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CIDADE MATARAZZO: ANÁLISE 
PROJETUAL CRÍTICA DE UMA 
INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA EM 
UM CONJUNTO PATRIMONIAL
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA 
MACKENZIE
MESTRADO EM ARQUITETURA E 
URBANISMO
NATÁLIA BARBOSA HETEM
São Paulo
2020
CIDADE MATARAZZO: ANÁLISE 
PROJETUAL CRÍTICA DE UMA 
INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA EM 
UM CONJUNTO PATRIMONIAL
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA 
MACKENZIE
MESTRADO EM ARQUITETURA E 
URBANISMO
NATÁLIA BARBOSA HETEM
São Paulo
2020
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
NATÁLIA BARBOSA HETEM
CIDADE MATARAZZO: ANÁLISE PROJETUAL CRÍTICA DE 
UMA INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA EM UM CONJUNTO 
PATRIMONIAL
São Paulo
2020 
NATÁLIA BARBOSA HETEM
CIDADE MATARAZZO: ANÁLISE PROJETUAL CRÍTICA DE 
UMA INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA EM UM CONJUNTO 
PATRIMONIAL
Dissertação para obtenção de título de 
mestre em Arquitetura e Urbanismo na 
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
ORIENTADORA: Profa. Dra. Ruth Verde Zein
São Paulo
2020
 H589c Hetem, Natália Barbosa.
 Cidade Matarazzo : análise projetual crítica de uma 
intervençăo arquitetônica em um conjunto patrimonial / Natália 
Barbosa Hetem
 157 f. : il. ; 30 cm
 Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – 
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020.
 Orientadora: Ruth Verde Zein
.
 Bibliografia: f. 145-153.
 1. Patrimônio. 2. Arquitetura Contemporânea. 3. Análise de 
obras. I. Zein, Ruth Verde, orientadora. II. Título.
 
 CDD 
711.4
Bibliotecária responsável: Paola Damato CRB-8/6271
Folha de Identificação da Agência de Financiamento 
 
Autor: Natália Barbosa Hetem 
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo 
Título do Trabalho: Cidade Matarazzo: Análise projetual crítica de uma intervenção arquitetônica em 
um conjunto patrimonial 
O presente trabalho foi realizado com o apoio de 1: 
 CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
 CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
 FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo 
 Instituto Presbiteriano Mackenzie/Isenção integral de Mensalidades e Taxas 
 MACKPESQUISA - Fundo Mackenzie de Pesquisa 
 Empresa/Indústria: 
 Outro: 
1 Observação: caso tenha usufruído mais de um apoio ou benefício, selecione-os. 
 
I
Ao apoio e confiança 
total dos meus pais e 
irmão no processo deste 
trabalho e nos caminhos 
que escolhi seguir.
II
III
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais, pelo apoio constante e por 
sempre acreditarem em mim. Ao meu irmão por ser meu companheiro 
nessa nova fase da minha vida, na cidade de São Paulo. Agradeço 
muito à minha orientadora, Ruth Verde Zein, por ter me acolhido e 
aceitado me orientar. Sem ela essa dissertação não sairia dos meus 
pensamentos e se concretizaria, seus conselhos foram essenciais 
para me ajudar no mestrado e na minha formação profissional, com 
todas as oportunidades que me ofereceu ao longo do curso. Aos 
meus colegas de sala, por estarmos juntos e nos ajudarmos sempre 
que possível. À minha companheira de estágio docente (que se 
tornou uma amiga querida), com quem compartilho a orientadora, 
por termos unido forças para enfrentar o ateliê 7 e adquirir ainda 
mais conhecimento com essa experiência incrível. À todos os meus 
amigos da vida, que acompanharam cada etapa minha e acreditam 
no meu potencial, o carinho e presença de vocês é essencial para 
mim, para saber que posso seguir em frente e vocês me ajudarão; 
os momentos felizes, de risadas e distração que compartilhamos 
contribuiu para a minha saúde mental e para a construção desse 
trabalho. Obrigada aos professores da pós-graduação e da FAU 
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que compartilharam o 
conhecimento de vocês com tanto amor e brilho nos olhos, mostrando 
que realmente adoram o que fazem e puderam me inspirar. Por 
último, obrigada aos profissionais do Arquivo Histórico de São Paulo, 
da Gestão Documental de Processos, do Condephaat e Conpresp por 
fornecerem os arquivos necessários para a realização dessa pesquisa, 
assim como os profissionais da “Cidade Matarazzo”, por me permitir 
entrar e ver a obra em estudo de perto, principalmente ao Roberto 
Toffoli por contar de maneira mais detalhada sobre o processo de 
restauração do local e a Helena Ayoub pela ajuda com a questão 
histórica. Um último agradecimento a CAPES-PROEX, pela bolsa de 
estudo modalidade I fornecida, sem ela também não seria possível 
realizar essa pesquisa. Todos aqui mencionados me ajudaram, 
inspiraram e contribuíram para essa dissertação e para a minha 
formação profissional.
IV
V
“Nós somos o nosso patrimônio de 
cultura. No passado e no presente” 
Nestor Goulart Reis Filho
VI
VII
RESUMO
O presente trabalho trata da atual intervenção arquitetônica (2014-2021) 
no quarteirão do antigo Hospital Matarazzo na cidade de São Paulo, pelo 
grupo francês Allard, com a presença de arquitetos internacionais e a 
construção de novas torres junto ao complexo de edificações históricas 
e tombadas existente. A dissertação discute essa obra considerando de 
maneira crítica e referenciada as questões patrimoniais envolvidas em uma 
intervenção arquitetônica contemporânea, considerando a atualidade dos 
debates sobre o patrimônio histórico e cultural, a trajetória desses conceitos 
no mundo e no Brasil, analisando a nova proposta da “Cidade Matarazzo” 
e comparando com casos similares, em termos de porte e programa de 
necessidades, de outros projetos de intervenção no Brasil e no mundo.
Palavras chaves: Patrimônio. Arquitetura Contemporânea. Análise de 
obras.
ABSTRACT
This dissertation analyzes the current architectural intervention (2014-
2021) in the former Matarazzo Hospital block in the city of São Paulo, by the 
French group Allard, with the presence of international architects and the 
construction of new towers next to the existing historical and listed buildings 
complex. It discusses the heritage issues involved in a contemporary 
architectural intervention from a critical approach, considering the state-
of-the-art debates and ideas on the historical and cultural heritage, in the 
world and in Brazil, analyzing the new proposal of the “City Matarazzo” and 
comparing it with similar cases, in terms of size and requirements, of other 
intervention projects in Brazil and in the world.
Key words: Heritage. Contemporary Architecture. Analysis of Works.
VIII
IX
LISTA DE FIGURAS
Fig. 01: Imagem da localização do terreno do conjunto. 7
Fig. 02: Implantação de todo o complexo na área. 7
Fig. 03: Imagem da implantação da casa de saúde e capela. 9
Fig. 04: Imagem da fachada da casa de saúde. 9
Fig. 05: Planta, fachada e lateral da capela. 10
Fig. 06 e 07: Planta do térreo – acima– e do pavimento superior – em baixo. 11
Fig. 08: Fachada principal da nova edificação. 12
Fig. 09: Planta do térreo. 12
Fig. 10: Planta do primeiro andar. 12
Fig. 11: Fachada. 13
Fig. 12: Corte AB. 13
Fig. 13: Implantação do pavilhão. 13
Fig. 14: Planta de reforma do laboratório. 15
Fig. 15: Mapa do perímetro de tombamento da resolução 5/2014 pelo CONPRESP. 
 16
Fig. 16: Imagem renderizada da Torre inserida na paisagem, lado com vista para a 
cidade e o bairro da Bela Vista; 22
Fig. 17: Vista de frente do restauro da maternidade e a Torre Mata Atlântica ao 
fundo. 22
Fig. 18: Torre Mata Atlântica em construção vista de fora do terreno. 22
Fig. 19: Fundo da maternidade sendo restaurado. 23
Fig. 20: Arcos de apoio para a estrutura original da maternidade, construção do 
Lobby do Hotel. 23Fig. 21: Restauração da fachada da capela. 23
Fig. 22: Restauração do interior da capela. 23
Fig. 23 e 24: Modelo da suíte de 163m². 25
Fig. 25 e 26: Modelo da suíte de 342m². 26
Fig. 27: Recepção e bar do hotel. 27
Fig. 28: Piscina do hotel. 27
Fig. 29: Fachada de uma das edificações do hospital. 29
Fig. 30: Detalhe da esquadria. 29
Fig. 31: Outra fachada do hospital. 29
Fig. 32: Interior da edificação. 29
Fig. 33: Lay-out sugerido para as lojas de luxo. 30
Fig. 34: Lay-out sugerido para as lojas de luxo. 30
Fig. 35: Perspectiva do mercado orgânico. 33
X
Fig. 36, 37 e 38: Mobiliários propostos pelos Irmãos Campana, de bambu, madeira 
e tubos de acrílico, respectivamente. 33
Fig. 39: Corte com o programa de necessidades da “Casa Bradesco da Criatividade”, 
de Rudy Ricciotti. 33
Fig.40: Perspectiva do palco do auditório dentro da “Casa Bradesco da 
Criatividade”. 34
Fig. 41: Perspectiva da área de exposição da “Casa Bradesco da Criatividade”. 34
Fig. 42: Fachada da edificação do centro comercial, de Rudy Ricciotti. 34
Fig. 43: Maquete do showroom do “Boulevard da Diversidade. 35
Fig. 44: Corte esquemático do túnel. 35
Fig. 45: Implantação do Boulevard da Diversidade. 35
Fig. 46: Desenho com o sistema de drenagem e coleta de água da chuva. 36
Fig. 47: Mapa de Bens Tombados, com imóveis tombados pelo Conpresp e ou 
Condephaat e ou Iphan, na região da Avenida Paulista, em roxo. 66
Fig. 48: Mapa de Bem Tombados com sobreposição do Mapa de Áreas Envoltórias 
do Conpresp, em amarelo. 67
Fig. 49: Mapa de Bem Tombados com sobreposição do Mapa de Áreas Envoltórias 
do Conpresp e sobreposição do Mapa de Áreas Envoltórias do Condephaat, em 
vermelho. 67
Fig. 50: Mapa-mundi com localização de todos os estudos de caso a serem 
analisados. Desenvolvido pela autora 76
Fig. 51: Mapa de localização do One Central Park, em roxo. 77
Fig. 52: Torres do complexo “One Central Park” em Sydney, Austrália. 78
Fig. 53: Torres do One Central Park ao fundo, parque à frente. 78
Fig. 54: Entrada do “One Central Park Mall”. 78
Fig. 55: Mapa de localização do Duo Central Park, em roxo. 81
Fig. 56: Imagem retratando a proximidade do One Central Park com o Duo Central 
Park. 81
Fig. 57: Fachada de uma das torres do Duo Central Park. 81
Fig. 58: Visão do pedestre das duas torres, One Central Park e Duo Central Park. 81
Fig. 59: Mapa de localização do “City Center DC”, em verde. 82
Fig. 60: Maquete de desenvolvimento da proposta, com foco na praça central e os 
edifícios a “protegendo”. 83
Fig. 61: Uma das entradas ao complexo. 85
Fig. 62: Outra entrada do complexo. 85
Fig. 63: Lojas de grife localizadas no pátio interno. 85
Fig. 64: Um dos modelos de planta para o studio. 86
Fig. 65: Um dos modelos propostos de 1 quarto e 1 banheiro. 86
Fig. 66: Um dos modelos de planta proposto para 2 quartos e 2 banheiros. 87
Fig. 67: Modelo proposto para 3 quartos e 2 banheiros. 87
XI
Fig. 68: Mapa de localização do projeto London Peninsula Place, em azul marinho, 
situado na península de Greenwich. 88
Fig. 69: Exterior da Arena O2/Millenium Dome atualmente. 88
Fig. 70: Imagem das torres projetadas por Santiago Calatrava. 89
Fig. 71: Imagem com inserção do projeto de Calatrava na paisagem urbana, ao lado 
da Arena O2. 89
Fig. 72: Mapa de localização do Corso Itália,23, em azul claro. 91
Fig. 73: Corso Itália atualmente (2019), como sede da Allianz. 91
Fig. 74: Inserção do projeto do escritório SOM na paisagem de Milão. 92
Fig. 75: Fachada da edificação principal do projeto, com a transparência 
evidenciada. 92
Fig. 76: Mapa de localização da Casa das Rosas, em laranja. Em vermelho a localição 
da “Cidade Matarazzo”. 94
Fig. 77: Fachada da Casa das Rosas. Foto: Milena Leonel. 95
Fig. 78: Imagem do edifício comercial ao fundo do terreno. 96
Fig. 79: Mapa de localização do projeto Novo Recife, em amarelo. 98
Fig. 80: Área de construção do empreendimento com os armazéns. 98
Fig. 81: Visão de todo o projeto do Novo Recife na área do Cais. 100
Fig. 82: Implantação de todo o projeto do Novo Recife na área do Cais. 102
Fig. 83: Renderização das duas torres que compõem o complexo Mirante do Cais. 
