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Di�culdades no processosDi�culdades no processos de aprendizagem da leiturade aprendizagem da leitura e escritae escrita AUTORIA Fabiane Fantacholi Guimarães Bem vindo(a)! Olá caro(a) acadêmico! Seja bem-vindo(a) aos estudos sobre as di�culdades no processo de aprendizagem da leitura e escrita. Este livro foi organizado de modo especial para você, que no nosso entendimento tem buscado com excelência compreender os desa�os que envolvem o setor educacional e que in�uenciam no processo de ensino-aprendizagem dos seus níveis de ensino e modalidade de educação. O livro é composto por uma introdução seguida de quatro unidades criteriosamente analisadas e selecionadas para dar sustentação a presente discussão e conclusão, bem como todas as referências e sugestões de leitura complementar, livros e �lmes. Na Unidade I você irá trabalhar com o tema ESTRUTURA DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM E APRENDIZAGEM, cujos conteúdos de destaque serão os conceitos de linguagem, língua e fala, bem como suas relações, os fundamentos biológicos e sociais do desenvolvimento linguístico e as fases do desenvolvimento linguístico infantil, na perspectiva de alguns autores. Na Unidade II, com o tema APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA NO SISTEMA ALFABÉTICO, no qual o foco será os conceitos dos processos cognitivos envolvidos na leitura e escrita, alguns dos modelos teóricos da leitura e escrita ao longo dos tempos e alguns métodos de aprendizagem da leitura e escrita. Unidade III, o tema DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA ESCRITA, versará sobre a aquisição da linguagem escrita, as di�culdades na aprendizagem da escrita (disgra�a e disortogra�a) e outras di�culdades de aprendizagem especí�cas (dislalia e disartria). Unidade IV, a última, o tema DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LEITURA, com enfoque na aquisição da leitura, a di�culdade na aprendizagem da leitura (dislexia) e outras di�culdades de aprendizagem especí�cas (Distúrbio do Processamento Auditivo Central - DPAC e Transtorno de dé�cit de atenção e hiperatividade - TDAH). Por �m, lembre-se caro(a) estudante, que o texto apresenta não irá esgotar todas as possibilidades de pensar e re�etir acerca das temáticas abordadas, mas irá iniciar momentos importantes e oportunos para a compreensão das análise realizadas acerca das temáticas propostas. Assim, vamos dar início ao nosso trabalho. Tema uma ótima leitura e não se esqueça! Esse é só seu primeiro passo no campo da Di�culdades no processo de aprendizagem da leitura e escrita. Faça outras viagens, teça outras teias e consolide seu conhecimento no campo da formação humana. Vamos aos estudos! Sumário Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da unidade, assista ao vídeo de considerações �nais. Unidade 1 Estrutura do desenvolvimento da linguagem e aprendizagem Unidade 2 Aprendizagem da leitura e da escrita no sistema alfabético Unidade 3 Di�culdades de aprendizagem da escrita Unidade 4 Di�culdades de aprendizagem da leitura Estrutura do desenvolvimento da linguagem e aprendizagem AUTORIA Fabiane Fantacholi Guimarães Sumário Introdução 1 - Introdução e conceitos 2 - Fundamentos biológicos e sociais do desenvolvimento linguístico 3 - Fases do desenvolvimento linguístico infantil Considerações �nais Introdução Prezado(a) estudante. Seja bem-vindo(a) à Unidade I da disciplina de Di�culdades no Processo da Aprendizagem da Leitura e Escrita do curso de Graduação em Psicopedagogia. No primeiro momento: analisar os conceitos de linguagem, língua e fala e suas relações. Os três conceitos indissociáveis no processo comunicativo, porém individualmente diferenciáveis entre si. No segundo momento: estudar os fundamentos biológicos e sociais do desenvolvimento linguístico, no entanto, pouco se sabe sobre o percurso da evolução biológica da espécie humana que levou ao surgimento e desenvolvimento da linguagem. Mas, não resta dúvida de que os impactos desse fato são muito profundos, uma vez que a linguagem desempenha o papel primordial na evolução cultural e tecnológica da humanidade, sendo intrinsecamente uma manifestação biológica e social ao mesmo tempo. No terceiro momento: conhecer as fases do desenvolvimento linguístico infantil, na perspectiva de alguns autores. Espero que estes textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema de nossa primeira unidade. Boa leitura! Plano de Estudo: 1. Introdução e Conceitos 2. Fundamentos Biológicos e Sociais do Desenvolvimento Linguístico 3. Fases do Desenvolvimento Linguístico Infantil Objetivos de Aprendizagem: 1. Analisar os conceitos de linguagem, língua e fala e suas relações. 2. Estudar os fundamentos biológicos e sociais do desenvolvimento linguístico. 3. Conhecer as fases do desenvolvimento linguístico infantil. Introdução e conceitos Neste primeiro tópico de nossa primeira unidade vamos analisar os conceitos linguagem, língua e fala, no qual são três conceitos indissociáveis no processo comunicativo, porém individualmente diferenciáveis entre si. Embora popularmente muitas pessoas utilizem as palavras linguagem, língua e fala para designar uma mesma realidade, do ponto de vista linguístico esses conceitos não devem ser confundidos. A linguagem já foi pensada como expressão do pensamento. Essa concepção aparece na obra Lógica ou Arte de pensar, texto do século XVII de Arnauld e Lancelot. Para esses autores, as palavras são sons distintos e articulados de que os homens �zeram sinais para o que se passa em seu espírito. (TERRA, 2018). A linguagem também já foi pensada como instrumento de comunicação. Por essa concepção, a língua é concebida como um código por meio do qual se estabelece a comunicação entre um emissor (aquele que codi�ca) e um receptor (aquele que decodi�ca). Tal concepção foi bastante difundida entre nós. O conhecido esquema da comunicação, com seus seis elementos (emissor, receptor, mensagem, código, contexto e canal) e as funções da linguagem, cada uma correspondendo a um desses seis elementos (emotiva, conativa, poética, metalinguística, referencial e fática) propostos pelo linguista russo Roman Jakobson, no texto Linguística e poética, durante muito tempo, serviu de fundamento para o ensino de língua materna e esteve presente em muitos livros didáticos de Língua Portuguesa. Posteriormente, a linguagem passou a ser pensada como forma ou processo de interação entre sujeitos. Por essa concepção, os falantes não utilizam a língua apenas para exteriorizar seu pensamento ou estabelecer comunicação, mas a usam para realizar ações, para atuar sobre o outro, ou seja, é pela linguagem que interagimos com os outros e produzimos sentido numa dada esfera social, histórica e ideológica. Dessa forma, os falantes são indivíduos histórica e ideologicamente constituídos que ocupam lugares sociais, então, na medida em que a linguagem é uma forma de interação entre seres humanos, o que a caracteriza é o diálogo em sentido amplo. (TERRA, 2018). Segundo o Dicionário Houaiss (2020) a linguagem consiste em “qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, grá�cos, gestuais etc.”, ou seja, é um sistema de signos ou símbolos usados na transmissão de uma mensagem, uma capacidade de comunicação de ideias, pensamentos, opiniões, sentimentos, experiências, desejos, informações, dentre outros. Como relatado anteriormente, caro(a) estudante, o termo linguagem recobre fenômenos bastante diversos e, em consequência, existem inúmeras linguagens; sendo assim, para que consigamos distingui-las faz-se importante destacar as diferenças entre os dois tipos de linguagem existentes: a linguagem verbal e a linguagem não verbal. Segundo Pagliuca et. al (2011, 432), “refere-se à linguagem escrita e falada, aos sons e palavras usadas para se comunicar”, enquanto a linguagem não verbal “refere-se a toda informação decorrente de expressões faciais, postura, vestimenta, organizaçãodo ambiente”, ou seja, para comunicarmos utilizamos outros meios, como os gestos, sons, imagens, cores, desenhos, expressões faciais, dentre outros. A linguagem existe “porque uniu um pensamento a uma forma de expressão, um signi�cado a um signi�cante”, os quais formam o signo linguístico presente na fala, na escrita e na leitura. Aqui está o começo da linguagem. Uma criança que escreve “disi” em vez de “disse” não está cometendo um erro de distração, mas transportando para o domínio da escrita algo que re�ete sua percepção da fala” (CAGLIARI, 2010, p. 31). Já a língua é como um bem público, já que é de uso comum dos que dela se utilizam para atos de comunicação. A língua é exterior aos indivíduos e, por isso, eles não podem criá-la ou modi�cá-la individualmente. Ela só existe em decorrência de uma espécie de contrato coletivo que se estabeleceu entre as pessoas e ao qual todos aderiram. (TERRA, 2018). Segundo o Dicionário Houaiss (2020), a língua é o “sistema de representação constituído por palavras e por regras que as combinam em frases que os indivíduos de uma comunidade linguística usam como principal meio de comunicação e de expressão, falada ou escrita”. Em outras palavras, é um conjunto de palavras organizadas por regras gramaticais especí�cas. É uma convenção que permite que a mensagem transmitida seja sempre compreensível para os indivíduos de um determinado grupo. Assim, tem um caráter social e cultural, sendo usada por uma comunidade especí�ca: Língua portuguesa, Língua inglesa, Língua francesa, Língua alemã, Língua chinesa, entre outras. CONCEITUANDO A linguagem não verbal é carregada de signi�cados. “Mais emocional e sensitiva, é o elemento de surpresa que interfere na comunicação verbal, embora esta última seja mais consciente e programada”. Na maioria das vezes, a linguagem não verbal é “expressa sem que estejamos conscientes do que estamos emitindo”. Inúmeros