vicente Van Gogh
Pré-Impressão:
Departamento Editorial PAULUS
Impressão e acabamento:
Empresa do Diário do Minho, Lda.
Depósito Legal n.º
ISBN: 978-972-30-1368-9
© PAULUS Editora, 2008
Rua Dom Pedro de Cristo, 10
1749-092 LISBOA
Tel. 218 437 620 – Fax 218 437 629
editor@paulus.pt
Departamento de Difusão:
Estrada de São Paulo
2680-294 APELAÇÃO
Tel. 219 488 870 - Fax 219 488 875
difusao@paulus.pt
www.paulus.pt
 
4
Prefácio
Cada vez que lemos um conto, uma parábola ou uma fábula, um mundo de imagens, ideias e reflexões aflora
na nossa mente. Estes textos curtos, mas de profundidade incrível, suscitam uma série de questionamentos e
meditações que devem ser explorados. São géneros literários muito ricos e pedagógicos, pois transmitem
grandes ensinamentos de forma simples, tranquila, descomprometida. Penetram com subtileza na mente e no
coração, semeando ideias e valores, estimulando a convivência e os relacionamentos, promovendo o bom
humor e a formação humana, criticando as nossas acções perversas e convidando à transformação.
O objectivo desta colectânea de contos, lendas, parábolas, apólogos tradicionais e
muito difundidos é ser um instrumento pedagógico que auxilie na formação ética e
humana de jovens e adultos. Pode ser lida e meditada tanto individualmente como em
grupos de reflexão ou em família. É uma forma de nos interrogarmos sobre questões
fundamentais da vida, que ficam ocultas e presas pelos nossos receios. Por meio das
analogias com objectos e animais, penetramos num mundo que permite libertar-nos
de todas as amarras sociais e dialogar abertamente. Que a leitura desta colectânea
suscite óptimos debates e reflexões e promova valores e sentimentos dignos da
riqueza que é cada ser humano.
Para favorecer a meditação pessoal e o trabalho dos grupos, após cada apólogo ou
fábula, apresentamos três tópicos. Esses tópicos são apenas uma forma de colaborar
com a reflexão pessoal e colectiva, podendo ser descartados, substituídos, seguidos
parcial ou plenamente conforme o desejo, a necessidade e a proposta de trabalho de
cada grupo. Visam o aprofundamento da parábola e a orientação das discussões.
Primeiramente, apresentamos alguns pontos para reflectir, uma leitura sobre os
principais temas abordados no texto lido. É uma proposta para uma reflexão pessoal,
preparação para a posterior discussão em grupo. Esse tópico apresenta alguns pontos
que devem ser complementados conforme a leitura de cada participante.
O passo posterior é a discussão em grupo. Apresentamos algumas questões que
ajudam a direccionar a conversa. Espera-se que cada um procure apresentar a sua
contribuição da maneira mais sincera possível. As reflexões não são para julgar, são
para favorecer o crescimento de todos.
Por fim, apresentamos alguns temas que podem ser trabalhados quer com dinâmicas,
quer de qualquer outra forma que os coordenadores acharem mais apropriada para
cada grupo.
 
5
Dicas
Para aproveitar melhor os textos, que não são simples histórias, mas tópicos que
conduzem à reflexão, discussão, interacção e crescimento pessoal, sugerimos:
1. Apresentar as parábolas da maneira mais fascinante possível: ler claramente,
interpretando-a, usando mímicas, música e o que for possível para prender a atenção;
encenar e distribuir cópias ao grupo quando possível.
2. Fazer com que o grupo se envolva na actividade mesmo antes do início da leitura.
Todos devem estar conscientes da profundidade das parábolas, atentos a todos os seus
pormenores e dispostos a cooperar na meditação posterior. Isso ajudará a
compreender melhor o sentido do texto.
3. Após a leitura, identificar e caracterizar as personagens e temas abordados.
Procurar todos os ensinamentos, reflexões, mensagens expressas directa e
indirectamente. Fazer um levantamento dos pontos que podem ser aprofundados. De
entre esses pontos, escolher alguns para a meditação. Fazer primeiro uma reflexão
pessoal e depois partilhada.
4. Procurar questionar-se sincera e profunda-
mente. Provocar a manifestação de todos, do modo mais criativo possível (se o grupo
for muito grande, divida-se em grupos menores).
5. Fazer a ligação com a vida, colocar-se no lugar das personagens, recontar
adaptando o conto à
realidade particular de cada grupo. Fazer também a ligação com outros textos e
fábulas conhecidas.
6. Destacar alguns pontos para estabelecer um compromisso, meta, com o grupo.
Incentivar a retomar posteriormente a parábola.
Boa reflexão!
 
6
1. A lição da borboleta
A natureza é perfeita, como toda a criação de Deus. Diante de tanta perfeição, às
vezes até ficamos espantados. Certa vez, um homem, admirado com uma pequena
abertura que apareceu num casulo, sentou-se e ficou a observar o nascimento de
uma borboleta. Durante horas contemplou o esforço do pequeno ser que tentava
passar o seu corpo através de um buraco muito pequeno no casulo. Por um momento
pareceu que a borboleta não conseguia avançar, tinha ficado presa, não conseguia ir
além daquele ponto. Comovido com tal esforço da natureza, o homem decidiu ajudá-
la. Pegou numa tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta pôde sair com
muita facilidade, mas o custo foi muito alto. O seu corpo estava murcho, fraco e
tinha as suas asas amassadas, fragilizadas. O homem, orgulhoso por ter ajudado,
continuou a observar, ansioso para vê-la abrir as asas e voar maravilhosamente.
Depois de algum tempo estranhou que nada acontecia. Então percebeu que ela
precisava de passar por aquele processo para formar o seu corpo. O casulo apertado
e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura eram os
modos a maneira de o fluido do corpo da borboleta passar para as suas asas. Assim,
ela estaria pronta para voar, uma vez que estivesse livre do casulo. A borboleta
passou o resto da vida a rastejar, com um corpo murcho e com as asas encolhidas,
incapaz de voar.
Para reflectir
 Para uma pessoa amadurecer, é preciso enfrentar as dificuldades e superar os
problemas. Algumas vezes, o esforço é precisamente aquilo de que precisamos nas
nossas vidas. Se Deus nos permitisse atravessar os obstáculos da vida sem qualquer
dificuldade, Ele deixar-nos-ia aleijados, incapazes de voar e de mostrar a nossa
beleza. Nós não sería-mos tão fortes como deveríamos ser.
Deus concede-nos tudo o que pedimos, mas apenas aponta os caminhos que
devemos trilhar sozinhos para atingirmos a felicidade e a realização. Isso, no entanto,
não quer dizer que não devamos pedir ajuda. Há momentos em que necessariamente
dependemos de Deus, da família e dos amigos para ultrapassar uma determinada
situação. Isso não é vergonhoso, é antes sinal de maturidade e de que sabemos
reconhecer as nossas limitações e carências.
Para discutir
 Porque protesto tanto diante das dificuldades da vida? Sou capaz de aprender com
os erros e com os problemas? Quando alguém me ajuda a superar uma dificuldade,
sinto que poderia ter crescido mais se tivesse conseguido sozinho? Quando é que
devo pedir ajuda e quando devo enfrentar as dificuldades e lutar com as minhas
próprias forças?
Temas para serem trabalhados
 
7
Oração, fé, meios que Deus usa para Se manifestar, a nossa acção diante das
dificuldades, modos como enfrentamos os problemas, ensinamentos da natureza,
importância da amizade nos momentos difíceis.
 
8
2. A borboleta e a flor
Um homem de profunda fé, numa das suas orações, pediu a Deus uma flor e uma borboleta. Deus então deu-
lhe um cacto e uma lagarta.
Quando viu o que Deus lhe tinha dado, ficou triste e não percebeu o que estava mal no seu pedido.
Pensou: deve ser porque Deus tem muitas pessoas para atender, deve ter-se enganado, trocado os pedidos...
e por isso acabou por se tranquilizar.
Alguns dias depois, o homem foi ver a sua prenda, já esquecida e abandonada num canto do quintal. Ao vê-
la, espantou-se.
Do espinhoso e feio cacto nasceu uma flor muito gira, especial, única. A horrível lagarta também já não
existia, tinha-se transformadonuma radiante borboleta.
Para reflectir
 Deus age sempre de maneira correcta. O caminho que Ele nos propõe é o melhor,
mesmo que às vezes não o compreendamos ou não o vejamos com clareza. Se pediste
a Deus uma coisa e recebeste outra, não te preocupes. Confia e aguarda, pois tudo se
pode transformar. Deus dá sempre o que precisamos e no momento certo. O que hoje
pode não fazer sentido, amanhã terá outra tonalidade. Os espinhos vão transformar-se
em flores.
Para discutir
 O que costumo pedir a Deus? Como reajo quando Deus Se manifesta de modo
inesperado? Consigo ler os sinais de Deus: ver flores nos espinhos da vida e a beleza
da borboleta na fealdade da lagarta?
Temas para serem trabalhados
 Poder da oração, paciência, lógica divina versus lógica humana, diversidade de
pensamento e visão, sabedoria para extrair frutos bons de coisas más.
 
