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[Digite aqui] 1 SUMÁRIO 1 DROGAS PSICOTRÓPICAS ...................................................................... 3 1.1 O que seria então uma droga psicotrópica? ......................................... 4 2 DROGAS DEPRESSORAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL ............. 7 2.1 Bebidas alcoólicas ................................................................................ 7 2.2 Aspectos históricos .............................................................................. 9 2.3 Aspectos gerais .................................................................................. 10 2.4 Efeitos agudos .................................................................................... 10 2.5 Álcool e Trânsito ................................................................................. 11 2.6 Alcoolismo .......................................................................................... 12 2.7 Efeitos no resto do corpo .................................................................... 13 2.8 Durante a gravidez ............................................................................. 14 2.9 Solventes ou inalantes ....................................................................... 14 2.10 Efeitos no cérebro ........................................................................... 16 2.11 Efeitos no resto do corpo ................................................................ 17 3 Efeitos tóxicos ........................................................................................... 18 3.1 Aspectos gerais .................................................................................. 18 4 TRANQUILIZANTES OU ANSIOLÍTICOS – BENZODIAZEPÍNICOS ....... 19 4.1 Efeitos no cérebro .............................................................................. 20 4.2 Efeitos no resto do corpo .................................................................... 20 4.3 Efeitos tóxicos .................................................................................... 21 4.4 Aspectos gerais .................................................................................. 21 4.5 Situação no Brasil .............................................................................. 21 5 Calmantes e sedativos .............................................................................. 22 5.1 Efeitos no cérebro .............................................................................. 23 5.2 Efeitos no resto do corpo .................................................................... 24 2 5.3 Efeitos tóxicos .................................................................................... 24 5.4 Aspectos gerais .................................................................................. 24 5.5 Situação no Brasil .............................................................................. 25 6 Ópio e Morfina – papoula do oriente, opiáceos, opióides ......................... 26 6.1 Efeitos no cérebro .............................................................................. 28 6.2 Efeitos no resto do corpo .................................................................... 29 6.3 Efeitos tóxicos .................................................................................... 30 7 Xaropes e gotas para tosse ...................................................................... 31 8 Efeitos no cérebro ..................................................................................... 32 8.1 Efeitos no resto do corpo .................................................................... 32 8.2 Efeitos tóxicos .................................................................................... 33 8.3 Aspectos gerais .................................................................................. 33 9 Situação no Brasil ..................................................................................... 34 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 35 10 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................ 38 3 1 DROGAS PSICOTRÓPICAS Fonte: www.cuantas.net O consumo de drogas sempre esteve presente na história da humanidade (SILVEIRA, 2008) e varia de acordo com o tempo e com a cultura (FOCCHI, 2001), assumindo, assim, diferentes sentidos em cada contexto. Segundo MacRae (2001, p. 3), “[...] longe de ter uma natureza genérica, a droga assume diferentes significados em diferentes ocasiões”, o que equivale a dizer que existem múltiplos aspectos relacionados à droga, que vão desde o farmacológico, o psicológico, o social, até o político, econômico e cultural, todos eles indissociáveis e entrelaçados, de modo muito particular, e em cada época e em cada sociedade. Em linguagem comum, de todo o dia, droga tem um significado de coisa ruim, sem qualidade. Já em linguagem médica, droga é quase sinônimo de medicamento. O termo droga teve origem na palavra droog (holandês antigo) que significa folha seca; isto porque antigamente quase todos os medicamentos eram feitos à base de vegetais. Atualmente, a medicina define droga como sendo: qualquer substância que é capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. Por exemplo, uma substância ingerida contrai os vasos sanguíneos (modifica a função) e a pessoa passa a ter um aumento de pressão arterial (mudança na fisiologia). Outro exemplo, uma substância faz com que as células do nosso cérebro 4 (os chamados neurônios) fiquem mais ativas, “disparem” mais (modificam a função) e como consequência a pessoa fica mais acordada, perdendo o sono (mudança comportamental). 1.1 O que seria então uma droga psicotrópica? Psicotrópica, naturalmente de origem grega nos remete ao psiquismo, ou seja, à mente e trópico, aqui significa ter atração por. Então psicotrópico significa atração pelo psiquismo e drogas psicotrópicas são aquelas que atuam sobre o nosso cérebro, alterando de alguma maneira o nosso psiquismo. Mas estas alterações do nosso psiquismo não são sempre no mesmo sentido e direção. Obviamente elas dependerão do tipo de droga psicotrópica que foi ingerida e sobre esses grupos é que trataremos a partir de agora. Um primeiro grupo é aquele de drogas que diminuem a atividade do nosso cérebro, ou seja, deprimem o funcionamento do mesmo, o que significa dizer que a pessoa que faz uso desse tipo de droga fica “desligada”, “devagar”, desinteressada pelas coisas. Por isso estas drogas são chamadas de Depressoras da Atividade do Sistema Nervoso Central (SNC). Num segundo grupo de drogas psicotrópicas estão aquelas que atuam por aumentar a atividade do nosso cérebro, ou seja, estimulam o funcionamento fazendo com a pessoa que se utiliza dessas drogas fique “ligada”, “elétrica”, sem sono. Por isso essas drogas recebem a denominação de Estimulantes da Atividade do Sistema Nervoso Central. Finalmente, há um terceiro grupo, constituído por aquelas drogas que agem modificando qualitativamente a atividade do nosso cérebro; não se trata, portanto, de mudanças quantitativas como de aumentar ou diminuir a atividade cerebral. Aqui a mudança é de qualidade! O cérebro passa a funcionar fora do seu normal, e a pessoa fica com a mente perturbada. Por esta razão este terceiro grupo de drogas recebe o nome de Perturbadores da Atividade do Sistema Nervoso Central (CEBRID, 2003). De acordo com Silva e Amaral (1999), quatro são as razões principais que levam as pessoas a usarem drogas: Para reduzir sentimentos desagradáveis de angústia e depressão; 5 Para exaltar sensações corporais e provocar gratificações sensoriais de natureza estética e, especialmente,eróticas; Para aumentar rendimentos psicofísicos, reduzindo sensações corporais desagradáveis, como dor, insônia, cansaço ou superando necessidades fisiológicas como o sono e a fome; Como meio de transcender as limitações do corpo e o jugo do espaço- temporalidade, unindo-se à realidade por trás de todos os fenômenos ou, mais limitadamente, a alguma entidade espiritual qualquer, capaz de conferir-lhe, pelo menos temporariamente, poderes especiais. As três principais categorias de drogas são as estimulantes, depressoras e perturbadoras. Os psico-estimulantes abrangem um grupo de drogas de diversas estruturas e que têm em comum, ações como aumento da atividade motora e redução da necessidade de sono (CARLINI, 1994). Estas drogas diminuem a fadiga, induzem a euforia e apresentam efeitos simpaticomiméticos (aumento das ações do sistema nervoso simpático). Compreendem as seguintes drogas: anfetamina e cocaína. As drogas alucinógenas ou “psicodélicas” apresentam a capacidade de produzir alucinações sem delírio, dentre elas está o LSD, dietilamina do ácido lisérgico e a maconha (CARLINI, 1994). São características, as alterações sensoriais cuja intensidade depende da dose utilizada, indo de simples aberrações da percepção de cor e forma dos objetos até a degradação da personalidade. As características das alucinações variam de um indivíduo para outro, presumivelmente de acordo com sua personalidade e com os tipos de interesse que desenvolve. As alucinações podem ser visuais, auditiva, tátil, olfativa, gustativa ou percepção anestésica na ausência de um estímulo externo (CARLINI, 1994). Há distorção do espaço, e os objetos visualizados agigantam-se ou se reduzem, inclusive partes do próprio corpo. Pode ocorrer o fenômeno da despersonalização, com a sensação de que o corpo ou uma de suas partes estão desligados. Altera-se a sensação subjetiva de tempo, e minutos podem parecer horas (CARLINI, 1994). 