sinais não-verbais “reforçam, substituem ou contrariam a fala; os gestos, a expressão facial, a postura (movimentos e inclinações do corpo), a ocupação do espaço, o toque, principalmente quando substitui o olhar, quando há limitação visual”. (PAGLIUCA et. al, 2011, 432). Antes de darmos sequência em nossos estudos, é preciso, antes de mais nada, fazer uma observação sobre o que é uma língua. “Tendemos a pensar que o vocabulário (ou léxico) é o centro da língua, porque para �ns comunicativos é verdade que devemos ser capazes, entre outras capacidades, de nomear as coisas”. Mas é verdade também que, sem saber, por exemplo, “quais são os princípios que norteiam a ordem das palavras numa língua, não é possível alguém se fazer compreender nela, mesmo conhecendo seus itens lexicais”. (GROLLA; SILVA, p. 37-38). Por �m a fala, ou também conhecida como linguagem oral, no qual este conceito envolve conversar, contar e recontar experiências vividas, ouvir e contar histórias e contos, imitar adultos ou outras crianças falando, en�m, “são várias as oportunidades de construção da linguagem e suas capacidades de comunicação”. (AMPLATZ, 2019, p. 55). Segundo o Dicionário Houaiss (2020) a fala é o “Ato ou faculdade de falar; Alocução, discurso; Voz, palavra, frase; Expressão, comunicação, signi�cado; Modo de falar, tom, estilo; Idioma, dialeto, jargão”. A fala é individual, sendo a forma como um indivíduo se comunica de maneira oral, fazendo uso da linguagem verbal. É bastante comum que ela seja afetada por costumes locais, vícios de linguagem relacionados ao ambiente que a pessoa frequenta e as pessoas ao seu redor, ao tipo de linguagem que estas usam para se comunicar. A língua, como vimos caro(a) estudante, até o presente momento, é um código verbal constituído por regras comuns aos falantes de determinada comunidade. Ela pode ser representada tanto pela língua falada quanto pela língua escrita. Desse modo, esses dois tipos de representação são maneiras diferentes de se apropriar da língua para atingir determinada intenção comunicativa. Para tanto, é importante observar a relação fala e escrita como imbricada e permeada pelas práticas sociais. No mundo atual, as crianças convivem desde cedo com práticas de escrita, “vê pessoas lendo ou escrevendo, folheia gibis, revistas, livros, identi�ca a escrita nas ruas, no comércio”. (SOARES, 2009, p. 17). E, assim vai se familiarizando com as práticas de leitura e de escrita, e ainda desde muito cedo a criança inicia seu processo de alfabetização, “observa textos escritos à sua volta, e vai descobrindo o sistema de escrita, reconhecendo algumas letras, ATENÇÃO A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é uma língua com estrutura gramatical própria e não uma linguagem, sendo reconhecida, também como língua o�cial de sinais do Brasil desde o ano de 2002. algumas palavras”. (SOARES, 2009, p. 17). O reconhecimento das letras, palavras e o contato com o material escrito representam um momento de grande importância na vida da criança, sobretudo quando ela descobre o signi�cado social desta atividade. Fundamentos biológicos e sociais do desenvolvimento linguístico Neste tópico vamos estudar os fundamentos biológicos e sociais do desenvolvimento linguístico. É de conhecimento de todos, que a atividade verbal está tão presente em nossa vida, é tão natural que não temos consciência de como são e como funcionam as línguas, como as aprendemos, como é por que compreendemos ou outros (ou não), como fazemos para sermos compreendidos. Essas são tarefas das ciências da linguagem. A linguagem desempenha um papel central em todos os aspectos das atividades humanas, na interação, no conhecimento e no pensamento e, assim, nos faz humanos como espécie e como indivíduos. (GODOY; DIAS, 2014). Depois de termos aprendido alguma língua, podemos usá-la para dizer qualquer coisa, desde que saibamos o assunto sobre o qual estamos falando ou escrevendo, e para saber sobre qualquer assunto, precisamos da linguagem. Caro(a) estudante, ainda hoje pouco se sabe sobre o percurso da evolução biológica da espécie humana que levou ao surgimento e desenvolvimento da linguagem. Mas, não resta dúvida de que os impactos desse fato são muito profundos, uma vez que a linguagem desempenha o papel primordial na evolução cultural e tecnológica da humanidade, sendo intrinsecamente uma manifestação biológica e social ao mesmo tempo. “Podemos a�rmar que é a linguagem que temos que nos torna seres humanos”. (GODOY; DIAS, 2014, p. 16, grifo nosso). No entanto, isso não signi�ca que os animais não tenham uma linguagem e uma comunicação so�sticadas. Em 1967, o naturalista Desmond Morris escreveu um livro intitulado “O macaco nu”, no qual este livro, destinado ao grande público, pretendia mostrar que os humanos são uma espécie do grupo dos primatas e que, para um observador imparcial, a principal diferença em relação aos outros primatas é a visível ausência de pelo. No entanto, se não nos ativermos aos aspectos meramente atômicos ou epidérmicos, parece preferível descrever o primata humano como um macaco falante. Naturalmente, poderíamos estabelecer outras características que nos diferenciam REFLITA Prezado(a) acadêmico(a) por que o ser humano é o único capaz de aprender a falar alguma língua humana? Fonte: Elaborado pela autora (2020). dois nossos parentes biológicos mais próximos, como o fato de sermos mais racionais que os macacos e, além disso, de sermos capazes de idealizar, fabricar e usar artefatos culturais. (GODOY; DIAS, 2014). O problema é que não existe uma medida especí�ca da inteligência; a noção de racionalidade é bastante confusa e os chimpanzés e os macacos japoneses demonstraram a capacidade de construção e transmissão de artefatos. “Contudo, apesar de todas as habilidades comunicativas que os primatas não humanos e outros animais alcançam, suas capacidades linguísticas não chegam perto das dos seres humanos”. (GODOY; DIAS, 2014, p. 17). Todas as culturas humanas conhecidas na atualidade e também em outras época exibem alguma forma de linguagem articulada. Além disso, todas as línguas humanas são igualmenteso�sticadas, de maneira que não podemos falar de línguas “mais primitivas”ou “mais avançadas”. (GODOY; DIAS, 2014, p. 17). Caro(a) estudante a partir destes fatos que a linguagem é uma característica biológica especí�ca da nossa espécie. A linguagem é uma faculdade psicológica que se sustenta em um suporte biológico. A atividade verbal se realiza por meio do “funcionamento de uma série de sistemas neuro�siológicos altamente especializados para sua realização, sendo o mais importante de todos o sistema nervoso central, formado pelo cérebro, pelo tronco do encéfalo e pela medula espinhal”. (GODOY; DIAS, 2014, p. 26). Esse sistema, juntamente com o sistema nervoso periférico (um conjunto de nervos que conecta o sistema nervoso central com o resto do corpo), participa da recepção e da produção da fala. Dessas atividades verbais participam outros sistemas, os quais recebem o nome de órgãos periféricos de produção e recepção. “Os sistemas participantes da produção são o fonoarticulatório, que usamos para falar, e o manudigital, que nos permite escrever, já para a recepção da fala, usamos os ouvidos e os olhos”. (GODOY; DIAS, 2014, 27). Para tanto, a aquisição da linguagem depende de um efetivo funcionamento das estruturas cerebrais, “de um parto sem intercorrências e da interação social desde sua concepção”. (MOUSINHO et. al, 2008, p. 298). Em outras palavras, apesar de existirem diversos debates sobre o fato da linguagem ser inata (de nascença) ou aprendida, atualmente, grande parte dos estudiosos a�rma há existência de uma interação entre o que a criança traz em aspectos biológicos e a qualidade de estímulos do meio. Dessa forma, caro(a) estudante, para que possamos compreender a obtenção e o desenvolvimento da linguagem, Mousinho et. al (2008) nos apontam dois aspectos essenciais: Linguagem e cognição: depois que desenvolvemos a linguagem, começamos a pensar intensamente por meio dela e, em consequência disso, conseguimos memorizar mais satisfatoriamente no momento em que relacionamos as ideias. É importante destacar que a criança, a partir dos dois de ano de idade, desenvolve a linguagem se apoiando à cognição, e isso pode ser visto por meio de suas brincadeiras. Linguagem e comunicação: por termos uma intenção comunicativa, há diversas formas de comunicação, isto é, por meio do olhar, de gestos, dentre outros. É importante destacar que, quando utilizamos diversos meios de comunicação, a tendência é “abandonarmos” os recursos so�sticados, para que possamos aprimorar nossas possibilidades de comunicação. Caro(a) estudante, agora que apresentamos alguns aspectos que envolvem a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, é importante destacar que a linguagem pode ser dividida em três partes (forma, conteúdo e uso), conforme Mousinho et. al (2008), vejamos: SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a), você sabia que entre seus órgãos periféricos de produção da fala, o ser humano dispões de um chamado aparelho fonador que não compartilha com nenhum outro animal de espécies próximas, embora todos os ossos, músculos e tecidos brandos tenham paralelos com os dos primatas superiores. Para saber mais sobre esta linha de discussão leia o livro de Godoy e Dias disponível em nossa biblioteca virtual, no qual as autoras retratam a relação entre a linguagem e os hemisférios cerebrais. Fonte: GODOY, Elena; DIAS, Luzia S. Psicolinguística em foco: linguagem - aquisição e aprendizagem. Curitiba: InterSaberes, 2014. https://plataforma.bvirtual.com.br/ Dessa forma, apresentaremos as seis etapas do desenvolvimento da linguagem, conforme Mousinho et. al (2008), porém, aqui, caro(a) estudante, será apenas uma breve, pois logo nos aprofundaremos nas fases do desenvolvimento linguístico