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Aula 11 Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Veronica Ramos Gomes 232 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11 • Meta Apresentar as Políticas Públicas no Brasil que utilizam a Educação a Distância como suporte em seus projetos. Objetivos Esperamos que, após o estudo desta aula, você seja capaz de: 1. Definir política pública; 2. Listar programas públicos que utilizam a Educação a Distância para sua difusão. Pré-requisitos Para melhor entendimento, releia a Aula 5, sobre legislação. 233 Educação a Distância Introdução Olá! Nossa conversa agora é sobre as políticas públicas e a EaD no Brasil. Na Aula 5, vimos as leis que regulamentam e legitimam a modalida- de de educação que você optou para fazer a sua graduação. Agora, apresentaremos as políticas públicas voltadas para Educação a Distância. Listaremos programas governamentais que utilizam a EaD nos projetos educacionais, quer seja para sua difusão, como estratégia pedagógica, ou para tentar resolver problemas imediatos e graves da educação no país, como a ampliação do acesso ao ensino superior, for- mação e aperfeiçoamento de professores ou visando à inclusão social de um maior número de pessoas através da educação. A legislação educacional brasileira oficializou e deu abertura a esta modalidade a partir da Constituição Brasileira de 1988, em especial, por meio do inciso II, do artigo 206, que estabeleceu o princípio brasileiro de que, aqui se tem “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar, e divul- gar o pensamento, a arte e o saber”(Brasil. Constituição. Brasília, 1988). A partir de então, houve um esforço do Poder Público, no sentido de regulamentar, incentivar e promover o desenvolvimento da EaD, ou seja, o país teve que investir em políticas públicas específicas de incentivo. É esta caminhada que veremos agora, juntamente com projetos edu- cacionais concebidos para EaD, que tem obtido sucesso em seus objeti- vos, principalmente ampliando o acesso dos alunos do interior do nosso país a cursos de qualidade. Política Pública: o que é isto? “O Estado não fazer nada em relação a um problema também é uma forma de política pública” (Bachrach e Baratz, 1962). Vivemos um novo modelo de sociedade, regido pelo mundo globali- zado. Formação e informação passaram a ser instrumentos para impul- sionar o projeto de grande nação. Embora o conceito de grande nação seja subjetivo e pessoal, no geral, seriam países que respeitam seus cidadãos, ou seja, “todos são iguais pe- rante a lei”, priorizando a educação de qualidade, acarretando menores 234 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11 • desigualdades sociais, há oportunidades maiores de inserção no mer- cado de trabalho e, consequentemente, uma vida mais produtiva. Além de assistência médica adequada para população, garantia das liberdades individuais, estimulando o desenvolvimento cultural, fortalecendo a identidade do povo, entre outros fatores. O mercado de trabalho tem feito maiores exigências àqueles que nele chegam. Consequentemente, a população, como um todo, passou a bus- car atualização e aperfeiçoamento em vários campos do conhecimento, tornando a sociedade mais competitiva. De acordo com Preti (2009, p.20, 23): “As mudanças tecnológicas fazem com quegrande parte das qua- lificações fique defasada, a um ritmo cada vez mais rápido, dian- te dos aparatos de informação que operam em tempo real. Por outro lado, existe interdependência maior entre conhecimento e vida econômica... Mas do que aprender a fazer, deve-se se formar para “aprender a aprender”. Isto de maneira grupal, coletiva, com visão ampla, não fragmentada do processo produtivo.” Para iniciarmos nossa conversa sobre políticas públicas voltadas à EaD, buscaremos entender política pública como referencial teórico. Política Pública, como área de estudo, nasceu nos Estados Unidos da América, contrapondo-se à tradição europeia, que concentrava seus es- tudos mais no papel do Estado e suas instituições do que na produção de leis pelo governo, com finalidade de resolver problemas das populações. 