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1 2 Alipio Rodrigues Pines Junior Tiago Aquino da Costa e Silva (organizadores) O FENÔMENO DO BRINCAR: CIÊNCIA E IMAGINAÇÃO Coletânea de textos e trabalhos do 1º Congresso Internacional de Brincadeiras e Jogos 3 4 2019, Editora Supimpa brincadeiraseducativas@gmail.com Facebook e Instagram: Brincadeiras e Jogos São Paulo – SP – Brasil O conteúdo dessa obra é de responsabilidade dos autores, proprietários dos direitos autorais. Proibida a venda e reprodução parcial ou total sem autorização. DIREÇÃO Tiago Aquino da Costa e Silva (Paçoca) e Alipio Rodrigues Pines Junior 5 6 COMISSÕES DIREÇÃO Prof. Me. Alipio Rodrigues Pines Junior (GIEL/USP/CNPq e LAB- BRINCAR) Prof. Ma. Liana Cristina Pinto Tubelo (LAB-BRINCAR) Prof. Esp. Tiago Aquino da Costa e Silva (LEL/DEF/IB/UNESP Rio Claro – SP). Prof. Esp. Rayane Monique Faria (LAB-BRINCAR) Prof. Esp. Mário Luis Biffi Pozzi (LAB-BRINCAR) Prof. Esp. Cristiano dos Santos Araujo (LAB-BRINCAR) COMISSÃO CIENTÍFICA Prof. Me. Alipio Rodrigues Pines Junior (GIEL/USP/CNPq e LAB- BRINCAR) Prof. Me. Cleber Mena Leão Junior (UNESPAR) Profa. Dra. Giselle Helena Tavares (FAEFI-UFU e LEL/UNESP Rio Claro) Profa. Ma. Liana Cristina Pinto Tubelo (LAB-BRINCAR) Profa. Dra. Roselene Crepaldi (GIEL/USP/CNPq) COMISSÃO AVALIADORA Prof. Me. Alipio Rodrigues Pines Junior (GIEL/USP/CNPq e LAB- BRINCAR) Profa. Barbara Celestino Barbosa Schwartz (UNIFESP) Prof. Bruno Barbosa Schwartz (UNIFESP) 7 Prof. Esp. Bruno Rossetto de Góis (LAB-BRINCAR) Profa. Ma. Livia Cristina Toneto (Centro Universitário SENAC) Prof. Esp. Marcos Antonio Neves da Silva (UNINOVE) Profa. Esp. Marilia Camargo da Silva Araujo (LAB-BRINCAR) Profa. Esp. Michela das Graças Resende Ribeiro (UEMG e LAB- BRINCAR) Prof. Esp. Paulo Sergio Armelin (Unifamma) Profa. Dra. Roselene Crepaldi (GIEL/USP/CNPq) Prof. Esp. Victor Cesar Shing (LAB-BRINCAR) Prof. Esp. Virgilio Abrahão Junior (UNIAN ABC e GRU) 8 9 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 24 PROGRAMAÇÃO DO EVENTO 26 PALESTRAS E OFICINAS 28 O CÉREBRO GOSTA DE BRINCAR Liana Cristina Pinto Tubelo 29 BRINCADEIRAS E JOGOS NO SÉCULO XXI Tiago Aquino da Costa e Silva (Paçoca) 45 BRINCADEIRAS E NATUREZA Giselle Frufrek 52 BRINCADEIRAS, DANÇA E FOLCLORE Allan Kardec Sousa Torres 57 BRINCADEIRAS GERACIONAIS Volney Paulo Guaranha 63 BRINCADEIRAS E JOGOS DO MUNDO TODO Alipio Rodrigues Pines Junior e Mérie Hellen Gomes de Araujo da Costa e Silva 66 10 BRINCADEIRAS, RITMO E MOVIMENTO Marilia Cristina da Costa e Silva e Marilia Camargo da Silva Araujo 68 JOGOS COOPERATIVOS – JOGANDO EM BUSCA DA PAZ Cristiano dos Santos Araújo 73 RESUMOS 77 ÁREA TEMÁTICA BRINCADEIRAS, JOGOS E TECNOLOGIA 78 JOGOS E BRINCADEIRAS CONTEMPORÂNEAS: UMA NOVA CONFIGURAÇÃO DO BRINCAR NO SÉCULO XXI Cleber Mena Leão Junior 79 BRINCADEIRAS, JOGOS COLETIVOS, ESPORTE E TECNOLOGIA: RELATO PRELIMINAR DE EXPERIÊNCIAS Felipe Teodoro Rodrigues, Leonardo Souza Santana 81 ÁREA TEMÁTICA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO EDUCADOR 83 11 OFICINA DE JOGOS DE TABULEIRO NA EDUCAÇÃO: POSSÍVEL RELEVÂNCIA AOS GRADUANDOS DE PEDAGOGIA Arnaldo V. Carvalho 84 COACHING DE LAZER: POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Volney Paulo Guaranha 86 BRINQUEDOTECA: PERCEPÇÃO DE PROFESSORES DURANTE OBSERVAÇÃO DO COMPORTAMENTO LÚDICO Giselle Frufrek, Tiago Aquino da Costa e Silva, Cristiano dos Santos Araújo, Roselene Crepaldi, Liana Cristina Pinto Tubelo 88 O ESPAÇO DO MOVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL Shelly Blecher Rabinovich 90 LÚDICO/LUDICIDADE E O ENSINO DE HISTÓRIA/GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS: ENCONTRO FORMATIVO NO PNAIC – ALGUMAS REFLEXÕES Daniele Gomes da Silva, Jonathan Fernandes de Aguiar, Elaine Constant 92 TEORIA E PRÁTICA DA EDUCAÇÃO: O DESAFIO DO EDUCADOR SE MANTER COERENTE EM SUAS PRÁTICAS DIÁRIAS Rebeka de Abreu Anbinder 94 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83372 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83372 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83372 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83607 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83607 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83625 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83625 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83625 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84059 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84059 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84059 12 FESTIVAL COMUNIDADE LÚDICA: LAZER NA FORMAÇÃO INICIAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA Mariana Ferreira dos Santos, Andresa de Souza Ugaya 96 A RELEVÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PROPOSTA DE REFLEXÃO HOLÍSTICA NAS ÁREAS DE PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Adriana Andrade Liandro, Aira Casagrande de Oliveira Calore, Leticia Souto Pazeto, Renato Santos da Silva 98 A LUDICIDADE NA DISCUSSÃO DE GARANTIA DE DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Maria do Carmo Monteiro Kobayashi, Janaina de Oliveira Macena 100 ÁREA TEMÁTICA O BRINCAR EM DIFERENTES ESPAÇOS 102 A PSICOPEDAGOGIA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: QUE JOGO É ESSE? Glauciê Gleyds Nunes, Cristiane Vallecilo de Souza 103 TEM NATUREZA NO PÁTIO DA ESCOLA? TEM SIM SENHOR! Luciana Queiroz Rodrigues Moreira 105 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84139 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84139 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84139 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84195 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84195 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83577 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83577 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83649 13 O BRINQUEDO COMO OBJETO HISTÓRICO DA SOCIEDADE Camila Teixeira Costa 107 SENTIDOS DO BRINCAR: A IMPORTÂNCIA DA INTEGRAÇÃO SENSORIAL NO ATENDIMENTO TERAPÊUTICO OCUPACIONAL Jaqueline Germana da Silva Mourão 109 O BRINCAR NOS FAZ IGUAIS Dafne Herrero 111 BRINCADEIRAS E BRINQUEDOTECA: AGENTES POTENCIALIZADORES DE HABILIDADES NA EDUCAÇÃO INFANTIL Sara Soares Aragão Guerra, Fernanda Guidi Fabris 113 VOU LEVAR O BALAIO DE IAIÁ! Andresa de Souza Ugaya 115 A DISSEMINAÇÃO DA CULTURA POPULAR BRASILEIRA ATRAVÉS DA DANÇA FOLCLÓRICA Lorena de Souza do Carmo, Andresa de Souza Ugaya 117 O BRINCAR NO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULO (SCFV): BREVES APROXIMAÇÕES LÚDICAS Luiz Fernando Guse, Tiago Aquino da Costa e Silva 119 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83969 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84112 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84112 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84112 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84132 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84157 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84157 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84157 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84166 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84192 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84192 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84679 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84679 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84679 14 ÁREA TEMÁTICA O BRINCAR, A ESCOLA A E APRENDIZAGEM 121 ESTÍMULOS PSICOMOTORES NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR POR MEIO DE BRINCADEIRAS E JOGOS COMO PREVENÇÃO DE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Daniel Simões Rebello 122 BRINCAR E JOGAR EM MEIO AO TIROTEIO: OFICINAS LÚDICAS EM ESCOLAS DA FAVELA DA MARÉ Jonathan Fernandes de Aguiar 124 MENINO EM MOVIMENTO: QUE CAMINHOS PODEMOS TRILHAR NA ESCOLA REGULAR RUMO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA? Cristiane Vallecilo de Souza 126 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM X ESTÍMULOS PSICOMOTORES Jéssica Macedo Pereira 128 BRINCANDO E APRENDENDO NO UNIVERSO DAS INTELIGÊNCIAS GilmarCaramurú de Sousa 130 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83100 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83100 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83100 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83442 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83442 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83576 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83576 https://doity.com.br/admin/artigos/view/83576 15 EXERGAMES NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Gabrielle Souza, Jane Aparecida de Oliveira Silva 132 COORDENAÇÃO ÓCULO MANUAL E PSICOMOTRICIDADE: INFLUÊNCIA NA ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO EM CRIANÇAS COM IDADE ENTRE 7 E 8 ANOS Luana da Silva Bueno, Jane Aparecida de Oliveira Silva 133 PROGRAMA SISTEMATIZADO DE INTERVENÇÃO PSICOMOTORA: ABORDAGEM FUNCIONAL Luzia Ivone Ricardo do Nascimento, Sônia das Dores Rodrigues, Sylvia Maria Ciasca 135 INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NA INCLUSÃO ESCOLAR Beatriz Campello, Jaqueline Germana da Silva Mourão 137 RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, LUDICIDADE E PSICOMOTRICIDADE COMO PROPOSTA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Aira Casagrande de Oliveira Calore, Beatriz de Carvalho Gonçalves, Rosa Cristina Mendes da Silva 138 O XADREZ E SUA INFLUÊNCIA NO PROCESSO DE ENSINO