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Autora: Profa. Claudia Roberta Carneiro Leão Colaboradora: Profa. Christiane Mazur Doi Sistemática de Importação e Exportação Professora conteudista: Claudia Roberta Carneiro Leão Graduada em Ciências Econômicas pela Faculdade de Economia, Finanças e Administração de São Paulo, pós-graduada em Comércio Exterior pela Universidade Paulista-UNIP, cursos extracurriculares na área de Importação e Exportação e Mestre em Engenharia da Produção na linha de pesquisa de Meio Ambiente, pela Universidade Paulista, Capes 5. Atuante há 30 anos no mercado de trabalho, destes, 22 anos na área de Comércio Exterior e 8 anos nas áreas administrativas e, paralelamente, há 13 anos professora universitária. Como professora ministra as seguintes disciplinas: Economia e Mercado, Sistemática de Importação e Exportação, Logística na Importação e Exportação, Legislação Aduaneira e Comunicação Empresarial. Coordenadora dos cursos de Gestão da UNIP, desde 2019, do campus Jundiaí e coordenadora do curso de Gestão em Comercio Exterior no EaD (Ensino a Distância). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) L437s Leão, Claudia Roberta Carneiro. Sistemática de Importação e Exportação / Claudia Roberta Carneiro Leão. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 196 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Exportação. 2. Importação. 3. Certificado. I. Título. CDU 339.5 U514.24 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Auriana Malaquias Vera Saad Sumário Sistemática de Importação e Exportação APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 O COMÉRCIO EXTERIOR ................................................................................................................................ 11 1.1 História do comércio exterior no Brasil....................................................................................... 13 1.1.1 Período colonial (1500-1822) ............................................................................................................ 14 1.1.2 Período do Império (1822-1889) ...................................................................................................... 19 1.1.3 Primeira República (1889-1930) ...................................................................................................... 20 1.1.4 Era Vargas e o Brasil democrático (1930-1964) ......................................................................... 21 1.1.5 Regime Militar (1964-1985) .............................................................................................................. 23 1.1.6 Redemocratização (1985 – 1990) .................................................................................................... 24 1.2 Contextualização do Brasil no Comércio Internacional ....................................................... 28 1.3 Os principais estados brasileiros e suas contribuições no comércio exterior .............. 40 1.4 Balança comercial ................................................................................................................................ 46 1.5 Os objetivos da organização em ingressar no comercio internacional .......................... 49 1.6 Classificação fiscal de mercadoria ................................................................................................. 50 1.6.1 NCM ............................................................................................................................................................. 51 1.6.2 Tarifa Externa Comum (TEC) ............................................................................................................... 53 1.7 Blocos econômicos .............................................................................................................................. 53 2 A ESTRUTURA BRASILEIRA PARA O COMÉRCIO EXTERIOR ............................................................ 56 2.1 Ministério da Economia ..................................................................................................................... 58 2.2 Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (Secint) ............. 59 2.2.1 Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) ......................................... 60 2.2.2 Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais (Sain) .................................................... 62 2.2.3 Secretaria de Comércio Exterior (Secex) ....................................................................................... 63 2.3 Ministério das Relações Exteriores ................................................................................................ 64 Unidade II 3 ÓRGÃOS INTERVENIENTES .......................................................................................................................... 74 3.1 Gestores, anuentes e autoridades em Comex........................................................................... 74 3.1.1 Órgãos gestores ....................................................................................................................................... 74 3.1.2 Órgãos anuentes ..................................................................................................................................... 75 3.1.3 Autoridades em Comex ........................................................................................................................ 77 3.2 Recintos alfandegados ....................................................................................................................... 82 3.2.1 Armazém alfandegado ......................................................................................................................... 83 3.2.2 Armazém zona primária ....................................................................................................................... 84 3.2.3 Armazém zona secundária .................................................................................................................. 84 3.2.4 Porto seco .................................................................................................................................................. 85 4 PRESTADORES DE SERVIÇO ......................................................................................................................... 86 4.1 Despachante aduaneiro ..................................................................................................................... 86 4.2 Trading company ..................................................................................................................................87 4.3 Empresas comerciais exportadoras ............................................................................................... 88 4.4 Agente de carga internacional ....................................................................................................... 89 4.5 Operador de transporte multimodal (OTM) ............................................................................... 90 4.6 Corretor de seguro ............................................................................................................................... 91 4.7 Corretor de câmbio .............................................................................................................................. 91 4.8 Transportadora ...................................................................................................................................... 91 Unidade III 5 EXPORTAÇÃO .................................................................................................................................................... 97 5.1 Aspectos conceituais........................................................................................................................... 97 5.2 Aspectos práticos ................................................................................................................................. 98 5.2.1 Vantagens em exportar ........................................................................................................................ 98 5.2.2 Como exportar? ....................................................................................................................................... 99 5.3 Aspectos fiscais ...................................................................................................................................102 5.3.1 Imposto de Exportação (IE) ...............................................................................................................102 5.3.2 Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) ..............................................................................103 5.3.3 PIS e Cofins ..............................................................................................................................................103 5.3.4 Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) .............................................104 5.3.5 Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) ....................................................................................104 5.3.6 Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) .......................................................................104 5.3.7 Encargos sociais .....................................................................................................................................105 5.3.8 Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS) .....................................................105 5.4 Documentos .........................................................................................................................................105 5.4.1 Pedido de compra .................................................................................................................................105 5.4.2 Contrato internacional de compra e venda ...............................................................................106 5.4.3 Booking .....................................................................................................................................................107 5.4.4 Conhecimento de embarque aéreo ...............................................................................................107 5.4.5 Conhecimento de embarque marítimo ........................................................................................109 5.4.6 Conhecimento de embarque rodoviário ...................................................................................... 