6 Nas fases de alucinações mais intensas podem ocorrer ansiedade, desorientação e pânico. Muitos apresentam depressão grave com tentativa de suicídio. No caso da Maconha, o princípio ativo é o D9 canabinol (THC) descrito como uma substância neuromoduladora que atua através de receptor localizado na membrana celular e altera a produção de um 2º mensageiro regulado por outro neurotransmissor (CARLINI, 1994). O THC produz uma alteração bifásica, euforia (fase estimulante) e sedação (fase depressiva). Durante a fase estimulante é descrito como uma ação semelhante ao estado de sonho, pode ocorrer distorção visual e do tempo. A concentração pode estar comprometida. A memória diminui e o apetite é suprimido refletindo o efeito do THC sobre os receptores da acetilcolina e da serotonina respectivamente. Após a fase estimulante, é comum sono e letargia. Os efeitos psíquicos são decorrentes do uso dependente. A literatura descreve sinais de ansiedade que pode aproximar do pânico. A síndrome amotivacional é outra característica da personalidade do indivíduo. Voltando um pouco às drogas psicoativas, estas alteram o comportamento, humor e cognição, agindo preferencialmente nos neurônios e afetando o Sistema Nervoso Central. Já as drogas psicotrópicas vão além das psicoativas, pois possuem grande propriedade reforçadora, sendo passíveis de autoadministração, ou seja, levam à dependência. Conforme ressalta Carlini (1994), apesar do desconhecimento da maioria das pessoas, o álcool é considerado também uma droga psicotrópica, tendo seu consumo admitido e incentivado pela sociedade, sendo encarado de forma diferenciada, quando comparado com as demais drogas. Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM IV), os distúrbios relacionados com uso de drogas podem ser divididos em dois grupos: por uso das substâncias ou induzido por elas. No primeiro grupo estão as dependências e os abusos das substâncias e no segundo grupo: intoxicação, privação, delírios, demências, distúrbios amnésticos persistentes, psicótico, afetivo, de ansiedade, sexual e do sono. 7 2 DROGAS DEPRESSORAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL 2.1 Bebidas alcoólicas O consumo de bebidas alcoólicas pode ser apontado como um dos principais fatores responsáveis pela alta incidência dos acidentes automotivos com vítimas. De uma maneira geral, em vários países, costuma-se considerar que entre metade e um quarto dos acidentes com vítimas fatais estejam associados ao uso do álcool (PINSKY; LARANJEIRA, 1989). Vale ressaltar que o consumo de bebidas alcoólicas também é apontado no Brasil como um dos principais fatores causais de acidentes. Em aproximadamente 70% dos acidentes de trânsito violentos com mortes, o álcool é o principal responsável. De acordo com estatísticas do Grupo de Socorro Emergencial (GSE) do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, 30,9% dos motoristas que precisaram de socorro exibiam sinais da presença de teor alcoólico no organismo (LIMA, 2003). É importante observar que qualquer bebida contém a mesma quantidade de álcool puro por dose padrão e, ao beber um copo de 300 ml ou uma “latinha” (350 ml) de cerveja, estaremos ingerindo a mesma quantidade de álcool puro, ou seja, em torno de 12 gramas, a mesma quantidade que há em uma taça de vinho ou dose de cachaça / uísque, alcançando a taxa de 0,2g/l (alcoolemia). Portanto, uma pessoa pode atingir 0,6g/l de álcool ao consumir três latas de cerveja ou três doses de uísque, variando um pouco conforme a massa corporal e a sensibilidade ao álcool do organismo (LIMA, 2003) Ainda, a alcoolemia em torno de 0,4-0,6g/l já pode representar efetivo fator de risco ao provocar manifestações neuro-cognitivas e comportamentais em algumas pessoas a depender de certos fatores individuais (LIMA, 2003). Acima dessa taxa, o álcool pode promover euforia, desinibição, impulsividade, agressividade ou passividade. Tais considerações são importantes no que tange à possibilidade de riscos com níveis mais baixos do que é habitualmente permitido (0,5g/l de sangue). O simples fato de coibir níveis de alcoolemia acima do permitido é insuficiente, em tese, para garantir ausência dos acidentes. Dessa forma, os 8 resultados dependem em grande parte da maneira de implementação de programas de prevenção (MOURÃO, 2000). O álcool é um depressor de muitas ações no Sistema Nervoso Central, e esta depressão é dose-dependente. Apesar de ser consumido especialmente pela sua ação estimulante, esta é apenas aparente e ocorre com doses moderadas, resultando da depressão de mecanismos controladores inibitórios. O córtex, que tem um papel integrador, sob o efeito do álcool é liberado desta função, resultando em pensamento desorganizado e confuso, bem como interrupção adequada do controle motor (SILVA E AMARAL, 1999). Embora não seja objetivo específico deste curso falar sobre o trânsito, temos que aceitar uma verdade: grande parte dos acidentes acontece em decorrência de condutores alcoolizados. Segundo o site Vias Seguras (2009), dentre as causas comportamentais de acidentes tem-se: Sub-avaliação da probabilidade de acidente; Desatenção; Cansaço; Deficiências (visual, auditiva ou motora); Consumo de álcool; Consumo de droga; Excesso de velocidade; Desrespeito à distância mínima entre veículos; Ultrapassagem indevida; Outras infrações de motoristas; Não-uso de cinto, de capacete, de proteção para criança; Imprudência de pedestres, de ciclistas, de motociclistas. Essas causas potenciais de acidentes são extremamente bem conhecidas e foram combatidas eficazmente em muitos países pelas seguintes etapas: Conscientização; Regulamentação (se for o caso); Repressão (se for o caso). 9 A Portaria n. 168 de 14/12/2004, em vigor a partir de junho de 2006, exige que todo condutor tenha curso de “Direção Defensiva” como condiçãode obtenção ou renovação da Carteira de Habilitação. Um manual sobre a direção defensiva foi editado pelo DENATRAN em maio de 2006 e contém instruções sobre todos os aspectos da direção segura que permite prevenir e evitar os acidentes ou limitar as consequências dos mesmos: manutenção do veículo e verificação das suas condições, postura do condutor, uso do cinto, dos retrovisores, atenção aos elementos externos (via, condições climáticas, outros usuários) e recomendações quanto a possíveis situações de risco (VIAS SEGURAS, 2009). As alterações sofridas pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), lei n. 9.503 de 23 de setembro de 1997, principalmente em seu artigo 218, através da lei n. 11.334 de 25 de julho de 2006, alterando os limites de velocidade é mais uma ação em prol da diminuição dos acidentes de trânsito, visto que o excesso de velocidade, distração e alcoolismo são os grandes vilões. 2.2 Aspectos históricos Toda a história da humanidade está permeada pelo consumo de álcool. Registros arqueológicos revelam que os primeiros indícios sobre o consumo de álcool pelo ser humano datam de aproximadamente 6000 a.C., sendo, portanto, um costume extremamente antigo e que tem persistido por milhares de anos. A noção de álcool como uma substância divina, por exemplo, pode ser encontrada em inúmeros exemplos na mitologia, sendo talvez um dos fatores responsáveis pela manutenção do hábito de beber ao longo do tempo. Inicialmente, as bebidas tinham conteúdo alcoólico relativamente baixo, como, por exemplo, o vinho e a cerveja, já que dependiam exclusivamente do processo de fermentação. Com o advento do processo de destilação, introduzido na Europa pelos árabes na Idade Média, surgiram novos tipos de bebidas alcoólicas, que passaram a ser utilizadas na sua forma destilada. Nesta época, este tipo de bebida passou a ser considerado como um remédio para todas as doenças, pois “dissipavam as preocupações mais rapidamente do que o vinho e a cerveja, além de produzirem um alívio mais eficiente da dor”, surgindo então a palavra whisky (do gálico usquebaugh, que significa “água da vida”). 