APREDIZAGEM NOS CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS DO IFRN – CAMPUS NATAL–CIDADE ALTA 140 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84140 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84140 https://doity.com.br/admin/artigos/view/84140 16 Carla Virginia Paulino da Silva, Kadydja Karla Nascimento Chagas EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: A EXPERIÊNCIA DO CORPO NO JOGO Marília Cristina da Costa e Silva, Fernanda Ferfila Minnone 142 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR ORIENTADO NA CRIANÇA COM SURDEZ Silvia Costa Andreossi 143 BRINCANDO COM AS PALAVRAS: A ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO NOS ANOS INICIAIS ALIADO ÀS BRINCADEIRAS E JOGOS Joselita Alves Costa Maurício, Rayza Miranda dos Santos 145 VAMOS BRINCAR DE TEATRO? A REPRESENTAÇÃO DA LENDA DO BOI BUMBÁ NA EDUCAÇÃO INFANTIL Rayza Miranda dos Santos, Joselita Alves Costa Maurício 147 JOGOS E BRINCADEIRAS E SEU PAPEL NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Maria de Lourdes de Moraes Pezzuol, Fernanda Ubaldo Milani Urbano 148 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E JOGOS COOPERATIVOS Fabricio Monteiro 151 17 AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA MEDIADA PELA TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: JOGOS E BRINCADEIRAS COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO Joseildo Constantino dos Santos 153 EDUCAÇÃO FÍSICA E O BRINCAR: A COMUNIDADE E AS BRINCADEIRAS TRADICIONAIS Roberto Cabral dos Santos, Alexssandro Silva Matheus 155 O BRINCAR E A CRIATIVIDADE NAS ATIVIDADES DE AVENTURA Fernanda Herran Fernandes, Thiago Barbosa da Silva, Giuliano Gomes de Assis Pimentel 157 AS CONTRIBUIÇÕES DOS JOGOS E BRINCADEIRAS NA DOCÊNCIA SUPERIOR Andrea Silva Frangakis Tanil 159 EXPERIÊNCIAS EM BRINCADEIRAS CANTADAS PARA CRIANÇAS PEQUENAS: RELATOS DE EXPERIÊNCIAS EM TRÊS ESCOLAS DO BRASIL Kelly Veroni Siqueira e Silva, Rodrigo Lucas da Silva, Taisa Gargantini Pace, Cristiano dos Santos Araújo, Tiago Aquino da Costa e Silva 161 O BRINCAR E A IMAGINAÇÃO: UM RECURSO MOTIVACIONAL NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA COM CRIANÇAS DE DOIS A CINCO ANOS DE IDADE 163 18 Cristiano dos Santos Araújo, Roselene Crepaldi, Liana Cristina Pinto Tubelo, Giselle Frufrek, Tiago Aquino da Costa e Silva ÁREA TEMÁTICA PRÁTICAS EM BRINCADEIRAS E JOGOS 165 LEGO® SERIOUS PLAY® UMA ABORDAGEM PODEROSA Sergio Ricardo do Nascimento 166 JOGO DIDÁTICO: BINGO GEOGRÁFICO COMO RECURSO DIDÁTICO PARA O ENSINO DA GEOGRAFIA: ESPAÇO RURAL E URBANO Nathalia Sena Cerqueira, Raquel Carvalho 168 QUEIMADA-VÔLEI Jane Aparecida de Oliveira Silva, Mariana de Cássia Silva, Weslley Frick Mesquita Possari, Patrick de Oliveira Palma 170 LAZER E SOCIEDADE: CONTEXTUALIZAÇÃO DO LAZER DA PRÉ- INDUSTRIALIZAÇÃO À PÓS MODERNIDADE Kellyane Camilo dos Santos, Joseane dos Santos Lino, Marta Mariane Ferreira Gomes de Souza, Antônio Marcelino Barbosa 171 19 A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS E BRINCADEIRAS EM CONTEXTOS INCLUSIVOS Carlos Eduardo Sampaio Verdiani, Paulo Sérgio Gomes, Vera Lucia Messias Fialho Capellini, Raquel Luciane Calobrizzi Carrozza 172 UM RESGATE DA ANCESTRALIDADE DOS JOGOS, BRINCADEIRAS E CANTIGAS TRADICIONAIS ATRAVÉS DOS CORPOS EM CANAAN. Francisco José Santos da Silva, Celio Alves Ribeiro, Francisco das Chagas da Conceição, Nazareno Montenegro Teixeira, Mairton Câmara Rodrigues 174 A ARTE DE REABILITAR PELO TEATRO Michelle Ferrúcio, Neide Alves, Jaqueline Germana da Silva Mourão 176 BRINCADEIRAS DE ONTEM E CRIANÇAS DE HOJE: UTILIZAÇÃO DE BRINCADEIRAS ANTIGAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Rafael de Souza Vieira 178 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES, A PARTIR DO OLHAR DE UMA GESTORA DE ESPORTE E LAZER Anna Paula da Silva, Carla Virginia Paulino da Silva, Kellyane Camilo dos Santos 180 20 JOGOS E BRINCADEIRAS COMO FACILITADORES DO VÍNCULO E DO APRENDIZADO: OBSERVAÇÕES CLÍNICAS Fernanda do Carmo Egidio Cardoso, Karime Filomena Galane Manoel 182 BRINCADEIRA VERSUS JOGO NA ÓTICA DA FISIOLOGIA E DO COMPORTAMENTO. Sara Vieira, Fabrício Madureira, Caroline Siriaco, Aurea Mineiro, Carla Nogueira 184 INTENSIDADE DE ENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS FRENTE A DIFERENTES ESTRATÉGIAS DE JOGO Mônica Morcélli, Fabricio Madureira, Ivanildo Alves, Norma Yakabi, Aurea Mineiro 186 BRINQUEDO, O JOGO E A PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA ESCOLA Marcelle Santos dos Reis, Adenilson Mariotti Mattos, Wallace Silva Souza, Flamarion Ribeiro de Souza, Janis José Almeida Paixão 188 A CONFECÇÃO DE MATERIAIS ALTERNATIVOS: DESCONSTRUINDO A REAÇÃO ESTEREOTIPADA PROVOCADA PELAS PRÁTICAS DE MODALIDADES INSTITUCIONALIZADAS Francislene de Sylos 190 21 JOGOS TRADICIONAIS E A CULTURA LÚDICA DA CRIANÇA: ELES NÃO VÃO DESAPARECER Tiago Aquino da Costa e Silva, Bruno Rossetto de Góis, Tiago Rodrigo Alves Nunes, Virgilio Abrahão Junior, Joel Pereira de Oliveira Filho 192 MENÇOES HONROSAS 194 22 23 24 APRESENTAÇÃO A ciência é um fenômeno dinâmico, sujeito a interferências das características da sociedade a qual está inserida. Em tempo atrás acreditava-se que a Terra era plana, até Copérnico comprovar sua teoria heliocêntrica do Sistema Solar. Esse é somente um exemplo da evolução científica, que é capaz de quebrar antigos paradigmas e instituir novos. E como isso se aplica em uma área como as brincadeiras e jogos? Por ser intrinsecamente ligada à cultura, esses fenômenos são multidimensionais, ou seja, pode ser visto por diversos prismas científicos: ciências biológicas, da saúde, exatas e da terra, humanas, sociais aplicadas, engenharias, linguística, letras e artes. Todas elas nos dão valiosas contribuições para melhor compreender a importância do brincar na sociedade contemporânea. Diante das transformações sociais ocorridas no Século XXI e pensando na importância do brincar na sociedade, surge o 1º Congresso Internacional de Brincadeiras e Jogos. O tema dessa edição, “O fenômeno do brincar: ciência e imaginação”, contempla a magnitude do brincar, o qual é fundamental para o desenvolvimento humano, em suas distintas fases da vida, nas mais diversas sociedades. Neste congresso reunimos palestrantes e oficineiros que abordam o fenômeno do brincar nas mais diversas óticas: desde a neurociência até a tecnologia humana, com abordagens teóricas e práticas. O foco é compreender, nas mais diferentes manifestações, que o brincar é importante para o ser humano. Agradecemos imensamente aos nossos parceiros do evento: Colégio Magno (que abriu suas portar para sediar o congresso), Kids 25 Move Consultoria, Associação Brasileira de Recreadores (ABRE) e Guia Escolas.Neste documento reunimos textos bases das palestras e oficinas, assim como os resumos dos trabalhos que foram aprovados pela Comissão Científica do congresso. Assim, convidamos a todos a refletir conosco e vislumbrar as mais distintas possibilidades que o brincar nos propicia! Os organizadores 26 PROGRAMAÇÃO DO EVENTO HORÁRIO ATIVIDADE 08:00 Credenciamento 09:00 Palestra O cérebro gosta de brincar – Liana Tubelo 10:20 Palestra O enigma psicomotor do jogo: o seu papel no neurodesenvolvimento da criança – Vitor da Fonseca 12:00 Oficinas da Manhã Brincadeiras e Natureza – Giselle Frufrek Brincadeiras e Jogos Cooperativos – Cristiano dos Santos Araujo Brincadeiras, Dança e Folclore – Allan Kardec Sousa Torres Brincadeiras Cantadas – Rodrigo Lucas 14:30 Sessão Científica 15:30 Palestra Aprender em Comunidade – José Pacheco 27 16:50 Oficinas da Tarde Brincadeiras Geracionais – Volney Paulo Guaranha Brincadeiras e Jogos do Mundo Todo – Alipio Pines Junior e Mérie Hellen G. de Araujo da Costa e Silva Jogos e RPG – Victor Cesar Shing Brincadeiras, Movimento e Ritmo – Marilia Costa e Marília Camargo da S. Araujo 18:10 Painel Temático Brincadeiras e Jogos no Século XXI – Tiago Aquino (Paçoca) Biologia da Infância – Mário Pozzi Espaços do Brincar nas Cidades – Roselene Crepaldi 19:10 Palestra de Encerramento Futuro, Jogos e Brincadeiras: Tecnologia Humana – Wellington Nogueira 20:30 Encerramento do Evento 28 29 O CÉREBRO GOSTA DE BRINCAR Liana Cristina Pinto Tubelo O brincar é fenômeno de aprendizagem e desenvolvimento humano, já dizia Lev S. Vygotsky. Então, já confirmado por evidências neurocientíficas, como um modo de apreender as informações do mundo, das pessoas e aprender através da experiência lúdica; o brincar em suas diferentes dimensões leva a sensação do vivido e experimentado ao cérebro que, recebe, processa, percebe, analisa, responde/ executa devolvendo ao meio em forma de ação repleta de imaginário e do simbólico. O cérebro infantil, é uma caixa ou casca (córtex) ainda a se explorar, um desenvolvimento inicial rico em peculiaridades e mecanismos contrários ao do cérebro adulto. Um ser em construção, que nos parece não saber nada, sem considerarmos a bagagem ancestral e genética que o mesmo já traz consigo, tendo no movimento do brincar sua ferramenta principal de interação com seu próprio corpo (desde o período intrauterino), com sua mãe (primeiro Ego da criança), com os objetos (significado das coisas) e com o meio onde se relaciona (compreensão de ser e estar no mundo). Ao sair do útero materno, este sujeito frágil aumenta seu campo de experiências e demonstra-se voraz em suas investidas, pois que necessita sobreviver e aprender rapidamente como se relacionar e buscar subsistência que, no momento infantil inicial, se encontra na mãe. Sua nutrição, cuidados básicos de higiene e calor, comunicação e afeto dependem