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Volume 27 | Número 65 | Setembro de 2016
a
E S T U D O S S O B R E E N V E L H E C I M E N T O
número
65
volume
27
SETEMBRO 
2016
ARTIGO
Saber, aos poucos, se tornar 
“sem idade”
ENTREVISTA
Marika Gidali
Bailarina
PAINEL de experiências
Território Campo Limpo
b
 EST
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O
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M
E 27 - N
º 65 - 2016
Nesta edição:
Ciro Marcondes reflete em seu ensaio Saber, aos poucos, se tornar 
“sem idade” sobre o passar do tempo, a idade como categoria social 
inventada em oposição à natureza que percorre o processo da vida, 
que dialoga com o Ensaio fotográfico criado por Mônica Vendramini.
Meu Museu: espaço de memórias compartilhadas; Envelhecer 
com qualidade e o conceito multifuncional aplicado ao esporte; 
Os públicos experientes que habitam o Sesc em São Paulo compõem 
a seção de artigos. 
Christian Dunker colabora nesta edição com a resenha Diário da 
guerra do porco, de Adolfo Bioy Casares. Como entrevistada Marika 
Gidali, coreógrafa, professora, diretora artística, fundadora do 
Ballet Stagium.
Uma experiência intergeracional em oficina de artes manuais 
no Sesc Campo Limpo é tema do Painel de experiências Território 
Campo Limpo: Bordando nossa História, que completa esta edição.
sescsp.org.br
9 772358 636002
65
ISSN 2358-6362
Sesc São Paulo
Av. Álvaro Ramos, 991
03331-000 São Paulo - SP
TEL.: +55 11 2607-8000
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Conselho Regional do Sesc – 2014-2018
Presidente Abram Szajman
Diretor do Departamento Regional Danilo Santos de Miranda
Membros Efetivos  Benedito Toso de Arruda, Carlos Roberto Moreira, Cícero Bueno 
Brandão Júnior, Eduardo Anastasi, Eládio Arroyo Martins, Euclides Carli, Ivete Rocha 
Bittencourt, João Herrera Martins, José de Sousa Lima, José Maria de Faria, José 
Maria Saes Rosa, Luiz Carlos Motta, Manuel Henrique Farias Ramos, Milton Zamora, 
Paulo João de Oliveira Alonso, Roberto Eduardo Lefèvre, Rosana Aparecida da Silva, 
Walace Garroux Sampaio
Membros Suplentes Ailton Nunes de Matos Junior, Aldo Minchillo, Alvaro Luiz 
Bruzadin Furtado, Antonio Cozzi Júnior, Aparecido do Carmo Mendes, Arlindo 
Liberatti, Arnaldo José Pieralini, Atílio Machado Peppe, Célio Simões Cerri, Dan 
Guinsburg, Edison Severo Maltoni, João Eliezer Palhuca, Paulo Roberto Gullo, Pedro 
Abrahão Além Neto, Rafik Hussein Saab, Reinaldo Pedro Correa, William Pedro Luz
Representantes do Conselho Regional 
junto ao Conselho Nacional
Membros Efetivos Abram Szajman, Ivo Dall’Acqua Júnior, 
Rubens Torres Medrano
Membros Suplentes Costábile Matarazzo Junior, 
Vicente Amato Sobrinho
O Sesc – Serviço Social do Comércio é uma instituição de caráter privado, de âmbito 
nacional, criada em 1946 por iniciativa do empresariado do comércio e serviços, que a 
mantém e administra. Sua finalidade é a promoção do bem-estar social, a melhoria da 
qualidade de vida e o desenvolvimento cultural do trabalhador no comércio e serviços e 
de seus dependentes – seu público prioritário – bem como da comunidade em geral.
O Sesc de São Paulo coloca à disposição de seu público atividades e serviços em 
diversas áreas: cultura, lazer, esportes e práticas físicas, turismo social e férias, 
desenvolvimento infantil, educação ambiental, terceira idade, alimentação, saúde e 
odontologia. Os programas que realiza em cada um desses setores têm características 
eminentemente educativas.
Para desenvolvê-los, o Sesc São Paulo conta com uma rede de 34 unidades, 
disseminadas pela Capital, Grande São Paulo, Litoral e Interior do Estado. São centros 
culturais e desportivos, centros campestres, centro de férias e centros especializados 
em odontologia e cinema.
Produção técnica editada pelo 
Sesc – Serviço Social do Comércio
número
65
volume27 SETEMBRO2016 ISSN 2358-6362
a
E S T U D O S S O B R E E N V E L H E C I M E N T O
Sesc - Serviço Social do Comércio
Administração Regional no Estado 
de São Paulo
Presidente do conselho Regional
Abram Szajman
Diretor do Departamento Regional
Danilo Santos de Miranda
Superintendentes
Técnico-Social Joel Naimayer Padula 
Comunicação Social Ivan Giannini 
Administração Luiz Deoclécio 
Massaro Galina Assessoria Técnica e de 
Planejamento Sérgio José Battistelli
Gerentes
Estudos e Programas Sociais Cristina Riscalla 
Madi Adjunta Cristiane Ferrari Artes Gráficas 
Hélcio Magalhães Adjunta Karina Musumeci
Comissão Editorial
Celina Dias Azevedo (coordenação), 
Ana Lucia Garbin, Cristina Fongaro Peres, 
Danilo Cymrot, Denise Collus, Elizabeth 
Aparecida Guaraldo Brasileiro, Fernando 
Marineli, Flavia Rejane Prando, Gabriela 
da Silva Neves, Jair de Souza Moreira 
Júnior, Kelly Cecília Teixeira, Lucy Franco, 
Maria Augusta Maia de Araújo Damiati, 
Maria Emília Carminetti, Maria Ivani 
Rezende de Brito Gama, Mariana Barbosa 
Meirelies Ruocco, Marina Herrero, Maria 
José Leandro Tavares, Neide Alessandra 
Périgo Nascimento, Regiane Cristina 
Galante, Ricardo Silvestre Micheli, Rosana 
Abrunhosa, Sandra Carla Sarde Mirabelli, 
Sandra Regina Feltran, Sílvia Eri Hirao, 
Virginia Baglini Chiavalloti.
Editoração Denis Tchepelentyky
Produção Digital Ana Paula Fraay 
e Marilu Donadelli
Fotografias Capa e Pág. 5, 8 e 80 a 87: 
Monica Vendramini; pág. 22: Dani 
Sandrini; pág. 39 e 46: Acervo - Núcleo 
de Ação Educativa da Pinacoteca do 
Estado de São Paulo; pág. 52: Adauto 
Perin; pág.71, 73, 74, 77 e 78: Alexandre 
Nunis; pág. 89, 90 e 93: Rogerio Pixote. 
Revisão Vivian Catarina Dias
Projeto Gráfico Marcio Freitas 
e Renato Essenfelder
Artigos para publicação podem ser 
enviados para avaliação da comissão 
editorial, no seguinte endereço: 
revistamais60@sescsp.org.br
Mais 60: estudos sobre envelhecimento 
/ Edição do Serviço Social do Comércio. 
– São Paulo: Sesc São Paulo, v. 27, n. 65, 
setembro. 2016 –. 
 Quadrimestral.
 
 ISSN 2358-6362
 Continuação de A Terceira Idade: 
Estudos sobre Envelhecimento, Ano 1, n. 1, 
set. 1988-2014. ISSN 1676-0336.
 
 1. Gerontologia. 2. Terceira idade. 
3. Idosos. 4. Envelhecimento. 4. 
Periódico. I. Título. II. Subtítulo. 
III. Serviço Social do Comércio. 
CDD 362.604
Nota 
As opiniões e afirmações contidas em 
artigos e entrevista publicadas na b 
são de responsabilidade de seus autores.
sumário
 
páginas de 8 a 21
Destaque da edição 
Saber, aos poucos, 
se tornar “sem idade”
por Ciro Marcondes Filho
páginas de 22 a 37
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
por Diolino Pereira de Brito
páginas de 38 a 51
Meu Museu: espaço de memórias compartilhadas 
por Milene Chiovatto, Gabriela Aidar e Aline Stivaletti
páginas de 52 a 69
Os públicos experientes que habitam o Sesc 
em São Paulo
por Ioná Damiana de Souza e Celina Dias Azevedo
páginas de 70 a 79
Entrevista: Marika Gidali
páginas de 80 a 87
Fotografia: Monica Vendramini
páginas de 88 a 95
Painel de Experiência: 
Território Campo Limpo: Bordando 
nossa História
por Aline Tafner
páginas de 108 a 109
Resenha: O Mal-Estar na Velhice em Diário da 
Guerra do Porco de Bioy Casares
por Christian Ingo Lenz Dunker
CAPA
Monica Vendramini 
Fotógrafa há 35 anos. Foi 
fotojornalista da Folha de 
São Paulo, O Estado de São 
Paulo, Liberatión (França), 
Le Soir (Suiça), The New York 
Times (EUA), entre outros. 
Vencedora do IV Vídeo Brasil-
SP/Brasil com uma produção 
sobre o poeta russo Vladimir 
Maiakovski. Fundadora e 
diretora da BIOGRAPHICA 
Arte Contemporânea. e
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r
6 b – Estudos sobre Envelhecimento 
Volume 27 | Número 65 | Setembro de 2016
Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do Sesc São Paulo
Uma sociedade sem 
idades é possível?
• No início da década de 80, do século XX, com intuito de acompanhar a marcante transição demográfica mundial - o aumento da população 
entre 60 e 80 anos em todos os países – a Organização das Nações 
Unidas (ONU) conclamou a sociedade para discutir sobreas 
repercussões de tal conjuntura e contribuir com proposições de ações. 
Com esse objetivo, a partir de 1982 iniciou-se uma série de 
encontros internacionais promovidos pela entidade. Em Madri, no 
ano de 2002, a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre 
o Envelhecimento resultou no Plano de Ação Internacional sobre o 
envelhecimento. Uma das principais orientações daquele documento 
foi o estabelecimento da diretriz “uma sociedade para todas as 
idades”, constituindo uma importante forma de pensar a inclusão 
do velho de maneira ampla.