10 A partir da Revolução Industrial, registrou-se um grande aumento na oferta deste tipo de bebida, contribuindo para um maior consumo e, consequentemente, gerando um aumento no número de pessoas que passaram a apresentar algum tipo de problema devido ao uso excessivo de álcool. 2.3 Aspectos gerais Apesar do desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o álcool também é considerado uma droga psicotrópica, pois ele atua no sistema nervoso central, provocando uma mudança no comportamento de quem o consome, além de ter potencial para desenvolver dependência. O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e até incentivado pela sociedade. Esse é um dos motivos pelo qual ele é encarado de forma diferenciada, quando comparado com as demais drogas. Apesar de sua ampla aceitação social, o consumo de bebidas alcoólicas, quando excessivo, passa a ser um problema. Além dos inúmeros acidentes de trânsito e da violência associada a episódios de embriaguez, o consumo de álcool a longo prazo, dependendo da dose, frequência e circunstâncias, pode provocar um quadro de dependência conhecido como alcoolismo. Desta forma, o consumo inadequado do álcool é um importante problema de saúde pública, especialmente nas sociedades ocidentais, acarretando altos custos para sociedade e envolvendo questões, médicas, psicológicas, profissionais e familiares. 2.4 Efeitos agudos A ingestão de álcool provoca diversos efeitos, que aparecem em duas fases distintas: uma estimulante e outra depressora. Nos primeiros momentos após a ingestão de álcool, podem aparecer os efeitos estimulantes como euforia, desinibição e loquacidade1. Com o passar do tempo, começam a aparecer os efeitos depressores como falta de coordenação motora, 1 Maior facilidade para falar. 11 descontrole e sono. Quando o consumo é muito exagerado, o efeito depressor fica exacerbado, podendo até mesmo provocar o estado de coma. Os efeitos do álcool variam de intensidade de acordo com as características pessoais. Por exemplo, uma pessoa acostumada a consumir bebidas alcoólicas sentirá os efeitos do álcool com menor intensidade, quando comparada com uma outra pessoa que não está acostumada a beber. Um outro exemplo está relacionado a estrutura física; uma pessoa com uma estrutura física de grande porte terá uma maior resistência aos efeitos do álcool. O consumo de bebidas alcoólicas também pode desencadear alguns efeitos desagradáveis, como enrubescimento da face, dor de cabeça e um mal-estar geral. Esses efeitos são mais intensos para algumas pessoas cujo organismo tem dificuldade de metabolizar o álcool. O oriental, em geral, tem uma maior probabilidade de sentir esses efeitos. 2.5 Álcool e Trânsito Fonte: avnutrition.webnode.com.br 12 A ingestão de álcool, mesmo em pequenas quantidades, diminui a coordenação motora e os reflexos, comprometendo a capacidade de dirigir veículos, ou operar outras máquinas. Pesquisas revelam que grande parte dos acidentes são provocados por motoristas que haviam bebido antes de dirigir. Neste sentido, segundo a legislação brasileira (Código Nacional de Trânsito, que passou a vigorar em janeiro de 1998) deverá ser penalizado todo o motorista que apresentar mais de 0,6 gramas de álcool por litro de sangue. A quantidade de álcool necessária para atingir essa concentração no sangue é equivalente a beber cerca de 600ml de cerveja (duas latas de cerveja ou três copos de chope), 200ml de vinho (duas taças) ou 80ml de destilados (duas doses). 2.6 Alcoolismo Fonte: dicassobresaude.com A pessoa que consome bebidas alcoólicas de forma excessiva, ao longo do tempo, pode desenvolver dependência do álcool, condição esta conhecida como “alcoolismo”. Os fatores que podem levar ao alcoolismo são variados, podendo ser de origem biológica, psicológica, sociocultural ou ainda ter a contribuição resultante de todos estes fatores. A dependência do álcool é uma condição frequente, atingindo cerca de 5 a 10% da população adulta brasileira. 13 A transição do beber moderado ao beber problemático ocorre de forma lenta, tendo uma interface que, em geral, leva vários anos. Alguns dos sinais do beber problemático são: desenvolvimento da tolerância, ou seja, a necessidade de beber cada vez maiores quantidades de álcool para obter os mesmos efeitos; o aumento da importância do álcool na vida da pessoa; a percepção do “grande desejo” de beber e da falta de controle em relação a quando parar; síndrome de abstinência (aparecimento de sintomas desagradáveis após ter ficado algumas horas sem beber) e o aumento da ingestão de álcool para aliviar a síndrome de abstinência. A síndrome de abstinência do álcool é um quadro que aparece pela redução ou parada brusca da ingestão de bebidas alcoólicas após um período de consumo crônico. A síndrome tem início 6-8 horas após a parada da ingestão de álcool, sendo caracterizada pelo tremor das mãos, acompanhado de distúrbios gastrointestinais, distúrbios de sono e um estado de inquietação geral (abstinência leve). Cerca de 5% dos que entram em abstinência leve evoluem para a síndrome de abstinência severa ou delirium tremens que, além da acentuação dos sinais e sintomas acima referidos, caracteriza-se por tremores generalizados, agitação intensa e desorientação no tempo e espaço. 2.7 Efeitos no resto do corpo Os indivíduos dependentes do álcool podem desenvolver várias doenças. As mais frequentes são as doenças do fígado (esteatose hepática, hepatite alcoólica e cirrose). Também são frequentes problemas do aparelho digestivo (gastrite, síndrome de má absorção e pancreatite), no sistema cardiovascular (hipertensão e problemasno coração). Também são frequentes os casos de polineurite alcoólica, caracterizada por dor, formigamento e câimbras nos membros inferiores. 14 2.8 Durante a gravidez Fonte: www.ultracurioso.com.br O consumo de bebidas alcoólicas durante a gestação pode trazer consequências para o recém-nascido, sendo que, quanto maior o consumo, maior a chance de prejudicar o feto. Desta forma, é recomendável que toda gestante evite o consumo de bebidas alcoólicas, não só ao longo da gestação como também durante todo o período de amamentação, pois o álcool pode passar para o bebê através do leite materno. Cerca de um terço dos bebês de mães dependentes do álcool, que fizeram uso excessivo durante a gravidez, são afetados pela “Síndrome Fetal pelo Álcool”. Os recém-nascidos apresentam sinais de irritação, mamam e dormem pouco, além de apresentarem tremores (sintomas que lembram a síndrome de abstinência). As crianças severamente afetadas e que conseguem sobreviver aos primeiros momentos de vida, podem apresentar problemas físicos e mentais que variam de intensidade de acordo com a gravidade do caso (CEBRID, 2002). 2.9 Solventes ou inalantes A palavra solvente significa substância capaz de dissolver coisas e inalante é toda substância que pode ser inalada, isto é, introduzida no organismo através da aspiração pelo nariz ou boca. Via de regra, todo o solvente é uma substância 15 altamente volátil, isto é, se evapora muito facilmente sendo daí que pode ser facilmente inalada. Outra característica dos solventes ou inalantes é que muitos deles (mas não todos) são inflamáveis, isto é, pegam fogo facilmente. Um número enorme de produtos comerciais, como esmaltes, colas, tintas, thinners, propelentes, gasolina, removedores, vernizes, etc., contém estes solventes. Eles podem ser aspirados tanto involuntariamente (por exemplo, trabalhadores de indústrias de sapatos ou de oficinas de pintura, o dia inteiro expostos ao ar contaminado por estas substâncias) ou voluntariamente (por exemplo, a criança de rua que cheira cola de sapateiro; o menino que cheira em casa acetona ou esmalte, ou o estudante que cheira o corretivo Carbex, etc.). Todos estes solventes ou inalantes são substâncias pertencentes a um grupo químico chamado de hidrocarbonetos, tais como o tolueno, xilol, n-hexana, acetato de etila, tricloroetileno, etc. Para exemplificar, eis a composição de algumas colas de sapateiro vendidas no Brasil: Cascola - mistura de tolueno + n-hexano; Patex Extra - mistura de tolueno + acetato de etila + aguarrás mineral; Brascoplast - tolueno + acetato de etila + “solvente para borracha”. No ano de 1991 uma fábrica de cola do interior do Estado de São Paulo fez ampla campanha publicitária afirmando que finalmente havia fabricado uma cola de sapateiro “sem ser tóxica e que não