do ser que lhe carregou por nove meses e lhe ofereceu as primeiras sensações, emoções, alimento. Uma relação íntima e 30 visceral que Edward Hall, antropólogo americano chamou de proxemia primeira, o útero se configura o primeiro espaço íntimo de relação do bebê. Nele a mãe oferece já a sensação do êxtase presente na brincadeira, a diversão na entonação da voz que canta para o bebê, que lhe apresenta o pai e demais familiares através do toque e da fala divertida. Sim, ninguém fala com o bebê no ventre materno de forma séria e fechada, salvo estejam presentes a rejeição e o descaso com a gravidez. E nesse cirandar das relações do bebê, seu cérebro vai se moldando, redes neurais vão se construindo (Fig.1), dois anos iniciais de muita exuberância sináptica (comunicação entre neurônios), com grande conexão dendrítica (via de comunicação neuronal) e elaboração de uma rede de atividade reserva que é chamada atualmente pelos neurocientistas de default mode network (DMN), responsável por atividades mentais, executivas e cognitivas durante o período de descanso humano (BUCKNER. et al, 2008). Estudar como funciona a DMN é o grande “boom” neurocientífico atual, no intuito de entender os processos que acontecem em dependência de estímulos externos, como a evocação de memórias antigas, planejamento futuro, imaginar e “sonhar acordado”, a introspecção e os insights etc. O bebê ainda no útero materno sonha, então que imagens ele recebe? É possível ver o bebê sorrindo nos exames ecográficos, sentindo prazer ou alegria, estar em “estado de felicidade” o que denota atividade dopaminérgica. Os centros dopaminérgicos são encarregados da produção, armazenamento e liberação da dopamina, um neurotransmissor essencial para a constituição dos processos funcionais da atenção, do aprendizado e das praxias, da cognição e comportamentos motivados, dos estados de humor, da regulação do sono e recompensa emocional, entre outros. É o sistema do prazer e recompensa do cérebro humano, por isso está intimamente relacionado ao fenômeno do brincar infantil. 31 O brincar causa prazer, estado atencional elevado e mecanismos de memória e aprendizagens relacionados a aquisições de informações por vias motoras e sensitivas da criança. Anatomicamente falando, o desenvolvimento maturacional dos órgãos cerebrais infantis acontecem do occipital (nuca) em direção ao frontal (testa), ou seja, de trás pra frente (Fig.2) e transversalmente do hemisfério direito para o hemisfério esquerdo (SIEGEL; TYSON, 2015), tendo um cerebelo fisiologicamente bem pequeno, o que justifica a falta de tônus e equilíbrio dos primeiros 24 meses de vida extrauterina do bebê. Fig. 1 Redes sinápticas e dendríticas em formação a cada período sensível de desenvolvimento neural. 32 Fig. 2 Desenvolvimento neurofisiológico do cérebro infantil. Imagem: https://www.picruby.com/media/Bqa_v ZBAL4I (adaptado por Tubelo, 2018) Essa organização maturacional de início, também justifica a forma de percepção infantil tão diferente do adulto, uma vez que o hemisfério direito da criança é o mais desenvolvido e é através dessa orientação que sente, percebe e pensa o mundo, num olhar mais sensorial e plástico que na fase adulta, norteado pelo centro sensoriomotor localizado no topo do cérebro. A relação que a criança estabelece com as coisas e pessoas perpassa os sentidos do tato, do gosto, do olfato, da audição, por último da visão (num sentido neurodesenvolvimental). E mesmo quando a criança nasce com algum tipo de deficiência, ela possui uma capacidade comum somente à infância, que o neurocientista brasileiro Roberto Lent (2011), denomina em seus livros e pesquisas de “neuroplasticidade transmodal”, tendo o fenômeno de interligar os sentidos e compensá-los de uma forma facilitada, na ausência de algum deles. Mesmo quando a criança nasce nos padrões 33 da normalidade, vem ocorrendo um número crescente de crianças sinestésicas, Ramachandran (2014) neurocientista indiano, refere que sinestesia é a capacidade de sentir o gosto do som, ou ver cores ao ouvir música, ou enxergar cores para cada número indo-arábico, ou seja, um distúrbio de comunicação acentuada entre dois ou mais sentidos. Por isso, um ambiente muito colorido atrapalha, confunde a criança, sendo que ela percebe as cores como um código de comunicação ou linguagem. Assim, a percepção da criança, que parte do sensorial para o motor, que compreende primeiramente os objetos por sua tridimensão, peso, cor, comprimento, textura; que elabora simbolicamente a partir do movimento exploratóriodos objetos, do ambiente e da relação com seus iguais e adultos, necessita de um diálogo ou apresentação do universo adulto mediante a forma de sentir/aprender da própria criança. O movimento de aprendizagem e percepção do adulto se constitui pela via inversa a da criança, uma vez que as crianças são altamente cinestésicas (movimento) e os adultos, em sua maioria, visuais. Pelo ato de brincar a criança constrói vínculo, explora, elabora hipóteses, testa e descobre as respostas aos desafios que lhe são apresentados naturalmente ou em um ambiente planejado pelo adulto. Quando está em meio à natureza, a criança já possui todos os recursos que necessita ao seu alcance para brincar com galhos, terra, pedras, folhas, água, seu próprio corpo e de outras crianças. Entretanto quando ela se encontra em ambientes construídos pelo homem, este deve ser pensado pela ótica da criança, entendendo que, através da brincadeira a criança desenvolve suas funções motoras e psicológicas superiores (atenção, percepções, memória, pensamento e linguagem) e que o ambiente deve oferecer móveis e instrumentos adaptados para ela. O cérebro humano adora uma novidade, por isso, para que espinhas dendríticas se multipliquem nos terminais dos neurônios 34 motores e sensitivos, são necessários novos caminhos de experiências, então mesmo que a criança brinque com o mesmo objeto, ela vai ressignificando o uso do mesmo toda vez que brinca, criando novas possibilidades para este, descobrindo novos conceitos. A criança constrói rotinas em tudo, com rituais próprios e isso não a impede de elaborar novos começos para suas brincadeiras. Desse modo, ela vai fixando memórias daquilo que já sabe e dialogando com as novidades que cria, construindo novas aprendizagens. Cada experiência vivida vai imprimindo marcas no nosso cérebro (na região do hipocampo - centro da memória), que são chamadas de “engramas” - os traços causados por mudanças bioquímicas e biofísicas no tecido cerebral do diencéfalo, região límbica que armazena memória e controla as emoções, entre outras funções ligadas ao comportamento humano e à organização das funções orgânicas corporais. Os mecanismos neuropsicológicos do brincar perpassam o Sistema de Neurônios- espelho (MNS), pois que estão presentes no comportamento lúdico da imitação, empatia e teoria da mente (colocar- se no lugar do outro), características relacionais observadas em pesquisas com crianças e adultos, realizadas pelo neurocientista italiano Giácomo Rizzolatti e colegas. O MNS se encontra em inúmeras áreas do córtex frontoparietal (giro frontal inferior e córtex pré-motor), incluindo a área de Broca (área responsável pela fala e compreensão simpráxica1), também a região anterior da ínsula (RIZZOLATTI; CRAIGHERO, 2004). O MNS contribui na constituição de um senso de self (noção de si mesmo) para a criança, de ajuste cognitivo e de consciência de suas próprias experiências, configurando um terço de todo o cérebro 1 Entonação de voz e gestos expressivos que comunicam algo (LURIA, 1973). 35 infantil até os três anos de idade. Ao pinçar, por exemplo, a criança ativa 81% dos neurônios-espelho, quando a criança utiliza suas mãos e dedos na manipulação ou em três dedos para pegar um objeto e transportá-lo ou manuseá-lo de forma investigativa, também está ativando (RIZZOLATTI; FOGASSI, 2014). A criança demonstra, em seus primeiros anos de vida, uma necessidade primaz em sentir o peso das coisas, inteligência intuitiva que se explica por uma questão quase fisiológica de perceber seu corpo, seu peso em relação aos objetos e as coisas do mundo externo, o que chamamos de barognosia (percepção do peso), uma das noções mais importantes para a conquista da independência e autonomia, uma vez que esta percepção implica no controle de tônus motor, equilíbrio estático e dinâmico. “O peso é uma abstração porque ele não existe em si, mas somente nos objetos pesados”. O material sensorial que a criança pega para explorar e brincar é, neste ponto de vista como que uma “abstração materializada” (MONTESSORI, 2017, p. 170). Outro princípio importante dentro das percepções e aprendizagens motoras, que acontecem através do brincar infantil, diz respeito à topognosia, a percepção de comprimento, onde o movimento de experimentação sensorial dos objetos em relação ao seu próprio corpo, vão imprimindo aos músculos e seu tônus (propriocepção), uma mneme (memória) inconsciente de comparações e combinações de grandezas (MONTESSORI, 2017). É a matemática e seus conceitos presentes no brincar e nas experiências das crianças, por isso, é sempre aconselhável que a criança possa ter acesso a materiais naturais e menos a materiais de plástico, sem peso, uma vez que pode retardar a aprendizagem de noções importantes para a aquisição de conhecimentos básicos da criança. Esses conhecimentos se relacionam profundamente com as conquistas já citadas de autonomia 36 e independência, bem como fundamentos para a alfabetização global do aprendente. Associada a esses dois princípios descritos como fundamentais para