112 5.4.7 Fatura proforma (proforma invoice) ............................................................................................. 113 5.4.8 Fatura comercial (invoice) .................................................................................................................114 5.4.9 Romaneio de carga .............................................................................................................................. 115 5.4.10 Certificado de origem .......................................................................................................................116 5.4.11 Certificado sanitário/fitossanitário ..............................................................................................118 5.4.12 Certificado de seguro internacional ........................................................................................... 118 5.4.13 Certificado de fumigação ...............................................................................................................118 5.4.14 Contrato de câmbio .......................................................................................................................... 119 5.4.15 Liquidação de câmbio ...................................................................................................................... 120 6 REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS NA EXPORTAÇÃO ....................................................................120 6.1 Trânsito aduaneiro na exportação ...............................................................................................120 6.2 Exportação temporária ....................................................................................................................120 6.3 Entreposto aduaneiro na exportação .........................................................................................121 6.4 Exportação em consignação ..........................................................................................................122 6.5 Amostras ................................................................................................................................................122 6.6 Exportações destinadas a feiras, exposições e certames ....................................................122 6.7 Exportação com pagamento em moeda nacional ................................................................123 6.8 Reexportação .......................................................................................................................................123 6.9 Internacional Commercial Terms (Incoterms) ........................................................................123 6.10 Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) ........................................................135 6.10.1 Declaração Única de Exportação (DU-E) ................................................................................. 137 6.10.2 Conceitos utilizados na elaboração da DU-E ......................................................................... 138 6.10.3 Formas de elaborar a DU-E ........................................................................................................... 139 6.10.4 Despacho aduaneiro ......................................................................................................................... 139 6.10.5 Desembaraço aduaneiro ................................................................................................................. 140 6.10.6 Comprovante de exportação ........................................................................................................ 140 6.10.7 Averbação da DU-E............................................................................................................................141 6.10.8 Canais de parametrização ...............................................................................................................141 6.11 Cálculo para preço de venda .......................................................................................................142 6.12 Nota fiscal saída exportação .......................................................................................................1466.13 Fontes de financiamento ..............................................................................................................147 6.13.1 ACC .......................................................................................................................................................... 147 6.13.2 ACE .......................................................................................................................................................... 147 6.13.3 Proex programa de financiamento às exportações ............................................................. 148 Unidade IV 7 IMPORTAÇÃO ..................................................................................................................................................155 7.1 Aspectos conceituais.........................................................................................................................155 7.2 Aspectos práticos ...............................................................................................................................157 7.2.1 Vantagens em importar .................................................................................................................... 157 7.2.2 Como importar? ................................................................................................................................... 158 7.2.3 Aspectos fiscais ..................................................................................................................................... 160 7.2.4 Documentos ........................................................................................................................................... 160 8 OPERACIONALIZAÇÃO DA IMPORTAÇÃO ............................................................................................161 8.1 Regimes aduaneiros especiais na importação ........................................................................161 8.1.1 Admissão Temporária ..........................................................................................................................161 8.1.2 Carnê ATA ................................................................................................................................................ 162 8.1.3 Entreposto aduaneiro ......................................................................................................................... 162 8.1.4 Declaração de Trânsito Aduaneiro (DTA) .................................................................................... 163 8.1.5 Loja franca .............................................................................................................................................. 163 8.1.6 Repetro ..................................................................................................................................................... 163 8.1.7 Drawback ................................................................................................................................................. 164 8.2 Siscomex importação .......................................................................................................................166 8.2.1 Licença de importação (LI) ............................................................................................................... 166 8.3 Ex-tarifário ............................................................................................................................................168 8.4 Despacho aduaneiro na importação ..........................................................................................168 8.4.1 Declaração de importação (DI) ........................................................................................................171 8.4.2 Declaração Simplificada de Importação (DSI) .......................................................................... 172 8.4.3 Declaração Única de Importação (Duimp) ................................................................................ 172 8.4.4 Canais de parametrização ................................................................................................................ 173 8.4.5 Conferência aduaneira ...................................................................................................................... 175 8.4.6 Exigência fiscal ...................................................................................................................................... 176 8.4.7 Perdimento de mercadoria ............................................................................................................... 