7b
Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
Setembro de 2016
Diante disso, e prestes a completar 15 anos do lançamento daquele 
documento, propomos outra perspectiva em face da conjuntura do 
envelhecimento da população mundial. Sabemos ser a velhice, tanto quanto 
a juventude e a infância, um conceito construído socialmente. Pesquisadores 
já revelaram como a valorização da infância foi resultado de um processo 
histórico desde a Idade Média até a Modernidade. Da mesma forma, a segunda 
metade do século XX testemunhou a criação da ideia de juventude. 
A questão etária tornou-se fundamental em nossa sociedade. São aceitas 
com naturalidade as regras que determinam, por exemplo, que para estar sob 
a proteção do Estatuto do Idoso é necessário ter mais de 60 anos de idade; do 
Estatuto da Criança e do Adolescente no máximo 18 anos e que o Estatuto da 
Juventude ampara o jovem adulto até os 29 anos. Temos a vida fatiada!
O tempo é uma construção cultural como tantas outras e nossa sociedade 
foi organizada identificando-se com Kronos, que é muitas vezes representado 
por uma flecha movendo-se em sentido linear, sem volta. A referência do 
tempo quantificado, contabilizado identifica e marca a idade. A questão etária 
– e todas as implicações decorrentes – determina nossa forma de identificação 
e de relação com o outro. 
Mas e se vivêssemos em uma sociedade sem idades? Situar o 
envelhecimento, a dinâmica da vida, como parte de um processo exige 
uma mudança de atitude. Atitude que nos levaria a olhar para nossa 
dimensão vital e não para a quantidade de anos acumulada. Como seria ou 
que parâmetros poderiam ser adotados para a proteção da vida de forma 
ampla, para o acolhimento e inclusão social efetiva de um indivíduo? Que 
sociedade teríamos se não nos apegássemos a “modelos” que determinam 
o comportamento adequado para cada faixa etária, a maneira de nos 
relacionarmos e de valorizar um indivíduo de acordo com sua data de 
nascimento?
Com essa visão, o Sesc tem procurado em suas últimas campanhas 
educativas - cujos temas relacionam-se de alguma forma com o 
envelhecimento - apontar para a importância em se estabelecer 
compromissos éticos pautados na alteridade e corresponsabilidade, por meio 
da participação social e do diálogo, e, assim, permitir que todos os indivíduos, 
independentemente de sua idade, ritmo, tempo, sintam-se respeitados e 
adotem posturas de comprometimento e cuidado com o outro, de tal modo 
que nossa sociedade passe a ser, de fato, uma sociedade para todos. 
 
1
Artigo 
da capa
Saber, aos poucos, 
se tornar “sem idade”
[Artigo 1, páginas de 8 a 21]
8 b – Estudos sobre Envelhecimento 
Volume 27 | Número 65 | Setembro de 2016
“Não, o tempo não cura todas as feridas; 
é ele a própria ferida” (Nietzsche)
9b
Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
Setembro de 2016
Ciro Marcondes Filho
Doutor pela Universidade de Frankfurt, 
pós-doutor pela Universidade de Grenoble 
(França), titular da Cátedra UNESCO 
José Reis de Divulgação Científica, 
professor titular da ECA-USP desde 1987. 
Responsável pela coleção Filosofia da 
Comunicação. Colunista da revista Caros 
Amigos. É atualmente comentarista da 
Rádio USP no programa Ciência Feliz.
Artigo 1
Saber, aos poucos, se tornar “sem idade”
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Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
Setembro de 2016
abstract
What defines the process of aging? What 
identifies us as old people? The passing of 
time; age as an invented social category, as 
opposed to the nature that runs throughout 
our lives. What has made us measure time? 
The way men and women fear senescence 
and the difficulty in accepting the physical 
degeneration that frustrates one’s idealized 
image are elements of our culture that are 
worth to be considered in the varied spaces 
and forms of artistic expression: cinema, 
literature, poetry
Keywords: Aging; old age as a social category; old 
age and art.
Resumo 
O que é o envelhecer? O que nos identifica 
como velhos? O passar do tempo, a idade 
como categoria social inventada em 
oposição à natureza que percorre o processo 
da vida. O que nos trouxe a marcação do 
tempo? A forma como homens e mulheres 
temem a velhice, a dificuldade de aceitar 
a degeneração física que contraria nossa 
imagem idealizada são elementos de nossa 
cultura, que merecem reflexão nos variados 
espaços e formas de expressões artísticas: 
cinema, literatura, poesia.
Palavras-chave: envelhecimento; velhice – 
categoria social, velhice e arte
Artigo 1
Saber, aos poucos, se tornar “sem idade”
11b
Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
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INTRODUÇÃO 
Se há uma coisa com a qual nós nunca vamos nos dar bem, essa coi-
sa é o tempo. O tempo representa o grande enigma do ser humano. 
Animais não se incomodam com o tempo, tampouco os vegetais. 
Mas os seres humanos padecem sob ele, sofrem desmesuradamen-
te ao sentirem sua presença sutil.
Há um tempo diferente do tempo de nossos relógios – o cronos 
dos gregos – mesmo distinto do tempo da eternidade – o eon – ou 
mesmo do instante oportuno – chamado de kairós. É um outro tem-
po, “tempo em estado puro”, como o denominava o escritor francês 
Marcel Proust¹ .Um tempo que não se mostra, mas que se faz presen-
te no corpo do outro. E no nosso corpo. Na transformação do outro 
temos a nítida consciência de nossa própria degeneração. 
Os anos são uma categoria social, inventada, criada pelo homem 
para marcar, mesmo que arbitrariamente, a diferença dos tempos 
em que vive. Para a natureza, não há dias da semana, meses do ano, 
décadas ou séculos. Há apenas o eterno processo da vida: nascer, 
crescer, multiplicar-se e morrer.
Sob esse ritmo vivem os animais, os vegetais, as obras humanas 
criadas pela civilização. Mas, com a marcação do tempo, veio a an-
gústia da morte, o desespero diante do inevitável, o pânico de sa-
ber que um dia se irá desaparecer para sempre, sem deixar qual-
quer vestígio.
Essa nossa angústia, a qual nos torna seres diferentes e mais so-
fredores que os demais seres vivos, marca o dilema da vida. Viver é 
começar a morrer. Não há como ser diferente. O drama da espécie é 
a consciência, é saber disso, é ter a noção do porvir, é a dureza de ter 
em mente que um dia se irá desaparecer.
Jamais saberemos o que veio antes de nós, de nossas sociedades, 
de nosso sistema planetário; jamais saberemos o que virá depois, 
se é que virá alguma coisa. A grande angústia existencial, já levan-
tada por Pascal², é essa nossa insignificância diante de leis inson-
dáveis do universo.
De repente nos damos conta que envelhecemos...
Dizia Mário Quintana³, em Imagem perdida, que com o passar dos anos 
temos apenas um “valor estimativo”, como taça quebrada, folha seca, 
só vivendo nos olhos que nos querem e que um dia vão se extinguir... 
Foram-se os olhos das amadas, seus lábios já não pronunciam seu 
nome, assim como se foi o abraço amigo e caloroso...
1 Valentin Louis Georges Eugène 
Marcel Proust (1871-1922). 
Considerado um dos pais do 
romance moderno. Conhecedor 
do pensamento de Henri 
Bergson, a cujos cursos assistiu, 
Proust é autor da obra Em Busca 
do Tempo Perdido (publicada 
entre 1913 e 1927).
2 Blaise Pascal (1623-1662) 
filósofo, matemático e físico 
francês. Dentre suas principais 
obras estão: Pensamentos, 
editora Martins Fontes, 2005; 
Ensaios, editora Penguin 
Companhia, 2010. 
3 Mario Quintana (1906-
1994) escritor, poeta,tradutor, 
jornalista gaúcho. 
Artigo 1
Saber, aos poucos, se tornar “sem idade”
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Estudos sobre Envelhecimento
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Nosso rosto é nosso primeiro carrasco. É a denúncia indisfarçável 
de que os anos se apossaram de nós e cavaram em nossa pele, límpida 
e macia as rugas, as manchas, a decrepitude da pele. O tempo em esta-
do puro nos atravessando. 
Alain Finkielkraut⁴ sublinha que “uma imperceptível debilitação 
faz desaparecer pouco a pouco a plenitude ou a graça das fisionomias 
mais juvenis”. De fato, são as rugas que, estragando a beleza do rosto, 
o denunciam. E nos fazem nos surpreendermos diante do espelho. 
A face que nos olha não nos é mais familiar. Algo mudou. “Quem é 
esse que me olha e é tão mais velho do que eu?” – pergunta-se Quinta-
na, em Velho no espelho. É meu pai, responde ele, inconformado: “Como 
pude ficar assim?” Meu pai me invadiu lentamente, ruga a ruga.
No espelho, nas fotografias, nos vídeos em que aparecemos, há o tes-
temunho implacável de nosso declínio físico, da irreversível mudan-
ça de nossa figura, da decadência do corpo. A revelação indesejada da 
proximidade do fim. “Eu não tinha essas mãos sem força, tão paradas, 
frias e mortas”, escreve Cecília Meirelles⁵, em Retrato. “Eu não dei por 
esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil / Em que espelho fi-
cou perdida minha face?”
De fato, a constatação da falência de nosso corpo, o enfraqueci-
mento dos músculos, a perda de elasticidade, a rigidez que esmorece, 
as traições da memória, a deterioração da visão, da audição nos põem 
diante de uma realidade contra a qual lutamos, empenhando-nos em 
esforços e trabalhos que já não conseguimos realizar, travando uma 
luta desigual contra o avanço da precariedade. 
E o mais cruel de todos é o distanciamento do outro, o já-não-ser-
mos-mais-desejados, a perda do direito ao afeto físico, ao toque, ao pra-
zer carnal, à maior excitação da vida.
4 Alain Finkielkraut, filósofo 
francês, autor da obra A derrota 
do pensamento; tradução Mônica 
Campos de Almeida. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1988.
5 Cecília Meireles (1901-1964) 
escritora e jornalista carioca. 