a aprendizagem da criança, se encontra a estereognosia, a habilidade de reconhecer através da sensibilidade tátil, contorno e forma dos objetos, das pressões e sensibilidade profunda (muscular, tendinosa e articular). O refinamento dessa habilidade leva a uma mneme inconsciente resultando em memória permanente, de longo prazo. A estimulação tátil aciona várias regiões do córtex visual, dessa forma, pelo desenvolvimento da acuidade tátil a plasticidade transmodal processa informações de outros sentidos como, audição, tato e visão (LENT, 2011; RAMACHANDRAN, 2014). Assim, além de serem princípios sensoriais de aprendizagem importante para a aquisição de habilidades para a própria sobrevivência da criança, enquanto uma etapa do desenvolvimento humano, essas três formas de percepção configuram-se como essenciais no processo de alfabetização formal futura, colaborando com os três princípios alfabetizadores da escrita, leitura e matemática, no currículo formal escolar, são eles: a criança reconhece a tridimensão dos objetos por uma percepção filogenética das imagens. Seu cérebro é constituído de uma região bilateral que Stanislas Dehaene (2011) chamou de “letterbox” (caixas de imagem) ou “visual word form área”, à região do giro fusiforme nos hemisférios direito e esquerdo do cérebro, correspondente à área 37 de Brodmann. E, devido à sua função primordial no reconhecimento visual de imagens, Dehaene descreve em sua teoria que, para a aprendizagem dos códigos gráficos chamados de letras, o cérebro passa por um grande esforço de reciclagem neuronal, transformando a capacidade da “letterbox” do hemisfério esquerdo de reconhecer imagens, para a capacidade de reconhecer caracteres gráficos. 37 Dessa forma, a criança necessita dos objetos primariamente, para compreender as coisas em um mundo do concreto e, aos poucos, a partir das experiências, ela irá representar os objetos por imagens bidimensionais no plano do papel; o adulto educador tem a missão de realizar a apresentação respeitando essa hierarquia. Nosso cérebro, filogeneticamente tem a capacidade de reconhecer objetos, rostos, fisionomias conhecidas dentro de um padrão de memória ancestral, por isso reconhecemos alguns animais como perigosos, como o caso das serpentes, na nossa cultura ocidental, uma vez que os nossos antecessores neste lado da Terra, tinham já medo de cobras. No oriente isso já não acontece, sendo alguns desses répteis tratados como animais de estimação. Então temos um dos princípios alfabetizadores estabelecidos: apresentar o conhecimento das coisas do tridimensional para o bidimensional. Alguns métodos educacionais que desenvolvem a aprendizagem da criança através dos sentidos, como o Montessori, respeitamo modo como o cérebro da criança se desenvolve e percebe as coisas, trazendo outro princípio alfabetizador pertinente à compreensão da criança: apresentar o mundo da informação do macrocosmos para o microcosmos, ou seja, quanto mais jovem a criança, maior deverá ser os objetos e em pouquíssima quantidade. Exemplificando, um cesto com brinquedos para bebês até 2,5 anos deve conter no máximo 3 objetos (cesto dos tesouros), podendo conter imagens reais de cada objeto para que a criança realize pareamento, além de brincar com o material. Lembre-se que no início de seu desenvolvimento da noção de corpo ou esquema corporal, o bebê percebe sua cabeça e tudo é grande para ela. Quando começa a rabiscar no papel, desenha cabeças enormes, aos poucos vai reduzindo o tamanho de suas representações ao observar o mundo e as pessoas que lhe são referência. Outra curiosidade que as crianças 38 apresentam é com animais grandes como os dinossauros, adoram perguntar sobre esses grandes répteis pré-históricos, assim como querem saber sobre o planeta Terra e o Universo, onde ela, a criança está situada dentro do planeta? Esta é uma das perguntas recebo das crianças das escolas de educação infantil. O terceiro princípio alfabetizador refere-se ao sentido da escrita e leitura no nosso hemisfério ocidental do planeta. A leitura que realizamos de nossos textos acontece da esquerda para a direita e de cima para baixo, certo? Pois é, se você observar como a maior parte das línguas orientais são escritas e lidas, se configuram exatamente ao contrário (veja a escrita/ leitura originais das línguas japonesa, coreana, chinesa, árabe, siríaco, mandeia, thaana, entre outras). O processo de leitura da esquerda para direita, é arbitrário ao modo natural de desenvolvimento do cérebro da criança, ou seja, o movimento natural para ela, seria ler da direita para a esquerda e de baixo para cima. Emília Ferreiro já descrevia esse fenômeno, juntamente com Ana Teberosky em seu livro célebre “Psicogênese da língua escrita”. Por isso, a criança necessita de exercícios intencionais diários realizando o movimento da esquerda para a direita, com intuito de automatizar desde tenra idade, através da vida prática, dos materiais lúdicos preparados para ela. Um exemplo, é preparar um material de vida prática onde a criança terá o desafio de transpor objetos com uma pinça de um pote que se encontra à sua esquerda, para o pote da sua direita; outro exemplo, transpor água de uma garrafa que está servida à esquerda da criança para o copo que está à sua direita, dentro de uma bandeja de borda alta para dar limite concreto do exercício. Toda vez que um adulto ler um livro para a criança, deve passar seu dedo abaixo das frases durante a leitura verbal, dessa forma a criança vai apreendendo o sentido e modo de ler da nossa língua ocidental. Assim, é relevante entender que o esforço da criança para 39 aprender a ler é imenso e vai de encontro ao seu processo natural. Por isso, usar instrumentos que explorem o sentido tátil e proprioceptores para construção de uma memória permanente, como por exemplo, caixa de areia para desenhar e realizar suas hipóteses de escrita sensorialmente, é de extrema importância no processo da alfabetização formal. O melhor de tudo é ter o exercício intencional da criança, através de ações volitivas dela, na conquista psicomotora de requisitos importantes para a aquisição grafomotora brincando em ambientes preparados para suas necessidades lúdicas e de sobrevivência perante uma sociedade antropocêntrica, ou seja, centrada no adulto. Não basta respeitar o desejo de brincar das crianças, para que um adulto compreenda a necessidade primaz contida nessa ação, é imperativo que entenda os processos psíquicos, físicos e neuropsicológicos que estão implicados na ação de brincar e que também, brinque. Dito isso, o modo principal para buscar esse entendimento é observando a criança a desenvolver suas ações criativas e lúdicas, construindo relação com as teorias que reconhecidamente foram elaboradas a partir da observação da infância. O brincar, para Meltzoff (2011) e Vygotsky (2007) reside na microgênese, no plano microgenético que se encontra entre o saber e não saber, momento em que a observação da ação do outro e a imitação, mecanismos de aprendizagem (FRUFREK; TUBELO, 2017), constituem-se a Zona de Desenvolvimento Proximal, teoria de Lev. S. Vygotsky. O psicólogo russo relata que a microgênese é definida pela ação vivenciada pelo sujeito de modo muito particular e que ela provoca transformações e desenvolvimento nas funções psicológicas superiores, construindo um conectoma (arquitetura das ligações neuronais) único de cada indivíduo. Werner (1999) lembra que a microgênese revela ainda um esforço pessoal do indivíduo em executar 40 com excelência uma tarefa, procurando as melhores soluções a partir da experimentação (giro cingulado anterior). Dentro desse paradigma desenvolvimental de Vygotsky, o indivíduo evolui ao longo de toda a vida e a partir de sua interação com o ambiente, com seus iguais, dentro de quatro planos genéticos, da qual o plano microgenético faz parte juntamente com: filo, onto e sociogenético. O plano filogenético diz respeito a uma bagagem ancestral que o ser humano possui e pelo qual seleciona, a partir de estímulos ambientais e ampliando a capacidade adaptativa, em prol de sobreviver e perpetuar a espécie. Deste modo, o cérebro humano foi arquitetado para obter processos como: mapas cognitivos, filtros perceptivos, códigos de aprendizagem, preparando nossa experiência para que traga resultados evolucionistas, uma espécie de inteligência antropogenética que possuímos. Nas premissas constituintes do plano ontogenético, tendo base na integração sensorial e na mielinização2, o indivíduo tem no seu próprio corpo, o instrumento vital para conquistar o espaço de sua imaginação e o controle de suas ações, no ganho de capacidades cognitivas e emocionais (LURIA, 1973). A vitória adaptativa ontogenética humana se dá através do processo organizacional, estruturante e ao mesmo tempo, plástico das funções integradoras e sensoriais do sistema nervoso (FREITAS, 2006). Dessa forma quero referir que nada acontece fora de uma dança plástica e harmoniosa das atividades cerebrais, onde as funções cooperam e se integram para que 2 Mielinização é o processo maturacional pelo qual os neurônios recebem bainha de mielina, e vão se tornando mais competentes em suas funções, que entre elas, se encontra levar a informação de um neurônio a outros com maior eficiência. 