235 Educação a Distância Figura 11.1: Diante de um mercado mais exigente e competitivo e a conse- quente necessidade de formação continuada da população para se adequar às exigências e especificidades de cada segmento, surge a premência do agendamento de ações públicas com vistas a promover soluções à necessi- dade de formação. Link da imagem:https://www.flickr.com/photos/gamerscore/505331200/in/ photostream/ O interesse pelo estudo acerca das políticas públicas tem aumentado nos últimos anos, em virtude da política de restrição de gastos públi- cos e, também, como afirma Matias-Pereira (2005,p.14), pelo fato “de que a política pública tem sido definida e implantada como resposta do Estado para atender as demandas que surgem a partir dos anseios da população.” O que nos leva à seguinte questão: como equacionar a restrição de gastos públicos e o atendimento às reais necessidades da população? Política pública é uma condição exclusiva de governo, embora o filó- sofo e historiador Michel Foucault (1979, p.38) tenha afirmado que “to- das as pessoas fazem política, todos os dias, e até consigo mesmas!”. Ele se referia às questões do dia a dia, nas quais somos chamados a tomar decisões ou partido de algo ou alguém. G am er sc or e B lo g 236 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11 • Michel Foucault nasceu em 15 de outubro de 1926 e morreu em 25 de junho de 1984 em Paris aos 57 anos. Foi filósofo, contrarian- do a família, de médicos, que desejava que ele seguisse a mesma carreira. Também foi historiador, teórico social e crítico literário. Suas teorias abordavam a relação entre poder e conhecimento e como eles são usados como forma de controle social por meio das instituições sociais. Entre suas obras mais conhecidas estão Vigiar e Punir, um estu- do sobre a disciplina na sociedade moderna, e Doença Mental e Psicologia, de 1954, retratando as práticas de exclusão social dos séculos XVII e XVIII, das pessoas desprovidas de razão. Disponível em:http://www.ufrgs.br/corpoarteclinica/?page_id=70 Assim temos que um dos maiores desafio das nações é atender as necessidades da população com gasto consciente do dinheiro público. Para melhor entendermos como esta equação acontece, particularmen- te na EaD, vale a pena conhecermos, inicialmente, algumas definições sobre o que caracteriza uma política pública e seus respectivos autores. Veja no quadro a seguir: PRINCIPAIS DEFINIÇÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS AUTOR DEFINIÇÃO Matias-Pereira (2005,2007. p 45) “Compreende um elenco de ações e pro- cedimentos que visam à resolução pacífica de conflitos em torno de bens e recursos com destaques para as áreas de econo- mia, trabalho, saúde, educação, seguran- ça, socioambiental, ciência e tecnologia. As políticas públicas, no seu processo de estruturação, devem seguir um roteiro claro de prioridades, princípios, objetivos, normas e diretrizes delineadas nas normas constitu- cionais...”. 237 Educação a Distância Souza (2003, 2006, p. 69) “Pode-se, então resumir política pública como campo do conhecimento que busca ao mesmo tempo, colocar o “governo em ação” e/ou analisar essa ação e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou no curso dessas ações...”. Mead, (1995, p.32) “Campo dentro do estudo da política que analisa o governo à luz de grandes questões públicas”. Lynn (1980, p. 72) “Conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos específicos.” Peters (1986, p.8) “Política pública é a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegações, e influenciam a vida dos cidadãos.” Dye (1984, p 64) “(...) o governo escolhe o que fazer ou não.” Azevedo (2003, p.38) “(...) política pública é tudo que o governo faz e deixa de fazer, com todos os impactosde suas ações e de suas omissões”. Laswell (1958, p7) Diz, ironicamente: “(...) decisões e análise sobre política pública implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê, por que e que diferença faz.” Agora, pare e pense: você consegue perceber o que há em comum a todas essas definições? Se você respondeu que todas essas citam o papel do governo na reso- lução de problemas sociais, você acertou! No entanto, críticos apontam