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Andre Reis Balsini

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Espaços	
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A.R.	
  Balsini 
 
 
 
 
 
 
FAU-­‐UPM	
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  Dissertação	
  de	
  	
  Mestrado	
  	
  
São	
  Paulo,	
  2014 
	
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Andre Reis Balsini 
(E-mail: abalsini@gmail.com ) 
 
Espaços de transição: entre a arquitetura e a cidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Arquitetura e 
Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à 
obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. 
Área de concentração: Arquitetura 
 
 
 
 
 
 
 
Orientação: M. Isabel Villac 
 
São	
  Paulo,	
  2014 
 
	
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Ficha Catalográfica | 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
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Andre Reis Balsini 
 
Espaços de transição: entre a arquitetura e a cidade 
 
Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em Arquitetura e 
Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à 
obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. 
Área de concentração: Arquitetura 
 
 
 
Aprovado em _____/_____/__________ 
 
Banca examinadora: 
 
 
 
__________________________________________________________________ 
Profa. Dra. M. Isabel Villac - Universidade Presbiteriana Mackenzie 
 
 
 
__________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Ruth Verde Zein - Universidade Presbiteriana Mackenzie 
 
 
 
__________________________________________________________________ 
Profa. Dra. Marta Bogéa - Universidade de São Paulo 
 
	
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Dedicatória | 
 
à Nadia Souza de Carvalho Barbosa, 
in memoriam. 
 
 
 
	
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Agradecimentos | 
 
 
à Profa. M.I. Villac, orientadora deste trabalho; 
ao CAPES, pelo apoio ao projeto de pesquisa; 
 
às professoras integrantes da banca de 
avaliação - R.V. Zein e M. Bogéa - e aos 
professores suplentes - R.A.C. Perrone e M. 
Saleiro Filho -, especial agradecimento pelas 
contribuições e disponibilidade; 
aos colegas e professores do curso de Pós-
graduação em Arquitetura e Urbanismo, da 
FAU-UPM, pela oportunidade de aprendizado 
e troca de ideias, contribuições importantes 
para o processo de pesquisa; 
aos colegas de trabalho da Zanettini 
Arquitetura, pela colaboração e troca de 
ideias que precederam o processo de 
pesquisa; 
 
aos meus pais, pelo apoio fundamental; 
ao Lucas Fernandes Balsini, por ser 
inspiração para este processo; 
à Priscila Fernandes Balsini, por todo o apoio 
e paciência! 
a Deus. 
 
 
	
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Resumo | 
 
Nosso objeto de estudo será o espaço intermediário entre a arquitetura e a cidade, o 
espaço de transição entre interior e exterior, privado e público. Ambientes que conjugam 
características de meios opostos; potencialmente, possibilitando uma interpenetração entre 
a arquitetura e o espaço urbano. Em nossa pesquisa, deveremos tratar das possibilidades 
e implicações, no projeto de arquitetura, daquilo que toca os seus elementos transicionais. 
O trabalho busca ampliar um campo conceitual e propõe uma interlocução com uma série 
de autores, que se debruçaram sobre a temática do espaço de transição e (ou) conceitos 
próximos, complementares, a partir dos quais, pretendemos nos situar na discussão acerca 
dos binômios arquitetura-cidade, individual-coletivo, singular-plural, entre outros. Para 
contrapor aos conceitos investigados uma leitura de objetos arquitetônicos concretos, 
selecionamos cinco edifícios referenciais – de caráter público –, situados nas cidades de 
São Paulo e Rio de Janeiro, e analisamos de que forma as intervenções feitas a partir do 
objeto arquitetônico puderam resultar em ambientes de agenciamento, que se integraram 
ao tecido urbano e ampliaram as possibilidades de espaço público para o uso coletivo. 
Assim, apresentamos na dissertação, inicialmente, uma diversidade de enfoques para o 
objeto de pesquisa, de modo a estabelecer algumas considerações fundamentais para o 
projeto de arquitetura do espaço de transição. Na sequência, abordamos, concisamente, a 
questão do projeto, sob a perspectiva de sua própria ambivalência de instrumento 
propositivo. Completando o estudo, exploramos os desdobramentos da temática do objeto, 
elencando cinco temas qualitativos, por meio dos quais orientamos as discussões, em que 
os referenciais projetuais e teóricos foram inseridos. 
 
Palavras Chave | arquitetura; cidade; espaço de transição; entre; espaço público. 
 
 
 
 
	
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Abstract | 
 
Our object of study will be the intermediate space between architecture and the city, the 
transitional space between inside and outside, private and public. Environments that 
combine characteristics of opposites means; potentially allowing an interpenetration 
between architecture and urban space. In our research, we should address of the 
possibilities and implications in the architecture design, thereof touches to their transitional 
elements. The study seeks to expand a conceptual field and proposes an interlocution with 
a series of authors which have looked into the thematic of transitional space and (or) near 
concepts, complementary, from which we intend to situate ourselves with the discussion 
concerning of binomials architecture-city, individual-collective, singular-plural, among 
others. To counteract the concepts investigated a reading of concrete architectural objects, 
we selected five referential buildings - of public character - in the cities of São Paulo and 
Rio de Janeiro, and analyze how the interventions made from the architectural object could 
result in environments of assemblage, which to have integrated into the urban tissue, and 
have amplified the possibilities of public space for collective use. Thus, we presented in 
dissertation, initially, a diversity of approaches to the research object, in order to establish 
some fundamental considerations for the architecture design of the space of transition. 
Following, we discuss briefly the question of the project, from the perspective of his own 
ambivalence of propositive instrument. Completing the study, we explore the unfoldings of 
the thematic from object, listing five qualitative themes through which we oriented the 
discussions, in which projective and theoretical referentials were inserted. 
 
Keywords | architecture; city; transitional space; in-between; public space. 
 
 
 
 
 
 
	
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Resumen | 
 
Nuestro objeto de estudio será el espacio intermedio entre la arquitectura y la ciudad, el 
espacio de transición entre el interior y el exterior, lo privado y lo público. Los ambientes 
que combinan características de los medios opuestos; permitiendo potencialmente a una 
interpenetración entre la arquitectura y el espacio urbano. En nuestra investigación, 
debemos abordar las posibilidades e implicaciones en el proyecto de la arquitectura, lo que 
toca a sus elementos de transición. El estudio amplifica un campo conceptual y propone un 
diálogo con una serie de autores que han estudiado el tema del espacio de transición y (o) 
conceptos cercanos, complementarios, desde el que tenemos la intención de situarnos en 
la discusión de los binomios arquitectura-ciudad, individual-colectivo, singular plural, entre 
otros. Para contrapormos a los conceptos investigados una lectura de los objetos 
arquitectónicos concretos, seleccionamos cinco edificios de referencia - de carácter público 
- en las ciudades de São Paulo y Río de Janeiro, y analizamos cómo las intervenciones 
desde el objeto arquitectónico pudieron dar lugar a ambientes del agenciamiento, que se 
integraron en el tejido urbano, y ampliaron las posibilidades de espacio público para uso 
colectivo. Por lo tanto, presentamos en la disertación, en principio, una diversidad de 
enfoques para el objeto de investigación, a fin de establecer algunas consideraciones 
fundamentales para el proyecto de arquitectura de lo espacio de transición. Siguiendo, se 
analiza brevemente la cuestión del proyecto,desde la perspectiva de su propia 
ambivalencia de instrumento propositivo. Completando el estudio exploramos los 
desdoblamientos de la temática del objeto, enumerando cinco temas cualitativos, través de 
los cuales orientamos las discusiones en que las referencias proyectivas y teóricas fueron 
insertadas. 
 
Palabras clave | arquitectura; ciudad; espacio de transición; entre; espacio público. 
 
 
 
 
	
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Lista de Ilustrações | 
 
Cap.1 | 
 
1. Figura 01 - Percepção em tempo e movimento - Berlin, Potsdamer Platz III , 1998. Série Monuments (1997-2003). Fotografia de Thomas Kellner. 
Fonte da imagem: http://www.thomaskellner.com/artworks/portfolios/monuments/ [p.41] 
2. Figura 02 – “Linha horizontal: série dos ‘agora’. Linhas oblíquas: Abschattungen dos mesmos ‘agora’ vistos de um ‘agora’ ulterior. Linhas verticais: 
Abschattungen sucessivos de um mesmo ‘agora’.” (reproduzido conforme MERLEAU-PONTY, p.559) [p.43] 
3. Figura 03 - Transitional object. Esboço extraído de WINNICOTT, 1953. [p.45] 
4. Figura 04 – Transition Space 4, 2010. Obra de Soojin Hong. Fonte: http://cargocollective.com/soojin-hong/Transition-Space-4-Series [p.55] 
5. Figura 05 - Três sentidos da comunicação. Diagrama do autor, a partir da leitura de R. Barthes. [p.57] 
6. Figura 06 – Panteão (Roma), planta baixa. Espaço que é moldado e animado pela forma. Imagem original editada pelo autor. Fonte da imagem: 
<http://historiadaarte.pbworks.com/w/page/18413911/Panteão> Acessado em: 15-10-2013. [p.67] 
7. Figura 07 - Categorias de espaços transicionais [1-5]– entre-deux – segundo proposta de K. Djamel (2006-2007). Desenhos adaptados pelo autor, 
segundo os esquemas originais. [p.81] 
8. Figura 08 - Categorias de espaços transicionais [6-10]– entre-deux – segundo proposta de K. Djamel (2006-2007). Desenhos adaptados pelo autor, 
segundo os esquemas originais. [p.82] 
9. Figura 09 – Variações de espaços transicionais [1.v1-1.v4]. Desenhos do autor. [p.83] 
10. Figura 10 – Variações de espaços transicionais [3.v1-4.v2]. Desenhos do autor. [p.84] 
11. Figura 11 – Variações de espaços transicionais [5.v1; 5.v2; 0]. Desenhos do autor. [p.85] 
12. Figura 12 – Variações de espaços transicionais [6.v1; 6.v2]. Desenhos do autor. [p.86] 
13. Figura 13 – Variações de espaços transicionais [8.v1; 10.v1]. Desenhos do autor. [p.88] 
 