Seu poema Retrato integra a 
obra Viagem. São Paulo: Global, 
2012.
Artigo 1
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Estudos sobre Envelhecimento
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A defasagem entre corpo e mente
A idade representa o registro de nosso tempo no mundo. Ela consis-
te num signo externo da transformação física pela qual passamos. 
Contudo, as alterações de nossa aparência estão em frontal confli-
to com nossa mente, que não sente, por si mesma, o envelhecimen-
to. Somos contaminados por uma sensação interior de permanecer-
mos sempre os mesmos. 
Daí o sentimento paradoxal e o choque diante de nossa própria ima-
gem. Apesar dos anos, sentimo-nos como sempre fomos; como se não 
tivéssemos mudado; e nos iludimos em pensar que o outro nos sinta 
da mesma maneira. Nossa mente não aceita a degeneração física, pois 
está em desacordo com nossa imagem idealizada.
O filósofo francês Henri Bergson⁶ sublinhava que a separação das 
fases da vida constitui algo totalmente artificial. As pessoas veem uma 
criança, um adolescente, um adulto, um homem maduro e um ho-
mem de idade avançada e imaginam rupturas marcando a passagem 
de uma fase para a outra. 
Em verdade, diz ele, não há esses momentos de virada, somos um 
contínuo que portamos, em nós mesmos, nosso próprio momento fu-
turo e as marcas das fases anteriores, tudo sem interrupção. Não pas-
samos a ser velhos de uma hora para outra: nosso corpo, que vivencia 
esse processo, como os de uma fruta que colhemos verde, vai sofrendo 
a ação do tempo e se tornando amarela até chegar ao momento escuro 
e enrugado de seu apodrecimento. O tempo a atravessa.
Observando as mãos do pai, Quintana repara nas veias azuis que li-
daram, acariciaram e, quando repousadas nos braços da cadeira, pare-
cem emitir uma luz. A vida emana delas, diz o poeta em As mãos de meu 
pai, ela transcende a própria vida e os anjos um dia chamarão de alma.
O rosto, as mãos, a energia que vem de dentro constituem nossa pre-
sença, nossa figura, essa anima que nenhuma ciência conseguiu des-
crever. Talvez o único pensador que se incomodou com a dimensão ex-
trafísica do rosto tenha sido Emmanuel Levinas⁷. Segundo o autor, o 
rosto não representa apenas um rosto. Seja o de uma mulher abatida, 
o de uma criança pobre, o de um soldado derrotado, o de um velho, 
não importa, o rosto torna-se o canal que nos liga à humanidade toda. 
É o olhar do outro, seu rosto, que está na base do mandamento bí-
blico “Não matarás!” Porque, além do próprio olhar, de seu poder de 
revelação de uma interioridade escondida dessa pessoa, ele leva mais 
além, veículo direto para toda a espécie humana, nos convocando, en-
fim, a adotar uma postura ética diante de outro ser humano.
6 Henri Bergson (1859-1941) 
professor, filósofo e diplomata. 
Dentre suas obras destacam-se: 
A evolução criadora. São Paulo: 
Martins Fontes, 2005; Memória 
e vida. São Paulo: Martins 
Fontes, 2011; Memória e matéria: 
ensaio da relação do corpo com 
o espírito. São Paulo: Martins 
Fontes, 2010. 
7 Emanuel Lévinas (1906-
1995), filósofo francês, nascido 
na Lituânia, autor, dentre 
outras, das seguintes obras: 
Entre Nós: ensaios sobre a 
alteridade. Petrópolis, RJ: Vozes, 
1997; Ética e infinito: diálogos 
com Philippe Nemo. Lisboa: 
Edições 70, 1988; Humanismo 
do outro homem. Petrópolis, RJ: 
Vozes, 1993. 
Artigo 1
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René Descartes⁸,o sabemos, expurgou, por meio do princípio da ra-
zão, a alma humana do campo dos interesses cognitivos. Seu raciona-
lismo dividiu o corpo da mente, excluindo aquilo que exatamente dava 
vida ao corpo, e que os gregos denominavam psyché, a alma. 
Esse desvio cientificista levou a que as ciências se ocupassem me-
nos com aquilo que não era palpável, mensurável, aproveitável e ten-
dessem ao meramente útil, deixando as questões éticas e os compro-
missos sociais fora campo do saber. O que é renegado no processo de 
envelhecimento consiste exatamente nessa energia – anima ou psyché 
– nessa força que sobrevive apesar da decadência do corpo. 
A cultura contemporânea, centrada no investimento no corpo e na 
aparência, relega essa dimensão de nossa existência a um plano insig-
nificante. Por isso, talvez, o tratamento desigual de jovens e velhos, vis-
to que estes são vistos apenas como hardware obsoleto, máquina que 
se tornou inútil e sem interesse para o outro. 
Envelhecimento e narcisismo
O narcisismo tornou-se ethos dominante nos últimos 150 anos. Com 
a fotografia, as pessoas começaram a se preocupar mais com a ima-
gem que era registrada em placas fotográficas. Cem anos atrás as má-
quinas já eram bastante populares e as pessoas poderiam adquiri-las 
e se divertir com a maravilha de reter e guardar cenas, imagens, ros-
tos de pessoas comuns. 
Guardar imagens. Deter o tempo nas fotos. Cristalizar pessoas e ce-
nas. Nada de mais fascinante para a época. O cinema, em vista dos cus-
tos elevados, não dispunha da mesma popularidade, se bem que as ima-
gens refletidas nas telas funcionassem como novos modelos de beleza, 
sedução e imitação por parte das plateias.
A cultura de massas que surge daí passará a fabricar estilos de vida, 
de comportamento, de exibição pública que se tornarão exemplares 
para nações inteiras. Inicia-se o culto industrial das aparências. Ros-
8 René Descartes (1596-1650), 
filósofo, matemático e físico 
francês. 
O narcisismo tornou-se ethos dominante nos últimos 150 anos. 
Com a fotografia, as pessoas começaram a se preocupar mais com a 
imagem que era registrada em placas fotográficas. 
Artigo 1
Saber, aos poucos, se tornar “sem idade”
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Estudos sobre Envelhecimento
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Setembro de 2016
tos belos e jovens assumem a dianteira dos painéis, das telas, dos car-tazes e do imaginário de homens e mulheres.
O pesquisador norte-americano Christopher Lasch dedica-se ao 
estudo da importância das aparências nas sociedades contemporâne-
as. Em seu livro, A cultura do narcisismo, o autor defende que a velhice 
não constitui uma categoria biológica mas social: “O moderno proble-
ma da velhice, sob este ponto de vista, tem origem menos no declínio 
físico, do que na intolerância da sociedade para com os idosos, em sua 
recusa de fazer uso de sua sabedoria acumulada e em sua tentativa de 
relega-los à margem da existência social”.⁹ 
O próprio termo “idoso” já está carregado de conotações negati-
vas. Alguém muito carregado de idade, eufemismo para não os cha-
marem de velhos, cujo tempo já passou, conceito esse, contudo, que se 
alterou historicamente, visto que séculos atrás ter 50 anos já era uma 
“idade avançada”. 
Mas essa mudança, ou esse “ganho de vida”, não alterou os precon-
ceitos. Os espanhóis falam de mayores, talvez com conotações menos 
negativas. De toda maneira, qualquer associação a “muita idade”, mui-
ta vivência, remete a uma existência que incomoda, que cisma em per-
manecer. Melhor de tudo, mais justo, mais digno, mais honesto, como 
no filme Youth (Sorrentino10,2015), mostra-se dizer que são “sem idade”.
O velho é o espelho do futuro que preferimos não ver, pois ele será 
nosso amanhã; e a sociedade narcisista não quer saber nem do passa-
do nem do futuro; reduz a existência ao desfrute imediato, ao consu-
mo predatório, ao prazer do momento.
De alguma maneira, a concepção antiga do Paraíso, como mo-
mento enfim do desfrute da vida, reservado para a existência após 
a morte, transferiu-se, na sociedade de consumo, para a existência 
terrena, funcionando como compensação ao princípio de realida-
de, cruel e opressor.
O próprio termo “idoso” já está carregado de conotações 
negativas. Alguém muito carregado de idade, eufemismo para 
não os chamarem de velhos, cujo tempo já passou, conceito esse, 
contudo, que se alterou historicamente, visto que séculos atrás 
ter 50 anos já era uma “idade avançada”.
9 LASCH, Christopher. A cultura 
do narcisismo: a vida americana 
numa era de esperanças em 
declínios. Rio de Janeiro: Imago, 
1983.
10 Juventude (Youth). Direção: 
Paolo Sorrentino. Elenco: 
Michael Caine, Harvey Keitel, 
Rachel Weisz. Itália, França, 
Suíça, Reino Unido, 2015. 
Artigo 1
Saber, aos poucos, se tornar “sem idade”
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Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
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Por isso, homens e mulheres começam a temer a velhice antes mes-
mo de chegar à meia-idade. Os norte-americanos experimentam o qua-
dragésimo aniversário como o início do fim. Para eles, o terror irracio-
nal da velhice e da morte está intimamente associado à emergência da 
personalidade narcisista em nossas sociedades, salienta Lasch. 
O narcisista dispõe de poucos recursos interiores: olha os outros 
para validar a si mesmo, precisa ser admirado por sua beleza, encan-
to, celebridade, coisas que decaem com o tempo. Por isso, a presença 
do fantasma materializado no corpo do homem ou da mulher cuja ju-
ventude está longínqua incomoda. Imagem negativa do próprio devir.
Consoante Lasch, a personalidade narcisista reflete uma mudan-
ça drástica em seu sentido de tempo histórico, uma sociedade que te-
ria perdido o interesse pelo futuro. Mas, talvez, não apenas pelo futu-
ro, como exposto acima na concepção de paraíso-aqui-mesmo, mas na 
negação igualmente efetiva do passado e de seus portadores, daqueles 
que acumularam experiência, saber e memória. 
Nos tempos da rapidez eletrônica, do apagamento simples de ima-
gens e textos, da varredura contínua de nossos arquivos e da imateriali-
dade de nossas obras, tudo que tem a ver com o passado dissolve-se no ar.