falhas nas definições normalmente apresentadas, pois: • superestimam pontos cruciais, como o embate em torno de ideias e interesses que envolvem as políticas públicas; • ignoram a possibilidade de uma cooperação entre governo, institui- ções e grupos sociais na formulação das políticas públicas. Como já citado em Azevedo (2003), política pública é “coisa” para governo, mas nada impede que haja pressão por parte da sociedade ci- vil, visando ao bem comum. Assim, podemos afirmar que são atores importantes na formulação de políticas públicas grupos com diferentes interesses que se encontram organizados socialmente em sindicados, associações comerciais, asso- ciações de banco, associações de bairro e a mídia. Brena Realce Brena Realce Brena Realce 238 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11 • Por meio da união de interesses, esses grupos podem estabelecer es- tratégias de pressão junto aos governos, a fim de que leis sejam criadas para resolverem problemas que afetam a sociedade. Porém, determinadas demandas são mais rápidas que as leis exis- tentes. É o caso de leis que envolvem, por exemplo, saúde, educação e segurança. Muitas leis de relevância para o nosso país foram articuladas na so- ciedade civil e terminaram aprovadas. Como exemplo recente, podemos citar a lei da “ficha limpa”, para eleição de parlamentares. Mesmo com o espírito corporativista do Congresso, foi aprovada, muito por conta da pressão popular. Este é um exemplo de como o trabalho da sociedade civil tem im- portância, pode intervir e pressionar o meio político, a fim de conseguir leis de interesse maior. Baker (2004) e Schwartzman (2006) ressaltam que: “(...) dentre as políticas sociais, a educação ocupa posição espe- cial. Esta posição de destaque não se restringe às teorias de capital humano - que atribuem à educação um papel fundamental para o desenvolvimento econômico - mas também pela constatação mais recente de que as desigualdades educacionais são o principal correlato das desigualdades de renda, oportunidades e condições de vida”. Baker (2004, p.26) Schuwartzman (2006, p.32) A palavra educação, em si, como um conceito mais amplo, compre- ende aprendizado durante a vida, a formação de qualidades humanas, quais sejam: morais, físicas, culturais ou intelectuais. Portanto, família, amigos e sociedade são responsáveis pela nossa educação, cabendo à escola, mais especificamente, a educação escolar ou ensino, a “transmis- são” do conhecimento sistematizado, selecionado com bases científicas ou culturais e acumulado pela experiência social da humanidade duran- te sua trajetória, este sim, responsável pela democratização da socieda- de, pois abre caminhos para participação consciente dos indivíduos em sociedade, conservando e desenvolvendo habilidades para participação mais efetiva no sistema de mercado, nas decisões políticas e no campo do trabalho. A força de trabalho no Brasil, sob o ponto de vista da escolarida- de, se encontra ainda em uma posição muito frágil e atrasada em re- Brena Realce 239 Educação a Distância lação a outros países, mesmo latino-americanos, em relação ao tempo de escolaridade. Em média, o trabalhador brasileiro possui entre cinco a nove anos de escolaridade, atrás de Argentina, Uruguai e Chile, apenas para ficarmos na América do Sul. “... o Brasil é, lamentavelmente, o país da América Latina com o menor índice de atendimento a jovem na faixa etária de 18 a 24 anos no ensino superior, tendo cerca da metade do índice da Bolívia e um terço do Chile” (Preti, pag.107, 2009). Concluímos, então, que é uma faixa etária em que há muitos jovens sem uma formação mais aprimorada para um mercado de trabalho exi- gente. A baixa escolaridade do trabalhador coloca limites nos avanços da qualidade e da produtividade dos nossos trabalhadores, levando o nosso mercado a ser menos competitivo. O Banco Mundial divulgou pesquisa no ano de 2003, informando que pessoas com curso superior têm 20% mais chance de obter um em- prego, em relação às pessoas que possuem apenas o curso elementar. Além disso, elas têm 38% menos propensão a ficar desempregadas e, quando ficam, conseguem emprego em um período seis vezes menor. Banco Mundial, o que é? O nome inteiro é Banco Internacional para a Reconstrução e De- senvolvimento. Foi concebido na Conferência de Bretton Woods, em junho de 1944, como instrumento para financiar a reconstru- ção dos países destruídos pela Segunda Guerra Mundial, sobre- tudo os da Europa. À medida que os países europeus se restabele- ceram, o BIRD (como também é chamado) passou a orientar seus empréstimos para os países da América do Sul. O Banco Mundial provê também aconselhamento econômico e assistência técnica e serve de catalizador de investimentos ao setor privado. 