 
Cap.2 | 
 
14. Figura 14 - Cidade colagem de Paul Citroen: Metropolis, Großstadt, 1923. Fonte: Prentenkabinet Universiteit, Leyde. Disponível em: http://archives-
dada.tumblr.com/tagged/paul-citroen [p.94] 
15. Figura 15 - Amsterdam Orphanage (imagem editada). Foram inseridos gradientes e transparências sobre a planta, de modo a destacar os espaços 
In-between. Imagem original disponível em: http://www.archdaily.com/151566/ad-classics-amsterdam-orphanage-aldo-van-eyck/13-180/ [p.97] 
 
	
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Cap.3 | 
 
[3.1] 
16. Figura 16 – Plantas baixas: pavimento térreo, 1ª sobreloja e cobertura. Térreo livre, com duas praças cobertas. Terraço-jardim sobre o bloco 
horizontal. Fonte das imagens: WISNIK, 2001. [p.109] 
17. Figura 17 – Plantas baixas: 2ª sobreloja e pavimento tipo. Fonte das imagens: WISNIK, 2001. [p.110] 
18. Figura 18 – Corte. No bloco horizontal, sentido longitudinal; no bloco vertical, sentido transversal. Fonte da imagem: WISNIK, 2001. [p.111] 
[3.2] 
19. Figura 19 - O tema da sombra no MESP: brise soleil e pilotis. Fotomontagem do autor. Fonte da imagem original: WISNIK, 2001. [p.115] 
20. Figura 20 - Detalhe da maloca Balaú (AM). Foto: Carlo Zacquini, 1994. Fonte da imagem: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/yanomami/569 
[p.119] 
21. Figura 21 - Sítio Santo Antônio, em São Roque, SP, de 1681. Fonte da imagem: http://www.guiasaoroque.com.br/turismo/santo_antonio.asp [p.120] 
22. Figura 22 - Fazenda Columbandê, em São Gonçalo, RJ (séc. XVIII). Fonte da imagem: 
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.075/330 [p.120] 
23. Figura 23 - Rugendas, Costumes do Rio de Janeiro, 1835. Paisagem natural, sombras aprazíveis; o forro em arco mostra um aprimoramento da 
técnica construtiva. Fonte da imagem: http://www.opapeldaarte.com.br/rugendas/ [p.121] 
24. Figura 24 – Solar Grandjean de Montigny, Gávea, Rio de Janeiro, 1819-1828. Fonte da imagem: https://www.puc-
rio.br/sobrepuc/depto/solar/historia_solar.html [p.122] 
25. Figura 25 - A varanda como adição ao volume puro. Fachada Lateral Residência Rua Bahia, São Paulo, 1930 [Acervo Família Warchavchik]. Fonte 
da imagem: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.040/3704 [p.125] 
26. Figura 26 – A concha do nautilus e a espiral logarítmica – a Spira mirabilis de J. Bernoulli (1654-1705). Fonte da imagem: PICADO, Jorge. A beleza 
matemática das conchas marinhas. Disponível em: http://www.mat.uc.pt/~picado/conchas/artigo.pdf. Acessado em: 08-05-14. [p.126] 
27. Figura 27 - Sombra sobre a praça rebaixada. Croqui do arquiteto. Fonte da imagem: ROCHA, 2012. [p.129] 
28. Figura 28 - Diagrama de trajetórias solares para o Rio de Janeiro. Fonte da imagem: CORBELLA & YANNAS, 2010. [p.131] 
29. Figura 29 – Sombra no peristilo; FAU-USP, galeria transversal, paralela às rampas. Fonte da imagem: 
http://foter.com/f/photo/5063458991/39c6a7045b/ [p.134] 
30. Figura 30 – Sombra intersticial; MAR, rio de Janeiro. Foto do autor. [p.136] 
31. Figura 31 - L’ombra della sera. Desenho de Lina Bo Bardi, (1965). Fonte da imagem: http://www.etsavega.net/dibex/BoBardi_MASP.htm [p.138] 
[3.3] 
32. Figura 32: Belvedere Trianon sobre o Túnel 9 de julho (1930). Fonte da imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Trianon_tunel_novedejulho.jpg. 
Acessado em 12/10/2012. [p.142] 
	
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33. Figura 33 – Plantas pisos inferiores: Nível -9,50 [Acesso ao hall cívico a partir da Pça. Arquiteto Rodrigo Lefreve e Pça. Geremia Lunardelli]; e nível -
4,50 [teatro]. Notações do autor sobre imagens originais. Fonte das imagens: http://www.arquiteturabrutalista.com.br/fichas-tecnicas/DW%201961-
56/1961-56-fichatecnica.htm [p.143] 
34. Figura 34 – Plantas térreo 0,00 [belvedere] e nível +8,40 [exposições temporárias]. O piso da pinacoteca [+14,40] se desenvolve em planta livre. 
Notações do autor sobre imagens originais. Fonte das imagens: http://www.arquiteturabrutalista.com.br/fichas-tecnicas/DW%201961-56/1961-56-
fichatecnica.htm [p.144] 
35. Figura 35 – Corte longitudinal. Fonte da imagem: http://www.arquiteturabrutalista.com.br/fichas-tecnicas/DW%201961-56/1961-56-fichatecnica.htm 
[p.145] 
36. Figura 36 – Corte transversal. Notações do autor sobre imagem original. Fonte da imagem: http://www.arquiteturabrutalista.com.br/fichas-
tecnicas/DW%201961-56/1961-56-fichatecnica.htm [p.146] 
[3.4] 
37. Figura 37 - Paisagem no MAM, Rio de Janeiro. Edição de imagem do autor. [p.147] 
38. Figura 38 - A condição de abertura à paisagem. Cidade das Artes, projeto de arquitetura de Christian de Portzamparc, Rio de Janeiro (2012). Foto: 
Nelson Kon. Fonte da imagem: http://migre.me/jFtPT [p.149] 
39. Figura 39 - Vista do centro da cidade e serra da Cantareira a partir do Trianon (1938). Fonte da imagem: http://migre.me/b7H9x. [p.151] 
40. Figura 40 – MASP. Conexão com a paisagem e amplitude espacial. Fonte da imgem: Instituto Lina Bo e P.M.Bardi. Museu de arte de São Paulo São 
Paulo art museum. Lisboa, Instituto Lina Bo e P.M.Bardi & Blau, 1997. [p.152] 
41. Figura 41 - Esboço de Le Corbusier para o edifício do Ministério da Educação e Saúde. Fonte da imagem: 
http://www.arcoweb.com.br/memoria/palacio-gustavo-capanema-rj-03-05-2013.html [p.157] 
42. Figura 42 - Paisagem circundante ao MUBE. Fotomontagem do autor. [p161] 
43. Figura 43 - Projeto das rampas de acesso ao Outeiro da Glória. Lucio Costa – 1965 (?). Fonte da imagem: 
http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/113 [p.164] 
44. Figura 44 - Nível de acesso do edifício sede do BNDES, Rio de Janeiro. Este seria um exemplo de espaço de transição com que se pode fazer 
analogia com o conceito de simbiose. Fonte da imagem: http://nucleoap.blogspot.com.br/2009/07/roberto-burle-marx-100-anos-3-de-12.html[p.165] 
45. Figura 45 – A sombra ondulante da marquise; do terraço superior avista-se primeiro a Perimetral, depois o Píer Mauá MAR e, além, a ponte Rio-
Niterói. Foto do autor. [p.167] 
46. Figura 46 - FAU-USP. Segundo plano da fachada lateral. Foto do autor. [p.171] 
47. Figura 47 - Paisagem interior, transição, permeabilidade. Fotomontagem do autor (2014). [p.172] 
[3.5] 
48. Figura 48 – Planta baixa pavimento de acesso – térreo. Continuidade espacial entre exterior e interior. Fonte das imagens: GFAU, 2009. [p.175] 
49. Figura 49 – Planta baixa subsolo. Fonte das imagens: GFAU, 2009. [p.176] 
	
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50. Figura 50 – Planta baixa 1º pavimento. Fonte das imagens: GFAU, 2009. [p.177] 
51. Figura 51 – Planta baixa 2º pavimento. Fonte das Imagens: GFAU, 2009. [p.178] 
52. Figura 52 – Cortes longitudinal e transversal. Fonte das Imagens: GFAU, 2009. [p.179] 
53. Figura 53 – Fachadas frontal e posterior. Na fachada frontal, observamos a condição de abertura do volume, com livre acesso ao interior. Fonte das 
imagens: GFAU, 2009. [p.180] 
[3.6] 
54. Figura 54 - El paso de la laguna Estigia, de Joachim Patinir, 1520-1524. Museo Nacional del Prado. A barca de Caronte, eternamente entre 
margens, fazendo a travessia das almas. Na imagem, a margem rochosa, escarpada, mostra o caminho ao paraíso. No lado oposto, uma margem 
arborizada, suave, revela o caminho que leva ao inferno. A este último se dirige, resoluta, a alma conduzida. Fonte da imagem: 
<https://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/el-paso-de-la-laguna-estigia/?no_cache=1> Acessado em: 12-04-14. 
[p.182] 
55. Figura 55 - Situação. O edifício da FAU está destacado em vermelho. Fonte da imagem: Google Maps. [p.187] 
56. Figura 56 - Interiorização do domínio público. Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, São Paulo, projeto de Dêcio Tozzi e Karla Albuquerque (1992-2004). 
Fonte da imagem: Revista Finestra, n.38, 2004. [p.190] 
57. Figura 57 - Situação. Observa-se que a tomada da imagem é anterior à reforma que cria o Museu, além de mostrar o elevado da perimetral cuja 
demolição já se encontra em estágio avançado. O conjunto que compõe o MAR está destacado em vermelho. Fonte da imagem: Google Maps. 
[p.193] 
58. Figura 58 – Proposta para ocupação de quarteirão no centro da cidade. AGACHE, A. Cidade do Rio de Janeiro: Extensão - Remodelação -
Embelezamento. 1930. Fonte da imagem: http://planourbano.rio.rj.gov.br/DocReadernet/docreader.aspx?bib=PlanoUrbano&pesq= [p.198] 
59. Figura 59 - Situação. Quadra do MESP destacada em vermelho. Fonte da imagem: Google Maps. [p.200] 
60. Figura 60 - Vazio como estrutura espacial fundativa. SESC Pompéia - Lina Bo Bardi, M. C. Ferraz e A. Vainer – SP - 1977. Notações gráficas do 
autor sobre planta. Fonte da imagem original: http://teoriacritica13ufu.wordpress.com [p.204] 
61. Figura 61 - O vão do MASP: operação em escala urbana. Foto do autor. [p.207] 
62. Figura 62 - Situação. Fonte da imagem: Google Maps. [p.209] 
63. Figura 63 - Situação. Terreno do MUBE destacado em vermelho. Fonte da imagem: Google Maps. [p.211] 
[3.7] 
64. Figura 64 – Planta baixa da praça de esculturas, nível superior. À direita, marcação do volume do MIS. (notações gráficas do autor, sobre imagem 
original). Fonte da imagem original: VILLAC, 2000. [p.215] 
65. Figura 65 – Planta baixa do Museu, nível inferior. Fonte da imagem: VILLAC, 2000. [p.216] 
66. Figura 66 – Corte longitudinal e Corte transversal. Fonte das imagens: VILLAC, 2000. [p.217] 
 