infantil. Sendo assim, vejamos as referidas etapas: Comunicação não-verbal: esse tipo de comunicação pode ser notado desde os primeiros meses de vida, quando os bebês, por exemplo, expressam-se com o choro e as expressões faciais, para se comunicar. Posteriormente, por volta dos onze meses, a criança começa a usar o ato de apontar, para indicar que quer algo ou para compartilhar a atenção de alguém. Produção dos sons: os primeiros fonemas da língua, que as crianças exprimem, são aqueles produzidos com os lábios, como o /b/ /m/ /p/. Depois, surgem o /n/ /t/ /l/, e, em seguida, o /d/ /c/ /f/ /s/ e /g/ /v/ /z/ /R/ /ch/ /j/. Mais tarde, observamos a produção satisfatória de alguns fonemas, como /lh/ /nh/ /r/. Estrutura das sílabas: as crianças, ao desenvolver os primeiros fonemas, elas se dirigem para as formações silábicas; porém esse processo se dá de forma gradual, visto que elas formam primeiramente as sílabas mais simples (constituídas por consoante-vogal, como “PA”, “LO”), para, depois, construir sílabas mais complexas (constituídas por vogal-consoante, como “LA”, “US”). Forma: envolve a produção dos sons, a forma que o fone é emitido, e a estrutura da frase. Nesta, veri�ca se possui todos os componentes e se a ordem é aceitável pela língua. Conteúdo: nesta parte, abrange- os signi�cados, que se referem às palavras, frase ou ao discurso mais abrangente (nível semântico). Uso: concerne ao uso social da língua, ou seja, deve-se reunir a emissão dos sons, a estruturação da frase e a compreensão do signi�cado e empregá-los ao determinado contexto que estão sendo aplicados (nível pragmático). Estrutura de frases: nesta etapa, as crianças inicialmente usam uma única palavra para representar frases; depois, utilizam duas, as chamadas “frases telegrá�cas”. Dessa forma, as frases vão se encorpando, contendo cada mais elementos, e, com ela, o crescimento de complexidade aumenta. Diálogo: para que a criança formule diálogos, ela passa por processos que são conduzidos por um adulto; esses processos são denominados: especularidade, complementaridade e reciprocidade. O primeiro processo acontece quando as crianças começam a exprimir sons e sílabas, com a intenção de dizer “palavras”, e os adultos tentam entender o que elas querem dizer, por meio dessas emissões. O segundo processo ocorre quando as crianças aumentam a produção de sons, e os adultos complementam a fala delas, inserindo novos elementos e aumentando o discurso. O terceiro processo se realiza quando a criança consegue iniciar e conservar um diálogo sem a intervenção de um adulto; dessa forma, ela o considera como seu interlocutor. Brincadeira: por meio das brincadeiras, a criança adquire experiência e vivência distintas situações, nas quais ela manifesta seus sentimentos e emoções, dessa forma, ela interage com o mundo a sua volta. Inicialmente, as brincadeiras podem ser construtivas (jogos de montar/desmontar) e, depois, é possível que desenvolvam as plásticas (massinha, desenho), simultaneamente. Posteriormente, as crianças começam a imitar situações que já foram vivenciadas por ela, e, mais tarde, surgem as brincadeiras de “faz de conta” até “atingir o devaneio (presença de situação imaginária e de história com sequência, possibilidade de brincar junto e não apenas ‘ao lado’)” (MOUSINHO et al., 2008, p. 302). Vale ressaltar que independentemente da natureza do processo de aquisição da linguagem, o percurso de tal aquisição apresenta algumas fases de�nidas, con�rmadas pela literatura especializada. ATENÇÃO No português, temos sílabas como TRANS (consoante-consoante-vogal- consoante-consoante), dentre outras, com enorme di�culdade de produção para as crianças menores. REFLITA Prezado(a) acadêmico(a) por que a criança deve aprender a falar? Para nos aprofundar um pouco essa re�exão, resgatamos uma historinha que circula entre psicólogos e fonoaudiólogos, reproduzida no livro das autoras Godoy e Dias (2014, p. 49). Um casal tinha dois �lhos: uma menina muito faladora e um menino, dois anos mais novo, que nos seus primeiros anos de vida não havia proferido uma palavra sequer, para o desespero dos pais e dos avós. Eles �zeram de tudo para descobrir a causa. O menino foi levado a um otorrinolaringologista, que não constatou quaisquer problemas articulatórios nem de audição.Foi levado também a um neurologista, o qual a�rmou que estava tudo perfeito com o sistema neurológico do menino e que o cérebro da criança funcionava às mil maravilhas.. O tempo passava e o menino continuava sem falar, embora já tivesse feito seu quarto aniversário. Uma bela manhã, quando a família estava tomando seu café, de repente o menino falou em alto e bom som: ‘Está faltando açúcar no meu mingau’. [...] En�m, a mãe conseguiu gaguejar: ‘Pedrinho, meu bem, mas por que você nunca falou antes?’. E o Pedrinho respondeu: ‘Porque antes nunca faltou nada!’. Fonte: GODOY, Elena; DIAS, Luzia Schalkoski. Psicolinguística em foco: linguagem - aquisição e aprendizagem. Curitiba: InterSaberes, 2014. https://plataforma.bvirtual.com.br/ Fases do desenvolvimento linguístico infantil Neste último tópico de nossa primeira unidade iremos conhecer as fases do desenvolvimento linguístico infantil. Existem diferentes tipos de linguagem: a corporal, a falada, a escrita e a grá�ca. Para se comunicar a criança utiliza, tanto a linguagem corporal (mímica, gestos, entre outros), como a linguagem falada. Lógico que ela ainda não fala, mas já produz linguagem. Vamos ver como! Independentemente da natureza do processo de aquisição da linguagem, o percurso de tal aquisição apresenta algumas fases de�nidas, con�rmadas pela literatura especializada. Iniciaremos apresentando cada fase de desenvolvimento da criança e suas características, a �m de analisar melhor a evolução da capacidade linguística. Quadro 1: Fases de desenvolvimento da linguagem. Fases Características De 0 a 2 anos Estágio sensório-motor - elaboração e coordenação dos esquemas sensoriais e motores. Sorriso e choro - recurso vocal e gestual, base da comunicação pré-linguística. Do 4º ao 9º mês - balbucio, lalação, experiência vocálica. A partir do 9º mês - primeiras vogais ([a], [e], [ℇ]). A partir do 12º mês - primeiras consoantes ([p], [t], [m]) e acréscimo de palavras aos gestores. Do 18º ao 20º mê - consolidação da emissão dos fonemas corretos; pronunciação de vogais e alguns ditongos; primeiras re�exões dos substantivos e dos verbos. De 2 a 4 anos Com novos interlocutores e contextos variados, a criança se esforça para melhorar a compreensão de sua fala. Até os 3 anos, as di�culdades para pronunciar ditongos desaparecem e ocorre progresso nas consoantes. Até os 4 anos, o repertório fonético está quase completo. O léxico cresce num ritmo notável. O pronome da terceira pessoa começa a ser utilizado; os possessivos são compreendidos, mas não utilizados (as crianças dizem “‘E da mamãe”em vez de “‘e dela”). As perguntas são marcadas pela entonação, com uso de “O que?”e “Onde?”. De 4 a 7 anos Experiências pré-escolares aumentam a diversi�cação dos contextos de fala com mais clareza e compreensão das produções verbais. Até os 7 anos, espera-se o domínio completo de todos os sons da língua e suas combinações. Aumento do vocabulário e do signi�cado das palavras. Nos pronomes, a distinção do gênero é clara e consistente aos 5 anos; a partir dos 6, ocorre a distinção de número. Melhora do uso dos modos verbais. A sintaxe se torna mais complexa e os verbos nem sempre estão ajustados corretamente. No �nal desse período, a leitura e a escrita introduzem a criança numa nova dimensão do uso da linguagem. Nas primeiras semanas de vida, a maioria dos bebês, quando não está dormindo, chorando ou mamando, permanece calada. O choro da criança signi�ca que ela está experimentando algum desconforto. Porém, nesse período, o choro e outros sons que o bebê produz são involuntários, ou seja, “trata-se de manifestações sonoras condicionadas �siologicamente, que são chamadas de re�exivas”. (GODOY; DIAS, 2014). Entretanto, o impressionante é que recém-nascidos de apenas alguns dias (e até algumas horas, como mostram experimentos recentes) já reconhecem a língua de seus pais, em razão de padrões prosódicos (entonação, ritmo, entre outros) típicos da língua que ouviram no último trimestre de gestação, mas permanecem indiferentes quando expostos a outras línguas. (GODOY; DIAS, 2014). De 7 a 12 anos Domínio das habilidades básicas de leitura e escrita, facilitada pela aquisição de novos símbolos e novas linguagens. O léxico aumenta à medida que o conhecimento se consolida e seu uso torna-se mais correto. A sintaxe torna-se mais complexa e seu uso adapta-se à prática social. As concordâncias de artigos e pronomes são aprimoradas. Distinção das nuances de tempo (passado) e de aspecto (ação acabada e o modelo condicional do subjuntivo). Avanço no uso de pronomes, referências da voz passiva e o manejo de referências temporais sob a perspectiva do outro. Da adolescencia à fase adulta Estabilização do uso da linguagem e aprendizado de léxico especializado. Crescimento ilimitado do vocabulário. Desenvolvimento completo da gramática. Ocorrência normal de erros na escolha do tempo verbal das orações subordinadas ou condicionais e nos usos do subjuntivo. Uso consciente dos recursos expressivos da linguagem. Fonte: Elaborado com base em Amplatz (2019, p. 35-36). Passados poucos meses, a criança começa a produzir outros tipos de sons que signi�cam que está tudo bem com ela, para alegria dos pais. Esses sons são anteriores ao balbucio e, por isso, são de difícil representação grá�ca. (GODOY; DIAS, 2014). Nesse período de sua vida, quando surge o chamado arrulho, a criança começa a distinguir os sons vocálicos e consonantais, ainda que de uma forma difusa, e rapidamente passa a associar os sons da voz de sua mãe com experiências ou sensações agradáveis, normalmente reagindo