Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC DANIELA DA SILVA LIRA EPILEPSIA IDIOPÁTICA FELINA: relato de caso MACEIÓ-AL 2018/1 DANIELA DA SILVA LIRA EPILEPSIA IDIOPÁTICA FELINA: relato de caso Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito final, para conclusão do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Cesmac, sob a orientação do professor Dr. Edson Figueiredo Gaudêncio Barbosa e coorientação da Médica Veterinária e Pós-Graduada em Neurologia Joana d’Arc Gomes de Oliveira. MACEIÓ-AL 2018/1 REDE DE BIBLIOTECAS CESMAC SETOR DE TRATAMENTO TÉCNICO L768e Lira, Daniela da Silva Epilepsia idiopática felina: relato de caso / Daniela da Silva Lira. Maceió: 2018. 19 f. TCC (Graduação Medicina Veterinária) –Centro Universitário CESMAC, Marechal Deodoro, AL, 2018 Orientador: Edson Figueiredo Gaudêncio Barbosa. Co-Orientadora: Joana Darc Gomes de Oliveira. 1. Neurologia. 2. Convulsão. 3.Gatos. I. Barbosa, Edson Figueiredo Gaudêncio. II. Oliveira, Joana Darc Gomes de. III. Titulo. CDU: 616.853 Bibliotecária: Ana Paula de Lima Fragoso Farias – CRB/4 - 2195 DANIELA DA SILVA LIRA EPILEPSIA IDIOPÁTICA FELINA: relato de caso Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito final, para conclusão do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Cesmac, sob a orientação do professor Dr. Edson Figueiredo Gaudêncio Barbosa e coorientação da Médica Veterinária e Pós-Graduada em Neurologia Joana d’Arc Gomes de Oliveira. APROVADO EM: 06/08/2018 Prof. Dr. Edson Figueiredo Gaudêncio Barbosa ORIENTADOR BANCA EXAMINADORA Profa. Ma. Giovana Patrícia de Oliveira e Souza Anderlini Profa. Ma. Leticia Gutierrez de Gutierrez AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, por estar sempre comigo. Aos meus pais Solange da Silva Lira e José Laerson de Lira, por serem a minha base, na qual sempre fizeram de tudo (por mais difícil que fosse, e foi), para que eu pudesse realizar meu sonho, ou melhor o começo dele, pois a jornada ainda é longa. Sou extremamente grata a Profa. Giovana Patrícia de Oliveira e Souza Anderlini, por ter me dado a oportunidade de conhecer a família Pedigree, na qual me acolheram com tanto carinho. Através dessa oportunidade eu pude conviver e acompanhar diversos profissionais, um belo exemplo: Joana d’Arc Gomes de Oliveira, minha coorientadora. Como não agradecer ao Prof. Edson Figueiredo Gaudêncio Barbosa meu orientador, por sempre ter acreditado em mim e por ter me apoiado tanto. Agradeço também ao meu companheiro Rafael Cordeiro Soares, por estar comigo em todos os momentos, sejam eles bons ou ruins ou de “aperreios”... mas sempre me motivando, fazendo com que eu me acalma-se e conseguisse ver que no final tudo daria certo. EPILEPSIA IDIOPÁTICA FELINA: relato de caso FELINE IDIOPATHIC EPILEPSY: case report Daniela da Silva Lira Graduanda em Medicina Veterinária liradani.al@gmail.com Edson Figueiredo Gaudêncio Barbosa Doutor em saúde animal edsondefigueiredo@gmail.com Joana d’Arc Gomes de Oliveira Pós-Graduada em Neurologia de Pequenos Animais jovetjor@yahoo.com.br RESUMO A epilepsia é uma síndrome que pode acometer várias espécies, podendo ser classificada quanto a sua apresentação clínica em generalizada e focal. Como também suas possíveis causas: epilepsias primárias (idiopáticas/ genéticas), epilepsias secundárias (estruturais) e sintomática provável (adquirida). O número de animais acometidos pela epilepsia idiopática é relativamente baixo sendo o percentual em cães de 5 a 5,7% da população e na espécie felina acomete cerca de 0,5 a 2% da sua população, tendo o surgimento primário das manifestações