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CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA APOSTILA MÓDULO III 1º BIMESTRE SUMÁRIO Agrostologia------------------------------------------------------------------ 02 Bovinocultura III-------------------------------------------------------------27 Culturas Anuais III-----------------------------------------------------------66 Irrigação e Drenagem--------------------------------------------------------102 Olericultura-------------------------------------------------------------------106 Piscicultura--------------------------------------------------------------------115 Topografia----------------------------------------------------------------------124 Referências bibliográficas-------------------------------------------------------130 2 A G R O S T O L O G IA CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA 3 AGROSTOLOGIA 1. Definição E o ramo da botânica que estuda as gramíneas e, num sentido amplo, de todas as plantas forrageiras. É a ciência que consiste no correto uso do solo para o plantio de espécies forrageiras destinadas ao consumo animal, bem como a fertilidade e adaptação dessas plantas e seus teores nutritivos. Forragicultura Estudo das plantas forrageiras; Forragem é todo alimento consumido pelo animal (gramíneas e leguminosas); 2. Tipos: Pastagens e/ou conservados (feno e silagem). Fotossíntese E o processo de captura e absorção da luz pelas plantas, transformando – a em energia. Logo as folhas é a maior responsável pela fotossíntese. O pasto utiliza essa energia para o seu crescimento. 2. Introdução O Brasil é um país que possui vasta extensão territorial e um clima privilegiado para o crescimento de plantas herbáceas, cujas condições são excelentes para o desenvolvimento da pecuária. Assim sendo, a formação de boas pastagens e capineiras assume real importância, tornando-se a melhor opção para a alimentação do rebanho nacional, pois, além de se constituir no alimento mais barato disponível, oferece todos os nutrientes necessários para um bom desempenho dos animais. Felizmente, a mentalidade de reservar os piores terrenos para a formação das pastagens, já está sendo substituída por outra, muito mais atual e tecnificada, onde a escolha das glebas e forragens, adubações, combate às pragas e plantas invasoras e, principalmente, um bom manejo, são práticas que vêm recebendo o devido crédito dos pecuaristas. O elevado custo dos insumos modernos, a grande valorização das terras próximas aos grandes centros, à necessidade de se conseguir altas produtividades a baixoscustos,para que os lucros também sejam maiores, fazem das pastagens um dos principais elementos de uma pecuária tecnicamente evoluída. As plantas forrageiras são conhecidas como alimentos volumosos aquosos (pastos e capineiras). Os alimentos volumosos englobam todos os alimentos de baixo teor energético, principalmente em virtude de seu alto teor de fibra bruta ou em água. Todos os alimentos que possuem menos de 60% de NDT e ou mais de 18% de fibra bruta, são considerados alimentos volumosos. Podem ser divididos segundo o teor de água em: a) Secos: Fenos, palhas, sabugos, cascas, farinha de polpa e feno. https://pt.wikipedia.org/wiki/Bot%C3%A2nica https://pt.wikipedia.org/wiki/Gram%C3%ADnea https://pt.wikipedia.org/wiki/Forragem https://pt.wikipedia.org/wiki/Forragem https://pt.wikipedia.org/wiki/Forragem 4 b) Forragens verdes; As silagens, as raízes e tubérculos e os frutos. 2.1 Características botânicas das plantas forrageiras A grande maioria das forrageiras está incluída em duas famílias botânicas que são: Gramíneas e leguminosas. As gramíneas pertencem ao Reino vegetal, divisão angiosperma, classe monocotiledônea e ordem gramínea. As mesmas estão agrupadas em 600 gêneros e 5000 espécies; 75% das forrageiras são desta família, que constitui no verdadeiro sustentáculo da sobrevivência universal, onde são incluídas as ervas designadas pelos nomes de capins e gramas. O porte é muito variável, indo desde as rasteiras (gramas), passando pelas de porte médios (capins), até as de porte alto (milho, sorgo etc.). São utilizadas na forma de pastagens, fenos ou silagens. As características morfológicas de seus órgãos são: • Raiz: fasciculada (cabeleira); • Caule: colmo - típico (não se ramifica), com nós e entre-nós. • Rizomas: subterrânea, nas perenes. • Estolões: decumbentes, de comprimento variável; • Folhas: comprida, com nervuras paralelinérveas. • Fruto: tipo cariopse (palhas) Exemplos: milho, arroz, aveia cana, colonião, etc. As leguminosas apresentam características morfológicas de seus órgãos são: Raiz: axial, pivotante; Caule: variável (herbáceo, arbustivo e arbóreo); Folhas compostas, alternadas e estipuladas; Flores: diclamídeas, unicarpelares e multiovuladas; Inflorescência: paniculada, rácemo, etc.; Fruto: tipo legume (vagem). - Exemplo: leucena, alfafa, siratro, cornichão, trevos etc. As plantas forrageiras podem ainda se classificadas, com relação ao período que dão produção de forragem, em hibernais e estivais. a) Hibernais: são forrageiras de clima temperado, dias menos ensolarados, geralmente de pequeno crescimento, talos finos e folhagem tenra. Gramíneas: Perenes: aveia, centeio, azevém, etc.. Anuais: capim doce, etc Leguminosas: Perenes: alfafa, cornichão, etc... Anuais: ervilhaca, serradela, etc b) Estivais: são forrageiras de clima tropical, grande crescimento, colmos grossos e folhas largas. Requerem bastante luz e calor, sentem o frio intenso. Gramíneas: Perenes: Colonião, Elefante, etc.. Anuais: milho, sorgo, etc. Leguminosas: Perenes: soja perene, cetrosema, etc... 5 Anuais: feijão miúdo, mucuna preta, etc. As espécies forrageiras apresentam características peculiares, que podem ser agrupadas de acordo com a duração de seu ciclo, família, época de crescimento e hábito de crescimento. ATIVIDADES 01 – Qual a diferença entre forragicultura e forragem? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 02 – Descreva o que é fotossíntese _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 03 – Quais são as características morfológicas das leguminosas? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 3- Duração do Ciclo O ciclo diz respeito ao tempo de vida das plantas numa pastagem. Dividi-se em anuais, são as que duram menos de um ano, e perenes, as que duram vários anos. Esta classificação é regional, uma mesma espécie pode ser selecionada como anual numa localidade, e perene em outra. Anuais: são plantas que germinam, desenvolvem e reproduzem em menos de um ano, e priorizam a produção de sementes para atravessam períodos desfavoráveis. Ocorrem, normalmente, em áreas de campo alteradas por distúrbios naturais (seca, geada, erosão) ou causados pelos homens (lavração, fogo, superpastejo, uso de herbicidas). Perenes: são plantas que sobrevivem por vários anos, em geral apresentam um crescimento inicial mais lento, priorizando a acumulação de reservas. Geralmente produzem menos sementes que as espécies anuais, e estas são indispensáveis para a renovação da pastagem em períodos extremamente desfavoráveis como secas prolongadas. 4- Época de Crescimento: Diz respeito à época em que uma determinada espécie concentraseu crescimento, distinguem-se dois grupos: de estação fria e de quente. Não existe um pasto que produza o ano inteiro, sempre há um período em que a produção de massa é reduzida. Estação fria, hibernais de inverno ou temperadas: são espécies que crescem nos meses mais frios do ano. Germinam ou rebrotam no outono, desenvolvem durante o inverno, floresce na primavera. Durante o verão, as elevadas temperaturas aliadas a períodos secos determinam a morte dessas plantas, quando anuais, ou redução do seu crescimento, quando perenes. 6 Estação Quente, Estivas de verão ou tropicais: são espécies que crescem durante os meses mais quentes do ano, iniciam seus rebrote na primavera, crescem e frutificam no período verão-outono. Com a chegada do frio podem morrer (anuais) ou paralisar seu crescimento (perenes). 5- Hábito de crescimento: O hábito de crescimento diz respeito à forma que se desenvolve a parte vegetativa das plantas, e deve ser conhecido para adequação do manejo de pastagem. Os tipos mais comuns presentes na pastagem são: Estolonífero: As espécies de pasto com este hábito de crescimento expandem seus caules no sentido horizontal, enraizando-se ao solo e suas folhas são emitidas navertical. Ao nível do solo existem gemas de renovação protegidas por folhas mortas. Prostradas: São plantas semelhantes às estoloníferas, diferencia-se por seus caules não emitirem raízes. Rizomatoso: Plantas com caule e gemas subterrâneas. Cespitoso: plantas que se desenvolvem em forma de touceira e apresentam pouca expansão lateral. A maioria dos capins e macegas são aqui representados, normalmente são plantas de qualidade inferior às demais. Ereto: São plantas que tem seu crescimento perpendicular ao solo, e suas gemas se encontram acima do nível do solo. Decumbente: Plantas com estas características apresentam, numa fase inicial, crescimento estolonífero e, posteriormente, em competição com outras plantas, ereta. Trepador ou Escandente: São plantas que se apoiam nas demais. 