	
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[3.8] 
67. Figura 67 - Potência em vão... , MUBE, São Paulo, 2014. Fotomontagem do Autor. [p.223] 
68. Figura 68- Palácio Capanema, sede do então Ministério da Educação e Saúde, em 1957 (Foto: Arquivo / Ag. O globo) Fonte da imagem: 
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/palacio-gustavo-capanema/ [p.227] 
69. Figura 69 - Assembléia no Salão Caramelo (foto: Carolina Vilaverde) Fonte da imagem: 
http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2012/03/assembleia-geral-delibera-indicativo-de-greve-e-paralisacao-no-dia-15/ [p.233] 
70. Figura 70 - Narkomfin Communal House (1928-1929), em Moscou . Fonte da imagem: http://www.tslr.net/2007_07_01_archive.html [p.234] 
71. Figura 71 - Unité d'habitation, Le Corbusier, Marseille, France, 1945. Fonte da imagem: http://www.fondationlecorbusier.fr [p.235] 
72. Figura 72 - Sob pilotis, a imagem do condensador social em operação. PUC RIO, Campus Gávea, Rio de Janeiro (1955), projeto de Edgar Fonseca. 
Fonte da imagem: http://g1.globo.com/Noticias/Rio/foto/0,,15457400-EX,00.jpg [p.236] 
73. Figura 73 - Dia Internacional da Mulher (2005). Fonte da imagem: <http://masp.art.br/sobreomasp/arquitetura.php> Acessado em 12/10/2012. 
[p.239] 
74. Figura 74 - A ideia de Khôra. Edição de imagem do autor. [p.244] 
75. Figura 75 – MAR; nível de acesso. Foto do autor. [p.246] 
76. Figura 76 – O intersticial como matriz de projeto. Exercícios de spacing e forming. Fonte da imagem: EISENMAN, P. Processos de lo intersticial, 
1997. [p.250] 
77. Figura 77 - Projeto que prioriza a condição intersticial. Praça das artes, São Paulo, Brasil Arquitetura (2012). Foto do autor. [p.251] 
[3.9] 
78. Figura 78 – Implantação. Relação do conjunto com a Praça Mauá. Fonte da imagem: http://www.jacobsenarquitetura.com/projetos [p.254] 
79. Figura 79 – Planta baixa pavimento térreo. Acesso a partir de praça coberta. Fonte da imagem: http://www.jacobsenarquitetura.com/projetos [p.255] 
80. Figura 80 – Planta baixa: interligação aérea entre os blocos. Fonte da imagem: http://www.jacobsenarquitetura.com/projetos [p.256] 
81. Figura 81 – Planta baixa: terraços superiores, cobertura. Fonte da imagem: http://www.jacobsenarquitetura.com/projetos [p.257] 
82. Figura 82 – Corte longitudinal. Relação com o elevado da Perimetral. Espaço intersticial configurado como praça coberta. Fonte da imagem: 
http://www.jacobsenarquitetura.com/projetos [p.258] 
 
 
 
 
 
 
 
	
   15	
  
 
[3.10] 
83. Figura 83 – MAR. Nos interstícios, o diálogo do heterogêneo. Foto do autor. [p.264] 
84. Figura 84 - Museu Rodin, Salvador, 2004, Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. Fonte da imagem: http://au.pini.com.br/arquitetura-
urbanismo/137/arquitetura-brasileira-22213-1.aspx [p.266] 
85. Figura 85 - Na interlocução com o aluno, uma primeira mensagem gravada no frontão da FAU. Foto do autor. [p.268] 
86. Figura 86 - Croquis de O. Niemeyer. NIEMEYER, 2000. [p.271] 
87. Figura 87 - Estudo para a ocupação do Belvedere com exposição de brinquedos para crianças (croqui de Lina Bo Bardi). Fonte da imagem: 
http://migre.me/b7GTB. [p.280] 
88. Figura 88 - O ideograma Ma, se constitui de duas portinholas, através das quais, no seu entre-espaço, se avista o sol. Fonte da imagem: GREINER 
& FERNANDES, 2008. [p.282] 
89. Figura 89 - O traçado orgânico de marquise gera, hoje, um espaço de agenciamento coletivo, comunicação ambiente, sinestesia, espaço Ma. 
Marquise do Ibirapuera, São Paulo (1951-54), croqui de Oscar Niemeyer. Fonte da Imagem: http://www.parqueibirapuera.org/parque-
ibirapuera/historia-mais-completa/croqu/ [p.283] 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
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Sumário | 
_Resumo | Abstract | Resumen; p.7; p.8; p.9 
_Indice de Imagens; p.10 
Introdução; p.17 
Cap. 1 | Os espaços de transição e suas interpretações: primeiras considerações 
para o projeto de arquitetura; p.37 
 1.1 | Transição como fenômeno; p.38 
1.2 | O espaço transicional de Winnicott: arquitetura e psicanálise; p.45 
1.3 | O terceiro sentido; p.54 
1.4 | O lugar intermediário; p.59 
1.5 | Morfologia do intermédio: espaço-limite e espaço-ambiente; p.66 
1.6 | Investigando variações em projeto: categorias e tipos possíveis; p.74 
Cap. 2 | Entre: um projeto ambivalente; p.89 
2.1 | A modernidade ambivalente; p.90 
2.2 | Profecia e Memória; p.94 
2.3 | In-between; p.96 
2.4 | Modernismo em transição; p.101 
Cap. 3 | A temática do objeto de pesquisa: discussão projetual; p.106 
3.1 | MESP [projeto referencial]; p.107 
3.2 | Espaços de transição à sombra; p.1123.3 | MASP [projeto referencial]; p.141 
3.4 | Condição de abertura à paisagem; p.147 
3.5 | FAU-USP [projeto referencial]; p.173 
3.6 | Transição entre escalas; p.181 
3.7 | MUBE [projeto referencial]; p.213 
3.8 | Espaços potenciais; p.218 
3.9 | MAR [projeto referencial]; p.252 
3.10 | Espaços de diálogo; p.259 
Considerações finais; p.285 
_Bibliografia; p.291 
 
	
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Introdução | 
 
Este trabalho tem a intenção de contribuir para pesquisas relacionadas ao projeto de 
arquitetura, pretendendo se situar dentro de um campo relativo ao estudo dos espaços, que 
atuam como suporte para a integração e sinergia entre a arquitetura e a cidade. A 
especificidade de nosso objeto de pesquisa, juntamente com um caráter qualitativo – 
adequado ao propósitos da nossa dissertação – colaboram para a definição de uma primeira 
diretriz de nossa investigação: observar a espacialidade. Assim, sem desconsiderar a 
importância da materialidade do objeto arquitetônico1, nossos estudos se nortearam a partir 
de uma linha teórica que se direciona à análise e proposição de espaços em arquitetura. 
Segundo Bruno Zevi (2002), o espaço “é o protagonista do fato arquitetônico” (2002, p.18), 
sendo que esta “experiência espacial própria da arquitetura prolonga-se na cidade, nas ruas 
e praças” (ibid, p.25), ou seja, em qualquer lugar que tenha sido fruto do projeto 
arquitetônico, a percepção do todo espacial é preponderante. Desta forma, os elementos da 
arquitetura – e os demais objetos postos em nosso campo de percepção – têm sua 
importância enquanto “determinantes de um espaço” (ibid, p.25) que esteja sob nossa 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1 Os aspectos técnico-materiais relacionados aos espaços de transição compõem um vasto campo, 
passível de estudo. Alguns dos temas que abordamos, conjuntamente com os projetos que nos 
referenciaram, denotam a relevância da materialidade concreta da arquitetura; das soluções 
estruturais; da escolha dos tratamentos e revestimentos adequados; da performance dos materiais; 
do aspecto acabado da obra e suas repercussões na estética do objeto arquitetônico. Contudo, 
nesta dissertação, o apronfundamento desta abordagem nos desviaria do enfoque a que nos 
propusemos. Houve, portanto, que se desconsiderar as incursões nesta linha de pesquisa. 
	
  
	
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avaliação. Por outro lado, Milton Santos (2012) nos lembra que a “essência do espaço é 
social” (2012, p.12), sendo este uma “instância da sociedade” (ibid, p.12) cujos processos, 
configurados em “formas-conteúdo” (ibid, p.12), somente alcançam uma “inteira significação 
quando corporificados” (ibid, p.13) no espaço. 
 
Assim, com base nestas premissas conceituais, temos um primeiro direcionamento para a 
nossa pesquisa – Espaços de transição: entre a arquitetura e a cidade. Nosso objeto de 
estudo será aquele espaço intermediário entre a arquitetura e a cidade, o espaço de 
transição entre o interior e o exterior, o privado e o público. Conjugando aspectos de meios 
opostos, estes espaços podem assumir características distintas, conforme um gradiente de 
possibilidades em projeto, entre o privado e o público; potencialmente, agenciam uma 
interpenetração entre a arquitetura e o espaço urbano. 
 