O culto do eu hoje está mais radicalizado por força dessas conexões 
eletrônicas. Elas substituem o estar junto social por um paradoxal estar 
junto estando longe, em outro lugar, mesmo que “de corpo presente”. 
Os gadgets eletrônicos invadiram o espaço que ainda sobrava da socia-
lidade urbana, as mesas de cafés e restaurantes, os encontros casuais, 
os espaços de fala e conversa, introduzindo aí uma espécie de take off, 
de decolagem da cena, perigosamente incômoda de olhar o outro, sen-
ti-lo, tocá-lo, “entrar no clima”. Decolamos o tempo todo.
A sociedade estigmatiza os velhos e os exclui porque não vê neles os 
modelos narcísicos para sua frágil identidade, hoje ainda mais debilita-
A personalidade narcisista reflete uma mudança drástica em seu 
sentido de tempo histórico, uma sociedade que teria perdido o 
interesse pelo futuro. Mas, talvez, não apenas pelo futuro, como 
exposto acima na concepção de paraíso-aqui-mesmo, mas na 
negação igualmente efetiva do passado e de seus portadores, 
daqueles que acumularam experiência, saber e memória.
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Saber, aos poucos, se tornar “sem idade”
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Estudos sobre Envelhecimento
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da por estar apoiada em suportes digitais tão tênues. Assim como pres-
tígios e nomes podem, de uma hora para outra, desaparecer por força 
da viralização eletrônica; assim como os 15 minutos de glória vão se li-
quefazendo ainda mais para, talvez, 15 segundos, da mesma forma, a 
volaticidade dos relacionamentos, das paixões, das amizades, das uni-
ões converge para um grande vazio. 
E no espaço da instantaneidade, dos relacionamentos eventuais e 
ligeiros, a prática e a lógica da sexualidade atual inviabiliza aos velhos 
os rituais de aproximação e de prazer, como se a sexualidade estivesse 
organicamente atrelada à juventude e ao corpo sarado, proibida aos 
não pertencentes ao clube. 
A paixão, vista como atributo dos corpos lisos e da carne dura, não 
encontra mais espaço simbólico nos velhos, pois pertence à semió-
tica dos perfumes, das cores berrantes, das roupas provocantes, da 
pletora dos órgãos, das provocações sexuais. O beijo necessita de lá-
bios firmes e ágeis; a volúpia dos corpos não abre espaço para o tem-
po da delicadeza. 
Essa opressão biopolítica funciona como poder massacrante invisí-
vel, reforçado continuamente pelos jovens e pela publicidade a ponto 
de inibir sinceros sentimentos de aproximação e da corte. E aos velhos 
não sobra outra performance senão a do desencanto, do incômodo de 
ainda estar vivo, da sensação de outros ansiarem por seu próximo de-
saparecimento ou por sua internação num asilo. 
É toda uma sociedade, nos atos e nas insinuações, nas falas e nos si-
lêncios, no olhar do outro e nas ironias, que os vão empurrando cada 
vez mais para a margem, para o fim, para sua própria cova, mesmo 
que a saúde ainda o mantenha, mesmo que o élan vital ainda flameje 
Mas há contraexemplos...
A compositora chilena Violeta Parra11, já com quase 50 anos, escreveu 
a canção Volver a los 17 para Gilbert Favré, um homem 18 anos mais 
A paixão, vista como atributo dos corpos lisos e da carne dura, 
não encontra mais espaço simbólico nos velhos, pois pertence 
à semiótica dos perfumes, das cores berrantes, das roupas 
provocantes, da pletora dos órgãos, das provocações sexuais. 
11 “El amor con sus esmeros al 
viejo lo vuelve niño”. Violeta de 
La Parra (1917-1967), cantora, 
compositora, poeta, nascida no 
Chile. 
Artigo 1
Saber, aos poucos, se tornar “sem idade”
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jovem que ela, por quem se apaixonou perdidamente e que a fez reju-
venescer: o amor com seus esmeros, o velho torna menino [...]. Isso nos 
lembra também a paixão de Edith Piaf12 por Theophanis Lamboukas, 
20 anos mais jovem que ela, com quem se casou em 1982. 
Lembramos ainda dois filmes famosos. Um, de Rainer Werner Fas-
sbinder13, O medo devora a alma (1974), no qual uma aposentada, cujo 
único prazer na vida era assistir a televisão, ao ter de entrar num bar 
para se proteger da chuva, é convidada a dançar pelo jovem marro-
quino Ali. Eles se apaixonam e se casam. Contudo, amigos, parentes, 
conhecidos os repudiam, mas eles tentam assimmesmo sobreviver. 
O outro filme, Ensina-me a viver, de Hal Ashby14, 1971, no qual um 
jovem de 19 anos, Harold, obcecado por morte, apaixona-se por uma 
senhora de 79 anos, Maude, amante da vida. Segundo um crítico da 
época trata-se da mais doce e menos convencional de todas as histó-
rias de amor jamais escrita.
Mais contundente ainda foi a paixão do editor Gastão Gallimard15, 
na Paris do pós-guerra. Um dia, conta-nos Germaine Sorbet, no inver-
no de 1954, o famoso editor pôs um papel sob sua porta: “Estou muito 
cansado, deixem-me dormir”, depois do qual ingeriu um tubo de soní-
feros. Quando descoberto, já estava em coma. Transportado para uma 
clínica e, depois de sofrer 15 lavagens estomacais, se refez. 
No entanto, havia perdido o gosto de viver. Ele explicou seu gesto 
pelo horror à velhice e ao vazio: Gide16, Valéry17, Giraudoux18, muitos 
de seus autores estavam mortos e a literatura moderna não o interes-
sava mais. Contudo, para os íntimos, uma tal desesperança tinha um 
nome: o de sua secretária, que ele amara até a morte. 
As paixões dos velhos podem ter a doçura da noite ou não passar de 
um frenesi senil, diz Sorbet. O amor de Gastão Gallimard consistia-se 
num crepúsculo wagneriano. Um crepúsculo de vinte anos em que ele 
veria, ao seu lado, mais do que em sua cama, aquela mulher soberba, 
soberana e inteligente, mulher de cabeça e de caráter. Mas, na época de 
seu suicídio, devastado pela paixão, o grande Gallimard era apenas dor. 
As paixões dos velhos podem ter a doçura da noite ou não passar 
de um frenesi senil, diz Sorbet
13 O Medo Devora a Alma (Angst 
Essen Seele Auf). Direção: Rainer 
Werner Fassbinder. Elenco: 
Brigitte Mira, El Hedi ben Salem, 
Barbara Valentin. Alemanha, 
1974. Duração: 93 min. Brasil: 
Paragon Multimídia.
14 Hal Ashby (1929-1988), 
nascido nos EUA, dirigiu o filme: 
Ensina-me a viver. Elenco: Ruth 
Gordon, Bud Cort, Cyril Cusack. 
EUA, 1971.
15 Gaston Gallimard (1881-
1975) editor francês e fundador 
das Edições Gallimard, uma das 
mais famosas e importantes 
casas editoriais francesas do 
século XX.
16 André Gide (1869-1951) 
escritor francês.
17 Paul Valéry (1871-1945) 
filósofo, escritor e poeta 
francês.
18 Jean Giraudoux (1882-1944) 
escritor e romancista francês.
12 Edith Piaf (1915-1963) 
cantora francesa.
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Há, em cada um de nós, o tempo todo, o jovem e o velho
A sabedoria do tempo
Na canção de Chico Buarque19 Todo sentimento, há o apelo de se pre-
tender descobrir, no último momento, o tempo que refaz o que des-
fez, que põe no corpo um “outra vez”. É como um personagem que per-
deu a amada, mas aspira voltar a encontrá-la no tempo da delicadeza... 
São precisos anos para que aprendamos a viver, a nos tornar mais hu-
manos. Assim são os homens. Com trinta anos ainda somos meros ini-
ciantes, dizia Nietzsche, meros melancólicos. É só mais tarde que ad-
quirimos a clareza de visão.
O que nos torna velhos ou jovens de cabeça são as ideias retrógra-
das, antiquadas, conservadoras ou então abertas, inovadoras, sem pre-
conceitos que possamos ter. Há, em cada um de nós, o tempo todo, o 
jovem e o velho. Há aqueles adolescentes em cuja fala se apresenta a 
expressão dura e envelhecida dos pais e dos avós, carregada de precon-
ceitos e de rancores. 
Há aqueles velhos que nos passam a elevação, a pureza, a sensibili-
dade apurada e fina, que raramente encontramos em nossos contem-
porâneos... Estava errado, portanto, Stendhal20 ao dizer que a velhice 
seria a privação da loucura, a ausência de ilusão e de paixão. 
Eugène Sue21 dava um conselho: se és velho, seja enérgico que irão es-
quecer tua idade. Ou Montaigne, para quem a velhice não é uma ques-
tão de idade, mas de cabeça. Affonso Romano de Santana22 em O pra-
zer da idade, indica estar vivendo a glória de seu sexo a dois passos do 
crepúsculo: “Envelheço, sim”, diz ele, “E (ocultamente) resplandeço”.
Manuel Bandeira23 fala de sua grande ternura pelas mulheres que 
foram meninas bonitas e ficaram mulheres feias, que foram desejáveis 
e deixaram de sê-lo, pelas que o amaram e as que ele não pode amar. Pe-
las amadas que envelheceram sem maldade (Minha grande ternura). 
Porém, minha emoção maior ocorreu ao ler o singelo relato de 
Renata Carvalho, minha ex-aluna, descrevendo o fim da vida de seu avô: 
Ainda me lembro a última vez que o vi. Lembro do jeito manso dele sor-
rindo. A gente andava junto pela horta da minha avó, e ele, com aqueles 
20 Stendhal (1783-1842) 
escritor francês. 
21 Stendhal (1783-1842) 
escritor francês. 
22 SANT’ANNA, Affonso 
Romano de. Textamentos. Rio de 
Janeiro: Rocco, 1999.