240 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11 • De TOMMASI, Livia, WARDE, Mirian Jorge, HADDAD, Sérgio: O Banco Mundial e as Políticas Educacionais SP: Ed. Cortez, 2003. Nesta aula, iremos trabalhar, com o conceito de políticas públicas, como ações governamentais voltadas para a tentativa de soluções para os problemas sociais, particularmente, as relacionadas à educação. Atividade 1 No dia 12/02/15, foi publicada, no jornal O Globo, a reportagem intitu- lada Oito em cada dez alunos do Rio têm ensino ruim de matemática. A origem desta conclusão é fruto da análise dos dados da Prova Brasil de 2013, realizada pelo grupo Todos pela Educação. O estudo mostra que há uma dificuldade em alcançar a meta estipulada pelo Plano Nacional de Educação. O Rio de Janeiro tinha a meta de me- lhorar em quase 38% a nota dos alunos em matemática e cerca de 42% em português. No entanto, falhou nas duas disciplinas. De acordo com a coordenadora do grupo, Alejandra Velasco, para solu- cionar o problema, a pesquisa demonstra que: “(...) é necessário empreender novas políticas públicas, pois, se as cidades que cresceram nas provas anteriores estagnaram as que estão em evolução agora podem sofrer o mesmo mal” (KAPA, 2015). Para ler a reportagem na íntegra, acesse o seguinte endereço: http:// oglobo.globo.com/sociedade/educacao/oito-em-cada-dez-alunos-do- -rio-tem-ensino-ruim-de-matematica-diz-pesquisa-15313396. A partir da leitura, descreva o que seria uma política pública em educação. Resposta comentada A reportagem versa sobre os resultados negativos da última edição da Prova Brasil de 2013 nas escolas públicas brasileiras. A Prova Brasil faz 241 Educação a Distância parte da política pública para educação, chamado Plano Nacional de Educação. A prova, com objetivo diagnóstico, é aplicada para alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. O estado do Rio de Janeiro não cumpriu sua meta, que era de 37,8% alunos com boas notas em Matemática e 41,8% em Língua Portuguesa. Portanto, o objetivo dessa política pública era mudar um cenário na edu- cação por meio de metas e estratégias, mas que, neste caso, não foram atingidas, requerendo, assim, novas políticas públicas na educação, ou seja, novas ações do poder público para uma efetiva mudança, que seria o desenvolvimento de ações para a melhoria do rendimento dos alunos, a fim de que, na próxima avaliação, já se pudesse ter um resultado mais favorável e alcançar a meta estipulada. Políticas públicas no Brasil relacionadas à EaD Visto várias definições sobre políticas públicas, vamos “entrar” espe- cificamente nas políticas públicas voltadas para EaD no Brasil. Para começar,vale lembrar que com a promulgação de nova LDB 9394/96,ficou implícita a “obrigatoriedade” dos professores com forma- ção em nível médio buscarem a formação em nível superior, ameaçan- do-os inclusive, com perdas de direitos, tais como perda de regência de turma, diminuição de pagamento devido à formação incompleta, o que interferiria no valor da aposentadoria, no futuro, dentre outros. A lei, inclusive, estabelecia um prazo de dez anos para regulamen- tação da situação. Estabeleceu-se, então, grande preocupação para os profissionais da educação e governos em todas as esferas: municipal, estadual e federal. A Educação a distância passa a ser via ou alternativa na resolução do problema. Ao longo da história da EaD no mundo e no Brasil, a modali- dade foi diversas vezes organizada para atender demandas emergenciais na esfera do trabalho. O fato se deve, também, ao custo menor em relação ao ensino