com um sorriso, o qual é considerado como um indício importante de que a criança relaciona as coisas de seu interesse, de seu mundo, com a fala. (GODOY; DIAS, 2014). REFLITA Caro(a) acadêmica, ainda considerando o choro, você já se perguntou qual seria sua importância para o desenvolvimento da fala? Fonte: Elaborado pela autora (2020). SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a) sabe o que é arrulho? São os sons produzidos pela criança nessa fase são chamados de arrulhos, pois por se assemelhar ao som produzidos pelos pombos (também se assemelham ao ronronar dos gatos emitem quando estão satisfeitos). Por causa do maior controle dos músculos faciais, o bebê reage aos estímulos dos pais, expressando sua satisfação numa mistura de sorrisos e sons geralmente vibrantes. Fonte: GODOY, Elena; DIAS, Luzia S. Psicolinguística em foco: linguagem - aquisição e aprendizagem. Curitiba: InterSaberes, 2014. https://plataforma.bvirtual.com.br/ O período compreendido entre 4 e 7 meses é absolutamente vital para o desenvolvimento da fala, pois é quando a criança começa a balbuciar. O bebê emite sequências de sons de diversos tipos e repete as mesmas sílabas, “brincando de falar”. “Essa é a fase de um verdadeiro treino fonético”. As primeiras séries de sílabas se relacionam com a facilidade articulatória das combinações e são iguais em todas as línguas: pa-pa, ma-ma, ba-ba, da-da, ta-ta. É por esse motivo que em todas as línguas do mundo essas combinações são escolhidas para se referir aos pais: papa, papá, papai, baba, mama, mamá, mamma, entre outras. (GODOY; DIAS, 2014, p. 46- 47). Quando a criança responde com balbucio à voz de um adulto, ela está começando a envolver-se com a comunicação verbal. Nessa fase, os bebês já são altamente socializados e, entre “os 12 e os 18 meses, muitos deles proferem claramente palavras conhecidas”. A partir dessa fase, a criança está pronta para começar a falar e desenvolver progressivamente sua comunicação verbal. (GODOY; DIAS, 2014, p. 47). Nessa idade, crianças se expressam por meio de palavras isoladas. Durante esse período, o vocabulário infantil é de mais ou menos 50 palavras formadas por uma ou duas sílabas. A área conceitual, que corresponde a uma sequência sonora (palavra), se modi�ca e seu signi�cado pode se expandir ou se contrair. É importante observar que as palavras da criança nessa primeira fase da evolução da linguagem não se referem exatamentea um objeto ou a um indivíduo. Assim, uma palavra como au-au pode signi�car não só a informação sobre a presença de um cachorro (ou qualquer outro bicho - conceito expandido); o signi�cado dessa palavra pode ser equivalente ao signi�cado de uma sentença: “Quero brincar com este cachorro”; “Tenho medo de cachorro”; “Vem aqui, cachorrinho!”, entre outras. (GODOY; DIAS, 2014, p. 51). A partir do segundo ano de vida, por volta dos 18 a 24 meses, a criança começa a combinar palavras em sentenças de duas e, depois, três unidades. “Essa associação é o primeiro passo no desenvolvimento da sintaxe”. (GODOY; DIAS, 2014, p. 51). Tem-se denominado a fala da criança nessa idade de fala telegrá�ca, em virtude da ausência de recursos coesivos, como artigos, preposições e pronomes. Nessa fase, as sentenças normalmente são compostas de dois substantivos ou de um substantivo e um verbo: “Historinha nenén” e “mamá cabô”, por exemplo. Assim como no caso das palavras-frases, essas primeiras sentenças podem ter signi�cados diferentes, de acordo com a situação em que são ditas. Por exemplo, “Historinha nenén” pode si�car “Mamãe, conta uma historinha para mim”, “Eu ganhei esse livro de historinhas”, “Você quer meu livro de historinhas?”, entre outras possibilidades. (GODOY; DIAS, 2014, p. 52). Vale a pena acrescentar aqui que se, a rigor, a aquisição da fonologia se completa por volta de 7-8 anos, o desenvolvimento da morfologia e da sintaxe se aprimora ao longo dos anos e a aquisição dos léxicos continua por todas a existência de um indivíduo. (GODOY; DIAS, 2014). Quando a criança se encontra em condições normais, nos sentidos biológicos e social, “a aquisição da linguagem se completa aos 10-12 anos de idade, e a idade de 13-14 anos é chamada de período crítico, que limita a possibilidade de surgimento e desenvolvimento da linguagem”. (GODOY; DIAS, 2014, p. 53-54). Podem ser listadas algumas provas relacionadas à existência de um período crítico. A primeira diz respeito à aprendizagem de uma segunda língua, que na maioria dos casos, quando acontece em idade adulta, esse processo exige do aprendiz esforços muito grandes com resultados relativamente mais pobres. Ao mesmo tempo, a di�culdade dessa tarefa é um indício de que a aquisição da linguagem não depende das capacidades cognitivas dos indivíduos, visto que os adultos dispõem de mais conhecimentos de vários tipos e de maior número de estratégias cognitivas e, mesmo assim, mostram-se menos competentes para chegar a assimilar uma segunda língua com sucesso. (GODOY; DIAS, 2014). Outra prova da existência do período crítico para adquirir linguagem se encontra nos limitados progressos no domínio de uma língua em crianças que foram privadas de experiências linguísticas por razões de isolamento social ou de con�namento. Existem registros de casos de crianças raptadas por lobos e macacos e de crianças mantidas pelas próprias famílias em condições subumanas ou até desumanas. Quando essas crianças forem desenvolvidas ao convívio humano em tenra idade, elas poderão atingir o desenvolvimento normal da linguagem e, quanto mais velhas forem essas crianças, menos sucesso linguístico elas alcançarão. (GODOY; DIAS, 2014). Livro Filme Aprendizagem da leitura e da escrita no sistema alfabético AUTORIA Fabiane Fantacholi Guimarães Sumário Introdução 1 - Processos cognitivos envolvidos na leitura e escrita 2 - Modelos teóricos 3 - Métodos de aprendizagem Considerações �nais Introdução Prezado(a) estudante. Seja bem-vindo(a) à Unidade II da disciplina de Di�culdades no Processo da Aprendizagem da Leitura e Escrita do curso de Graduação em Psicopedagogia. No primeiro momento: abordar os conceitos dos processos cognitivos envolvidos na leitura e escrita, uma vez que a criança compreende o sistema alfabético na prática de leitura, que tem início antes de iniciar a escola. Já a escrita ultrapassa os limites da sala de aula, pois está no dia a dia de todas as etapas da vida e atinge a todos. No segundo momento: conhecer alguns dos modelos teóricos da leitura e escrita, sendo eles paradigma behaviorista, cognitivo e sociocultural, bem como na visão interacionista. No terceiro momento: estudar alguns métodos de aprendizagem da leitura e escrita relatados como tradicionais, sendo eles: métodos sintéticos e análisticos. E o novo método construtivismo, que na verdade não se opõem os métodos anteriores, mas propõe uma nova fundamentação teórica e conceitual do processo de alfabetização. Espero que estes textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema de nossa primeira unidade. Boa leitura! Plano de Estudo: 1. Processos Cognitivos envolvidos na Leitura e Escrita. 2. Modelos Teóricos. 3. Métodos de Aprendizagem. Objetivos de Aprendizagem: 1. Abordar os conceitos dos processos cognitivos envolvidos na leitura e escrita. 2. Conhecer alguns dos modelos teóricos da leitura e escrita. 3. Estudar os métodos de aprendizagem. Processos cognitivos envolvidos na leitura e escrita Neste primeiro tópico da nossa unidade vamos abordar os conceitos dos processos cognitivos envolvidos na leitura e escrita. Iniciamos este tópico com a citação de Solé (1998, p. 22), para quem “a leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto”. Ao envolve um leitor ativo, “que processa e examina o texto, e também um objetivo, pois sempre lemos algo com determinada �nalidade”. (AMPLATZ, 2019, p. 165). Por meio da leitura, compreendemos a linguagem escrita, para ler, “necessitamos, simultaneamente, manejar com destreza as habilidades de decodi�cação e aportar ao texto nossos objetivos, ideias e experiências prévias”. (SOLÉ, 19998, p. 23). A criança compreende o sistema alfabético na prática de leitura, que tem início antes de ela frequentar a escola. A escrita ultrapassa os limites da sala de aula, pois está no dia a dia de todas as etapas da vida e atinge a todos. (AMPLATZ, 2019). Desde cedo as crianças reconhecem e distinguem palavras de �guras ao abrir um livro. As crianças começam a ler antes mesmo da alfabetização. Elas folheiam livros e fazem de conta que estão lendo. Os desenhos comunicam com facilidade e a escrita é adquirida com o tempo. Ensinar a ler é dar condições para que a criança resolva problemas que a permitam avançar como consumidora e produtora de textos. (AMPLATZ, 2019) No entanto, faz-se importante destacar que, apesar da escola ser vista como um local onde se aprende a ler e a escrever, ela nem sempre consegue exercer esse papel de forma satisfatória, isto é, instigar os alunos a uma leitura aprofundada, pois, as escolas recebem crianças de várias classes sociais, em especial, as de baixa renda, onde o ambiente familiar que estas estão inseridas, muitas vezes, não utiliza a escrita como forma de resolver problemas do cotidiano, isto é, não há uma circulação de leitura em sua casa; dessa forma, �ca muito complicado a criança, provinda dessa realidade, enfrentar as obstáculos do entendimento da leitura, então, “as atividades na pré- escola devem ser conduzidas de modo a fazer com que as crianças recuperem a funcionalidade da leitura”. (CABRAL, 1986, p. 18). Os processos de leitura não são intrínsecos ao aluno, por isso, eles devem ser mediados pelo professor, e este deve estar capacitado para isso, tendo em vista que leituras diversas e especí�cas são exigidas para cada tipo de texto. (CABRAL, 1986). Pensando nas di�culdades encontradas em desenvolver habilidades de leitura por parte dos professores, Cabral (1986, p. 8) propõe quatro etapas de leitura, as quais se desenvolvem gradativamente e que, segundo ela, são “decisivas no processo da leitura” e contribuem, de forma efetiva, na formação leitora do aluno; dessa forma, as etapas são: decodi�cação, compreensão, interpretação e retenção. Em resumo a etapa da decodi�cação é essencial, pois, sem ela, as demais �cam impossibilitadas, e é nela que o aluno passa a identi�car, visualmente, as letras (fonemas e morfemas). Já na etapa da compreensão, trata-se da compreensão da temática dotexto. Nesse momento, o leitor deve servir-se de seus conhecimentos sintáticos, semânticos e textuais para absorver os efeitos de sentido produzidos pelo texto. A etapa da interpretação é o momento em que o leitor utiliza de sua capacidade crítica para avaliar (analisar, re�etir e julgar) as informações contidas no texto, ou seja, o leitor julga se o texto está bem fundamentado, se haveria outra possibilidade de compreensão da realidade ou do objeto em discussão. E por �m, na etapa da retenção, refere-se ao momento que o leitor armazena as informações mais importantes do texto em sua memória. Agora, caro(a) estudante, apresentamos as etapas de leituras, que são fortes aliadas ao professor para o desenvolvimento dos processos de leitura, veremos, no tópico a seguir, as estratégias de leituras, as quais são fundamentais para que professores aprimorem a compreensão textual de seus alunos. Para ciência, de você estudante, utilizaremos como fonte de informação para tratar sobre a temática a autora Solé (1998) no qual nos apresenta algumas estratégias de leitura, que são essenciais para que professores melhorem a compreensão textual de Quadro 1: Etapas de leitura. Etapas Descrição Decodi�cação Segmentação da cadeia da fala. Reconhecimento e discriminação das invariâncias das letras do alfabeto em suas diferentes formas. Direcionalidade: ordem esquerda- direita, projeção do esquema corporal na folha em branco. Capacidade de efetuar �xações e movimentos em sacadas regulares modo a permitir a extração dos traços visuais. MVCP su�ciente para efetuar as integrações dos traços/ Regras de correspondência grafêmico-fonológicas. Reconhecimento das palavras impressas. Compreensão Captação da temática e dos tópicos principais. Regras sintáticas e semânticas. Regras textuais. Capacidade de deprender a signi�cação de palavras novas. Inferenciação. Interpretação Capacidade crítica: julgamento. Retenção Capacidade de reter as informações mais importantes namemória a longo prazo. Fonte: Elaborado pela autora com base em Cabral (1986, p. 16-17). seus alunos. Estas estratégias podem ser exploradas antes, durante e depois da leitura. Quadro 2: Estratégias de leitura: antes da leitura. Estratégias Descrição Motivar as crianças a lerem As atividades de leitura devem ser iniciadas desde que as crianças se sintam motivadas a ela. Dessa forma, temos alguns fatores que podem fazer com que isso aconteça: utilizar materiais de leitura que possam ofertar determinados desa�os, como, por exemplo, o uso de textos não-conhecidos; propor leituras que deem prazer ao ato de ler; propor objetivos de leitura; o aluno deve instituir laços afetivos com a língua escrita, e estes devem ser amparados pela escola; e, o último fator, é que a criança deve sentir que a leitura é e�caz para ela, de forma que compreenda o que está lendo, responda aos desa�os propostos, que ela se sinta satisfeita no processo. Objetivos da leitura Os objetivos de leitura é a forma que o leitor se posiciona diante desta e a forma que �scaliza a compreensão do texto. Nesse sentido, há inúmeros objetivos do leitor frente a um texto, assim como há leitores em diversos momentos e situações, porém Solé (1998, p. 93-99) nos presenta, apenas, nove objetivos, que podem ser abordados na escola e que são fundamentais na vida adulta. Ativar o conhecimento prévio Nessa estratégia, propõe-se que os professores ativem o conhecimento prévio dos alunos, por meio de algumas atitudes, para facilitar a compreensão do texto. As quatro atitudes: 1) o professor, mediante do texto que será lido, deve explicar, de maneira geral, o assunto do texto, ou seja, não é preciso explorar o conteúdo, apenas, apresentar a temática aos alunos, para que eles a associem aos conhecimentos prévios que possuem. 2) o professor deve esclarecer aos alunos a tipologia textual que os alunos terão acesso, isto é, o gênero textual que o texto pertence. Esse esclarecimento permitirá que os alunos se situem no texto, ou seja, os alunos saberão se o texto é �ctício ou verídico, se o texto se remete a um acontecimento do passado ou da atualidade, por exemplo. 3) o professor deve estimular o conhecimento prévio dos alunos por meio de elementos do texto (ilustração, título, entre outros.). 4) o professor deve impulsionar os alunos a apresentarem seus conhecimentos sobre o tema. Dessa forma, a contribuição dos alunos para a compreensão do texto é um dos caminhos para que seus conhecimentos prévios sejam ativados. Porém, se essa contribuição for guiada de maneira inadequada, “poderá desviar a temática ou os Vimos as estratégias que podem ser adotadas antes da leitura, veremos as que podem ser exercidas durante a leitura. Dessa, forma, vejamos as duas estratégias propostas por Solé (1998): aspectos principais da leitura, cansar os alunos ou não lhes proporcionar uma organização clara” (SOLÉ, 1998, p. 107). Ajudar as crianças a elaborar previsões sobre o texto Nesta estratégia, é relevante que os alunos se coloquem a elaborar previsões, pois isso fará com que eles se sintam “ativos” no desempenho da atividade de leitura, ou seja, assimilam que suas colaborações são pertinentes frente à leitura. Incentivar os alunos a perguntarem sobre o texto Essa estratégia é relevante, pois, os alunos, ao elaborar perguntas referentes ao textos, eles, consequentemente, utilizam o conhecimento prévio, o qual evidencia o que o aluno sabe ou não sobre o tema. Fonte: Elaborada pela autora com base em Solé (1998). Depois da leitura, temos três estratégias, que a autora Solé (1998) nos apresenta as quais o professor deve trabalhar a identi�cação da ideia principal do texto; propor que os alunos façam o resumo deste, porém que esse resumo seja ensinado pelo professor; e formulação e resposta de perguntas. Quadro 3: Estratégias de leitura: durante a leitura. Estratégias Descrição Propor atividades de leitura compartilhada O principal objetivo das atividades de leitura compartilhada é propor que o compromisso em estruturar a atividade de leitura e abarcar outros nesta seja dos alunos e do professor (SOLÉ, 1998). Nesta atividade, os protagonistas da escola, o professor e os alunos, em silêncio, deverão ler um texto, ou um fragmento deste. Após a leitura, o professor, por meio de quatro estratégias, guiará os alunos. Primeiramente, o professor se responsabiliza em fazer um resumo, para os alunos, sobre o que foi lido e pede a concordância do mesmo; depois, pode solicitar que certas dúvidas sobre o texto sejam clari�cadas ou justi�cadas; posteriormente, elabora perguntas aos alunos, onde a leitura se torna essencial para obter as respostas; por último, o professor “estabelece suas previsões sobre o que ainda não foi lido, reiniciando, deste modo, o ciclo, desta vez a cargo de outro ‘responsável’ ou moderador” (SOLÉ, 1998, p. 119). Propor atividades de leitura independente Esse tipo de atividade exerce a função de avaliar “a funcionalidade das estratégias trabalhadas” (SOLÉ, 1998, p. 121) e, por ser o modelo mais autêntico de leitura, devem ser motivado na escola. Fonte: Elaborada pela autora com base em Solé (1998). Assim, esperamos que possamos tê-lo ajudado na compreensão dos processos cognitivos envolvidos na leitura. Lembre-se, sempre, que as estratégias de leituras apresentadas são de grande valia para o sustento de suas habilidades de leitura e de seus futuros alunos. Agora, exploraremos os processos cognitivos envolvidos na escrita, mas antes não podemos de relatar que em nossa sociedade, a ideia de que a escrita estaria reservada a “iluminados” parece ainda ter espaço. Essa concepção de escrita como o dom foi alimentada durante muito tempo por alguns escritores. É importante discuti- la para eliminar a crença de que um momento mágico seria necessário para Quadro 4: Estratégias de leitura: depois da leitura. Estratégias Descrição Trabalhar a ideia principal do texto É preciso ter em mente que, por mais que os alunos encontrem em um texto a ideia principal, isso não garante que eles aencontram nos demais, pois essa habilidade é adquirida paulatinamente. Dessa forma, cabe destacar que a ideia principal é fruto da associação de três elementos: dos objetivos de leitura que guiam o leitor; dos conhecimentos prévios deste; e da informação que o autor queria transmitir mediante seus escritos. propor que os alunos façam o resumo do texto Nesse tipo de atividade, é relevante que os alunos compreendam o motivo necessário de resumir, tenham contato com os resumos realizados pelo professor e que usem essa estratégia autonomamente e argumente sua produção. Além disso, para que esta estratégia se efetive de fato, é necessário que o professor explique com clareza as características desse gênero textual. Formulação de perguntas e respostas Nesta estratégia que, apesar desta ser utilizada, na escola, após a leitura de um texto, com a �nalidade de se portar como uma atividade de ensino, ela, muitas vezes, comporta- se como avaliativa, onde o professor veri�ca se houve compreensão do aluno ou não. Então, o aluno, sabendo que, após a leitura, terá que responder questões de cunho avaliativo, encontrará estratégias para responder às questões e não para compreender o texto. Portanto, o professor não deve formular perguntas que levem os alunos a lerem determinado trecho para encontrar a resposta, é preciso que elabore questões