 102
Fig. 84: Planta de pavimento tipo da torre norte do complexo Mirante do Cais. 103
Fig. 85: Renderização da torre do Parque do Cais. 103
Fig. 86: Imagem em modelo BIM do empreendimento, em corte, mostrando os 
subsolos. 110
Fig. 87: Esquema da estrutura da torre, em destaque as áreas com concreto 
pigmentado. 111
Fig. 88: Nuvem de palavras com base na tabela. Realização da autora no site 
“WordClouds”. 115
Fig. 89 e 90: Fachada do Hospital, sem o telhado (retirado para restauração). 117
Fig. 91: Capela praticamente inteira restaurada no exterior. 118
Fig. 92: Fachada da Maternidade em restauração. Fonte: Instagram da Cidade 
Matarazzo. 118
Fig. 93: Torre Mata Atlântica em processo de finalização da fachada e Maternidade 
restaurada. 118
Fig. 94: Construção da fachada de “cipós” do centro comercial do 
empreendimento. 118
XII
LISTA DE TABELA
Tabela 1 Processos vistos na Coordenação de Gestão 
Documental 17
Tabela 2 Palavras chaves citadas na revista L’Architecture 
D’aujourd’hui 115
XIII
LISTA DE ABREVIATURAS
CONDEPHAAT Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, 
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado 
de São Paulo
CONPRESP Conselho Municipal de Preservação do 
Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da 
Cidade de São Paulo
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico 
 Nacional
INTRODUÇÃO 1
A CIDADE MATARAZZO - DETALHAMENTO 
TÉCNICO DA OBRA REALIZADA NO LOCAL 7
1.1 Histórico do Hospital 8
1.2 Histórico do Grupo Allard 18
1.3 A proposta de intervenção 20
 1.3.1 Etapa 1: Torre Mata Atlântica, maternidade e capela (hotelaria, 
previsão 2020) 20
 1.3.2 Etapa 2: Hospital e lojas (lojas comerciais, previsão 2021) 28
DEBATES E EXPERIÊNCIAS 
CONTEMPORÂNEAS SOBRE A 
INTERVENÇÃO EM BENS PATRIMONIAIS 37
2.1 Teorias e legislações presentes em cartas e protocolos 
internacionais, breve revisão bibliográfica 38
 2.1.1 Cartas internacionais 39
 2.1.2 Patrimônio histórico e teorias de restauração 42
 2.1.3 Historiografia e memória 55
 2.1.4 Questões urbanas relativas ao patrimônio histórico 60
2.2 Normas e legislações aplicáveis ao caso (Plano Diretor 
de São Paulo, Instrumentos urbanos, Lei de Zoneamento, 
Condephaat e Conpresp) 62
2.3 As questões relativas aos procedimentos de debate público 
da proposta 70
SUMÁRIO
1.
2.
2.4 Estudos de caso: projetos com programas similares de 
intervenções em conjuntos patrimoniais 76
 2.4.1 One Central Park, Sidney, Austrália 77
 2.4.2 Casos com outros arquitetos 79
 2.4.2.1 Duo Central Park, Sidney, Austrália 80
 2.4.2.2 City Center DC, Washington, Estados Unidos 83
 2.4.2.3 London Peninsula Place, Londres, Inglaterra 88
 2.4.2.4 Corso Itália, 23, Milão, Itália 91
 2.4.3 Casa das Rosas, São Paulo, Brasil 95
 2.4.4 Projeto Novo Recife, Recife (PE), Brasil 98
A “CIDADE MATARAZZO”: ANÁLISE CRÍTICA 
DAS ESTRATÉGIAS PROJETUAIS 105
3.1 Intervenção e patrimônio 106
3.2 Método construtivo e inovações 109
3.3 Projeto social e maneira de venda ao público 113
CONCLUSÕES 119
REFERÊNCIAS 121
NOTAS 131
ANEXOS
3.
1
Este trabalho vai considerar de maneira detalhada e crítica 
um importante empreendimento que envolve a intervenção 
arquitetônica atual sobre um conjunto edificado e de valor histórico 
e patrimonial, situado em uma região de importante centralidade 
na cidade de São Paulo, e pretende considerar não apenas o 
atendimento às diretrizesnecessárias a quaisquer intervenções sobre 
obras consideradas “de patrimônio histórico”, como os resultados 
que essa intervenção tenderá a causar em seu entorno, e portanto, 
os eventuais problemas e benefícios que dessa obra podem resultar, 
para a sociedade e para seus usuários. 
A escolha dessa temática nasceu de uma inquietação pessoal, 
uma questão de afinidade e curiosidade, que vem desde minha 
infância. Entretanto, as dúvidas que eu sempre tive não foram 
totalmente dirimidas ao me formar em arquitetura – e de certa forma, 
elas até se ampliaram. A questão patrimonial e principalmente, o 
abandono de edificações históricas, é algo que constantemente 
chateia e faz refletir. Qual a razão de se abandonar, esquecer a história 
e a memória da cidade? Por que essa memória parece ser um valor 
importante, em outras cidades, países e continentes, enquanto isso 
parece ser menos valorizado em nossas cidades? Como aumentar a 
consciência sobre essa questão, e quais atitudes podem ser adotadas 
para que essa situação de perda de valores e memórias não mais 
ocorra? Além de ser uma questão de projeto, o assunto envolve 
outras dimensões. O que é possível fazer para incentivar o interesse 
da população por essa preservação e valorização da memória urbana? 
Acredito que as respostas dessas perguntas são complexas e difíceis 
de serem respondidas. Nessa dissertação, gostaria de enfrentar 
apenas alguns aspectos desse tema. Mas pretendo continuar minhas 
pesquisas e, se possível, dedicar minha vida profissional a essa causa.
Cada edificação tem sua época e retrata uma história, que 
permanece na atualidade, nos recordando a passagem do tempo. 
Toda edificação possui em si um patrimônio de conhecimentos, e 
mesmo compreendendo a condição de efemeridade do mundo, 
parece ser importante aprender com esses ensinamentos. Se não é 
possível manter tudo, ao menos as edificações e espaços urbanos 
de maior valor deveriam ser conservados, preservados, restauradas, 
garantindo que esse legado chegue às novas gerações. Entretanto, 
INTRODUÇÃO
2
vê-se com muita frequência, nas cidades atuais, o abandono e o 
desinteresse por obras de grande valor histórico, patrimonial e até 
mesmo artístico. Isso nos causa indignação e tristeza, não apenas 
individualmente: trata-se de um patrimônio de toda a sociedade. 
As causas são complexas. Talvez uma parte da população não se 
reconheça nessa obra. A ausência de uma educação patrimonial 
impede que a maioria das pessoas, que não são especialistas no 
assunto, tenham conhecimento da história: a memória só resiste 
e subsiste se formos ensinados a reconhecê-la. Entendo que é 
possível de reverter esta situação. Mas como as mudanças também 
são necessárias, entendo que uma intervenção contemporânea, 
propondo novos usos e construções, convivendo em harmonia 
com o patrimônio existente, podem retirar o estigma de um local 
“degradado” e voltar a torná-lo significativo na cidade.
A arquitetura contemporânea tem um importante papel 
na intervenção junto a edificações históricas. Embora os usos de 
um edifício possam se tornar obsoletos, novos usos, escolhidos 
de maneira adequada, podem revitalizá-lo. Entretanto, novas 
intervenções podem produzir sejam resultados positivos, sejam 
negativos – e quase sempre, um pouco de cada coisa é o que se 
pode finalmente atingir. A atenção e cuidado de um novo projeto 
em relação às teorias gerais e às diretrizes específicas das cartas 
patrimoniais internacionais, e das normativas preservacionistas 
locais, é sempre imprescindível quando se projetam novos usos e 
novos edifícios em conjuntos que contenham edificações existentes 
de valor histórico e cultural. Mas teorias, normas e diretrizes não são 
um corpo fechado e totalmente determinante, como tampouco o 
são as normas de planejamento constantes em instrumentos legais 
e políticos, tais como o Estatuto da Cidade (PLANALTO, 2001); ou no 
caso de São Paulo, nos seus sucessivos planos diretores (Prefeitura 
de São Paulo, 2014). Um projeto de intervenção requer, além desse 
conhecimento, e do respeito a essas normas, uma maior sensibilidade 
e respeito ao valor do que é antigo, que só pode ser atingido pelo 
amplo estudo e pesquisa de sua história. E finalmente, mas não 
menos importante, para se chegar a bons resultados todo o processo 
precisa ser monitorado, questionado e apoiado pela ação conjunta 
de órgãos governamentais e com a participação ativa dos diversos 
grupos de interesse social e cultural da sociedade, para que as 
iniciativas de investidores privados possam ser balizadas e apoiadas 
de maneira correta, para o benefício de todos, e principalmente, da 
cidade.