177 8.4.8 Adiantamento numerário ao despachante e acerto final ................................................... 178 8.4.9 Laudo técnico ........................................................................................................................................ 180 8.4.10 Desembaraço aduaneiro na importação .................................................................................. 180 8.5 Cálculo dos impostos e custos de importação (landed) .....................................................181 8.6 Nota fiscal de entrada importação .............................................................................................185 8.7 Câmbio na importação.....................................................................................................................185 8.7.1 Modalidades de pagamento na importação ............................................................................. 186 8.8 Seguro Internacional ........................................................................................................................187 9 APRESENTAÇÃO A razão cardeal de toda superioridade humana é, sem dúvida, a vontade. O poder nasce do querer. Sempre que um homem aplica a veemência e a perseverante energia de sua alma a um fim, ele vencerá os obstáculos, e, se não atingir o alvo, fará pelo menos coisas admiráveis. José de Alencar Esta disciplina tem por objetivo oferecer uma compreensão sistemática e operacional dos aspectos comerciais, administrativos e fiscais aduaneiros e das rotinas dos processos de importação e exportação, o que auxiliará os alunos a buscarem a melhor qualidade, no menor tempo e ao menor custo, ao longo de sua carreira no mercado de trabalho. Por meio de uma visão prática, apresentaremos, ao longo dos tópicos, uma análise da história do comércio exterior, a fim de que o aluno possa entender como ocorreu o início dos processos, dos termos e das diretrizes das importações e exportações. Estudaremos termos de negociação aplicados mundialmente, o que levará a um melhor entendimento dos riscos e das responsabilidades nas compras e nas vendas do mercado internacional. Analisaremos e discutiremos os aspectos das importações e das exportações door to door, ou seja, veremos todo o processo de importação e exportação, desde sua origem até seu destino, tema que envolve negociações, fretes, embarques, alfândega, armazenagem e regimes aduaneiros especiais, bem como a finalização de todos os custos envolvidos. INTRODUÇÃO As incertezas e os efeitos econômicos trazidos pela irrupção da pandemia de covid-19, no início de 2020, geraram um rápido movimento de revisão de projeções para o desempenho da economia mundial. As preocupações se estenderam ao comércio mundial, criando expectativas de uma queda forte das exportações e importações ao redor do mundo. Felizmente, as piores previsões não se confirmaram, e o desempenho do comércio mundial tem sido surpreendentemente favorável em vista da gravidade do cenário. Na verdade, nessa crise, o comércio tem tido um desempenho bem diferente do observado em outros momentos de recessão mundial. Segundo o Ipea (2020), a fim de contribuir para o debate sobre o impacto da covid-19 no comércio mundial, avaliou-se como os fluxos de importação e exportação vêm se comportando em 2020 diante da crise pandêmica, lançandomão de indicadores mensais agregados para um conjunto representativo de países, com dados disponíveis até agosto. De fato, o que se viu em 2020 foi uma uma rápida recuperação dos fluxos de comércio a partir de maio – ainda que tal recuperação venha se dando em ritmos diferentes entre países e regiões. Os números disponíveis sugerem que a queda da maior do volume deste ano possa ser ainda menor do que as previsões mais recentes indicaram. Avaliou-se também se há alguma correlação entre a variação dos fluxos de comércio e alguns indicadores específicos referentes aos países analisados, como a incidência da covid-19 ou a importância que as cadeias globais de valor têm no 10 comércio de cada país. Além disso, discute as perspectivas para o comércio mundial nos últimos meses de 2020 e em 2021, levando em conta as previsões disponíveis atualmente e também o balanço de riscos. Com a globalização, a abertura dos mercados e a internacionalização das empresas, a competitividade foi estabelecida em altos níveis, necessitando de profundo conhecimento das questões relacionadas ao comércio exterior. Sob este foco, incluímos a operacionalização da importação e exportação dentro do país, juntamente com os processos de compra e venda, ou seja, importação e exportação, que, bem conduzido por profissionais experientes pode contribuir fortemente para o Brasil, no âmbito do ciclo econômico crescente do comercio exterior, com enfrentamento das oscilações dos mercados e das moedas. Um exemplo histórico, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial, que é a soma de todas as riquezas produzidas pelos países, sempre esteve acima do crescimento das vendas externas. O PIB mundial sempre se sobressaiu perante aos resultados na troca de bens e serviços, porém, a partir de 1995, essa situação foi invertida. Os dados históricos revelam que, entre 1995 e 2005, o crescimento do PIB mundial foi de somente 3% ao ano, enquanto a taxa de crescimento das vendas externas foi de 5,8% ao ano, invertendo o conceito. Com essa mudança de cenário no comercio internacional, apoiado pela globalização, criam-se novos desafios aos profissionais e ao mercado. Desse modo, vimos as fronteiras de tempo e espaço sendo derrubadas pela melhoria da infraestrutura e pelo crescimento do comércio eletrônico. Podemos, ainda, acrescentar que o mercado segue com elevada incerteza e com um posicionamento volátil, ou seja, que pode mudar a qualquer momento de crises, incertezas, ou, até mesmo, diante de novas descobertas positivas da tecnologia, influenciado pela velocidade das informações, mudança de hábitos dos consumidores, exigência da agilidade nos negócios, alta velocidade das inovações tecnológicas e, em específico, operações do comércio exterior. Devemos considerar, no ambiente de negócios globalizado, a pressão colocada no mercado sob a condição da redução de custos e melhores prazos dentro dos ciclos dos pedidos. Esses novos formatos de trabalho são baseados na busca pela criação de condições para um fluxo de mercadorias, que deve percorrer fronteiras com flexibilidade e agilidade do comércio internacional. Infraestruturas para armazenagem, desembaraço aduaneiro, logística internacional, movimentação, e distribuição das mercadorias fazem com que o trabalho do comércio exterior seja mais competitivo, de modo que mais profissionais capacitados tornam-se uma exigência. Para atender a demanda do comércio internacional no mercado globalizado, requer-se uma integração cada vez mais intensa de mão de obra qualificada. Este livro-texto está dividido em quatro unidades. Na unidade I, será estudado o surgimento do comércio exterior, sua história, suas bases e contextualização. Na unidade II, abordaremos a estrutura para o comércio exterior. Nas unidades III e IV, abordaremos a exportação e a importação, respectivamente, e detalharemos os procedimentos brasileiros para a realização das operações internacionais. 11 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Unidade I 1 O COMÉRCIO EXTERIOR O comércio exterior, como o próprio nome já diz, é um comércio entre países e se refere à troca de serviços e produtos, ou seja, a venda (exportação) e a compra (importação) englobando todo o processo desde o desenvolvimento, produção, logística, trâmites burocráticos fiscais e todos os demais procedimentos necessários para sua realização. Ao longo de toda a história capitalista, o mundo passou por momentos promissores e felizes em termos de crescimento econômico e produção de riqueza, indicando uma prosperidade mundial. Foi assim no início do século XX, quando a indústria moderna atingiu patamares, até então, nunca vistos. O mesmo fato ocorreu após a Segunda Guerra Mundial envolvendo o continente europeu e o Japão, os quais estavam se reerguendo das cinzas para se transformarem nas potências econômicas que são conhecidas hoje. Segundo o dicionário Michaelis, a palavra comércio significa uma prática mercantil que se fundamenta em venda, permuta ou compra de produtos, com fins lucrativos, ainda, permuta de produtos por outros produtos, por valores ou por serviços, com fins lucrativos. Segundo Tripoli e Prates (2017), o comércio pode ser compreendido como a transferência de propriedade de um bem ou serviço para outro agente, cuja movimentação implica o recebimento de um valor monetário ou outro bem ou serviço. Nesse sentido, podemos compreender que se trata de uma transação de troca. Já a palavra exterior tem o significado, dentro do nosso tema, como “relativo aos países estrangeiros”, então, podemos entendê-lo como a comercialização de mercadorias, serviços e mão de obra entre os países. A Associação Brasileira de Consultoria e Assessoria em Comércio Exterior (Abracomex) esclarece que o comércio exterior abrange as regras internas do país, como leis e ordenamento jurídico, bem como também as questões logísticas, financeiras, tributárias, de fiscalização, vigilância e qualidade, enquanto o comércio internacional refere-se às normas que regulamentam as operações entre os países de maneira uniforme, sendo que o intercâmbio econômico-financeiro ocorre entre dois países (bilateral) ou vários países (multilateral). O aluno que deseja atuar na área de comércio exterior precisa entender que em todo o desenvolvimento de um projeto que envolve fronteiras, ou seja, países, existe uma análise do mercado e o entendimento cultural de cada região com quem deseja comercializar para verificar a viabilização do negócio. O trabalho que envolve esse mercado vai além de uma simples transação comercial, a fim de diminuir o distanciamento das fronteiras, podendo, assim, encontrar caminhos de negócios e as estratégias ideais para entrar em determinado mercado estrangeiro. A identificação das necessidades de seus clientes, seja do mercado interno (Brasil), quando surge a necessidade de importar, seja aos clientes externos (fora do Brasil), quando surge a oportunidade de exportar, é o que trará sucesso em sua operação. 