23 Manuel Bandeira (1886-
1968) poeta e escritor 
pernambucano. 
19 Chico Buarque (1944-) 
músico, compositor e escritor 
carioca.
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Saber, aos poucos, se tornar “sem idade”
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olhos de sabedoria, com aqueles olhos que já conhecem o mundo há 
tantas e tantas décadas, despejava com humildade tudo que sabia das 
ervas ali. Para que servia o chá de erva-cidreira, como espantar inveja 
com um raminho de arruda. Eu sorria e anotava num caderno as coi-
sas que ele dizia, sempre fascinada por herbologia. Ele me amava e eu 
o amava de volta, dessa maneira muito especial, que só nós dois sabía-
mos. Lembro da foto que insisti em tirar, e ele tímido, sem querer po-
sar para mim. Sentou no sofá, com chapéu na cabeça, com uma digni-
dade de coronel, assim, todo enxuto e empinado, e eu tirei a fotografia 
mesmo contra a sua vontade. 
No dia em que fui embora, ele foi me levar até o ônibus, caminhando 
com dificuldade. Isso foi há uns dois anos, no sertão da Bahia, naque-
la terra seca onde ele dorme agora. Mas no dia em que ele se foi, cho-
veu. Choveu no sertão, na manhã desse sábado, porque meu avô mor-
reu. Diz uma antiga tradição italiana que quando chove no dia em que 
alguém morre, é porque os bons espíritos querem amaciar a terra que 
receberá aquele corpo: porque merecia, foi alguém bom na vida. E a 
chuva amaciou a terra dura do sertão para receber o corpo do meu avô, 
que eu nunca mais vou ver. 
Não sei lidar muito bem com isso, não sei lidar com a morte, não sei 
lidar com a palavra nunca, com toda sua impossibilidade, sua rigidez. 
Não sei digerir em mim o significado de nunca mais ouvir todas as his-
tórias que ele ainda tinha que me contar; de nunca mais vê-lo senta-
do em seu sofá, com seu chapéu e seu sorriso magro, no movimento 
de seu olhar, e não na estaticidade de uma fotografia.
Com ele se foi para sempre toda a sabedoria dos seus anos, todo o co-
nhecimento de uma vida que eu mal posso imaginar. Que talvez perpe-
Diz uma antiga tradição italiana que quando chove no dia em 
que alguém morre, é porque os bons espíritos querem amaciar 
a terra que receberá aquele corpo: porque merecia, foi alguém 
bom na vida. 
Artigo 1
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tue-se recôndito nas ervas silenciosas que brotarem sobre seu túmulo, 
e que eu nunca, nunca vou compreender.24 
As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis sobre um fundo 
de manchas já da cor da terra.
- como são belas as tuas mãos
 pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da 
nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza
 que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços
 da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas... 
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, 
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los
 contra o vento?
Ah! Como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das 
tuas mãos!
E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos
 nodosas...
essa chama de vida – que transcende a própria vida
... e que os Anjos, um dia, chamarão de alma. 
(Mário Quintana: As mãosde meu pai)25 25 QUINTANA, Mario. 
As mãos de meu pai. In: 
QUINTANA, Mario. Melhores 
poemas; seleção Fausto Cunha. 
São Paulo: Global, 2003, 
24 CARVALHO, Renata Cruz 
de. A vida secreta das plantas. 
Disponível em: <A Vida Secreta 
das Plantas – Renata Cruz e 
Carvalho - Grupos.com.br>
2
Envelhecer com qualidade 
e o conceito multifuncional 
aplicado ao esporte
[Artigo 2, páginas de 22 a 37]
22 b – Estudos sobre Envelhecimento 
Volume 27 | Número 65 | Setembro de 2016
23
Diolino Pereira 
de Brito
Instrutor de atividades 
físicas do Sesc São Cae-
tano. Mestre em Ciências 
da religião pela Faculdade 
de Filosofia e Ciências da 
Religião da Universidade 
Metodista de São Paulo. 
email: diolino@scaetano.
sescsp.org.br
2323b
Estudos sobre Envelhecimento
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Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
24 b
Estudos sobre Envelhecimento
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abstract
By means of an empirical research, this 
study points effective alternatives in coping 
with isolation during the process of aging, 
which may lead to social exclusion and to a 
sedentary lifestyle. As an alternative physical 
practice, capoeira and karate, based on 
the Sesc São Paulo’s multifunctional fitness 
method, can be excellent resources in this 
process. In this research, we have analyzed, 
for thirty months, ten students (eight women 
and two men) enrolled in the multifunctional 
fitness classes at the Sesc São Caetano unit. 
The students were submitted to different 
training practices in which they had to 
answer a survey describing how they felt. 
Video interviews aimed to show how satisfied 
they were while staying with the group, as well 
as if there were any positive physical and/or 
emotional factors during the period.
Keywords: Capoeira; Karate; Multifunctional 
fitness.
Resumo 
Por meio de pesquisa empírica, 
procuramos apontar alternativas eficazes 
no enfrentamento do isolamento durante 
o processo de envelhecimento, que pode 
levar ao sedentarismo e à exclusão. Como 
alternativas, enquanto modalidade física, a 
capoeira e o karatê, ancorados no método 
de Ginástica Multifuncional (GMF), do Sesc 
São Paulo, podem ser excelentes ferramentas 
neste processo. Nesta pesquisa, analisamos 
dez alunos, sendo oito mulheres e dois 
homens, inseridos no programa GMF, na 
unidade do Sesc São Caetano, durante trinta 
meses. Os alunos foram submetidos a treinos 
variados, nos quais deveriam responder um 
questionário, relatando como se sentiam. 
Entrevistas em vídeo procuraram mostrar 
uma correlação do grau de satisfação 
percebido durante a permanência com o 
grupo e se houve algum fator físico e/ou 
emocional positivo no período. 
Palavras-chave: Capoeira; Karatê; 
Multifuncional.
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
25b
Estudos sobre Envelhecimento
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INTRODUÇÃO
Envelhecimento com qualidade e atividade física
Conforme Souza (2010), pesquisas envolvendo o comportamento humano 
sinalizam positivamente para os efeitos da ginástica e do esporte na 
manutenção da saúde do praticante. Embora o homem precise de 
elementos como: relações familiares e sociais, manutenção do status 
financeiro, entre outros, a prática de uma atividade física influencia 
diretamente no seu bem-estar e qualidade de vida, especialmente para 
uma velhice saudável.
Preocupação que não é recente. Desde 1963, por exemplo, o Sesc - Ser-
viço Social do Comércio¹ volta sua atenção para as questões sobre o enve-
lhecimento, nas quais, sistematicamente, e de maneira pioneira, inova, 
tanto propiciando ações socioculturais voltadas a essa população quan-
to desenvolvendo metodologias esportivas que favorecem a participação 
da pessoa idosa e dos comerciários em geral.
Miranda (2015) afirma, de acordo com o termo gerontologia, estru-
turado a partir de 1903, que “o processo de envelhecimento tornou-se 
objeto de investigação e, por tratar-se de fenômeno complexo, passou a 
exigir um olhar multidimensional”. Com base nesses fatores, abordare-
mos nesse artigo o programa de Ginástica Multifuncional2 desenvolvi-
do pelo Sesc São Paulo, cujo objetivo consiste em melhorar a qualidade 
de vida do praticante, além de possuir na transversalidade de temas não 
convencionais e nas práticas do esporte e lazer, referências importantes 
nas ações voltadas ao cidadão idoso. 
Segundo Penatti e Gobbo (2015), o alerta para os cuidados com esse ni-
cho da sociedade torna-se mais relevante ao observamos dados do Censo 
de 2010, divulgados pelo Instituo Brasileiro de Geografia (IBGE), que apre-
sentam aumento na população idosa do Brasil, que passou de 4,8% em 
1991, para 7,4% em 2010; estimando-se que, em 2050, a população idosa 
mundial poderá ultrapassar o número de crianças com menos de 15 anos. 
Nessa perspectiva, Souza (2010) afirma que para envelhecer com qua-
lidade é necessário um programa de conscientização da população, no to-
cante a mudança de hábitos. Nesse sentido, a prática do esporte mostra-se 
uma excelente opção. Para o cidadão a conscientização sobre a prática 
do esporte pode refletir no bem-estar e na qualidade de vida e significar 
maior autonomia. Segundo a autora, nesse caso, o conceito de bem-estar 
diz respeito a um conjunto de estratégias que procuram orientar a cole-
tividade para modos de vida saudáveis. 
Conforme Matsudo (2000), considerando-se o aumento de idosos 
inativos, podemos pensar que, aparentemente, os motivos que afastam 
2 Ginástica Multifuncional, 
programa de exercícios do 
Sesc São Paulo, cujo objetivo 
é o desenvolvimento integral 
do indivíduo, a aquisição 
de capacidades físicas e 
habilidades motoras de maneira 
integrada, estimulando o 
participante a a ter maior 
percepção e reconhecimento de 
sua gestualidade, exercitando o 
repertório motor e cognitivo de 
forma criativa, afetiva e social.
1 O Serviço Social do Comércio 
é uma instituição de caráter 
privado, de âmbito nacional, 
criada em 1946 por iniciativa 
do empresariado do comércio 
e serviços, que a mantém e 
administra. Sua finalidade é a 
promoção do bem-estar social, a 
melhoria da qualidade de vida e o 
desenvolvimento cultural de seu 
público prioritário, o comerciário, 
e da comunidade em geral.
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
26 b
Estudos sobre Envelhecimento
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a população das práticas esportivas são mais convincentes que os ape-
los da educação física. Embora seja relevante a quantidade de pesso-
as que praticam alguma atividade física, os estudos sinalizam que, ao 
envelhecer, muitos indivíduos tornam-se sedentários, menos ativos, 
e rapidamente os efeitos do sedentarismo são percebidos, principal-
mente pela diminuição das capacidades físicas e pelas alterações psi-
cológicas, tais como: fragilidade, estresse e depressão. 