3
Para estudar essa questão numa primeira abordagem de 
pesquisa, propusemos realizar um estudo em profundidade de um 
projeto atual, que ainda está em processo de construção, e vem 
sendo realizado na cidade de São Paulo. Para entender o quanto esse 
projeto pode ser chamado de “contemporâneo” não apenas por ser 
de hoje, mas por atender, ou não, o pensamento contemporâneo 
sobre o tema da preservação e intervenção em conjuntos históricos 
e patrimoniais, entendemos que seria necessário também estudar, 
embora com menos profundidade, outros exemplos internacionais e 
nacionais de semelhante porte e teor. 
O objeto de estudo selecionado foi o empreendimento 
batizado como “Cidade Matarazzo”. Trata-se de uma área a poucas 
centenas de metros da Avenida Paulista, uma das grandes 
centralidades da cidade, e que esteve abandonado e sem uso por 
décadas. A história dessa área, sua importância para a cidade, seus 
edifícios e usos, seu processo de decadência e abandono, e das 
tentativas de revitalizá-la é abordada no Capítulo 1.1. A situação 
do local mudou recentemente com a proposta de realização de um 
grande empreendimento, restaurando o complexo de edificações 
do antigo Hospital Matarazzo e com a introdução de novos edifícios 
para hotelaria e comércio. O novo empreendimento tem patrocínio 
majoritariamente privado com capitais internacionais e apresenta-
se como uma oportunidade de “investimento”, mas também, como 
uma oportunidade de revitalização. Um breve histórico sobre esse 
grupo de investidores e sobre suas realizações prévias, que como 
no caso paulistano, também envolveram a presença de renomados 
arquitetos internacionais, é relatada no capítulo 1.2. Para finalizar o 
primeiro capítulo, foi feito uma exposição do empreendimento, a 
mais completa possível – considerando-se que a obra ainda está em 
andamento – do projeto proposto, em suas diversas etapas. 
A questão financeira foi um grande motivador para seguir com 
a pesquisa, surgindo dúvidas como: Como o investimento privado 
pode reviver um patrimônio histórico esquecido? Qual o papel da 
influência do capital privado no patrimônio histórico comum? Nessa 
pesquisa não será aprofundado a temática financeira, por se tratar 
de um mestrado de arquitetura, então esse assunto será abordado 
superficialmente.
A escolha do tema levou à pesquisa dos debates concernentes 
às questões teóricas, projetuais e legais atinentes ao tema do 
patrimônio edificado arquitetônico de valor histórico e patrimonial, 
4
tema cada vez mais candente inclusive nas relativamente mais 
jovens cidades brasileiras, pois cada vez é mais frequente e em breve 
será quase inevitável que quaisquer projetos tenham que lidar com 
as questões postas pelas preexistências arquitetônicas e urbanas. 
A afinidade com esse tema esteve presente na minha formação e 
graduação em arquitetura, tendo sido abordado no trabalho de 
conclusão de curso, voltado para as questões de patrimônio na 
cidade de Ribeirão Preto. Esse trabalho deu início aos meus estudos 
no tema e despertou um desejo de aprofundá-lo. A possibilidade 
de morar em São Paulo abriu o interesse por conhecer melhor a 
cidade e de estudar suas edificações de valor histórico e cultural. 
O caso de São Paulo, e algumas viagens de estudos realizadas na 
Europa (curso de Civilização Francesa na Sorbonne em janeiro de2018 e curso de Cidades Inteligentes e Engenharia para Arquitetura 
Sustentável na EPF – Ecole D’Ingénieurs – e na ESTP – Ecole Spéciale 
des Travaux Publics – em julho de 2019) ampliou a compreensão de 
serem questões que, embora relevantes em cada lugar, são também 
recorrentes em quaisquer situações urbanas, e de abrangência e 
vigência internacional. A vivência de obras de alto valor patrimonial 
que foram preservadas, mas ao mesmo tempo, modificadas por 
grandes intervenções contemporâneas, abriu a compreensão e o 
interesse em estudar como realizar intervenções no patrimônio 
da cidade de forma totalmente embasada na teoria, mas também, 
de maneira inovadora e não convencional, compreendendo as 
edificações históricas abandonadas e verificando a possibilidade de 
sua revivescência com o apoio do projeto arquitetônico, valorizando 
o legado do passado da cidade e entendendo as mudanças sociais e 
suas demandas atuais.
Esses temas são tratados no Capítulo 2 deste trabalho. Nele 
foi feita uma revisão ampla, mas não exaustiva, sobre os debates e 
experiências contemporâneas tratando das intervenções projetuais 
em bens de valor histórico e patrimonial. São consideradas no 
capítulo 2.1, em breve revisão bibliográfica, as teorias e legislações 
presentes em cartas e protocolos internacionais; no capítulo 2.2 são 
abordadas as normas e legislações locais (Condephaat e Conpresp, 
etc), incluindo, no capítulo 2.3, algumas das questões relativas aos 
procedimentos de debate público da proposta arquitetônica junto à 
sociedade, com foco no caso de estudo da “Cidade Matarazzo”. Para 
terminar esse capítulo foi realizado, de maneira breve, alguns estudos 
de casos de projetos de intervenções em conjuntos patrimoniais 
5
internacionais e nacionais com programas similares ao da “Cidade 
Matarazzo”, considerando tanto as obras realizadas pelos arquitetos 
da equipe do projeto paulista, como outros exemplos relevantes, e 
mesmo, alguns casos polêmicos. 
No terceiro capítulo, é proposto uma análise do conjunto da 
“Cidade Matarazzo” à luz dos debates trazidos pelo capítulo 2, tanto 
nos aspectos teóricos, como nos aspectos projetuais. Nesse capítulo, 
algumas das inquietações iniciais voltam a ganhar relevância, pois 
são elas que embasam o enfoque pretendido por esta pesquisa.
Muitas cidades passam atualmente pela condição de relativo 
abandono e/ou degradação de seus centros históricos, a par da 
configuração de novas centralidades urbanas, acompanhando a 
expansão do tecido urbano das cidades – e eventualmente, de seu 
sucessivo abandono e/ou degradação. Muitos edifícios com valor 
histórico e cultural que conformam a memória da cidade, que fizeram 
parte de sua história e desenvolvimento, restam abandonados, 
atingindo progressivamente estados de ruína. O tombamento das 
edificações segue sendo ainda um dos únicos instrumentos legais 
que visam garantir a preservação e a conservação desses bens: mas 
como já foi apontado por várias/os autoras/es, é um instrumento 
problemático, e em alguns casos, falho e ineficaz (RETTO JÚNIOR e 
KUHL, 2019). Ademais do restauro clássico, mais cabível em obras 
de grande valor artístico, com frequência a revitalização dessas 
obras abandonadas vem se realizando por meio de intervenções, 
mais ou menos radicais, envolvendo a substituição parcial e/ou 
a justaposição de novos edifícios em diálogo com os edifícios 
patrimoniais, geralmente, com vistas a adaptá-los a novos usos, 
ampliando sua frequência, e gerando mais vida e movimento nesses 
centros urbanos. 
Entretanto, uma questão fundamental se coloca. O impacto 
dessas arquiteturas contemporâneas é sempre positivo? Até 
onde essas intervenções estão de fato respeitando as edificações 
antigas e históricas das cidades? E como é possível verificar essa 
questão e, ainda mais, promover mecanismos para que as soluções 
propostas sejam efetivamente, adequadas? O trabalho tem como 
objetivo relatar o que tem sido feito não só na “Cidade Matarazzo”, 
mas também nas obras e edificações que envolvem o patrimônio 
histórico em outras regiões do mundo, como essa questão é lidada, 
ou até mesmo apagada com a chegada da “nova” arquitetura inserida 
nas localidades.
6
A hipótese inicial desta pesquisa admite a possibilidade de 
reverter a situação de esquecimento provocada por um edifício 
abandonado pelo acréscimo e intervenção de novos edifícios, que 
garantam a realização de novos usos, e a atração de novos usuários. 
Há diversos exemplos de intervenções nas edificações antigas e 
patrimônios da cidade que parecem ter resultado em um melhor uso 
de edifício e em um certo grau de revitalização da região em que ele 
se situa (alguns desses casos serão revistos no capítulo 2.4.). No caso 
da Cidade Matarazzo, como o projeto lidou com essa questão? Haverá 
novos usos – mas esse “novo” lugar, será ele de fato retornado pela 
população, por seu uso, pela sua afetividade – e pela sua presença? 
Em especial: será que o novo empreendimento será acessível a 
todos? Ou promoverá apenas o bem-estar de uma única parcela da 
população, aquela que já dispões dos privilégios resultantes do fato 
de se posicionar como a camada social dominante? 
Essas questões são consideradas no capítulo 3, segundo 
alguns critérios de análise. No capítulo 3.1 foi abordado mais 
profundamente a questão de revitalização e restauro das edificações 
antigas do complexo, como foi feita a intervenção das novas 
edificações, e o que precisou ser modificado para tal. No capítulo 3.2 
vamos abordar as inovações construtivas presentes na obra da nova 
torre. Na terceira e última parte do capítulo foi feito uma análise do 
discurso de divulgação presente nas mídias e nas redes sociais do 
empreendimento, a maneira que está sendo vendido ao público.
Finalmente, nas conclusões do trabalho, espera-se responder 
algumas das inquietações que promoveram sua realização ou, ao 
menos, busca-se atingir uma maior clareza sobre como interpretar e 
considerar criticamente essas questões. 
 
7
Como mencionado na introdução, o trabalho trata do caso do 
projeto conhecido como “Cidade Matarazzo”. Este capítulo é dedicado 
a detalhar e expor de maneira técnica o que está sendo feito, ao 
longo de praticamente 10 anos, no local, considerando o histórico 
e desenvolvimento das obras, as propostas e os agentes envolvidos. 