cuja resposta estão nas entrelinhas do texto. Fonte: Elaborada pela autora com base em Solé (1998). desencadear a escrita, momento este reservado a poucos. Isso porque tal concepção acaba por afastar a maioria, aqueles que acreditam não ter sido agraciados com tal “magia”. (CAVALCANTI, 2010, p. 85). Sendo assim, transcrevemos abaixo parte de uma entrevista de Graciliano Ramos, concedida em 1948, na qual o escritor tece considerações sobre o processo de escrever: Comparando o ato de escrever ao ofício das lavadeiras, Graciliano põe por terra a ideia de que a escrita seria “automática”, de que o texto resultaria de um momento mágico, que não demandaria elaborações e preparo. Ao contrário, o escritor concebe a escrita como um trabalho constituído de uma série de etapas, as metáforas esfregar, torcer, enxugar, atividades necessárias para quem “se mete a escrever”, para fazer a palavra “dizer”. Trata-se de um ponto de vista que vai de encontro àquele que predominou no campo da literatura em determinado momento - o que reduz a criação literária ao culto da forma, a fazer a palavra “brilhar como outro falso”. (CAVALCANTI, 2010, p. 86). A escola, instituição responsável pelo ensino da escrita, pouco contribui para o desenvolvimento da competência textual dos alunos. Por competência textual entendemos a capacidade de produzir textos em diferentes gêneros, adequados a múltiplas situações. Ao priorizar atividades arti�ciais, como exercícios e redações, a escola reforça uma compreensão inadequada da produção escrita, a de que seria ..."Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer." Fonte: Elaborado com base em Cavalcanti (2010, p.85-86). resultante de atividades arti�ciais como essas. Muitas vezes, por não conseguir um bom desempenho quando se trata de escrever textos de verdade, isto é, que são produzidos e circulam fora da escola, o aluno passa a acreditar que não consegue escrever porque não tem o “dom da escrita”. (CAVALCANTI, 2010, p. 86). Caro(a) estudantes dando sequência em nossa abordagem sobre o processo de escrita, a maior parte das escritas utilizava a combinações dos sistemas, sendo elas: ideográ�cos, em que cada signo representa um objeto ou uma ideia e exige milhares de signos; silábicos, em que cada signo representa o som de uma sílaba; alfabético, em que cada signo representa um som decomposto em fonemas, e não em sílabas. (AMPLATZ, 2019). O que diferencia as representações ideográ�cas das fonográ�cas, como os silabários e alfabetos, é decomposição dos sons da língua em uma análise fonológica. Por exemplo, há regiões brasileiras em que se fala a letra “t” - “noite”e “noitchi”. Os sons são lidos de forma distinta, conforme a localidade. (AMPLATZ, 2019, p. 93). Os processos cognitivos referentes à linguagem escrita, temos a consciência metalinguística que “é a re�exão sobre as atividades linguísticas que fazemos diariamente de forma automática, sem tomarmos consciência dos processos”. Logo, SAIBA MAIS Você acadêmico(a) sabia que, os sumérios inventaram os caracteres cuneiformes em 3300 a. C? Essa primitiva forma de escrita é herdeira dos pictogramas e das pinturas rupestres, em que, por meio de desenhos, eram registradas as ações e situações vivenciadas pelos grupos humanos. Os pictogramas, nessa época, estavam associados exclusivamente a uma imagem a ser representada. Esse período da escrita é conhecido como fase pictórica. As escritas ideográ�cas mais importantes são a egípcia e a mesopotâmica, desenvolvidas na região do mar Egeu, e a chinesa. Dessa fase ideográ�ca, caracterizada pela escrita dos desenhos, ideogramas ou signos-ideias dos objetos, surgiram as letras do alfabeto. A fase alfabética, caracteriza-se pelo uso das letras. Estas tiveram sua origem nos ideogramas, mas perderam o ideográ�co, assumindo uma nova função da escrita: a representação puramente fonográ�ca. Para saber mais sobre estas fases leia o livro do autor Cagliari (2010), boa leitura! Fonte: CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização & linguística. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2010. metalinguística é a atividade que tem caráter re�etido e intencional. As atividades epilinguísticas “acontecem desde os primeiros anos de vida”. (AMPLATZ, 2019, p. 94). Portanto, a aprendizagem da escrita é uma tarefa formal, que exige da criança consciência de estrutura linguística. Os sistemas de escrita apresentam muitas regularidades, mas certas regras podem ser apreendidas sem ser necessariamente explicitadas. (AMPLATZ, 2019). As aprendizagens implícitas apoiam-se nas capacidades funcionais, “que existem antes dos primeiros contatos com a escrita”. A criança, antes da escrita, constrói conhecimentos linguísticos adquiridos pela linguagem oral. (MALUF; GUIMARÃES, 2008, p. 129). O que a criança tem são as capacidades iniciais que vão possibilitar, pela aprendizagem implícita a percepção de algumas regularidades no que diz respeito às con�gurações visuais (ortogra�a das palavras escritas; palavras orais associadas às dimensões fonológica e semântico-lexical da escrita; signi�cações associadas às dimensões morfológicas e semântico-lexical. (MALUF; GUIMARÃES, 2008). A aprendizagem implícita continua ocorrendo à medida que a criança escreve. No ensino fundamental, ela começa a desenvolver a linguagem escrita, e esse caminho não substitui as aprendizagens implícitas, pelo contrário, multiplica seus efeitos, potencializando-os. (AMPLATZ, 2019). A aprendizagem explícita da escrita inclui ainda a ortogra�a. As hipóteses que a criança elabora fazem “surgir um conjunto de conhecimento explícitos que o indivíduo pode utilizar intencionalmente para completar ou controlar o produto dos tratamentos automáticos”. (MALUF; GUIMARÃES, 2008, p. 131). Assim, os conhecimentos explícitos são essenciais para a evolução das respostas automáticas adquiridas por aprendizagem implícita da linguagem escrita. Ambos os conhecimentos devem ser valorizados no processo de aprendizagem, pois introduzem as crianças no processo alfabético deescrita. A aprendizagem explícita das correspondências grafemas-fonemas é indispensável para a leitura e a escrita, enquanto as habilidades implícitas, apesar de não serem fundamentais nesse processo, são primordiais para a aprendizagem. (AMPLATZ, 2019). SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a), você sabia que existem testes que veri�cam, em crianças de seis a dez anos de idade, o nível de maturidade possuído por elas para a aprendizagem da leitura e da escrita? São os chamados Teste ABC. Para saber mais, acesse o link abaixo: https://blog.psiqueasy.com.br/2018/07/09/teste-abc-completo-leitura- escrita-maturidade/ https://blog.psiqueasy.com.br/2018/07/09/teste-abc-completo-leitura-escrita-maturidade/ Modelos teóricos Neste tópico vamos conhecer alguns dos modelos teóricos da leitura e escrita, aqui será uma prévia do que estudaremos ao longo de nossa disciplina. As principais abordagens teórico-metodológicas sobre a aprendizagem da escrita, segundo Soares (2004), são: paradigma behaviorista, dominante entre os anos de 1960 e 1970, que concebe a aprendizagem da escrita como decorrente de estímulos externos, repetição, criação de hábitos, entre outros; paradigma cognitivo, nos anos de 1980 (difundido no Brasil como construtivismo), que evolui para paradigma sociocultural, a partir dos anos 1990, abarcando a perspectiva de letramento. Se, por um lado, a transição da teoria behaviorista para a teoria cognitiva representou uma mudança drástica de paradigma, por outro, a transição da teoria cognitiva para a perspectiva sociocultural pode ser vista como um aprimoramento daquela, e não em termos de uma grande mudança paradigmática. (GODOY; DIAS, 2014) O paradigma cognitiva ganhou força no Brasil por meio das pesquisas e estudos sobre a psicogênese da língua escrita, de Emília Ferreiro. Como a�rma Soares (2004), essa perspectiva alterou signi�cativamente da língua escrita pela criança. Esta deixa de ser considerada como dependente de estímulos externos para aprender o sistema de escrita - concepção presente nos métodos de alfabetização in�uenciados pelo paradigma behaviorista até então em uso - e passa a ser “sujeito ativo capaz de progressivamente reconstruir esse sistema de representação, interagindo com a língua escrita em seus usos e práticas sociais”. (SOARES, 2004, p. 10-11). A visão interacionista rejeita uma ordem hierárquica de habilidades e defende que a aprendizagem se dá por uma progressiva construção do conhecimento, na relação da criança com a língua escrita. As di�culdades da criança no processo de desenvolvimento da escrita, que são consideradas “de�ciências” ou “disfunções” na perspectiva dos métodos “tradicionais”, passam a ser vistas como erros construtivos”, e resultado de constantes reestruturações. (GODOY; DIA, 2014, p. 112). Com base nessas considerações, Soares (2004) reconhece a importante contribuição que a perspectiva cognitiva trouxe para a compreensão da trajetória da criança em direção à descoberta do sistema alfabético. O segredo da alfabetização é a leitura, considerando que “para alguém ser alfabetizado não precisa aprender a escrever, mas sim aprender a ler”. Nessa perspectiva, a alfabetização ocorre quando o aprendiz descobre como o sistema de escrita funciona, quando aprende a ler, a decifrar a escrita. Assim, “quem deve guiar- se necessariamente pelos conhecimento da decifração da escrita”. (CAGLIARI, 2009, p. 114). No ato da escrita, deve-se pensar em como o leitor fará para descobrir o que foi escrito. Dessa forma, o autor citado anteriormente elucida que o segredo da alfabetização é o processo de compreensão do sistema grá�co, o que acontece na atividade de leitura. Tendo como base essa constatação, Cagliari (2009) enfatiza que a falha da escola está no fato de privilegiar atividades de escrita - como a cópia, a prática de caligra�a