6- Família: As que mais contribuem para alimentação do rebanho pertencem às famílias Gramíneas e Leguminosas Gramíneas: São plantas com folhas estreitas, como: gramas, capins e macegas. Leguminosas: São plantas com folhas mais largas, geralmente, compostas e seus frutos são legumes (vagens). Esta família tem ainda a capacidade de fixar nitrogênio do ar numa associação com bactérias radiculares dos gêneros Rhyzobium e Bradirhyzobium. Em geral, o teor de proteína destas forrageiras é mais elevado que o das gramíneas. 7 ATIVIDADES 01 – Quanto ao ciclo das forrageiras como é feito a divisão? Explique. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 02 – Quais as diferenças entre as plantas gramíneas das leguminosas? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Métodos de Pastejo Contínuo: Pastejo constante, sem período de descanso 8 Rotacionado: Período de ocupação e um período de descanso; Características do pastejo rotacionado: 1. Controle da rebrota, reduz as perdas de forragem; 2. Auxílio na redução da verminose, uma vez que o rebaixamento do pasto tende a diminuir o nível de infestação pelas larvas devido à ação direta dos raios solares; 3. Maior uniformidade de pastejo; 4. Maior taxa de crescimento e produtividade do pasto; 5. Maior capacidade de suporte; 6. Maior produtividade animal por área. 9 Forragens de Inverno Avena sativa- Aveia branca Avena strigosa - Aveia preta Loliummultiflorum - Azevém Forragem Conservada Alimento que possui seus nutrientes conservados através de técnicas e manejo; Alimentação Suplementar Volumosos Suplementares: Capineiras; Silagens; Fenos São considerados volumosos suplementares todas as alternativas de alimentação disponíveis de modo adicional aos animais, na forma conservada (silagens/fenos) ou fornecida in natura (verde). http://boiapasto.com.br/wp-content/uploads/2013/02/rehagro-fig-1.jpg 10 ATIVIDADES 01 – Cite 4 características do pastejo rotacionado: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________ 02 – Quais são os volumosos considerados suplementares? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Conservação de Forragens Fenação: Forragem que sofreu processo de desidratação até atingir teor de umidade que permite se manter estável em condições ambientais; Silagem: Forragem ensilada e conservada através de fermentações; CONSERVAÇÃO DAS FORRAGEIRAS INTRODUCÃO Uma das características básicas da exploração pecuária na nossa região é a abundância na oferta de alimentos no período chuvoso e uma escassez ou mesmo ausência na estação da seca. As técnicas de conservação de forragem têm como objetivo fundamental aproveitar os excessos do período chuvoso e armazená-los para a época crítica, mantendo as suas qualidades nutritivas. O uso de técnicas de conservação de forragens tais como a ensilagem e a fenação torna possível manter a produção mais ou menos no mesmo nível das duas estacoes, com custos aproximados, permitindo aos produtores uma renda constante ao longo do ano. FENACÃO: é o processo pelo qual, usando-se a energia solar para desidratar a forragem, pode-se conservá-la, com sua qualidade, por um longo período. Feno é o produto da fenação, ou seja, é a forragem parcialmente desidratada pronta para ser armazenada e quando necessário ser consumida pelos animais. IMPORTÂNCIA DA FENACÃO Conserva a forragem com quase todo o valor nutritivo durante muitos meses, e até anos, para a utilização nos períodos de escassez de alimentos. Melhora o sabor de algumas forrageiras de bom valor nutritivo, as quais só com a fenação são aceitas pelos animais. Custos da alimentação no período de escassez. Ajuda a manter ou a aumentar o peso ganho durante o período das chuvas. Melhora os índices reprodutivos do rebanho. É uma forma barata de armazenar a forragem com elevado valor nutritivo. Permite reduzir a mortalidade do rebanho. É uma prática simples de ser realizada. 11 O feno resulta da fenação, que é de fácil armazenamento. FORRAGEIRAS PARA FENACÃO As forrageiras indicadas para fenação devem apresentar as seguintes características: Boa produção de massa verde. Boa resistência a cortes frequentes. Caules finos e muitas folhas. Fácil cultivo. Adaptação ao solo e clima da região. IDADE DA FORRAGEIRA PARA FENACÃO Para um feno ter boa qualidade, assim como boa produção por hectare, é necessário colher as forrageiras nem muito jovens nem muito velhas. Na prática, recomendam-se fazer o corte tão logo as forrageiras diminuam a velocidade de crescimento, é que daí para frente elas começama perder seu valor nutritivo muito rápido. Isso acontece quando as plantas atingem uma idade entre 40 e 50 dias após a germinação. PRODUCÃO DE FENO POR HECTARE POR ANO A quantidade de feno produzível por hectare/ano depende de fatores como: a espécie de forrageira; o desenvolvimento da planta na ocasião do corte e o número de cortes realizado por ano. Calcula-se sejam necessários três quilos de forragem verde para produção de um quilo e meio de feno. COMO FAZER FENO A fenação compreende várias etapas, as quais devem ser cumpridas para obtenção de um feno de boa qualidade e com o mínimo de perdas. As etapas da fenação podem ser assim descritas: 1- Corte da forrageira O corte da forrageira deve ser feito pela manhã, entre sete e 9 h, de modo que a planta perca mais rapidamente o orvalho da noite anterior. As gramíneas e leguminosas devem ser cortadas para fenação no início da floração. O material para a fenação pode ser cortado manualmente, usando-se alfanje, foice, cutelo ou facões bem afiados, ou mecanicamente, com uso de tratores equipados com ceifadeiras ou segadeiras bem reguladas. 2 - Secagem da forrageira É a etapa mais importante da fenação, cujo objetivo é reduzir a água da planta de 60 a 85% (no corte) para o máximo de 25%, no ponto de feno. Quanto mais rápida a secagem, menores serão as perdas e melhor a qualidade do feno. A secagem deve ser uniforme e rápida, para evitar o aparecimento de mofo, o que diminui a qualidade do feno. No caso de gramíneas a secagem dá-se durante 1 a 2 dias após o corte, com 2 ou 3 viradas. A primeira viragem deve ser feita 2 às 3h após o corte e a segunda e terceira, no dia seguinte. A determinação do ponto de feno se faz tomando um molho do material em processo de desidratação parcial e torcendo-o; se a forragem não estiver quebradiça, não pingar água, nem umedecer as mãos, o material está pronto. Durante a fenação devem-se evitar chuvas, pois a água arrasta os nutrientes da planta. Já as leguminosas devem murchar um dia ao sol e depois serem levadas para terminar a secagem 12 à sombra, em local ventilado para não perder muitas folhas, o que reduziria a qualidade do feno. 3. Armazenamento do feno O feno deve ser armazenado em local seco e ventilado, livre de umidade e sem perigo de incêndio, sob a forma de fardos, medas, solto no fenil, inteiro ou picado. 3.1 . Fardos Os fardos podem ser feitos com o uso de enfardadeiras manuais, feitas de varas de madeira, ferro, ou ainda com enfardadeiras mecânicas. O enfardado oferece maior facilidade transporte e distribuição e menor área de armazenamento. Os fardos podem ficar no próprio campo, cobertos com plásticos ou armazenados em galpões. O peso médio dos fardos é de 80 kg/m 2 quando feito manualmente, e 150 kg/m 2 quando enfardado com enfardadeira mecânica. 3.2 Medas O feno armazenado em meda pode ter algumas formas, sendo a mais comum a forma cônica. A sequência na confecção de uma meda cônica segue estes passos: - Escolher um local alto, plano, seco e de fácil acesso aos animais. - Limpar o local e fixar um tutor ou mourão de 2,0 m de altura. - Preparar um lastro de pedras ou palha ao redor do tutor para evitar o contato direto do feno com a terra. - Colocar a forragem bem arrumada e pisoteada em volta do tutor até 1, 20m de altura depois ir estreitando até o final do mastro. - Colocar um chapéu de flandres ou plástico na ponta do mourão e fazer o ponteado de meda. - Fazer uma vala em torno da meda para escoamento da água da chuva. 3.3 Feno solto O armazenamento do feno solto é mais indicado para forrageiras picadas, porquanto elimina o gasto com o ensacamento. A picagem do feno é muito usada quando as forrageiras são grosseiras, para facilitar a secagem. Uma desvantagem é o maior volume do feno, uma vez que não é compactado. CARACTERÍSTICAS DE UM BOM FENO Um feno de boa qualidade deve obedecer aos seguintes critérios: • Ser produzido a partir de boas forrageiras. • Apresentar cor esverdeada, aroma e sabor agradáveis. • Ter boa aceitação pelos animais. • Não ter sofrido fermentação ou ataque de insetos. • Não conter plantas tóxicas, ervas daninhas ou corpos estranhos. • Ter recebido sol ou chuva em excesso. • Ter bom valor nutritivo e ser digestível. 