Optou-se por estruturar a dissertação iniciando-se pelo objeto de 
estudo, para depois, com o reconhecimento desse projeto e suas 
características em mente, explorar a fundamentação teórica dos 
temas ligados ao patrimônio, para só então verificar como o projeto 
proposto contempla essas questões; e finalmente, comparando esse 
com outros casos assemelhados. 
 O objeto de estudo será abordado de maneira cronológica, 
começando com a história do complexo Matarazzo, abordando a 
seguir um histórico do empreendedor Alexandre Allard e do Grupo 
Allard, para depois apresentar a proposta do empreendimento.
O projeto está localizado no terreno que o Hospital Matarazzo 
se situa. Próximo a Av. Paulista, no quadrilátero formado pelas 
ruas Itapeva, Pamplona, São Carlos do Pinhal e Alameda Rio Claro 
(figura 01). O antigo complexo hospitalar se transformará em centro 
comercial, hoteleiro e cultural (figura 02). Será um local multifuncional 
e que pretende atender diversas demandas da região e da sua 
população. 
A CIDADE MATARAZZO - 
 DETALHAMENTO TÉCNICO DA OBRA REALIZADA NO LOCAL
Fig. 02: Implantação de todo o complexo na área. Fonte: Cidade 
Matarazzo. Acesso 17 de fevereiro de 2020
Fig. 01: Imagem da localização do terreno do 
conjunto. Disponível em: Google Maps – Acesso 
09 de maio de 2019
1.
8
O antigo Hospital Matarazzo, inaugurado em 1904, foi 
construído pela “Societá Italiana de Beneficenza in San Paolo”, com 
grande investimento do imigrante italiano e industrial Francisco 
Matarazzo, e seu núcleo original de edifícios são de autoria do 
arquiteto italiano Giulio Micheli (que chegou em São Paulo em 1888). 
As outras edificaçõesdo complexo foram construídas posteriormente, 
ao longo dos anos, até 1974. Conforme os anos passaram várias 
reformas foram executadas no complexo para melhorar a qualidade 
de atendimento aos clientes. A sua fama veio devido ser o primeiro 
hospital organizado em pavilhão e por conta da maternidade. Porém, 
o conjunto passou por um processo de decadência, em paralelo 
com a desativação das indústrias do Matarazzo, sendo fechado 
oficialmente em 1993. Em 1985 aventou-se a possibilidade de 
sua demolição, considerando tratar-se de área em local de grande 
importância e dos mais disputados pelos empreendedores e pela 
especulação imobiliária da cidade.
No arquivo histórico de São Paulo1 podem ser encontradas 
as plantas originais do Hospital e o registro das mudanças feitas 
com o tempo. Em junho de 2019 a autora visitou o arquivo histórico 
para consultar os arquivos referentes ao Hospital Umberto I 
(posteriormente renomeado Hospital Matarazzo), datando de 1915 a 
1918. Foi consultado o livro de “Obras particulares – papéis avulsos de 
1905 – OPA 417”, onde constava um documento da “Societtá Italiana 
di Beneficenza per L’ospedale Umberto I”, informando que não haver 
sido ainda construído o muro e o passeio do terreno devido às obras 
internas em andamento. Foram consultadas também as caixas dos 
anos 1915, 1916, 1917, 1918. A caixa 09411 de 1915 continha o 
Processo OP1915.003.251 ou 120165/15 sobre a Alameda Rio Claro, 
com o pedido de alvará de licença para construção de uma casa de 
saúde e capela pelos engenheiro e arquiteto A. Pazzo e G. Bianchi, e 
as plantas do projeto, que seguem abaixo (figuras 03-07).
A caixa POR2 de 1916 continha os documentos 26 e 27 
referentes à Alameda Rio Claro. O documento 26 pedia aprovação 
do projeto de construção para o pavilhão do hospital e alvará de 
licença para o muro. O 27 tinha como assunto a construção do muro. 
O documento 26 contém um memorial descritivo que informa que o 
pavilhão será construído ao lado dos já existentes, com um recuo de 
1.1 Histórico do Hospital
9
Fig. 04: Imagem da 
fachada da casa de 
saúde. Fonte: SÃO PAULO. 
Arquivo Histórico
Fig. 03: Imagem da 
implantação da casa de 
saúde e capela. Fonte: SÃO 
PAULO. Arquivo Histórico
10
15m, e de forma que converse com os outros. Segundo o memorial, 
o pavilhão é composto por dois planos, o térreo (com salas para 
consultórios médicos e hall de espera) e o primeiro andar (com várias 
salas bem iluminadas). A edificação tem alicerces de concreto com 
pedregulho e cimento, paredes na fundação com 60 centímetros de 
largura que se prolongam até o térreo na altura de 1,20 formando 
o porão de terra socada e o andar ladrilhado. As paredes externas 
e do corredor do térreo são de 45 centímetros e no primeiro andar 
de 30 centímetros, as paredes divisórias dos consultórios tem 15 
centímetros. Os tijolos são assentados com argamassa de cal e areia 
e revestidos interna e externamente. O Térreo conta com a presença 
de banheiros. O forro do primeiro andar possui rede metálica e o do 
térreo é de reboque. Vigamento do telhado de peroba e cobertura de 
telhas nacionais. O revestimento externo é de reboco de cal e areia, 
portas e janelas de pinho de Riga pintadas a óleo com ferragem e 
vidros usuais. A escada é de cimento armado revestida de mármore. 
As fachadas são revestidas de cimento, cal e areia com imitações de 
tijolos e pedras (figuras 08-13).
A caixa POR3 de 1917 continha somente o documento 36, 
com uma solicitação do próprio Francisco Matarazzo para rebaixar 
a calçada em frente ao Hospital Umberto I e chanfrar as guias da 
entrada.
Fig. 05: Planta, fachada e 
lateral da capela. Fonte: SÃO 
PAULO. Arquivo Histórico.
11
Fig. 06 e 07: Planta do 
térreo – acima– e do 
pavimento superior 
– em baixo. Fonte: 
SÃO PAULO. Arquivo 
Histórico
12
Fig. 10: Planta do 
primeiro andar. 
Fonte: SÃO PAULO. 
Arquivo Histórico
Fig. 08: Fachada 
principal da nova 
edificação. Fonte: 
SÃO PAULO. Arquivo 
Histórico
Fig. 09: Planta do 
térreo. Fonte: SÃO 
PAULO. Arquivo 
Histórico
13
Fig. 13: Implantação do 
pavilhão. Fonte: SÃO 
PAULO. Arquivo Histórico
Fig. 11: Fachada. Fonte:: 
SÃOPAULO. Arquivo Histórico
Fig. 12: Corte AB. Fonte: 
SÃOPAULO. Arquivo Histórico
14
A caixa POR2 de 1918 continha o documento 9, sobre 
as modificações e ampliações a serem feitas no Hospital, e um 
memorial descritivo dos materiais a serem empregados, com o 
nome de Heribaldo Siciliano como interessado. Também constava 
um pedido de aprovação da planta de reforma e alvará de licença 
para as modificações no laboratório. O memorial informava que 
o revestimento interno e externo seria de argamassa de cal e areia 
1:3 com granulação fina; os forros seriam em estuque sobre telha 
metálica com argamassa de cal, areia e cimento; as paredes seriam 
pintadas; haveria uma barra de estuque até uma certa altura e a 
pavimentação seria feita com “lignite” com superfície lisa (figura 14).
 O arquivo histórico de São Paulo só tem documentos 
arquivados até 1937, após essa data eles estão sob a guarda da 
gestão documental de processos. Em agosto de 2019 a autora visitou 
a Coordenação de Gestão Documental de São Paulo para fazer a 
vistoria dos processos relativos ao Hospital Umberto I na avenida Rio 
Claro. Os processos vistos datam obras desde 1937 até 2017. Como 
mostra a tabela 1.
 Para salvaguardar o conjunto do Hospital, prevenindo sua 
destruição e a construção de novas edificações sem maiores critérios 
de controle da preservação do conjunto, o Hospital foi tombado pelo 
CONDEPHAAT pela Resolução SC 29/86 (1986). Na resolução consta 
que o Hospital e Maternidade Umberto I (ex Hospital Matarazzo) é 
representativo das instituições imigrantes da cidade de São Paulo, 
exerceu papel de destaque no atendimento médico, como local de 
estudo e prática profissional, sendo pioneiro no desenvolvimento de 
atividades hospitalares na cidade e pelo seu conjunto arquitetônico 
harmonioso. Esses argumentos foram apresentados para considerar 
o conjunto como importante histórica e arquitetonicamente, 
justificando assim o tombamento desse conjunto arquitetônico. 
Foram estabelecidos três diferentes graus de preservação para 
os edifícios do conjunto, sendo de grau 1 (preservação integral, 
permitindo pequenas reformas internas) a Capela e a Maternidade 
Condessa Filomena Matarazzo; de grau 2 (preservação de fachadas, 
coberturas e gabarito) o núcleo original do Hospital, as Casas da 
Saúde Francisco Matarazzo e Ermelino Matarazzo, a antiga residência 
das irmãs e o Pavilhão Vitório Emanuele III; de grau 3 (preservação 
de volumetria) as instalações da cozinha, lavanderia e refeitório, 
o novo prédio hospitalar, lanchonete e lojas e o estacionamento. 
Nessa resolução o interior da quadra é considerado como “área 
15
envoltória” (tendo como limite as calçadas do terreno). Após alguns 
anos de discussão, em que algumas partes envolvidas entendiam 
como demasiado rigorosa a resolução de tombamento, em 2014 
efetivou-se uma revisão do tombamento, a pedido do investidor, o 
qual alegava ser a mesma necessária para que fosse possível e viável 
realizar algum empreendimento no local. Anteriormente já haviam 
ocorrido outras solicitações propondo mudanças de usos, que não 
prosperaram. 
O CONPRESP (órgão municipal de preservação) também 
qualificou o conjunto como Zona Especial de Preservação Cultural, 
segundo a lei n 13.885 de 1975, tombando o conjunto arquitetônico 
edificado do antigo Hospital Umberto I por meio da Resolução N 
05 (figura 15), fornecendo diretrizes bem mais detalhadas sobre o 
que preservar, de cada edificação, considerando principalmente o 
Hospital e a Capela.
Fig. 14: Planta de reforma 
do laboratório. Fonte: SÃO 
PAULO. Arquivo Histórico
16
Com as novas resoluções foi possível postular um novo 
projeto de aproveitamento do complexo, com a preservação parcial 
das construções existentes e adição de novas obras. Dessa forma, 
o empreendimento “Cidade Matarazzo” começou a ser idealizado.Um time de arquitetos e engenheiros pensaram e levaram em 
consideração às questões patrimoniais e históricas, trazendo na obra 
de restauração de cada edificação os principais princípios das teorias, 
assim como tratam o patrimônio como a maior identidade do projeto.