neurológicas logo após o primeiro ano de vida, podendo se estender até os 5 - 7 anos. A conclusão do diagnóstico se dá através da junção de uma série de fatores e exames complementares. Embora epilepsia idiopática trate-se de uma síndrome, na qual não exista um tratamento definitivo/reversivo, existem medidas que podem ser adotadas para diminuir/controlar as crises. O presente estudo possui importância significativa, cujo traz um apanhado atualizado referente a epilepsia idiopática felina. Tendo como objetivo relatar um caso acompanhado, embora seja uma síndrome pouco descrita/relatada, a mesma possui uma grande importância para a neurologia felina, como também para a clínica medica de felinos. PALAVRAS-CHAVE: Neurologia. Convulsão. Gatos. ABSTRACT Epilepsy is a syndrome that can affect several species, and can be classified as to its clinical presentation in general and focal. As well as its possible causes: primary (idiopathic / genetic) epilepsies, secondary epilepsies (structural) and probable (acquired) epilepsy. The number of animals affected by idiopathic epilepsy is relatively low and the percentage in dogs of 5 to 5.7% of the population and in the feline species affects about 0.5 to 2% of its population, with the primary appearance of neurological manifestations soon after the first year of life, and may extend up to 5 - 7 years. The conclusion of the diagnosis is through the combination of a series of factors and complementary tests. Although idiopathic epilepsy is a syndrome in which there is no definitive / reversible treatment, there are measures that can be taken to reduce / control seizures. The present study has significant importance, which brings an updated survey regarding feline idiopathic epilepsy. With the objective of reporting an accompanying case, although it is a poorly described / reported syndrome, it is of great importance for feline neurology as well as for feline medical practice. KEYWOEDS: Neurology. Seizure. Cats. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6 2 RELATO DE CASO ................................................................................................. 8 3 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 12 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 15 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 16 6 1 INTRODUÇÃO A epilepsia não é uma doença específica, porém a mesma pode ser caracterizada como uma síndrome, na qual ocorre uma atividade súbita e anormal em algumas regiões neuronais, causando assim diferentes manifestações clínicas, sendo as mais relatadas: convulsões recorrentes, sejam elas motoras, autonômicas/comportamentais ou de perda da consciência (BLOOD; STUDDERT, 2002; THOMAS; DEWEY, 2008; PÁKOZDY et al., 2010; BERENDT et al., 2015). O termo convulsão não é um sinônimo de epilepsia. A convulsão é uma manifestação clinica anormal, devido a diversos fatores, sendo os mais citados em literatura: contusão, intoxicação e tumores (THOMAS, 2010; MARIANI, 2013). Apesar dos primeiros relatos em humanos terem ocorridos por volta de 2080 a.C., a epilepsia em animais foi somente descrita na primeira metade do século IXX (GANDINI et al., 2010). A epilepsia classifica-se em três categorias. Essas classificações são oriundas dos mesmos esquemas utilizados nos humanos:epilepsias primárias (idiopáticas/ genéticas), epilepsias secundárias (estruturais) e sintomática provável (adquirida) (BASTOS, 2009; MOORE, 2013). Embora a epilepsia primária (EP) tenha sido descrita em diversas raças de cães por possuir um fundo genético, em felinos nenhuma causa de origem genética foi