Concordando com Matsudo (2000), autores como Penatti e Gobbo 
(2015) acrescentam em seus estudos que “com o envelhecimento, as alte-
rações psicológicas e físicas são potencializadas, havendo perda da mas-
sa óssea e da musculatura, sendo acentuada entre 50 e 80 anos. Bem 
como, a redução do número e tamanho dos neurônios”.
Assim, faz-se necessário um olhar mais abrangente sobre as pos-
sibilidades de implementos de modalidades esportivas – lutas entre 
outras atividades – e equipamentos que trabalhem aspectos cogniti-
vos e físicos, preferencialmente integrados, objetivando minimizar a 
perda da força muscular e da cognição, aspectos que podem precipi-
tar alguma patologia. 
Atividade física e o Idoso no SESC
O Sesc entende os interesses físico-esportivos como um meio de edu-
cação sociocultural, valorizando todos os gêneros de atividades e 
enfatizando um aumento no nível de participação de sua clientela. 
A participação deve ser considerada tanto no nível da prática quanto 
no nível de conhecimento (Sesc São Paulo, 2012).
SegundoMarquez Filho (2003), considerando-se os valores educa-
tivos institucionais, os programas de lazer e GMF são ajustados para 
cada aluno de acordo com sua faixa etária. Tratando-se do idoso, essa 
preocupação se justifica, pois o envelhecimento consiste num fenôme-
no individual e singular, que se processa de forma diferente, em rit-
mos diferentes e em diferentes épocas da vida. O autor ressalta que a 
velhice não se caracteriza somente por perdas e limitações e, ao pen-
Embora seja relevante a quantidade de pessoas que praticam 
alguma atividade física, os estudos sinalizam que, ao envelhecer, 
muitos indivíduos tornam-se sedentários, menos ativos, e 
rapidamente os efeitos do sedentarismo são percebidos
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
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Estudos sobre Envelhecimento
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sarmos em qualidade de vida, é perfeitamente possível o aprimora-
mento da funcionalidade das capacidades físicas, cognitivas e afetivas.
Essencial para a manutenção da qualidade de vida do idoso, a ati-
vidade física pode ser direcionada de várias maneiras, tanto para prá-
ticas relacionadas ao esporte quanto para as atividades do cotidiano. 
Nesse contexto, Sousa (2010) afirma que junto aos esforços dos pro-
fissionais da educação física, e da saúde em geral, instituições como 
o Sesc auxiliam na promoção do envelhecimento saudável. Dessa for-
ma, pensar um programa de atividades para idosos apresenta-se como 
uma das questões centrais o trabalho do corpo de maneira integral.
Nesse sentido, o programa de Ginástica Multifuncional do Sesc São 
Paulo, por meio das diversas modalidades que o compõem, pode con-
tribuir quanto aos aspectos psicossociais e suprir as necessidades dos 
idosos, tanto com relação à sociabilização quanto ao trabalho das ca-
pacidades físicas necessárias para a manutenção da funcionalidade. 
Ginástica Multifuncional
A Ginástica Multifuncional foi desenvolvida pelo Sesc São Paulo a par-
tir de experiência e estudo do quadro técnico da instituição, por meio 
de um Programa que entendesse o indivíduo de maneira integral, con-
siderando suas potencialidades e necessidades. Conceitualmente, a 
multifuncionalidade é uma condição dinâmica na qual há uma contí-
nua integração entre capacidades e habilidades motoras, propiciando 
aos seres humanos movimentar-se de maneira efetiva e alcançar me-
tas, com a maior eficiência possível, em contextos cada vez mais com-
plexos e dentro de uma perspectiva cognitivo-motora. 
Há de se destacar que a ideia de contextos cada vez mais complexos 
se aplica a indivíduos de todas as idades, porém, o nível de complexi-
dade motora deve sempre ser ajustado (isto é relativo) às condições 
iniciais de cada um e também progredir de acordo com a evolução de 
cada indivíduo. 
Dessa forma, conforme Ugrinowitsch (2009 apud Sesc São Paulo, 
2012) a Ginástica Multifuncional possui como característica básica a 
utilização de contextos de práticas de exercícios físicos cada vez mais 
elaborados, por meio de aumento da complexidade dos movimentos 
realizados, de meios e métodos de treinamento utilizados e da combi-
nação de dois ou três desses fatores. 
A partir dos estudos do autor observamos que as adaptações mo-
toras são potencializadas ao priorizarmos a tabela progressiva dos ní-
veis de aptidão física. O trabalho específico desenvolvido com os idosos 
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
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Estudos sobre Envelhecimento
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passou por essa sequência de prioridades: resistência cardiovascular, 
habilidades motoras complexas, potência muscular, estabilidade do 
core, equilíbrio, flexibilidade, agilidade, velocidade e força muscular. 
Com referência às adaptações do sistema locomotor para melho-
ria da qualidade de vida, Prentice e Voight (2003) recomendam que o 
praticante experimente múltiplas possibilidades de se movimentar no 
espaço físico e, com precaução, explore seus limites articulares ao se 
exercitar corretamente. Dessa forma, o organismo usufruirá das adap-
tações neurais decorrentes dessas ações, deixando o corpo mais forte 
para o enfrentamento das tarefas diárias. 
Nesse contexto, a capoeira e a GMF, por trabalharem a sobrecarga 
com o próprio peso corporal do praticante, constituem parte de um 
leque de modalidades essenciais para adaptação neuromuscular. Con-
forme Prentice e Voight (2003), existem inúmeras possibilidades de 
adaptações fisiológicas para se trabalhar o corpo com sobrecarga. Com 
os efeitos positivos desse trabalho a “força das estruturas contráteis, 
inclusive de tendões e ligamentos, é ampliada”; fortalecendo os ossos 
pelo aumento do conteúdo mineral, melhorando a captação máxima 
de oxigênio; obviamente será preciso intensificar esse tipo de treina-
mento para obter excelência nos resultados. Havendo também um au-
mento de diversas enzimas importantes para o metabolismo aeróbio 
e anaeróbio; ocorrendo essas adaptações, elas contribuirão positiva-
mente para o aumento da força e da resistência muscular e articular. 
Sobre a adaptação neuromuscular, Sobotta (1997) afirma que a prá-
tica de uma determinada modalidade esportiva, por certo período de 
tempo, produz alterações em nosso corpo que podem ser explicadas 
pelo aumento de substancias orgânicas – como os hormônios que ali-
viam as dores – ocorridas pela concentração de endorfina mediante 
um estresse psicofísico. Para a fisiologia, exercícios vigorosos e lúdicos, 
assim como a corrida, aparecem como uma das principais responsá-
veis na promoção da substância promotora de tal prazer. 
Na proposta do programa na Unidade do Sesc São Caetano³, obje-
to de nossa pesquisa, a Ginástica Multifuncional engloba a capoeira 
e o karatê, que podem ser apontadas como atividades promotoras de 
prazer e bem-estar. 
Como exemplo de atividade lúdica, aeróbia e vigorosa, rea-
lizada no programa de GMF, podemos citar a ginga da capoei-
ra, constituída por uma sequência de movimentos nos quais o 
praticante se exercita explorando toda sua criatividade, com os 
joelhos semi-flexionados ou agachado de cócoras. 
3 O Sesc São Paulo possui 36 
Centros Culturais e Desportivos 
em todo Estado de São Paulo. 
O Sesc São Caetano foi 
inaugurado em 22 de novembro 
de 1993. São Caetano do Sul – 
segundo PNUD/2010 – é a cidade 
com melhor IDH do Brasil.
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
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Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
Setembro de 2016
Na prática de capoeira, outra atividade que destacamos por sua 
equivalência lúdica e importância é a chamada bananeira (parada de 
mãos) – quando o praticante permanece com os pés para cima, as mãos 
no chão e utiliza o próprio peso corporal como sobrecarga. Tratando-
-se de pessoas muito idosas, essa e outras posições podem ser adapta-
das até que o corpo do aluno se ajuste ao exercício solicitado. Assim, 
a Ginástica Multifuncional, aliada à prática sistemática da capoeira e 
do karatê, mostra-se eficaz no combate ao sedentarismo em suas dis-
tintas faces, ao mesmo tempo que provoca experiências e vivências lú-
dicas significativas.
Nesse sentido, Ugrinowitsch (2009) destaca a importância de tra-
balhar o corpo holisticamente, porque não prioriza as partes e sim o 
todo. Inserir a capoeira e o karatê no programa de Ginástica Multi-
funcional propicia que cada idoso possa experimentar diversas possi-
bilidades de se movimentar no espaço físico e descubra suas próprias 
potencialidades. 
Ancorado nos preceitos da educação física Silva (apud MARQUEZ FI-
LHO, 2003) ressalta que a atividade física pode servir ao homem como 
meio preventivo para alguns males provenientes do sedentarismo, por 
meio de jogos, lazer, recreação (incluímos aqui a capoeira e o karatê). 
Portanto, o treinamento de GMF proposto para o idoso no Sesc São 
Caetano, que engloba a capoeira e o karatê, quando aplicado de forma 
sistemática favorece amanutenção da saúde e da qualidade de vida.
A pesquisa
O estudo analisa as dificuldades funcionais dos idosos e pretende apontar 
soluções, por meio de estratégias eficientes, para melhoria da saúde, 
como: auxiliá-lo na recuperação da força de membros inferiores e 
aparelho locomotor; na execução de funções básicas de sentar e levantar 
de uma cadeira; ter o prazer de sentar no chão, levantar-se, entre outras 
atividades simples da vida diária, que podem ocasionar afastamento 
do convívio social, levando o indivíduo ao isolamento, ao desanimo, 
potencializando o sedentarismo.
Inserir a capoeira e o karatê no programa de Ginástica 
Multifuncional propicia que cada idoso possa experimentar 
diversas possibilidades de se movimentar no espaço físico 
e descubra suas próprias potencialidades. 
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
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Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
Setembro de 2016
Essa pesquisa segue conceitos e parâmetros da educação física a par-
tir da vivência de elementos corporais intrínsecos da gestualidade da 
Capoeira. Buscando ampliar as possibilidades de experimentação mo-
triz inserimos elementos do karatê. Para tanto, a pesquisa encontra re-
ferência no programa de Ginástica Multifuncional do Sesc São Paulo. 