Fig. 15: Mapa 
do perímetro de 
tombamento da 
resolução 5/2014 pelo 
CONPRESP; Acesso 09 de 
maio de 2019
17
Tabela 1: Processos vistos na Coordenação de Gestão Documental
Número do processo Assunto
1978 - 0.011.516-0 Edificação: alvará de construção (20/05/1969)
1986 – 0.009.895-5 Edificação: alvará de construção (13/07/1937)
1986 – 0.009.776-2 Edificação: auto de conclusão/habite-se (25/05/1938)
1986 – 0.009.771-1 Edificação: alvará de construção (07/07/1939)
1986 – 0.016.510-5 Edificação: alvará de reforma (26/02/1942)
1986 – 0.009.821-1 Edificação: transferência de responsabilidade técnica (22/04/1942)
1986 – 0.009.774-6 Edificação: reforma (06/05/1942)
1986 – 0.009.773-8 Edificação: reforma (04/08/1942)
1986 – 0.009.819-0 Edificação: auto de conclusão/habite-se (10/03/1943)
1986 – 0.009.818-1 Edificação: auto de conclusão/habite-se (16/03/1943)
1986 – 0.016.511-3 Edificação: autenticação/visto em planta (19/03/1943)
1986 – 0.009.772-0 Edificação: autenticação/visto em planta (19/03/1943)
1986 – 0.009.896-3 Edificação: auto de conclusão/habite-se (10/05/1943)
1986 – 0.016.518-0 Edificação: reforma (09/02/1949)
1997 - 0.194.650-2 Edificação: alvará de reforma (18/09/1956)
2011 – 0.297.423-0 Edificação: alvará de construção (06/10/1952)
2011 – 0.297.391-9 Edificação: auto de conclusão/habite-se (21/10/1953)
2011 – 0.297.124-0 Edificação: alvará de reforma (15/03/1957)
2011 – 0.296.361-1 Edificação: auto de conclusão parcial (22/06/1960)
2011 – 0.297.140-1 Edificação: auto de conclusão/habite-se (18/08/1960)
2017 – 0.042.559-1 Imóvel tombado/área envoltória: evento/exposição (13/03/2017) 
*o interessado deixou de ser a Sociedade Beneficente em São Pau-
lo e outros (F. Matarazzo) e passou a ser a BM Empreendimentos e 
Participações SPE LTDA
 
 
 
18
Para contextualizar a realização do empreendimento 
conhecido como “Cidade Matarazzo” é necessário conhecer melhor 
seu investidor principal. Alexandre Allard é cidadão francês, embora 
nascido nos Estados Unidos. Tornou-se muito conhecido nos anos 
1990 por ser um dos fundadores da empresa ConsoData, que 
reunia então a maior quantidade de dados do mundo. Após vender 
a empresa em 2000, ele passa a dedicar-se a projetos pontuais de 
reformas, e à medida em que seu volume de obras foi crescendo 
organizou o Grupo Allard, em 2009 (ENTREPRENDRE)2.
O grupo Allard engloba atividades em diversos ramos 
comerciais: moda (Balmain), mídia (revista L’Architecture 
D’Aujourd’hui), arte e setor imobiliário e hoteleiro. Sua atuação na 
compra e reforma de antigas edificações e hotéis em Paris, como o Le 
Royal Monceau e o Hotel Particulier de Pourtalès, os deixando com 
serviço e infraestrutura luxuosos, foi bastante divulgada. 
Segundo o site “Entreprendre” a visão de Allard sobre o próprio 
grupo é que ele seria, “antes de tudo, uma tribo, que busca colocar 
seus talentos e conhecimentos ao serviço do belo, da emoção e da 
arte”3.
O hotel 5 estrelas Royal Monceau, em Paris, foi a primeira 
experiência do grupo Allard na reabilitação de imóveis de luxo. O 
design de interiores é de autoria de Philippe Starck, que também faz 
parte da equipe do projeto da Cidade Matarazzo. O Hotel manteve 
a fachada antiga do edifício e teve o seu interior modificado, com a 
inserção de móveis e a identidade de Starck. 
A matéria de “Lifestyle” no site da Forbes diz que o 
Royal Monceau “é um hotel palácio, e que o que Starck criou é 
algo ousado, que mistura o clássico com o contemporâneo”4. 
 Segundo o site da Cidade Matarazzo5, Allard gostaria de 
vender uma experiência de conforto aliada ao luxo, com cinema, 
arte e chefs internacionais renomados frente aos restaurantes 
no Royal Monceau. “O Hotel, da rede hoteleira Raffles, oferece 
aos seus clientes espaços dedicados a arte contemporânea. 
Livraria de arte, sala de cinema privada, galeria de arte 
contemporânea, coleção privada com mais de 300 obras de arte 
e um serviço de concierge de arte: o programa artístico do hotel é 
multidisciplinar, multimídia e intergeracional”. (ROYALMONCEAU)6 
1.2 Histórico do Grupo Allard 
19
 O projeto que o grupo Allard está realizando no Brasil seguiria 
essa mesma linha de atuação. A proposta parece ser semelhante à 
dos empreendimentos na França, mas o porte e escala, no caso 
paulistano, é muito maior. Na França foi restaurada e reabilitada 
somente uma edificação, enquanto na “Cidade Matarazzo”, como será 
visto mais detalhadamente adiante, a proposta envolve um conjunto 
de edificações cuja reabilitação, para ser viabilizada, envolve ações 
construtivas complexas.
Segundo o site da Cidade Matarazzo, o interesse do grupo 
Allard pelo complexo do Hospital Matarazzo, e a aquisição do 
complexo imobiliário em 2008, teria como foco a construção de um 
hotel e de instalações para o comércio de luxo, gerando renda, mas 
também teria a ver com a possibilidade potencial de investimento 
em cultura e arte, revitalizando o legado arquitetônico e cultural 
existente. Nesse sentido, foram chamados para a equipe de projeto 
importantes figuras internacionais do mundo artístico, design e 
arquitetura. O hotel é projeto do escritório do arquiteto francês 
Jean Nouvel, os interiores do hotel são projeto do designer francês 
Philippe Starck, e outros artistas e designers irão contribuir com o 
novo complexo multifuncional.
 A seguir será tratada cada etapa do empreendimento de 
maneira detalhada, começando pela Torre Mata Atlântica, projetada 
pelo escritório de Jean Nouvel; em seguida será abordado o novo 
uso a ser atribuído ao antigo complexo hospitalar. 
20
 Será feito a seguir o detalhamento da proposta de 
empreendimento chamada “Cidade Matarazzo”, em duas etapas, 
assim como foi definido o projeto. A primeira tratará a Torre Mata 
Atlântica e o setor de hotelaria e a segunda o Hospital e o setor 
comercial.
1.3.1 Etapa 1: Torre Mata Atlântica, maternidade e capela 
(hotelaria, previsão 2020) 
Segundo o discurso presente no site do empreendimento, 
o grupo Allard pretende “realizar um sonho brasileiro, mostrando 
o melhor que há de sua cultura e raízes”. Ainda assim, de fato, os 
projetos foram idealizados por franceses, que por mais que conheçam 
e admirem a cultura brasileira, não são de fato brasileiros. Pode-se 
entender, portanto, que se trata de um empreendimento de parceria 
franco-brasileira, envolvendo profissionais de grande presença 
internacional. 
A proposta para o antigo complexo hospitalar Matarazzo é 
de restaurar e preservar os edifícios históricos, sendo que somente a 
Capela será completamente restaurada e terá o uso original mantido. 
Junto à antiga edificação da maternidade haverá uma nova torre, 
projetada pelo escritório francês Jean Nouvel, abrigando um grande 
hotel de luxo, 6 estrelas, da empresa Rosewood Hotels&Resorts.
“Encontro entre o histórico e o contemporâneo: um hotel palácio, 
administrado pelo renomado Rosewood Hotels & Resorts. O edifício 
histórico será entrelaçado com uma torre moderna projetada por 
Jean Nouvel – evidência concreta do futuro que ganha vida dentro 
do coração de São Paulo.” (CIDADEMATARAZZO)
Além do grande hotel de luxo haverá uma área para comércio, 
e será implantando um jardim, com as “árvores mais comuns e 
famosas brasileiras”, supostamente, “inspirado na Mata Atlântica”, 
buscando evidenciar uma “brasilidade” aliada ao exotismo do olhar 
estrangeiro. 
A torre Mata Atlântica teria sido proposta de maneira a se 
mesclar na paisagem, dando continuidade ao “parque” Matarazzo, 
através da presença de vegetação e árvores na sua fachada e 
1.3 A proposta de intervenção 
21
interiores, além de contar com a presença de materiais locais de 
fácil acesso como a madeira, o metal com aspecto de madeira e o 
concreto. SegundoJean Nouvel a ideia de colocar as árvores da torre 
veio após sua visita à maternidade e ao complexo histórico, onde 
percebeu que havia muita vegetação e um clima próprio, levantando 
a sugestão de integrar os dois locais com a presença da vegetação 
na torre também contrastando com as outras torres presentes na Av. 
Paulista (L’Archictecture D’Aujourd’hui, Montpellier, França, p.24-27, 
2019). 
Para a volumetria, o arquiteto propôs que o edifício tivesse 
perfil piramidal, em composição que permite criar vários terraços 
arborizados, dando soluções distintas para cada lado, com fachada 
mais aberta, com largos e profundos terraços arborizados, voltada 
para o parque. Enquanto a fachada com vista para a cidade tem 
aspecto mais íngreme (figura 16), visando criar um diálogo com os 
imóveis já existentes, pelo maior uso de concreto armado. As fachadas 
leste e oeste possuem brises de madeira para proteção solar.
 O conjunto configura uma torre de 93 metros de altura, 
englobando o hotel 6 estrelas e um complexo residencial (que 
possui os serviços hoteleiros – estilo “flats”) com 104 quartos e 126 
suítes privadas, mais um spa, área “fitness” e a cobertura privada. 
Segundo o arquiteto Jean Nouvel, essa nova arquitetura “fala do 
passado, presente e futuro. Passado devido a técnica de construção 
em madeira que está há mais de séculos na história. Do presente pois 
ela se insere de maneira harmônica entre as construções antigas. Do 
futuro na nova maneira de habitar, com a presença de vegetação e 
jardins suspensos em São Paulo, com vistas luxuosas, caracterizando 
uma arte de viver em São Paulo” (JEANNOUVEL)7. A construção da 
torre está sendo feita em uma área do terreno que não é tombada, 
porém o seu impacto na paisagem e no complexo tombado será 
enorme, aspecto que será abordado no capítulo 3.