12 Unidade I Vale ressaltar que a importância de conhecer e compreender a cultura de cada país no qual há intenção de realização de um negócio afetará, principalmente, no processo de exportação, no qual deve-se vender um produto ou um serviço e deverá ser realizado de acordo com os costumes, valores e crenças do país comprador. Isso envolve conhecimento, confiabilidade e profissionalismo, pois, caso haja algum ponto em desacordo, o negócio poderá ser rescindido e poderá até, perder-se o vínculo com aquele país. Um exemplo clássico, por questões religiosas, é o dos muçulmanos, que possuem um tratamento específico quanto ao abate de carnes; o país deve oferecer o certificado halal (significado de permissão em árabe), que é um documento exigido a exportações destinadas aos países árabes. Esse certificado possui base religiosa e garante aos muçulmanos que o alimento está “abençoado” e foi cultivado ou preparado de acordo com os preceitos do islã. Saiba mais Consulte o artigo sobre o certificado halal em:SOUZA, C. B. P. Certificado Halal – o que é? Portogente. 26 dez. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3CZF6sb. Acesso em: 9 nov. 2021. Na figura 1, podemos observar que os países que mais movimentam as comercializações mundiais estão concentrados na China, União Europeia e Japão, seguidos de Groenlândia e Estados Unidos; logo após, encontram-se Canadá, Rússia, Egito, Austrália, Brasil, Europa e, em menor proporção, parte da América do Sul e Ásia e África. Mercadoria exportada mundialmente Dados não disponíveis <0.5% 0.5-1% 1-3% 3-10% >10% Figura 1 – Divisão das exportações mundiais do ano de 2020 Disponível em: https://bit.ly/3nWT4of. Acesso em: 4 nov. 2021. 13 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO 1.1 História do comércio exterior no Brasil A história do comércio exterior do Brasil começa no período colonial, com a descoberta do Brasil pelos portugueses, passando pelo período imperial, no qual o Brasil tornou-se independente de Portugal, organizando-se politicamente como uma monarquia, sob o governo do imperador, cujo poder foi transmitido de maneira hereditária, entrou no período da chamada “República Velha”, cujo início se deu com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, e encerrou-se com a deposição de Washington Luís, como consequência da Revolução de 1930. Internacionalmente, os anos de 1930 foram marcados pelo crescimento da hostilidade no continente europeu, onde se traçava o caminho para a Segunda Guerra Mundial. Na Itália, Benito Mussolini governava sob um regime fascista desde 1925. A Era Vargas e o Brasil democrático deram-se com o gaúcho Getúlio Vargas, que chegou ao poder por meio do golpe de estado organizado pela Aliança Libertadora, comumente chamado de Revolução de 30. A partir de então, iniciou-se o Governo Provisório de Getúlio Vargas. A nova Constituição elaborada por ele foi bem recebida pela população, que teve seus direitos ampliados a partir da nova Carta. A ditadura militar no Brasil durou 21 anos, teve cinco mandatos militares e instituiu 16 atos institucionais – mecanismos legais que se sobrepunham à constituição. Nesse período houve restrição à liberdade e repressão aos opositores do regime. Vale lembrar ainda que eram tempos de Guerra Fria e havia o medo de um suposto “perigo comunista”. Após mais de 20 anos de ditadura militar, o Brasil passou por um processo de abertura política e reintegração das instituições democráticas, em um período chamado de redemocratização. A ditadura militar, instaurada em 1964, foi responsável por uma forte censura e opressão aos direitos democráticos. Ao chegar a década de 1990, ocorre a globalização, em um dos processos de aprofundamento internacional da integração econômica, social, cultural e política, impulsionando os mercados internacionais, em redução de tempo, de custos dos meios de transporte e de comunicação entre os países. Faremos agora uma análise mais profunda na História. Saiba mais Sobre a Guerra Fria e o impacto na economia internacional, consulte o livro: FARIA, R. M.; MIRANDA, M. L. Da Guerra Fria à Nova Ordem Mundial. São Paulo: Contexto, 2003. Disponível em https://bit.ly/305vVYL. Acesso em: 9 nov. 2021. 14 Unidade I 1.1.1 Período colonial (1500-1822) A descoberta do Brasil pelos portugueses é parte do processo das grandes navegações. Pedro Álvares Cabral foi o líder de uma expedição composta por 13 embarcações e cerca de 1.200 homens. O primeiro ponto do Brasil avistado pelos portugueses foi a região do Monte Pascoal, na Bahia, no dia 22 de abril de 1500. Os portugueses não desembarcaram naquele dia, e somente em 23 de abril de 1500 é que Cabral permitiu que um batel (bote), liderado por Nicolau Coelho, fosse enviado à terra. Lá houve o primeiro contato com os indígenas, acontecimento relatado por Pero Vaz de Caminha. Alguns dos nativos foram levados à presença de Cabral, e o interessante relato deixado pelo escrivão demonstra a diferença cultural. Vejamos um trecho: “Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo: pegaram-no logo com a mão e acenavam para a terra, como a dizer que ali os havia. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso dele; uma galinha: quase tiveram medo dela – não lhe queriam tocar, para logo depois tomá-la, com grande espanto nos olhos. Deram-lhe de comer: pão e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada de tudo aquilo. E se provavam alguma coisa, logo a cuspiam com nojo.” A revelação do Brasil pela Carta de Pero Vaz de Caminha faz com que um futuro incondicional para a realidade brasileira [...]. A terra é cheia de graça e a consciência naturalista nasce a partir do gozo de seus ares e águas. É uma visão do paraíso, onde não importa se em verdade exista ouro ou prata ou pedras preciosas. Já a felicidade simples dos sentidos esclarece aos homens que o paraíso existe. E que nele tudo será possível, toma conhecimento da tão desejada novidade: a existência de um novo mundo. Concreto. Imediato. Rico de cores, calor, árvores, frutos, pássaros, cantos, frescura. A terra é ampla, imensa na linha do horizonte. Nela a vista penetra nos arvoredos por léguas e léguas. O céu é limpo; os portos, seguros. As águas são ricas de peixes e a caça é fácil e alegre [...]. Mas logo depois o espírito da palavra de Pero Vaz de Caminha começa a perder-se. Para a conservação das riquezas ameaçadas, os portugueses mudam de número e de natureza. Já não mais a serena amorável relação. Mas a tomada do poder. O paraíso se modifica lentamente. Modifica-se a vida. O claro imediato sentido da existência se vê superado pela convicção colonizadora e imperialista. O colonizador perde sua visão do paraíso... Fonte: Castro (2013, p. 91). 15 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Saiba mais O texto completo da Carta de Pero Vaz de Caminha, com o comentário do professor Silvio Castro, um dos maiores estudiosos do assunto no Brasil, pode ser lido em seu livro: CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2013. A figura 2 mostra o Dia de Pascoela, comemoração religiosa celebrada sete dias depois da Páscoa, primeira missa na história do Brasil, celebrada e conduzida pelo Frei Henrique de Coimbra, que havia navegado com a comitiva de Cabral em Santa Cruz de Cabrália, na Praia da Coroa Vermelha, no sul da Bahia. Figura 2 – Primeira missa na história do Brasil Disponível em: https://bit.ly/2Yff05d. Acesso em: 4 nov. 2021. A chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, não tinha intenção de que houvesse colonização em si, a prioridade portuguesa era a exploração da terra e, principalmente, do pau-brasil. Foi nessa época a primeira “exportação” não oficial do país, a saída do pau-brasil de nossas terras. Em 1530, o governo português implantou o sistema de capitanias hereditárias no Brasil. Tratava-se de feudos concedidos a nobres, burocratas e militares, cedido-lhes autonomia para administrar, cobrar impostos e tributos e repassar à Coroa através de cartas de doação. Esses impostos incidiam sobre as exportações para fora do reino e sobre as importações feitas por comerciantes estrangeiros. Alguns 16 Unidade I “donativos” ou “subsídios” eram cobrados sobre as importações e exportações. Em cada capitania ou comando, instalou-se uma Provedoria da Fazenda Real com o objetivo de cobrá-los, o que gerou cargos de juízes da alfândega que tinham a função aduaneira. A hereditariedade da provedoria era o juiz da alfândega como chefe, coadjuvado pelo escrivão da alfândega, o feitor, o meirinho do mar, o juiz da balança e alguns guardas. Em 1549, foi criada a Provedoria-Mor da Fazenda Real, ou seja, houve aumento da responsabilidade, incluindo também a representação da coroa na defesa militar, comandando muitas vezes a defesa das capitanias contra invasores em busca de metais preciosos. Os principais impostos aduaneiros não eram cobrados no Brasil, mas sim diretamente em Portugal, uma vez que somente mercadorias vindas de Portugal poderiamentrar no Brasil. Em 1566, foi criado, oficialmente, o sistema aduaneiro do Brasil com a criação da Alfândega do Rio de Janeiro; a outorga do Foral da Alfândega Grande de Lisboa, em 1587, modelo de toda a regulamentação