9
3. A Santa Ceia
Todos conhecemos a pintura de Leonardo da Vinci que retrata a Santa Ceia, ou “A Última Ceia”.
Enquanto pensava como seria este quadro, conta-se que Leonardo da Vinci deparou com uma dificuldade:
além de caracterizar todas as personagens presentes na Última Ceia, os discípulos de Cristo, deveria
representar o bem, na imagem de Jesus, e o mal, na figura de Judas, o apóstolo que em breve o trairia.
Pensou bastante em como fazer isso.
Durante os trabalhos procurou modelos ideais que representassem o bem e o mal através dos traços do seu
rosto. Ao ver um concerto ficou admirado com os traços de um dos cantores. Vislumbrou nele a imagem
perfeita de Cristo, pois era jovem, saudável, alegre... Convidou-o a ir ao seu atelier e reproduziu os seus
traços na imagem que hoje conhecemos da Santa Ceia.
Contudo, ainda havia um problema: não encontrou um representante ideal para Judas, para o mal.
Passaram-se alguns anos, a pintura da ceia já estava pronta, à excepção de Judas. Não tinha ainda
encontrado o modelo ideal.
O responsável pela igreja em cuja parede a ceia estava sendo pintada pressionou Da Vinci, exigindo que
terminasse a obra depressa. O pintor andou pela cidade à procura de um rosto apropriado para lhe servir de
modelo.
Depois de muitos dias a procurar, Da Vinci encontrou um jovem triste, sozinho, bêbedo, entregue ao mundo
sem atenção ou cuidado, carente de tudo, principalmente de afecto.
Chamou-o então ao seu atelier para copiar as suas feições. O jovem pedinte tinha muito bem delineadas na
sua face as linhas da impiedade, do pecado, do egoís-
mo, do abandono... do mal.
Quando da Vinci terminou o seu trabalho, o jovem, já refeito da sua bebedeira, olhou para a pintura e
exclamou:
– Eu já vi essa pintura antes!
Da Vinci ficou surpreendido e perguntou quando é que o jovem tinha visto a sua obra, ainda inacabada e
dentro de uma igreja.
– Há três anos, respondeu o jovem. Antes de eu perder tudo o que tinha. Numa época em que eu cantava
num coro, tinha uma vida cheia de sonhos e o artista convidou-me para posar como modelo para a face de
Jesus.
Para reflectir
 Santo Agostinho escreveu que o mal não existe, é apenas a ausência do bem. Onde
prevalece o egoísmo, a soberba, a arrogância e não há espaço para o bem, o mal
apodera-se. A linha que separa o bem do mal é muito ténue. Precisamos de ter muito
cuidado para não irmos em direcção ao mal e nos afastarmos de Deus. O caminho
ensinado por Jesus Cristo conduz ao bem, à prática da justiça e do amor, mas é fácil
sair deste caminho.
A mesma face pode representar o bem e o mal, depende da situação e do que está por
trás de cada experiência.
Para discutir
 Como percebo o mal no mundo? E o bem? Consigo ver se no coração das pessoas
prevalece o bem ou o mal? O que faço para encher a minha vida de bem e não
permitir que o mal ocupe o seu lugar? Como posso ajudar os outros a encontrarem o
caminho da luz, que conduz a Deus?
Temas para serem trabalhados
 Bem versus mal, ensinamento de Cristo como caminho para o bem, ensinamentos da
Igreja, sinais do bem e sinais do mal, situações que reflectem o bem versus situações
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que reflectem o mal, o ser humano livre para optar pelo bem ou pelo mal.
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4. Presença de Deus
Numa bela tarde de Primavera, um jovem, a caminhar no parque próximo da sua casa, exclamou:
– Senhor, fale comigo!
Do galho de uma árvore ao seu lado um rouxinol começou a cantar, mas o jovem não ouviu. Voltou a falar:
– Deus, fale comigo!
Um trovão ecoou no céu, mas o jovem foi incapaz de ouvir.
Andou um pouco mais, parou novamente e falou num tom mais alto do que anteriormente:
– Senhor, deixe-me vê-l’O.
Neste momento, a primeira estrela da noite brilhou no céu, mas o jovem não percebeu. Já irritado por não
ver a resposta de Deus, o jovem começou a gritar:
– Deus, mostre-me a sua presença, mostre-me um sinal da sua existência, um milagre.
De longe veio o choro de uma criança, mas ele não sabia o que era.
Então o jovem, desesperado e desiludido, começou a chorar e implorou:
– Deus, toque-me e deixe-me sentir que está aqui comigo...
Neste momento, uma borboleta pousou suavemente no seu ombro, mas ele espantou-a com a mão.
Desanimado por não ter encontrado Deus, continuou a sua caminhada.
Para reflectir
 Deus manifesta-Se constantemente no nosso quotidiano. Ele revela-Se nas pessoas
que convivem connosco, na natureza que nos cerca e nas coisas simples que vivemos
diariamente. Contudo precisamos de abrir o nosso coração para sentirmos a sua
presença, para entendermos os sinais que Ele nos dá. Muitas vezes estes sinais não
são claros. Precisam de ser descobertos pela fé e interpretados com a linguagem do
amor e da bondade.
Para discutir
 Quais os sinais de Deus que normalmente percebo? Como espero que Deus Se
manifeste na minha vida? O que posso fazer para estar mais atento aos sinais de
Deus?
Temas para serem trabalhados
 Fé, encontro com Deus, oração, ecologia, integração com a natureza e com os
irmãos, atenção.
12
5. Grande concerto
Desde pequeno, Paulo demonstrou paixão pela música. Aos cinco anos, começou a estudar piano.
A mãe, sempre orgulhosa do filho, fazia tudo para o incentivar.
Soube pelo jornal que um grande pianista se apresentaria na cidade e pensou logo em levar o seu filho,
para incentivar o seu amor pela música.
Depois de se sentarem, a mãe viu uma amiga na fila de trás e foi cumprimentá-la. No minuto que sentiu que
estava sozinho e tinha a oportunidade de dar uma volta pelo teatro, o rapazinho começou a andar pelos
corredores.
Avistou uma porta que atiçou a sua curiosidade porque nela estava escrito “proibida a entrada”. Quando
as luzes do teatro foram apagadas, a mãe voltou para o seu lugar e viu que o miúdo já não estava ali. Ficou
assustada, olhou para todos os lados à procura da criança.
As cortinas abrem-se e um grade foco de luz ilumina o piano, no centro do palco. Ao lado do piano, o
miúdo, inocentemente a tocar uma das músicas infantis que conhecia.
Ao mesmo tempo o grande pianista entra no palco, dirige-se à criança e fala ao seu ouvido:
– Não pares, continua a tocar!
Com a sua mão esquerda iniciou um acorde para acompanhar o garoto. Com a direita envolveu o menino e
acrescentou um acompanhamento na melodia.
O mestre pianista transformou uma situação embaraçosa numa experiência sensacional.
O público ficou perplexo, a aplaudir durante algum tempo o grande mestre e o talentoso iniciante.
Para reflectir
 Ouvimos constantemente a voz de Deus a falar-
-nos: “não pares, continua a tocar”. Deus é o grande mestre que conduz a nossa vida,
que acrescenta alguns acordes à nossa vida incompleta, humilde, frágil. Apoiados em
Deus, realizamos todos os dias grandes concertos. Os seus braços envolvem-
-nos para nos fortalecer. Diante de Deus somos sempre como aquele rapazinho:
ingénuos, simples, frágeis, imperfeitos, necessitados de ajuda para realizarmos uma
grande obra. Quando deixamos que as mãos de Deus nos auxiliem, compomos
maravilhosas melodias. Ele está sempre ao nosso lado para nos orientar.
Para discutir
 Dou espaço a Deus para me envolver e me ajudar a compor a melodia da minha
vida? Como me comporto perante a perfeição de Deus? Como trabalhoas minhas
limitações, necessidades, imperfeições? Tenho consciência de que sem Deus não
posso realizar grandes obras?
Temas para serem trabalhados
 Acção de Deus na história e na nossa vida, realização humana, felicidade, coragem,
atitude, imperfeição humana versus perfeição de Deus, fragilidade humana, criação
divina.
13
6. Loja de conveniência
Os sonhos são muito representativos na nossa vida.
Às vezes dizem-nos coisas que não estamos preparados para ouvir conscientemente. Outras vezes mostram-
nos coisas que não conseguimos ver no dia-a-
-dia. Um belo sonho que posso narrar é o que ouvi um dia.
Alguém caminhava tranquilamente por uma avenida quando viu uma placa:
“Centro comercial do céu.”
Ao aproximar-se, a porta abriu, a convidar a entrar. Havia anjos por todos os lados e um deles entregou
uma cesta para fazer as compras. Disse:
– Irmão, compra com cuidado.
A loja tinha tudo o que um cristão precisa para viver bem. Era tanta coisa que certamente a cesta não seria
suficiente.
O homem começou a ver as prateleiras, foi buscar um pouco de paciência. Mais à frente foi buscar um
pouco de amor que estava bem à mostra. Logo depois havia compreensão. Mais um pacote de sabedoria,
outro de fé e, claro, uma caixa de dons do Espírito, que estavam espalhados por toda a loja.
No final da prateleira estava a força e a coragem. Passou por lá e foi buscar um pouco de cada; gostava de
ir buscar mais, mas a cesta já estava cheia, as coisas mal lá cabiam.
Pensou por alguns instantes no que estava a faltar. Lembrou-se da bênção e da salvação; esses dois artigos
são indispensáveis, não se poderia esquecer de os ir buscar.
A caminho da caixa ainda viu a oração e encontrou um espaço para colocá-la no cesto, pois ela seria muito
útil na altura de usar os outros objectos que comprara na loja do céu. Enquanto colocava as suas compras no
balcão do caixa, viu a paz e a felicidade em promoção. Resolveu trazer uma enorme quantidade.
Após registar as compras todas, olhou para o anjo na caixa e perguntou quanto era a factura. Com um
sorriso meigo e um olhar radiante, o anjo disse:
– Leva-os para onde quer que fores.
O homem resolveu repetir a pergunta, pois pensou que não tinha percebido bem. O anjo sorriu novamente e
disse:
– Irmão, Jesus pagou a tua conta há muito tempo, tudo o que pedires, receberás.
Para reflectir
 A loja do céu está sempre aberta para nos receber. Podemos encontrar todos os
artigos que o nosso irmão comprou se procurarmos por eles.
A paciência, o amor, a compreensão e a sabedoria podemos encontrá-los aos montes
nos nossos relacionamentos.
Procuremos no coração dos nossos familiares e amigos e encontraremos a força e a
coragem, façamos um esforço para nos aproximarmos de Deus e encontraremos a fé,
a salvação e a oração.
A paz e a felicidade brotarão naturalmente quando encontrarmos os outros artigos.
Tudo depende de nós. Deus ajuda-nos, dando a possibilidade, mas depende de cada
um buscar os elementos de que precisa para viver bem.
Para discutir
 Com que regularidade paro para pensar nos meus relacionamentos e nos sentimentos
que me aproximam das pessoas? Quais os elementos da loja do céu que mais tenho?
Posso dá-los a alguém? Quais são aqueles de que necessito? Onde posso encontrá-
los? Paro para pensar no que os meus sonhos me dizem? Porquê? O que é que eles
me podem ensinar?
Temas para serem trabalhados
14
 Dons do Espírito, valores cristãos, virtudes, motivação, oração, protecção divina,
linguagem dos sonhos, auto-estima.
15
7. Pegadas na areia
Conta-se que uma senhora, há muito tempo, teve um sonho bem interessante. Ela relatou-o assim:
«Sonhei que estava a andar na praia. Ao meu lado, Jesus Cristo acompanhava-me, ao mesmo ritmo, mas em
silêncio. No horizonte, via cenas da minha vida, a repetir-se como se fosse um filme projectado num ecrã.
Ao mesmo tempo que via as cenas percebi que algo de estranho nas pegadas que ficavam para trás, na
areia. Para cada episódio da minha vida ficavam dois pares de pegadas na areia, um meu e outro de Cristo.
Mas notei que muitas vezes havia apenas um par de pegadas.
O que significa aquilo? – pensei.
O curioso era que exactamente nos momentos de maior dificuldade, nas experiências doloridas, tristes, nos
momentos de angústia e tristeza um par de pegadas apagava-se.
Só poderia haver uma explicação para aquilo. Muito triste, cheguei à conclusão de que nos momentos
difíceis tive de caminhar sozinha e por isso foram dolorosos.
Perguntei então a Cristo:
– Tu disseste-me que andarias sempre comigo. Eu optei por Ti, fiz de tudo para seguir o teu caminho, mas
notei que durante as maiores tribulações da minha vida não havia as tuas pegadas ao lado das minhas. Não
compreendo porque me abandonaste nas horas em que mais precisei de Ti, em que estava mais fragilizada.
Cristo respondeu-me, sorrindo:
– Tu viste muito bem que havia apenas um par de pegadas nos momentos de provação, mas elas são minhas.
Eu nunca abandonaria um ser humano, principalmente quem optou por Me seguir. Nestes momentos não há
as tuas pegadas porque Eu te carreguei nos meus braços.»
Para reflectir
 Deus está sempre ao nosso lado, não nos abandona nem nos momentos de maior
dificuldade.
É precisamente nestas situações que Ele se manifesta ainda mais fortemente. Quando
nos sentimos fracos, incapazes, limitados, Deus mostra a sua bondade e poder e
anima-nos, carrega-nos nos seus braços.
Quantas vezes não somos carregados por Cristo! Somente nos seus braços temos
forças para vencer os momentos de dor, as experiências negativas, as pedras que a
vida põe no nosso caminho. A entrega de Cristo na cruz foi exactamente para nos
salvar, para que tivéssemos vida em plenitude. Ele está sempre a caminhar ao nosso
lado.
Para discutir
 Quando enfrento uma dificuldade ou encontro obstáculos na vida, busco na fé a
força necessária para a superação? Busco sustento em Cristo? Consigo ver o rosto de
Cristo nos meus familiares e amigos, sempre presentes a dar apoio nos momentos
difíceis? Senti em algum momento que Cristo não estava a caminhar comigo?
Quando? Porque pensei estar sozinho?
Temas para serem trabalhados
 Seguimento, confiança, opção por Cristo, fé, valores cristãos, motivação, protecção
divina, segurança em Cristo, linguagem dos sonhos.
 