estabelecida, portanto nomeia-se como epilepsia idiopática (EI) (RUSBRIDGE, 2005; THOMAS, 2010). A EP acomete cerca de 5 a 5,7% da população canina, já na espécie felina esse índice é mais baixo, afetando aproximadamente 0,5 a 2% da sua população (SILVA, 2013; PANCOTTO, 2015; ROWENA, 2017). Felinos acometidos por EI tendem à apresentar o início das crises convulsivas geralmente ainda quando jovens, a faixa etária mais relatada do surgimento primário das manifestações neurológicas é logo após o primeiro ano de vida, podendo se estender até os 5 - 7 anos, o máximo descrito em literatura (PÁKOZDY et al., 2010; MOORE, 2014; WAHLE et al., 2014). As crises epilépticas são classificadas quanto a sua apresentação clínica, como generalizada e parciais. A generalizada ocorre quando há uma despolarização neural espontânea nos dois hemisférios cerebrais, causando uma ação de movimentos variados, podendo ser classificados como crises epiléticas: tônico- clônicas, tônicas, clônicas, atônicas, mioclônicas e de ausência (BARNES et al., 2004; BAILEY; DEWEY, 2009; BASTOS, 2009; DEWEY; COSTA, 2017). 7 Enquanto a parcial, o desequilíbrio elétrico ou despolarização concentra-se em apenas um dos hemisférios ou no córtex cerebral, levando a uma apresentação clínica mais branda, quando comparada com a generalizada, podendo ser classificada como crises epilépticas focais: com sinais motores, sinais autonômicos e comportamento anormal (CIZINAUSKAS et al.,2003; BARNES et al., 2004; BAILEY; DEWEY, 2009; DEWEY; COSTA, 2017). A apresentação das crises epilépticas, são divididas em três fases: pré-ictus, ictus e pós-ictus. Pré-ictus refere-se a fase que antecede a entrada do animal em status epilepticus, cujo o mesmo pode apresentar diversas atitudes atípicas, sendo as mais citadas: inquietação e vocalização. Ictus trata-se do momento convulsivo da crise generalizada. Pós-ictus é a fase que ocorre após a entrada do indivíduo em status, nesta etapa o animal pode apresentar diversas manifestações, na qual podem variar de acordo com a duração ou com a número de crises, sendo o andar compulsivo a manifestação mais relatada (PLATT; GAROSI, 2012; DEWEY; COSTA, 2017; HELLER, 2017). Algumas patologias, podem ser confundidas com a epilepsia, pelo fato de terem como uma manifestação clínica as crises convulsivas. A lista de diagnósticos diferenciais é enorme, para facilitar o raciocínio do neurologista torna-se prático a utilização do acrômio DINAMIT-V (tabela 01), referente as possíveis etiologias da doença primária (RUSBRIDGE, 2005; COSTA; MOORE, 2010). Tabela 01 – Acrômio DINAMIT-V. D Degenerativas I Inflamatórias / Infecciosas N Neoplásicas / Nutricionais A Anomalias congênitas M Metabólicas I Idiopáticas / Imunomediadas T Traumáticas / Tóxicas V Vascular Fonte: RUSBRIDGE, 2005. O diagnóstico se dá através da junção de uma série de fatores: histórico detalhado do animal, vídeos das crises, anamnese seguida de avaliação clínica e 8 neurológica, exames: hematológico, análise fluido cérebro espinhal (AFCE), tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM) do cérebro. Alguns testes de sorologia para descartar a hipótese de infecção por vírus, como: leucemia felina (FeLV), imunodeficiência felina (FIV) e peritonite infecciosa felina (PIF) (RUSBRIDGE, 2005; PÁKOZDY; HALASZ; KLANG, 2014; PANCOTTO, 2015). Embora a EI trate-se de uma síndrome, na qual não exista um tratamento definitivo/reversivo, existe medicamentos anticonvulsivantes (MAC) que podem controlar as crises (BASTOS, 2009). Em felinos o MAC de primeira escolha é o fenobarbital, porém outros fármacos também podem ser utilizados como: benzodiazepinas, levetiracetam, gabapentina e pregabalina, zonisamida, canabidiol e brometo de potássio (BOOTHE; GEORGE; COUCH, 2002; BAILEY et al., 2008; THOMAS; DEWEY, 2008; BAILEY; DEWEY, 2009; MONTOLIU, 2012; MUÑANA, 2013 a, b). Em felinos evita-se o uso do brometo de potássio, devido ao elevado número de problemas respiratórios adversos que podem surgir decorrente ao uso, pois o mesmo apresentar um sabor não palatável para os gatos, podendo assim causar bronco aspiração levando em cerca de 50% dos casos, a uma broncoalveolite eosinofílica, no qual torna-se de caráter reversível com a interrupção imediata da medicação (PODELL, 2004; RUSBRIDGE, 2005). Dessa forma o presente estudo possui importância significativa, cujo traz um apanhado atualizado referente a epilepsia idiopática felina e tem como objetivo relatar um caso acompanhado. Embora seja uma síndrome pouco descrita/relatada, a mesma possui uma grande importância para a neurologia felina, como também para a clínica medica de felinos. 2 RELATO DE CASO Foi atendido em uma clínica veterinária particular situada em Maceió/AL, um felino macho, de raça persa, com idade aproximada de 4 anos e meio, pesando 4,350Kg. O animal chegou à clínica apresentando uma crise convulsiva generalizada, no qual foi empregado o seguinte protocolo de emergência: Diazepam retal (0,5 mg/Kg); Dexametasona IV (0,1 ml/kg); Fenobarbital IV (2 mg/Kg); Manitol IV (5ml/kg). Após estabilizar o felino, realizou-se a anotação do histórico, no qual a proprietária relatou que a cerca de cinco dias, teria encontrado o animal todo sujo, 9 recoberto de saliva e urina. Entretanto o mesmo estava possuindo normodipsia, normofagia, evacuação presente e normúria, um dia antes da crise que o levou para o atendimento clínico, o felino apresentou algumas crises com intervalo médio de 40 minutos entre elas. Na ocasião foi realizado exame para FIV/FeLV, pelo método: SNAP IDEXX ELISA (Enzyme-Lynked Immunosorbent Assay), no qual apresentaram resultado negativo. O paciente precisava ser encaminhado para internação de no mínimo 24 horas, pois o mesmo deveria ser monitorado para dar continuidade no tratamento. O felino foi liberado após a estabilização do quadro, a plantonista relatou que o mesmo não apresentou crises convulsivas, durante o período internado. Para terapia domiciliar foi prescrito fenobarbital 2,5 mg/Kg, BID, por via oral, até novas recomendações. A tutora ao chegar em casa notou que o animal apresentou um novo episódio de crise, porém menos intensa. No dia seguinte, foi solicitado o retorno para uma nova avaliação clínica e posteriormente uma avaliação neurológica do animal, seguida da solicitação dos exames. A tutora relatou que o mesmo tinha apresentado aproximadamente cinco crises pela manhã, todas de caráter mais leve. Foi relatado que o felino passou a apresentar disfagia, leve constipação e vocalização. Foram solicitados os seguintes exames: Hemograma; Plaquetometria; Albumina; Colesterol; Creatinina; Fosfatase Alcalina (F.A.); Gama-Glutamil Transferase (G.G.T.); Glicose; Alanina aminotransferase (A.L.T.); Triglicérides; Ureia; Cálcio Total; Potássio; Sódio; RX Tórax. A maioria dos resultados obtidos permaneceram dentro dos referenciais, porém alguns apresentarão alterações, como mostra na tabela 02. Tabela 02 – Resultados dos exames que obtiveram alterações, nos valores de referencia Exames Resultados Valores de referencia Hematológico Linfócitos típicos 4,00% 20 a 55% Contagem de plaquetas 212 mil/mm³ 230 a 680 mil/mm³ G. G. T. 1,00 U.I./L 1,3 a 5,3 U.I./L Fonte: Dados da pesquisa. 