e o ditado - na alfabetização. ATENÇÃO Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento. (SOARES, 2004, p. 14). SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a) no artigo de Magda Soares, sobre letramento e alfabetização, a autora traz informação pertinente da evolução ao longo das duas últimas décadas, segue abaixo o trecho: “É curioso que tenha ocorrido em um mesmo momento histórico, em sociedades distanciadas tanto geogra�camente quanto socioeconomicamente e culturalmente, a necessidade de reconhecer e nomear práticas sociais de leitura e de escrita mais avançadas e complexas que as práticas do ler e do escrever resultantes da aprendizagem do sistema de escrita. Assim, é em meados dos anos de 1980 que se dá, simultaneamente,a invenção do letramento no Brasil, do illettrisme, na França, da literacia, em Portugal, para nomear fenômenos distintos daquele denominado alfabetização,alphabétisation. Nos Estados Unidos e na Inglaterra,embora a palavra literacy já estivesse dicionarizada desde o �nal do século XIX, foi também nos anos de 1980 que o fenômeno que ela nomeia, distinto daquele que em língua inglesa se conhece como reading instruction, beginning literacy tornou-se foco de atenção e de discussão nas áreas da educação e da linguagem, o que se evidencia no grande número de artigos e livros voltados para o tema, publicados, a partir desse momento, nesses países, e se operacionalizou nos vários programas, neles desenvolvidos, de avaliação do nível de competências de leitura e de escrita da população; segundo Barton (1994, p. 6), foi nos anos de 1980 que the new �eld of literacy studies has comeinto existence. É ainda signi�cativo que date aproximadamente da mesma época (�nal dos anos de 1970)a proposta da Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) de ampliação do conceito de literate para functionally literate, e, portanto, a sugestão de que as avaliações internacionais sobre domínio de competências de leitura e de escrita fossem além do medir apenas a capacidade de saber ler e escrever”. (SOARES, 2004, p. 5-6). No entanto, segundo a autora Soares (2004) há uma coincidência quanto ao momento histórico em que as práticas sociais de leitura e de escrita emergem como questão fundamental em sociedades distanciadas geogra�camente, socioeconomicamente e culturalmente, o contexto e as causas dessa emersão são essencialmente diferentes em países em desenvolvimento, como o Brasil, e em países desenvolvidos, como a França, os Estados Unidos, a Inglaterra. Para saber mais leia o artigo na íntegra. Boa leitura! Fonte: SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, n.25, jan. abr. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf Acesso em março de 2020. http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf Métodos de aprendizagem Neste último tópico de nossa unidade estudaremos os métodos de aprendizagem da leitura e escrita. No início do processo de alfabetização, muitas crianças estão animadas e curiosas para se apossar da leitura e da escrita; por isso, essa é a ocasião oportuna para que professores as motivem para o hábito de ler e escrever. O professor deve ter a consciência de que o processo de alfabetização está em suas mãos e que é de grande responsabilidade dele em se aprofundar e se dedicar aos métodos de alfabetização, pois, se o professor não ter esse compromisso, as crianças podem se sentir desmotivadas para a aprendizagem. Além disso, os professores devem se apropriar de métodos que façam sentido para o aluno, onde este possa ver a relevância da atividade de leitura e escrita, e, ainda, escolher métodos que estejam inseridos na realidade da criança. (MARTINS; SPECHELA, 2012).Historicamente, a leitura foi objeto privilegiado da alfabetização, o que se revela na referência frequente, até os anos 1980, a “métodos de leitura”e a “livros de leitura”, independentemente do pressuposto pedagógico adotado: métodos sintéticos e análisticos, predominantes nesse período, privilegiavam a leitura, limitando à escrita à cópia ou ao ditado; a escrita real, autêntica, isto é, “a produção de textos, era considerada como posterior ao domínio da leitura, ou como decorrência natural desse domínio”. (SOARES, 2016, p. 25). Caro(a) estudante, neste momento vamos conhecer cada um destes métodos de alfabetização: Métodos Sintéticos Os métodos sintéticos procedem-se a partir da soletração, esse método proporciona que “primeiro a criança internaliza as unidades menores (fonemas), para depois gradativamente chegar às unidades maiores". (ALMEIDA, 2008, p. 4234). Isso signi�ca que, inicialmente, a criança realiza o processo de decodi�cação, para, em um amadurecimento futuro, compreender a leitura e a escrita (RANGEL; SOUZA; SILVA, 2017). Caro(a) estudante o método sintético se desdobra em três processos: alfabético ou soletração, fônico e silábico. Agora vamos conhecê-los. No primeiro processo, o aluno aprende, sequencialmente, o alfabeto, em letras maiúsculas e minúsculas, e “junta” as letras, construindo sílabas e palavras, ou seja, esse processo tem o intuito de associar letras e sons. No processo alfabético, o único mecanismo didático utilizado pela criança é a memorização, pois “[...] o nome das letras é associado à forma visual, as sílabas são aprendidas de cor e com elas se formam palavras isoladas. [...]” (CARVALHO, 2008, p. 22). No segundo processo, a criança aprende, primeiramente, os sons das letras (vogais e, depois, consoantes); depois, a formação da sílaba (consoante + vogal); e, por último, a construção de palavras (FONTES; BENEVIDES, 2012). No terceiro processo, o silábico, a criança aprende a observar as sílabas, para que as palavras sejam formadas. Essa estratégia tem o intuito de alfabetizar, de maneira gradual, isto é, ensinar, inicialmente, a partir das sílabas “mais fáceis para as mais difíceis” (FONTES; BENEVIDES, 2012, p. 3). Portanto, para que se evite problemas como mencionado por Carvalho (2008), o professor deve ter conhecimento desse método de alfabetização, antes de aplicá-lo em seus alunos. O método analítico As linhas de raciocínio do método analítico se opõem às dos métodos sintéticos, esse método objetiva alfabetizar os alunos, a partir de parte maiores para partes menores, isto é, a partir de orações ou histórias. O método analítico é extremamente relevante, pois, conforme ensina o aluno a ler e escrever a partir de histórias, ele estimula o aluno a criar gosto pela, e isso é um diferencial deste método. Assim, como os métodos sintéticos, os analíticos dividem se em três processos: palavração, sentenciação e global. No primeiro processo, o professor retira palavras expressivas de um determinado texto ou histórias, depois, ele as apresenta aos alunos, e estes aprendem pela visualização e con�guração grá�ca dessas palavras. No segundo processo, “[...] a unidade inicial do aprendizado é a frase, que é depois dividida em palavras, de onde são extraídos os elementos mais simples: as sílabas” (BORGES, 2008, p. 3 apud RANGEL; SOUZA; SILVA, 2017). O terceiro, e último processo, refere-se à utilização de histórias curtas, onde destas serão decompostas as frases; depois, frases em palavras; posteriormente, palavras em sílabas; para que, ao �nal, construa-se novas palavras com as sílabas estudadas. Indiferentemente da orientação adotada, o objetivo, tanto em métodos sintéticos quanto em métodos analíticos, é, limitadamente, a aprendizagem do sistema alfabético-ortográ�co da escrita. Embora se possa identi�car, nos métodos analíticos, a intenção de partir também do signi�cado, da compreensão, seja no nível do texto (método global), seja no nível da palavra ou da sentença (método da palavração, método da sentenciação), estes textos, palavras, sentenças - são postos a serviço da aprendizagem do sistema escrita: “palavras são intencionalmente selecionadas para servir à sua decomposição em sílabas e fonemas, sentenças e textos são arti�cialmente construídos, com rígido controle léxico e morfossintático, para servir à sua decomposição em palavras, sílabas, fonemas”. (SOARES, 2016, p. 19). Deste modo, nas duas orientações, o domínio do sistema de escrita é considerado “condição e pré-requisito” para que a criança desenvolva habilidades de uso da leitura e da escrita, lendo e produzindo textos “reais”, isto é: “primeiro, é preciso aprender a ler e a escrever, verbos nesta etapa considerados intransitivos, para só depois de vencida essa etapa tornar esses verbos transitivos, atribuir-lhe complementos: ler textos, livros, escrever histórias, cartas, entre outros. (SOARES, 2016, p. 19). Também o pressuposto, nas duas orientações, é o mesmo “o que a criança, para aprender o sistema de escrita, depende de estímulos externos cuidadosamente selecionados ou arti�cialmente construídos como único �m de levá-la a apropriar-se da tecnologia da escrita”. (SOARES, 2016, p. 19). Fundamentando-se em objetivos e pressupostos radicalmente diferentes, no quadro da matriz teórica do cognitivismo piagetiano, o novo paradigma a�rma, ao contrário, “a prevalência da aprendizagem sobre o ensino, deslocando o foco do professor para o aprendiz”, esclarece que “o processo de aprendizagem da língua escrita pela criança se dá por uma construção progressiva do princípio alfabético, do conceito de língua escrita como um sistema de representação dos sons da fala por sinais grá�cos”; propões que se proporcione à criança oportunidades para que “construa esse princípio e esse conceito por meio de interação com materiais reais de leitura e de @freepik O novo paradigma opôs-se aos métodos sintéticos e analíticos, até então vistos como antagônicos e concorrentes, questionando suas características comuns: “em ambos, o ensino prevalece sobre a aprendizagem e, consequentemente, a alfabetização se reduz a uma escolha de métodos”; ambos têm como pressuposto que a criança aprende por “estratégias