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Resenha Bosques Possíveis

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES 
Disciplina: Práticas de leitura do texto literário 
Aluno(a): Julia Guimarães 
 
Resenha do texto “Bosques Possíveis”, de Umberto Eco 
 
O texto Bosques Possíveis de Umberto Eco começa fazendo uma referência a Vitor Emanuel III, e como, a 
partir de uma pintura, ele passa a refletir sobre o cenário a sua frente, a imaginar elementos realistas e 
contextualizá-los com o que está na tela. Desse ponto em diante é feito um paralelo entre ficção e realidade e 
até onde podemos questionar o mundo ficcional e tentar encaixá-lo nas experiências e conhecimentos do nosso 
dia a dia. 
 
Com essa história do antigo rei italiano, já somos apresentados à maneira que a obra de Eco irá funcionar. 
Desde a primeira linha, o autor já entrega que seu texto será composto de diversas referências e comparações 
entre ficção e realidade além de comentários e experiências do escritor sobre o tema. Até o final do capítulo, 
sua abordagem continua a mesma, trazendo diversos clássicos da literatura como Guerra e Paz, Chapeuzinho 
Vermelho; Sherlock Holmes; E O Vento Levou, entre muitas outras obras aclamadas, para mostrar as 
divergências do mundo imaginativo para o mundo real, a verdade presente em cada um e os questionamentos 
existentes sobre elas. 
 
Em seguida somos apresentados ao conceito da “suspenção da descrença”, que funciona como um acordo 
entre leitor e autor. Esse dogma tem como principal objetivo a premissa do entretenimento, em que os leitores 
aceitam a realidade paralela criada naquela obra a fim de que ela flua da maneira que o criador gostaria e 
entretenha o leitor em cada detalhe em seu conteúdo, ignorando assim elementos que sejam incoerentes com 
a visão que temos do mundo real. Juntamente com esse ideal, Eco nos mostra que é praticamente impossível 
que todos os leitores assinem esse contrato fictício e relevem os detalhes imaginativos dentro das obras. O 
autor fala de sua própria experiência e como a partir de certa marca de vendas, distribuição e público 
alcançado, essa ideia de suspender a descrença vai se tornando cada vez mais rasa até que, para alguns, se 
torne impraticável a negação da realidade. Esse ideal passa a ser a base de todo o capítulo e seu principal ponto 
de fundamentação. 
 
Ao alcançar determinada parte do texto, me vi representada pelo oposto dessa norma básica para lidar com 
obras ficcionais (a Suspensão da descrença). Quando Eco trata do livro A Metamorfose, ele conseguiu me 
deixar cada vez mais imersa em sua obra visto que trouxe lembranças de leituras passadas em que não consegui 
me ater ao acordo, o que me fez compreender suas ideias de forma mais completa. Ler a obra de Kafka foi 
como ser um dos leitores além da marca do meio milhão, como dito por Umberto Eco, em que o acordo entre 
autor e público não é mais aceito de forma plena por todos. Durante a leitura diversos questionamentos 
inegáveis passavam pela minha cabeça. Como pode um homem simplesmente acordar e estar transformado 
em um inseto? Por que esse tipo de inseto de tantos outros possíveis? O que o personagem fez para que 
acordasse assim? Como a família aceitou essa nova realidade? Essas, e muitas outras perguntas, surgiram 
durante A Metamorfose dando um fim no tal dogma e no entretenimento que a ficção criada poderia trazer ao 
leitor. 
 
Entre as obras referenciadas, Eco também cita Sherlock Holmes e como alguns leitores inserem a realidade 
de forma tão concisa dentro da história que até mesmo vão em busca de sua casa em Baker Street. Esse 
momento específico do texto me fez lembrar claramente dos meus 9 anos enquanto lia O cão dos Baskerville 
para um trabalho da escola, nessa época tinha a absoluta certeza de que o famoso detetive e seu parceiro John 
Watson realmente existiram e que suas investigações ocorreram de verdade. No decorrer da leitura, e da 
realização da atividade escolar, consegui compreender melhor a obra e como alguns elementos não faziam 
sentido na nossa realidade. Tive que colocar o mundo real como pano de fundo para conseguir fazer uma 
análise mais objetiva e realista com relação à história, mas de uma forma suave (como se esse pano fosse de 
uma seda extremamente fina) para que o conteúdo do livro não perdesse sua essência que foi construída com 
base em um mundo fictício, mas com elementos reais. Claro que aos nove anos de idade não sabia que era 
isso que estava fazendo, mas, de forma inconsciente, consegui separar a minha realidade daquela escrita por 
Conan Doyle e ao mesmo tempo compreender a parte imaginativa da história e aceitá-la por completo 
suspendendo assim a descrença. 
 
O texto aborda em toda sua extensão diversas perguntas: “o que é verdade?”, “ela só existe na nossa realidade 
ou o mundo ficcional também é verdadeiro?”, “podemos ser tão convictos sobre a verdade real quanto sobre 
a verdade ficcional?”, “até que ponto tudo isso se sustenta?”, “quais os limites dos questionamentos nas obras 
imaginativas?”. Essas questões continuam e em sua grande maioria não são respondidas pela obra do autor 
italiano. O livro funciona como uma grande narrativa que força a reflexão do público com relação a suas 
leituras e interpretações. Em poucos momentos o leitor é realmente apresentado a respostas concretas, na 
verdade, a obra em geral se fundamenta nas indagações do autor sendo inclusive concluída com uma pergunta 
não respondida. 
 
Anteriormente citei minha experiência com o livro A Metamorfose. Contudo, nunca havia pensado nos 
motivos que tornaram minha leitura a este livro de Kafka extremamente arrastada e tediosa. Foi a partir da 
reflexão criada por Eco que entendi por que passei a ter um preconceito com relação a esta e a outras escritas 
dele também. Essa imersão rasa (se é que posso chamar de imersão) no fictício e na imaginação, fez com que 
as críticas positivas e todas as aclamações a esse autor não fizessem o menor sentido para mim. Ao contrário 
da leitura das obras de Conan Doyle que realmente me traziam um forte entretenimento, Kafka era responsável 
apenas por uma imensa frustração e estranhamento com relação a suas obras. Agora compreendo as razões 
que levaram a isso e, assim como Eco, finalizo esse texto com alguns questionamentos sem respostas (pelo 
menos por enquanto): Com essas novas informações serei capaz de suspender a descrença e assim realmente 
obter o entretenimento, aproveitar e entender a profundidade e o respeito existente com relação a A 
Metamorfose? Será que com esse novo conhecimento e reflexão sobre suspenção da descrença, verdade real 
e ficcional, a leitura das obras de Kafka pode se tornar prazerosa de agora em diante? 
REFERÊNCIA: 
 
ECO, Umberto. In: SEIS passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. cap. 
Bosques Possíveis, p. 81-102.

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