Quando falamos em espaço de transição, compreendemos que um sentido de 
temporalidade está implícito. Nesta expressão, contamos com dois polos distintos e um 
intervalo espacial, que pode ser mais ou menos dilatado no tempo – conforme a proposição 
que o projeto desenvolva, de acordo com a arquitetura geradora do ambiente. O espaço de 
transição, em projeto, é utilizado justamente para conferir uma gradação, cadenciar uma 
passagem que, de outra forma, se daria de forma abrupta. 
 
Com o intuito de precisar o conceito de espaço de transição, investigamos a etimologia 
sugerida pelo termo, através de A.G. da Cunha (2010). Para o termo espaço, temos uma 
	
   19	
  
ideia de distância entre dois pontos, uma área ou volume entre determinados limites; a 
origem do termo é latina, spatium. Da noção de espaço advém a ideia de espaçoso, de 
espaçar, e, ainda, de espacial (CUNHA, 2010). De toda forma, em arquitetura, a definição de 
espaço é ampliada por suas interpretações em projeto. Em nossa pesquisa, o entendimento 
acerca do espaço deverá advir da ideia de transição – é este termo que definimos como 
diretriz de nossas investigações conceituais. 
 
Verificamos que, em língua portuguesa, transição remete a trânsito, o que também se aplica 
a outras derivações do termo, como transiente e transeunte. A palavra trânsito deriva de dois 
vocábulos do latim, transitio, no sentido de ato ou efeito de transitar, e transitus, com o 
significado de caminho, trajeto ou passagem – neste último caso, signos que remetem a 
lugar. Transição tem como componente o prefixo trans-, de origem latina, que sugere uma 
ideia de deslocamento através de ou para além de, ou seja, contamos com um elemento de 
mediação. Por sua vez, o sufixo -ção (-são) pressupõe ato ou ação. Ampliando um pouco 
nossa investigação, temos a ocasião de observar algumas aproximações etimológicas ao 
nosso objeto de pesquisa; as ideias de trajeto, do latim trajectus, um espaço que alguém ou 
algo tem de percorrer para ir de um lugar ao outro; de transitório, do latim transitorius; em 
que temos a noção de passageiro; de transmeável, do latim transmeabilis, um algo ou meio 
que se pode atravessar, permeável; e ainda a ideia de transiente, que advém do termo latino 
transeuns, em que temos novamente uma noção de algo transitório, passageiro, mas 
associada ao sufixo -ente, que designa adjetivos oriundos de verbos, com a noção de ação, 
qualidade ou estado (CUNHA, 2010). No conjunto, chegamos à ideia de um sujeito implícito, 
	
   20	
  
em uma ação (ou ato) para além de (ou através de) algo, alguma coisa ou algum lugar, 
dados como referenciais e compreendidos como mediadores de um processo de transição. 
Assim, temos identificado um tempo, que está relacionado a um grupo de ações: de estar, 
de perceber, de transpor, de transitar, de permanecer – nos espaços ou entre espaços. 
 
Para além do sentido estrito dos termos (pelo viés da etimologia), o trabalho propõe uma 
interlocução com uma série de autores, que se debruçaram sobre o tema do espaço de 
transição e (ou) conceitos próximos, complementares, a partir dos quais pretendemos nos 
situar na discussão acerca dos binômios arquitetura-cidade, individual-coletivo, singular-
plural, entre outros. Deste modo, apoiados em um referencial teórico 2 , pretendemos 
confrontar a análise dos espaços de transição com alguns questionamentos, abordagens 
que refletem o papel da prática em arquitetura. Em nossa pesquisa, deveremos tratar, ainda, 
das possiilidades e implicações, em projeto, daquilo que toca aos seus elementos 
transicionais. Que fatores não se deve perder de vista em uma proposição de projeto? 
Algums edifícios que tomamos por referência poderão trazer esclarecimentos a partir do 
exemplo contido em seus espaços. 
 
Para contrapor os conceitos investigados à leitura de objetos arquitetônicos concretos, 
selecionamos cinco edifícios referenciais – de caráter público – situados nas cidades de São 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
2 Tendo este quadro referencial como suporte, reconhecemos que autores estrangeiros representam 
grande parte de nossas fontes. Neste caso, é fundamental observar as especificidades de nosso 
meio, considerando que o projeto de arquitetura deve se desenvolver sempre em conformidade à 
sua localização geográfica de modo distinto.21	
  
Paulo e Rio de Janeiro. Nestes exemplos, analisaremos de que forma as intervenções 
restritas ao campo da arquitetura resultaram em espaços que se destacam por estabelecer 
uma transição para o ambiente público do entorno, ampliando as possibilidades de uso 
coletivo do espaço. Trata-se de intervenções que se abrem ao espaço circundante a partir 
do objeto arquitetônico; oportunidades em que coube ao arquiteto qualificar o espaço de 
interação de seu projeto com a cidade. Nossas referências são o espaço sob pilotis do 
Palácio Gustavo Capanema, o vão do MASP, os espaços livres da FAU USP, a praça que 
encobre o MUBE e o espaço intersticial do MAR – servindo de elementos balizadores para o 
desenvolvimento de nossa pesquisa (ver capítulo 3)3. Demais exemplos em projeto serão 
citados de maneira mais pontual, de modo a contextualizar e compor o conjunto da nossa 
iconografia. 
 
 
O objetivo geral da dissertação é ampliar as discussões acerca da relação entre arquitetura 
e cidade a partir dos espaços de transição, analisando as suas possibilidades em projeto, 
dentro dos limites definidos para esta dissertação. Assim, pretendemos contribuir para o 
campo de conhecimento no qual se insere nosso objeto de pesquisa; e situar o trabalho de 
dissertação no contexto de uma interlocução acadêmica. Quanto aos objetivos específicos, 
ainda buscamos: avaliar o potencial desta categoria de espaços enquanto forma de 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
3 Por conta dos limites da dissertação, nossa seleção de projetos teve de ser restrita e, por isso mesmo, 
arbitrária. Acreditamos que não cabe aqui um registro extensivo de projetos e, de modo algum, os 
exemplos levantados devem ser entendidos como definitivos ou excludentes de outras possibilidades 
para a análise dos espaços de transição. 
	
   22	
  
intervenção urbana, operada desde o campo da arquitetura; investigar o papel dos espaços 
de transição como instrumentos de integração da arquitetura ao espaço público; discutir a 
relação entre público e privado dada, em particular, nestes ambientes; observar a 
significação social destes espaços; estudar de que forma o projeto de arquitetura antecipa o 
espaço de transição; entender quais parâmetros devem ser observados para que os 
ambientes intermediários cumpram os objetivos de projeto e contribuam para a qualidade de 
vida nas cidades. 
 
Justificativa e relevância | Em nosso entendimento, os espaços de transição se configuram 
como lugares priveligiados de uso coletivo e como pontos de conexão possíveis entre o 
público e o privado. Deste modo, o trabalho pretende se situar dentro de um campo de 
interesse em pesquisa que se aprofunda no estudo das relações entre arquitetura e cidade 
e, consequentemente, trata de instrumentos de projeto que permitem potencializar a 
qualidade ambiental do espaço público urbano. J. M. Montaner (2009), ao tratar dos projetos 
contemporâneos, sugere que devemos deixar de “focalizar os objetos arquitetônicos 
individuais, reconhecendo a sua crise, dedicando-nos aos sistemas de objetos” (2009, p.12), 
ou seja, enfocar as articulações, “relações e os espaços entre os objetos” (ibid., p.10), 
observados desde um contexto maior, na escala da cidade. Por outor lado, D. Harvey (1993) 
afirma que “os pós-modernistas antes projetam do que planejam” (1993, p. 69), ao comentar 
a “ruptura com a ideia modernista de que o planejamento e o desenvolvimento devem 
concentrar-se em planos urbanos de larga escala” (ibid, p. 69). Observando a situação das 
metrópoles brasileiras, verificamos a validade dos argumentos de Harvey, ao notarmos a 
	
   23	
  
carência de um planejamento urbano que, efetivamente, privilegie a qualidade de vida no 
espaço de uso público; algo que soa contraditório doze anos após a publicação do Estatuto 
das Cidades. Este quadro colabora com o atual contexto de crise ambiental, vivenciado nas 
cidades através da poluição, da supressão de áreas verdes, da expropriação e privatização 
do espaço público. Dados estes argumentos, os espaços intermediários, consideradas suas 
características particulares, ganham relevância como recursos potenciais do projeto de 
arquitetura para operar intervenções urbanas em pequena e média escala. Projetar estes 
espaços, em certa medida, traduz uma oportunidade para o arquiteto de atuar no território 
da cidade e de contribuir dentro de um contexto social mais amplo, tendo em perspectiva as 
restrições vigentes no campo do planejamento urbano. 
 
Do referêncial teórico4 | Alguns de nossos autores de referência, conforme sua relevância 
para a dissertação, configuram, em termos gerais, as principais linhas de estudo que 
orientam o desenvolvimento de nossa pesquisa. Por sua vez, outros aportes são acrescidos 
ao corpo teórico e ganham relevância a partir dos atributos temáticos definidos para o objeto 
de estudo. Por último, temos os autores que comentam os projetos de referência, e aqueles 
que integram a bibliografia complementar, dando suporte às discussões de projeto. 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
4 Cabe esclarecer o procedimento adotado em relação às referências de autores estrangeiros, em 
que as citações de textos foram mantidas no corpo da dissertação, preferencialmente em sua 
linguagem de origem, por respeito ao autor e à publicação original. Nos casos em que não pudemos 
dispor destas edições, foram utilizados os textos editados em língua portuguesa ou traduções 
disponíveis. Optamos por manter as traduções (livres), em português, sob a forma de notas de 
rodapé. 
	