aduaneira posterior, vigorando até 1832. A partir do fechamento dos portos brasileiros aos navios estrangeiros, em 9 de fevereiro de 1591, era permitida a entrada somente com a permissão prévia da coroa. Em 1605, proibiu-se completamente o comércio com embarcações estrangeiras com o intuito de prejudicar os holandeses e os ingleses. A descoberta do ouro, que os paulistas haviam encontrado em Minas Gerais, revolucionou o comércio internacional, tornando-se muito difícil o controle, para o governo Português, sobre a quantidade de mercadoria nos portos brasileiros. Fechar os portos seria uma sugestão ao contrabando, ainda mais pela extensão da costa brasileira. A solução foi liberar de maneira controlada o comércio e mantendo a proibição de comércio direto com outros países, tudo era intermediado pela coroa. À medida que o Ciclo do Ouro aumentava, bem como sua importância, o comércio exterior também crescia no Brasil. Por volta de 1770, foram extinguidas as velhas provedorias e iniciaram-se as alfândegas autônomas, desobrigando-as da arrecadação dos impostos internos. Observação Feudos eram terras ou direitos concedidos por um senhor a um vassalo (aquele que é súdito de um soberano) em troca de serviços. A aduana ou alfândega é um órgão que controla e fiscaliza o fluxo internacional de bens, mercadorias e veículos em suas fronteiras internacionais de bens, mercadorias e veículos, encarregada também por cobrar os tributos incidentes desses produtos. Ao longo do século XV, os portugueses realizaram uma série de expedições de exploração do Oceano Atlântico. 17 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Figura 3 – Caravela da Expedição Portuguesa Disponível em: https://bit.ly/3bJzBlg. Acesso em: 4 nov. 2021. No primeiro momento, o Rio de Janeiro, que ocupava uma posição estratégica no litoral sul, na Baía de Guanabara, passou a desempenhar um importante papel portuário e comercial. O quadro secundário que ocupara até então, se comparado ao de outras regiões da América portuguesa que abasteciam os cofres da coroa lusitana, seria profundamente modificado a partir da mineração e das atividades em seu entorno. O porto do Rio de Janeiro (figura 4) tornou-se o principal centro exportador e importador, por onde saíam ouro e diamantes e entravam escravos e produtos manufaturados, entre outros. Além disso, a necessidade de aprimorar e controlar a arrecadação de impostos na região mineira, o aumento do contrabando e a maior proximidade com a bacia do Rio da Prata – objeto do desejo da monarquia portuguesa – explicam a transferência da sede do governo da América portuguesa de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, após ver-se ameaçada pelo poderio napoleônico daquela época. Calcula-se que, entre 1650 e 1700, a média de embarcações transportando mercadorias diversas de Portugal para a sua colônia americana chegasse a 68, um número considerável ante os recursos disponíveis. Saindo de Lisboa, os barcos cruzavam o Atlântico em frotas ou comboios, convivendo com o risco por parte de piratas e contrabandistas. As tempestades também prejudicavam a navegação, alterando o ritmo da chegada ou da partida das naves – todas de nacionalidade portuguesa. Do porto do Rio de Janeiro, partiam embarcações com açúcar, toras de pau-brasil, couro, barbatanas de baleia e ouro. Em 1699, segundo o historiador Gustavo Barroso (1961, p. 38), foram enviadas para o tesouro lusitano “35 arrobas de ouro em barra. Isto é o que foi legalmente registrado. Pode-se calcular outro tanto passado facilmente em contrabando”. 18 Unidade I Chegou ao Rio de Janeiro, em 28 de janeiro de 1808, a família real portuguesa, tendo como rei Dom João VI, que, junto a sua família, provocaram mudanças significativas, tanto na cidade como na própria colônia. Para escoltar sua corte até o continente americano, os portugueses acionaram a frota inglesa, ao chegar a este lado do Império, assinando o Tratado Econômico de Abertura dos Portos “às nações amigas”, que foi um tratado entre Portugal e Inglaterra. A conjuntura política vivida pela coroa portuguesa, dependente da Inglaterra, impôs um alto protecionismo aos comerciantes ingleses, favorecidos por uma tarifa de 15%, enquanto todos os demais, inclusive os portugueses, pagavam 24% ad valorem, e que permitia que estrangeiros exportassem produtos coloniais (açúcar, algodão, tabaco), com exceção do pau-brasil, e importassem mercadorias europeias, especialmente inglesas. Na época, essas transformações foram responsáveis por alterar as relações de importação/ exportação no Brasil, bem como por modificar a matriz de produtos movimentados. Figura 4 – Rio de Janeiro 1800 Disponível em: https://bit.ly/3DOdOWe. Acesso em: 23 nov. 2021. Saiba mais Acesse conteúdo sobre a evolução do sistema aduaneiro no Brasil em: GODOY, J. E. P. Aspectos gerais da evolução do sistema aduaneiro do Brasil. Receita Federal. [s.d.] Disponível em: https://bit.ly/309x55T. Acesso em: 23 nov. 2021. 19 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO 1.1.2 Período do Império (1822-1889) Durante o Império, o café era o principal produto de exportação e gerador de renda. Uma expressão muito comum no Império afirmava que o Brasil é o café e o café é o negro. A produção do café, que ganhou importância enorme por volta de 1830, dependia do trabalho escravo. Havia incentivo para produtores e exportadores, e o interesse pela bebida era crescente em alguns mercados consumidores, especialmente Estados Unidos e Europa. Em 1844, o governo brasileiro extinguiu o Tratado Comercial com a Grã-Bretanha. Essa medida aumentou o custo dos produtos importados, estimulando a instalação de algumas indústrias no país. As exportações de café aumentaram, mas a balança comercial ainda era desfavorável para o Brasil. O Vale do Paraíba foi a primeira região em que a produção se expandiu: inicialmente no território da província do Rio de Janeiro, depois na província de São Paulo. Na última década do Império, o café representava 60% do total de exportações do Brasil. Com a expansão da produção açucareira no interior do estado de São Paulo, criou-se, no final do século XVIII, o primeiro caminho pavimentado de transposição da Serra do Mar, facilitando o acesso até o porto de Santos (figura 5). Batizado de Calçada do Lorena, foi utilizado também para as exportações de café em grãos, a partir de 1795. Isso ocorreu enquanto o açúcar, produto muito importante no Brasil Colônia, entrava em crise. Os velhos engenhos foram desaparecendo, o açúcar brasileiro começou a sofrer cada vez mais a concorrência do que era produzido nas possessões francesas das Antilhas e em outras partes do globo; além disso, na Europa, cada vez mais se utilizava açúcar extraído da beterraba. Figura 5 – Porto de Santos 1870 Disponível em: https://bit.ly/3cKx8ra. Acesso em: 23 nov. 2021. 20 Unidade I O percurso da economia do café variou, ao longo do século XIX. Iniciou-se no Vale do Paraíba e foi se deslocando para a região paulista de Campinas, depois cada vez mais para o oeste da província. O espaço geográfico da produção do Vale do Paraíba era limitado; o solo, que já não era de boa qualidade, começou a sofrer o processo de erosão, pois na época não havia técnicas de conservação do solo, nem preocupação com isso. Pessoas que tinham acumulado fortuna em atividades urbanas, na província de São Paulo, começaram a plantar em uma nova região, no oeste paulista (Assis, Bauru, Marília). Ali havia um espaço muito maior para se plantar e a terra era de qualidade superior, a chamada terra vermelha, que os imigrantes italianos chamaram de terra rossa (terra vermelha, em italiano, mas que ficou por isso conhecida como terra roxa). Conscientes do momento histórico que estavam vivendo, os cafeicultores do oeste paulistase deram conta de que não seria possível contar eternamente com a escravatura e começaram a substituir a mão de obra escrava pela dos imigrantes. Os cafeicultores do Vale do Paraíba, os velhos barões do café, não conseguiram se adaptar aos novos tempos e acabaram arruinando com o fim do sistema escravista. No período que vai de 1850 até o fim da monarquia o Brasil passou por um processo de modernização. Várias coisas foram feitas no sentido de obter uma integração maior do país, do ponto de vista financeiro e das comunicações. A integração financeira se fez principalmente por meio do grande avanço do sistema bancário. A integração espacial, geográfica, foi marcada pela introdução de um meio de transporte que representava uma revolução, a estrada de ferro. No Nordeste, a expansão da rede ferroviária esteve ligada a uma empresa inglesa, a Great Western, que interligou várias partes de Pernambuco e da Bahia. Mas o coração da expansão ferroviária durante o Império se situou em São Paulo e no Rio de Janeiro, pois o café precisava chegar aos portos para ser exportado. Além do café, outras culturas se destacaram como produto de exportação. O cacau, produzido na Bahia, a borracha, explorada na bacia do rio Amazonas, e o algodão, cultivado em larga escala no Maranhão, Pernambuco e Ceará, passam a ser produtos expressivos na economia brasileira. Em 1860 o algodão chega a ser o segundo produto de exportação nacional. A expansão de sua cultura, nesse período, é consequência da Guerra de Secessão norte-americana (1861-1865), que desorganiza a produção algodoeira dos Estados Unidos. A pecuária, embora voltada para o mercado interno, é a mais importante atividade econômica na região centro-sul. Também é responsável pela efetiva ocupação e povoamento do chamado Triângulo Mineiro e sul do Mato Grosso. 