41 as ações sejam executadas. E que o desenvolvimento humano responde a um plano progressivo de ganho de habilidades desde a concepção até a fase adulta, quando então, num processo de retrogênese, o indivíduo inicia uma corrida inversa, perdendo em habilidades motoras, outrossim, ganhando em sabedoria e conhecimentos de como usar as informações conquistadas, até sua morte. O pensamento sociogenético traz o movimento de internalização de todas as dimensões da experiência humana, sendo esse plano o diferencial como salto quântico entre a psicologia animal e a psicologia humana (VIGOTSKI, 2007). Encontra-se em Baldwin (1906), Mead (1934) e Vigotski (2007), pesquisas pioneiras no pensar as interações sociais como base do desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Por último, quero referir o brincar como exercício motivacional da investigação, da busca pelo conhecimento através do movimento exploratório e associativo da criança. A motivação tem seu centro no sistema mesolímbico, centro das emoções e das reações de sobrevivência, uma pulsão primitiva da espécie, por isso se configura como um comportamento ancestral também, de subsistência da espécie. Os neurônios dopaminérgicos traçam, a partirda ação motivada, marcas já referidas como engramas no centro da memória (hipocampo) também localizada na região límbica ou diencéfalo, chegando ao núcleo acumbens (centro da recompensa) e gerando muito prazer pela conquista realizada (ESPERIDIÃO-ANTÔNIO et al, 2008). Dessa forma, ao imprimir marcas, quando o estímulo é motivador negativo, também teremos sensação de frustração e tristeza acionados. O que leva o indivíduo a ter um decréscimo de dopamina no sistema, gerando um efeito contrário ao que se deseja. Precisamos, enquanto 42 educadores, ser mobilizadores do que o psicólogo Mihály Csíkszentmihályi, chamou de Flow, estado de fluxo emocional positivo. Esse estado coloca o sujeito em condição de prazer absoluto pela experiência vivida, que para criança chamamos em Heráclito (filósofo grego) de tempo Aión, um tempo de grande entrega e intensidade, é o tempo do brincar, ou em Jorge Larrosa (filósofo espanhol da atualidade) poderemos chamar de “experiência de si”. O brincar é a experiência de si, é um fenômeno do comportamento humano palpável pela ciência, deve estar em evidência nas pesquisas, uma vez que é uma pulsão natural. Tanto que, a ausência do brincar na criança denota transtornos, distúrbios psíquicos ou neuropsicológicos, emocionais ou sociais. Diferente do brincar dos demais animais, a ludicidade humana apresenta atividade que conecta os dois hemisférios cerebrais a áreas sensoriomotoras e cognitiva de alto nível. Estimulando a ampliação de inteligências e habilitando o indivíduo para conquistas humanas evolutivas como o pensar simbólico, a observação e o colocar-se na situação do outro. O cérebro humano evoluiu e o comportamento lúdico o acompanha há quase 40 mil anos, imprimindo em nossa espécie o gosto, o prazer em jogar/ brincar, em experimentar ludicamente a vida. Certamente nosso cérebro gosta de brincar e assim continuará por muitos séculos com novas formas de ser um Homem lúdico acompanhando os tempos, entretanto, carregados de conteúdo de recompensa e intensidade, sem esquecer que está presente em todas as fases da condição de existência humana. Quem brinca, mesmo que sozinho, brinca para alguém, uma vez que brincar é construir vínculo, é construir relação. REFERÊNCIAS 43 BALDWIN, J. Though and Things: A Study of the Development and Meaning of Thought. London: Swan Sonnenschein & Co, 1906. BUCKNER, R.L.; ANDREWS-HANNA, J.R. & SCHACTER, D.L. The brain's default network: anatomy, function, and relevance to disease. Annals of the New York Academy of Sciences, 1124, 2008, 1-38 Disponível em: PMID: 18400922 Acesso em 27 dez 2018. CONSENZA, R. M. 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Mind, self and society. University of Chicago Press, 1934. MONTESSORI, M. A descoberta da criança: pedagogia científica, SP: Kiron, 2017. RAMACHANDRAN, V. S. O que o cérebro tem para contar: desvendando os mistérios da natureza humana. RJ: Zahar, 2014. RIZZOLATTI, G.; CRAIGHERO, L. The mirror-neuron system. Annual Review of Neuroscience. Palo Alto, Califórnia, USA, Vol. 27: 169-192, July, 2004. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15217330?dopt=Abstract Acesso em 10 fev 2015. RIZZOLATTI, G; FOGASSI, L. The mirror mechanism: recent findings and perspectives. Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci. 2014 Apr 28;369(1644):20130420. doi: 10.1098/rstb.2013.0420. Print 2014. Disponível em: SCHERER, C. A. A contribuição da música folclórica no desenvolvimento da criança. Educativ, v. 13, n. 2, p. 247-60, 2010. SIEGEL, D. J.; TYSON, T.P. O cérebro da criança. SP: Editora Nversos, 2015. VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. WERNER, J. Análise microgenética: contribuição dos trabalhos de Vigotski para o diagnóstico em psiquiatria infantil. Int. J. Prenataland Perinatal Psychologyand Medicine, v. 11, n. 2, p. 157-171, 1999. 45 BRINCADEIRAS E JOGOS NO SÉCULO XXI Tiago Aquino da Costa e Silva (Paçoca) Alipio Rodrigues Pines Junior Luiz Wilson Pina Desde o século XIX, graças aos movimentos sociais e sindicais, aos novos métodos e processos produtivos, ao avanço da democracia, ao aperfeiçoamento da legislação, e aos ideais humanistas que ganharam corpo e espaço nas sociedades modernas, o mundo do trabalho passou por extensas e profundas transformações, que redundaram na adoção de sistemas mais produtivos, os quais adotaram progressivamente tecnologias em permanente avanço que reduziram o desgaste físico e proporcionaram produtividade cada vez maior. Para isso, as formas e os processos de trabalho passaram por intensa transformação em todas as áreas, ao longo do século XX, o que ocasionou igualmente mudanças no padrão e na distribuição do tempo diário, semanal, mensal e anual das classes trabalhadoras, dos profissionais liberais e dos empregados nos setores públicos. Uma consequência importante do citado processo foi a diminuição da carga horária de trabalho. As sociedades passaram a contar com mais tempo social para outras atividades, nas quais se inclui as do âmbito do lazer, em suas variadas modalidades – esportivas, associativas, artísticas, turísticas e ambientais -, enquanto a oferta de serviços nesses segmentos se ampliou quantitativa e qualitativamente em todo o planeta. Justamente para atender a esse novo tempo social das pessoas e das coletividades. 46 O Direito ao Lazer está positivado no art. 6º da mesma Constituição: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (LUNARDI, 2010, p. 26). O tempo diferenciado do trabalho vai influenciar diretamente os demais tempos sociais. E estes sofreram também mudanças significativas, com a tecnologia alterando as ocupações domésticas e o tempo para cuidados pessoais e familiares. Foram modificados sucessiva ou concomitantemente os tempos das ocupações, familiares, domésticas, sociais e pessoais, bem como os tempos de trabalho, de estudo, de descanso, de diversão e de informação e usufruto dos bens culturais da civilização moderna. A nova organização coloca o sujeito como protagonista de suas escolhas a serem contempladas no lazer. É perceptível a melhoria da qualidade de vida em grande parte das nações do planeta, e não é diferente no Brasil. Desde que foi adotado o Indicador da Organização das Nações Unidas (ONU), pelo PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o ”Índice de Desenvolvimento Humano”, o hoje conhecido IDH, o Brasil viu confirmado um gradual processo de mudanças socioeconômicas, sociopolíticas e socioculturais. Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014, com dados de 2012-2013, o Brasil alcançou o 79º lugar no ranking internacional do IDH, com um índice de0,744, superior à média mundial, de 0,702. Como visto anteriormente, a Renda per capita cresceu 55,9% entre 1980 e 2013. Esse crescimento foi estimulado e favorecido pelo plano de estabilização econômica e monetária implantado nos anos 90, o Plano Real, que resultou na valorização da moeda e do seu poder de compra. 47 Mesmo no atual estágio, é possível identificar algumas consequências desse desenvolvimento: alteram-se os padrões de consumo, inclusive dos bens e serviços culturais; as comunidades exigem novos benefícios e serviços públicos, em outras dimensões: além de saúde, habitação, segurança e educação, saneamento ambiental, instalações esportivas, creches, instalações culturais, programas recreativos e turísticos passaram a fazer parte do acervo de solicitações e reivindicações sociais em todo o país. As referências ao lazer na sociedade brasileira acompanham as descrições históricas do cotidiano, diferenciando os meios urbanos e rurais, com relatos mais consistentes a partir do século XIX. As festas populares sempre assumiram uma posição relevante, principalmente as de origem religiosa estimuladas pelos feriados sugeridos pela Igreja Católica, que minimizavam o fato de a semana de trabalho ter seis dias. Os estudiosos do tema não o consideram o lazer mais como vinculado ao trabalho, ocupando um tempo liberado após cumpridas as obrigações laborais, e não pensam mais o lazer em oposição a esse mesmo trabalho. O lazer é analisado, estudado e pesquisado em conexão e interação com todas as esferas da existência individual e coletiva da nossa sociedade. Repetindo, o lazer não é mais interpretado como fator orientado pelo trabalho, como anteriormente (do início do século vinte até a década de 70, aproximadamente), mas como um fenômeno interdependente e em interação com os demais fatores e processos socioculturais da nossa civilização. A primeira observação, com base nas informações coletadas, é que o lazer e a recreação no Brasil continuarão se transformando, na continuidade do processo de desenvolvimento integral no qual o país ingressou