16
8. Quatro velas
As velas representam muitas coisas. Cada um dá-
-lhes o sentido que desejar e utiliza-as com uma finalidade própria. Acende uma vela para fazeres um pedido,
para recordares um familiar ou amigo falecido, para agradeceres uma causa, para saudares os santos, etc.
Enquanto as velas se queimam, podemos mesmo imaginar uma possível história para elas. Seria mais ou
menos assim:
Havia quatro velas acesas, que se consumiam calmamente, num ambiente de profundo silêncio. Uma das
velas olhou para a outra e disse:
– Eu sou a paz. Apesar da minha luz, as pessoas não conseguem manter-me acesa por muito tempo.
E a sua chama diminuiu, diminuiu até se apagar.
Então a segunda vela pronunciou-se:
– Eu chamo-me fé! Infelizmente sou supérflua para as pessoas. Não percebo porque é que elas não querem
saber de Deus. Quando me acendem, não é com sinceridade. Não faz sentido continuar a arder.
Mal terminou de falar, uma brisa suave soprou sobre ela e a chama apagou-se.
Neste momento a terceira vela resolveu participar na conversa:
– Eu sou o amor! – exclamou em alta voz.
Mas logo se conteve, desanimada, e disse baixinho:
– Já não tenho forças para queimar. Hoje em dia já ninguém quer saber de mim. As pessoas deixam-me de
lado, abandonam-me pelos cantos das suas casas ou deixam-me trancada na sala escura do egoísmo.
Apagou-se logo.
A única vela que continuava acesa manifestou-se. Era a esperança.
– Hei, vocês vão-me deixar sozinha? Não se vão pois não – disse enfática.
Chegou perto da primeira vela, encostou a sua cabeça à dela e acendeu-a. Fez o mesmo com a segunda e
com a terceira.
As quatro velas estavam novamente iluminadas, a contagiar o ambiente com a sua luz.
Para reflectir
 Quantas vezes acendemos uma vela sem convicção, só para cumprirum preceito?!
Às vezes até nos encantamos com o bailar da chama, gostamos da luz, mas não
vemos nada além disso. O mais importante é o que está por trás da sua luz. A paz, a
fé, o amor, a esperança... O que vemos na luz de uma vela?
A sociedade actual desvaloriza os sentimentos, não dá espaço à paz, ao amor, à fé.
Por causa disso as velas perdem a sua força e aqueles que a trazem no seu coração
ficam enfraquecidos, perdem o vigor e acabam por se “apagar”. Mas restará sempre a
esperança.
A criança é a esperança do futuro, a paz e o amor são a esperança de uma
fraternidade universal, de uma nova sociedade, orientada, obviamente, pela fé.
Enquanto houver esperança, haverá sempre luz. A chama da paz, do amor e da fé
voltará a iluminar o mundo.
Para discutir
 Porque é que a chama do amor, da paz e da fé estão a apagar-se no mundo actual?
Quais são os “ventos” que apagam estas chamas? Como posso barrar estes “ventos” e
fazer com que a luz prevaleça? Onde guardo a vela da esperança? A que vela dou
prioridade na minha vida? Que vela acrescentaria às quatro da parábola? Como posso
acender esta vela no mundo?
Temas para serem trabalhados
17
 Mundo actual, fé, amor, esperança, paz, opção por Cristo, cristianismo, valores
cristãos, motivação, o nosso papel no mundo, luz, iluminar o mundo, chama de vida.
18
9. As três árvores
Diversas coisas que acontecem na natureza parecem um acaso, mas podemos sempre tirar boas lições delas.
O destino de algumas árvores, por exemplo.
Havia três árvores que regularmente sonhavam com o seu destino após serem cortadas e levadas da
floresta. Todas queriam ter destaque, queriam ter sucesso. Uma delas, a olhar para o céu, viu as estrelas e
disse:
– Eu quero ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros. Faria tudo para isso acontecer.
A segunda árvore olhou para um riacho que corria ali perto e até podia senti-lo com as suas raízes.
– Eu quero ser um grande navio. Quero transportar reis e rainhas nas suas demoradas viagens – disse.
Por fim, a terceira manifestou-se dizendo:
– Quero ser uma torre no alto da montanha. Quero crescer tanto que as pessoas, ao ver-me, levantem os
olhos e pensem em Deus.
Passados alguns anos a vida continuava normal e as árvores estavam sempre a pensar no futuro que as
aguardava. Certo dia vieram alguns lenhadores e cortaram as três árvores ao mesmo tempo.
– Chegou o dia – pensaram.
– Hoje realizarei o meu sonho, transformar-me-ei no objecto mais importante.
Contudo, lenhadores e árvores não falam a mesma língua. Não se podem entender. Por isso, não podiam
saber qual era o sonho de cada uma delas.
A primeira árvore foi usada para construir uma manjedoura de animais, coberta de feno. A segunda para
um pequeno e simples barco de pesca, para carregar pescadores e peixes todos os dias. A terceira foi cortada
e deixada de lado num depósito à espera de uso no futuro.
Com grande frustração, as três começaram a desabafar:
– Como é que aconteceu uma coisa destas? Eu não sou nada, sou uma porcaria, muito simples, sem
utilidade.
Dias depois, numa noite mais iluminada do que o costume, com um ar de paz e alegria, com muitas estrelas
e uma melodia serena, uma jovem mulher pôs o seu bebé recém-nascido na manjedoura cheia de feno. O
maior tesouro do mundo estava depositado na simplicidade de uma manjedoura.
A segunda, depois de anos a levar pescadores pelo mar, acabou por transportar um homem que usou o
barco para realizar uma série de milagres, que andou sobre as águas para o alcançar, que chamou os seus
donos para seguirem os seus passos. Percebeu que transportou o Rei do Universo por diversas vezes.
A terceira árvore já se tinha esquecido do seu sonho. Tantos anos abandonada, já não tinha esperança.
Todavia, um dia vieram alguns soldados e levaram-na para cima de um monte. Ela estranhou a forma como
foi pregada, em forma de cruz, mas esperou para ver o que acontecia. Trouxeram um Homem muito ferido,
que mal conseguia andar, e pregaram-n’O na cruz.
Soube que era um inocente, injustamente condenado à morte, condenado pela ganância, pela incom-
preensão e pela dureza de coração. Sentiu-se mal; como podia ser usada para condenar um inocente?
Mas três dias depois sentiu uma grande alegria e rea-
lização. Soube que tinha servido como trono para o Salvador da humanidade e que seria sempre lembrada
como símbolo da salvação.
Cada vez que alguém olha para ela sente a presença de Deus.
Para reflectir
 Alimentar sonhos é fundamental para viver bem. A não realização de um sonho,
porém, não deve ser vista como um fracasso, uma frustração.
Muitas vezes os caminhos que tomamos são diferentes, mas conduzem-nos para o
mesmo lugar: a salvação. Muitas vezes é na humildade que está a riqueza, é na
simplicidade que se manifesta a soberania e a realeza.
O importante é sermos verdadeiros, abertos, que o conteúdo que Deus colocará em
nós será maravilhoso. Ele conhece-nos e dá-nos aquilo de que necessitamos, mesmo
que a princípio não compreendamos. Às vezes também demoramos a alcançar os
nossos objectivos, mas atingimo-los se tivermos persistência, coragem e fé.
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Para discutir
 Quais são os meus sonhos? Que sonho já se concretizou na minha vida? Qual ainda
espero que se concretize? Alguma vez senti que tive uma grande realização quando
não esperava? Será simples coincidência? Qual a minha abertura para a acção de
Deus?
Temas para serem trabalhados
 Futuro, destino, fé, perseverança, objectivos/sonhos, sentido da cruz, acção de Deus,
caminhos de Deus, vida de Cristo (nascimento, pregação, paixão, ressurreição).
 