1.1.3 Primeira República (1889-1930) A Primeira República foi caracterizada pela agricultura de exportação, na qual o café ocupava o posto mais importante. A partir de 1880, e por quase 30 anos, a borracha da Amazônia foi o segundo produto de exportação, superando o açúcar. Era grande a demanda desse produto no que hoje chamamos de Primeiro Mundo: no início, quando se difundiu a moda da bicicleta, com pneus de borracha; e, depois, com o surgimento do automóvel. A riqueza gerada por ela mudou a fisionomia de Manaus e Belém, as capitais do Norte. Quem nunca teve benefícios foi o seringueiro, que trabalhava na mata. Mas, por volta de 1910, começou a crise; em primeiro lugar pela competição das plantações inglesas da Malásia, na Ásia; além disso ocorreu aqui o ataque de uma série de pragas. Nos negócios do café, o capital estrangeiro atuou de duas formas. A exportação esteve praticamente nas mãos de grandes empresas estrangeiras – americanas, alemãs e inglesas. Além disso, determinados grupos financeiros forneciam recursos para valorizar o produto: se o preço do café no mercado internacional estivesse muito baixo, ele era retido nos portos, mas o produtor era pago com recursos obtidos no exterior. 21 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Figura 6 – Colheita de café, século XX Disponível em: https://bit.ly/3r8pShz. Acesso em: 23 nov. 2021. A riqueza acumulada com o café dinamizou o mercado consumidor e estimulou o desenvolvimento industrial. Em 1910 o Brasil possuía cerca de 3.500 indústrias. Dez anos mais tarde já eram 13 mil estabelecimentos industriais. Destes, 5.936 surgiram entre 1915 e 1919, em consequência das dificuldades de importação durante a Segunda Guerra e da política de incentivo à industrialização dos governos republicanos. Em 1924, o país produziu 99% dos sapatos consumidos internamente, 90% dos móveis e 86% dos têxteis. A indústria de alimentação foi a que mais cresceu nas primeiras décadas da República e chegou a representar 40% dos estabelecimentos industriais do país. No início do século XX, o capital estrangeiro ampliou sua presença no Brasil, principalmente o norte-americano. A indústria da carne foi dominada pelos frigoríficos Wilson, Armour, Swift e Anglo; os vagões ferroviários eram feitos pela fábrica norte-americana Pullman e os automóveis que circulavam no país eram da Ford ou da General Motors. Na siderurgia, os franceses e belgas tomaram a dianteira com a Companhia Belgo-Mineira. Dos 14 bancos existentes em 1910, sete são estrangeiros. 1.1.4 Era Vargas e o Brasil democrático (1930-1964) A Era Vargas foi o período de 15 anos da história brasileira, que se estendeu de 1930 a 1945 e no qual Getúlio Vargas era o presidente do país. A ascensão de Vargas ao poder foi resultado direto da Revolução de 1930, que destituiu Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes (presidente eleito que assumiria o país). Getúlio Vargas desenvolveu uma intensa política de promoção da indústria e interveio fortemente na economia. 22 Unidade I A fim de estabelecer o comércio internacional e solidificar a estrutura decorrente desse setor para seu governo, Getúlio formulou dois objetivos principais para a condução das atividades econômicas brasileiras: primeiro, restaurar e incrementar as vendas de matérias-primas e produtos alimentícios; e, em segundo, simultaneamente, estimular o comércio exterior de uma maior gama de produtos, com vistas a reduzir a dependência em torno do café e suas eventuais flutuações (Hilton, 1977, p. 10). Baer (1988) destaca que a limitação das importações provocou carências no mercado interno, porém, a demanda por bens estrangeiros permaneceu no mesmo patamar, por curto tempo, devido à sustentação da renda no setor cafeeiro, como resultado da política de valorização mantida pelo governo. Ainda segundo Baer, houve uma simultânea expansão de atividade industrial no período, porém, sem que fosse possível aumentar as importações de maquinários. A alternativa encontrada foi a utilização da capacidade ociosa instalada, em especial no setor têxtil. Nesse contexto, a primeira década do Regime Vargas foi marcada pela constante deterioração dos termos de troca, prejudicando o desempenho da economia, a renda do setor agroexportador e, enfim, a capacidade de importar. Para enfrentar essa situação difícil, o Governo valeu-se do instrumento da taxa cambial, praticando uma política de frequente desvalorização da moeda, o que lhe permitiu amenizar os efeitos da diminuição e importância da atividade agrícola. Durante o Governo Provisório Vargas, em agosto de 1931, foi suspenso o pagamento da dívida externa, quando no mesmo ano se iniciou a política de valorização do café, bem como a criação do Conselho Nacional do Café, com o objetivo de superar a crise de superprodução do café e do Instituto do Açúcar e do Álcool, para coordenar a agricultura canavieira, controlar a produção, o comércio, exportação e os preços do açúcar e do álcool de cana. Vargas permaneceu no poder até 1945, quando foi forçado a renunciar à presidência em virtude de um ultimato dos militares. Com sua saída do poder, foi organizada uma nova Constituição para o país e iniciada outra fase da nossa história: a Quarta República (1946-1964). A Quarta República, também conhecida como República Populista, foi um período da história brasileira iniciado em 1946, com a posse de Eurico Gaspar Dutra, e finalizado em 1964, com o Golpe Civil-Militar que marcou o início da Ditadura Militar no Brasil. A República Populista foi marcada por intensas tensões políticas e pela política desenvolvimentista do Brasil. A expansão industrial continuou no pós-Segunda Guerra e, em meados da década de 1950, a indústria supera a agricultura na composição do produto nacional bruto (PNB). Entre 1945 e 1960, a crise é agravada pelo crescente desequilíbrio da balança comercial. A queda das exportações de produtos agrícolas, o pagamento de elevados fretes e seguros para os produtos importados e as remessas de lucros das empresas internacionais são os principais fatores de desequilíbrio. No governo João Goulart, a dívida externa do país corresponde a 43% da renda obtidacom as exportações. 23 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO 1.1.5 Regime Militar (1964-1985) No início do Regime Militar, a inflação chegou a 80% ao ano, o crescimento do PNB foi de apenas 1,6% ao ano e a taxa de investimentos, quase nula. Diante desse quadro, o governo adotou uma política recessiva e monetarista, consolidada no Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg), elaborado pelos ministros da Fazenda, Roberto de Oliveira Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões. Seus objetivos eram sanear a economia e baixar a inflação para 10% ao ano, criar condições para que o PNB crescesse 6% ao ano, equilibrar o balanço de pagamentos e diminuir as desigualdades regionais. Parte desses objetivos foi alcançada. No entanto, em 1983, a inflação ultrapassou os 200% e a dívida externa superou os US$ 90 bilhões. A economia voltou a crescer no governo Castello Branco. Os setores mais dinâmicos foram as indústrias da construção civil e de bens de consumo duráveis voltados para classes de alta renda, como automóveis e eletrodomésticos. Expandiram-se também a pecuária e os produtos agrícolas de exportação. Os bens de consumo não duráveis, como calçados, vestuário, têxteis e produtos alimentícios destinados à população de baixa renda, tiveram crescimento reduzido ou até negativo. Saiba mais Na galeria de ex-presidentes, pode-se consultar os presidentes que fizeram parte do Regime Militar, como Humberto de Alencar Castelo Branco, Artur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo. BIBILIOTECA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Ex-presidentes. [s.d.] Disponível em: https://bit.ly/3oPdSyH. Acesso em: 17 nov. 2021. Baseado no binômio segurança-desenvolvimento, o modelo de crescimento econômico instaurado pela ditadura contava com recursos do capital externo, do empresariado brasileiro e com a participação do próprio Estado como agente econômico. O PNB cresceu, em média, 10% ao ano entre 1968 e 1973. Antônio Delfim Netto, ministro da Fazenda nos governos de Costa e Silva e Garrastazu Médici e o principal artífice do “milagre”, apostou nas exportações para obter parte das divisas necessárias às importações de máquinas, equipamentos e matérias-primas. O crescimento do mercado mundial, à época, favorecia essa estratégia, mas foi a política de incentivos governamentais aos exportadores que garantiu seu sucesso. Para estimular a indústria, Delfim Netto expandiu o sistema de crédito ao consumidor e garantiu à classe média o acesso aos bens de consumo duráveis. A partir de 1973, o crescimento econômico começou a declinar. No final da década de 1970, a inflação chegou a 94,7% ao ano. Em 1980, bateu em 110% e, em 1983, em 200%. Nesse ano, a dívida externa ultrapassou os US$ 90 bilhões, e 90% da receita das exportações foi utilizado para o pagamento dos juros da dívida. O Brasil mergulhou em nova recessão e sua principal consequência foi o desemprego. 24 Unidade I Em agosto de 1981, havia 900 mil desempregados nas regiões metropolitanas do país, e a situação se agravou nos anos seguintes. 