produzia vício”, porque não continha Tolueno. Foi um comportamento muito errado desta indústria, desonesto mesmo, dado que a tal cola ainda continha o solvente n-hexano que é sabidamente bastante tóxico. Um produto muito conhecido no Brasil é o “cheirinho” ou “loló” ou ainda o “cheirinho da loló”. Este é um preparado clandestino (isto é, fabricado não por um estabelecimento legal, mas sim por pessoal do submundo), à base de clorofórmio mais éter e utilizado só para fins de abuso. Mas já se sabe que quando estes “fabricantes” não encontram uma daquelas duas substâncias eles misturam qualquer outra coisa em substituição. Assim, em relação ao cheirinho da loló não se sabe bem a sua composição, o que complica quando se tem casos de intoxicação aguda por esta mistura. Ainda, é importante chamar a atenção para o lança-perfume. Este nome designa inicialmente aquele líquido que vem em tubos e que se usa em carnaval; é a base de cloreto de etila ou cloretila e sendo proibido a sua fabricação no Brasil ela só 16 aparece nas ocasiões de carnaval, contrabandeada de outros países sul-americanos. Mas cada vez mais o nome lança-perfume está também sendo utilizado para designar o “cheirinho da loló”; por exemplo, os meninos de rua de várias capitais brasileiras já usam estes dois nomes - cheirinho e lança - para designar a mistura de clorofórmio e éter. 2.10 Efeitos no cérebro Fonte: www.cerebromente.org.br O início dos efeitos, após a aspiração, é bastante rápido - de segundos a minutos no máximo - e em 15-40 minutos já desaparecem; assim o usuário repete as aspirações várias vezes para que as sensações durem mais tempo. Os efeitos dos solventes vão desde uma estimulação inicial seguindo-se uma depressão, podendo também aparecer processos alucinatórios. Vários autores dizem que os efeitos dos solventes (qualquer que seja ele) lembram aqueles do álcool sendo, entretanto, que este último não produz alucinações, fato bem descrito para os solventes. Dentre esses efeitos dos solventes o mais predominante é a depressão. Entretanto os principais efeitos dos solventes são caracterizados por uma depressão do cérebro. De acordo com o aparecimento dos efeitos após inalação de solventes, eles foram divididos em quatro fases: 17 Primeira fase: é a chamada fase de excitação e é a desejada, pois a pessoa fica eufórica, aparentemente excitada, ocorrendo tonturas e perturbações auditivas e visuais. Mas pode também aparecer náuseas, espirros, tosse, muita salivação e as faces podem ficar avermelhadas. Segunda fase: a depressão do cérebro começa a predominar, com a pessoa ficando em confusão, desorientada, voz meio pastosa, visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça, palidez; a pessoa começa a ver ou ouvir coisas. Terceira fase: a depressão se aprofunda com redução acentuada do alerta, incoordenação ocular (a pessoa não consegue mais fixar os olhos nos objetos), incoordenação motora com marcha vacilante, a fala “enrolada”, reflexos deprimidos; já pode ocorrer evidentes processos alucinatórios. Quarta fase: depressão tardia, que pode chegar à inconsciência, queda da pressão, sonhos estranhos, podendo ainda a pessoa apresentar surtos de convulsões (“ataques”). Esta fase ocorre com frequência entre aqueles cheiradores que usam saco plástico e após um certo tempo já não conseguem afastá-lo do nariz e assim a intoxicação torna-se muito perigosa, podendo mesmo levar ao coma e morte. Finalmente, sabe-se que a aspiração repetida, crônica, dos solventes pode levar a destruição de neurônios (as células cerebrais) causando lesões irreversíveis do cérebro. Além disso pessoas que usam solventes cronicamente apresentam-se apáticas, têm dificuldade de concentração e déficit de memória. 2.11 Efeitos no resto do corpo Os solventes praticamente não atuam em outros órgãos, a não ser o cérebro. Entretanto, existe um fenômeno produzido pelos solventes que pode ser muito perigoso. Eles tornam o coração humano mais sensível a uma substância que o nosso corpo fabrica, a adrenalina, que faz o número de batimentos cardíacos aumentar. Esta adrenalina é liberada toda vez que o corpo humano tem que exercer um esforço extra, por exemplo, correr, praticar certos esportes, etc. Assim, se uma pessoa inala um solvente e logo depois faz esforço físico, o seu coração pode sofrer, pois ele está muito sensível à adrenalina liberada por causa do esforço. A literatura médica já conhece vários casos de morte, por síncope cardíaca, principalmente de adolescentes, devido a estes fatos. 18 3 EFEITOS TÓXICOS Os solventes quando inalados cronicamente podem levar a lesões da medula óssea, dos rins, do fígado e dos nervos periféricos que controlam os nossos músculos. Por exemplo, verificou-se em outros países que em fábricas de sapatos ou oficinas de pintura os operários, com o tempo, acabavam por apresentar doenças renais e hepáticas. Tanto que naqueles países há uma rigorosa legislação sobre as condições de ventilação dessas fábricas; o Brasil tambémtem leis a respeito. Em alguns casos, principalmente quando existe no solvente uma impureza, o benzeno, mesmo em pequenas quantidades, pode haver diminuição de produção de glóbulos brancos e vermelhos pelo organismo. Um dos solventes bastante usados nas nossas colas é a n-hexana. Esta substância é muito tóxica para os nervos periféricos, produzindo degeneração progressiva dos mesmos, a ponto de causar transtornos no marchar (as pessoas acabam andando com dificuldade, o chamado “andar de pato”), podendo até chegar a paralisia. Há mesmo caso de usadores crônicos que após alguns anos só podiam se locomover em cadeira de roda. 3.1 Aspectos gerais A dependência naqueles que abusam cronicamente de solventes é comum, sendo os componentes psíquicos da dependência os mais evidentes, tais como: desejo de usar, perda de outros interesses que não seja o de usar solvente. A síndrome de abstinência, embora de pouca intensidade, está presente na interrupção abrupta do uso dessas drogas, aparecendo ansiedade, agitação, tremores, câimbras nas pernas e insônia. Em relação à tolerância mostra que ela pode ocorrer, embora não tão dramática quanto outras drogas (como as anfetaminas, por exemplo, os dependentes passam a tomar doses de 50-70 vezes maiores que as iniciais). Dependendo da pessoa e do solvente, a tolerância se instala ao fim de 1 a 2 meses. Os solventes são as drogas mais usadas entre os meninos (as) de rua e entre os estudantes da rede pública de ensino, quando se exclui da análise o álcool e o tabaco (CEBRID, 2003). 19 4 TRANQUILIZANTES OU ANSIOLÍTICOS – BENZODIAZEPÍNICOS Fonte: www.dentcare.odo.br Existem medicamentos que têm a propriedade de atuar quase que exclusivamente sobre a ansiedade e tensão. Estas drogas foram chamadas de tranquilizantes, por tranquilizar a pessoa estressada, tensa e ansiosa. Atualmente, prefere-se designar estes tipos de medicamentos pelo nome de ansiolíticos, ou seja, que destroem (lise) a ansiedade. De fato, este é o principal efeito terapêutico destes medicamentos: diminuir ou abolir a ansiedade das pessoas, sem afetar em demasia as funções psíquicas e motoras. Antigamente o principal agente ansiolítico era uma droga chamada meprobamato que praticamente desapareceu das farmácias com a descoberta de um importante grupo de substâncias: os benzodiazepínicos. De fato, estes medicamentos estão entre os mais utilizados no mundo todo, inclusive no Brasil. Para se ter ideia atualmente há mais de 100 remédios no nosso país à base destes benzodiazepínicos. Estes têm nomes químicos que terminam geralmente pelo sufixo pam. Sendo assim, é relativamente fácil a pessoa, quando toma um remédio para acalmar-se, saber o que realmente está tomando: tendo na fórmula uma palavra terminando em pam, é um benzodiazepínico. Exemplos: diazepam, bromazepam, clobazam, clorazepam, estazolam, flurazepam, flunitrazepam, lorazepam, nitrazepam, etc. 20 A única exceção é a substância chamada clordizepóxido que também é um benzodiazepínico. Por outro lado, estas substâncias são comercializadas pelos laboratórios farmacêuticos com diferentes nomes “fantasia”, existindo assim dezenas de remédios com nomes diferentes: Noan®, Valium®, Aniolax®, Calmociteno®, Dienpax®, Psicosedin®, Frontal®, Frisium®, Kiatrium®, Lexotan®, Lorax® Urbanil®, Somalium® etc., são apenas alguns dos nomes. 