20
10. O poder da oração
Desesperada pela situação de dor e pobreza em que vivia e desanimada pela falta de perspectiva e
oportunidades na sua vida, uma senhora entrou no mercado, aproximou-se do dono, que não estava muito
animado, e pediu-lhe para comprar fiados alguns alimentos. Ela explicou a situação do seu marido, que
estava muito doente e que não podia trabalhar, e dos seus filhos, cinco crianças que ajudavam no possível,
mas que tinham dificuldades em ir para a escola.
O dono do armazém, indiferente à situação de sofrimento, riu-se dela e pediu-lhe que se fosse embora, pois
não a conhecia e não ia vender fiado a uma mulher que não tinha garantias para pagar.
Ao passar pelo balcão onde a mulher e o dono conversavam, um cliente ouviu a conversa e interessou-se.
Aproximou-se do proprietário e disse-lhe que deveria dar à senhora tudo o que a sua família necessitava. Ele
próprio iria pagar a conta.
Não muito convencido, o comerciante chamou a mulher e disse:
– Você tem uma lista de compras?
– Sim, respondeu ela.
– Muito bem, coloque a sua lista na balança e dar-
-lhe-ei em alimentos o que ela pesar.
A pobre mulher não percebeu bem e com a cabeça curvada pegou no papel, abriu, escreveu nele poucas
palavras e colocou-o lentamente na balança.
Ao colocar o papel, a balança desceu até ao máximo, para espanto de todos. O comerciante, sem perceber,
voltou-se para o outro freguês, que estava a sorrir.
Então começou logo a colocar os alimentos no outro prato da balança. A cada novo pacote ficava mais
espantado, pois a balança não se mexia. Repetiu o movimento até o prato ficar cheio, mas ainda imóvel.
O comerciante ficou estático por alguns instantes, a olhar a balança e tentar perceber o que estava a
acontecer. Antes de cumprir a sua promessa de deixar a mulher levar toda a mercadoria que se igualasse ao
peso do papel, o vendedor resolveu ler o que estava lá escrito:
«Senhor, Tu conheces as minhas necessidades e por isso deixo isso nas tuas mãos.»
Imediatamente o homem pegou nos alimentos, meteu-os num saco e entregou tudo à mulher, em silêncio e
com lágrimas nos olhos. A mulher agradeceu e foi-se embora. Algum tempo depois o comerciante reparou
que a balança estava estragada, estava presa. Mas compreendeu os meios que Deus usa para agir no mundo.
Para reflectir
 Deus está sempre ao nosso lado, não nos abandona, nem nos momentos de maior
dificuldade.
É precisamente nestas situações que Ele Se manifesta ainda mais fortemente. Quandonos sentimos fracos, incapazes, limitados, Deus mostra a sua bondade e poder e
anima-nos. Deus utiliza diversas formas para agir na nossa vida, basta sentir a sua
presença e saber ler os seus sinais. Todavia essa leitura só é possível pela fé.
Para discutir
 Quais são os momentos em que mais sinto a presença de Deus? Reconheço a sua
acção na minha vida? Alguma vez senti que Ele não me deu atenção, senti-me
abandonado? Por que razão não fui capaz de ver a sua acção nesse momento? O que é
que cegou os meus olhos? Em situações delicadas da vida, Deus também põe pessoas
ao nosso lado, como o freguês da loja. Quem são essas pessoas na minha vida?
Temas para serem trabalhados
 Poder da oração, solidariedade, amizade, fé, presença de Deus nas pessoas.
21
11. Caminhos de Deus
Um cruzeiro animado, num navio luxuoso. No roteiro, diversas ilhas do Mediterrâneo. O inesperado: o navio
tem problemas e começa a afundar.
Após o naufrágio, um sobrevivente fica à deriva, mas agradece a Deus por estar vivo e ter tido forças para
se agarrar aos destroços e estar a boiar. Levado pelas ondas, foi sacudido de um lado para o outro.
Sofreu muito e já lhe restam poucas energias quando chega a uma pequena ilha. A ilha estava desabitada e
fora de qualquer rota de navegação; mesmo assim o homem ajoelhou-se, olhou para o céu e agradeceu a
Deus por ter sobrevivido e estar em terra firme.
Aos poucos foi-se habituando ao lugar, construiu um abrigo com os destroços do navio, encontrou árvores
frutíferas, aprendeu a pescar e a caçar.
Todos os dias agradecia por Deus o ajudar e lhe ensinar tantas coisas. Agradecia pelos alimentos, pelas
noites de sono, pela segurança, pela paz de espírito, pela nova vida que estava a ter.
No entanto, quando voltava para o seu abrigo, após um dia de caça e exploração da ilha, viu uma grande
fogueira. Correu para ver o que se estava a queimar e descobriu que era a sua cabana. As chamas e o fumo
já tinham consumido tudo.
Desesperado por ter perdido o seu bem mais precioso, que garantia protecção e segurança, começou a
chorar.
Revoltado, gritou a insultar a Deus e a indagar porque lhe tinha feito isto. Chorou tanto que acabou por
adormecer.
No dia seguinte, despertou com o apito de um navio. Pensou que estava a sonhar, mas ao virar-se viu que
algo se aproximava da praia. Era um bote com alguns marinheiros, que disseram:
– Viemos resgatá-lo!
Espantado e feliz, perguntou:
– Como é que souberam que eu estava aqui?
– Nós vimos o seu sinal de fumo – responderam prontamente.
Para reflectir
 Deus age sempre na nossa vida, nos momentos bons e nos momentos difíceis. Não
devemos duvidar da sua acção. Muitas vezes não entendemos os caminhos que usa
para nos ajudar, mas Ele age sempre tendo em vista o nosso bem, para nos trazer vida
e felicidade. Devemos agradecer a Deus por tudo aquilo que acontece connosco e de
todas as experiências tirar uma lição. Temos sempre algo a aprender, mesmo nas
piores situações podemos crescer e fortalecer-nos.
Para discutir
 Houve algum momento da vida em que senti raiva de Deus? Senti que Ele me
abandonou? Como superei esse momento? Como posso ajudar pes-
soas que têm dificuldade em ver Deus na sua
vida? Como posso confiar mais nos caminhos de Deus?
Temas para serem trabalhados
 Oração, amizade, fé, meios que Deus usa para Se manifestar, paciência e calma nos
momentos de angústia, sabedoria para extrair boas lições de momentos
desagradáveis.
 
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12. O nosso anjo
Conta uma antiga lenda que um menino que estava para nascer, ao encontrar-se com Deus, perguntou:
– É verdade que amanhã me vais enviar à terra? Como conseguirei viver lá, tão pequeno e indefeso que
sou?
Deus respondeu:
– De entre todos os anjos, escolhi um especial para ti. Ele está à tua espera, cuidará de ti, dar-te-á
segurança, amor, carinho e tudo o que precisares.
– Aqui no céu eu só brinco, canto e rio, isso chega-
-me para ser feliz, mas como vou entender aquilo que as pessoas me vão dizer, como aprender aquele
estranho idioma? – perguntou o menino.
– O teu anjo ensinar-te-á todas as palavras de que precisas, as palavras mais doces e ternas, com muito
carinho e paciência ensinar-te-á tudo o que precisas de saber – disse Deus.
Novamente o menino perguntou:
– E como farei para falar Contigo? Vou sentir muito a tua falta.
– Neste momento também o teu anjo saberá como fazer, juntará as tuas mãozinhas e ensinar-te-á a rezar.
Mas o menino insistiu:
– Ouvi dizer que na terra há muitos homens maus, quem me defenderá?
– O teu anjo defender-te-á com todas as forças, mesmo que isso lhe custe a própria vida – respondeu.
– Mesmo assim ficarei triste porque não poderei
ver-Te, Senhor.
– Não te preocupes – disse Deus – o teu anjo falar-
-te-á sempre de Mim e ensinar-te-á o caminho para que chegues à minha presença e andes conforme Eu
ensinei. Eu estarei sempre a teu lado, ajudando-te a vencer todas as dificuldades que encontres.
Neste instante uma profunda paz pairou no céu, começaram a ouvir-se vozes vindas da terra e o menino
exclamou:
– Deus, já vou, mas como encontrarei o meu anjo? Diga-me o nome dele.
Deus disse:
– O seu nome não interessa, chama-lhe apenas “mãe” e “pai”.
Para reflectir
 Deus não nos criou para a solidão nem para o abandono. Ao criar-nos, pensou em
todas as formas de nos garantir segurança, tranquilidade, amor, paz... Ao longo da
vida conhecemos diversas pessoas que são verdadeiros anjos enviados por Deus. Ao
convivermos com elas percebemos que estão ao nosso lado para nos ajudarem a
chegar à perfeição desejada por Deus na criação. As mais importantes são certamente
os nossos pais. Eles geraram-nos, educaram-nos, protegeram-nos, fizeram tudo para
garantir a nossa felicidade e rea-
lização. A nossa gratidão e respeito devem ser eternos.
Para discutir
 Como agradeço a Deus pela presença dos meus pais? Como agradeço aos meus pais
por tudo aquilo que representam na minha vida? Porque há tantas famílias que não
conseguem viver em harmonia? Como posso ajudá-las? Aos que têm filhos: sinto-me
um verdadeiro anjo na vida deles? O que posso fazer para demonstrar o meu amor
aos meus pais?
Temas para serem trabalhados
 Família, pai, mãe, anjos, criação, filiação divina, importância do pai e da mãe na
nossa vida, como sermos bons pais e mães, significado de ser “anjo” para alguém,
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educação na fé.
 