nas últimas três décadas. Novas e crescentes exigências sociais em lazer e recreação. O atual sistema de oferta – espaços, programas, atividades e 48 experiências – não atenderá mais com a qualidade desejada às novas solicitações. O recreador como agente de experiências Muito mais do que sua atuação profissional ser pautada nas inúmeras técnicas recreativas ou no seu repertório prático, o recreador deverá sistematizar as experiências a serem promovidas em seu campo de trabalho, relacioná-las com as necessidades do sujeito, a superação das expectativas evidenciadas no processo recreativo, e às práticas culturais – físico, manual, artístico, intelectual, social, virtual e turístico, atenderão à uma grande experiência no âmbito do lazer. A casa e suas possibilidades digitais no âmbito do lazer A casa sempre foi o local primordial para o lazer das pessoas, e inúmeros sistemas e equipamentos foram criados nas últimas décadas para estimular essas formas de uso do tempo social. O acesso à Internet, que cresce acentuadamente nessas mesmas preferências, tende a crescer mais nos próximos anos, inclusive com forte estímulo da sociedade para que o poder público amplie e melhore a base do sistema para a rede digital. E o próprio cinema, que é a atividade fora de casa preferida dos brasileiros, pode ser substituído pela TV a cabo, na qual filmes podem ser alugados para serem assistidos em casa, e pela alternativa de baixá-los no computador acoplado à televisão. Mercado de produção de conteúdo para os sistemas digitalizados A esse mercado associam-se os jogos eletrônicos, outro mercado em expansão exponencial, alternativa de lazer que basicamente retém as pessoas em casa, seja na sua própria, seja na dos amigos. O cenário para as próximas décadas aponta para a 49 necessidade urgente da formação de público para o lazer participativo em parques, praças e outros espaços. A Recreação e a Gamificação É cada vez mais real a “intromissão’ da gamificação e das virtualidades na recreação. A Gamificação carrega, em sua prática, características de jogo, sendo-as a imersão, a jogabilidade e a diversão. Neste sentido, a gamificação assemelha-se muito à atividade lúdica, principalmente quando ambos os conceitos se aproveitam de narrativas para a imersão dos participantes, da participação livre para aumentar a agência e pôr fim a diversão. Segundo Silva et al (2016) durante a respectiva prática, o desafio proposto de “conquista” é o estimulo catalisador para os participantes. Os desafios acontecem de diversas formas – puzzle, códigos, textos, games, coordenadas e outros, que dependerá exclusivamente de criatividade da equipe de produção envolvida, bem como dos recursos disponíveis para esta ação. Organização das unidades de conservação e maior oferta de atividades turísticas e recreativas Nessa mesma linha de pensamento, existe uma possibilidade bem pouco explorada e utilizada no presente, mas que permitiria o desenho de uma oferta muito interessante, estimulante e consistente. São poucas as unidades de conservação brasileiras - grande rede de parques, nacionais, estaduais e municipais com estrutura bem organizada para recepção de visitantes, e menos ainda para oferta de atividades turísticas e recreativas. Para os profissionais do lazer e da recreação, mais um desafio: adquirir e consolidar conhecimentos técnicos para atuar com programas recreativos nas Áreas de Conservação brasileiras. Possivelmente, em equipes multidisciplinares. 50 O lazer e os idosos A expectativa de vida, como visto, aumentou consistente e continuamente no Brasil, nas últimas décadas, e mostra tendência de continuar crescendo. Além do sujeito viver mais, será mais prolongado o período de vida com saúde e disposição física. Tudo indica uma maior participação das pessoas com mais de 60 anos nas atividades de lazer no futuro próximo, desde que a sociedade lhes ofereça as condições de renda, transporte público e de instalações de qualidade para a recreação e o entretenimento. Centro de Formação em Recreação É notório o desenvolvimento dos processos formativos exclusivos às empresas e instituições do setor. Cada uma delas, em sua maioria, terá um centro de formação em recreação que atenderá às suas reais necessidades, seja nos âmbitos da gestão, da técnica e outros. Conexão afetiva É fundamental a conexão afetiva dos programas recreativos e de seu grupo de pessoas – recreadores, gestores e outros, com o público atendido por tais. As ações relacionadas devem satisfazer às necessidades reais do sujeito - sociais, psíquicas e físicas. A interação com as pessoas preservará a participação social com grande satisfação. O poder da gestão em lazer e recreação A gestão em lazer e recreação deverá apresentar caminhos e meios para uma atuação sustentável e cada vez mais responsável, seja nas esferas pública e/ou privada. E assim os meios – processos gerenciais e organizacionais da gestão deverão ser planejados, 51 descritos e cumpridos, prevalecendo os resultados em experiência positiva, na conquista dos índices e metas pré-estabelecidas e participação ativa do sujeito. REFERÊNCIAS LUNARDI, A. Função Social do Direito ao Lazer nas Relações de Trabalho. São Paulo: LTr, 2010. PNUD. Relatório do Desenvolvimento Humano 2014. Disponível em: <http://hdr.undp.org/sites/default/files/hdr2014_pt_web.pdf>. Acesso em 20 Jun. 2017. CAROLEI, P. Estratégias Pedagógicas Imersivas. Relatório de pesquisa apresentado ao SENAC como conclusão de projeto institucional. 2012. SILVA, T A. C.; INOUE, H. Y., PINES JUNIOR, A. R. J. C. Jogo e gamificação: o relato de experiência do alternate reality game “o fantasma no museu”no museu de ciências e tecnologia da PUCRS. Belém: II CBEL – Congresso Brasileiro de Estudos do Lazer, 2016. 52 BRINCADEIRAS E NATUREZA Giselle Frufrek O brincar é o universo natural da criança, ponte para o conhecimento, expressão da evolução humana. Sendo natural, a brincadeira se apresenta na relação com o meio onde a criança estiver. Na natureza, o brincar flui através do mais simples. E com tudo o mais. Tudo o mais que é sem precisar dizer. A brincadeira acontece naturalmente, sem a necessidade que o adulto diga, conduza o aprendizado. A brincadeira e a natureza, para a criança, é tudo o que de ser sem precisar de mais nada. Assim, esta oficina propõe-se tem como objetivo proporcionar uma experiência interativa com os princípios das metodologias ativas de Maria Montessori, Rudolf Steiner e Loris Malaguzzi perante o enfoque das brincadeiras e a natureza. Durante as atividades teórico-práticas, os participantes terão a oportunidade de tornar-se consciente e íntimo com o ambiente natural e a profunda compreensão que as crianças fazem deste. Buscaremos oferecer estratégias para que os professores da educação infantil ao ensino fundamental possam compor um repertório de atividades fundamentalmente ligadas à natureza e a concepção de ambiente ativo. Explorando o seu entorno de uma forma que lhes permita tornar-se um ser auto-reflexivo, assim construindo o seu trabalho na educação para o desenvolvimento pleno da criança. Para isto a conexão da fisicalidade de estar vinculado ao natural no mundo, para a criança, é essencial ao seu desenvolvimento, portanto se faz necessário uma abordagem educacional e pedagógica que compreenda esta relação. O que é permitido para a criança na 53 escola, como ela se relaciona com o ambiente e como este é concebido são questões que serão aqui tratadas. Elucidar as relações estabelecidas com um ambiente natural, sendo este, um jardim, bosque, praças ou áreas rurais, bem como a oferta de materiais naturais em sala de aula e outros ambientes escolares refletem a concepção de infância e educação que temos enquanto educadores. Mesmo em um jardim da comunidade, como em uma floreira na sala de aula, pode-se mediar a observação e construção do conhecimento. Podemos olhar com a criança esta flor e, ao observar podemos absorver não apenas a biologia vegetal, que é o que estamos fazendo na educação formal tradicional, mas a essência da "flor". O que significa isso? Esta espécime representa uma classe na evolução do planeta, possui sua contribuição à evolução das espécies e consequentemente, para a evolução do homem. Como você traz essa essência para uma criança, essa compreensão essencial? Nestas metodologias ativas veremos que existem maneiras para que aconteça este aprendizado. Quando Montessori viveu na Índia por sete anos, ela veio a compreender, durante a guerra, sobre a relação da criança com o meio ambiente. Então antes disso, sua metodologia tratava mais sobre a biologia física do desenvolvimento infantil, mas durante a sua incursão pelo Oriente, Montessori compreendeu experiências como a de sair no jardim com as crianças e entrar em um relacionamento com eles percebendo “a flor”. Propõe à criança a pensar sobre o que você percebe? O que você vê? Como isso aconteceu? Você gostaria de ouvir a história sobre como essa flor surgiu? Então assim, a história humanidade pode ser testemunhada na magia de um jardim. Portanto, a essência deste relacionamento educativo é parte de quem você é, antecipando que o educador é genuinamente interessado em permitir que os alunos se apresentem com suas percepções, seus 54 entendimentos e assim, em seguida, ajudando-os a contextualizá-lo no ambiente natural. Ampliamos não somente a maneira como nós tradicionalmente organizamos os assuntos e habilidades a serem conquistadas pedagogicamente, mas também a integralidade do ser criança. Isso leva à uma incrível preparação dos professores que se torna um mediador consciente desta relação da criança entre as brincadeiras e a natureza, libertando o ensinar e aprender de forma congruente. O educador passa a compreender que há certos tipos de quietude e reflexão interior que acontece na criança quando eles podem ter experiências essenciais. Exemplificando, ao fazer uma jardinagem, há uma empolgação das crianças sobre isso, mas há também esse entendimento interno. A criança e o educador voltam-se ao seu interior, no jardim ou na sala, ao cuidar de um vaso de flor. Podem realmente libertar todas as coisas que levamos conosco por todo o dia e ser mais presente, e apenas consciente, percebendo a beleza do mesmo e da intimidade dos relacionamentos com o ambiente natural. Iremos ensinar e aprender o tempo natural da história. Do educador que atua nas escolas em grandes centros, com características mais urbanas, bem como aqueles que estão em escolas de periferia, com condições precárias, nesta oficina, receberão elementos para acessar a complexidade, as questões mais profundas, a relação de aprendizagem interna, as memórias afetivas que permeiam esta conexão com o natural, no maior contexto, na grande natureza, no universo. Desta forma, estimulamos e cuidamos da capacidade de cada aluno de explorar os mundos interno e externo e descobrir sua compreensão e visão imersas, lembrando-lhe que, este aprendizado para a criança, leva à alegria e autoconhecimento, com os adultos mediadores em suas vidas. 