A torre ainda está em construção; a previsão de abertura do 
Hotel e Capela é para o primeiro semestre de 2021. A visita de campo 
das obras, pela autora, ocorreu em setembro e outubro de 2019, 
tendo sido possível acompanhar uma parte das obras de perto, o que 
ajudou na compreensão do conjunto (figuras 17-22). 
22
Fig. 16: Imagem renderizada da Torre 
inserida na paisagem, lado com vista para 
a cidade e o bairro da Bela Vista; Disponível 
em: http://www.jeannouvel.com/projets/
torre-rosewood/ Acesso 14 de maio de 2019
Fig. 18: Torre Mata Atlântica em construção 
vista de fora do terreno. Foto: Natália Hetem, 
jun/2019
Fig. 17: Vista de frente do restauro da 
maternidade e a Torre Mata Atlântica ao 
fundo. Foto: Natália Hetem, set/2019
23
Fig. 19: Fundo da maternidade sendo 
restaurado. Foto: Natália Hetem, out/2019
Fig. 20: Arcos de apoio para a estrutura 
original da maternidade, construção do 
Lobby do Hotel. Foto: Natália Hetem, 
out/2019
Fig. 22: Restauração do interior da capela. 
Foto: Natália Hetem, out/2019
Fig. 21: Restauração da fachada da capela. 
Foto: Natália Hetem, out/2019
24
O projeto de interiores será realizado pelo designer Philippe 
Starck. Segundo consta no site do empreendimento, o espaço 
pensado pelo designer funcionaria como “uma ponte entre a 
criatividade brasileira e a europeia”. Starck se mostra muito poético 
na descrição do seu trabalho e no local da “Cidade Matarazzo”:
Cidade Matarazzo deu vida a São Paulo e depois dormiu.
Cidade Matarazzo está acordando e dará, novamente, vida à 
São Paulo
Não do mesmo jeito.
Na primeira vez era feita de carne.
A nova é feita de sonhos.
Sonho, visão, criatividade, rigor são os pontos da Matarazzo.
O sonho é simples; criar uma ilha, criar um
pasaíso no meio da cidade, o qual vai se tornar o centro da 
vida da cidade.
Quem quer que seja, em qualquer momento da sua vida, 
seus
sonhos terão seu próprio local na Matarazzo.
Como a vida.
Para sempre. Ph. S. (STARCK, 2016)8
 No poema acima ele faz referência à época em que o local era 
um hospital, principalmente à Maternidade, e evidencia a drástica 
mudança que o local sofrerá, se transformando em realizador de 
sonhos. Mas, sonhos de quem? Dos investidores, do Alexandre 
Allard, do próprio Starck e dos outros envolvidos. O projeto, por suas 
características, provavelmente servirá apenas a uma parcela muito 
pequena da população, amante da arte, cultura e, principalmente, do 
luxo, para desfrutar dos privilégios que o local oferecerá.
No local há um showroom para visita e divulgação, aos 
possíveis compradores, simulando os espaços das suítes da Torre. 
E no site da Cidade Matarazzo já existem imagens renderizadas 
mostrando o projeto das áreas comuns do hotel (figuras 23-28), 
permitindo ter uma noção de como ficará a obra, quando finalizada.
No “press release” da torre hoteleira Mata Atlântica, gerenciada 
pela rede Rosewood, o grupo Allard aponta esse empreendimento 
como “o melhor investimento para o mercado de luxo na cidade e 
no Brasil”. Os acabamentos da torre estão sendo projetados por uma 
empresa francesa, a Ateliers de France, usando materiais encontráveis 
no Brasil, pois eles consideram que “o luxo não precisa ser importado”, 
já que o país tem muitos recursos de alta qualidade. Essas frases 
25
anteriores me fazem pensar sobre como, em pleno século 21, ainda 
se pensa no Brasil como ótimo fornecedor de matéria prima e de mão 
de obra, mas que segue sob o comando de europeus, sem assumir 
o papel de líder do próprio destino. Os textos de apresentação 
do projeto da “Cidade Matarazzo” revelam claramente seu vezo 
eurocêntrico, embora pretendam estar vestidos de “brasilidade”.
Como é um empreendimento de grande porte, segue um 
resumo dos projetos que estão sendo feitos no complexo: arquitetura 
da torre por Jean Nouvel; direção artística e suítes (cada uma com 
130-450m², com mais de 50 lay-outs diferentes) desenhadas sob 
medida por Philippe Starck; serviços de hotel por Rosewood Hotel & 
Resorts; acabamentos por Ateliers de France no Brasil; e paisagismo 
por Louis Benech. A presença de profissionais brasileiros ocorre 
somente na administração, mão de obra e fornecimento de materiais, 
não comparecendo nos estágios dos processos criativos.
Fig. 23 e 24: Modelo da 
suíte de 163m². Fonte: 
Cidade Matarazzo. 
Disponível em: https://www.
cidadematarazzo.com.br/
suites-tipos Acesso 17 de 
fevereiro de 2020
26
 Além dos profissionais mencionados acima, o escritório 
franco-brasileiro Triptyque Arquitetura também está presente, 
sendo responsáveis pelas obras de restauro e reformas no interior 
do complexo. No subsolo de 31 metros, criado sob a capela, haverá 
estacionamentos, espaços de apoio ao hotel e espaços de eventos. O 
antigo Hospital, que será tratado a seguir, será restaurado e abrigará 
lojas de luxo, um centro cultural e um mercado de produtos orgânicos. 
Fig. 25 e 26: Modelo da suíte de 342m². 
Fonte: Cidade Matarazzo. Disponível 
em: https://www.cidadematarazzo.
com.br/suites-tipos Acesso 17 de 
fevereiro de 2020
27
Fig. 28: Piscina do hotel. Fonte: Cidade 
Matarazzo. Disponível em: https://www.
cidadematarazzo.com.br/hotel-fachada 
Acesso 17 de fevereiro de 2020
Fig. 27: Recepção e bar do hotel. Fonte: 
Cidade Matarazzo. Disponível em: https://
www.cidadematarazzo.com.br/hotel-
fachada Acesso 17 de fevereiro de 2020
28
1.3.2 Etapa 2: Hospital e lojas (lojas comerciais, previsão 2021)
A parte do conjunto que abrigava o antigo Hospital será 
transformada em uma grande área comercial, mantendo somente 
alguns elementos originais dos interiores, aqueles que estão indicados 
nas resoluções de tombamento do Conpresp e do Condephaat, e que 
também indica que todas as fachadas devem ser restauradas.
O processo de restauro e manutenção das fachadas e 
esquadrias das edificações do hospital ainda não começou, pois o 
empreendimento deu prioridade às obras da maternidade, da capela, 
e da Torre. Portanto, a situação em que ele se encontrava quando 
visitei o local (em 2019) é bastante precária, e praticamente a mesma 
(ou ainda mais degradada) de quando a área foi comprada há 12 
anos atrás (figuras 29-32).
O setorque irá abrigar um mercado de produtos de luxo (figuras 
33 e 34) adotará soluções de alta tecnologia para o desenvolvimento 
do sistema de compras, com parceria da empresa multimarcas de 
roupas Farfetch. Está previsto no projeto um “percurso sensorial” 
dos interiores, de autoria do designer francês Hubert de Malherbe 
(L’Archictecture D’Aujourd’hui, Montpellier, França, p.58-67, 2019).
 Junto do antigo complexo hospitalar também terá implantado 
a parte cultural e o comércio de produtos orgânicos, onde será 
empregado mobiliário de autoria dos Irmãos Campana. Todas essas 
diferentes atividades se complementam e quando finalizadas irão 
compor o chamado “parque” Matarazzo. Assim como o polêmico 
túnel a ser implementado, chamado “Boulevard da Diversidade”, que 
será concluído somente em 2022 (ver adiante).
O mercado orgânico que ficará aberto 6 dias na semana, com 
produtos locais expostos para venda, será uma ação conjunta do 
empreendimento “Cidade Matarazzo” com a organização “Horta Social 
Urbana”, que treina moradores de rua para o trabalho agricultural nas 
fazendas urbanas, com o propósito de promover compartilhamento, 
autonomia e desenvolver habilidades (L’Archictecture D’Aujourd’hui, 
Montpellier, França, p.19, 2019). A organização “Horta Social Urbana” 
atua principalmente nos locais ociosos da cidade de São Paulo, 
com o seguinte objetivo: “Formar pessoas em situação de rua em 
técnicas de jardinagem com práticas agroecológicas promovendo 
seu fortalecimento à reintegração social” (HORTA SOCIAL URBANA).
29
Fig. 31: Outra fachada do hospital. Foto: 
Natália Hetem, set/2019
Fig. 29: Fachada de uma das edificações do 
hospital, possível ver a ação do tempo. Foto: 
Natália Hetem, set/2019
Fig. 30: Detalhe da esquadria. 
Foto: Natália Hetem, set/2019
Fig. 32: Interior da edificação. Foto: Natália 
Hetem, set/2019
30
Fig. 34: Lay-out sugerido para as lojas de 
luxo. Fonte: Cidade Matarazzo. Disponível 
em: https://www.cidadematarazzo.com.
br/empreendimento-retail Acesso 17 de 
fevereiro de 2020
Fig. 33: Lay-out sugerido para as lojas de 
luxo. Fonte: Cidade Matarazzo. Disponível 
em: https://www.cidadematarazzo.com.
br/empreendimento-retail Acesso 17 de 
fevereiro de 2020
31
O design do mobiliário será realizado pelos Irmãos Campana. 
Os Irmãos Campana propuseram diferentes mobiliários (figuras 
35-38) a serem dispostos ao longo do mercado, a partir de ideias e 
referências ao Brasil e sua cultura, dialogando com o discurso adotado 
para o complexo.
Perto do mercado de produtos orgânicos haverá um centro 
cultural destinado à divulgação da obra de artistas brasileiros e 
internacionais, o qual será chamado de “Casa da Criatividade”. 
O espaço cultural terá patrocínio do banco Bradesco, passando, 
portanto, a ter o nome de “Casa Bradesco da Criatividade”, e conterá 
salas de exposição e um auditório no subsolo, entre o complexo 
hospitalar (figuras 39-41).
Próximo da capela haverá uma nova edificação destinada a 
um centro comercial, pensado e projetado pelo arquiteto francês 
Rudy Riccioti (figura 42). Segundo o Comercial da Cidade Matarazzo, 
essa edificação será a primeira com serviços de alto de luxo em São 
Paulo, pois aproveitará a rede do hotel 6 estrelas e a infraestrutura 
total do empreendimento, como as lojas, restaurantes e áreas de lazer. 