1.1.6 Redemocratização (1985 – 1990) Após o Regime Militar, o Brasil retornou a sua democracia, mas viveu um período de grande estagnação econômica. Os anos de 1980 são conhecidos como a década perdida. Internamente, o país sofreu com a inflação, a dívida externa, dificuldades em conseguir dinheiro externo e instabilidade política. O cenário econômico mundial já vinha sinalizando, desde a década de 1970, para a necessidade de maior integração comercial. A industrialização brasileira, baseada no processo de substituição de importações, e as recorrentes crises cambiais geraram uma política de importações que permitia apenas a entrada no país de bens sem similar nacional ou bens necessários para suprir um eventual excesso de demanda. Essa política apoiava-se em tarifas aduaneiras elevadas, controles discricionários, como uma lista de produtos proibidos, limite máximo anual de compras externas por empresa, entre outros, e regimes especiais de tributação pelos quais uma parcela substancial das importações era favorecida com redução ou isenção da tarifa. Eram necessários depósitos para importação, além de exames rigorosos para importar produtos com similar nacional. Essa política protecionista visava restabelecer o equilíbrio interno diante da crise do petróleo e aprofundar o processo de substituição de importações. Uma das principais medidas da reforma econômica de dezembro de 1979 foi a alteração do sistema tarifário, com elevação das tarifas nominais, predominando assim até 1988, um período de elevada proteção da indústria doméstica. Embora tardiamente, nesse ano de 1988 foram tomadas as primeiras medidas rumo à liberalização comercial brasileira. Segundo Azevedo e Portugal (1998), as principais medidas dessa fase inicial foram: • redução das alíquotas e eliminação do IOF incidentes sobre as importações; • redução da taxa de melhoramento dos portos; • eliminação de alguns regimes especiais de isenção. A intenção do governo era eliminar a redundância tarifária das tarifas legais. Para isso, a tarifa média de importação foi reduzida de 51%, vigente entre 1985 e 1987, para 41%, em 1988. Como o propósito era a diminuição dos custos de produção para facilitar a inserção dos produtos nacionais no mercado internacional, a tarifa aduaneira média foi reduzida de 44% para 35%, redução essa que atingiu mais o setor de insumos básicos. Ainda alguns regimes especiais de importação, os quais atingiam 15,8% das importações totais, foram eliminados com o intuito de tornar a economia nacional mais competitiva. Um grande passo nesse período foram as Diretas Já, movimento do povo brasileiro reivindicando por eleições presidenciais diretas no Brasil, pós-ditadura militar, ocorrido entre 1983 e 1984. A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República no Brasil se concretizaria com a votação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso. 25 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Figura 7 – Congresso Nacional 1984 Disponível em: https://bit.ly/3oXvGaZ. Acesso em: 23 nov. 2021.1.1.7 Globalização (1990 a atualidade) Em 1990, com o novo governo, Fernando Collor de Melo, eleito pelo povo, iniciou-se a segunda fase do processo de liberalização, alterando drasticamente o panorama econômico nacional. O Brasil implementou a abertura comercial, que é caracterizada pela abertura da economia de um país a fim de facilitar o recebimento de mais bens e serviços importados. Para isso, um dos principais fatores é a redução do imposto de importação e o incentivo às exportações. Por outro lado, a indústria do país, que era protegida pelos impostos sobre os importados, passou a ter competidores, o que a forçava a melhorar sua qualidade. A meta do governo era criar condições para que o Brasil participasse mais intensamente do comércio internacional. Nesse sentido, foram aprofundadas de maneira substancial as mudanças no regime de importações. As medidas mais importantes para implementar essa reforma foram: • eliminação das restrições não tarifárias; • manutenção da redução gradual das alíquotas de importação; • abolição de grande parte dos regimes especiais de importação. A fim de ampliar o grau de inserção do Brasil na economia mundial, foram revogadas várias barreiras não tarifárias. Entre elas, destacamos a liberação para importação de uma lista com aproximadamente 1.200 produtos; o fim da obrigatoriedade de financiamento externo para importações acima de 200 mil dólares; além de um conjunto de medidas que visavam facilitar o financiamento de produtos importados. No que diz respeito às alíquotas de importação, foi implementado, a partir de janeiro de 1991, com o término previsto para dezembro de 1994, um cronograma de redução tarifária, cuja meta era a queda gradual tanto da tarifa média quanto da modal, bem como do desvio-padrão. Entretanto, houve 26 Unidade I antecipação de seis meses quanto ao término desse cronograma,para que a redução dessas tarifas pudesse auxiliar o plano de estabilização de preços de 1994. Assim, em virtude da necessidade de se disciplinar os preços domésticos dos produtos importáveis, ampliou-se o acirramento da competição externa. Também foi eliminada grande parte dos regimes especiais de importação, com exceção daqueles vinculados à Zona Franca de Manaus, às exportações e aos acordos internacionais. Assim, devido à recessão do período, a partir de 1990, mantiveram-se estagnadas até 1992, as importações sob tais regimes. Os fluxos comerciais se intensificaram e foi criado o Mercosul. Na mesma década também foi instituída a Organização Mundial de Comércio (OMC), organismo multilateral responsável pela regulamentação do comércio. Saiba mais MAPA. OMC – Organização Mundial de Comércio. 18 nov. 2016. Disponível em: https://bit.ly/3ojrW33. Acesso em: 11 nov. 2021. A partir dos anos 1990, com a globalização representando a integração, em nível mundial, das diferentes localidades através dos avanços promovidos no campo dos transportes e das comunicações, proporcionando uma relação global em níveis culturais, econômicos, políticos e, consequentemente, sociais, o Brasil entrou num ciclo de crescimento. A partir do final da última década do século XX, após sucessivas crises que colocaram em risco o Plano Real, o país começou a demonstrar uma força maior nas exportações, gerando contradição, sobretudo nos anos 1990 e início dos anos 2000, no qual ocorreu aumento de emprego e a produção e venda de maior número de aparelhos tecnológicos. Por outro lado, houve o aumento da precarização do trabalho e da concentração da renda, uma vez que nesse período ocorreu a abertura de capitais, aumentando a chegada de novas indústrias, companhias multinacionais e privatizações das empresas estatais no Brasil, instalando-se aqui para ampliar o seu mercado consumidor e, também, para buscar mão de obra barata e maior acesso às matérias-primas. Isso acarretou uma maior produção de emprego, porém com condições de trabalho mais precarizadas. Saiba mais A abertura comercial na década de 1990 foi feita sem a devida estruturação de leis que protegessem o mercado nacional da invasão dos produtos importados. Leia mais em: CORSEUIL, C. H.; KUME, H. (Coords.). A abertura comercial brasileira nos anos 1990: impactos sobre emprego e salário. Rio de Janeiro: IPEA; Brasília: MTE, 2003. 27 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO A partir dos anos 2000, o comércio exterior brasileiro aumentou num ritmo mais potente. O crescimento econômico mundial, o aumento dos preços internacionais de produtos básicos, ou seja, aqueles que guardam suas características próximas ao estado em que são encontrados na natureza, com baixo grau de elaboração, e a diversificação dos mercados importadores e maior produtividade da indústria nacional são fatores que favoreceram o dinamismo das exportações brasileiras. Em 2001, o mundo sofreu com o atentado de 11 de setembro às Torres Gêmeas, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington, que deixou um balanço de cerca de três mil mortos, provocou também uma drástica queda nas bolsas, arrebatando o mundo inteiro. Esse foi um grande choque para o comércio exterior, uma vez que milhares de negociadores internacionais morreram em suas missões de facilitar o comércio mundial. O Brasil, junto a outros países com características econômicas em comum e emergentes, a partir de 2006, passou a ser um mecanismo internacional. Isso porque Brasil, Rússia, Índia e China decidiram dar um caráter diplomático a essa expressão Bric, na 61º Assembleia Geral das Nações Unidas. Após 2011, com a entrada da África do Sul, formou-se o Brics (o “S” vem do nome do país em inglês: South African). Não se trata de um bloco econômico ou uma instituição internacional, mas de um mecanismo internacional na forma de um agrupamento econômico composto por cinco países (figura 8), sendo Brasil, representado pela então presidente Dilma Rousseff, Rússia representada pelo presidente Vladimir Putin, Índia representada pelo premiê indiano, Narendra Modi, China representada pelo presidente Xi Jinping e África do Sul representada pelo presidente Jacob Zuma. Figura 8 – Líderes do Brics em 2011 Disponível em: https://bit.ly/3o3ImfM. Acesso em: 5 nov. 2021. 28 Unidade I Atualmente, o Brics é detentor de mais de 23% do PIB mundial, representando 42% da população mundial, 45% da força de trabalho e o maior poder de consumo do mundo. Destaca-se também pela abundância de suas riquezas nacionais e as condições favoráveis que atualmente apresenta para explorá-las. Em 2008, deu-se a grande recessão provinda de uma “bolha” do colapso do mercado imobiliário dos Estados Unidos. O Fundo Monetário Internacional declarou essa como a segunda pior crise de todos os tempos, perdendo apenas para a Grande Depressão (1930). O comércio internacional foi afetado negativamente nesse período em todos os Estados Unidos e América do Sul, reduzindo o valor das mercadorias. Enquanto isso, os gigantes asiáticos se desenvolviam em busca de ocupar posições no mercado internacional. As incertezas e os efeitos econômicos trazidos pela irrupção da pandemia de covid-19 no início de 2020 geraram um rápido movimento de revisão de projeções para o desempenho da economia mundial. As preocupações se estenderam ao comércio mundial, criando expectativas de uma queda forte das exportações e importações ao redor do mundo. Felizmente, as piores previsões não se confirmaram, e o desempenho do comércio mundial foi, nesse ano, surpreendentemente favorável em vista da gravidade do cenário. Na verdade, na crise, o comércio teve um desempenho bem diferente do observado em outros momentos de recessão mundial (IPEA, 2020). Saiba mais Saiba mais sobre a crise imobiliária dos Estados Unidos em 2008. NASCIMENTO, C. Entendendo de uma forma sucinta a bolha imobiliária norte americana. Administradores.com. [s.d.] Disponível em: https://bit.ly/3n50J4L. Acesso em: 11 nov. 2021. 