55 O fundamento filosófico da abordagem Montessori baseia- se na premissa de que a educação deve ser uma ajuda para a vida. O respeito pela personalidade das crianças e a confiança em suas potencialidades internas são pré-requisitos para o estabelecimento de um ambiente de aprendizagem saudável. Montessori afirma que a educação baseada em suas descobertas produziria nada menos que o nascimento de um novo humano. Ela identifica o objetivo da educação como o desenvolvimento de um ser humano completo, orientado para o meio ambiente e adaptado ao seu tempo, lugar e cultura. Hoje estendemos isso pedindo às crianças que questionem profundamente o que veem. Esperamos que eles consigam explorar soluções criativas e desenvolver integridade pessoal para que estejam prontos para atender o que a vida possa trazer. Rudolf Steiner e a Pedagogia Waldorf aporta sua metodologia na relação direta com os elementos da natureza e a expressão artística da criança. Buscando uma interação com o ambiente preparado com objetos, materiais e elementos naturais, oferece experiências de observação, exploração e intervenção na natureza e com a natureza. A partir desta experiência, visa proporcionar à criança, possibilidades de expressões artísticas que refletem suas percepções e aprendizado. Como o homem se percebe perante a natureza é um dos principais pilares para a harmonia e evolução humana nesta pedagogia. Loris Malaguzzi e a abordagem Reggio Emilia tem o enfoque no protagonismo infantil através da interação da criança com o meio, respeitando a natureza lúdica do aprendizado. Nesta relação com o meio a criança se apropria da cultura infantil, que se manifesta e transforma. A escola pode conseguir isso preparando ambientes baseados na idade do aprendiz, de modo que os indivíduos, do 56 nascimento até a maturidade, possam crescer e compreender a si mesmos e suas relações entre si e com o mundo natural. Estas abordagens de aprendizagem fornecem o maior contexto possível para que a criança possa entender como tudo está relacionado, percebem o relacionamento da humanidade com o todo. Em todos os níveis, os professores podem enfatizar a responsabilidade da humanidade perante a comunidade da Terra. Estas abordagens combinam liberdade com responsabilidade, um papel mais ativo para as crianças em sua aprendizagem e excelência acadêmica combase na contribuição potencial de cada pessoa. Também fornecem consciência social e desenvolvimento integral e ético. Brincadeiras e a natureza traz possibilidades para que o desenvolvimento pleno da criança aconteça de forma natural, sem interferência restritiva ao máximo potencial humano. Buscar a conexão com natureza e ampliar a relação com está nos mais diversos ambiente é o nosso desafio para que possamos compreender o que já foi e o que há de ser. E tudo o mais. 57 BRINCADEIRAS, DANÇA E FOLCLORE Allan Kardec Sousa Torres O QUE É CULTURA Cultura pode ser definida como a maneira de pensar, sentir, agir e reagir do homem na sociedade da qual faz parte, na relação com seus semelhantes. De acordo com Pereira (1986), “cultura é a resultante de aprendizado e permite ao homem adaptar-se ao seu meio, à sociedade”. De acordo com Ferreira (1999), cultura é “um conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre os indivíduos em sociedade”. Todas as sociedades são portadoras de cultura. E em uma sociedade letrada, a cultura se manifesta em três modalidades: A – “cultura erudita: transmitida pelas organizações intelectuais. É aprendida e divulgada na escola ou por intermédio das instituições por ela reconhecida como legítima. Aprende-se nos livros, com auxílio de um professor ou um orientador instruído” (GUIMARÃES, 2002). B – “cultura de massa: produzida ou divulgada por pequenas ou grandes empresas, geralmente comercial, de consumo” (FERREIRA, 1999). C – “cultura espontânea: é aprendida de maneira informal na convivência do homem com seus semelhantes, do nascimento até a morte” (FERREIRA, 1999). 58 Através dessas descrições e de acordo com Ferreira (1999), podemos concluir que “a cultura erudita é ensinada ao homem de fora para dentro, a espontânea nasce de dentro para fora, a de massa é imposta”. Todas as pessoas possuem cultura espontânea, sendo essa o objeto do folclore. “Os fatos folclóricos podem sofrer influência tanto da cultura erudita quanto da cultura de massa, podendo, também, influenciá-las” (GUIMARÃES, 2002). O QUE É FOLCLORE Folclore é uma palavra aportuguesada do inglês antigo: “Folk”, povo; “Lore”, ciência, sabedoria. Instituída pelo inglês Willian John Thoms em carta dirigida a revista “The Atheneum”, de Londres, publicada em 22 de agosto de 1846, por isso 22 de agosto é o Dia do Folclore. Com o pseudônimo de Ambrose Merton, pedia apoio para um levantamento de dados sobre usos, tradições, lendas e baladas regionais da Inglaterra. O nome firmou-se entre os estudiosos de todo o mundo, quando se fundou a Sociedade de Folclore, em Londres, em 1878, sob a presidência de Willian John Thoms (PEREIRA, 1986). De acordo com o autor citado, “folclore é a ciência sociocultural que estuda a cultura espontânea do homem na sociedade letrada”. Luis Câmara Cascudo, citado por Marinho (1980) conceitua folclore como “ciência de psicologia coletiva observada através de pesquisas a todas as manifestações espirituais, materiais e culturais do povo”. E esclarece: “nenhuma ciência, como o folclore possui maior espaço de pesquisa e aproximação humana. Cultura geral no homem, da tradição e do milênio na atualidade do heroico no quotidiano, é uma verdadeira história do povo”. 59 FATO FOLCLÓRICO De acordo com Megale (1999), constituem as maneiras de pensar, de sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular. Onde encontramos o folclore: nas superstições, nas crendices, nas lendas, nos contos, nos poemas, nas canções, nas danças, teatro, festas dentre outras. De acordo com Pereira (1986), “o campo de ação do folclore é muito vasto, pois existe em todas as formas de manifestações de cultura do homem na sociedade letrada”. Dentre essas áreas daremos ênfase na dança folclórica, que foi nosso objeto de estudo durante o curso. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO FATO FOLCLÓRICO • ANOMIMATO: não tem autor conhecido, perdeu-se através dos tempos. Aceito e modificado pela coletividade, apresenta algumas variantes, passando a ser obra do povo. • ACEITAÇÃO COLETIVA: o povo, aceitando o fato, toma-o para si como se fosse seu, o modifica e transforma, sem invalidar o modelo. • TRANSMISSÃO ORAL: faz-se de boca em boca. • TRADICIONALIDADE: modo vivo e atual pelo qual os conhecimentos foram transmitidos. Ex: avô, pai, filho, neto. • FUNCIONALIDADE: o povo nada realiza sem motivo, geralmente ligado ao comportamento do grupo ou a uma norma psico- religiosa-social. DANÇA FOLCLÓRICA 60 A dança, segundo Portinari (1989), sempre existiu na qualidade de elemento constitutivo e integrante de inúmeros rituais religiosos, guerreiros e fúnebres dos povos primitivos tais como egípcios, astecas e bantus dentre outros. De acordo com Guimarães (2002) “a dança parece ser, segundo estudiosos, uma das manifestações culturais mais antigas do homem, que a ela recorria, por exemplo, para agradecer às entidades sobrenaturais”. Entende-se por Dança Folclórica: as expressões populares desenvolvidas em conjunto ou individualmente, que tem na coreografia o elemento definidor. Nos seus primórdios eram manifestações exclusivamente coletivas, com os dançadores organizados em círculos, fazendo todos, simultaneamente, os mesmos movimentos, às vezes com um solista no centro do círculo. As danças desenvolvidas aos pares, sobretudo o” enlaçados “, revelam a influência do elemento colonizador” (FRADE, 1991, p. 37). A Dança Folclórica possui variados aspectos que, ao mesmo tempo, refletem e emanam as diferenças entre os grupos. As variações musicais, conforme a região, aonde são executadas, também fazem parte deste acervo ou conjunto de alterações que podem determinar as diferenças entre as diversas expressões. 