con- vencional e à possibilidade de atingir um grande número de alunos. Ainda nos anos 90, o número de profissionais da educação atu- ando no ensino fundamental e médio sem formação adequada era 242 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11 • muito grande. Estes números ainda são bastante significativos, tendo em vista o ta- manho do país, suas dificuldades geográficas, mesmo com o empenho e o esforço maior dos governos para resolver a questão. Veja os dados abaixo: “No Senso Escolar – Sinopse 2000, quase a metade dos professores da educação básica (48,52%)não possuía curso superior completo. São 1.115.761 professores que terão que complementar sua forma- ção, caso queiram permanecer no magistério’” (Preti,2009, p.107). Figura 11.2: Em 2000, quase metade dos professores da educação básica tinham a necessidade de atualização de formação, conforme os requisitos estabelecidos pela LDB em 1996. Neste contexto, a EaD foi uma alternativa para o apoio às políticas públicas. Fonte: https://www.flickr.com/photos/jcmejiaacera//14509334293 “Os dados do Censo Escolar em 2013 contam que 21,5% dos pro- fessores que trabalham no ensino fundamental de 6º ao 9º ano não fizeram ensino superior”. Dos profissionais em sala de aula nesta fase escolar de ensino 35,4% não são habilitados para o ma- Ju an C ar lo s M ej ía 243 Educação a Distância gistério, ou seja, não fizeram licenciatura. http://educacao.uol.com.br/noticias/2014/04/23/ma-formacao- -dos-professores-atrapalha-educacao-brasileira.htm Assim, a EaD se tornou a melhor alternativa para apoiar a atualização dos profissionais da Educação: “Neste contexto é preciso levar” em conta que a EaD passou a ser o caminho escolhido pelos gestores públicos para formar o con- junto de professores com baixa qualificação ou com qualificação desatualizada, quer pelo baixo custo, possibilidade de maior con- trole, além de ser acessível a professores das diferentes regiões do país...’ (Orth, Mangan, Neves, 2012. Pag. 83). Em 1996, mesmo ano da LDB, foi criada, por decreto número 1917, a SEED (Secretaria de Educação a Distância), vinculada ao MEC, com o objetivo de colocar em práticas as ações e projetos educacionais voltadas para educação à distância. A criação da secretaria já constituía um esforço para reforçar a ne- cessidade de ampliar a oferta ao ensino superior a custos reduzidos e até mesmo recuperar o tempo, visto que a utilização da modalidade é bastante utilizada em todo o mundo. Dentre os objetivos da secretaria estavam: • Expansão do ensino a distância em todos os níveis; • Inclusão social com democratização do ensino (acesso, permanência e educação de qualidade para a população mais pobre em todos os cantos dos pais); • Aperfeiçoamento de professores. E é neste quesito que a EaD mais se expandiu, justificando que os maiores números de alunos matricula- dos estejam nos cursos de licenciatura ou em formação continuada de professores; • Ensino superior a distância. Programa de ampliação de oferta de graduação gratuita e de qualidade; criação do sistema UAB. 244 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11 • A Universidade Aberta do Brasil A Universidade Aberta do Brasil (UAB), criada em junho de 2005, não é uma universidade com espaço físico estabelecido, mais sim um consórcio de instituições públicas de ensino superior, cujo ensino seja ministrado através de processos de comunicação a distância. Também tem o objetivo de democratizar a educação superior, interiorizando a universidade, voltada principalmente para licenciatura. Vale ressaltar que o consórcio CEDERJ é o pioneiro no modelo. Nos primeiros anos do consórcio, o alvo era exclusivamente pro- fessores das redes públicas; só poderiam se candidatar a uma vaga na universidade professores com o segundo grau Normal, tanto que o nome do curso era Pedagogia para os Anos Iniciais do En- sino Fundamental (PAIEF). O sucesso da Open University de Londres serviu de estímulo e base para a criação da nossa UAB. Para relembrar, você poderá consultar a Aula 2, História da EaD, o conteúdo sobre a Open University, e a Aula 3, sobre o Consórcio CEDERJ. No entanto, alguns pesquisadores brasileiros