   24	
  
 
Os espaços de transição e suas interpretações: primeiras considerações para o projeto de 
arquitetura | O primeiro capítulo busca compor uma base de fundamentação teórica para a 
abordagem do espaço de transição e conceitos relacionados. Temos uma visão do objeto 
enquanto fenômeno, através de M. MERLEAU-PONTY (2011), tratando da Fenomenologia 
da percepção, que nos fornece uma visão concreta sobre a experiência de uma verdade 
perceptiva, em que a transição ocorre no tempo e no espaço; em seguida, temos a visão de 
uma superposição, no objeto, do espaço psíquico com o ambiente físico, com D.W. 
WINNICOTT (1953), em Transitional Objects and Transitional Phenomena – A Study of the 
First Not-Me Possession, em que observamos conceitos oriundos da psicanálise – espaço 
transicional e espaço potencial – e as sugestões de sua interpretação em arquitetura; em 
complemento, de forma análoga, temos a noção de espaço-feliz, de G. BACHELARD (1993), 
em A poética do espaço, reforçando a importância psíquica dos espaços imaginários que 
intermediam nossa apropriação do mundo. Abordamos a questão da interpretação do objeto, 
com R. BARTHES (1973; 1986), principalmente em Lo obvio y lo obtuso: imágenes, gestos, 
voces, trazendo ao campo interpretativo o terceiro sentido, que vai além do óbvio, para 
ampliar as possibilidades de leitura de um espaço ambíguo, que se situa entre exterior e 
interior; sublinhamos a importância do conceito de lugar, para uma arquitetura que pretende 
se fixar e se identificar com a cidade que lhe dá suporte, com C. NORBERG-SCHULZ 
(2006), em O fenômeno do lugar, em que coloca a identificação com o ambiente como 
prioridade para a intervenção arquitetônica, partindo do pressuposto de que “o ato 
fundamental da arquitetura é compreender a ‘vocação’ do lugar.” (2006, p.459); 
	
   25	
  
complementamos o texto com anotações sobre uma ideia de identidade relacionada ao 
lugar intermediário, com G. TEYSSOT (2010), em Uma topologia de umbrais, obra na qualprecisa o conceito de umbral. Trazemos uma discussão que enfoca a morfologia do espaço 
intermédio, com H. FOCILLON (2002), em Vie des formes, que contribui com as categorias 
analíticas de espaço-limite e espaço-ambiente; no sentido de complementar o entendimento 
de limite na arquitetura, lançamos mão de P. VIRILIO (1993), que observa as relações 
dinâmicas da interface entre meios distintos, em O espaço crítico: e as perspectivas do 
tempo real; com R. VENTURI (2004), em Complexidade e contradição em arquitetura, que 
comenta sobre a contraditória relação entre o exterior e o interior arquitetônico; e com R. 
BANHAM (1975), que aborda o De Stijl, em Teoria e projeto na primeira era da máquina. As 
traduções do objeto como componente arquitetônico são observadas com C. ALEXANDER 
et al (2013), que mostra os padrões arquitetônicos relacionados à ideia de espaço de 
transição, em Uma linguagem de padrões: A pattern language; complementando o quadro, 
K. DJAMEL (2006-2007), em Entre-2 : l’espace transitionnel de l’enveloppe architecturale, 
nos fornece uma base iconográfica para discutir as variáveis projetuais dos espaços de 
transição. 
 
Entre: um projeto ambivalente | Se o objeto de nosso estudo se caracteriza pela 
ambiguidade, entendemos que a ambivalência deve se estabelecer a partir do próprio 
projeto. De forma sucinta, trouxemos a questão da modernidade ambivalente, com J-P. 
BOUTINET (1996), em Antropologia do projecto, em que o autor aponta as oposições 
intrínsecas ao projeto da modernidade desde o pensamento iluminista; uma visão 
	
   26	
  
contemporânea da ambivalência projetual e da configuração de sua expressão enquanto 
cidade, é trazida por C. ROWE & F. KOETTER (2008), em Cidade Colagem, no qual 
encontramos as noções de Teatro da Profecia e Teatro da Memória; em seguida, 
particularmente com o apoio de F. STRAUVEN (2007), em Aldo van Eyck – Shaping the 
New Reality From the In-between to the Aesthetics of Number, observamos alguns aspectos 
que relacionam uma atitude de projeto com o termo síntese In-between; em Modernismo em 
transição, ainda abordamos uma contraposição entre distintas personalidades em projeto, Le 
Corbusier e Lucio Costa, cuja concorrência e complementaridade tiveram lugar no projeto do 
MESP; com LE CORBUSIER (2013), em Por uma arquitetura, observamos um projeto de 
sentido majoritarimente prospectivo; por sua vez, com Y. BRUAND (2010), em Arquitetura 
contemporânea no Brasil, e com G. WISNIK (2001), em Lucio Costa, observamos as 
sutilezas da atitude do arquiteto brasileiro em favor de uma postura retrospectiva. 
 
A temática do objeto de pesquisa: discussão projetual | Aqui, por um lado, temos uma 
expansão do debate acerca do objeto, com a inserção de novos autores à sua 
fundamentação conceitual; por outro lado, ganham relevância textos que referenciam as 
temáticas atribuídas ao objeto, e ainda complementam o capítulo autores que comentam os 
projetos referenciais. 
 
Espaços de transição à sombra | Relacionamos a relevância do projeto de espaços à 
sombra com o clima, trazendo fundamento ao tema, através de O. CORBELLA & S.YANNAS 
(2010), em Em busca de uma arquitetura sustentável para os trópicos: conforto ambiental; e 
	
   27	
  
G.V. MARAGNO (2010), em Sombras Profundas: Dimensión Estética y Repercusión 
Ambiental del Diseño de la Varanda en la Arquitectura Brasileña – este último autor 
contribui, ainda, para um panorama das tradições brasileiras da sombra; deste tópico, temos 
a referência de Y.BRUAND (2010), em Arquitetura contemporânea no Brasil; e 
complementarmente, anotações de N. G. REIS FILHO (2011), com uma perspectiva da 
evolução das relações entre espaços públicos e privados na arquitetura civil brasileira, em 
Lote Urbano e arquitetura no Brasil; e citações de L. COSTA (1962), em Sôbre arquitetura. 
VITRÚVIO (2007), em seu nono livro, de Tratado de arquitetura, observa a importância do 
conhecimento da sombra para a aferição das trajetórias solares incidentes sobre dado lugar; 
vai estabelecer também os fundamentos de uma geometria da sombra, tópico ainda 
abordado com W.A. BÄRTSCHI (1982), em El estudio de las sombras en la perspectiva. 
Anotações de outros autores foram incluídas, trazendo aportes qualitativos para o tema, 
como TUSQUETS BLANCA (1994), em Elogio acalorado de la sombra; e I. PÉREZ (2012), 
em L'ombra della sera; e, novamente, G. BACHELARD (1993), trazendo agora um paralelo 
com a concha, em nossa tentativa de aproximação com o MUBE; e TEYSSOT (2010). Em 
complemento, o tema traz as primeiras contribuições de autores que comentam sobre os 
projetos de referência (alguns destes pontuam toda a temática, não se fixando a um tema 
particular, mas sim a um projeto), como O. NIEMEYER (2000), em Minha arquitetura, que 
elucida particularidades de sua experiência de projeto; S.S. TELLES (2010), que aponta 
aspectos do pensamento que orientou a arquitetura moderna brasileira, em Lucio Costa: 
monumentalidade e intimismo; e VILLAC, M. I. (2000), em La construcción de la mirada: 
	
   28	
  
naturaleza, ciudad y discurso en la arquitectura de Paulo Archias Mendes da Rocha, que 
aprofunda uma leitura da espacialidade do MUBE. 
 
Condição de abertura à paisagem | A chamada condição de abertura do spazio vuoto 
permite a conexão entre arquitetura e cidade, e além a paisagem, sendo definida por C. 
TOSCANI (2011), em Le Forme del Vuoto spazi di transizione dall'architettura al paesaggio, 
autora que traz fundamentação teórica a este, e mais temas; enquanto M. S. PEREIRA 
(2010), em A arquitetura brasileira e o mito: Notas sobre um velho jogo entre afirmação-
homem e presença natureza, traz os fundamentos para a observação da relação entre a 
arquitetura moderna e a paisagem brasileira; outra aproximação é proposta por K. 
KUROKAWA (s.d.), através de seu conceito de simbiose, que propõe uma interpenetração 
entre esferas distintas, entre arquitetura e natureza, privado e público, construção e 
paisagem, em Each one a hero: The Philosophy of Symbiosis. Em complementação à 
discussão do tema, são inseridas anotações de outros autores, que tecem aproximações 
qualitativas com a temática, como P.M. da ROCHA (2012), em América, natureza e cidade: 
Paulo Mendes da Rocha; com Maria isabel Villac; ou ainda que comentam projetos, como 
C.E.D. COMAS (2010), que esclarece questões projetuais do MESP, em Protótipo e 
monumento, um ministério, o Ministério; além de outras referências. 
 