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13. A cadeira
Numa pequena freguesia do Alentejo, o pároco visitava semanalmente os doentes do hospital. Conhecia-os a
todos e por isso atendeu prontamente ao pedido de um homem que o chamou a meio da noite para rezar com
ele.
Quando o sacerdote chegou, encontrou o enfermo na cama, com a cabeça apoiada num par de almofadas.
Ao lado dele, uma cadeira, que o padre pensou que estivesse ali para quando ele chegasse para rezar.
– Suponho que estava à minha espera – disse o sacerdote.
Espantado, o homem respondeu:
– Não, quem é o senhor?
– Sou o sacerdote que a sua filha chamou para rezar consigo. Quando cheguei e vi a cadeira ao lado da
cama pensei que era para mim.
– Ah, sim, a cadeira! – exclamou o homem – Entre e feche a porta, por favor.
Ao fechar a porta e sentar-se ao lado da cama, o sacerdote começou a ouvir o pobre doente.
– Esta é a primeira vez que falo com alguém sobre isto, na verdade nunca aprendi a rezar. Passei a minha
vida toda sem saber o que é oração. Nunca me ensinaram a rezar e eu também nunca me preocupei em
aprender. Pensava que Deus estava muito distante de mim e nunca dei importância à ideia de conversar com
Ele. Até que um dia um amigo me disse que rezar era muito simples e me faria muito bem. Que a minha vida
se transformaria por completo. Então ele ensinou-me. Disse para me sentar em frente a uma cadeira vazia e
imaginar que Jesus está lá sentado.
O próprio Jesus disse que estaria sempre ao nosso lado, podemos então conversar com Ele sempre que
quisermos. O senhor pode falar com Ele sobre todas as coisas que desejar. Contar os seus problemas, pedir
conselhos, abrir plenamente o seu coração como se estivesse a falar com um grande amigo. Tentei uma veze
gostei muito do resultado. Desde esse dia tenho conversado com Jesus diariamente. Só tomo cuidado para
que a minha filha não me veja, para não pensar que estou doido.
Muito emocionado, o sacerdote respondeu àquela demonstração de fé dizendo que o que fazia era muito
bom e deveria manter esse hábito. Rezou com ele por alguns minutos e depois foi-se embora.
Passados dois dias, a filha comunicou ao sacerdote que o seu pai tinha falecido. Na certeza de que o homem
tinha falecido em paz, perguntou como foram os seus últimos momentos de vida.
A filha respondeu:
– Quando eu estava para sair, ele chamou-me ao quarto. Disse que me amava muito e deu-me um beijo.
Quando voltei do trabalho, algumas horas depois, já estava morto. Só há uma coisa estranha na sua morte.
Antes de morrer, ele chegou-se muito perto da cadeira que estava sempre ao lado da cama e encostou a
cabeça nela. Encontrei-o debruçado sobre a cadeira. Porque será?
O sacerdote, profundamente comovido, enxugou as lágrimas e respondeu:
– Ele partiu nos braços do seu melhor amigo.
Para reflectir
 Há momentos em que apenas a fé nos consola. A oração é o meio que temos para
encontrar Deus e comunicarmos com Ele. Numa doença ou quando enfrentamos
algum problema grave, a oração é a nossa fortaleza, Deus é o nosso auxílio. Jesus é o
nosso melhor amigo, Ele está sempre ao nosso lado. Não é só através das orações
prontas que oramos. Podemos orar com a vida, com os sentimentos, à nossa maneira
simples e sincera, é só manifestar o nosso amor por Jesus.
A parábola abre-nos também muitas perspectivas para pensarmos sobre o sentido da
morte. Ou melhor, da ressurreição. Jesus carrega-nos nos seus braços para a vida
eterna. A morte não é o fim, mas uma passagem. Ressuscitamos com Cristo para uma
nova etapa da vida, ao seu lado no Reino de Deus.
Para discutir
 Sei rezar? Em que momentos da vida a minha oração é mais intensa? Porquê? Quem
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me ensinou a rezar? Como foi esse processo? Como procuro ensinar os outros a
rezar? O que digo das pes-
soas que rezam muito? O que significa a morte para mim? É o fim ou uma passagem?
E sobre a ressurreição (vida eterna)?
Temas para serem trabalhados
 Poder, necessidade e importância da oração, modos de rezar, presença de Deus,
sentido da morte, ressurreição, vida eterna.
 
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14. A piscina e a cruz
Um jovem de classe média ia todas as quintas-feiras a uma piscina coberta, num clube próximo da sua casa.
Lá havia um senhor de meia-idade que o intrigava, pois tinha o costume de correr até à água e molhar o dedo
do pé. Só depois deste ritual, subia para a prancha e mergulhava. Saltava muito bem, quase um salto
ornamental. Também era um excelente nadador. O ritual intrigava tanto o jovem, que um dia resolveu
perguntar o motivo de tal hábito.
O homem respondeu a sorrir:
– Ah sim, eu tenho um motivo. No passado fui professor de natação. Ensinava muita gente a nadar com
perfeição e também a saltar da prancha. Numa noite quente, não conseguia dormir e resolvi ir à piscina
nadar um pouco. Como eu era professor, tinha uma chave do clube e podia ir lá sempre que quisesse. Apesar
de ser de noite, não acendi as lâmpadas, porque conhecia bem o lugar e não queria chamar a atenção. A
única luz era a da lua, que passava pelo tecto de vidro.
Ao subir para a prancha, abri os braços para saltar. Ao fazer isso, a luz da lua projectou uma sombra na
parede: uma cruz. Fiquei quase que hipnotizado com a bela imagem que o meu corpo projectava na parede.
Então comecei a pensar em Jesus Cristo, na sua entrega, na nossa salvação e em tudo quanto a cruz
representa. Não era um cristão fervoroso, mas ouvi falar muito de Jesus na minha infância e a imagem da
cruz sempre me acompanhou.
Por algum motivo, depois de tanto tempo ali a olhar para a minha sombra, desisti de saltar. Desci da
prancha. Um tempo depois resolvi entrar novamente na piscina. Dei alguns passos e desci pelas escadas. Não
senti a água. Desci até que os meus pés tocaram o piso frio e duro. Tinham esvaziado a piscina na noite
anterior e eu não me tinha apercebido.
Naquela noite fui salvo duas vezes, física e espiri-
tualmente. Podia ter morrido se saltasse e também descobri a verdadeira face de Cristo. Agradeci a Deus por
me ter alertado e por me ter aberto os olhos para a fé. Talvez agora você compreenda porque é que eu molho
o dedo antes de saltar para a água!
Para reflectir
 Precisamos de um facto extraordinário para abrirmos os olhos para a fé. Deus está
sempre ao nosso lado e manifesta-Se de diversas maneiras.
A beleza da fé é muito grande e só a descobrimos se nos deixarmos envolver por ela,
se lhe abrirmos os nossos olhos e o nosso coração. Não é preciso enfrentar uma
situação como a do nosso amigo para perceber que Deus está connosco.
Não esperes um facto extraordinário para abrires os olhos para a fé. Pela entrega na
cruz, Cristo salvou-nos, mas continua a curar as nossas feridas diariamente. Procura
no teu quotidiano a imagem da cruz projectada na parede para voltares ao caminho da
fé e da vida plena.
Para discutir
 De que preciso para viver plenamente? Quanto tempo vou esperar para mudar de
vida? Vou esperar uma situação extraordinária ou buscar no quotidiano os sinais de
Deus? Em que momentos da minha vida Deus me deu sinais para mudar de atitude?
Percebi os sinais?
Temas para serem trabalhados
 Fé, vida de Cristo, sentido da cruz, acção e caminhos de Deus, salvação, mudança
de vida, seguimento.
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15. Sinais de Deus
Deus age na nossa vida de modo inesperado. Às vezes muda o nosso caminho, às vezes coloca pessoas para
nos guiar, às vezes diz-nos coisas que só ouvimos com o coração. A história de Rita e de Juliano é mais ou
menos assim.
Aquela era uma noite como outra qualquer para a maioria das pessoas. Para Juliano também. Voltava para
casa após um dia de trabalho, pelo caminho de sempre. Já conhecia bem o caminho, pois há quatro anos que
fazia o mesmo percurso.
Não dependia de ajuda, apesar de ser cego. Seguia tacteando o caminho com a sua bengala, guiado pelos
pontos de referência que criaram um mapa na sua cabeça.
Contudo, nem tudo estava igual naquela noite. No dia anterior, tinham cortado uma árvore pequena que
servia de referência para Juliano se localizar. Procurou o arbusto e não encontrou nada.
Deste modo, não sabia exactamente onde deveria virar e trocar de rua. A rua estava deserta, não havia
ninguém para lhe dar uma informação. Andou por algum tempo, mas tomou outro rumo, fora da sua rota.
Quanto mais andava, mais perdido se sentia, com menos pontos de referência.
Em determinada altura chegou à margem do rio que cortava a cidade. Era um ponto de referência, mas não
sabia a que altura do rio estava. Procurou a ponte e já estava a aproximar-se dela quando uma voz assustada
e desanimada de mulher o indagou:
– Estás a precisar de ajuda?
– Preciso encontrar o caminho de casa – respondeu.
– Foi o que pensei, disse a mulher, dispondo-se logo a acompanhá-lo a casa.
Juliano deu o endereço a Rita, que por sua vez estendeu o braço para o conduzir até à sua casa, não muito
longe dali.
Lá se foram os dois, a conversar alegremente pelo caminho. Pareciam velhos amigos, tal era a intimi-
dade. Ao chegar a casa, Juliano agradeceu muito pela ajuda, mas Rita respondeu:
– Eu é que lhe devo agradecer.
Diante da incompreensão de Juliano, a mulher continuou:
– Há alguns meses o meu filho faleceu. Eu estava na ponte a pensar seriamente em suicidar-me, pois perdi
completamente o gosto pela vida. Não havia ninguém por lá naquele momento e eu estava prestes a saltar
quando você apareceu, tacteando o caminho sem rumo. Fiquei a observar e desisti de saltar.
Rita deu um abraço a Juliano e despediu-se. Foi-se embora renovada, em profunda paz interior.
Para reflectir
 Diante de um sofrimento (como a perda de um ente querido) ou de uma grande
decepção, é fácil perder o gosto pela vida, desanimar, esquecer o mundo. Certamente
muitos de nós já vivemos esta experiência. Um ombro amigo tem o poder de nos
reerguer e de mostrar o caminho no momento emque estamos sem rumo,
desesperados, perdidos. O principal é sentir que nunca estamos sós, Deus fortalece-
nos e existe sempre alguém pronto para nos erguer o braço e levar para casa. Existe
sempre algum sinal de Deus para mudar o nosso rumo quando tivermos tomado uma
decisão errada ou saído da nossa rota.
Para discutir
Dois problemas diferentes são resolvidos com uma acção única. Discutir sobre as
duas pessoas que precisam de ajuda: a mulher prestes a suicidar-
-se e o homem perdido. Nenhum deles conseguiria solucionar o seu problema
sozinho. Já tive alguma situação semelhante a esta? Como a superei? Que sinais de
Deus percebo nestes momentos? Que situações estão expressas na “perda de rumo”
de Juliano? A presença de quem é importante nestes momentos? Como posso ajudar
alguém que está numa situação extrema como as personagens da parábola?
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Temas para serem trabalhados
 Ajuda, doação, caridade, fé, acção de Deus, caminhos de Deus, salvação, mudança
de vida, seguimento, disponibilidade, amizade, sentido da vida.
 