10 As crises generalizadas continuaram, sendo que de forma mais branda, porémem uma frequência ainda indesejável, devido a isso foram solicitados outros exames complementares: AFCE e TC da região de cabeça (encefálica). Para terapia domiciliar houve o ajuste da dose do fenobarbital 2,9 mg/Kg BID, por via oral, até novas recomendações. Foi solicitado também a dosagem sérica do fenobarbital, na qual apresentou-se em 22,20 µg/mL estando assim dentro dos valores de referência (15 – 45 µg/mL). No resultado do AFCE, os valores da avaliação física, química e citológica (método de sedimentação) estavam dentro do padrão esperado com ausência de celularidade e bactérias. Na tomografia computadorizada, todas as estruturas cerebrais encontrava-se preservadas, sem nenhuma alteração, como mostras as figuras 01 e 02. Figura 01 – Tomografia computadorizada em felino, imagem do corte transversal do crânio, sem alterações. Fonte: Dados da pesquisa. 11 Figura 02 – Tomografia computadorizada em felino, imagem em corte sagital do crânio, sem alterações. Fonte: Dados da pesquisa. Após a realização de todos os exames, foram descartadas diversas possíveis causas de crises convulsivas em felinos, como: encefalite viral; tumores; encefalopatias; isquemia; deficiência de taurina, dentre outras. Somando os achados laboratoriais ao exame neurológico que se encontrava normal, tendo como manifestações neurológicas as crises, foi possível chegar ao diagnóstico de EI felina. Posteriormente o felino ficou sendo acompanhado a cada três meses, para que o mesmo repetisse a dosagem do fenobarbital, na qual apresentou um discreto aumento, passando a ser: 26,20 µg/mL, ainda dentro dos valore referenciais. A dose terapêutica do fenobarbital utilizada pelo felino foi reduzida para: 2mg/Kg BID (uso continuo). Após fazer esta alteração na dose, foi solicitado que o felino fizesse a repetição da dosagem com um intervalo de três meses. O felino apresentou um controle satisfatório das crises epilépticas, reduzindo- as a zero, porém foi solicitado que o paciente ficasse sendo acompanhado semestralmente, para monitoração das funções hepáticas e repetições da dosagem do fenobarbital. 12 3 DISCUSSÃO É grande a lista de possíveis causas de convulsão em felinos (tabela 03). Sendo a epilepsia a causa menos comum. O termo convulsão não tratar-se de um sinônimo para epilepsia, o mesmo esta comumente correlacionada como uma das manifestações clínica mais visualizada, em indivíduos portadores de epilepsia (COSTA; MOORE, 2010; THOMAS, 2010). Tabela 03 – Possíveis causas de convulsões em felinos Tipo Condições D Degenerativas Doença de armazenamento lisossomal I Inflamatórias Infecciosas Meningoencefalomielite granulomatosa, polioencefalomielite felina Peritonite infecciosa felina, toxoplasmose, vírus da imunodeficiência felina infecção N Neoplásicas Nutricionais Tumores cerebrais primários e secundários Deficiência de tiamina (vitamina B1) A Anomalias congênitas Hidrocefalia M Metabólicas Encefalopatia hepática, hipoglicemia, hipocalcemia I Idiopáticas Epilepsia (após todos os testes de diagnóstico, como: hematologia, análise do LCR, títulos virais e TC são normais) T Traumáticas Tóxicas Trauma ao cérebro ou diencéfalo Chumbo, organo fosforados, clorados hidrocarbonetos, metaldeído, permetrina V Vascular Necrose isquêmica cerebral Fonte: RUSBRIDGE, 2005. A epilepsia pode ser classificada em três categorias. Epilepsias primárias (idiopáticas/ genéticas), epilepsias secundárias (estruturais) e sintomática provável (adquirida). A EI felina, afeta aproximadamente 0,5 a 2% da sua população, sendo a faixa etária mais acometida de 1 a 4 anos (BASTOS, 2009; MOORE, 2013; WAHLE et al., 2014; PANCOTTO, 2015). 