A arquitetura da edificação foi projeto de Rudy Riccioti e ele optou, 
assim como Nouvel, de trazer a questão do verde para a fachada, com 
a ideologia de cipós. 
O empreendimento da Cidade Matarazzo é bastante complexo, 
intervém em diversas áreas e busca ter como foco de sua proposta a 
presença da arte em todos os ambientes:
Mas a arte não estará restrita apenas à Casa da Criatividade, ela 
vai estar espalhada por todo o empreendimento: nos jardins, 
nas galerias, nos bares e nos restaurantes. Ao caminhar pelo 
Matarazzo, será possível respirar arte. Ao todo, 57 artistas brasileiros 
terão os seus trabalhos expostos aqui. (CIDADEMATARAZZO)9 
 
Além das intervenções dentro do lote, na capela, no hotel, no 
interior do hospital e com o foco na arte, o empreendimento inclui 
uma intervenção externa, de caráter urbanístico, visando conectar 
o conjunto à Avenida Paulista através de um “túnel verde” sob a rua 
São Carlos do Pinhal (fig. 43 e 44). A ideia seria de maneira a facilitar 
o acesso dos pedestres ao complexo e seu jardim, desviando a rota 
de carros para o subsolo. A proposta envolveria uma grande obra 
de engenharia, e tinha previsão de conclusão para 2022; mas a ideia 
vem sofrendo forte oposição dos comerciantes estabelecidos nas 
ruas locais, e por isso foi postergada.
32
No nível da rua seria então criado o “Boulevard da Diversidade”, 
projeto da arquiteta e urbanista Adriana Levisky. Segundo o plano 
de trabalho do acordo de cooperação do Boulevard da Diversidade, 
o projeto pretende transformar o espaço urbano e os hábitos das 
pessoas que circulam a região (o que é uma grande promessa a ser 
feita). “Trata-se de uma nova perspectiva para a cidade de São Paulo” 
(SÃOPAULO)10. É proposto, além do túnel, uma requalificação urbana 
da alameda das flores (que tem acesso à Av. Paulista, fornecendo 
então um fácil acesso ao empreendimento), com o objetivo de 
ampliar o espaço público, e torná-lo aberto ao público (figura 45).
Para a requalificação desse ambiente urbano é proposta uma 
nova paginação de piso, nova iluminação pública, e mobiliário 
urbano também com desenho dos irmãos Campana. O local terá a 
implantação de sistema gratuito de acesso à internet via wi-fi, e um 
projeto paisagístico condizente com o restante do empreendimento. 
Também será feito um sistema de drenagem e captação da água da 
chuva (figura 46).
O conjunto “Cidade Matarazzo” é um projeto inovador em sua 
dimensão e com grande complexidade de programa, o que torna difícil 
de achar casos de comparação aqui no Brasil, principalmente pelo 
fato de envolver o reuso, em caráter comercial, de edifícios tombados 
pelos órgãos de patrimônio histórico – um assunto que, por sua 
novidade e escala, irá afetar de maneira bastante relevante a questão 
da memória da cidade e dos cidadãos. Por isso o próximo capítulo irá 
debater a questão patrimonial de edifícios e sítios históricos e como 
ela vem sendo tratada no campo da teoria e da prática, no Brasil e no 
mundo, como essas questões vem sendo tratadas também através de 
debates públicos e abertos, que notificam e informam a população 
sobre as propostas, permitindo críticas e confrontos; e verificando o 
exemplo de outros projetos similares, principalmente internacionais, 
e dois nacionais.
33
Fig. 36, 37 e 38: Mobiliários 
propostos pelos Irmãos 
Campana, de bambu, 
madeira e tubos de 
acrílico, respectivamente. 
Fonte: L’Archictecture 
D ’ A u j o u r d ’ h u i , 
Montpellier, França, p.18, 
2019
Fig. 35: Perspectiva 
do mercado orgânico. 
Fonte: Cidade 
Matarazzo. Disponível 
em: https://www.
cidadematarazzo.com.
br/empreendimento -
mercado-orgnico Acesso 
19 de fevereiro de 2020
Fig. 39: Corte com 
o programa de 
necessidades da “Casa 
Bradesco da Criatividade”, 
de Rudy Ricciotti. 
Fonte: L’Archictecture 
D ’ A u j o u r d ’ h u i , 
Montpellier, França, p.34, 
2019)
34
Fig.41: Perspectiva da área de 
exposição da “Casa Bradesco 
da Criatividade”. Fonte: Cidade 
Matarazzo. Acesso 19 de fevereiro 
de 2020
Fig.40: Perspectiva do palco 
do auditório dentro da “Casa 
Bradesco da Criatividade”. Fonte: 
Cidade Matarazzo. Acesso 19 de 
fevereiro de 2020
Fig. 42: Fachada da edificação 
do centro comercial, de Rudy 
Ricciotti. Fonte: L’Archictecture 
D’Aujourd’hui, Montpellier, 
França, p.33, 2019
35
Fig. 43: Maquete do showroom do “Boulevard da 
Diversidade. Fonte: Showroom Cidade Matarazzo, foto de 
Natália Hetem, outubro de 2019
Fig. 44: Corte esquemático do túnel. Fonte: Estadão. 
Disponível em: https://sao-paulo.estadao.com.
br/noticias/geral,sp-megacomplexo-de-luxo-em-
antigo-hospital-sera-aberto-em-maio-na-bela-
ista,70003024352 Acesso: setembro de 2019
Fig. 45: Implantaçãodo Boulevard da Diversidade. Fonte: 
Plano de Trabalho de Acordo de Cooperação – Anexo V 
do Edital n1-2019, pag.3. 
36
Fig. 46: Desenho com o sistema 
de drenagem e coleta de água da 
chuva. Fonte: Plano de Trabalho 
de Acordo de Cooperação – Anexo 
V do Edital n1-2019, 
37
O segundo capítulo abordará a questão patrimonial, trazendo 
as cartas, teorias e a legislação de São Paulo e da região em que o 
projeto se situa, além dos documentos do CONPRESP e CONDEPHAAT. 
Também é dividido em partes, a primeira sobre teorias de patrimônio, 
as cartas internacionais, memória e historiografia. A segunda com 
legislações aplicadas ao caso, a terceira com as questões relativas 
ao debate público da proposta e a quarta com os exemplos e 
breves estudos de casos dos projetos similares em programas e/ou 
intervenção em pré-existência. 
Para a realização do trabalho foi feita a leitura sobre os atuais 
teóricos de restauração, documentos do IPHAN, teses e livros 
sobre patrimônio e políticas públicas, sobre como agir em uma 
pré-existência (problema que maioria das cidades têm ao ver 
necessidade de expandir seu espaço urbano e melhorar sua 
infraestrutura), pesquisa nos arquivos da cidade de São Paulo e 
nos órgãos responsáveis (Departamento de Patrimônio Histórico, 
CONPRESP, IPHAN, CONDEPHAAT) no arquivo histórico da cidade de 
São Paulo e levantamento e registro de fotos do objeto escolhido. 
Traz como referências Cesare Brandi, Gustavo Giovannoni e Giovani 
Carbonara na área de restauro, Jan Gehl e Jane Jacobs para o 
urbanismo, Castriota para a questão de políticas públicas, Lemos 
sobre patrimônio no Brasil. Trata da Carta de Atenas de 1931, Carta 
de Veneza de 1964 e Declaração de Amsterdã de 1975, Halbwach 
sobre a questão da memória e Waisman sobre historiografia. Fará a 
leitura e compreensão do plano diretor de São Paulo e do Estatuto 
da Cidade de 2001 para compreender os instrumentos urbanos que 
podem ser utilizados, e ver se a obra está de acordo com eles.
Foi realizado um levantamento dos conceitos mais importantes 
para a pesquisa. Começando com as diretrizes das cartas patrimoniais 
e dos teóricos de restauração e de autores sobre patrimônio, 
historiografia, memória e sobre a temática urbana para finalizar. Em 
seguida trata as políticas e instrumentos necessários para a realização 
de intervenção. Após visto os instrumentos, foi abordado a questão 
da discussão e divulgação do que vem sendo feito na obra para o 
público. Por último, será apresentado os outros estudos de caso, que 
servirão como base para a análise aprofundada do caso da Cidade 
Matarazzo. 
DEBATES E EXPERIÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS 
 SOBRE A INTERVENÇÃO EM BENS PATRIMONIAIS
2.
38
Para dar início a coletânea bibliográfica trataremos as cartas 
internacionais na ordem cronológica de lançamento. A Carta de 
Atenas de 1931 e a Carta de Veneza de 1964 - que foi criada pelo 
segundo Congresso de Arquitetos e Especialistas em Edifícios 
Históricos, criadores também do ICOMOS (Conselho Internacional 
aos Monumentos Históricos e sítios) - são fundamentais para a 
discussão de patrimônio, já que são uns dos primeiros documentos a 
serem feitos do assunto na Europa. Cada uma foi feita em um tempo 
e leva em consideração o seu contexto, de cidades destruídas após 
as guerras mundiais.
O ICOMOS foi criado após a Carta de Veneza de 1964, em 
1965, devido a sugestão da UNESCO (Organização das Nações Unidas 
para a Educação, a Ciência e a Cultura) para o segundo Congresso de 
Arquitetos e Especialistas em Edifícios Históricos. É uma organização 
internacional governamental sem fins lucrativos que se dedica “à 
promoção da aplicação da teoria, metodologia e técnicas científicas 
para a conservação do patrimônio arquitetônico e arqueológico. 
“(ICOMOS).
O ICOMOS é uma rede de especialistas que se beneficia 
do intercâmbio interdisciplinar entre os seus membros, entre 
os quais estão arquitetos, historiadores, arqueólogos, historiadores 
de arte, geógrafos, antropólogos, engenheiros e urbanistas. Os 
membros do ICOMOS contribuem para o aperfeiçoamento da 
preservação do patrimônio, das normas, e das técnicas 
para cada tipo de bem do patrimônio cultural: edifícios, cidades 
históricas, paisagens culturais e sítios arqueológicos. (ICOMOS)
2.1 Teorias e legislações presentes em cartas e protocolos internacionais, 
	 	breve	revisão	bibliográfica
39
2.1.1 Cartas internacionais
A Carta de Atenas de 1931 é mais voltada para a proteção 
dos monumentos, pensando em conservá-los e somente restaurar 
quando for indispensável.