61 Pode-se dizer que a dança é um fato folclórico completo, pois possui as principais características, quais sejam: “é manifestação espontânea de uma coletividade. Sendo, portanto, coletiva e aceita pela sociedade onde subsiste; tem como cenário comum às ruas, os largos, praças públicas e possui estrutura própria através da reunião de seus participantes e ensaios periódicos” (MEGALE, 1999, p. 93). No Brasil, devido à grande variedade dos povos que trouxeram as tradições dos seus países de origem como portugueses, africanos, holandeses, espanhóis dentre outros que aqui vieram se misturar com os índios, à dança folclórica apresenta-se de forma exuberante. Mostrando, assim, características específicas de diferentes etnias que a compõe, nas regiões onde é executada. DANÇAS FOLCLÓRICAS BRASILEIRAS As Danças Folclóricas Brasileiras, além de características regionais, que são demonstradas através da indumentária, dos instrumentos e da música que acompanha e sua evolução coreográfica, sofrem e/ou apresentam de forma implícita (ou não), o processo de miscigenação do índio, do negro e do colonizador europeu, como forte fator para a profusão dos ritmos e danças, gerando uma grande diversidade entre as diversas manifestações, dentro delas mesmas. As Danças Folclóricas Brasileiras, não só pela quantidade e variação, como pela sua frequência, são, segundo Megale (1999), “as expressões mais fiéis de nosso espírito musical”. E devido as diferentes influências étnicas o Brasil apresenta um vasto panorama de danças folclóricas. Revelando aculturação europeia em algumas danças (como o fandango), e traços da cultura negra (como maracatu) e nativa em outras (como o caiapó). 62 De acordo com Pereira (1986), "a dança folclórica brasileira pode ser de roda, de fileiras frente a frente, de pares, de solista. Nela se encontra umbigada, sapateado, palmeados, castanholas com as pontas dos dedos. Tem váriasfunções, como a religiosa. Nunca será a dança da moda”. A dança folclórica brasileira faz parte da cultura popular que é aprendida, aceita e transmitida de maneira informal. As diferentes formas coreográficas apresentadas, revelam em última análise a cultura regional do povo brasileiro e contribuem para a formação do caráter humano do praticante e da comunidade a qual pertence. A dança folclórica brasileira no ambiente escolar pode ser um grande colaborador para o desenvolvimento motor e das qualidades mentais e sociais, facilitando o aprendizado, servindo de fonte de observação do educador, sobre as preferências do praticante e como desenvolvê-las. Assim, a grande variedade de danças folclóricas brasileiras, trabalham, não somente o movimento, mas revelam a cultura regional e contribuem para formação do caráter humano do praticante e da comunidade no seu entorno. 63 BRINCADEIRAS GERACIONAIS Volney Paulo Guaranha Quando foi a última vez que você brincou? Se você respondeu que foi na última terça-feira juntamente com seus alunos, está de brincadeira, né? Esse seria um momento de trabalho o qual faz parte de suas habilidades e competências esta interação, afinal quando você aceitou exercer a profissão de educador sabia dos deveres e obrigações. Agora, se você falou que foi quando chegou em casa, cansado do serviço, abriu a porta de entrada, tirou seus “pisantes” e foi brincar com quem lhe aguardava na sala de braços abertos, este conceito de jogos geracionais é para você. Jogos que apresentam um nível de interação entre pessoas da própria família ou não necessariamente familiares e de faixas etárias distintas. Jogos Geracionais referem-se a dinâmicas e interações em forma de entretenimento entre diferentes faixas etárias que compõe o jogo. Não importa condições econômicas, sociais e culturais, mas sim como as pessoas de diferentes anos de vida se relacionam em uma dinâmica qualquer. Estamos na era da tecnologia, e as pessoas estão cada vez mais desconectadas presencialmente e isto pode gerar conflitos. Vivemos um momento em que várias gerações convivem ao mesmo tempo e no mesmo ambiente. Para nós, facilitadores de jogos, como fazer com que estas gerações busquem um envolvimento e uma conexão através de jogos, isto é, como praticar o ato de jogar? Entendemos que a cada dia temos menos espaços e tempo para essas relações interpessoais através de jogos e brincadeiras. O que 64 antigamente havia com mais quantidade em nosso entorno, as ruas de lazer, hoje temos menos quintais. Dentro da Sociologia há estudos que nos revela uma nomenclatura quanto ao comportamento das gerações. Ao se tratar da era da informação há outro estudo que menciona às transformações tecnológicas e a sua influência no comportamento, atribuindo um determinado perfil comum a um grupo, que os define aproximadamente aos tempos de nascimento e os diferencia como: Tradicionais antes da década de 40; Baby Boomer entre os anos de 40 a 60; Geração X dos 60 aos anos 80; Geração Y fim dos anos 80 até os anos 90; Geração Z já nos anos 2000; e por fim Geração Alpha, a partir dos anos 2010. Para tanto compreendemos que essas trocas de experiência levam em conta que os mais jovens precisam dos alguns comportamentos do mais velhos, como por exemplo, a sabedoria e conhecimento, a maturidade, o bons exemplos e conselhos, a experiência e vivência. Em contrapartida os mais velhos precisam também exercer e acompanhar a energia, rapidez na informação, criatividade, visão de mundo, capacidade de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo e motivação que os mais jovens têm para oferecer. Para o professor Vitor da Fonseca, o jogo é uma oportunidade de transmissão cultural intergeracional, não se deve confinar apenas a uma atividade auto iniciada pela criança na medida em que os adultos devem saber aproveitá-lo para expandir o seu potencial de aprendizagem. Não estou falando de jogos antigos, os quais nossos ancestrais já brincavam, e sim de jogos atuais, que devem estar no contexto na atualidade. Claro que brincar de pular corda, mãe da rua, amarelinha entre outros jogos que fazem parte cultural de um povo e é passado de geração em geração. Apresentam um ganho e aproximação impactante na relação dos jogos geracionais, mas não 65 podemos esquecer que a internet também possui um repertório de jogos online onde os adultos precisam acompanhar essa velocidade virtual. Assim como num casamento, no qual ambos os parceiros precisam ceder quando vão morar juntos, nos jogos geracionais também há a necessidade de que um jogador ceda ao ritmo de vida e entenda qual o seu momento de geração vivida por ele, sem que haja um conflito entre os jogadores. Inúmeras opções de atividades existem no mercado para que tenha esta prática de jogos. Basta você usar o seu tempo, condicionando para que seja mais frequente essa relação entre gerações diferentes. Seja reflexivo e observador ao jogar com pessoas de outras gerações. Veja como eles se comportam durante o jogo, o que falam, como agem, como desenvolvem a capacidade de criar. É através do jogo que conhecemos hábitos, sentimentos, costumes, emoções, competências e como o brincante se relaciona com o mundo e com o meio. Afinal já diria a muitas gerações através um “tal” filósofo Platão que “conhecemos muito mais uma pessoa em uma hora de brincadeira do que um ano de conversa”. Portanto, vamos nos organizar, planejar e readaptar nosso tempo para que brincadeiras de outrora nunca morram e que tenhamos mais poder de capacidade criativa de construir jogos que atentam a atualidade e envolvam todos os interesses culturais do lazer. Ao término destas informações faço um convite a você brincante, jogar da primeira atividade que vier a sua cabeça com qualquer pessoa que esteja próximo a ti. Sejam eles pais, mães, filhos, avós, tios, sobrinhos, vizinhos, amigos ou desconhecidos. Faça um detox através dos jogos geracionais. 66 BRINCADEIRAS E JOGOS DO MUNDO TODO Alipio Rodrigues Pines Junior Mérie Hellen Gomes de Araujo da Costa e Silva As brincadeiras e jogos são atividades lúdicas inerentes ao ser humano, independente de sua idade, gênero, costumes ou geolocalização. Assim como temos crianças, adolescentes, adultos e idosos no Brasil que brincam e jogam, o mesmo acontece em outros países ao redor do mundo. Mas será que eles brincam e jogam do mesmo jeito que nós? Que brincadeiras e jogos são tradicionais na Europa, Ásia, África ou Oceania? Em 2014, com a realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, foi iniciado em uma escola um projeto de pesquisa sobre quais brincadeiras e jogos são realizados nos países participantes desse megaevento, com o intuito de despertar a curiosidade dos estudantes. Após a pesquisa, era hora de experimentar tais atividades, e o resultado foi melhor que o esperado. Para finalizar o projeto, as brincadeiras e jogos dos países foram escolhidos pelos estudantes para fazerem parte do evento comemorativo do “Dia dos Pais”: nesse dia, a escola estava aberta aos pais, que participaram e vivenciaram os jogos propostos pelos alunos. A partir do sucesso do projeto “Jogos do Mundo Todo”, pensou-se em explorar mais as possibilidades que tais atividades promoveram. Assim, surgiu a ideia de desenvolver o projeto em forma de curso e disseminar as práticas das brincadeiras e jogos do mundo todo. 67 Eis que então veio a sistematização do projeto em formato de curso e oficina, de com o intuito de promover tais atividades para educadores poderem reproduzi-las nos mais diversos ambientes (escolas, ruas, praças, brinquedotecas, entre outros), propagando boas práticas e experiências lúdicas das mais diversas nações. A cada oficina e/ou curso ministrado, nota-se o brilho nos olhos dos educadores em experimentar
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