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16. Os dois potes
No jardim lá de casa havia dois potes grandes e giros, um muito diferente do outro. Certo dia fiquei a
imaginar como seria um diálogo entre eles:
– Ah, que tédio! Que vida! Viver aqui, exposto a tudo, sol, vento, chuva, calor... Por mais que eu me proteja,
como poderei sobreviver? Aqui estou, perfeitamente tapado, lacrado para me proteger e ainda assim sinto-
-me ameaçado, vazio. Não tem graça nenhuma estar aqui. Preciso de ser exposto para o mundo me conhecer.
Tranquilamente, o outro pote responde:
– Olha, eu encontro-me aqui, aberto, nada protege a minha boca nem o meu interior. Cai a chuva, eu
recebo-a. Vem o vento, eu sinto-o bem dentro de mim. Vem o sol e leva-me as gotinhas que retornam para o
céu. E nem por isso me sinto ameaçado...
– Ora, grandes vantagens! O teu interior já não tem a cor original como o meu, a tua cor é cada vez mais
diferente. Tu já não és o mesmo!
– Sim. E isso alegra-me, o meu interior transforma-
-se a cada dia, à medida que acolho novas coisas. Posso sentir cada criatura que me visita e cada uma delas
deixa algo de si para mim, assim como eu lhes deixo, pouco a pouco, a minha cor.
– Sim, mas tu já não tens paz. A todo o instante és solicitado, servem-se de ti o dia todo para levar água, ao
passo que eu permaneço no meu lugar. Ninguém me incomoda quando se aproximam, já sei que és tu quem
eles querem.
– Sim, se calhar é porque tenho algo para dar e o que dou não é diferente do que tu podes dar. Deixo-
-me encher pela água que cai da chuva, tanto sobre mim como sobre ti. Encho-me até transbordar. Outros
seres precisam desta água e eu sirvo-os. Esvazio-me e deixo-me encher de novo. Assim, a minha vida é um
constante dar e receber. Enquanto isso, desinstalo-me, saio do meu pequeno mundo e vou ao encontro de
outros mundos. Já conheci potes diversos, animais, pessoas, tantas coisas e seres! E cada um fez-me perceber
ainda mais o pote que sou.
– Não sei, se continuares assim, brevemente serás um pote partido, gasto e, então, de que adiantará tudo
isso?
– Se me desgasto a cada dia é para levar vida a outros seres. Vejo que o mais importante não é ser um pote
intacto, tal como fui feito, mas um pote de valor como estou a tornar-me. Se vou durar pouco tempo não
importa, se o pouco que eu viver tiver sentido, se me trouxer alegrias e me fizer sentir cada vez mais o que é
ser pote, isto basta-me...
Para reflectir
 Há diversas maneiras de usarmos os nossos dons. Podemos guardá-los connosco,
intactos, sempre novos, ou usá-los para levar vida às pessoas. Usando os nossos dons
em favor dos outros, desgastar-nos-emos, mas a nossa vida terá muito mais sentido. O
nosso sentimento de realização será enorme. A nossa felicidade também.
Façamos um esforço para tirarmos a tampa que nos protege, para sentirmos o sabor
da transformação. A sensação de darmos um pouco de nós para recebermos um pouco
do outro compensa o esforço.
É preciso deixarmos o nosso mundo para ganharmos um mundo maior.
Para discutir
 Com qual dos dois potes me identifico? Porquê? Que elementos da nossa vida tomo
como base para definir isso? O que é mais importante: manter-se belo, jovem,
intocável, ou ter as marcas da doação, da entrega, da solidariedade? O que faço para
me desinstalar, me esvaziar e voltar a encher?
Temas para serem trabalhados
 Superação, maturidade, crescimento pessoal, sabedoria de vida, desinstalar-se,
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mudança de vida, conversão/transformação, desafios, atitudes saudáveis,
aprendizagem com os erros e dificuldades, autoconhecimento, transformação interior,
paz, esvaziar versus encher, doação de si, realização, felicidade.
 
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17. A corrente do bem
Já toda a gente ouviu falar no “efeito dominó”. Pois é, esse pode ser o resultado de uma acção boa, um acto
de caridade. Uma bondade leva a outra e assim se constrói uma grande corrente de bem, de boas acções, que
contagia com a felicidade, a fé e a esperança.
Já era noite. Uma chuva forte caía na cidade. Ao voltar para casa, Flávio viu um carro parado na berma da
estrada e percebeu que havia uma mulher a precisar de ajuda. Parou o carro e aproximou-se.
A mulher estava a tremer de frio e com um olhar assustado, pois já estava escuro e ninguém parava para o
ajudar. Quando viu Flávio a aproximar-se, ficou ainda mais preocupada. “Um homem, mal vestido, será que
vai ajudar-me ou assaltar-me?”
Flávio aproximou-se devagar, com um sorriso aberto para tentar acalmá-la. Ao chegar perto e sentir o
medo da mulher, disse:
– Eu estou aqui para ajudar, minha senhora. Porque não espera no carro onde está quentinho?
A propósito, o meu nome é Flávio.
O único problema do carro era um pneu furado. Um grande problema para a mulher, mas algo simples e
rotineiro para Flávio. Ele baixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Ao trocar o pneu, ficou um
bocado sujo e ainda feriu uma das mãos. Enquanto Flávio apertava as porcas da roda, a mulher abriu a
janela e começou a conversar com ele. Contou que era de Braga e só estava por ali de passagem. Que não
sabia como agradecer pela preciosa ajuda e estava disposta a retribuir generosamente pelo serviço.
Flávio apenas sorriu enquanto se levantava. Ela perguntou quanto lhe devia. Qualquer quantia teria sido
muito pouco para ela. Já tinha imaginado todas as terríveis coisas que lhe poderiam ter acontecido se Flávio
não tivesse parado. Mas ele não pensava em dinheiro. Aquilo não era um trabalho. Gostava de ajudar
quando alguém tinha necessidade e Deus já o ajudara bastante. Este era o seu modo de viver e nunca lhe
ocorreu agir de outra forma. Então respondeu:
– Se realmente me quiser pagar, da próxima vez que encontrar alguém que precise de ajuda, dê a essa
pessoa a ajuda necessária... E pense em mim – acrescentou.
Ele esperou até que a senhora se fosse embora com o carro e depois partiu. Tinha sido um dia frio e
deprimente, mas ele sentia-se bem, estava prestes a chegar a casa. Alguns quilómetros adiante, a senhora
encontrou um pequeno restaurante. Entrou para comer alguma coisa. Era um restaurante sujo. A cena inteira
era estranha para ela.
A empregada veio até ela, trouxe-lhe uma toalha limpa para que pudesse secar o cabelo molhado e dirigiu-
lhe um doce sorriso, um sorriso que mesmo com os pés doridos de um dia inteiro de trabalho não puderam
apagar. A mulher notou que a empregada estava com quase oito meses de gravidez, mas nem a tensão nem as
dores conseguiam mudar a sua atitude positiva. Ficou curiosa em saber como é que alguém que tinha tão
pouco podia tratar tão bem de um estranho. Então lembrou-se de Flávio.
Depois de terminar a refeição, enquanto a empregada ia buscar o troco para a nota de cinquenta euros, a
mulher retirou-se. Já tinha partido quando a empregada voltou. Ela ainda procurou a senhora. Estava a
imaginar onde é que ela poderia ter ido, quando notou algo escrito num guardanapo, sob o qual tinha mais
quatro notas de cinquenta euros. Havia lágrimas nos seus olhos quando leu o que a senhora escreveu:
«Tu não me deves nada, eu já tenho bastante.Alguém me ajudou uma vez e da mesma forma estou a ajudar-
te. Se realmente me quiseres pagar, não deixes este círculo de amor terminar contigo.»
Bem, havia mesas para limpar, açucareiros para encher e pessoas para servir. Naquela noite, quando foi
para casa e se deitou na cama, ficou a pensar no dinheiro e no bilhete escrito pela mulher.
Como pôde aquela senhora saber o quanto ela e o marido precisavam disto? Com o bebé para o próximo
mês, como estava difícil! Ela virou-se para o preocupado marido que dormia ao lado, deu-lhe um beijo suave
e sussurrou:
– Tudo ficará bem, eu amo-te, Flávio.
Para reflectir
 Há algum tempo, um filme chamado «Favores em cadeia» fez com que muitas
pessoas reflectissem sobre a importância de se criar uma corrente positiva, que vai
contra a tendência da sociedade actual que é individualista e consumista. Fazer o bem
é dar um pouco de si, dar alguma coisa em troca apenas de um sorriso, de um
sentimento de realização, o que é muito valioso. A tradição cristã diz que recebemos
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em dobro aquilo que damos. Faz o teste. Dá início a uma corrente de bem
diariamente. Ela fará a diferença na sociedade e na tua vida. A recompensa pode até
demorar, mas virá.
Para discutir
 Como posso começar uma corrente de bem? Porque não é comum ver na nossa
sociedade acções como as relatadas na parábola? O que me impede de fazer o bem,
de agir solidariamente? Que sentimentos normalmente prevalecem nas minhas
relações sociais? Quem viu o filme «Favores em cadeia» pode comentar e relacioná-
lo com a parábola e com a vida pessoal.
Temas para serem trabalhados
 Bondade, caridade, doação, altruísmo, abertura, maturidade, atitude, personalidade,
educação cristã, crescimento pessoal, colaboração e partilha, trabalho em equipa,
troca, corrente de bem, solidariedade.
 
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18. Fonte nova
Perdido no deserto, já bastante fragilizado pela sede, um homem encontra uma cabana velha, mal cuidada,
sem janelas, sem telhado, abandonada há muito tempo.
Deu a volta para ver se encontrava um lugar para descansar e deitou-se à sombra de uma das paredes. Ao
olhar ao lado da casa, viu uma bomba de água bastante enferrujada.
Já sem forças, arrastou-se até à bomba, pegou na manivela e começou a bombear. Repetiu o movimento
várias vezes, mas nada aconteceu. Desapontado e com as energias esgotadas, acabou por se deitar ali
mesmo. Ao deitar-se bateu com a cabeça em alguma coisa dura.
Olhou e viu uma garrafa velha cheia de água. Limpou a sujidade que a cobria para ter certeza de que
estava cheia e pôde então ler um bilhete que estava agarrado a ela:
«Caro viajante, primeiro você precisa de preparar a bomba derramando sobre ela toda a água desta
garrafa. Depois faça o favor de encher a garrafa outra vez para o próximo viajante antes de partir.»
O homem tirou a rolha da garrafa e confirmou que ela estava cheia de água. De repente, viu-se num dilema.
Se bebesse aquela água, poderia sobreviver. Mas se a despejasse na bomba enferrujada e ela não funcionasse
morreria de sede.
Que fazer: despejar a água na bomba e esperar que viesse água fresca, ou beber a água da garrafa e
desprezar a mensagem? Hesitante, o homem despejou toda a água na bomba. Depois, agarrou a manivela e
começou a bombear. A bomba começou a ranger e a chiar forte. Mas não aconteceu nada!
O viajante continuou. Então, surgiu um fiozinho de água, depois, um pequeno fluxo e, finalmente, a água
jorrou com abundância!
Para alívio do homem, a bomba velha fez jorrar água fresca e cristalina. Ele encheu a garrafa e bebeu dela
até se fartar. Encheu-a outra vez e tornou a beber o seu conteúdo refrescante. Em seguida, voltou a encher a
garrafa para o próximo viajante. Encheu-a até ao gargalo, pôs-lhe a rolha e acrescentou uma pequena nota:
«Creia-me, funciona. Você precisa de dar toda a água antes de a poder obter novamente.»
Para reflectir
 Seguir o primeiro impulso às vezes pode tornar-
-se um grande erro. A vontade do viajante era beber logo a água que estava na
garrafa. Seria a solução mais rápida. Mas ele decidiu confiar.
A confiança é o segredo do sucesso. Pode ser arriscado, pode não render frutos
imediatos, pode até parecer loucura, mas precisamos de confiar. Confiar nos nossos
pais, nos nossos amigos, nos nossos companheiros, nos nossos professores...
A parábola ensina também que às vezes precisamos de dar aquilo que temos para
receber mais.
É preciso esvaziarmo-nos das coisas velhas para nos enchermos do novo, da água
fresca. Precisamos de nos libertar de certas situações para conquistar outras vitórias,
para obter êxito. Essa entrega só acontece sob a ordem da confiança.
Por fim, ensina-nos a sermos gratos e a sabermos retribuir a quem nos auxilia nas
nossas conquistas, além de ensinar sobre o poder da fé, da confiança em algo que não
vemos e que nem temos a certeza de que exista.
Para discutir
 Qual seria a minha atitude diante do dilema apresentado pela parábola? Seria eu
capaz de renunciar ao pouco que tenho garantido para arriscar a saciedade plena?
Normalmente, como ajo? Agarro-me ao que tenho, ou arrisco algo maior? Em quem
confio plenamente? A confiança é uma virtude que procuro alimentar? Como?
Temas para serem trabalhados
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 Confiança, autoconfiança, doação, entrega, ris-
cos da vida, coragem de arriscar, gratidão, retribuição, sinceridade, fidelidade,
qualidades, valores, virtudes, atitude, valores fundamentais na vida, fé, solidariedade.
 