A conferência recomenda que se mantenha uma utilização 
dos monumentos, que assegure a continuidade de sua vida, 
destinando-os sempre a finalidades que o seu caráter histórico ou 
artístico. (Carta de Atenas, 1931) 
A conferência recomenda respeitar, na construção dos edifícios, 
o caráter e a fisionomia das cidades, sobretudo na vizinhança 
dos monumentos antigos, cuja proximidade deve ser objeto de 
cuidados especiais. (Carta de Atenas, 1931)
O documento preza pelo emprego adequado de técnicas 
modernas, sem alterar o caráter da edificação a ser restaurada. 
Apresenta que deve haver interesse mundial público de salvaguardar 
os monumentos. Enfatiza a necessidade de uma boa educação para 
a população adquirir interesse pela obra. Impõe fazer registros e 
arquivos dos monumentos históricos, com informações e fotos.
Segundo Kuhl (s.d.), os anos de 1930 viveu uma grande 
contradição entre os grupos de arquitetos conservadores e o de 
arquitetos engajados com o modernismo, pois havia a vontade e 
necessidade de se modernizar e urbanizar as cidades, assim como 
a de manter a paisagem urbana. Portanto, começa o pensamento 
urbanístico que valoriza o modernismo, enquanto a Carta de Atenas 
de 1931 não leva tanto esse assunto em consideração, sendo o 
primeiro documento internacional redigido por especialistas de 
restauração que visa elaborar diretrizes gerais e prioriza a história. A 
Carta de 1931 se preocupa em fornecer diretrizes para organização 
de princípios de salvaguarda patrimonial em diversos países, sugere 
respeito às transformações que a obra sofreu com o tempo, e 
condena a reconstrução. Atualmente estamos vivendo novamente 
essa contradição, já que cada vez mais se quer demolir construções 
antigas para construir novos empreendimentos e valorizar áreas 
subutilizadas. Porém, pode haver um meio termo nessas relações, 
como escolher edificações que realmente já estão muito degradadas 
e não tem valor para a cidade e as demolir, o que acarreta na melhor 
manutenção e conservação dos edifícios emblemáticos e importantes 
para a memória de um povo. O local da “Cidade Matarazzo” é um 
exemplo dessa contradição, pois foi visado ao longo dos anos como 
um local de grande potencial construtivo, mas não levando em 
consideração o patrimônio edificado já existente por lá. A proposta 
de empreendimento atual transformou a visão sob o local, mostrando 
40
que há a possibilidade de se construir o novo junto do antigo. Isso 
será tratado mais detalhadamente nos próximos capítulos. 
A Carta de Veneza de 1964 é a carta internacional sobre 
conservação e restauração de monumentos e sítios. É utilizada até 
hoje como referência nos projetos de preservação e restauração pois 
se tornou o documento base do ICOMOS, não existe outra carta ou 
documento que a substitua. Segundo ela, as obras monumentais dos 
povos são testemunhos das tradições, são consideradas patrimônio 
comum pela humanidade, e esta deve preservá-las para as gerações 
futuras. Define monumento histórico como: 
a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural 
que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução 
significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só 
as grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham 
adquirido, com o tempo, uma significação cultural. (Carta de 
Veneza, 1964)
A Carta trata a restauração e a conservação como disciplinas 
que utilizam colaboração dediferentes áreas e técnicas, com a 
finalidade de salvaguardar o patrimônio e o testemunho histórico. 
Em seu texto fica evidente que a conservação exige manutenção 
constante, é favorecida com uma destinação útil para a cidade, 
não se deve alterar as características do edifício, e o monumento é 
inseparável da sua história e testemunho do tempo no local inserido, 
é intolerável o seu deslocamento. Já a restauração é vista com caráter 
excepcional, tem como objetivo “conservar e revelar os valores 
estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito 
ao material original e aos documentos autênticos” (Carta de Veneza, 
1964). Essa ação é precedida de um estudo arqueológico do sítio, 
respeita as contribuições de épocas que o monumento sofreu, os 
elementos adicionais que substituem o que falta devem se integrar 
harmonicamente mas distinguindo-se do original e respeitando a 
edificação. 
Para Kuhl (2010), as cartas patrimoniais têm caráter indicativo, 
prescritivo e são bases para as profissões que atuam em restauração 
e preservação. No Brasil, o uso da Carta de Veneza não é aprofundado 
nas questões que a carta aborda, o que seria necessário, já que ela 
não tem um princípio normativo e sim de diretriz. Kuhl relaciona 
o contexto de criação da Carta de Veneza e relata que algumas 
recomendações da Carta de Atenas de 1931 serviram de base à 
ela. Além da Carta de 1931, ela se baseia em propostas do “restauro 
crítico” de Brandi, sugere a análise da obra pensando no estético e no 
histórico, tendo cada caso sua particularidade. 
41
Em resumo, as cartas não são leis ou regras que devem sempre 
ser seguidas, elas complementam as teorias já existentes sobre 
restauração e conservação, fornecendo recomendações e apoio ao 
profissional que atua na área.
Em 1975 temos a Declaração de Amsterdã como um 
importante documento sobre patrimônio e que traz conceitos novos 
de gestão, como o de conservação integrada. Muito voltada para as 
questões europeias, relata que o patrimônio europeu é integrante do 
patrimônio cultural do mundo. Traz um sentido amplo de patrimônio, 
composto por conjuntos, bairros que tenham valor histórico e 
cultural, além dos bens isolados, e que é dever da população evitar 
a deterioração e proteger os bens. Aponta o patrimônio como 
objetivo maior dos planejamentos da área urbana, que devem o 
considerar e o proteger. É preciso encorajar organizações privadas 
(no caso principal de estudo deste trabalho o interesse partiu da 
iniciativa privada) para contribuir no interesse público, é necessária a 
reprodução de relatórios periódicos do estado de conservação e do 
desenvolvimento do trabalho em cada país para que seja possível os 
conservar.
Segundo a declaração, sem política de ação e proteção, e sem 
a conservação integrada não é possível se manter um patrimônio. 
A conservação do patrimônio deve ser incluída em programas de 
educação e desenvolvimento cultural para conhecimento do próprio 
à população. A participação popular deve, então, sempre estar 
presente.
A declaração de 1975 introduz e aborda o conceito de 
conservação integrada para salvaguarda de patrimônio. A conservação 
integrada exige adaptações de medidas legislativas e administrativas 
para ter medidas financeiras apropriadas e convincentes, sendo cada 
estado responsável por seu próprio método e instrumento. Portanto 
ela é a base do funcionamento das políticas de salvaguarda, é um 
plano detalhado de como agir com as políticas públicas que deve 
ser elaborado pelo governo e instituições privadas, investidores. 
É então necessárias leis para novas construções, que respeitem o 
patrimônio. O planejamento deve desencorajar a densificação e 
promover a reabilitação, estimular o financiamento privado e dar 
apoio ao proprietário para ele realizar a restauração. A conservação 
integrada é um passo essencial para dar mais valor ao patrimônio, 
seja ele edificado ou não, para a preservação do mesmo.
42
2.1.2 Patrimônio histórico e teorias de restauração
Um dos pensadores de restauração mais atual e que tem sua 
teoria recorrente é Cesare Brandi, com a “Teoria da Restauração”. O 
autor traz a restauração como qualquer intervenção feita para dar 
novamente eficiência a um produto da atividade humana. Relata o 
restauro na obra de arte, que vai restabelecer a sua funcionalidade, 
dando prioridade à estética e depois a história. Segundo ele: 
“A restauração constitui o monumento metodológico do 
reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua 
dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à sua transmissão 
para o futuro” (BRANDI, 2004. p.30) e “A restauração deve visar ao 
restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que 
isso seja possível sem cometer um falso artístico ou falso histórico, e 
sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo.” 
(BRANDI, 2004. p.33)
Discute a relação do tempo na obra de arte, que está presente 
no aspecto fenomenológico, em 3 momentos: quando a obra é 
formulada, quando se acaba o processo criativo e ela se torna obra e 
quando ela fica marcada na consciência e então se torna atemporal. 
Esses tempos são diferentes do tempo histórico do observador, que 
pode observar uma obra do século passado no século atual. Isso pode 
se relacionar com a arquitetura e sua questão de passado, presente e 
futuro, que diferentes épocas e estilos podem conviver juntos e em 
harmonia nas cidades. Algo que está acontecendo atualmente e de 
maneira mais recorrente devido ao crescimento da cidade na malha 
urbana existente. Algo que será altamente evidenciado na “Cidade 
Matarazzo” quando o empreendimento estiver completo e tiver a 
nova torre dialogando – e contrastando – com as edificações antigas.
O autor aborda diferentes tipos de restauração e como agir 
frente a elas. Em restauração de ruínas indica que se deve a consolidar 
e conservar o status atual no qual se encontra, sem realização 
da intervenção direta, tendo então uma intervenção indireta no 
ambiente para pensar na melhor preservação do local. O que pode 
se tornar um problema urbanístico. Em questão estética a ruína deve 
ser tratada como qual e ser conservada e conectada com o restante 
do ambiente. “Esteticamente ruína é qualquer remanescente de obra 
de arte que não pode ser reconduzido à unidade potencial sem se 
tornar cópia.” (BRANDI, 2004, p.78)
Brandi nos alerta que ao se fazer a conservação existem alguns 
problemas que é preciso tomar cuidado em relação a legitimidade 
43
no valor histórico. Existe a remoção de elementos e o refazimento de 
elementos de uma obra ou edificação. Na remoção, segundo Brandi, 
se destrói os documentos e a passagem histórica do local, o que 
pode ser uma falsificação de dados. Acredita que a adição é legítima 
para a conservação, mas pode ser pior se refazer os elementos, o 
que seria condenável. Portanto, é preciso pensar isoladamente em 
cada caso qual a melhor solução, manter as camadas adicionadas ao 
longo do tempo ou as retirar, pois é um impasse na teoria brandiana 
que deve ser solucionada com projeto com base na experiência do 
profissional e na opinião popular. Vai abordar a questão da restauração 
preventiva, que é relacionada com os materiais constituintes da obra. 
Esses podem sofrer alterações devido suas composições químicas, 
o que pode afetar a obra com o tempo, e podem ser prevenidas. A 
restauração preventiva se vincula então com a restauração, e nada 
mais é do que a cautela e remoção de perigos, assegurar condições 
favoráveis a obra, ela exige mais despesa.
A maioria da teoria de Brandi do restauro crítico é sobre obras 
de arte, no apêndice ele trata da restauração de monumentos. São os 
mesmos princípios, mas pensando também na questão estrutural e 
na forma da arquitetura, assim como na espacialidade do monumento 
com seu ambiente, diz para pensar no sítio histórico.
Na apresentação de Carbonara do livro traduzido por Beatriz 
Kuhl, ele explica amplamente a teoria de Brandi. Diz que ele buscou

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