4.1 Efeitos no cérebro Todos os benzodiazepínicos são capazes de estimular os mecanismos no nosso cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade. Assim, quando, devido às tensões do dia-a-dia ou por causas mais sérias, determinadas áreas do nosso cérebro funcionam exageradamente resultando num estado de ansiedade, os benzodiazepínicos exercem um efeito contrário, isto é, inibem os mecanismos que estavam hiperfuncionantes e a pessoa fica mais tranquila como que desligada do meio ambiente e dos estímulos externos. Como consequência desta ação os ansiolíticos produzem uma depressão da atividade do nosso cérebro que se caracteriza por: 1) diminuição de ansiedade; 2) indução de sono; 3) relaxamento muscular; 4) redução do estado de alerta. É importante notar que estes efeitos dos ansiolíticos benzodiazepínicos são grandemente alimentados pelo álcool, e a mistura álcool + estas drogas pode levar uma pessoa ao estado de coma. Além desses efeitos principais os ansiolíticos dificultam os processos de aprendizagem e memória, o que é, evidentemente, bastante prejudicial para as pessoas que habitualmente utilizam-se destas drogas. Finalmente, é importante ainda lembrar que estas drogas também prejudicam em parte nossas funções psicomotoras, prejudicando atividades como dirigir automóveis, aumentando a probabilidade de acidentes. 4.2 Efeitos no resto do corpo Os benzodiazepínicos são drogas muito específicas em seu modo de agir: têm predileção quase que exclusiva pelo cérebro. Desta maneira, nas doses terapêuticas não produzem efeitos dignos de nota sobre os nossos vários outros órgãos. 21 4.3 Efeitos tóxicos Do ponto de vista orgânico ou físico os benzodiazepínicos são drogas bastante seguras, pois são necessárias grandes doses (20 a 40 vezes mais altas que as habituais) para trazer efeitos mais graves: a pessoa fica com hipotonia muscular (mole), dificuldade grande para ficar de pé e andar, a pressão do sangue cai bastante e pode desmaiar. Mas mesmo assim a pessoa dificilmente chega a entrar em coma e a morrer. Entretanto, a situação muda muito de figura se a pessoa, além de ter tomado o benzodiazepínico, também ingeriu bebida alcoólica. Nestes casos a intoxicação torna-se séria, pois há grande diminuição da atividade do cérebro podendo levar ao estado de coma. Outro aspecto importante quanto aos efeitos tóxicos refere-se ao uso por mulheres grávidas. Suspeita-se que estas drogas tenham um poder teratogênico razoável, isto é, que possam produzir lesões ou defeitos físicos na criança por nascer. 4.4 Aspectos gerais Os benzodiazepínicos quando usados por alguns meses seguidos podem levar as pessoas a um estado de dependência. Como consequência, sem a droga o dependente passa a sentir muita irritabilidade, insônia excessiva, sudoração, dor pelo corpo todo podendo, nos casos extremos, apresentar convulsões. Se a dose tomada já é grande desde o início a dependência ocorre mais rapidamente ainda. Há também desenvolvimento de tolerância, embora esta não seja muito acentuada, isto é, a pessoa acostumada à droga não precisa aumentar a dose para obter o efeito inicial. 4.5 Situação no Brasil Conforme já foi dito existem muitas dezenas de remédios no Brasil à base dos ansiolíticos benzodiazepínicos. Até recentemente era comum os médicos chamados de obesologistas (que tratam das pessoas obesas para emagrecerem) colocarem nas receitas estes benzodiazepínicos para tirar o “nervoso” produzido pelas drogas que tiram o apetite. Atualmente, segundo CEBRID (2002) a legislação não permite essa mistura. 22 Além disso, há um verdadeiro abuso por parte dos laboratórios nas indicações destes medicamentos para todos os tipos de ansiedades, mesmo aquelas que são normais, isto é, causadas pelas tensões da vida cotidiana. Não é, portanto, surpreendente que, em um levantamento sobre o uso não médico de drogas psicotrópicas por estudantes em dez capitais brasileiras, em 1997, os ansiolíticos estivessem em terceiro lugar na preferência geral, sendo esse uso muito mais intenso nas meninas do que nos meninos. Os benzodiazepínicos são controlados pelo Ministério da Saúde, isto é, a farmácia só pode vendê-los mediante receita especial do médico, que fica retida para posterior controle, o que nem sempre acontece (CEBRID, 2002) 5 CALMANTES E SEDATIVOS Fonte: www.blogdasaude.com.br Sedativo é nome que se dá aos medicamentos capazes de diminuir a atividade de nosso cérebro, principalmente quandoele está num estado de excitação acima do normal. O termo sedativo é sinônimo de calmante ou sedante. 23 Quando um sedativo é capaz de diminuir a dor ele recebe o nome de analgésico. Já quando o sedativo é capaz de afastar a insônia, produzindo o sono, ele é chamado de hipnótico ou sonífero. E quando um calmante tem o poder de atuar mais sobre estados exagerados de ansiedade, ele é denominado de ansiolítico. Finalmente, existem algumas destas drogas que são capazes de acalmar o cérebro hiperexcitados dos epilépticos. São as drogas antiepilépticas, capazes de prevenir as convulsões destes doentes. Neste tópico será abordado um grupo de drogas - tipo sedativos-hipnóticos - que são chamados de barbitúricos. Alguns deles também são úteis como antiepilépticos. Estas drogas foram descobertas no começo do século XX e diz a história que o químico europeu que fez a síntese de uma delas pela primeira vez - grande descoberta - foi fazer a comemoração em um bar. E lá, encantou-se com a garçonete, linda moça que se chamava Bárbara. Num acesso de entusiasmo, o nosso cientista resolveu dar ao composto recém-descoberto o nome de barbitúrico (CEBRID, 2003). 5.1 Efeitos no cérebro Os barbitúricos são capazes de deprimir várias áreas do nosso cérebro; como consequência as pessoas podem ficar mais sonolentas, sentindo-se menos tensas, com uma sensação de calma e de relaxamento. As capacidades de raciocínio e de concentração ficam também afetadas. Com doses um pouco maiores do que as recomendadas pelos médicos, a pessoa começa a sentir-se como que embriagada (sensação mais ou menos semelhante à de tomar bebidas alcoólicas em excesso): a fala fica “pastosa”, a pessoa pode sentir-se com dificuldade de andar direito. Os efeitos acima descritos deixam claro que quem usa estes barbitúricos tem a atenção e suas faculdades psicomotoras prejudicadas; assim sendo, fica perigoso operar máquina, dirigir automóvel, etc. 24 5.2 Efeitos no resto do corpo Os barbitúricos são quase que exclusivamente de ação central (cerebral), isto é, não agem nos nossos demais órgãos. Assim, a respiração, o coração e a pressão do sangue são afetados quando o barbitúrico, em dose excessiva, age nas áreas do cérebro que comandam as funções dos órgãos acima citados. 5.3 Efeitos tóxicos Os barbitúricos são drogas perigosas porque a dose que começa a intoxicar as pessoas está próxima da que produz os efeitos terapêuticos desejáveis. Com estas doses tóxicas começam a surgir sinais de incoordenação motora, um estado de inconsciência começa a tornar conta da pessoa, ela passa a ter dificuldade para se movimentar, o sono fica muito pesado e por fim aparece um estado de coma. A pessoa não responde a nada, a pressão do sangue fica muito baixa e a respiração é tão lenta que pode parar. A morte ocorre exatamente por parada respiratória. É muito importante saber que estes efeitos tóxicos ficam muito mais intensos se a pessoa ingere álcool ou outras drogas sedativas. Às vezes intoxicação séria pode ocorrer por este motivo. Outro aspecto importante quanto aos efeitos tóxicos refere-se ao uso por mulheres grávidas. Estas drogas têm potencial teratogênico, além de provocarem sinais de abstinência (tais como dificuldades respiratórias, irritabilidade, distúrbios de sono e dificuldade de alimentação) em recém-nascidos de mães que fizeram uso durante a gravidez. 5.4 Aspectos gerais Existem muitas evidências de que os barbitúricos levam as pessoas a um estado de dependência; com o tempo a dose tem também que ser aumentada, ou seja, há o desenvolvimento de tolerância. Estes fenômenos se desenvolvem com maior rapidez quando doses iniciais grandes são usadas desde o início. Quando a pessoa está dependente dos barbitúricos e deixa de tomá-los, passa a ter a síndrome de abstinência. Esta vai desde insônia rebelde, irritação, agressividade, delírios, 25 ansiedade, angústia, até convulsões generalizadas. A síndrome de abstinência requer obrigatoriamente tratamento médico e hospitalização, pois há perigo de a pessoa vir a falecer. 