13 ATIVIDADES 01 – Quais as diferenças entre fenação e silagem? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _______________________________ 02 – Cite as etapas da fenação: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ CRESCIMENTO DA PLANTA FORRAGEIRA 1. INTRODUÇÃO 1.1 Situação das pastagens no Brasil A produção animal na América Central, sobretudo na região dos Cerrados do Brasil, é realizada principalmente sob pastejo direto em pastagens tropicais cultivadas e introduzidas da África. No Brasil, o total de pastagens (cultivadas e nativas) ocupava em 1985, aproximadamente, 180 milhões de hectares. Desse total, a região dos cerrados ocupava cerca de 30 milhões de pastagens cultivadas (IBGE, 1985, citados por BARCELLOS e VILELA, 1993). Atualmente, estima-se que a região dos Cerrados abrigue 45 a 50 milhões de hectares com pastagens cultivadas, das quais aproximadamente 50% encontram-se com algum grau de degradação. As pastagens utilizadas podem ser nativas ou cultivadas. No caso da América tropical, as forrageiras cultivadas mais importantes atualmente em uso foram introduzidas da África e pertencem, em sua maioria, aos gêneros Bra chiaria, Panicum e Andropogon. O ecossistema de pastagens cultivadas caracteriza-se pelas inter-relações entre solo, planta, animal e clima, influenciados pelas práticas de manejo empregadas pelo homem. Atualmente, deve haver 200 milhões de hectares (ha) de pastagens no Brasil, sendo quase a metade de pastagens cultivadas. A expansão crescente de pastagens cultivadas movimenta um mercado de sementes de forrageiras da ordem de 80 milhões de toneladas/ano para a implantação de mais de 5 milhões de hectares. Só de pastagens de Brachiaria spp. São implantadas 4 milhões de hectares por ano (mais de 80% da área implantada) sendo da B. brizantha as sementes mais vendidas (60% do mercado de sementes de Brachiaria spp.). A perda natural da fertilidade do solo tem levado os pecuaristas a uma cíclica substituição de espécies forrageiras, sempreno sentido das menos exigentes como, por seguinte, de menor valor nutritivo. Assim, o capim-colonião (Panicum maxímum) foi substituído pelas braquiárias, principalmente na região nordeste do estado de São Paulo. Estima-se que 80% das pastagens cultivadas no Brasil central, responsáveis por mais de 55% da produção de carne nacional, encontrem- se em degradação. Considerando-se apenas a fase de engorda de bovinos, a produtividade de carne de uma pastagem degradada pode ser seis 14 vezes inferior ao de uma pastagem recuperada ou em bom estado de manutenção (MACEDO et ai, 2000). Por isso, é importante que se tome alguma providência como: escolha da espécie forra geira adequada às condições climáticas da região e ao tipo de exploração, reposição de nutrientes ao solo e práticas de manejo de pasta gens para que a longevidadë, produtividade e qualidade dos pastos sejam mantidas (DIAS FILHO, 2005). Tabela 1.1 – Comercialização de sementes de forrageiras no ano de 1995 no Brasil FORRAGEIRA COMERCIALIZAÇÃO VALOR B. decumbens 38,78 43,19 B. brizantha (Braquiarão) 36,00 38,38 B. humidicola 3,415,24 Subtotal 78,5 86,81 P. maximum (colonião, Tanzânia). 8,63 5,09 Andropogon gayanus 8,05 3,8 Demais 4,82 4,3 Total 100 100 * Leguminosas correspondem a 2% dos 4,82%. 1.2. Crescimento da panta forrageira As plantas forrageiras possuem pontos de crescimento (gemas.), constituídos de tecidos jovens com alto poder de multiplicação; de onde surgirão os novos brotos. 15 A Figura 1.2 ilustra as estruturas da planta forrageira e seus pontos de crescimento. Figura 1.2 — Estrutura da forrageira e os pontos de crescimento (capim-elefante). Na fase inicial de desenvolvimento, primórdios foliares originam a partir de uma região de intensa atividade meristemática, o ápice do colmo. Este, também denominado meristema apical ou gema apical, é o tecido meristemático responsável pela produção de novas folhas e pelo alongamento do colmo, enquanto não passar de sua fase vegetativa para a fase reprodutiva. Ao mesmo tempo em que se formam primórdios foliares, outros tecidos meristemáticos, as gemas axilares, são formadas ao longo do colmo das gramíneas. Num estádio mais avançado de desenvolvimento, gemas axilares podem se desenvolver abaixo do nível do solo. As células originadas do meristema apical, em determinado momento, diferenciam-se e estendem-se, originando a formação dos entrenós, e o consequente fenômeno do alongamento do colmo. O alongamento dos entrenós aumenta a altura das plantas, diminui a densidade de gemas próximo ao solo e aumenta a vulnerabilidade dos meristemas apicais ao corte. Assim, a posição dos pontos de crescimento por ocasião do corte ou pastejo é um importante fator morfológico a determinar o grau de suscetibilidade das plantas • forra geiras à desfolhação. O conhecimento desses pontos de crescimento, aplicados a cada espécie de planta, é de grande importância para estabelecer um manejo preciso de pastagem. Isso porque é preciso evitar ao máximo que os animais, ao consumir o pasto, retirem tais pontos de crescimento (LAZZARINI NETO, 2000). O mesmo autor coloca que, se esse fato ocorrer, o tempo para a planta restabelecer seu crescimento normal aumenta bastante, fazendo com que a área fique vulnerável às plantas invasoras, além de contribuir para o processo de degradação da pastagem. O que vai determinar maior ou menor eliminação dos pontos de crescimento em um pasto será geralmente a altura do pastejo, junto com o hábito de crescimento da forrageira. 1.3. Hábito de crescimento O hábito de crescimento diz respeito à forma que se desenvolve a parte vegetativa das plantas, e deve ser conhecido para adequação do manejo da pastagem. De forma geral, distinguem-se dois tipos de hábitos de crescimento: 1. Cespitoso: São plantas maiores, com folhas, caules e gemas pouco protegidas, elevam seus pontos de crescimento acima do nível do solo. Nesse grupo estão representados 16 os hábitos de crescimento: ereto, decumbente e escandente. É o caso do capim- elefante, do colonião, do Jaraguá, da setária e do andropógon, entre outros. 2. Prostrado: So plantas com caules e gemas protegidos junto ao solo So tipicamente pratenses, de crescimento mais “horizontal”, rasteiro. Seus representantes têm hábitos estolo. Nífero, prostrado e rizomatoso. É o caso da Brachíaria decumbens, grama estrela, transvala, tarigola, grama batatais. A importância de se conhecer o hábito de crescimento de forrageiras reside no seguinte fato: as plantas Cespitosas, entouceiradas ou eretas são mais difíceis de manejar que as de hábito rasteiro. Isso se explica pelo fato de os pontos de crescimento do primeiro grupo se elevar mais, em detrimento do segundo grupo, o que determina maiores riscos de eliminação de tais pontos pelos animais em pastejo. As plantas rasteiras ou prostradas, por outro lado, têm seus pontos de crescimento mais próximos do solo, diminuindo riscos de eliminação dessas gemas (LAZZARINI NETO, 2000). 1.4. Perfihamento De acordo com Lazzarini Neto (2000), uma gramínea é composta de vários “indivíduos’ denominados perfilhos, os quais apresentam gemas apicais distintas, como ser observados na Figura 1.5”. Podem ser originados das gemas laterais (sendo chamados perfilhos laterais) ou das gemas basais (perfilhos basais). Os meristemas apicais são os tecidos responsáveis pela produção das novas folhas, alongamento dos caules e inflorescências, determinantes na intensidade de rebrota logo após o corte ou pastejo, assegurando a perenidade das gramíneas forra geiras. As gemas axilares e basilares são tecidos que promovem a rebrota das plantas a partir da capacidade de emissão de perfilhos, os quais são produtos do desenvolvimento de gemas axilares que, quando localizadas na base do colmo, são denominadas de gemas basilares e os perfilhos delas originados de perfilhos basais. A pastagem é formada por uma população de perfilhos, em estado dinâmico de renovação, sendo a persistência das gramíneas perenes atribuídas, em parte, a essa contínua produção e substituição de perfilhos. O fitômero é a unidade básica do perfilho e é composto por lâmina, bainha foliar, nó, entrenó, e gemas axilares, O desenvolvimento das folhas, o surgimento de perfilhos originados das gemas axilares e a formação de raízes são processos de desenvolvimento do perfilho como um todo. A densidade de perfilhos é controlada pela taxa de aparecimento de novos perfilhos e pela mortalidade dos perfilhos existentes (BRISKE, 1991), garantindo perenidade, quando o manejo é satisfatório, às gramíneas forrageiras. Segundo Gomide (1994), o perfilhamento da forrageira é favorecido sob condições de alta intensidade luminosa e temperaturas não elevadas, que favorecem o acúmulo de reservas nas plantas. Cada novo perfilho passa por quatro períodos de crescimento: vegetativo, alongamento, reprodutivo e maturação de sementes (MOORE et aI, 1991). O período de crescimento vegetativo é caracterizado pelo aparecimento de folhas e perfilhos e o alongamento é referido como período de transição entre o crescimento vegetativo e o reprodutivo (WALLER et aI., 1985). 