13 O felino descrito no presente estudo apresentou início das suas crises com aproximadamente quatro anos e meio, idade próxima do limite descrito em literatura, de 5 - 7 anos, podendo assim ser nomeada de borderline (MOORE, 2014). Em uma pesquisa realizada em 2014, a média da faixa etária era de 3 anos e 8 meses (WAHLE et al., 2014). Essa síndrome possui duas apresentações de crises, onde são classificadas quanto as suas manifestações clínicas, generalizada, onde o animal irá apresentar movimentos tônico-clônico propriamente ditas e a parcial, no qual apresenta-se de maneira mais branda, sendo mais relatado, espasmos faciais e movimentos repetitivos como catar moscas imaginárias (BASTOS, 2009; MARIANI, 2013; BERENDT et al., 2015). Para conclusão do diagnóstico, se faz necessário o levantamento do histórico do paciente, somando assim juntamente com os laudos dos exames complementares (RUSBRIDGE, 2005). A proprietária do felino relatou um histórico detalhado, tanto da rotina do animal como dos seus antecedentes médicos. O felino foi avaliado, solicitou- se a realização de alguns exames. Sendo a TC, AFCE e RM, os exames complementares de maior importância (BARNES et al., 2004; RUSBRIDGE, 2005; SCHRIEFL et al., 2008). Os exames de imagem são de grande importância para avaliação de um paciente neurológico, pois através deles conseguimos identificar ou descartar diversas possíveis causas, que possam está levando o animal à apresentar manifestações clínica. Sabendo-se que indivíduos portadores de EP, não iram apresentar alterações visíveis a nível estrutural (BASTOS, 2009; MOORE, 2013). Não existe tratamento definitivo, para a EI, porém pode-se fazer uso de medicamentos anticonvulsivantes, com o objetivo de controlar as crises. A escolha do fármaco e a dose cujo deverá ser utilizado, vai variar de acordo com o quadro do animal (THOMAS, 2000; BASTOS, 2009). O felino apresentou crises generalizadas em cluster. Para o controle da crise primária foi utilizado o fenobarbital e diazepam, porém para a manutenção foi prescrito apenas fenobarbital. O fenobarbital é um dos MAC mais utilizados na medicina veterinária, pois o mesmo apresenta um quantitativo de respostas satisfatórias em cães e gatos, baseando-se também no seu custo reduzido (PARENT, 2004; DEWEY; CARPENTER, 2012; TEIXEIRA, 2014). 14 Embora o fenobarbital seja de metabolização hepática, não é isso que o torna toxico, pois esse fármaco possui uma grande afinidade por moléculas de proteína, sendo a albumina a mais afetada. Quando ocorre a diminuição da concentração de albumina, os níveis de fenobarbital irão consequentemente sofrer um aumento, ou seja favorecendo assim que o animal entre em um quadro de hepatotoxicidade, sendo os felinos a espécie mais acometidos (PARENT, 2004; SILVA, 2013). Nos caninos os MAC de primeira escolha são: o fenobarbital e o brometo de potássio (THOMAS, 2010), já em felinos utiliza-se com mais frequência o fenobarbital e o diazepam, evita-se o uso do brometo de potássio em felinos, pois o mesmo possui gosto amargo, no qual predispõe em aproximadamente 50% dos casos a broncoaspiração, cujo pode agravar o quadro do animal (PODELL, 2004; RUSBRIDGE, 2005). É crescente os estudos relacionados a utilização de novos fármacos, para o controle das crises epiléticas. O canabidiol é uma das substâncias que mais vem sendo estudadas, apesar de existir uma grande dificuldade devido a restrições legais, pois o mesmo possui respostas satisfatórios no controle de indivíduos epilépticos (humanos e animais), possuindo um baixo índice de efeitos colaterais (BRUCKI et al., 2015; BELEM et al., 2017). Porém faz-se necessário um estudo mais aprofundado dessa substancia, para melhor entendimento da sua farmacodinâmica e farmacocinética. 