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19. Aumentar a auto-estima
O dia não estava muito animador. Céu encoberto, temperatura baixa, as pessoas a passar de um lado para
o outro apressadamente, cabisbaixas... Tiago, um jovem sempre preocupado com a aparência e com o que os
outros comentavam sobre ele, foi até à loja do tio pedir um conselho.
– Não aguento mais, tio – disse. Não tenho forças para nada, não sinto ânimo em nada, não sirvo para
nada. Tudo o que faço está mal, não sei fazer nada bem, sou lento e parvo. Como posso melhorar? O que
devo fazer para que toda a gente me valorize?
O tio sabia exactamente como ajudá-lo. Mesmo assim disse:
– Sinto muito, mas não posso fazer nada por ti, preciso de resolver primeiro o meu problema, talvez depois
te possa ajudar. (Depois de uma pausa, continuou) Se me ajudares, consigo resolver depressa o meu
problema, então depois vamos pensar em ti.
O jovem hesitou por ficar outra vez em segundo plano, estava novamente a ser desvalorizado, mas resolveu
aceitar a proposta. O tio pegou num quadro que estava na parede e entregou-o ao jovem.
– Preciso de vender este quadro – disse. Vai até à baixa e apresenta-o a todas as pessoas que encontrares.
Tenta vender pelo preço mais alto possível. Mas não aceites nada inferior a 300 euros. Vai e volta o mais
rápido que puderes, mas nada menos do que 300 euros.
Lá se foi o sobrinho com o quadro no braço. Ao chegar à baixa, começou a apresentá-lo aos que passavam.
Homens, mulheres, jovens, idosos, turistas... ninguém queria saber do quadro. Eram apenas alguns rabiscos
numa tela pequena, quem ia querer aquilo, pensou. Alguns até se interessavam pelo quadro, mas quando
mencionava o preço, desistiam e seguiam o seu caminho. Ficou ali a tarde toda sem conseguir um
comprador. Alguns até ofereceram 50 euros, outros 100, mas não aceitou. Uma estudante gostou do quadro,
mas não ofereceria mais do que 150 euros.
O jovem, mesmo sabendo que aquela era a melhor oferta, não aceitou, pois lembrou-se das palavras do tio:
«nada menos do que 300 euros». Triste, cansado e desapontado, o rapaz voltou para casa. Não sabia como
explicar ao tio que não tinha conseguido vender o quadro. Mais triste ficou quando se lembrou que também
não ouviria o conselho do tio, pois não conseguiu ajudá-lo. Ao chegar à loja, disse:
– Sinto muito, tio, mas é impossível ganhar 300 euros com este quadro. O máximo que conseguirá é 150.
Este quadro não vale mais do que isto, não podemos ser iludidos com o seu valor.
O tio sorriu, olhou nos olhos do jovem e disse:
– Tu estás certo. Ninguém pode ser iludido com o valor do quadro. Vamos pesquisar o valor dele antes de
mais. Vaiaté uma galeria de arte e pergunta a um especialista quanto vale esta pintura. Diz que pretendes
vendê-la, mas não vendas, seja qual for o valor que ele te ofereça.
O jovem não percebeu bem porque o tio disse que não era para vender, sem importar o valor oferecido, já
que antes queria vendê-lo. Mas foi novamente à baixa para avaliar o quadro. Ao chegar a uma bela galeria,
ficou impressionado com a quantidade de quadros expostos, todos com valores muito altos. Procurou o
especialista, que analisou cuidadosamente a obra e disse:
– Se o teu tio quiser vender este quadro agora, não posso dar mais do que 10 mil euros.
Atónito, o jovem nem sabia o que responder. “Dez mil?” pensou incrédulo. Achou que tinha ouvido mal e
resolveu perguntar outra vez.
– Dez mil euros, este é o preço máximo que posso pagar – repetiu. – Talvez se fosse a um leilão pudesse
conseguir 15 mil ou até 20 mil euros, mas agora eu posso pagar apenas 10 mil.
Ainda sem acreditar, exultante de alegria, o jovem correu a contar ao tio o valor do quadro. Não se
continha de alegria ao relatar ao tio o valor oferecido na galeria de arte.
Após ouvir o jovem, o tio disse:
– Tu és como este quadro. Muitas pessoas não sabem o teu real valor e desprezam-te por isso. Tu precisas
de ser analisado por um especialista para teres o teu valor reconhecido. O ser humano é como este quadro.
Somos valiosos e únicos, mas o nosso valor normalmente é subestimado porque não procuramos as pessoas
certas para nos avaliarem.
Para reflectir
 Ninguém tem o direito de julgar ou avaliar outra pessoa pela aparência. Se não
fazemos parte da sua vida, se não a conhecemos realmente, nunca saberemos o seu
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real valor. Cada um de nós é sempre mais do que apresenta num determinado
momento ou situação. A vida de cada um de nós vale sempre mais e só é descoberta
quando fazemos uma troca, uma partilha, quando entramos em sintonia, quando
damos um pouco de nós para recebermos do outro.
Não te subestimes. Não deixes ninguém ma-goar-te ou menosprezar-te,
principalmente se esse alguém não faz parte da tua vida. Tu podes fazer tudo o que
quiseres, basta empenhares-te e enfrentares os desafios e as limitações.
Para discutir
 Como está a minha auto-estima? Como procuro trabalhá-la? Quais os
acontecimentos que normalmente me deprimem? Quais me valorizam? Porquê? Qual
a importância que dou aos comentários dos outros, ao que os outros pensam de mim?
Deixo que essas avaliações e comentários influenciem a minha vida?
Temas para serem trabalhados
 Auto-estima, serenidade, calma, paciência, harmonia, autocontrolo, crescimento
pessoal, equilíbrio, virtudes, atitude, valores fundamentais na vida, relacionamentos,
fé, valor do ser humano.
 
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20. Tal pai, tal filho
Um dos dez mandamentos é «honrar pai e mãe». Infelizmente, hoje muitas famílias não dão muita atenção
aos pais quando eles se tornam idosos. Alguns são abandonados, outros maltratados.
Os filhos parecem esquecer-se de tudo o que receberam dos seus pais. Vamos ouvir a história da família
Oliveira.
A sofrer as consequências de um derramamento, o avô, com quase 70 anos, foi morar com o filho mais
novo, a nora e o neto de apenas cinco anos. As mãos do senhor eram trémulas, a sua visão já não era boa e
caminhava com dificuldade.
A família gostou da ideia a princípio, mas começou a esmorecer com o passar do tempo, por causa do
trabalho que o avô dava.
Quando estavam à mesa, todos reunidos, não se sentiam bem, pois o velho atrapalhava-se a comer.
A sopa caía da sua colher, o sumo e o leite entornavam-se com a sua mão trémula, era uma grande sujidade.
O filho e a nora já não aguentavam a situação e resolveram fazer algumas mudanças. Colocaram uma mesa
no canto da cozinha para o avô fazer as suas refeições sem importunar. Também compraram uma tigela de
madeira pois, por causa das suas dificuldades, o velho já tinha partido diversos pratos.
A situação incomodou no começo. Ninguém se sentia bem ao ver o avô sozinho, a comer num canto, mas
com o tempo foram-se habituando e já não ligavam à sujidade que fazia nem aos talheres que deixava cair.
O miúdo parecia ser o único a não aceitar o tratamento dado ao avô, mas não podia dizer nada, pois era
muito pequeno. Sofria em silêncio. Certo dia, enquanto todos viam televisão, o pai percebeu que o filho
estava no chão, a mexer num pedaço de madeira. Chamou-o e perguntou-lhe:
– O que estás a fazer?
Inocentemente, o menino respondeu:
– Olha, estou a fazer uma tigela de madeira para ti e uma para a mamã, para vocês comerem quando eu
crescer!
Baixando a cabeça, voltou a mexer na madeira, enquanto os seus pais se entreolharam e começaram a
chorar. Os dois ficaram mudos, mas certamente a pensar em muitas coisas que estavam a acontecer nos
últimos meses.
Naquela mesma noite, o pai tomou o avô pelas mãos e conduziu-o até à mesa da família. Nunca mais
ninguém se preocupou com o barulho, com os alimentos a cair no chão, com o sumo a entornar...
Para reflectir
 Nos últimos anos a esperança de vida aumentou muito. Os idosos aumentaram em
todas as famílias e têm papel importante na sociedade. Apesar disso, muitas vezes são
desrespeitados ou desprezados. Devemos aprender a tratar bem quem nos educou, nos
protegeu, nos deu carinho e amor. Somos muito ingratos se agimos de outra forma.
Mostra o teu respeito e gratidão aos mais velhos, a começar pela tua casa e depois
em todos os lugares onde encontrares um idoso: mercado, igreja, rua, loja, metro, etc.
Para discutir
 Como trato o meu pai, a minha mãe, o meu avô, a minha avó...? Trato-os como
gostaria de ser tratado quando envelhecer? Nos ambientes públicos, como trato os
idosos? Ajudo-os quando possível? Como posso contribuir para a inclusão dos idosos
na sociedade? Como dar-lhes mais espaço e valor na minha família?
Temas para serem trabalhados
 Respeito, saúde, terceira idade, mandamentos, dedicação, amizade, sentimentos,
maturidade, crescimento pessoal, atitude, relacionamentos, família, ética, estatuto do
idoso.
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21. Não se esqueça do principal
Uma antiga lenda conta que uma mulher pobre passava à frente de uma caverna com o seu filho pequeno ao
colo, quando ouviu uma voz misteriosa vinda do interior da caverna. Parou para ouvir o que ela dizia:
– Entra e apanha tudo o que desejares, mas não te esqueças do principal. Depois de saíres, a porta fechar-
-se-á para sempre. Portanto, aproveita a oportunidade, mas não te esqueças do principal...
A mulher entrou na caverna e encontrou um grande tesouro. Fascinada pelo ouro e pelas jóias, pôs a
criança no chão e começou a juntar ansiosamente tudo o que podia no seu avental. Não sabia sequer por
onde começar com tanta riqueza que via à sua frente.
A voz misteriosa falou novamente:
– Só tens dez minutos, não te esqueças do princi-
pal.
Esgotado o tempo, a mulher, tão carregada de ouro e pedras preciosas que mal conseguia andar, dirigiu-se
para fora da caverna e a porta fechou-se...
Só neste momento se lembrou do principal. A criança ficara lá e a porta estava fechada para sempre!
A riqueza durou pouco e o desespero, sempre.
Para reflectir
 A nossa vida é semelhante à parábola. Há sempre alguma voz a dizer: “não te
esqueças do principal”. Mas apegamo-nos ao fútil, ao passageiro, ao que tem menos
valor. O principal são os valores espirituais, a oração, a vigilância, a família, os
amigos, a vida! Contudo, a ganância, a riqueza, os prazeres materiais fascinam tanto
que o principal fica sempre de lado.
Esgotamos o nosso tempo de vida e deixamos de lado o essencial. Nunca nos
esqueçamos de que a vida, neste mundo, passa rápido e que a morte chega de modo
inesperado. Quando a porta da vida se fechar para nós, de nada valerão as
lamentações e a frustração de não ter cumprido o nosso papel, de não ter vivido
intensamente, de não ter valorizado as pessoas devidamente. Que nunca nos
esqueçamos do principal!
Para discutir
 O que é prioritário, principal na minha vida?
O que deveria ser? Que valores têm prioridade hoje? O que gostaria que tivesse
prioridade nos próximos anos?Porque nos apegamos mais aos bens, à riqueza, e
menos às pessoas, ao espiritual, à oração...? Que atitude deveria eu tomar para viver
intensamente?
Temas para serem trabalhados
 Mudança de vida (conversão), valores principais, prioridades na vida, crescimento
humano, superação de problemas, equilíbrio, autocontrolo, atitudes saudáveis,
aprendizagem com os erros e dificuldades, autoconhecimento.
 