na área de educação a distância afirmam que não há uma política educacional específica vol- tada para EaD. Entre eles, está o professor da Universidade Federal do Mato Grosso, Oreste Preti, autor de vários livros e artigos sobre EaD.Ele afirma que: “Apesar de o governo federal utilizar-se da EaD em seus progra- mas de capacitação e formação profissional, não chegou a definir uma política educacional na qual a EaD tivesse função clara e de- finida...estes programas sempre correram por fora, na periferia das políticas educacionais,muito mais como ações ou estratégias emergenciais para dar conta de problemas graves e imediatos na educação, por exemplo: qualificação de professores, ampliação 245 Educação a Distância do ensino superior...” Preti (2009, pag.105) O impacto de não se ter um política pública clara e específica é a fragilidade de seus projetos. Como já comentamos na aula sobre a his- tória da EaD no Brasil, é o fato de que projetos que tinham a EaD como suporte foram desativados com as mudanças de governo que não de- ram continuidade ou estabilidade aos programas iniciados, mesmo com sucesso comprovado. Mesmo os profissionais envolvidos com a modalidade trabalham com muita instabilidade; o professor que trabalha com EaD é chamado de tutor, embora exerça todas as funções de professor. “O que se percebe é uma grande diversidade de propostas, cujo sentido é responder a problemas específicos. Esta forma de pen- sar a EaD tem excluído sistematicamente a ideia de criação de sistemas de EaD em caráter permanente que pudesse atender a projetos e programas diferenciados, tanto em nível federal como no interior das próprias universidades” (Preti 2009, pag. 106) Citaremos agora alguns programas governamentais que usam a EaD como suporte. Vamos lá: • PRÓ-Licenciatura (Programa de Formação Inicial para Professo- res do Ensino Fundamental e Médio) curso do MEC voltado para formação de professores que, embora não tenham a formação mí- nima, estão em exercício do magistério nos anos/séries do ensino fundamental e médio. Saiba mais: http://portal.mec.gov.br/index. php?Itemid=708 • Proinfo: promover o uso pedagógico das diversas mídias eletrônicas nas escolas públicas no país, equipando-as com tecnologia de infor- mação e capacitando os professores para uso de forma satisfatória. Acesso: http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=462 • Projeto Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec Brasil) tem como ob- jetivo democratizar o acesso ao ensino técnico público por meio de rede nacional de ensino profissionalizante na modalidade a distân- cia. Acesso: http://redeetec.mec.gov.br/ • O Pró-Letramento - Mobilização pela Qualidade da Educação - é um 246 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11• programa de formação continuada de professores para a melhoria da qualidade de aprendizagem da leitura/escrita e matemática nos anos/séries iniciais do ensino fundamental. O programa é realizado pelo MEC, em parceria com universidades que integram a Rede Na- cional de Formação Continuada. • Pró-Infantil: é um curso em nível médio, a distância, na moda- lidade Normal. Destina-se aos profissionais que atuam em sala de aula da educação infantil, nas creches e pré-escolas das redes pú- blicas – municipais e estaduais – e da rede privada, sem fins lu- crativos – comunitários filantrópicos ou confessionais – con- veniados ou não, sem a formação específica para o magistério. O curso, com duração de dois anos, tem o objetivo de valorizar o magistério e oferecer condições de crescimento ao profissional que atua na educação infantil. Acesso: http://portal.mec.