15 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A epilepsia idiopática felina, é uma síndrome considerada incomum, tanto para a medicinade felinos como para os especialista em neurologia. Porém mesmo sendo uma síndrome pouco comum, pode-se dizer que existe diversos viés, no qual podem dificultar a conclusão do diagnóstico definitivo. A grande maioria dos indivíduos que chegam a clínica com quadros de crises convulsivas, acabam que são negligenciados quanto a investigação do real motivo para as crises, sendo os mesmo submetidos diretamente a tratamento prolongado com anticonvulsivantes, sendo o fenobarbital o mais usado. Vale lembrar que o uso de maneira aleatória desses medicamentos, sem antes verificar como estão os padrões bioquímicos, podem agravar o quadro desses animais. Quando corretamente investigado, após descartar as demais hipóteses que possui como manifestação clínica as convulsões, podemos enfim decidir qual o melhor protocolo terapêutico a ser seguido. Portanto, faz-se necessário esclarecer ao máximo o proprietário, sobre essa síndrome EI, deixando o mesmo ciente que apesar do tratamento não trazer a cura, o mesmo tem como objetivo dar uma sobrevida, melhorando assim o bem estar do animal. Sabendo que o indivíduo portador de EP torna-se eleito a fazer uso continuo de MAC, pelo resto de sua vida. 16 REFERÊNCIAS BAILEY, K. S. et al. Levetiracetam as an adjunct to phenobarbital treatment in cats with suspected idiopathic epilepsy. Journal of the American Veterinary Medical Association. n. 232, p. 867 – 872, 2008. BAILEY, K. S.; DEWEY, C. W. The seizuring cat. Journal of Feline Medicine and Surgery. v. 11, p. 385 – 389, 2009. BARNES, H. L. et al. Clinical signs, underlying cause and outcome in cats with seizures: 17 cases (1997–2002). Journal of the American Veterinary Medical Association. n. 225, p. 1723 – 1726, 2004. BASTOS, P. F. Epilepsia Idiopática Em Cães: revisão de literatura. 2009. 23 f. Monografia (Especialista em Clínica Médica de Pequenos Animais). Universidade Federal Rural do Semi-Árido – UFERSA, Salvador-BA, 2009. BELEM, B. et al. Uso de Canabidiol em Doenças Neurológicas. Boletim Informativo da Farmácia Universitária do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. v. 1, n. 201701, p. 1 – 11, 2017. BERENDT, M. et al. International veterinary epilepsy task force consensus report on epilepsy definition, classification and terminology in companion animals. BMC Veterinary Research. v. 11, n. 182, p. 1 – 11, 2015. BLOOD, D. C.; STUDDERT, V. P. Dicionário de Veterinária. Rio de Janeiro, Brasil: Editora Guanabara Koogan, 2002. BOOTHE, D. M.; GEORGE, K.L.; COUCH, P. Disposition and clinical use of bromide in cats. Journal of the American Veterinary Medical Association. n. 221, p.1131 – 1135, 2002. BRUCKI, S. et al. Cannabinoids in neurology–Brazilian Academy of Neurology. Arquivos de neuro-psiquiatria, v. 73, n. 4, p. 371-374, 2015. CIZINAUSKAS, S. et al. Can idiopathic epilepsy be confirmed in cats. Journal of the American Veterinary Medical Association. v. 17, p. 246, 2003. COSTA, R. C.; MOORE, S. A. Differential Diagnosis of Spinal Diseases. Veterinary Clinics: Small Animal Practice. p. 755 – 763, 2010. 