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22. O rouxinol
Todas as manhãs, a jovem Sara abria a janela do seu quarto e comia um pedaço de pão enquanto olhava
para a beleza do seu jardim. As migalhas que
caíam do seu pão eram comidas por um pequeno rouxinol que vivia no jardim. Todos os dias a mesma cena, e
o rouxinol a pensar que aquelas migalhas lhe eram dedicadas especialmente. Criou um grande afecto pela
rapariga que todos os dias o alimentava.
Passaram alguns meses e a jovem apaixonou-se. Todos os dias recebia flores do seu amado. Para mostrar o
seu amor, queria retribuir com uma linda rosa vermelha. Procurou por todo o seu belo jardim e nada.
Percorreu diversas floriculturas, mas não encontrava rosas vermelhas. Triste, desolada, foi pedir ajuda ao
jardineiro da sua casa. Ele percebia muito de flores, certamente saberia onde encontrar uma linda rosa.
O jardineiro disse que poderia presentear o seu amado com orquídeas, cravos, violetas... qualquer flor,
menos rosas. Elas não floresciam naquela estação. Não havia nenhuma rosa na cidade.
O rouxinol, que estava por perto, ouviu a conversa e ficou com pena da jovem, sua grande amiga, que todos
os dias o alimentava.
A ave procurou então em todos os lugares. Como não encontrou, foi pedir ajuda ao deus das aves. Ele disse
que existia um meio, mas o sacrifício era muito grande. Qualquer coisa, disse o rouxinol, afinal era para a
felicidade da sua melhor amiga.
– Bem, prosseguiu, terás de te emaranhar numa roseira e ali cantar a noite toda, sem parar. O esforço é
muito grande, o teu peito pode não aguentar.
Quando escureceu, o rouxinol procurou a roseira que ficava em frente da janela da rapariga, aproximou-se
dela, abraçou-a e começou a cantar.
Um grande espinho começou a perfurar o seu peito. Quanto mais cantava, mais o espinho o feria, mas o
rouxinol não parou. Continuou a cantar, afinal, era pela felicidade de uma amiga. O seu canto simbolizava
gratidão, amizade, doação e a sua própria vida.
Pela manhã, quando a jovem abriu a janela, viu uma bela rosa vermelha. Nem questionou o milagre, colheu
apenas a rosa. Ao olhar o pequeno pássaro morto com um espinho no peito, a jovem disse:
– Que ave parva, com tantas árvores para cantar, foi-se enfiar precisamente no meio de uma roseira que
tem espinhos. Pelo menos agora dormirei melhor, sem ter de ouvir o seu canto chato a noite toda.
Para reflectir
 Há dois grandes ensinamentos na parábola.
O primeiro é a doação incondicional do rouxinol. Quando um amigo precisa de ajuda,
não podemos medir esforços para o ajudar. O segundo é mais complexo. Fala sobre a
gratidão, ou a falta dela.
A ingratidão é um mal que sempre acompanhou o ser humano. Basta olhar para a
história da humanidade e, principalmente, para a nossa história particular. Quantos
exemplos de ingratidão encontramos. Às vezes damos o melhor de nós, esforçamo-
nos, superamos obstáculos, dedicamos tempo e trabalho para realizar algo que passa
despercebido, como se não existisse.
Às vezes somos desapontados pelos nossos próprios amigos e familiares, as pessoas
que mais nos deveriam incentivar. Não repitas os maus exemplos, pois cada um dá o
que tem no coração... e cada um recebe com o coração que tem. Mostra o coração
bom que tens, agradece sempre e faz muitas boas acções.
Para discutir
Como é o meu coração? Duro, frio, incapaz de agradecer? Ou sensível, capaz de ver
as necessidades dos meus companheiros e agir em prol deles? Assemelho-me mais ao
rouxinol ou à jovem? Porquê? Como posso trabalhar estes pontos na minha vida?
Temas para serem trabalhados
42
 Gratidão, solidariedade, disponibilidade, trabalho voluntário, colaboração, força de
vontade, superação, determinação, motivação, ânimo, como fazer a diferença,
mobilização, maturidade, atitude, personalidade, bom coração, caridade, amizade,
relacionamentos.
43
23. O presente mais valioso
Atrás do balcão, Marcos olhava a rua. O movimento esteve fraco na sua loja o dia inteiro. De repente, uma
miudinha aproximou-se e colou o rosto no vidro da montra. Os seus olhos brilhavam e tinham um rumo certo:
um colar de turquesa azul. Entrou na loja e foi directa ao balcão.
– Quero aquele colar azul. É para a minha irmã, pode fazer um embrulho bem bonito?
Desconfiado, o dono da loja olhou para a menina e perguntou:
– Quanto dinheiro tens tu?
A miúda colocou a mão no bolso, tirou um saquinho de pano e despejou em cima do balcão algumas
moedas.
– Isto dá? – perguntou orgulhosa.
Completou:
– Quero dar um presente à minha irmã mais velha. Quando a minha mãe morreu, ela ficou sozinha a cuidar
de nós. Não nos abandonou em nenhum momento e sempre nos deu muito carinho. Agora é o aniversário dela
e tenho a certeza de que ela ficará feliz com o colar que é da cor dos seus olhos.
Marcos retirou-se por alguns instantes e voltou de seguida com um embrulho bonito, um papel brilhante
enrolado com uma fita azul. Toma, mas leva com cuidado, disse o homem.
Ela saiu saltitante, feliz por ter encontrado o presente perfeito para a sua irmã.
Ainda no mesmo dia, algumas horas mais tarde, entra na loja uma linda jovem, de cabelos longos e com uns
belos olhos azuis.
Colocou sobre o balcão um embrulho que foi logo identificado pelo dono da loja.
– Este colar foi comprado aqui?
– Sim – respondeu.
– E quanto custou?
– Bom – hesitou – o preço de qualquer produto da minha loja é guardado entre mim e o cliente.
– Mas a minha irmã não tinha dinheiro, a não ser umas quantas moedas. Ela não teria dinheiro nem para
uma bijutaria, quanto mais para comprar um colar legítimo. Como é que ela pagou?
Marcos pegou no embrulho. Fechou e enrolou novamente a fita com cuidado. Devolveu à jovem e disse:
– Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa pode pagar. Ela deu tudo o que
tinha.
Para reflectir
 Duas atitudes merecem grande destaque nesta parábola. Primeiro a do vendedor.
Dificilmente presenciaremos uma acção assim na nossa sociedade. A sua comoção e
iniciativa de presentear alguém que nunca viu antes, que não faz parte do seu círculo
de amigos, é maravilhosa. Quão diferente seria o mundo se existissem pessoas com
esse espírito de doação e generosidade.
A atitude de maior destaque, no entanto, é a da menina. Ingenuamente, procura o
presente mais bonito para agradar à sua irmã a quem tanto deve. A sua inocência
rompe a resistência do dono da loja e quebra os padrões de uma sociedade
materialista.
A sua preocupação não é o dinheiro, mas a felicidade da pessoa mais importante da
sua vida: a sua irmã. Nós deveríamos aprender com esta atitude, aprender a valorizar
mais as pessoas que fazem parte de nossa vida, aprender a dar tudo o que temos para
levar a alegria aos nossos irmãos, pais, filhos, amigos...
Para discutir
 Porque seria praticamente impossível uma atitude como a do vendedor na nossa
sociedade? O que valorizo mais, os bens materiais ou os sentimentos? O que estou
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disposto a dar em troca da felicidade e da realização de quem amo? Porque não dou?
Que reflexões esta parábola provoca em mim? Ela consegue motivar-me a ter uma
visão diferente sobre as coisas que realmente têm valor na minha vida?
Temas para serem trabalhados
 Família, amizade, partilha, doação, simplicidade, ingenuidade, qualidades, virtudes,
atitude, resistência a mudanças, valores fundamentais da vida, pessoas que fazem
diferença na nossa vida.
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