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=12321:proinfantil-apr esentacao&catid=288:proinfantil&Itemid=548 • Plataforma Freire: um ambiente virtual criado em 2009 pelo MEC/ CAPES para cadastramento de professor e realização das pré-inscri- ções nos cursos do PARFOR (Formação Inicial e Formação Conti- nuada), destinados aos professores sem formação adequada à LDB e em exercício nas escolas públicas de educação básica, estaduais e municipais. São oferecidos cursos gratuitos e de qualidade, nas mo- dalidades presenciais e a distância, em municípios dos Estados da Federação, por meio de Instituições Públicas de Educação Superior e Universidades Comunitárias. Conheça a Plataforma Freire pelo http://freire.mec.gov.br . Entre no site do MEC, para saber mais sobre estes e outros cursos oferecidos: http://portal.mec.gov.br/index.php • Entre no site da secretaria de educação do seu estado, pois há muitos projetos utilizando a modalidade, para atender principalmente jo- vens e adultos e capacitação de professores, sem divulgação adequada. Fique por dentro... Em 1990, o Brasil assumiu o compromisso de garantir educação para todos, partindo do princípio que é um direito essencial, sem distinção. Este compromisso se fortaleceu após o país ter assina- 247 Educação a Distância do a Declaração do Brasil para a Cúpula Mundial da Educação de Dacar, no Senegal. Neste sentido, a EaD pode ajudar neste compromisso, pois amplia o acesso à educação aos alunos que moram em lugares distantes ou com difícil acesso, aos jovens que já trabalham, e facilita em todo tipo de dificuldades que afastam as pessoas da educação formal. Esta declaração é muito importante e seria bom que você lesse na íntegra. Para tanto, acesse o seguinte endereço: http://www.inep. gov.br/imprensa/noticias/outras/news00_13.htm As perspectivas das políticas públicas: novas demandas e possibilidades para EaD Em janeiro de 2011, a SEED (Secretaria de Educação a Distância) foi extinta pelo MEC. Segundo a assessoria do então ministro da educação, Fernando Haddad, a medida faz parte do processo de reestruturação, e que o fim da secretaria não significa o fim das políticas públicas para EaD, ou mesmo a interrupção dos programas em execução pela pasta. O objetivo do MEC é não mais separar educação a distância da pre- sencial, no sentido de que elas se “misturem” cada vez mais. Os projetos da SEED migraram para a Secretaria de Educação Básica ou para a Secretaria de Ensino Superior, ou seja, com o crescimento da modalidade, ela passa a ser gerida pelas secretarias “convencionais” de educação. Alguns pesquisadores importantes da área acham prematura a ex- tinção da SEED. Como exemplo, podemos citar José Manuel Moran, professor de Novas Tecnologias na USP e pesquisador da modalidade. Ele afirma “que a EaD não estaria suficientemente madura, consolidada e livre de polêmicas no país, podendo, com extinção da SEED, virar uma modalidade de segundo plano... correndo o risco de não ser prioridade, tendo em vista as outras demandas do MEC.” Entretanto, os resultados da EaD no Brasil são muito bons. O pro- fessor Carlos Eduardo Bielschowsky, que foi secretário da SEED, fez uma declaração à publicação CHRONOS pelos 25 anos da Escola de Educação da UNIRIO em 2013. “Existem quatro razões para a conti- 248 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11 • nuidade do curso: os alunos do curso de Pedagogia da UNIRIO têm um resultado na avaliação do ENADE melhor que dos alunos presenciais. E existe uma demanda forte, indicada pela relação candidato/vaga dos últimos vestibulares, que mostra que as pessoas querem fazer o cur- so. É muito importante formar bem professores que vão tratar bem as nossas crianças”. Ele está se referindo ao curso de Pedagogia, mas a todo momento a imprensa divulga números com o sucesso da modalidade, e o número de alunos que procuram a modalidade tem crescido muito. Como confirma Moran (2014,p.08), “No caso do ensino superior, a EaD cresce proporcionalmente mais do que a presencial, sendo a di- ferença em favor dessa modalidade, atualmente, de 9%. Com base no Censo da Educação Superior de 2012, a tendência é de fortalecimento dos modelos on-line com a maioria dos estudantes (83,7) matriculados em instituições privadas. Nas instituições públicas estão (16,3) dos es- tudantes, em sua maioria, no sistema Universidade Aberta do Brasil.” Em geral, os cursos a distância trabalham para o fortalecimento e respeito da modalidade. A luta então é para que a modalidade não fique na periferia das polí- ticas institucionais, ou na periferia dos Institutos, Faculdades ou Depar- tamentos. Que o MEC continue investindo e acreditando na modalida- de como grande