17 DEWEY C. W.; CARPENTER D. M. Comparison of phenobarbital whith bromide as a firstchoise antiepileptic drug foe treatment of epilepsy in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association. n. 240, p. 1073 – 1083, 2012. DEWEY, C. W.; COSTA, R. C. Epilepsia, crises epilépticas e narcolepsia, In: Neurologia canina e felina – guia prático. Primeira edição, p. 289 – 310, 2017. GANDINI, G. et al. Cerebrum, In: Small Animal Neurology – An Illustrated Text. Schlütersche, 2010. HELLER, H. B. Feline Epilepsy. Veterinary Clinics: Small Animal Practice. p. 1 – 13, 2017. MARIANI, C. L. Terminology and classification of seizures and epilepsy in veterinary patients. Topics in Companion Animal Medicine. v. 28, n. 2, p. 34 – 41, 2013. MONTOLIU, P. Crisis epilépticas. In: MORALES, C.; MONTOLIU, P. (Eds.) Neurología Canina y Felina. Barcelona, Espanha: Multimédica Ediciones Veterinárias, p. 455 – 481, 2012. MOORE, S. A. A clinical and diagnostic approach to the patient with seizures. Topics in Companion Animal Medicine. p. 46 – 50, 2013. MOORE, S. A. Seizures and epilepsy in cats. Veterinary Medicine: Research and Reports. v. 5, p. 41 – 47, 2014. MUÑANA, K. R. Seizure Management in Small Animal Practice, Veterinary Clinics of north America. Veterinary Clinics: Small Animal Practice. v. 43, n. 5, p. 1127 – 1147, 2013 a. MUÑANA, K. R. Management of refractory Epilepsy. In: Topics in Companion Animal Medicine. v. 28, n. 2, p. 67 – 71, 2013 b. PÁKOZDY, A. et al. Clinical comparison of primary versus secondary epilepsy in 125 cats. Journal of Feline Medicine and Surgery. p. 910 – 916, 2010. PÁKOZDY, A.; HALASZ, P.; KLANG, A. Epilepsy in Cats: Theory and Practice Journal of the American Veterinary Medical Association. v. 28, p. 255 – 263, 2014. PANCOTTO, T. E. Fact Sheet: Idiopathic Epilepsy. American College of Veterinary Internal Medicine, 2015. 18 PARENT, J. R. Seizzures in the dog. In: World congress of The world small animal veterinary association. p. 30, 2004. PLATT, S.; GAROSI, L. Seizures. In: PLATT, S.; GAROSI, L. (Eds.) Small Animal Neurological Emergencies. p. 155 – 172, 2012. PODELL, M. Seizures. In: PLATT, S. R.; OLBY, N. J. (Eds.) Manual of canine and feline neurology. British Small Animal Veterinary Association. p. 97 – 112, 2004. ROWENA, M. A. P. Survival in feline epilepsy: the long and short. Veterinary Record. v. 181, p. 477 – 478, 2017. RUSBRIDGE, C. Diagnosis and control of epilepsy in the cat. In Practice. v. 27, p. 208 – 214, 2005. SCHRIEFL, S. et al. Etiologic classification of seizures, signalment, clinical signs, and outcome in cats with seizure disorders: 91 cases (2000–2004). Journal of the American Veterinary Medical Association. n. 233, p. 1591 – 1597, 2008. SILVA, G. C. Epilepsia Idiopática em Cães. 2013. 107 f. Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina Veterinária). Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias Da Universidade De Trás-Os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 2013. TEIXEIRA, A. S. M. B. Epilepsia Maneio Terapêutico Em Cães E Gatos. 2014. 36 f. Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina Veterinária). Escola Universitária Vasco Da Gama, Coimbra, 2014. THOMAS, W. B. Idiopathic epilepsy in dogs. In: The veterinary clinics of north america small animal practice - Common neurological problems. Pennsylvania, Philadelphia: W.B. Saunders Company. p.183 – 203, 2000. THOMAS, W. B., DEWEY, C. W. Seizures and Narcolepsy, In: A Practical Guide to Canine & Feline Neurology, Second Edition. Wiley-Blackwell, 2008. THOMAS, B. W. Idiopathic Epilepsy in Dogs and Cats. Veterinary Clinics: Small Animal Practice. p. 161 – 179, 2010. WAHLE, A. M. et al. Clinical characterization of epilepsy of unknown cause in cats. Journal of the American Veterinary Medical Association. p. 182 – 188, 2014.
Compartilhar