5.5 Situação no Brasil Os barbitúricos eram usados de maneira até irresponsável no Brasil. Vários remédios para dor de cabeça, além de aspirina, continham também um barbitúrico qualquer. Assim, os antigos Cibalena, Veramon, Optalidom, Florinal etc, tinham o butabarbital ou secobarbital (dois tipos de barbitúricos) em suas fórmulas. O uso abusivo que se registrou no Brasil - muita gente usando grandes quantidades, repetidamente - de medicamentos como o Optalidon e o Fiorinal, levaram os laboratórios farmacêuticos a modificarem as fórmulas destes medicamentos, retirando os barbitúricos das mesmas. Hoje em dia existem apenas alguns produtos, usados como sedativos- hipnóticos, que ainda apresentam o barbitúrico butabarbital. Por outro lado, o fenobarbital é bastante usado no Brasil (e no mundo) pois é um ótimo remédio para os epilépticos. Finalmente, um outro barbitúrico, o tiopental é usado por via endovenosa, exclusivamente por anestesistas, para provocar a anestesia em cirurgias. A lei brasileira exige que todos os medicamentos que contenham barbitúricos em suas fórmulas só sejam vendidos nas farmácias com a receita do médico, para posterior controle pelas autoridades sanitárias (CEBRID, 2003). 26 6 ÓPIO E MORFINA – PAPOULA DO ORIENTE, OPIÁCEOS, OPIÓIDES Fonte: www.taringa.net Muitas substâncias com grande atividade farmacológica podem ser extraídas de uma planta chamada Papaver somniferum, conhecida popularmente com o nome de papoula do oriente. Ao se fazer cortes na cápsula da papoula, quando ainda verde, obtém-se um suco leitoso, o ópio (a palavra ópio em grego quer dizer suco). Quando seco este suco passa a se chamar pó de ópio. Nele existem várias substâncias com grande atividade. A mais conhecida é a morfina, palavra que vem do deus da mitologia grega Morfeu, o deus dos sonhos. Pelo próprio segundo nome da planta somniferum, de sono, e do nome morfina, de sonho, já dá para fazer uma ideia da ação do ópio e da morfina no homem: são depressores do sistema nervoso central, isto é, fazem nosso cérebro funcionar mais devagar. Mas o ópio ainda contém mais substâncias sendo que a codeína é também bastante conhecida. Ainda, é possível obter-se outra substância, a heroína, ao se fazer pequena modificação química na fórmula da morfina. A heroína é então uma substância semissintética (ou semi-natural). 27 Estas substâncias todas são chamadas de drogas opiáceas ou simplesmente opiáceos, ou seja, oriundas do ópio; podem ser: Opiáceos naturais quando não sofrem nenhuma modificação (morfina, codeína) ou, Opiáceos semi-sintéticos quando são resultantes de modificações parciais das substâncias naturais (como é o caso da heroína). Mas o ser humano foi capaz de imitar a natureza fabricando em laboratórios várias substâncias com ação semelhante à dos opiáceos: a meperidina, o propoxifeno, a metadona são alguns exemplos. Estas substâncias totalmente sintéticas são chamadas de opióides (isto é, semelhantes aos opiáceos). Estas substâncias todas são colocadas em comprimidos ou ampolas, tornando- se então medicamentos. A tabela abaixo dá exemplos de alguns destes medicamentos. Tabela - Nome de alguns medicamentos vendidos no Brasil contendo drogas tipo ópio (naturais ou sintéticos) nas suas formulações (segundo Dicionário de Especialidades Farmacêuticas - DEF 1990/91). Opiáceo ou Opióide Indicação de uso médico Nomes comerciais dos medicamentos Preparações farmacêuticas Naturais: Morfina Analgésico Morfina Ampolas; comprimidos Pó de ópio Anti-diarréico; Analgésico Tintura de ópio; Elixir Paregórico; Elixir de Dover Tintura alcoólica Codeína Antitussígeno; Analgésico Belacodid; Belpar; Codelasa; Gotas Binelli; Naquinto; Setux; Tussaveto; Tussodina;Tylex; Pastilhas Veabon; Gotas; comprimidos; supositórios 28 Pastilhas Warton; Benzotiol Sintéticos: Meperidina ou Petidina Analgésico Dolantina: Demerol; Meperidina Ampola; comprimidos Propoxífeno Analgésico Algafan®; Doloxene A; Febutil; Previum Compositum; Femidol Ampolas; comprimidos Fentanil Analgésico Fentanil; Inoval Ampolas Semi-Sintético: Heróina Proibido o uso médico - - Metadona Tratamento de dependentes de morfina e heroína Não existe no Brasil - Zipeprol* Antitussígeno Eritós; Nantux; Silentós; Tussiflex Gotas; xaropes; supositórios * A classificação do Zipeprol como uma substância com ação de opiáceo foi recente. A intoxicação com esta substância pode com frequência vir acompanhada de convulsões (CEBRID, 2003). 6.1 Efeitos no cérebro Todas as drogas tipo opiáceo ou opióide têm basicamente os mesmos efeitos no SNC: diminuem a sua atividade. As diferenças ocorrem mais num sentido quantitativo, isto é, são mais ou menos eficientes em produzir os mesmos efeitos; tudo fica então sendo principalmente uma questão de dose. Assim temos que todas essas drogas produzem uma analgesia e uma hipnose (aumentam o sono): daí receberem também o nome de narcóticos que significa exatamente as drogas capazes de produzir estes dois efeitos: sono e diminuição da dor. Recebem também por isto o nome de drogas hipnoanalgésicas. Agora, para algumas drogas a dose necessária para este efeito é pequena, ou seja, elas são bastante potentes como, por exemplo, a 29 morfina e a heroína; outras, por sua vez, necessitam doses 5 a 10 vezes maiores para produzir os mesmos efeitos como a codeína e a meperidina. Algumas drogas podem ter também uma ação mais específica, por exemplo, de deprimir os acessos de tosse. É por esta razão que a codeína é tão usada como antitussígeno, ou seja, é muito boa para diminuir a tosse. Outras têm a característica de levarem a uma dependência mais facilmente que as outras; daí serem muito perigosas como é o caso da heroína. Além de deprimir os centros da dor, da tosse e da vigília (o que causa sono) todas estas drogas em doses um pouco maior que as terapêuticas acabam também por deprimir outras regiões do nosso cérebro como, por exemplo, os que controlam a respiração, os batimentos do coração e a pressão do sangue. Via de regra as pessoas que usam estas substâncias sem indicação médica, ou seja, abusam das mesmas, procuram efeitos característicos de uma depressão geral do nosso cérebro: um estado de torpor, como que isolamento das realidades do mundo, uma calmaria onde realidade e fantasia se misturam, sonhar acordado, um estado sem sofrimento, o afeto meio embotado e sem paixões. Enfim, um fugir das sensações que são a essência mesma do viver: sofrimento e prazer que se alternam e se constituem em nossa vida psíquica plena. 6.2 Efeitos no resto do corpo As pessoas sob ação dos narcóticos apresentam uma contração acentuada da pupila dos olhos (“menina dos olhos”): ela às vezes chega a ficar do tamanho da cabeça de um alfinete. Há também uma paralisia do estômago e a pessoa sente-se empachada, com o estômago cheio como se não fosse capaz de fazer a digestão. Os intestinos também ficam paralisados e como consequência a pessoa que abusa destas substâncias geralmente apresenta forte prisão de ventre. É baseado neste efeito que os opiáceos são utilizados para combater as diarreias, ou seja, são usados terapeuticamente como antidiarréicos. 30 6.3 Efeitos tóxicos Os narcóticos sendo usados através de injeções dentro das veias, ou em doses maiores por via oral, podem causar grande depressão respiratória e cardíaca. A pessoa perde a consciência, fica de cor meio azulada porque a respiração muito fraca quase não mais oxigena o sangue e a pressão arterial cai a ponto de o sangue não mais circular direito: é o estado de coma que se não for atendido pode levar à morte. Literalmente centenas ou mesmo milhares de pessoas morrem todo ano na Europa e Estados Unidos intoxicadas por heroína ou morfina. Além disso, como muitas vezes este uso é feito por injeção, com frequência os dependentes acabam também por pegar infecções como hepatites e mesmo aids. Aqui no Brasil, uma destas drogas tem sido utilizada com alguma frequência por injeção venosa: é propoxifeno (principalmente o Algafan®). Acontece que esta substância é muito irritante para as veias, que se inflamam e chegam a ficar obstruídas. Existem vários casos de pessoas com sérios problemas de circulação nos braços por causa disto. Há mesmo descrição de amputação deste membro devido ao uso crônico de Algafan®. Outro problema com estas drogas é a facilidade com que elas levam à dependência, ficando as mesmas como o centro da vida das vítimas. E quando estes dependentes, por qualquer motivo, param de tomar a droga, ocorre um violento e doloroso processo de abstinência, com náuseas e vômitos, diarreia, câimbras musculares, cólicas intestinais, lacrimejamento, corrimento nasal, etc., que pode durar até 8-12 dias. Além do mais o organismo humano se torna tolerante a todas estas drogas narcóticas. Ou seja, como o dependente destas não mais consegue se equilibrar sem sentir os seus efeitos ele precisa tomar cada vez doses maiores, se enredando cada vez mais em dificuldades, pois para adquiri-la é preciso cada vez mais dinheiro. Para se ter uma ideia de como os médicos temem os efeitos tóxicos destas drogas basta dizer que eles relutam muito em receitar a morfina (e outros narcóticos) para cancerosos, que geralmente têm dores extremamente fortes. E assim milhares de doentes de câncer padecem de um sofrimento muito cruel, pois a única substância capaz de aliviar a dor, a morfina ou outro narcótico, tem também estes efeitos indesejáveis. Nos dias de hoje a própria Organização Mundial da Saúde tem 31 aconselhado os médicos de todo o mundo que nestes casos, o uso contínuo de morfina é plenamente justificado. Felizmente, são pouquíssimos os casos de dependência com estas drogas no Brasil, principalmente quando comparado com os problemas de outros países. Entretanto, nada garante que esta situação não poderá modificar-se no futuro (CEBRID, 2003). 