Transição entre escalas | A interferência de processos pertinentes à macroescala, que são 
incidentes sobre o espaço das cidades, desloca a discussão relativa à identificação entre 
sujeito e lugar. Introduzindo o tema, um espaço de transição radical, dado como condição 
	
   29	
  
permanente – na incidência de uma escala amplificada –, é descrito em A terceira margem 
do rio, de G. ROSA (2001), obra na qual o homem brasileiro é retratado no momento em que 
perde os vínculos com sua identidade tradicional, com seu lugar de origem. A análise do 
texto suscita uma reflexão: sob determinados pontos de vista contemporâneos, o projeto do 
lugar existencial, da fixação ao lugar, identificado com os espaços das tradições antigas, se 
aproxima da utopia, visão complementada com a citação da Modernidade líquida, de Z. 
BAUMAN (2001); em seguida, com R. SENNETT (2006), em The open city, agregamos o 
contraponto entre a brittle city – rígida, fragmentada – e a open city – porosa, permeável, 
potencial. Novamente, temos G. TEYSSOT (2010), que extrai da leitura que faz W. Benjamin 
da Paris do séc. XIX, um prenúncio histórico de como a dinâmica relacionada à metrópole 
interfere com a percepção do lugar, deslocando-a para conjunturas de limiar, e observando 
um sentido de apropriação de caracteres externos, em um projeto que se interioriza; por sua 
vez, J.M. MONTANER (2009) nos traz uma visão da crise do objeto moderno e um olhar 
sistêmico, abrangente, do projetode arquitetura que se insere no território da cidade, em 
Sistemas arquitetônicos contemporâneos. TOSCANI (2011), outra vez, destaca a 
importância do vazio na transição entre arquitetura e cidade, além de introduzir o termo 
interspazio e a questão das densidades do vazio; com H. HERTZBERGER (1999), 
abordamos os espaços de intervalo e o conceito de threshold, instrumentos de acomodação 
entre mundos contíguos, em Lições de arquitetura. Referências complementares foram 
inseridas, como S. HALL (2011), em A identidade cultural na pós-modernidade, que diz que 
a discussão que se reporta ao conceito de identidade não é linear, sendo que, no contexto 
contemporâneo, a percepção do que seja a identidade varia conforme a alteridade do sujeito 
	
   30	
  
– muitas vezes deslocado de seu contexto cultural de origem; K. FRAMPTON (2008), em 
História crítica da arquitetura moderna, que traça um paralelo entre o modernismo brasileiro 
e o barroco brasileiro; o Diccionario metápolis de arquitectura avanzada: ciudad y tecnologia 
en la sociedad de la información (2001), uma colaboração de vários autores, especialmente 
M. GAUSA, que nos fornece uma série de definições contemporâneas aplicáveis à análise 
dos aspectos atribuídos ao objeto de pesquisa; ou ainda D. CERROCCHI (2008), em Malie 
dell’essenziale. In-between la quintessenza, que traz uma aproximação qualitativa ao objeto. 
Ainda incluímos autores que comentam projetos de referência, como J.M. KAMITA (2013), 
em Sobre o MAR; e A.P.G. PONTES (2004), em Diálogos Silenciosos: arquitetura moderna 
brasileira e tradição clássica, que nos traz elementos para a análise do projeto da FAU-USP. 
 
Espaços potenciais | Aqui, principiamos por nos situar através de DELEUZE & GUATTARI 
(2012), em Acerca do Ritornelo (compõe Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2), em que 
introduzem uma noção de consolidação, que sugere uma alternativa de interpretação 
espacial que tem atenção aos graus de densidade observados; depois, com G. AGAMBEN 
(2006), em La potenza del pensiero, fundamentamos o tema da potência, agregando as 
noções de exis e steresis – faculdade e privação – como caracteres inerentes ao conceito. 
Observamos um potencial de acomodação em projeto, que se contrapõe a uma tensão 
administrativa, perspectiva abordada com base em HERTZBERGER (1999) e K. 
KUROKAWA (s.d.). Com M. FOUCAULT, em Espace des Autres, verificamos que o conceito 
de heterotopia guarda também um vínculo com a ideia da potência de um lugar de 
superposição do heterogêneo; para V. ARTIGAS (2004), em Caminhos da arquitetura, a 
	
   31	
  
visão social advinda do modernismo tem raízes no construtivismo russo – a arquitetura é 
arte com finalidade, tendo por objetivo representar alguma coisa no campo da sociedade; 
nesta linha, trazemos as investigações de J. RENDELL (2012), em The Setting and the 
Social Condenser: Transitional Objects in Architecture and Psychoanalysis, em que a autora 
aborda o intercâmbio de Le Corbusier com o construtivismo russo, e a aproximação entre o 
conceito de condensador social e o espaço potencial de Winnicott. Os desdobramentos de 
uma perspectiva pós-estruturalista, em projeto, são abordados por I. GUATELLI (2001), em 
Arquitetura dos entre-lugares: sobre a importância do trabalho conceitual, considerando o 
espaço entre uma potência de agenciamento, conforme sublinhamos com DELEUZE & 
GUATTARI (2012); em seguida, focamos as investigações morfológicas e compositivas 
propostas por P. EISENMAN (1997), em Processos de lo intersticial, em que o espaço 
intersticial é observado como potência maquínica. Diversas referências complementares são 
utilizadas na discussão do tema e projetos, como A. SCHOPENHAUER (2001), em apoio à 
base conceitual; A. COLQUHOUM (2004), em Modernidade e tradição clássica: ensaios 
sobre arquitetura 1980-1987, em que observamos o projeto moderno produzindo elementos 
prototípicos para implementação de novas totalidades urbanas; R. ANELLI (2010), em O 
Mediterrâneo nos trópicos. Interlocuções entre arquitetura moderna brasileira e italiana, 
comentando o projeto de Lina bo Bardi; K. LYNCH, em A imagem da cidade, demonstrando 
que determinadas configurações urbanas possuem, em particular, a capacidade de atrair e 
congregar os encontros sociais; e F. GUATTARI (2012), em Caosmose: um novo paradigma 
estético, trazendo precisões conceituais; entre outros apoios textuais. 
 
	
   32	
  
Espaços de diálogo | Em A percepção do outro e o diálogo, trazemos o aporte de 
MERLEAU-PONTY (2012), no texto A prosa do mundo, em que destacamos a importância, 
para o diálogo, da relação de um sujeito com outro. M. BUBER (2014), em Do Diálogo e do 
dialógico, cotribui com a fundamentação do tema do diálogo, incorporando uma série de 
aspectos à discussão; por seu turno, com R. BARTHES (2013), em Como viver junto, 
podemos observar de que forma o diálogo se insere no viver junto e como o espaço 
arquitetônico pode assumir um discurso que repercute na cidade. Em outros termos, J. 
GEHL (2009; 2013) em La humanización del espacio urbano: la vida social entre los 
edifícios, e ainda em Cidades para pessoas, argumenta em favor de bordas suaves entre os 
edifícios e a cidade – da necessidade de diálogo entre escalas, da importância de um uma 
arquitetura que gera vida na cidade através do projeto cuidadoso do espaço de transição ao 
nível de acesso; com a contribuição de M. OKANO (2008), O espaço Ma e Hélio Oiticica, 
precisamos o conceito japonês do espaço Ma, ambiente intermediário, mas também de 
comunicação. Ainda com A. VAN EYCK (1962), em Steps toward a Configurative Discipline, 
trazemos o in-between como espaço da reconciliação dos opostos. Complementamos a 
abordagem do tema com comentários de outros autores, como em Lina por escrito: textos 
escolhidos de Lina Bo Bardi, em que a arquiteta L.B. BARDI (2009), revela intenções de 
projeto, que tornaram o vão do MASP espaço de diálogo entre a multiplicidade de sujeitos 
da metrópole; ou ainda, com M. GAUSA (2001), no Diccionario metápolis de arquitectura 
avanzada, que traz o conceito do híbrido, o que incorpora em seu conjunto o diálogo entre 
elementos díspares. 
 
	
   33	
  
Da metodologia proposta | 
São três aspectos numa só e mesma coisa [...] O Ritornelo tem os três 
aspectos, e os torna simultâneos ou os mistura: ora, ora, ora. 
(DELEUZE & GUATTARI, 2012, p.123) 
 
Da organização do trabalho | A estrutura em que foi organizada a dissertação propõe um 
encadeamento de tópicos textuais e imagens referenciais, alternando revisões teóricas, 
apresentação de projetos referenciais e dicussões temáticas acerca de projeto. O trabalho é 
composto de três capítulos: o primeiro trata de fundamentar teoricamente o objeto; o 
segundo estabelece um parentese no qual são tecidas considerações sobre o viés 
ambivalente do projeto; e o terceiro coloca em discussão projetos referenciais de arquitetura 
por meio de uma temática atribuída ao objeto de pesquisa. O arranjo do capítulo 3 – no qual 
organizamos as discussões projetuais a partir da temática atribuída ao objeto de pesquisa – 
se desenvolve de forma aproximada à ideia de ritornelo (Ibid, 2012), que opera ora através 
de um aspecto, ora de outro, ora de um terceiro. Assim, com a intenção de precisar o objeto 
em meio à discussão projetual, ora discutimos um tema extraído do objeto, ora inserimos 
documentação iconográfica, ora abordamos um tema diverso e seus desdobramentos. 
Segundo Deleuze & Guattari, o ritornelo cumpre o papel de um agenciamento territorial em 
que forças se afrontam e concorrem: "As funções num território não são primeiras, elas 
supõem antes uma expressividade que faz território" (Ibid, p.128). Assim, a partir do ponto 
de vista sugerido pelos autores, e considerando como território o corpo de nossa pesquisa, a 
utilização de estruturas triangulares – como teoria-projeto-tema, tema-projeto-tema ou 
	
   34	
  
projeto-tema-projeto– permite, no decurso do texto, retornar sempre a um novo ângulo de 
aproximação ao objeto de nosso estudo. 
 
Da linha de pesquisa | A delimitação do contexto investigativo se desdobra em duas linhas 
de investigação paralelas: a primeira, se refere a uma literatura específica a ser levantada 
sobre o conceito de espaço de transição arquitetônico, e de apoio teórico às discussões em 
projeto; a segunda, se reporta à análise de edifícios construídos – espaços referenciais da 
arquitetura brasileira, moderna e contemporânea, nas cidades de São Paulo e Rio de 
Janeiro. Na pesquisa bibliográfica, por sua vez, buscamos em referenciais teóricos as 
conceituações e aproximações com o objeto de pesquisa; teoria da arquitetura; 
contextualização dos séculos XX e XXI; comentários dos projetos referenciais; e iconografia. 
 
Dos projetos referenciais | Em atenção aos limites da dissertação, foram arbitradas cinco 
principais referências para o espaço de transição em projetos de arquitetura. Os edifícios 
situam-se nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, e são organizados sequencialmente 
no capítulo 3, em alternância à apresentação dos temas atribuídos ao objeto. A importância 
desta aproximação é permitir a observação dos fatores que qualificam estes espaços 
concretos, após sua gestação em projeto. A análise dos espaços edificados agregou 
elementos que complementam o quadro teórico. De modo a ampliar a discussão proposta, 
acrescentamos comentários e exemplos de outras arquiteturas para uma maior precisão do 
nosso objeto. Para discutir os projetos referenciais, pesquisamos em campo, com visitas 
para observação in loco dos espaços referenciais, vistos no conjunto dos edifícios elencados 
	
   35	
  
e suas cercanias. Os dados anotados, os elementos apreendidos e as fotografias obtidas 
serviram para ampliar a discussão, trazendo elementos de percepção local para a análise 
dos projetos, além dos referenciais teóricos. 
 