17 As taxas de aparecimento e alongamento de folha e a duração de vida das folhas constituem os fatores mortogênicos do perfilho que, sob a ação do ambiente, com luz, temperatura, água e nutrientes determinam as características estruturais do relvado, como o número de folhas por perfilho, tamanho das folhas e densidade de perfilhos, responsáveis pelo IAF do relvado (GOMIDE, 1997). No entanto, o IAF influenciado pelo manejo, influencia o número de perfilhos e o alongamento foliar. Quanto maior o número de perfilhos na planta, maior será a produtividade da pastagem. Entretanto, se o número de perfilhos aumentar, demasiadamente, pode ocorrer competição entre eles pela luz solar, estabilizando-se sua quantidade na planta forrageira. É a relação entre a área de folhas e a superfície de solo que elas cobrem (m2 de folha/m2 de solo), expressando o potencial de rendimento de forragem, relacionado com a utilização da energia solar, através da fotossíntese. Com o aumento da interceptação da luz solar ocorrem, simultaneamente, incrementos no rendimento de forragem, até ser atingido um platô, quando as folhas mais velhas entram em senescência e são sombreadas pelas mais novas, acarretando a diminuição da eficiência fotossintética com menores taxas de crescimento. A taxa de crescimento forrageiro Figura 1.2 — Estrutura da forrageira e os pontos de crescimento e características do perfilhamento do capim-elefante. 1.5 Fotossíntese Os organismos clorofilados (plantas) captam a energia solar e a utilizam para a produção de elementos essenciais, portanto o sol é a fonte primária de energia. A fotossíntese pode ser representada pela seguinte equação: Luz 6H20 + 6C02 => 602 + C6H1206 clorofila 18 A água e o CO2 são pouco energéticos, enquanto os carboidratosformados são altamente energéticos. Portanto, a fotossíntese transforma energia da radiação solar em energia química. Os organismos fotossintetizantes, ou seja, que realizam a fotossíntese capturam a energia solar e a transformam-na em energia química na forma de ATP, molécula responsável pelo armazenamento de energia em suas ligações químicas, e de NADPH, uma importante coenzima presente nas células que participa de reações de oxi-redução, que são produtos originados da reação da energia solar com a clorofila presente nas folhas. Essas moléculas são usadas como fonte de energia para originar carboidratos (glicose) e outros componentes orgânicos a partir do CO2 atmosférico e H20, que simultaneamente liberam O2 na atmosfera. Esses organismos podem, posteriormente, utilizar a energia armazenada nos carboidratos para produzir outras moléculas necessárias para a sua sobrevivência e crescimento. Sabendo da importância das folhas para a realização da fotossíntese, surgiu o conceito de índice de área foliar como um determinante da produtividade de forrageiras. Tal índice mede a superfície de folhas existentes em uma área especifica do solo. (LAZZARINI NETO, 2000). 1.6. Índice de Área Foliar É uma função do Índice de Área Foliar (IAF) e da eficiência fotossintética das folhas, aumentando com a idade da planta, que terá mais capacidade de interceptar a luz incidente. A fotossíntese e o potencial de crescimento máximo são atingidos quando houver folhas em número suficiente para interceptar cerca de 9O% da luz incidente, quando todos os outros fatores de crescimento para planta forem favoráveis. Nesse ponto, considera-se o IAF “‘ótimo”. O Índice de Área Foliar “crítico” é quando 95% da luz incidente é interceptada (GOMIDE, 1994). Se o IAF aumentar muito, a produção de matéria seca não o acompanhará devido à grande quantidade de folhas sombreadas e folhas velhas, menos eficientes fotossinteticamente, afetando a produção final, tanto vegetal quanto animal. Com isso, o pastejo é de suma importância, retirando folhas velhas, perfilhos maduros e material morto, melhorando a penetração de luz até a superfície do solo, estimulando o aparecimento de novos perfilhos. Após a desfolhação, a capacidade fotossintética do dossel depende da quantidade e do potencial fotossintético do tecido remanescente. Após a desfolhação de um dossel com alto IAF, esse potencial é reduzido devido às baixas intensidades luminosas experimentadas pelas folhas remanescentes, antes da desfolhação (WOLEDGE, citado por SILVA et aI., 1997). O que se segue é um período em que a fotossíntese por unidade de IAF aumenta, em decorrência da adaptação das folhas velhas e da produção de novas folhas (PARSONS, citado por SILVA et al., 1997). O nível de eficiência fotossintética de folhas novas está na dependência do ambiente em que elas se desenvolvem. Se a pastagem é constituída de espécie forrageira com hábito de crescimento prostrado, o desenvolvimento de folhas novas ocorrerá em um ambiente de baixa intensidade luminosa, o mesmo acontecendo para as folhas de perfilhos que iniciam o crescimento da base de touceiras de espécie com hábito de crescimento cespitoso. 19 17. Influência do clima As plantas forrageiras podem ser classificadas em plantas de clima tropical — mais eficientes em termos de fotossíntese, respondendo mais intensamente às condições tropicais de altas temperaturas, e plantas de clima temperado. No Brasil, torna-se mais vantajosa a exploração de plantas de clima tropical, o que pode proporcionar alta produtividade de pastos, alta lotação animal e, consequentemente, produção de carnes a baixo custo (LAZZARINI NETO, 2000). O clima brasileiro permite a exploração contínua das pastagens, em grande parte, durante o ano inteiro, tendo limitado o crescimento do pasto durante o inverno, por causa da baixa temperatura. Durante o inverno, devido à queda da temperatura, é indicada a utilização de plantas de clima temperado, principalmente nas regiões em que ocorrem chuvas nessa estação. A duração do dia (horas de luz ou fotoperíodo) também é fator importante para a produtividade de plantas forrageiras. Nos meses de inverno, a duração do dia é reduzida e essa redução é tanto mais acentuada quando mais nos distanciamos da faixa equatorial. Torna-se importante, portanto, verificar também, a exigência das plantas forrageiras em termos de fotoperíodo, antes estabelecer pastagens em determinada região. (LAZZARINI NETO, 2000) O PREPARO DO SOLO • Inicia-se pela coleta de amostras do solo para análise. O calcário deve ser aplicado ao solo entre 60 a 90 dias antes da semeadura • As ações para o controle de erosão, como a construção de terraços e curvas de nível, devem ser executadas antes do processo de gradagem pesada. • Observação: é muito importante esperar que o material vegetal incorporado ao solo pela aração apodreça antes do plantio; caso contrário, as sementes morrerão por causa dos efeitos da fermentação deste material. PLANTIO • Chuvas com maior frequência (outubro a fevereiro no Brasil Central) • Distribuição uniforme das sementes • Boa regulagem do equipamento • Sementes miúdas como as das cultivares, Tanzânia, Mombaça, Aruana, Massai e Estilosantes Campo Grande devem ser enterradas, no máximo, a 2 cm de profundidade • Marandú (braquiarão), Decumbens (braquiarinha), Piatã, MG-4, Xaraés, Humidícola (quicuio) e Lanero (dictyoneura) (MG-5) não mais de 4 cm • Na semeadura a lanço, as sementes são depositadas sobre a superfície do solo e precisam ser logo enterradas. Isso pode ser feito: • a) com rolo compactador • b) com grade niveladora leve, totalmente fechada. • Assim que as sementes chegarem à propriedade deve-se retirar amostras de todas as embalagens que são de mesmo lote, meio quilo e enviar ao Laboratório. • Os fertilizantes a base de Nitrogênio e Potássio, não podem ser misturados com as sementes porque causam sua morte. • Por outro lado, os a base de Fósforo como superfosfato simples granulado pode ser misturado, desde que o plantio ocorra no mesmo dia em que a mistura foi preparada. 20 ATIVIDADES 01 - O hábito de crescimento diz respeito à forma que se desenvolve a parte vegetativa das plantas, e deve ser conhecido para adequação do manejo da pastagem. Quais são esses dois tipos de hábito de crescimento? Explique-os. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 02 – O que é IAF e como ele pode interferir em uma boa pastagem? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ MANEJO DE FORMAÇÃO • O primeiro pastejo deve ser feito logo que as plantas estiverem crescidas e cobrindo toda a área plantada. Neste caso, é melhor utilizar animais leves, jovens, para fazer apenas um desponte das plantas, alta taxa de lotação por um curto período de tempo. Nesta fase, se forem utilizados animais pesados, as plantas poderão ser arrancadas durante o pastejo; • Se o primeiro pastejo for feito bem mais tarde, muitas plantas morrerão por causa da competição entre elas. Isso aumenta os espaços vazios na pastagem, diminui a produção de capim e facilita o crescimento de ervas daninhas. Além de perder drasticamente a qualidade da forragem quando o capimemite suas sementes; Formação de pastagem e Recuperação de pastagem • Formação = inclui-se todas as etapas de preparo de solo e plantio. • Recuperação = mantem-se a espécie já existente, usando manejo correto, calagem e adubação. • Obs.: Fazer um diagnóstico da área para escolher (reformar ou recuperar) Causas da Degradação de uma pastagem • Super pastejo • Deficiência de nutrientes • Uso de queimadas • Espécie forrageira inadequada • Pragas e doenças • Plantas daninhas Primeiros sinais de degradação de uma Pastagem • Redução do valor nutritivo • Desaparecimento de espécies forrageiras • Perda de cobertura vegetal 21 • Perda do solo • Aparecimento de invasoras • Queda na produção da forrageira Métodos de recuperação de uma pastagem no início da sua degradação • Manejo adequado • Controle de invasoras • Melhoria na fertilidade do solo Estratégias para recuperação de pastagens Quando a pastagem começa a demonstrar sinais de degradação, deve-se tomar algumas medidas para recuperar a produtividade original. A condição essencial é que ainda haja na pastagem uma população adequada de plantas forrageiras, isto é, que o número de plantas ou touceiras e sua distribuição sejam tais que possibilitem a cobertura posterior da área. Caso contrário, haverá necessidade de se reformar a pastagem, quando então os procedimentos são aproximadamente os mesmos adotados na formação de novas pastagens (Carvalho, 1993). As várias técnicas para recuperar pastagens degradadas visam aumentar a produção de massa verde por área e melhorar a qualidade da forrageira. Nesse sentido, vários estudos foram desenvolvidos para devolver às pastagens suas capacidades originais, seja através de calagem, adubação, uso de máquinas descompactadoras do solo ou através da integração agricultura x pecuária. Calagem: Segundo Andrade (1991) entende-se por calagem o ato de adicionar ao solo o calcário na quantidade preestabelecida, em função do tipo de solo, da planta a ser cultivada e do nível de produtividade desejado. É comum nas regiões tropicais e subtropicais a ocorrência de solos ácidos, os quais geralmente apresentam baixos teores de cálcio e magnésio trocáveis, teores elevados de alumínio trocável e de manganês disponível e baixa percentagem de saturação por bases. A prática da calagem, além de fornecer cálcio e magnésio, eleva o pH do solo e, como consequência, aumenta a disponibilidade de fósforo e molibdênio e reduz a de Al, de Mn e de Fe, os quais em excesso tornam-se tóxicos para as plantas e para o rizóbio nas leguminosas. Além disso, a calagem exerce papel fundamental sobre processos de decomposição e mineralização da matéria orgânica, essenciais para a elevação da capacidade de troca catiônica (CTC) e para a melhoria das propriedades físicas e químicas do solo. Por outro lado, o excesso de calagem induz à imobilização de certos micronutrientes (Zn, B e Cu) podendo causar suas deficiências (Werner, 1986; citado por Soares Filho, 1999). O critério mais utilizado para a correção do solo é aquele baseado na elevação da saturação por bases. Desse modo, as pastagens são classificadas em três grupos, em ordem decrescente de exigência em fertilidade do solo, como mostra a Tabela 1. Tabela 1. Classificação das gramíneas de acordo com a exigência em fertilidade e a saturação por bases adequada para a formação e manutenção de pastagens 22 Nas pastagens já estabelecidas, onde não há possibilidade de incorporação do corretivo no solo, a aplicação deve ser feita a lanço na superfície. Nessas circunstâncias, o calcário deverá ser aplicado, preferencialmente, no final do período das águas, época do ano em que ainda existe umidade disponível no solo. O calcário a ser aplicado deverá ser de granulometria mais fina possível, pois esta característica confere alta reatividade (P.R.N.T.) do corretivo, para que seu efeito possa ser rápido e efetivo. A aplicação do calcário no final do período das águas (abril/maio) se deve ao fato de que, quando o corretivo é aplicado em superfície, o pH nessa camada do solo torna-se bastante elevado, sendo desfavorável o uso de certos fertilizantes, principalmente, os nitrogenados, os quais são normalmente aplicados durante a época de maior disponibilidade dos fatores de crescimento para as plantas, como água, temperatura e luminosidade. O pH elevado na superfície do solo faz com que boa parte do nitrogênio aplicado seja perdido por volatilização, reduzindo drasticamente a eficiência e a economicidade da adubação nitrogenada. Assim sendo, aplicando-se o corretivo no final das águas, época em que normalmente não se adubam as pastagens, devido à ausência de um ou mais fatores de crescimento, haverá tempo suficiente para que o mesmo complete sua reação com o solo, tornando possível a aplicação de fertilizantes no início da estação das águas subsequentes (outubro/novembro), sem que ocorram perdas elevadas. Adubação: De acordo com Carvalho (1993), para orientar a aplicação de fertilizantes é importante que se faça amostragem do solo na área da pastagem a ser recuperada. A análise química do solo vai ajudar na decisão sobre quais fertilizantes devem ser aplicados e em que quantidades. A amostragem deve ser feita durante o período seco, de tal forma que os resultados da análise química estejam disponíveis em tempo hábil para permitir a aquisição dos fertilizantes e aplicação dos mesmos no início do período de crescimento da pastagem. 1) Nitrogênio: Em pastagens em início de degradação, a deficiência de nitrogênio pode ser corrigida, pelo menos em parte, com aplicação de pequenas doses de fertilizantes nitrogenados. Nessa fase a adubação nitrogenada, funciona apenas como uma das medidas que contribuem para devolver à pastagem a sua produtividade original. Soares Filho et al. (1993), num trabalho de recuperação de pastagens de Brachiariadecumbens, observou que a adubação com macro e micronutrientes incluindo o nitrogênio, teve efeito benéfico na recuperação da pastagem, aumentando as produções de matéria seca da parte aérea e das raízes dessa forrageira. 2) Fósforo: Dos elementos essenciais ao crescimento das forrageiras e que normalmente são deficientes nos solos de pastagens, o fósforo é um dos mais importantes. Embora o efeito de fertilizantes fosfatados seja mais acentuado por ocasião da formação da pastagem, diversos 23 estudos têm demonstrado como a aplicação de fósforo em pastagens já formadas contribui para aumentar a produção animal. A deficiência de fósforo no solo, além de comprometer o valor nutritivo do pasto, provoca efeito sobre o estabelecimento e o desenvolvimento das forrageiras, comprometendo a capacidade de suporte das pastagens. Como é um elemento pouco móvel no solo, e é absorvido principalmente por difusão, é fundamental que seja colocado próximo às raízes e aplicado quando houver disponibilidade de umidade no solo (Soares Filho, 1999). 3) Potássio: O potássio é de grande importância para a manutenção e recuperação da produtividade das pastagens. É ativador de várias enzimas e está relacionado com a distribuição de água e com o transporte de carboidratos na planta. É um elemento bastante móvel no solo, sendo também absorvido, principalmente por difusão. Por essa razão, é fundamental que seja aplicado quando houver disponibilidade de umidade no solo, ou seja, durante o período das águas. Entretanto, é facilmente lixiviado no perfil do solo, fazendo com que suas aplicações devam ser feitas de acordo com um plano estratégico de adubação. Em solos com a CTC muito baixa, a quantidade a ser aplicada não deve ser maior do que a que o solo pode comportar, fazendo-se necessário o parcelamento da adubação, em duas ou mais vezes. 4) Enxofre: Embora esse elemento não tem sido determinado nas rotinas de análise de solos, tem uma importância relevante para as forrageiras, poisparticipa na síntese de aminoácidos e, todas as proteínas vegetais o apresentam em sua composição. A deficiência desse elemento é maior em solos degradados, o que compromete ainda mais o desenvolvimento e a qualidade das forrageiras. 