7 XAROPES E GOTAS PARA TOSSE Fonte: www.medclick.com.br Os xaropes são formulações farmacêuticas que contêm grande quantidade de açucares, fazendo com que o líquido fique “viscoso”, “meio grosso” (“xaroposo”). Neste veículo ou líquido coloca-se então a substância medicamentosa que vai trazer o efeito benéfico desejado pelo médico que a receitou. Assim, existem xaropes para tosse onde o medicamento ativo é geralmente a codeína ou o zipeprol. Mas também existem outras maneiras de preparar tais remédios. Ao invés de colocá-los num xarope, faz-se uma solução aquosa, às vezes com um pouco de álcool, tendo-se assim as chamadas gotas para tosse. A substância ativa contida nas gotas é também geralmente a codeína ou o zipeprol. Estas duas substâncias, codeína e zipeprol, estão entre os remédios mais ativos para combater a tosse: são por isto chamadas de antitussígenas ou béquicas. Existe um número muito grande de produtos comerciais a base de codeína. Assim, Belacodid®, Belpar®, Codelasa®, Gotas Binelli®, Pambenyl®, Setux®, 32 Tussaveto®, etc., são remédios contra tosse que contêm esta substância como principal de suas fórmulas. Remédios antitussígenos feitos com zipeprol também existiam no Brasil até o ano de 1991 (quando foram retirados do comércio) como, por exemplo, Eritós®, Nantux®, Silentós®, e Tussiflex®. Lembremos que a codeína conforme já explicado é uma substância que vem do ópio; trata-se, desta maneira, de um opiáceo natural. O zipeprol é uma substância sintética, isto é, fabricado em laboratório. Devido a sua grande toxicidade, o zipeprol foi recentemente banido no Brasil; isto é, está proibido fabricar ouvender remédios à base desta substância no território nacional. 8 EFEITOS NO CÉREBRO O cérebro humano possui uma certa área - a chamada Centro da Tosse - que comanda os nossos acessos de tosse. Isto é, toda vez que ele é estimulado há a emissão de uma “ordem” para que a pessoa tussa. Existem drogas (codeína, zipeprol), que são capazes de inibir ou bloquear este centro da tosse; assim, mesmo que haja um estímulo para ativá-lo, o centro estando bloqueado pela droga não reage, isto é, não dá mais a “ordem” para a pessoa tossir; ou seja, a tosse que vinha ocorrendo deixa de existir. Mas a codeína e o zipeprol agem em mais regiões no cérebro. Assim, outros centros que comandam as funções de nossos órgãos são também inibidos; com a codeína, a pessoa sente menos dor (ela é um bom analgésico), pode ficar sonolenta, a pressão do sangue, o número de batimentos do coração e a respiração podem ficar diminuídas. O zipeprol pode atuar no nosso cérebro, fazendo a pessoa sentir-se meio aérea, flutuando, sonolenta, vendo ou sentindo coisas diferentes. E com frequência leva também a acessos de convulsão, o que é obviamente bastante perigoso. 8.1 Efeitos no resto do corpo A codeína possui os vários efeitos das drogas do tipo opiáceas. Assim, é capaz de dilatar a pupila, de dar uma sensação de má digestão e produzir prisão de ventre. 33 O zipeprol, além da possibilidade de produzir convulsões, já discutida, pode também produzir náuseas. 8.2 Efeitos tóxicos A codeína quando tomada em doses maiores do que a terapêutica produz uma acentuada depressão das funções cerebrais. Como consequência a pessoa fica apática, a pressão do sangue cai muito, o coração funciona com grande lentidão e a respiração torna-se muito fraca. Como consequência a pele fica fria (a temperatura do corpo diminui) e meio azulada (cianose) por respiração insuficiente. Pode a pessoa ficar em estado de coma, inconsciente, e se não for tratada pode morrer. Por exemplo, num Pronto-Socorro na cidade de São Paulo, num período de 10 meses, 17 crianças de 20 dias até 2 anos de idade foram tratadas por intoxicação por causa de xaropes ou gotas para tosse tomadas em excesso (Setux, Belpar, Belacodid, Espasmoplus). Todas estas crianças apresentavam dificuldade respiratória, a pele estava fria e meio azulada, as pupilas contraídas; mal conseguiam chorar e não tinham forças para mamar. Em outro Hospital estavam internados 9 jovens devido a abuso de produtos à base de zipeprol; destes 6 já tinham tido convulsões (CEBRID, 2002). 8.3 Aspectos gerais A codeína leva rapidamente o organismo a um estado de tolerância. Isto significa que a pessoa que vem tomando xarope à base de codeína, como “vício”, acaba por aumentar cada vez mais a dose diária. Assim, não é incomum saber-se de casos de pessoas que tomam vários vidros de xaropes ou de gotas para continuar sentindo os mesmos efeitos. E se elas deixam de tomar a droga, estando já dependentes, aparecem sintomas da chamada síndrome de abstinência. Calafrios, câimbras, cólicas, nariz escorrendo, lacrimejando, inquietação, irritabilidade e insônia são os sintomas mais comuns da abstinência. Com o zipeprol há também o fenômeno da tolerância embora em intensidade menor. O pior aspecto do uso crônico (repetido) dos produtos à base do zipeprol é a possibilidade de ocorrência de convulsões. 34 9 SITUAÇÃO NO BRASIL Os xaropes e gotas à base de codeína só podem ser vendidos nas farmácias brasileiras com a apresentação da receita do médico, que fica retida nas farmácias para posterior controle. Infelizmente isto nem sempre acontece. Os remédios à base de zipeprol foram banidos, isto é, não existe mais para a venda. Isto ocorreu pelo fato de que houve várias mortes de jovens que abusaram destas substâncias, principalmente crianças de rua. 35 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Lei n. 11.343 de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad e dá outras providências. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm Acesso em: 10 set. 2010. BRASIL. Lei n. 11.705 de 19 de junho de 2008. Altera o CTB e dispõe sobre restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas e dá outras providências. Disponível em: http://planalto.gov.br Acesso em: 10 set. 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Código Internacional de Doenças. Capítulo XX. Disponível em: tabnet.datasus.gov.br/cgi/sih/mxcid10.htm Acesso em: 10 set. 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS. Disponível em: http://w3.datasus.gov.br/datasus/index.php?area=0204 Acesso em: 10 set. 2010. BRITO FILHO, Dilermando. Toxicologia Humana e Geral. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu. 2 ed. Rio de Janeiro, 1988. CARLINI, E. A.; NAPPO, S. A.; GALDURÓZ, J. C. A cocaína no Brasil ao longo dos últimos anos. 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A empolgação inicial deu lugar à preocupação com o consumo ao final da mesma década: pesquisadores começavam a detectar potencial de uso nocivo e risco de dependência entre os usuários de tais substâncias1 (D). Atualmente, os BDZs ainda possuem indicações precisas para controle da ansiedade e como tratamento adjuvante dos principais transtornos psiquiátricos, mas continuam sendo prescritos de modo indiscriminado, tanto por psiquiatras quanto por médicos de outras especialidades2 (C). Estima-se que 50 milhões de pessoas façam uso diário de benzodiazepínicos. A maior prevalência encontra-se entre as mulheres acima de 50 anos, com problemas médicos e psiquiátricos crônicos. Os benzodiazepínicos são responsáveis por cerca de 50% de toda a prescrição de psicotrópicos3(B). Atualmente, um em cada 10 adultos recebem prescrições de benzodiazepínicos a cada ano, a maioria desta feita por clínicos gerais4(D). Estima-se que cada clínico tenha em sua lista 50 pacientes 39 dependentes de benzodiazepínicos, metade destes gostariam de parar o uso, no entanto 30% pensam que o uso é estimulado pelos médicos5(D). A mortalidade nos dependentes de benzodiazepínicos é três vezes maior que na população geral, porém não se observa aumento significativo da mortalidade em pacientes dependentes de benzodiazepínicos quando comparados com pacientes com similar grau de morbidade6 (C). Há algumas características farmacológicas que influenciam a escolha do tipo de benzodiazepínico a ser prescrito pelo médico: LIPOSSOLUBILIDADE Os benzodiazepínicos