perceptivas”, embora os métodos sintéticos “coloquem o foco na percepção auditiva - percepção das correspondências entre o oral e o escrito -”, enquanto os métodos analíticos “colocam o foco na percepção visual - percepção das correspondências entre o escrito e oral -”; ambos consideram a criança como um aprendiz que recebe o conhecimento que lhe é transmitido por meio do método e de material escrito elaborados intencionalmente para atender ao método. (SOARES, 2016, p. 20). escrita”, pagando-se, assim, a distinção, que métodos sintéticos e analíticos assumem, entre aprendizagem do sistema de escrita e práticas de leitura e de escrita. (SOARES, 2016, p. 21). Portanto, o construtivismo não propõe um novo método, mas uma nova fundamentação teórica e conceitual do processo de alfabetização e de seu objeto, a língua escrita. Nesse novo quadro teórico e conceitual, os métodos sintéticos e analíticos, agora quali�cados como “tradicionais”, são rejeitados, por contrariarem tanto o processo psicogenético de aprendizagem da criança quanto a própria natureza do objeto dessa aprendizagem, a língua escrita. Assim, no construtivismo, o foco é transferido de uma “ação docente determinada por um método preconcebido para uma prática pedagógica de estímulo, acompanhamento e orientação da aprendizagem”, respeitadas as peculiaridades do processo de cada criança, “o que torna inadmissível um método único e prede�nido”. (SOARES, 2016, p. 22). Vamos estudar mais um pouco sobre este método, na próxima unidade de estudo de nossa disciplina. SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a) essas mudanças de paradigma, que estudando até o momento, considerada uma “revolução conceitual” na alfabetização, vamos estudar nos demais tópicos, uma vez que termos contribuições de Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Fonte: FERREIRO, Emília; TEBEROSKY,Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: ARTMED, 1999. Livro Filme Di�culdades de aprendizagem da escrita AUTORIA Fabiane Fantacholi Guimarães Sumário Introdução 1 - A aquisição da linguagem escrita 2 - As di�culdades de aprendizagem da escrita 3 - Di�culdades de aprendizagem especí�cas Considerações �nais Introdução Caro(a) estudante. Seja bem-vindo(a) à Unidade III da disciplina de Di�culdades no processo de aprendizagem da leitura e escrita. No primeiro momento: estudar o processo de aquisição da linguagem escrita, no entanto, dada a sua complexidade, será restringido aqui a representar os aspectos linguísticos da escrita, pois a compreensão destes pode terminar certas condições para aprendizagem. No segundo momento: analisar e discutir algumas das di�culdades de aprendizagem da escrita, sendo elas: disgra�a e disortogra�a, assim como apontar as características de cada uma delas para que o pro�ssional psicopedagogo possa compreendê-las melhor. No terceiro momento: conhecer outras di�culdades de aprendizagem especí�cas que quando se aproxima do período de entrada na escola muitas crianças apresentam distúrbio de articulação da fala, nesses distúrbios se subdividem em dislalia e disartria. A compreensão desta unidade contribuirá para a sua formação neste curso superior. Boa leitura! Plano de Estudo: 1. A aquisição da linguagem escrita. 2. As di�culdades de aprendizagem da escrita. 3. Di�culdades de aprendizagem especí�cas. Objetivos de Aprendizagem: 1. Estudar a aquisição da linguagem escrita. 2. Analisar e discutir as di�culdades de aprendizagem da escrita. 3. Conhecer outras di�culdades de aprendizagem especí�cas. A aquisição da linguagem escrita Neste primeiro tópico de nossa unidade, estudaremos o processo de aquisição da linguagem escrita, dada a sua complexidade, restringimos aqui a representar os aspectos linguísticos da escrita, pois a compreensão destes pode terminar certas condições para aprendizagem. Primeiramente vamos abordar os aspectos linguísticos que já vimos nas primeiras unidades de nosso material. Considerando-se que o domínio da escrita se constitui no objeto da alfabetização e que, para compreender a estrutura de uma língua escrita, deve-se recorrer a comparações com a língua falada, convém inicialmente assinalar a distinção entre linguagem, língua e fala feita pelos linguistas. A linguagem é considerada como a faculdade que os homens têm de se entender mediante signos vocais, enquanto a língua se constitui na modalidade ou modalidades de linguagem. Aqui as duas não devem ser confundidas, uma vez que a primeira é simultaneamente produto social da faculdade da linguagem e de conjunto de convenções necessárias adotadas pelo corpo social que possibilita o exercício desta faculdade, ou melhor, a língua é adquirida, é fruto de convenções, enquanto a linguagem é faculdade natural de articular. Logo, o indivíduo tem necessidade de uma aprendizagem para conhecer-lhe o funcionamento, a propósito, somente pouco a pouco é que a criança consegue assimilar a língua. A fala, ao contrário, é um ato individual em que se distinguem as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua, no propósito de expressar seu pensamento, e o mecanismo psicofísico que permite exteriorizar suas combinações. Língua e fala diferem entre si de tal modo que é possível a um homem privado do uso da fala conservar a língua, desde que compreenda os signos vocais que ouve. Como podemos notar, no processo de comunicação, língua, fala e linguagem se interrelacionam de maneira intrínseca. Na comunicação, a compreensão da mensagem falada supõe a língua, ou seja, a necessidade de domínio de um sistema de signos, e se não houver a correspondência adequada entre signi�cante e signi�cado o processo de comunicação torna-se impossível. En�m, a língua não constitui um aglomerado de unidades autônomas suscetíveis de serem isoladas umas das outras, por isso mesmo, as considerações a propósito da mesma não devem omitir o fato de que constituir um sistema de signos, embora seja um aspecto muito importante, não é propriedade exclusiva dela, pois nem todo sistema de signos constitui uma língua. (FÉLIX, 2008). Como podemos notar, o domínio da língua implícito na comunicação escrita por si só exige por parte do indivíduo atividades complexas. Agora estudante vamos dando sequência ao nosso estudo sobre o processo de escrita. A escrita é uma das formas superiores de linguagem, requer que a pessoa seja capaz de conservar a ideia que tem em mente, ordenando-a numa determinada sequência e relação. Escrever signi�ca relacionar o signo verbal, que já é um signi�cado, a um signo grá�co. É planejar e esquematizar a colocação correta de palavras ou ideias no papel. O ato de escrever envolve o mecanismo e a expressão do conteúdo ideativo. Na escrita se estabelece uma relação entre a audição (palavra falada), o signi�cado (vivência da criança) e a palavra escrita. A escrita pode ser concebida de duas formas muito diferentes e conforme o modo de considerá-la as consequências pedagógicas mudam drasticamente. A escrita pode ser considerada como uma “representação da linguagem” ou como um “código de transcrição grá�ca das unidades sonoras”. (FERREIRO, 2011, p. 14). ATENÇÃO Cada língua, como instrumento comunicador, apresenta uma con�guração de organização e funcionamento de suas formas, cuja estrutura é em cada momento suscetível de ser analisada. No processo de comunicação o indivíduo transmite sua experiência enunciando seus pensamentos, e este enunciado pode ser decomposto até o momento em que sejam obtidas unidades indivisíveis. Além disso, a correspondência entre os grupos vocais e as signi�cações pode constituir objeto de análise. (MICOTTI, 1980, p. 23-25). Para tanto, a invenção da escrita foi um processo histórico de construção de um sistema de representação, não um processo de codi�cação, uma vez construído, poder-se-ia pensar que o sistema de representação é aprendido pelos novos usuários como um sistema de representação é aprendido pelos novos usuários como um sistema de codi�cação. No caso dos dois sistemas envolvidos no início da escolarização “o sistema de representação dos números e o sistema de representação da linguagem”, as di�culdades que as crianças enfrentam são di�culdades conceituais semelhantes às da construção do sistema e por isso pode-se mencionar, em ambos os casos, que a “criança reinventa esses sistemas”. (FERREIRO, 2011, p. 16). Calma estudante não vamos interpretar errado a expressão “criança reinventa esses sistemas” (letras e números), mas que, para poderem se servir desses elementos como elementos de um sistema, devem compreender seu processo de construção e suas regras de produção. Os indicadores mais claros das explorações que as crianças realizam para compreender a natureza da escrita são suas produções espontâneas, entendendo como tal as que não são o resultado de uma cópia imediata ou posterior. Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo “conjunto de palavras”, está nos oferecendo um valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para poder ser avaliado. (FERREIRO, 2011, p. 20). @freepik A construção de qualquer sistema de representação envolve um processo de diferenciação dos elementos e relações reconhecidas no objeto a ser apresentado e uma seleção daqueles elementos e relações que serão retidos na representação. Uma representação X não é igual à realidade R que representa (se assim for, não seria uma representação mas uma outra instância de R), por isto que se um sistema X é uma representação adequada de certa realidade R, reúne duas condições aparentemente contraditórias: “a) X possui algumas das propriedades e relações próprias a R; b) X exclui alguma das propriedades e relações próprias a R”. (FERREIRO, 2011, p. 14). As primeiras escritas infantis aparecem, do ponto de vista grá�co, como linhas onduladas ou zigue-zague, contínuas ou fragmentadas, ou então como uma série
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