1.2 Contextualização do Brasil no Comércio Internacional O comércio é uma atividade que remonta ao surgimento da humanidade. Desde o princípio da Antiguidade, o comércio é uma prática comum entre as diversas civilizações. No entanto, o conceito de comércio internacional exige a formação das nações, ou seja, dos países. Nesse sentido, o comércio internacional é um fenômeno após a consolidação do Estado Moderno (REZENDE FILHO, 2008). Com a abertura para o comércio internacional iniciada pelo governo do Fernando Collor de Mello e intensificada pelos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, passou o Brasil a acentuar o seu processo de internacionalização, aumentando, significativamente, suas importações e suas exportações. Em dezembro de 2020, o Brasil ocupava, no ranking de exportadores mundiais o 26º lugar e, como importador, o 28º lugar, como podemos verificar na tabela a seguir. 29 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Tabela 1 – Ranking do Brasil nas exportações e importações mundiais no ano de 2020 Posição Exportação Posição Importação 1 China 1 Estados Unidos 2 Estados Unidos 2 China 3 Alemanha 3 Alemanha 4 Japão 4 Japão 5 Coreia do Sul 5 Reino Unido 6 Países Baixos 6 Hong Kong 7 França 7 França 8 Hong Kong 8 Coreia do Sul 9 Itália 9 Países Baixos 10 Reino Unido 10 Índia 11 Canadá 11 Canadá 12 México 12 Itália 13 Singapura 13 México 14 Rússia 14 Espanha 15 Taiwan 15 Singapura 16 Espanha 16 Bélgica 17 Suíça 17 Taiwan 18 Emirados Árabes Unidos 18 Suíça 19 Índia 19 Rússia 20 Bélgica 20 Emirados Árabes Unidos 21 Tailândia 21 Peru 22 Austrália 22 Polônia 23 Polônia 23 Austrália 24 Arábia Saudita 24 Tailândia 25 Irlanda 25 Vietnã 26 Brasil 26 Malásia 27 Vietnã 27 Áustria 28 Malásia 28 Brasil 29 Indonésia 29 Suécia 30 Peru 30 Indonésia Adaptada de: https://bit.ly/3ys0eWJ. Acesso em: 10 dez. 2021. O Brasil é o maior país da América do Sul e do Hemisfério Sul; compartilhando fronteirascomuns com todos os países da América do Sul, exceto Chile e Equador. Possui a maior parte do Pantanal e tem a maior área úmida tropical do mundo. Considerada, segundo a CIA World Factbook, em 2020, a 8ª economia mundial, com seu PIB em US$ 3.248 bilhões; 4º lugar da maior força de trabalho mundial; 6º maior país do mundo em extensão territorial, com aproximadamente 8,5 milhões de km²; 14º em investimento direto no país (IDP); 7º país mais populoso do mundo, com cerca de 211.715.968 30 Unidade I habitantes, uma ampla variedade de condições de clima em uma topografia variada, contendo 12% da água doce de superfície do planeta e com grande parte do país em região tropical. Observação O investimento direto no país (IDP) é uma modalidade que consiste em receber valores de companhias do exterior para fomentar o crescimento do negócio brasileiro. No Comércio Exterior, o Brasil está no 26º lugar no ranking de exportações somando US$ 209,9 bilhões e em 28º lugar em importações com um total de US$ 153,2 bilhões no ano de 2020. Embora o mundo tenha passado pela pandemia de covid-19 (coronavírus), o comércio internacional manteve-se abaixo de sua capacidade no ano de 2020, mas ainda atuante, mesmo com atrasos em aeroportos, portos e, principalmente, fronteiras terrestres, visto que por diversos períodos alguns países mantiveram fechadas suas fronteiras e decretaram lockdown entre os anos de 2020 e 2021. Houve ainda, nesse período, a falta de contêineres em alguns portos, devido a restrições de alguns países, o que acabava bloqueando a saída deles. Podemos observar, na figura a seguir, uma queda do Brasil tanto nas exportações quanto nas Importações, ficando acima somente do ano de 2016. Observação A tradução da palavra lockdown, do inglês, é confinamento. No cenário pandêmico, é uma imposição do Estado à população e consiste em restringir a circulação da população em lugares públicos, permitindo-a apenas, e de maneira limitada, para questões essenciais. 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 2010 0 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 US $ bi lh õe s Exportações Importações Figura 9 – Fluxos de exportação do Brasil e dos produtos comercializados no ano de 2020 31 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO Al um ín io Pa rt es e a ce ss ór io s do s v eí cu lo s au to m ot iv os To ta l U S$ 2 09 ,9 b ilh õe s Aç uc ar es e m el aç os M in ér io d e fe rr o e se us co nc en tr ad os So ja M ilh o nã o m oí do , e xc et o m ilh o do ce Al go dã o em br ut o Ca fé n ão to rr ad o Ól eo s b ru to s d e pe tr ól eo o u de m in er ai s b et um in os os , cr us M in ér io s d e co br e e se us co nc en tr ad os De m ai s pr od ut os ... Ca rn e bo vi na fr es ca , re fr ig er ad a ou co ng el ad a De m ai s p ro du to s - In dú st ria de tr an sf or m aç ão Ce lu lo se Fa re lo s d e so ja e o ut ro s al im en to s p ar a an im ai s (e xc lu íd os ce re ai s n ão m oí do s), fa rin ha s d e ca rn es e o ut ro s an im ai s Ae ro na ve s e ou tr os eq ui pa m en to s De sp oj os Ge ra do re s Co ur o Ou tr as ... M at ér ia s.. . Al um in a (o xi do de a lu m in io ), ex ce to ... Ca rn e su ín a fre sc a, re fri ge ra da ou co ng ela da M ot or es d e pi st ão , e ... Go rd ur as e ól eo s Ob ra s d e. .. 4, 2% 12 % 14 % 2, 8% 1, 5% 0, 77 % 2, 4% 9, 3% 1, 1% 0, 59 % 3, 5% 3, 0% 2, 9% 2, 7% 1, 3% 1, 1% 0, 49 % 0, 49 % 0, 46 % 0, 49 % 1, 1% 1, 0% 0, 81 % 0. 90 % 0, 76 % 0, 73 % 0, 69 % 0, 69 % 0, 68 % 0, 61 % 2, 6% 2, 4% 2, 3% 1, 8% 1, 5% Ca rn es d e av es e su as m iu de za s co m es tív ei s, fr es ca s, re sf ria da s o u co ng el ad as Ve íc ul os au to m óv ei s d e pa ss ag ei ro s Su co s d e fr ut as ou d e ve ge ta is Pa pe l e ca rt ão Pr od ut os se m i- ac ab ad os , lin go te s e ou tra s fo rm as pr im ár ia s de fe rro o u aç o Fe rr -g us a, sp ie ge l, fe rr o- es po nj a, gr ân ul os e p ó de fe rr o ou a ço e fe rr o- lig as Ól eo s co m bu st ív ei s de p et ró le o ou de m in er ai s be tu m in os os (e xc et o ól eo s br ut os ) Ou ro , n ão m on et ár io (e xc lu in do m in ér io s d e ou ro e se us co nc en tr ad os ) In dú st ria d e Tr an sf or m aç ão A gr op ec uá ria In dú st ria E xt ra tiv a O ut ro s p ro du to s Fi gu ra 1 0 – Sé rie h ist ór ic a da s i m po rt aç õe s e e xp or ta çõ es e nt re 2 01 0 a 20 20 Fo nt e: C om ex S ta t ( s.d .). 32 Unidade I A figura 10 nos mostra que, no ano de 2020, o Brasil exportou um total de US$ 209,9 bilhões, ou seja, vendeu para o mundo, através da indústria de transformação, agropecuária, indústria extrativa e outros produtos, como segue: • Indústria de transformação: representou 55% do total das exportações e US$ 114,8 bilhões, com uma representatividade de 7,6% com açúcares e melaços; 6,5% carne bovina; 5,5% farelos de soja; 5,2% celulose; 4,8% carnes de aves; 4,4% óleos combustíveis; 4,3% ouro (não monetário); 2,4% veículos automóveis; 2,1% aeronaves; 2,0% alumina; 1,8% carne suína; 1,7% partes de acessórios de veículos automotivos; 1,5% motores de pistão; 1,4% sucos de frutas; 48% distribuídos entre instalações e equipamentos, papel e cartão; álcool; calçados; couro etc. • Agropecuária: representou 22% do total das exportações e US$ 46,1 bilhões, com uma representatividade de 62% com a soja; 13% milho, 11% café, 7,1% algodão, 3,5% frutas e nozes e 2,3% demais produtos agrícolas. • Indústria extrativa: representou 23% do total das exportações e US$ 49,1 bilhões, com uma representatividade de 53% em minério de ferro e seus concentrados; 40% óleos brutos de petróleo ou minérios; 4,9% minérios de cobre e seus concentrados e demais produtos 2,1%. • Outros produtos: representou 0,43% do total das exportações e US$ 901 milhões, com uma representatividade de 31% de desperdícios e resíduos de metais preciosos (exceto ouro); 18% de resíduos e sucata de metais ferrosos; 13% de resíduos vegetais, feno, forragens e outros farelos; 7,9% resíduos de metais de base não ferrosos e de sucata; 6,7% em obras de arte; 6,3% de resíduos e serragens de madeira e sucatas; 4,7% material impresso; 4,6 de desperdícios de tabaco; 4,5% de outros produtos e 3,3% outras escórias. Observação Indústria de transformação é a classificação dos sistemas de produção que transformam uma matéria-prima em um bem, por exemplo, transformar aço em máquinas e ferramentas. A indústria extrativa extrai matéria-prima (vegetal ou mineral), por exemplo, petróleo, madeira, minério, carvão mineral etc. A agropecuária é uma atividade desenvolvida no espaço rural, em áreas que se encontram ocupadas pelo setor primário da economia, no qual se destacam a agricultura, a pecuária e as atividades extrativistas. Outros produtos podem ser classificados como todas as demais atividades não classificadas como indústria de transformação, extrativa e agropecuária. 33 SISTEMÁTICA DE IMPORTAÇÃO E EXPORTAÇÃO To ta l U S$ 1 58 ,9 b ilh õe s Pl at af or m as , e m ba rc aç õe s e o ut ra s es tr ut ur as fl ut ua nt es Eq ui pa m en to s d e te le co m un ic aç õe s, in cl ui nd o pe ça s e a ce ss ór io s In se tic id as , r od en tic id as , fu ng ici da s, he rb ici da s, re gu la do re s d e cr es cim en to p ar a pl an ta s, de sin fe ta nt es e se m el ha nt es Ve ícu lo s au to m óv ei s de pa ss ag ei ro s Co m po st os
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