são altamente lipossolúveis, o que lhes permite uma absorção completa e penetração rápida no SNC, após a ingestão oral. A lipossolubilidade é variável entre os benzodiazepínicos; o midazolam e o lorazepam também possuem boa hidrossolubilidade e são agentes seguros para a administração intramuscular. Já o diazepam e o clordiazepóxido são altamente lipossolúveis e, por isso, têm distribuição errática quando administrados por essa via. Desse modo, a utilização da via intramuscular deve ser evitada para esses7 (D). METABOLIZAÇÃO E MEIA-VIDA As vias de metabolização e a meia-vida são aspectos importantes, tanto para escolha terapêutica de um benzodiazepínico quanto para o manejo de intercorrências como intoxicações e síndrome de abstinência. Os benzodiazepínicos têm metabolização hepática8 (D). O clordiazepóxido é ostensivamente metabolizado. Já o lorazepam e o oxazepam são conjugados diretamente, demandando pouco trabalho hepático, portanto estão indicados para os idosos e hepatopatas7 (D). Os benzodiazepínicos são classificados, de acordo com sua meia-vida plasmática, como sendo de ação muito curta, curta, intermediária e longa. Apesar dessa divisão, sabe-se hoje que o grau de afinidade da substância pelo receptor benzodiazepínico também interfere na duração da ação. 40 Os benzodiazepínicos possuem cinco propriedades farmacológicas. São sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, relaxantes musculares e anticonvulsivantes8 (D). Apesar de presentes em qualquer tipo de BDZ, algumas propriedades são mais notórias em um do que em outro. O midazolam é um BDZ com propriedades eminentemente sedativa-hipnóticas. Já o alprazolam é mais ansiolítico e menos sedativo. EFEITOS COLATERIAIS Apesar de geralmente bem tolerados, os BDZs podem apresentar efeitos colaterais (Quadro 1), principalmente nos primeiros dias9 (D). Desse modo, os pacientes devem ser orientados a não realizarem tarefas capazes de expô-los a acidentes, tais como conduzir automóveis ou operar máquinas. Quadro 1 Efeitos colaterais dos benzodiazepínicos Efeitos colaterais dos benzodiazepínico Sonolência excessiva diurna (“ressaca”); Piora da coordenação motora fina; Piora da memória (amnésia anterógrada); Tontura, zumbidos; Quedas e fraturas; Reação paradoxal: Consiste de excitação, agressividade e desinibição, ocorre mais frequentemente em crianças, idosos e em deficientes mentais9 (D); “Anestesia emocional” – indiferença afetiva a eventos da vida10(D); Idosos: maior risco de interação medicamentosa, piora dos desempenhos psicomotor e cognitivo (reversível), quedas e risco de acidentes no trânsito; Risco de dependência 50% dos que usaram por mais de um ano chegaram a usar por 5 a 10 anos10(D PRECAUÇÕES, CUSTOS E RISCOS COM O USO DE BENZODIAZEPÍNICOS Ao escolher um tratamento com benzodiazepínicos, deve-se pensar também nas complicações potenciais, tais como: efeitos colaterais, risco de dependência e custos sociais11(D) (Quadro 2). 41 Quadro 2 Custos socioeconômicos do uso prolongado de BDZs (12 meses ou mais Risco aumentado de acidentes: no tráfego, em casa, no trabalho; Risco aumentado de overdose em combinação com outras drogas; Risco aumentado de tentativas de suicídio, especialmente em depressão; Risco de atitudes antissociais; Contribuição para problemas na interação interpessoal; Redução da capacidade de trabalho, desemprego; Custo com internações, consultas, exames diagnósticos. SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA DOS BENZODIAZEPÍNICOS (SAB) Os benzodiazepínicos têm potencial de abuso: 50% dos pacientes que usam benzodiazepínicos por mais de 12 meses evoluem com síndrome de abstinência (provavelmente ainda mais em clínicas especializadas)12(D). Os sintomas começam progressivamente dentro de 2 a 3 dias após a parada de benzodiazepínicos de meia-vida curta e de 5 a 10 dias após a parada de benzodiazepínicos de meia-vida longa, podendo também ocorrer após a diminuição da dose13(D) (Quadro 3). Quadro 3 Sinais e sintomas da síndrome de abstinência por BDZ 11(D) Sinais menores Sinais maiores Físicos Químicos Convulsões Tremores Insônia Alucinações Sudorese Irritabilidade Delirium Palpitações Dificuldade de concentração Letargia Inquietação Náuseas Agitação Vômitos Pesadelos Anorexia Disforia 42 Sintomasgripais Prejuízo da memória Cefaleia Despersonalização Dores musculares Abstinência refere-se à emergência de novos*sintomas seguintes à descontinuação ou redução dos benzodiazepínicos. Ela deve ser diferenciada dos sintomas de rebote, que se caracterizam pelo retorno dos sintomas originais para os quais os benzodiazepínicos foram prescritos, numa intensidade significativamente maior. Ocorrem dentro de poucos dias após a retirada dos benzodiazepínicos e permanecem por vários dias14(D). Numa pequena minoria pode ocorrer o que se chama de síndrome de abstinência protraída ou pós-abstinência. Os sintomas são similares aos da retirada dos benzodiazepínicos, porém em menor número e intensidade, podendo durar alguns meses. A retirada gradual e um acompanhamento psicológico mais frequente e prolongado colaboram no alívio destes sintomas10(D). TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA DOS BENZODIAZEPÍNICOS Não se justifica o uso de benzodiazepínicos por longos períodos, exceto em situações especiais15(D). Apesar do desconforto inicial, devido à presença da síndrome de abstinência, pacientes que conseguem ficar livres de benzodiazepínicos por pelo menos cinco semanas apresentam redução nas medidas de ansiedade e melhora na qualidade de vida16(B). Não se deve esperar que o paciente preencha todos os critérios da síndrome de dependência para começar a retirada, uma vez que o quadro típico de dependência química – com marcada tolerância, escalonamento de doses e comportamento de busca pronunciado - não ocorre na maioria dos usuários de benzodiazepínicos, a não ser naqueles que usam altas dosagens. É importante salientar que mesmo doses terapêuticas podem levar à dependência17(D). A RETIRADA DOS BENZODIAZEPÍNICOS 43 A melhor técnica e a mais amplamente reconhecida como a mais efetiva é a retirada gradual da medicação18(D), sendo recomendada mesmo para pacientes que usam doses terapêuticas. Além das vantagens relacionadas ao menor índice de sintomas e maior possibilidade de sucesso, essa técnica é facilmente exequível e de baixo custo. Alguns médicos preferem reduzir um quarto da dose por semana. Já outros negociam com o paciente um prazo. Este gira em torno de 6 a 8 semanas19(D). Os 50% iniciais da retirada são mais fáceis e plausíveis de serem concluídos nas primeiras duas semanas, ao passo que o restante da medicação pode requerer um tempo maior para a retirada satisfatória. É de grande valia oferecer esquemas de redução das doses por escrito, com desenhos dos comprimidos e datas subsequentes de redução. SUBSTITUIÇÃO POR BENZODIAZEPÍNICOS DE MEIA-VIDA LONGA Pacientes que não conseguem concluir o plano de redução gradual podem se beneficiar da troca para um agente de meia-vida mais longa, como o diazepam ou clonazepam19(D). Comparado a outros benzodiazepínicos e barbituratos, o diazepam mostrou ser a droga de escolha para tratar pacientes com dependência, por ser rapidamente absorvido e por ter um metabólito de longa duração – o desmetildiazepam – o que o torna a droga ideal para o esquema de redução gradual, pois apresenta uma redução mais suave nos níveis sangüíneos20(D). MEDIDAS NÃO-FARMACOLÓGICAS O tratamento da dependência dos benzodiazepínicos envolve uma série de medidas não-farmacológicas e de princípios de atendimento que podem aumentar a capacidade de lidar com a SAB e manter-se sem os benzodiazepínicos. O melhor local para tratamento é o ambulatorial, pois leva o maior engajamento do paciente e possibilita que, tanto mudanças farmacológicas quanto psicológicas, possam ocorrer ao mesmo tempo. Suporte psicológico deve ser oferecido e mantido tanto durante quanto após a redução da dose, incluindo informações sobre os benzodiazepínicos, 44 reasseguramento, promoção de medidas não-farmacológicas para lidar com a ansiedade. MANUTENÇÃO SEM BENZODIAZEPÍNICOS Nesta fase, o paciente deve receber reasseguramento da capacidade de lidar com estresse sem os benzodiazepínicos, bem como ênfase na melhora da qualidade de vida. Deve-se oferecer apoio psicossocial, treinamento de habilidades para sobrepujar a ansiedade, psicoterapia formal e psicofarmacoterapia de estados depressivos subjacentes. Ajudá-lo a distinguir entre os sintomas de ansiedade e abstinência e oferecer suporte por longo prazo21(D). BIBLIOGRAFIA 1. Griffiths RR, Ator NA. 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