parceira na melhoria da educação no país, pois, como já vimos na aula sobre a história da EaD no Brasil, vários projetos de sucesso no país que utilizavam a EaD como ferramenta foram desfeitos sem grandes esclarecimentos, muito por conta da falta de políticas pú- blicas específicas e sérias para a Educação a Distância Atividade Final A partir desta aula, e com o conhecimento já adquirido nas aulas so- bre a história da EaD, você pode concluir que o seu curso faz parte de uma ampla política pública voltada para a expansão do ensino superior em nosso país. Como também já mencionado, a Educação a Distância já foi utilizada como uma ação/estratégia importante desde o início do século XX; no entanto, há diferenças entre este momento do passado e o atual, que se intensificou a partir da LDB de 96. Preencha o quadro comparativo, destacando as características da EAD como política pú- 249 Educação a Distância blica a partir do seu surgimento e a que vivemos aproximadamente nos últimos 15 anos: EAD como Política Pública no Brasil Surgimento A partir da LDB de 96 Público-alvo Concepção de Educação Tecnologias Resposta comentada Surgimento: começo do século XX, por volta de 1904 Público-alvo: alunos que queriam se profissionalizar para a indústria e o comércio. Concepção de educação: instrucional, módulos para estudo Tecnologia: correspondência e, posteriormente, o rádio A partir da LDB de 96 Público-alvo: formar e capacitar professores Concepção de educação: dialógica, interativa Tecnologia: da correspondência ao computador Resumo • A EaD é regulamentada na nossa segunda LDB 9394/96. Em vários artigos, a possibilidade aparece, mas no artigo 80º, esta possibilidade fica clara; • Neste sentido, houve um grande esforço do poder público a fim de incentivar, desenvolver e fiscalizar a EaD; • O decreto 5622/2005 regulamenta o artigo 80º da LDB, traz o concei- to oficial de EaD e fundamenta a criação dos Referenciais de Quali- dade para Educação a Distância; Brena Realce 250 Aula 11 • Políticas Públicas para Educação a Distância no Brasil Aula 11 • Aula 11 • • Há muitas definições de políticas públicas, mas elas têm sido defini- das e implantadas como resposta do Estado para atender as deman- das que surgem a partir dos anseios da população; • É criada, em 1996, a SEED, com intuito de pôr em práticaa fiscaliza- ção de projetos em EaD; • Dentre as políticas públicas apoiadas pela EaD, estão os projetos Pró- Licenciatura, Proinfo, UAB, E-Tec Brasil, Pró-letramento, Pró- -infantil, Plataforma Freire; • Em 2011, é extinta a SEED, com o argumento de que a EaD está sufi- cientemente madura para ser integrada, dentro do MEC, à Secretaria de Educação Básica e Secretaria de Ensino Superior; • Os projetos de EaD são vinculados à Secretaria de Educação Básica e Secretaria de Ensino Superior; • Em janeiro de 2011, a SEED (Secretaria de Educação a Distância) foi extinta pelo MEC; • Os projetos da SEED migraram para Secretaria de Educação Básica ou para a Secretaria de Ensino Superior. • Há um temor, entre pesquisadores da área de EaD, de que a mo- dalidade fique renegada a um segundo plano no MEC, depois da extinção da SEED. Informações sobre a próxima aula Na próxima aula, aprofundaremos a questão da Formação Continuada na EaD. Até lá! Referências ALVES, J.R.M. A Educação a Distância no Brasil. Instituto de Pesquisas Avançadas em Educação, Brasil, 2007. BECKER, F. O que é Construtivismo? São Paulo: FDE; 1994 p. 87-92. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ ideias_20_pm87-093_c.pdf. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federa- tiva do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998. 251 Educação a Distância CORSANI, Antonella. Elementos de uma Ruptura: A hipótese do Capitalismo Cognitivo. In: G. Cocco, A, Galvão e G. Silva (org.). Capitalismo Cognitivo: Trabalho, redes e inovação. RJ, DP&A, 2003 CUNHA, A.C. Educação, Estado e Democracia no Brasil. SP: Cortez, 2009. Decreto nº 5.622 de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: BRASIL. Ministério da Educação. Referenciais de qualidade para educação superior a distância. 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