Conforme Brito (2007), a capoeira, um esporte desenvolvido no Bra-
sil, referencia-se nos gestos de alguns animais: gato, camaleão, maca-
co, mula, bode, beija-flor entre outros; caracterizando-se pela forma 
de lutar pela sobrevivência desses animais em contato com a natureza. 
Ao trabalhar com o público idoso, não é difícil perceber, em alguns 
indivíduos, a dificuldade na locomoção, a falta de equilíbrio e a perda 
de força ao sentar e levantar. Contudo, ao se integrarem ao programa 
de GMF e vivenciar tarefas como a capoeira, o karatê e as múltiplas pos-
sibilidades de treinamento, em pouco tempo apresentam gestos mais 
seguros e, aparentemente, tornam-se mais confiantes. 
A partir dessas observações, intensificamos a possibilidade de uma 
proposta na área físico-esportivo, capaz de suprir déficits motores apre-
sentados pelos alunos praticantes. Porém, seria necessário encontrar 
meios de quantificar os reais benefícios do programa, pois, inserir a 
capoeira no Programa de Ginástica Multifuncional, ainda implica na 
ausência de protocolos. 
A busca por resultados nos diversos métodos de treinamento de 
força e aeróbios em variadas faixas etárias, já se encontra num estágio 
bem avançado e algumas pesquisas sinalizam para os avanços dos be-
nefícios desses métodos e programas. No entanto, aquelas que apon-
tam resultados de treinos relacionando exercícios multifuncionais, ca-
poeira, karatê e envelhecimento, ainda estão em estágio inicial. 
A Ginástica Multifuncional, a capoeira e o karatê, por sua diversi-
dade de gestos e possibilidades, contemplam treinos aeróbios, treinos 
com bases instáveis, sobrecarga com elásticos, cordas, equipamentos, 
A Ginástica Multifuncional, a capoeira e o karatê, por sua 
diversidade de gestos e possibilidades, contemplam treinos 
aeróbios, treinos com bases instáveis, sobrecarga com 
elásticos, cordas, equipamentos, coordenação, obstáculos, 
entre outros elementos. 
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
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Estudos sobre Envelhecimento
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coordenação, obstáculos, entre outros elementos. Nesse sentido, ve-
rificamos, no decorrer de três anos, os resultados desse tipo de trei-
namento em praticantes de capoeira e karatê, ancorados na Ginásti-
ca Multifuncional. 
Como ponto principal para nossas observações procuramos ana-
lisar os resultados a partir de uma ruptura com o método de muscu-
lação convencional, citado por Fleck e Kramer (2006), no qual o pra-
ticante é isolado numa máquina. 
Moreira (1984) – quando se refere à alienação humana frente às mo-
dernidades do mundo globalizado, no qual os mecanismos de usur-
pação da expressão conduzem cada ser para total passividade e inér-
cia eminente do senso crítico – salienta que a prática física realizada 
com prazer, cujo condicionamento físico balanceia-se ao psicológico, 
pode levar o praticante ao estímulo de pensamentos positivos favorá-
veis à saúde. 
Condições amplamente contempladas na Ginástica Multifuncio-
nal e em seu amplo leque de possibilidades.
1.1 Objetivos
• Analisar a autopercepção relativa à coordenação motora global e 
aos reflexos de reação, mediante ao estímulo físico.
• Sob a percepção do avaliado, mensurar a capacidade de escolhas, 
a melhora do gesto, da postura e da autoestima.
Material e Método 
O estudo pautou-se no programa de Ginástica Multifuncional 
desenvolvido pelo Sesc São Paulo, realizado na unidade do Sesc São 
Caetano, no qual avaliamos 10 alunos, oito do sexo feminino e dois do 
sexo masculino. A média de idade do grupo, 67, 2 anos; média de peso, 
63,4kg; média de altura de 1,66 metros.
Na fase de adaptação dividimos o treinamento em quatro etapas de 
10 minutos, com grau de complexidade e cargas progressivas duran-
te 30 meses. Os avaliados treinavam no horário entre 9h e 10h – com 
Moreira (1984) salienta que a prática física realizada com prazer, 
pode levar o praticante ao estímulo de pensamentos positivos 
favoráveis à saúde. 
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
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Estudos sobre Envelhecimento
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exercícios aeróbios, habilidades motoras complexas, potência, esta-
bilidade do core, equilíbrio, flexibilidade, agilidade, velocidade, força 
muscular; variáveis ou capacidades físicas intrínsecas à prática da Gi-
nástica Multifuncional bem como meditação, ginga (expressão corpo-
ral feita de improviso) capoeira e kata (simulação de luta) do karatê. 
O período de treino ocorreu de fevereiro a dezembro de cada ano, 
a partir de 2012, com os treinos prescritos, aplicados e avaliados pelo 
mesmo professor. Como parâmetro para análise e “comparação” no 
processo de avaliação, determinou-se que seriam utilizados exercícios 
de sentar e levantar da cadeira, testes de equilíbrio e de deslocamen-
tos (caminhando) com e sem obstáculos.
Adotamos como parâmetro: a relevância de dados comparativos, 
a própria percepção que o indivíduo possui de si em relação a sua au-
toimagem corporal, sua relação com o grupo e sua percepção de mun-
do; observamos sua melhora cardiorrespiratória, por meio de esforço 
vigoroso analisando os resultados mensurados pelo tempo em deslo-
camento (andar) entre bases; o sentar e levantar da cadeira; sentar e 
levantar do solo com ou sem apoio das mãos; vestir e tirar uma cami-
seta; transpassar obstáculos instáveis e estáveis; avaliando também a 
memorização e a coordenação, por meio de exercícios físicos ensina-
dos e assimilados. 
A respeito do teste de autoimagem, optamos por não utilizar o tes-
te de Steglich (1978 apud SILVA et al., 2005), já protocolado, porém ina-
dequado aos nossos objetivos sobre o grupo que pesquisamos. Da mes-
ma forma, por opção, não utilizamos os testes de Tinetti (apud SILVA et 
al., 2005). Utilizamos duas variáveis (leve/intenso) da escala de Gunnar 
Borg no processo de treinamento (apud SILVA et al., 2005).
Análise de dados 
Por meio de testes e entrevistas em vídeo, verificamos, em nosso estudo 
com 10 idosos participantes do Programa de Ginástica Multifuncional: 
o processo de aprendizagem motora, a percepção ou as sensações 
de ganho cognitivo que, nas relações sociais, podem influenciar o 
aluno em tomar decisões, melhorar a força e a mobilidade articular, 
podendo ser percebida no ato de se vestir, sentar, levantar ou vestir-
se com autonomia. 
Obtivemos os resultados por meio de imagens em vídeo e depoi-
mentos, em razão da ausência de um protocolo único, capaz de suprir 
as necessidades da pesquisa; os resultados foram representados tam-
bém por porcentagem.
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicadoao esporte
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Estudos sobre Envelhecimento
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Os números abaixo correspondem às perguntas do questionário 
realizadas a partir da transcrição das respostas dos avaliados.
1. Sentimento depressivo: inicialmente seis alunos sentiam-se an-
gustiados em certos momentos; ao final, somente dois apresentaram 
algum sinal de isolamento; 
2. Coordenação motora: 90% dos alunos atingiram o objetivo. Como 
efeito de comparação, ao estágio inicial, arquivamos as imagens do pro-
cesso de treinamento, nas quais os avaliados foram submetidos a de-
safios e ao cumprimento de tarefas de níveis de complexidade varia-
dos. Como exemplo, podemos citar o kata, uma luta imaginária com 
21 movimentos. Assim como executam os chutes e as defesas da capoei-
ra e do karatê, sabem a ginga, tocam pandeiro, berimbau e tambores; 
3. Ação e reação: partindo de uma posição em pé, com pés parale-
los simétricos, ao comando do professor, o aluno deveria avançar três 
passos, nesse movimento podemos observar a percepção ou a respos-
ta (motora) auditiva; consistiu no exercício que apresentou o menor 
resultado; em alguns casos demorando até dois segundos para a res-
posta motora, ou seja, avançar, havendo diferença positiva de 55% na 
média do grupo; 
4. Tomada de decisão: com base nos depoimentos dos entrevista-
dos, o aumento na tomada de decisão representou 90%, como forma 
de comparação verificamos a percepção e a ação frente ao desafio. O 
aluno em estado de alerta, (em pé, uma perna à frente da outra) quan-
do atacado imediatamente executava uma reação defensiva; diferen-
temente do processo inicial, quando não havia noção da região do cor-
po a ser protegida; 
5. Sensação de prazer: com base nos depoimentos, a melhora al-
cançou 100%, podendo ser medida, a partir da assiduidade nas aulas, 
da relação com os colegas e sem queixas de problemas familiares, 
doenças ou falar de morte; 
6. Estresse: segundo depoimentos o nível de estresse diminuiu 90%; 
porcentagem que corresponde à média dos alunos que reduziram a ida 
aos centros médicos. Como meio de comparação, ao ser submetido ao 
estresse de lutar com o outro essa porcentagem se confirma. Sentindo-
-se mais seguro psicologicamente; o aluno mostrou-se mais tolerante 
na relação com o outro, na aprendizagem de movimentos corporais 
novos, nos cânticos ao tocar instrumentos ou tomando a iniciativa de 
cooperar com o colega; 
7. Retenção de informação: como meio de mensurar aspectos 
positivos, citamos como referências a observação por meio de vídeo, o 
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
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Estudos sobre Envelhecimento
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desenvolvimento contínuo desse processo, o aprendizado harmonio-
so de três katares, totalizando 60 movimentos, coreografados. Defe-
sas e chutes falados na língua japonesa, alguns toques de percussão 
com quatro instrumentos – berimbau, pandeiro, agogô e atabaque; 
8. Concentração: inicialmente mostravam-se dispersos mesmo 
durante o relaxamento, no qual deveriam permanecer deitados, 
imóveis. Ao final, apenas dois não permaneciam mais de cinco mi-
nutos imóveis;
9. Velocidade: variação positiva em 60%, mensurada por meio de 
prova contra o relógio, quando o aluno deveria andar durante 20 mi-
nutos, virar e retornar; aplicamos o teste aplicado em sala de aula (iní-
cio 18 segundos; final 10,8 segundos). 