Da abordagem | Inicialmente, na revisão bibliográfica, buscamos fazer um levantamento das 
várias abordagens teóricas em torno de espaços de transição – e conceitos afins – que, ao 
final, nos permitiram compor um quadro conceitual ampliado. Evidentemente, este quadro 
permanece em aberto, juntamente com os aprofundamentos e desdobramentos sugeridos a 
partir dos conteúdos abordados na dissertação. As demais referências são utilizadas para 
contextualizar a pesquisa, em sentido temático, histórico ou teórico, ou ainda para dar apoio 
à análise dos projetos elencados. Como complemento, utilizamos os recursos da 
iconografia, com imagens, plantas e desenhos – dentro das expressões de interesse da 
disciplina de arquitetura –, para verificação de aspectos de projeto, como suporte para 
associações analógicas e, ainda, como sugestão de possibilidades para interpretação 
projetual. 
 
Da temática atribuída ao objeto5 | No sentido de precisar o objeto de pesquisa, como 
extensão das fundamentações teóricas dos dois primeiros capítulos, atribuímos ao objeto de 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
5 Da contribuição de uma temática atribuída ao objeto, e da utilização de digressões a partir dos 
temas, tomamos como exemplo o método estabelecido por R. Barthes para seu curso: Como viver 
junto: simulações romanescas de alguns espaços cotidianos, em que o "método adotado foi ao 
mesmo tempo seletivo e digressivo" (BARTHES, 2013, p.330), de onde se destacam do corpo 
	
   36	
  
pesquisa cinco temas qualitativos, definidos a partir da avaliação dos projetos referenciais e 
dos conteúdos teóricos anotados. Assim, a partir da noção de espaço de transição – entre a 
arquitetura e a cidade –, chegamos aos temas da sombra, da paisagem, da transição entre 
escalas, da potência e do diálogo: uma temática qualitativa do objeto. Desta forma, uma 
análise qualitativa advém da discussão dos temas, que sugerem, em sua especificidade, 
aproximações e digressões, que irão refletir aspectos e repercussões do objeto de estudo. 
Considerando a temática proposta, observamos as relações entre arquitetura e cidade, em 
seu contexto desdobrado: ambiental, espacial, temporal, potencial e social. Nesta 
perspectiva, verificamos um campo expandido do projeto de arquitetura, incluindo sua 
integração ao ambiente urbano e suas repercussões no campo perceptivo do sujeito. 
 
 
 
 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
temático "traços pertinentes e por isso mesmo descontínuos" (ibid, 330), coletados a partir do 
conteúdo advindo de proposições digressivas. 
	
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Cap. 1 | Os espaços de transição e suas interpretações: 
primeiras considerações para o projeto de arquitetura 
 
	
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1.1 | Transição como fenomêno 
Como principiar a abordagem sobre uma transição que ocorre espacialmente? Ou melhor, o 
que ocorre em um determinado espaço para que o relacionemos com a ideia de transição? 
O termo espaço de transição parece vago, mas nosso objetivo é procurar entender o que 
diferencia estes espaços. No projeto de arquitetura, a transição pode se dar entre espaços, 
lugares ou formas, como também pode se dar entre volumes ou elementos distintos. Mas 
isto, contudo, não elucida a transição como um processo perceptível dado à nossa vivência 
comum. De fato, percebemos algo diferente, um fenômeno que vamos associar a certos 
espaços. 
 
Para melhor compreender a transição enquanto fenômeno, vamos nos reportar a Merleau-
Ponty (2011)6, em suas investigações sobre o mundo percebido. Nesta perspectiva, o autor 
desenvolve uma investigação acerca dos meios de relacionamento com aquilo que é dado 
em um campo fenomenal. As principais impressões apreendidas neste campo são 
resultantes do sentir, que seria um meio de “comunicação vital com o mundo que o torna 
presente para nós como lugar familiar de nossa vida” (MERLEAU-PONTY, 2011, p.84). Este 
sentir está relacionado às ideias de associação ou passividade com o que ocorre no campo 
dos fenômenos. O autor afirma que a associação pode ser entendida como afinidade (na 
linha de Kant) e ocupa um lugar de destaque na vida perceptiva. A percepção, justamente, 
remete à experiência direta das coisas e “a tese muda da percepção é a de que a 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
6 O texto original, Phénoménologie de la perception, é de 1945. 
	
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experiência, a cada instante, pode ser coordenada à do instante precedente e à do instante 
seguinte” (Ibid, p.86). Assim, a transição – percebida como fenômeno – pressupõe um antes 
e um depois.Este ser sensível – uma figura humana – percebe o mundo desde um corpo físico. Este 
corpo sente o espaço a sua volta, o campo fenomenal estendendo-se aos limites do que é 
percebido desde o corpo próprio, que em relação à espacialidade, "é o terceiro termo, 
sempre subentendido, da estrutura figura e fundo, e toda figura se perfila sobre o duplo 
horizonte do espaço exterior e do espaço corporal” (Ibid, p.147). Merleau-Ponty ressalta no 
corpo a capacidade de deslocamento; o mundo percebido é repleto de objetos e seres 
animados, o movimento se dá naturalmente no espaço. A figura humana não é um elemento 
estático na paisagem, ela está em constante movimentação, no espaço e no tempo. 
 
Se o espaço corporal e o espaço exterior formam um sistema prático, (…) é 
evidentemente na ação que a espacialidade do corpo se realiza, e a análise 
do movimento próprio deve levar-nos a compreendê-la melhor. Considerando 
o corpo em movimento, vê-se melhor como ele habita o espaço (e também o 
tempo), porque o movimento não se contentanem submeter-se ao espaço e 
ao tempo, ele os assume ativamente, retoma-os em sua significação original, 
que se esvai na banalidade das situações adquiridas. (Ibid, p.149) 
 
O autor se refere à motricidade própria do corpo como característica indissociável de sua 
natureza e manifestação. Um sentido dinâmico está presente no campo fenomenal, 
podemos perceber o movimento dos corpos e objetos enquanto nosso próprio corpo também 
	
   40	
  
se movimenta. Uma impressão de “simultaneidade está incluída no próprio sentido da 
percepção” (Ibid, p.357). Somos capacitados a perceber simultaneamente os objetos, no 
tempo e no espaço. Esta linha de raciocínio sugere que uma percepção plena dos 
fenômenos e objetos só pode ocorrer no espaço-tempo, em que passado, presente e futuro 
são apreendidos conjuntamente, naquilo que se define por síntese de transição.7 
 
Quanto à relação entre o objeto percebido e minha percepção, ela não os liga 
no espaço e fora do tempo: eles são contemporâneos. A ‘ordem dos 
coexistentes’ não pode ser separada da ‘ordem dos sucessivos’, ou antes o 
tempo não é apenas a consciência de uma sucessão. A percepção me dá um 
‘campo de presença’ no sentido amplo, que se estende segundo duas 
dimensões: a dimensão aqui-ali e a dimensão passado-presente-futuro. A 
segunda permite compreender a primeira. Eu ‘possuo’, eu ‘tenho’ o objeto 
distante sem posição explícita da perspectiva especial (grandeza e forma 
aparentes), assim como ‘ainda tenho em mãos’ o passado próximo sem 
nenhuma deformação, sem ‘recordação’ interposta. Se ainda quisermos falar 
de síntese, ela será, como diz Husserl, uma ‘síntese de transição’, que não 
liga perspectivas discretas mas que efetua a ‘passagem’ de uma à outra. 
(Ibid, p.357-358) 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
7 Do alemão, Uebergangssynthesis, conforme Merleau-Ponty (2011). 
	
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Merleau-Ponty descreve uma transição que tem lugar no 
espaço, ou numa sucessão deles, e que é contínua no fluxo 
do tempo. Simultaneidade, coexistência e sucessão (ver 
fig.01) são parâmetros desta transicionalidade: “conceber 
um mundo que não seja feito apenas de coisas, mas de 
puras transições. O algo em trânsito que reconhecemos 
necessário à constituição de uma mudança só se define por 
sua maneira particular de ‘passar’” (Ibid, p.370). 
Entendemos que, no tempo, a transição está associada ao 
momento presente, mesmo vinculada ao passado e ao 
futuro. No espaço, contudo, suas nuances e acentuações 
estarão em localizações relativas desde o nosso campo de 
presença. “O presente vivido encerra em sua espessura um 
passado e um futuro. O fenômeno do movimento não faz se 
não manifestar de uma maneira mais sensível a implicação 
espacial e temporal” (Ibid, p.371). 
 