5) Micronutrientes: Os micronutrientes são importantes, principalmente quando as exigências em macronutrientes são supridas adequadamente. Tecnologias de custo zero na formação e recuperação de pastagem • Escolher a espécie forrageira adequada para o tipo de solo • Formar o pasto na época certa • Evitar queimadas • Evitar super pastejo (não rapar o pasto) • Manejo da pastagem • Descartar animais improdutivos Por que controlar plantas daninhas em pastagens? • As plantas competem com as pastagens por espaço, água, nutrientes e luz. Diante destas situações as consequências são: • Menor produção de forragem da pastagem/ha • Queda na capacidade de suporte animal/ha • Menor produção de leite e carne por/ha/ano • Aumento do tempo de formação das pastagens • Envenenamento por plantas tóxicas • Depreciação do patrimônio PLANTAS DANINHAS EM PASTAGEM As plantas daninhas surgiram de um processo dinâmico de evolução ao adaptarem-se às perturbações ambientais provocadas pela natureza ou pelo homem por meio da agricultura. Existem dois tipos básicos de invasoras: 24 Em pastagem bem formada • Baixa infestação • Predomínio de árvores e arbustos Em pastagem mal formada ou manejada • Predomínio de espécies com maior poder de reprodução • Ciclo curto e rápido crescimento. Problemas causados por plantas daninhas em pastagem Competição por espaço, luz, água e nutrientes. Queda da capacidade de suporte da área Aumento do tempo para a formação da pastagem Ambiente propício ao desenvolvimento de parasitas Ferimento nos animais Envenenamento por plantas tóxicas Risco de erosão PRINCIPAIS PLANTAS DANINHAS Alecrim-do-campo Fruta-de-lobo Mata-pasto Leiteiro Malva-branca Erva-de-rato Ciganinha MÉTODOS DE CONTROLE Medidas preventivas Impedir ou minimizar a introdução e disseminação de plantas daninhas em uma área Exemplo: Semente de qualidade Consulta da legislação Controle cultural Utilização de qualquer prática que viesse a auxiliar a espécie forrageira na ocupação do solo disponível, proporcionando maior habilidade competitiva com a planta daninha. Exemplo: Uso de semente de qualidade Manejo adequado do pasto Espécie forrageira deve estar adaptada às condições locais Controle mecânico Utiliza-se de foice, roçadeira, correntão, rolo-faca, trilho. O uso de cada equipamento depende do tipo de vegetação, do porte e densidade. Controle biológico Consiste na utilização de inimigos naturais como insetos, fungos, bactérias, ácaros, vírus, peixes, aves e mamíferos no controle de plantas daninhas. Controle químico 25 É realizado com a utilização de produtos químicos denominados herbicidas, que provocam a morte ou impende o desenvolvimento dos arbustos. Deve controlar a planta daninha e ser seletivo a planta forrageira A maioria são sistêmicos Principais herbicidas para uso em pastagem no Brasil 2,4-D na forma amina Associação 2,4-D + PicloramFluoxipi-MHE GlyphosateParaquatTebuthiuronTriclopyr Deve-se analisar diversos fatores para aplicação de um determinado tipo de herbicida na pastagem, entre eles: Verificar as condições da pastagem Identificar a planta daninha Tipo de folhagem Estádio de desenvolvimento Densidade de infestação MÉTODOS DE APLICAÇÃO Aplicação foliar A calda é aplicada na folha Pode ser aplicado em área total ou dirigido • < 40% - Aplicação dirigida • > 40% - Aplicação em área total Aplicação no toco Aplica-se o herbicida diretamente no toco das plantas após o corte rente ao solo Poda feita com foice ou enxadão Aplicado com pulverizador costal ou pincel Utiliza-se corante para marcar as plantas tratadas • Azul de metileno • Violeta genciana É recomendado para plantas resistentes a aplicação foliar Aplicação no tronco (basal) Utilizado para arbusto de grande porte ou resistente às aplicações foliares. Pode ser aplicado no tronco. Utiliza-se óleo diesel. Tratamento no solo Uso de herbicidas granulados que possam ser absorvidos no sistema radicular e translocado para a parte aérea O granulo deve ser depositado ao redor do caule da planta daninha Com a chuva, o produto é diluído, infiltrando no solo e absorvido pelo sistema radicular. RESISTÊNCIA DE PLANTA DANINHAS Utilização constante de herbicidas em um único local de ação nas plantas Pressão de seleção: Uso repetitivo de um mesmo herbicida promove mudanças na flora de uma região. Os genótipos que melhor se adaptam a uma determinada prática se multiplicam e perpetuam-se no local. Como evitar plantas daninhas resistentes 26 Rotação de herbicidas - Mudar o sitio de ação. ATIVIDADES 01 – Quais são as principais estratégias para recuperação de pastagens? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 02 – O que são plantas daninhas? Cite as principais e os seus métodos de controle. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 27 B O V IN O C U L T U R A I II CURSO TÉCNICO EM AGROPECUÁRIA 28 BOVINOCULTURA III MANEJO REPRODUTIVO REPRODUÇÃO A reprodução de bovinos tem como finalidade a produção de bezerros e bezerras utilizando matrizes, a partir da maturidade sexual até o momento de descarte e consequente substituição por novilhas (reposição), sendo que o ciclo se repete de geração em geração. O que se quer através do maior e melhor conhecimento é a aplicação das técnicas pecuárias avançadas e intensificar as parições de forma que, cada vaca em idade reprodutiva, produza um bezerro por ano e este deva ser criado de forma sadia e desmamado com bom peso. Para isto, os Médicos Veterinários, criadores e todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente na pecuária devem possuir um fim único: o de aumentar a produção e a produtividade tendo como consequência o aumento dos lucros. A produção de leite e carne bovina estábaseada na produção de bezerros e de bezerras, não é difícil, portanto, entender que vacas leiteiras, bois gordos e vacas de cria um dia foram bezerros e bezerras. Isto explica porque vários grupos de pessoas estejam interessados em tirar da pecuária o máximo que ela possa dar, investindo tempo e capital na criação com o objetivo de reproduzi-las. A Inseminação Artificial é apenas um, porém importante e econômico argumento para atingir tal objetivo. O gado leiteiro visa produzir fêmeas de alta produção leiteira, e reprodutores "melhoradores". Já a pecuária de corte usa a Inseminação Artificial para produção de carne, touros "melhoradores", novilhas para a reposição e o aproveitamento de vacas que serão descartadas. Em ambas as situações, os rebanhos manejados intensivamente têm por finalidade reduzir ou manter o intervalo entre partos próximodos 12 meses. FERTILIDADE Fertilidade é a capacidade dos indivíduos de se reproduzirem com finalidade de manutenção da espécie. Uma vaca é fértil quando é capaz de emprenhar já no início de sua maturidade sexual, levar estas prenhes até o fim, produzir crias sadias e viáveis, "derrubar" (produzir) um bezerro por ano e, assim, sucessivamente até o momento de ser substituída. A fertilidade de um rebanho é medida através de sua produção para cada cem vacas em idade reprodutiva. Mais a miúde podemos dizer que a fertilidade se traduz pela soma dos parâmetros abaixo: Índice de inseminação; Percentagem de não retorno a 1ª inseminação; Percentagem de gestação; Percentagem de parição; - Intervalo entre partos. FECUNDAÇÃO Ocorre entre poucos minutos e poucas horas após a deposição do sêmen nas vias genitais da fêmea, seja por monta natural ou por Inseminação Artificial, ou seja, a fertilização do óvulo da fêmea pelo espermatozoide do macho. SANIDADE NA REPRODUÇÃO A natalidade dos bovinos pode ser influenciada através da seleção de reprodutores e matrizes com boa capacidade reprodutiva e pelo estado sanitário dos animais. As doenças infecciosas, de origem bacteriana, viral ou parasitária são importantes, pois afetam o aparelho reprodutivo de machos e fêmeas, impedindo a fecundação, causando abortos, repetições de cios, o 29 nascimento de animais com porte inferior à média, disfunção hormonal, entre outros, inclusive a perda da função reprodutiva. A maioria das disfunções passa despercebida. Sendo assim, o controle preventivo de machos e fêmeas é de fundamental importância para se obter maior nascimento de bezerros e, consequentemente, maior rentabilidade na produção. CUIDADOS COM OS MACHOS Os machos destinados a "touros" (inclusive os de compra) devem passar por criterioso exame de seleção onde se observa a condição corporal, aparelho locomotor parâmetros genéticos favoráveis (o ideal seria o teste de progênie) e aparência fenotípica (externa), além de exames laboratoriais. Ao exame físico devemos observar o aparelho genital completo, procurando anomalias, defeitos, processos inflamatórios e observando medidas e condições estabelecidas para cada raça. O exame andrológico completo deve ser realizado antes de cada estação reprodutiva Casos de falha na reprodução, normalmente são atribuídos às fêmeas, quando na verdade, os machos ocupam o maior destaque através da transmissão de doenças pela monta. CUIDADOS COM AS FÊMEAS Fêmeas destinadas à estação reprodutiva devem apresentar boa condição corporal (5 acima), e estarem ciclando normalmente. As fêmeas devem ser selecionadas antes do início da estação reprodutiva, para a formação dos lotes. ATIVIDADES 1) Qual a finalidade da reprodução nos bovinos? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 2) Diferencie Fertilidade de Fecundação. _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 3) Como que a sanidade afeta a reprodução dos bovinos? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 4) Quais os exames feitos nos machos para avaliarem sua eficiência reprodutiva? _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ 30 PRINCIPAIS ENFERMIDADES DE INTERESSE REPRODUTIVO As doenças da reprodução possuem peso importante nos índices de natalidade, taxa de prenhes, retorno ao cio, natimortos, entre outros, ou seja, inúmeros prejuízos. Várias são as enfermidades reprodutivas que acometem os bovinos, porém, o aborto causa maior impacto, mas não é a enfermidade que causa maior perda. O aborto em bovinos ocorre nos diversos estágios gestacionais e possui diversas causas, de modo que é fundamental o seu diagnóstico. As causas principais são a brucelose, leptospirose, campilobacteriose, complexo herpes vírus, trichomonose, diarreia viral bovina, intoxicações, nutricionais, de manejo e outras desconhecidas. BRUCELOSE A suspeita da ocorrência de brucelose em um rebanho, geralmente está associada aos abortos no terço final de gestação, sendo uma enfermidade que afeta várias espécies de animais domésticos e silvestres. Acomete bovinos de todas as idades e de ambos os sexos, afetando principalmente animais sexualmente maduros, causando sérios prejuízos devido a abortos, retenções de placenta, metrites, subfertilidade e até infertilidade. Portanto, quanto maior o número de vacas infectadas (que abortarem ou parirem em uma determinada área), maior o risco de exposição de outros animais do rebanho. É importante fazer o diagnóstico das vacas infectadas e sua remoção dos pastos maternidade antes da parição. Assim, o estágio de gestação e parição, a remoção dos animais infectados, seguidos de vacinação das bezerras (entre 3 e 5 meses), constituem importantes detalhes na forma de manejo. A brucelose (uma das doenças infecto-contagiosas com maior destaque na esfera reprodutiva) tem como principal via de contaminação, a digestiva; por água, alimentos, pastos contaminados com restos de aborto, placentas, sangue e líquidos contaminados (proveniente de abortos e partos de vacas e novilhas brucélicas). Transmissão pela monta por touros infectados também pode ocorrer, mas em menor proporção que a digestiva. A principal característica da brucelose é ser uma doença que afeta os órgãos da reprodução. Através da inseminação também poderia ocorrer contaminação, pois a "Brucellaabortus" (agente causador) resiste ao congelamento e ao descongelamento juntamente com o sêmen, mas, o controle sanitário do sêmen envasado nas centrais de congelamento elimina esta possibilidade, pois, somente reprodutores isentos da enfermidade, entre outras, é que devem ser congelados. Não podemos esquecer que a brucelose causa sérios danos também aos touros através de orquites e epididimites uni ou bilaterais, podendo levá-los a sub-fertilidade e até mesmo à esterilidade. Quando os touros se recuperam da enfermidade, podem tornar-se disseminadores, se seu sêmen for coletado sem diagnóstico prévio, e utilizado em programas de Inseminação Artificial. A introdução de animais infectados, em rebanhos sadios é o caminho de entrada da brucelose na propriedade, mas a manutenção destes animais é pior ainda (pela propagação entre o rebanho). Com a doença surgem os abortos, partos prematuros, retenção de placenta, endometrites, orquites, baixando, portanto a eficiência reprodutiva do rebanho. A principal característica é o aborto que ocorre a partir do quinto mês de gestação, geralmente acompanhado por retenção de placenta e endometrite. 31 A vacinação com a vacina B19 (fêmeas entre 3 e 5 meses), geralmente é eficiente para prevenir o aborto além de aumentar a resistência à infecção, mas não imuniza totalmente o rebanho e tampouco possui efeito curativo. A percentagem de aborto na primeira gestação de novilhas brucélicas não vacinadas é de aproximadamente 65-70%; já na segunda gestação cai para 15-20%; após duas gestações dificilmente acontece o aborto, mas, aí é que reside o problema, pois estas fêmeas vão parir normalmente. E, a cada parição haverá nova contaminação dos pastos, devendo estas fêmeas serem descartadas logo após o diagnóstico positivo queocorre através da coleta de sangue e exames laboratoriais. Nos rebanhos onde as fêmeas de reposição são basicamente obtidas através de compras indiscriminadas de animais jovens ou maduros sexualmente, o índice de animais positivos e abortos tende a ser elevado, disseminando rapidamente a doença. A vacina contra a brucelose, com a vacina B19, deve ser feita por Médico Veterinário, sendo que este deve tomar os devidos cuidados para não se infectarem, uma vez que ela é feita com vírus vivo, apenas atenuado. Devem ser vacinados apenas as fêmeas com idade entre 3 e 5 meses, e no momento da vacina, identificar estes animais com marca a fogo no lado esquerdo da cara. Exames periódicos de amostragens do rebanho devem ser realizados para se ter uma ideia da evolução da enfermidade na propriedade. Os animais vacinados na época certa possuem reação "falso positiva" até aproximadamente 30 meses, pelo método de soro-aglutinação rápido em placa (o mais usado pelo seu baixo custo, e que nos aponta resultados muito incertos). Os animais que, por erro de manejo não foram vacinados, quando do exame não devem reagir, a menos que já sejam "verdadeiros positivos". Daí a necessidade da marca na cara, para diferenciar os resultados de soro-aglutinação. Animais vacinados tardiamente podem ser ao longo de sua vida "falsos positivos", pois sempre que se realizar o exame, haverá reação positiva. Nestas situações, devem realizar-se outros tipos de exame que diferenciam reação vacinal de positivos. O diagnóstico realizado a partir de coleta de material próximo ao parto (2 a 4 semanas antes ou depois) implicará em significativo aumento de resultado falso negativo. Testes de fixação de complemento, rosa de bengala, Elisa, e outros, podem ser usados como diagnósticos mais precisos, mas deve-se levar em conta o custo de tais exames. É também problema de saúde humana, pois o homem pode contrair a enfermidade (zoonose) através de alimentos e água contaminados pelo contato com fetos abortados, urina, fezes, placenta e carcaças contaminadas, como ainda também pela ingestão de leite não pasteurizado e do queijo, podendo causar vários distúrbios, inclusive a esterilidade. As medidas de controle são afetadas por uma variedade de fatores, mas através de esforço conjunto, entre Veterinários, proprietários e laboratórios (através de técnicas de diagnóstico confiáveis e viáveis), pode-se estabelecer critérios e medidas de manejo, assim como a vacinação, entre outras, para melhor fazer o controle ou erradicação da brucelose. 32 ATIVIDADES 1) Quais os sintomas da Brucelose? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2) Citar a profilaxia da Brucelose. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3) Citar as vias de transmissão da Brucelose nos animais. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 4) O que acontece se vacinar os animais tardiamente? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 5) Como que o ser humano se contamina com a Brucelose? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ LEPTOSPIROSE Causada por diversos sorovar da bactéria do gênero Leptospira. A leptospirose afeta animais e humanos, causando, principalmente, perdas por abortos em bovinos além de infecções disseminadas pelo organismo. A transmissão pode ser através da urina, parto, leite, abortos, mas principalmente através de roedores e animais silvestres infectados. A enfermidade apresenta-se geralmente de forma subclínica (sem sintomas facilmente detectáveis), particularmente em animais não lactantes e não gestantes. Manifesta-se clinicamente através do aborto (o feto se mostra autolisado indicando que houve morte algum tempo antes do aborto), natimortos, fetos prematuros e/ou fracos, subfertilidade ou infertilidade decorrentes de complicações. O diagnóstico é realizado de forma diferencial com outras formas de aborto, além de exames laboratoriais (principalmente da urina), dados clínicos e epidemiológicos. 33 O tratamento através de estreptomicina visa impedir a septicemia (disseminação por todo o organismo), consequentemente controlando a contaminação do ambiente. A vacinação de todos os animais (em rebanhos de incidência alta) deve iniciar em todos os bezerros de 4 a 6 meses de idade, seguidas por vacinações anuais (sempre com vacinas que abrangem o maior grupo de leptospiras.). Como vacinação estratégica, pode ser realizada 1 (um) mês antes da estação reprodutiva. ATIVIDADES 1) Quais os sintomas da Leptospirose? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 2) Quais os meios de transmissão da Leptospirose nos animais? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 3) Citar a profilaxia da Leptospirose. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ 4) Citar o tratamento da Leptospirose. ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ IBR-IPV Rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) e Vulvovaginitepustular (IPV) fazem parte do complexo Herpes vírus bovino, causadas pelo HVB tipo-1, responsáveis por abortos entre outras enfermidades. O HVB pode produzir uma variedade de manifestações clínicas como a mastite (inflamação do úbere), conjuntivite (inflamação da conjuntiva), balanopostite (inflamação da glande e do prepúcio), doenças estas que podem ocorrer em um mesmo surto, com animais distintos. A IBR é a forma respiratória, ocasionando febre e lesões de transtorno nas vias superiores do animal, com quadros respiratórios graves em animais jovens. A IPV é uma infecção da mucosa vaginal e da vulva que manifesta-se por edema, secreção com exsudato, pústulas de conteúdo mucopurulento, transtorno no ato da micção, endometrites, repetições de cio e infertilidade temporária por período igual ou superior a 60 dias, quando retorna o ciclo estral normal e fértil. 34 A infecção nos touros possui caráter importantíssimo na disseminação da enfermidade através da cópula, com lesões no pênis e prepúcio além do sêmen contaminado, os touros transmitem a cada monta o vírus às fêmeas sadias. A Inseminação Artificial pode transmitir a enfermidade se o sêmen estiver contaminado. O aborto (seguido de retenção de placenta) ocorre normalmente, no terço final da gestação, onde associados a este, estão os sinaisclínicos de conjuntivite, rinotraqueíte, vulvovaginite, ou ainda, isentos dos mesmos. Uma vez diagnosticada a enfermidade devemos proceder à vacinação dos que ainda são jovens e repetindo a vacinação anualmente para manter a imunidade. Para fêmeas adultas, a vacinação deve acontecer no início da estação reprodutiva. BVD A Diarréia Viral Bovina (do gênero pestevirus) é um complexo de doenças associadas com a infecção pelo vírus da BVD que diminui a imunidade. Virose também conhecida por causar desordens reprodutivas, sendo que a infecção fetal (transplacentária) pode levar à morte embrionária, ou até defeitos congênitos (nascidos com o indivíduo como a microcefalia, hidrocefalia, hipoplasia cerebral, defeitos oculares), surtos de diarréia, abortos, entre outros. A infecção com o vírus da BVDV ocorre através das vias nasal ou oral, podendo ocasionar a morte do animal (jovem ou adulto) e o nascimento de animais pouco desenvolvidos que podem tornar-se portadores da enfermidade. Os animais infectados (com a introdução no rebanho através de compras, principalmente) liberam continuamente o vírus através de suas secreções e fluídos corporais, transmitindo lentamente a infecção entre os bovinos, disseminando primeiramente os animais mais próximos, de forma que a identificação e o isolamento dos animais por 3 semanas diminuem as chances de um surto de BVDV. O sinal clínico de aborto é o mais difícil para se diagnosticar, o que pode ocorrer semanas após a instalação do vírus em animais vacinados ou não e, que às vezes, não tenham demonstrado outros sinais clínicos da enfermidade, além da necessidade do diagnóstico diferencial das outras causas de aborto. O controle pode ser efetuado através de vacinas inativadas (seguindo o esquema do fabricante), geralmente associadas a outros agentes infecciosos como a parainfluenza. Como vacinação, pode ser realizada em animais de 8 a 12 meses e estratégicamente1 (um) mês antes da estação reprodutiva. TRICHOMONOSE É doença infecciosa e sexualmente transmitida, causada pelo Trichomonasfoetus que afeta fêmeas e machos em idade reprodutiva, causando morte embrionária, aborto, endometrites, piometras, ou fetos macerados, como consequências diretas, pois o maior prejuízo está na diminuição de nascimentos e na demora do estabelecimento da prenhes, como forma indireta. A principal via de transmissão acontece durante a cópula (monta) onde o macho infectado contamina a fêmea ou é contaminado por esta, ou ainda, através da Inseminação Artificial com sêmen contaminado. O aborto pode ocorrer normalmente até o quarto mês de gestação, mas a característica mais marcante é o grande número de repetições de cio, ciclos estrais irregulares, baixo índice de concepção, corrimentos vaginais com fluído claro ou amarelado. 35 O tratamento das fêmeas é praticamente ineficaz e desnecessário, pois a maioria destas recupera-se após um descanso sexual. Prostaglandinas podem ser usadas no sentido de fazer uma "limpeza" do útero e regularizar o ciclo estral. Os machos contaminados, com idade superior a 5 ou 6 anos devem ser descartados, pois geralmente tornam-se portadores disseminando a doença. Vacinas inativadas podem ser usadas em touros jovens para evitar a propagação da enfermidade, mas o tratamento mais eficaz para as fêmeas é a uso da Inseminação Artificial com sêmen de reprodutores isentos da enfermidade, ou o repouso sexual por mais de 90-100 dias, o que economicamente, não é interessante. CAMPILOBACTERIOSE Enfermidade assim denominada por ser causada por espécies do gênero Campilobacterfetussubesp venerealis, sendo também uma doença venérea, exclusivamente de bovinos que não causa nenhum mal aos machos, mas inflamações no trato genital feminino podendo levar até a infertilidade, passando por baixa taxa de natalidade, endometrite, aborto entre o 4° e o 7° mês de gestação. O desempenho reprodutivo das fêmeas pode sugerir a presença da enfermidade, sendo que os sinais clínicos se assemelham à tricomonose e de outras doenças infecciosas do aparelho genital. O tratamento em bovinos é desaconselhável, pois os resultados são insatisfatórios e antieconômicos, salvo em condições especiais, quando podem ser tratados com estreptomicina. A principal medida é o uso de Inseminação Artificial como tratamento de eleição. ESTAÇÃO REPRODUTIVA ESTAÇÃO REPRODUTIVA DE NOVILHAS Com o uso estratégico de pastagens cultivadas de maior disponibilidade e qualidade durante a estação seca, uma melhor condição nutricional é proporcionada às novilhas que serão enxertadas e às novilhas de 1ª cria. Assim sendo, as novilhas paridas (primíparas) têm menor desgaste orgânico, favorecendo ao aparecimento do 1° cio fértil e as novilhas a serem enxertadas atingem mais rapidamente a condição corporal desejada. As novilhas provenientes de cruzamentos são mais precoces e, portanto, atingem sua maturidade sexual mais cedo, quando comparadas com as Zebuínas. Contudo, para expressarem maior potencial, necessitam de alimentação de melhor qualidade. Se a propriedade dispõe de boas pastagens e eficiente controle de ecto (parasito externos) e endo (parasitas internos) parasitas, estas novilhas cruzadas podem ser criadas juntamente com as novilhas Nelore. Novilhas com pouco desenvolvimento, embora possam ter idade avançada, normalmente não apresentam cio. A estação reprodutiva das novilhas deve ter início e término de 25-45 dias antes que a das vacas, uma vez que as novilhas de 1ª cria apresentam intervalos maiores entre parto e primeiro cio fértil, quando comparado com as vacas, sendo que o tamanho associado a seu peso (desenvolvimento corporal) é mais importante que a idade. A idade à época de maturidade sexual vai depender da raça e da alimentação. O peso ideal para serem selecionadas ao programa reprodutivo, de novilhas Nelores, está em torno dos 270-280 kg/vivo, atingindo este peso, em criações extensivas, por volta dos 25-30 meses. No entanto, em condições de pastagens melhoradas, pode ser reduzida para 20-24 meses. Já 36 para as novilhas com sangue europeu, por volta dos 300-320 kg/vivo, dependendo da alimentação fornecida, a partir dos 12-18 meses. Assim sendo, cada raça tem seu peso ideal à primeira concepção e este peso deve ser respeitado, se o criador desejar que este animal atinja seu total desenvolvimento. Mesmo que estas novilhas entrem em cio antes desta condição, elas não devem ser cobertas, pois corre-se o risco de não conseguir manter as exigências nutritivas ao seu bom desenvolvimento. Se as novilhas forem acasaladas com bom desenvolvimento corporal e não sofrerem restrição alimentar, durante a gestação e no pós-parto, é possível que elas retornem com cio fértil após 45 dias. Entretanto, a freqüência e a intensidade da amamentação poderão atrasar consideravelmente o retorno ao cio fértil. Fornecer boa alimentação às futuras vacas é, portanto, condição indispensável ao perfeito desenvolvimento e à obtenção de bons resultados. Como as novilhas deverão entrar em reprodução mais cedo que as vacas, na mesma estação reprodutiva, deverão ser trabalhadas em pastos separados. Novilhas de 1ª cria podem rejeitar seus bezerros, o que não é comum, pois a grande maioria aceita e cuida de suas crias. Acontece que isso não se pode prever com antecedência. No entanto, tem-se observado que, quando há intervenção nos partos (parto distócico) ocorre maior incidência de rejeição ao bezerro, assim como quando do momento do parto (natural), os peões se apoderam do bezerro para curar umbigo, tatuar, aplicar medicamentos, etc. antes mesmo de a vaca limpar o bezerro e este ter mamado o colostro (primeiro leite). Para que isto ocorra com menos frequência, as novilhas devem, assim como as vacas, serem colocadas em pastos maternidade, em ambiente calmo. E o manejo com o bezerro recém-nascido acontecer após o bezerro mamar o colostro.
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