10. Equilíbrio: teste no qual o aluno deveria permanecer em pé, 
imóvel. No início, a média dos alunos foi de 10 segundos e ao final, de 
17 segundos. Houve resposta positiva de 70% no teste de senta e levan-
tar em 30 segundos. A média inicial do grupo, 12 repetições, subiu para 
17 repetições ao final da pesquisa. No teste de vestir a camiseta a mé-
dia do grupo correspondeu a 12 segundos e no teste de vestir e tirar a 
camiseta a média do grupo representou 18 segundos. 
Algumas reflexões
Com base nos dados apresentados, a pesquisa indicou que a locomoção 
humana pode ser aprimorada. Acreditamos que esses resultados 
estejam intrinsecamente correlacionados ao vasto leque de exercícios 
de caráter cognitivos/esportivos que integram o Programa de Ginástica 
Multifuncional; e pelo fato de que as fibras musculares são solicitadas 
a executar as mais distintas tarefas do sistema motor, bem como 
apropriar-se das técnicas corporais inatas do karatê/capoeira, com 
gestuais desafiadores e complexos, que podem oxigenar e potencializar 
as funções cerebrais, refletindo positivamente em todo o sistema 
orgânico do praticante.
Acreditamos que esses resultados estejam intrinsecamente 
correlacionados ao vasto leque de exercícios de caráter 
cognitivos/esportivos que integram o Programa de Ginástica 
Multifuncional
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
35b
Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
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Nesse sentido, Powers e Holey (2000) destacam que adaptações 
neurais relacionadas a aprendizado, coordenação e capacidade de re-
crutamento das fibras, possuem papel importante no ganho de força. 
Como parâmetro, em oposição ao treino em máquinas como leg press, 
utiliza-se a mesma carga nas fases excêntrica e concêntrica.
Andrade e Matsudo (2010) destacam que a potência muscular e a 
força explosiva, produzidas com treinamento isoinercial, seriam ca-
pazes de representar de forma mais adequada as adaptações na capa-
cidade funcional no envelhecimento. Nesse sentido, durante o treino 
de força muscular explosiva o treino privilegia tanto as forças concên-
tricas (quando o músculo se encurta) quanto as excêntricas (quando 
se alonga). 
Essa representa a proposta do treinamento isoinercial, pois esse 
tipo de treinamento também parece promover uma ativação neuro-
muscular que protege os músculos nas tarefas sinérgicas e complexas 
do esporte. Salientamos que em nosso estudo utilizamos estações de 
cabos e outros aparelhos que, ajustados, possibilitaram aproximação 
das cargas nas duas fases. 
Com isso, as sessões de Ginástica Multifuncional, ao explorar as di-
versas possibilidades de implementos e/ou de aparelhos distintos, mos-
tra-se eficiente no fortalecimento ósseo e muscular das pessoas idosas, 
de forma a ajustar e aprimorar os padrões de locomoção e mobilidade; 
tornando-se perceptível nas atividades da vida diária do idoso que pra-
tica a GMF: sentar e levantar da cadeira, vestir-se além de andar com 
mais controle e segurança em cada passo.
Certamente, tais mudanças vinculam-se às ações que trabalham 
o indivíduo de uma maneira integral, não priorizando tarefas, e sim 
estimulando-os a novos desafios. Nesse programa, o idoso não é visto 
como incapaz, mas como um ser em constante processo de transfor-
mação que, bem orientado, viverá bem cada fase de sua vida. 
Diante dos constantes desafios propostos no Programa de GMF do 
Sesc São Paulo, a estrutura física dos idosos poderá ser fortalecida inte-
gralmente, o que possibilita aumento da autonomia para um envelhe-
cimento ativo. Ao iniciar o programa, o idoso se verá diante de novos 
desafios e do lúdico, ao qual se associa o trabalho vigoroso, necessário 
para sua faixa etária. Noutros momentos, as capacidades físicas serão 
estimuladas por meio de exercícios complexos – ataques e defesas do 
karatê e ginga da capoeira, por exemplo. 
Nesse sentido, Sobotta (1997) ressalta que a prática de determinada 
modalidade esportiva realizada por certo período de tempo, refletirá 
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
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Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
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no corpo por meio de alterações causadas pelo aumento de substân-
cias orgânicas, como os hormônios, que aliviam as dores, e pela con-
centração de endorfina mediante um estresse psicofísico. 
Conforme Sobotta (1997), os exercícios vigorosos e lúdicos e a cor-
rida aparecem entre os principais responsáveis na promoção da subs-
tância ativadora de prazer;características similares também podem 
ser encontradas na prática da ginástica multifuncional, na capoeira 
e no karatê.
Nessa perspectiva, podemos afirmar que no Programa de Ginástica 
Multifuncional cada idoso pode experimentar diversas possibilidades 
de se movimentar no espaço físico: o treinamento proposto para o ido-
so, quando aplicado de forma sistemática, surte efeitos significativos. 
O lúdico, inserido no programa GMF, e o prazer, aliado à prática físi-
ca de escolha de cada aluno, parecem ser determinantes, influenciando 
diretamente nos resultados encontrados nesse estudo. Nesse caso, os 
resultados, correspondem à média de idade do grupo, igual a 67, 2 anos, 
cuja aluna mais jovem estava com 53 anos e a mais velha com 84 anos.
Reiteramos que a motivação inicial de nossa pesquisa consistiu em 
entender, mesmo que subjetivamente, como o idoso se percebe social-
mente e como se insere numa sociedade em constante transformação. 
Na ausência de um protocolo único que suprisse as questões de nossa 
pesquisa, optamos por organizá-la de acordo com as necessidades bá-
sicas do cidadão urbano, considerando-se os meios que conduzam o 
idoso a melhorar a qualidade de vida e que possam servir de referên-
cia para novas pesquisas. 
Artigo 2
Envelhecer com qualidade e o conceito 
multifuncional aplicado ao esporte
37b
Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
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3
Meu Museu: espaço de memórias 
compartilhadas 
[Artigo 3, páginas de 38 a 51]
38 b – Estudos sobre Envelhecimento 
Volume 27 | Número 65 | Setembro de 2016
Milene Chiovatto 
Coordenadora do Núcleo 
de Ação Educativa da 
Pinacoteca do Estado 
de São Paulo. Graduada 
em Artes Plásticas pela 
Universidade Presbiteria-
na Mackenzie, mestre em 
Ciências da Comunica-
ção – Sociologia da Arte 
pela ECA/USP. É conse-
lheira do Instituto Arte na 
Escola e coordenadora do 
Núcleo de Ação Educa-
tiva da Pinacoteca desde 
2002. 
mchiovatto@pinacoteca.
org.br 
Gabriela Aidar 
Coordenadora dos Pro-
gramas Educativos Inclu-
sivos do Núcleo de Ação 
Educativa da Pinacoteca 
do Estado de São Paulo. 
Graduada em História 
pela USP, especialista em 
Estudos de Museus de 
Arte pelo MAC/USP e em 
Museologia pelo MAE/
USP. Obteve o título de 
Master of Arts in Museum 
Studies pela Universidade 
de Leicester, na Inglaterra, 
com revalidação pelo Pro-
grama de Mestrado em 
Museologia da UNIRIO. 
É membro do Conselho de 
Administração do ICOM 
Brasil (Comitê Brasileiro 
do Conselho Internacio-
nal de Museus) 
gaidar@pinacoteca.org.br 
Aline Stivaletti 
Assistente de Coorde-
nação do Programa 
Meu Museu do Núcleo 
de Ação Educativa da 
Pinacoteca do Estado 
de São Paulo Graduada 
em Comunicação Social 
pela Unesp, com Master 
em Mediação Cultu-
ral pela Universidade 
Sorbonne Nouvelle, 
de Paris. Já atuou nos 
educativos do Centro 
Nacional de Artes 
Plásticas da França, 
do Fundo Regional de 
Arte Contemporânea 
de Paris e no Museu da 
Imagem e do Som de 
São Paulo. 
meumuseu@pinacoteca.
org.br
Artigo 3
Meu Museu: espaço de memórias compartilhadas 
40 b
Estudos sobre Envelhecimento
Volume 27 | Número 65
Setembro de 2016
abstract
This article presents the My Museum Program 
which, since 2013, has been providing services 
especially suited to the widely group of elderly 
visitors of the Pinacoteca do Estado de São 
Paulo. Besides providing educational visits 
designed for the interests and needs of these 
visitors, the program carries out partnerships 
for ongoing actions with institutions that work 
with elderly people, and also gives a training 
course for professionals which work with the 
elderly, that discusses the specific factors to be 
considered in regard to inclusive educational 
processes with this age group. Moreover, the 
program has published a mnemonic brochure 
to encourage the participation of this sort 
of visitor. In 2015, the My Museum Program 
began an outreach action, which takes the 
knowledge put together within the museum 
and expands it to an institution linked with the 
health area, selected with a view to establishing 
this dialogue. The aim is to generate an action 
outside the museum which fosters cultural 
inclusion and improved quality of life for 
the participants. Still in 2015, My Museum 
Program developed an action in partnership 
with Staff Training Program, which works with 
the Pinacoteca’s professionals, named Pina 
+60, comprising an activity for the workers’ 
relatives that were over 60 years old. 
Keywords: Accessibility, Inclusion, Education, 
Museums, Elderly People.
Resumo 
O artigo apresenta o Programa Meu Museu do 
Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Es-
tado de São Paulo, atua desde 2013 no atendi-
mento especializado ao público idoso, em sua 
ampla variedade. Além de visitas educativas 
modeladas para interesses e demandas des-
te público, o programa desenvolve parcerias 
para ações continuadas com instituições vol-
tadas a este público, curso de formação desti-
nado a profissionais que atuam com idosos, 
que discute as especificidades dos processos 
educativos inclusivos com esta faixa etária, 
e

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