 
 
 
 
Figura 01 - Percepção em tempo e movimento - Berlin, Potsdamer Platz III , 1998. 
Série Monuments (1997-2003). Fotografia de Thomas Kellner. Fonte da imagem: 
http://www.thomaskellner.com/artworks/portfolios/monuments/	
  
	
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Considerando a longa série de meus estados passados, vejo que meu 
presente sempre passa, posso antecipar essa passagem, tratar meu passado 
próximo como distante, meu presente efetivo como passado: o porvir é este 
vazio que agora se forma diante de meu presente. A prospecção seria na 
realidade uma retrospecção e o porvir uma projeção do passado. (…) Mesmo 
se, de fato, nós nos representamos o porvir com o auxílio daquilo que já 
vimos, novamente é verdade que, para pro-jetar o porvir diante de nós, 
primeiramente é preciso que tenhamos o sentido do porvir. Se a prospecção 
é uma retrospecção, em todo caso ela é uma retrospecção antecipada, e 
como poderíamos antecipar se não tivéssemos o sentido do porvir? (…) Mas, 
para que haja analogia entre os presentes findos e o presente efetivo, é 
preciso que este não se dê apenas como presente, que ele já se anuncie 
como um passado para breve, que nós sintamos sobre ele a pressão de um 
porvir que procura destítui-lo, em suma que o curso do tempo seja 
originariamente não apenas a passagem do presente ao passado, mas ainda 
a passagem do futuro ao presente. 
(Ibid, p.554-555) 
 
Percebendo, acumulamos experiência e tornamos o nosso perceber capaz de pro-jetar no 
tempo e no espaço. A prospecção e a retrospecção instrumentalizam este conhecimento 
acumulado no tempo a partir das sucessões vividas. A capacidade de projeção no tempo 
está vinculada a uma “experiência originária em que o tempo e suas dimensões aparecem 
em pessoa, sem distância interposta e em uma evidência última. É ali que vemos um porvir 
deslizar no presente e no passado” (Ibid, p.557). A transição seria este deslizar entre um 
estado e outro, entre um lugar e outro. Na transição, encontramos nuances do tempo – o 
tempo de transitar, o de permanecer, o de entrar e o de sair. A espessura do entre será 
percebida nestas nuances, que, traduzidas em projeto, possibilitam dotar um determinado 
espaço de aspectos que potencializem, intencionalmente, as suas condições para uma 
	
   43	
  
afinidade perceptiva com a própria ideia de transição. Afinal, “deve haver um outro tempo, o 
verdadeiro, em que eu apreenda aquilo que é a passagem, ou o próprio trânsito” (Ibid, 
p.556). 
 
Husserl chama de protensões e retenções às intencionalidades que me 
ancoram em uma circunvizinhança. Elas não partem de um Eu central, mas 
de alguma maneira de meu próprio campo perceptivo, que arrasta atrás de 
si seu horizonte de retenções e por protensões morde o porvir. (Ibid, p.558) 
 
Ou seja, se não é possível retornar ou avançar no tempo, as retenções representam fatores 
de desaceleração do tempo enquanto as protensões o aceleram. Num espaço projetado, 
estas características destacadas, em maior ou menor grau, podem levar a tendências 
díspares. Permanecer ou prosseguir; um trânsito cadenciado, pausado ou acelerado pode 
ser associado a determinado espaço. Merleau-Ponty reproduz um esquema gráfico de 
Husserl, demostrando a passagem do tempo no espaço em que transita um móbil – uma 
forma de visualizar a simultaneidade dos agora (ver fig.02). Pode-se representar o fenômeno 
das retenções "por um esquema, ao qual seria preciso acrescentar, para ele ser completo, a 
perspectiva simétrica das protensões. O tempo não é uma linha, mas uma rede de 
intencionalidades” (Ibid, p.558). 
 
Enquanto B se torna C, ele também se torna B’, e no mesmo momento A, que 
se tornando B também tinha se tornado A’, cai em A”. A, A’, A”, por um lado, 
B e B’, por outro, são ligados entre si não por uma síntese de identificação, 
que os fixaria em um ponto no tempo, mas por uma síntese de transição 
(Uebergangssynthesis), enquanto eles saem uns dos outros, e cada uma 
destas projeções é apenas um aspectoda dissolução ou da deiscência total. 
 
 
Figura 02 – “Linha horizontal: série dos ‘agora’. 
Linhas oblíquas: Abschattungen dos mesmos 
‘agora’ vistos de um ‘agora’ ulterior. Linhas 
verticais: Abschattungen sucessivos de um 
mesmo ‘agora’.” (reproduzido conforme 
MERLEAU-PONTY, p.559) 
	
   44	
  
Eis por que o tempo, na experiência primordial que dele temos, não é para 
nós um sistema de posições objetivas através das quais nós passamos, mas 
um ambiente movente que se distância de nós, assim como a paisagem na 
janela do vagão. (Ibid, p.562) 
 
Síntese | Desta leitura de Merleau-Ponty, destacamos uma série de conceitos relacionados 
ao fenômeno da transição, observado em seu transcorrer no espaço e no tempo. Nos 
interessa, particularmente, analisar aspectos que sejam passíveis de interpretação em 
projeto, que possam fornecer subsídios para a arquitetura de um espaço de transição. As 
noções de simultaneidade, de coexistência ou de sucessão, estabelecem parâmetros 
para o desenho destes espaços, percebidos como intermediários. Vale notar que a síntese 
de transição mostra que as intencionalidades podem levar a protensões e retenções no 
tempo e no espaço. Estas potenciais intenções podem ser orientadoras em projeto, 
interpretadas espacialmente para reter ou direcionar os fluxos. Nesta perspectiva, o tempo 
não é visto de modo linear, mas configura uma rede de intencionalidades. Mas, se uma ideia 
de transição contínua está associada ao próprio transcorrer do tempo, como podemos 
determinar que um momento de trânsito seja mais significativo e outro mais corriqueiro? A 
pura percepção do fenômeno concreto explica o espaço de transição em todos os seus 
aspectos potenciais e subjetivos? 
 
 
 
 
	
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1.2 | O espaço transicional de Winnicott: arquitetura e psicanálise 
Entre as principais contribuições para o conhecimento científico relacionado à ideia de 
transição, estão as proposições teóricas do psicanalista inglês D.W. Winnicott (1953)8, que 
desenvolve o conceito de objeto transicional como elemento (ou fenômeno) de 
intermediação entre o psique interno e o mundo externo. Ele relaciona a questão da 
transição com um sentimento de apropriação, que tem lugar entre a subjetividade e aquilo 
que é percebido objetivamente. Segundo suas investigações, o ambiente começa a ser 
percebido logo na primeira infância, num momento em que o universo da criança ainda é 
associado à figura materna. O fenômeno transicional seria como um mecanismo de proteção 
psíquica, ajustado para moderar os primeiros contatos com o mundo exterior. Ao mencionar 
as qualidades mais significativas das relações dadas com o objeto transicional (ver fig.03) na 
primeira infância, Winnicott sugere que o vínculo específico com um objeto físico está 
destinado a ser gradualmente substituído, posto de lado à medida em que a criança 
amadurece de uma forma saudável: 
 
It loses meaning, and this is because the transitional phenomena have 
become diffused, have become spread out over the whole intermediate 
territory between 'inner psychic reality' and 'the external world as perceived 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
8 Em nossa pesquisa acerca dos espaços de transição (e similares), Winnicott está entre as 
referências mais citadas em trabalhos acadêmicos, assim como o arquiteto Aldo van-Eick. 
 
Figura 03 - Transitional object. 
Esboço extraído de Winnicott, 1953. 
	
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by two persons in common', that is to say, over the whole cultural field. 
(WINNICOTT, 1953, p.91)9 
 
O amadurecimento da pessoa, todavia, altera o foco deste mecanismo de intermediação 
com o ambiente externo, que vincula-se a outros suportes mais adequados. Estes podem 
ser novos objetos, de maior complexidade, processos ou mesmo espaços, ou seja, 
fenômenos transicionais. Winnicott ressalta que os fenômenos de transição estão além de 
relações meramente simbólicas ou meramente substitutivas: 
 
When symbolism is employed the infant is already clearly distinguishing 
between fantasy and fact, between inner objects and external objects, 
between primary creativity and perception. But the term transitional object, 
according to my suggestion, gives room for the process of becoming able to 
accept difference and similarity. I think there is use for a term for the root of 
symbolism in time, a term that describes the infant's journey from the purely 
subjective to objectivity. (WINNICOTT, 1953, p.92)10 
 
 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
9 Tradução livre: “Ele perde o sentido e isso é porque os fenômenos transicionais se tornam difusos, 
tornam-se espalhados por todo o território intermediário entre a 'realidade psíquica interna' e 'o mundo 
externo como percebido por duas pessoas em comum’, ou seja, sobre todo o campo cultural.” 
 
10 Tradução livre: “Quando o simbolismo é empregado, a criança já está claramente distinguindo entre 
fantasia e fato, entre objetos internos e objetos externos, entre criatividade primária e percepção. Mas 
o termo objeto transicional, de acordo com a minha sugestão, abre espaço para o processo tornar-se 
capaz de aceitar diferença e similaridade. Eu penso que é o uso de um termo para [alcançar] a raiz do 
simbolismo no tempo, um termo que descreve a jornada da criança a partir do puramente subjetivo à 
objetividade.” 
 
	
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A preocupação com a saúde emocional do indivíduo está no centro da argumentação de 
Winnicott e em sua defesa do espaço transicional, na qual destaca que todo este processo 
psíquico é fundamental para o desenvolvimento individual, prevenindo ou atenuando 
tendências à ansiedade ou depressão. Uma aproximação paralela é feita por H. Saalman, 
retornando aos mecanismos de percepção: “transitional elements effect a gradual, that is, 
step-wise transition between opposites: strength of response from perception to perception is 
reduced, the threshold of pain is avoided” (SAALMAN, 1990, p.5-6)11. Em outros termos, o 
autor considera que mudanças abruptas, acentuadamente contrastantes, são percebidas 
como algo similar à dor orgânica. Introduzindo espaços de transição na arquitetura, o projeto 
busca atenuar a sensação do desconforto físico. 
The problem of ‘transition’ is ubiquitous in architectural design. One could say 
it is a historical problem since architects have introduced elements of 
transition into their design since Antiquity. […] we respond strongly to 
successively different perceptions while our response weakens with repetition. 
As strenght of response increases a threshold is reached where the organism 
feels pain. Pain is a symptom of stronger perception-response than the 
perceiving organism can tolerate. (SAALMAN, 1990, p.5-6)12 
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
11 Tradução livre: “elementos transicionais efetuam uma transição gradual entre opostos, isto é, por 
etapas: a força de resposta da percepção à percepção é reduzida, o limiar da dor é evitado.” 
	
  
12 Tradução livre: “O problema da ‘transição’ é ubíquo no projeto arquitetônico. Pode-se dizer que é 
um problema histórico desde que arquitetos introduziram elementos de transição em seu projeto 
desde a Antiguidade. […] nós respondemos fortemente a diferentes percepções, sucessivamente, 
enquanto nossa resposta enfraquece com a repetição. Como força de resposta, aumenta o limiar 
alcançado em que o organismo sente dor. A dor é um sintoma de forte percepção-resposta do que o 
organismo

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