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1 2 SUMÁRIO 1 A CAFEICULTURA E A INDUSTRIALIZAÇÃO .................................. 3 2 ECONOMIA CAFEEIRA..................................................................... 5 3 O DESENVOLVIMENTO DO CAFÉ NO SEGUNDO REINADO ........ 7 4 O CAFÉ E AS NOVAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO ....................... 9 5 O CAFÉ E O CAPITAL INGLÊS ........................................................ 9 6 O CAFÉ E A REPÚBLICA - ECONOMIA CAFEEIRA ...................... 10 6.1 Industrialização regional ............................................................ 11 6.2 Casas Pernambucanas ............................................................. 12 6.3 O café financia a indústria ......................................................... 13 6.4 A indústria beneficia a agricultura ............................................. 16 6.5 Efeitos da I Guerra Mundial ....................................................... 18 6.6 Feiras livres: pressões proletárias ............................................. 19 6.7 Pós-guerra: ainda o café ........................................................... 20 7 BIBLIOGRAFIA ................................................................................ 26 8 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................... 27 8.1 Análise historiográfica sobre a economia cafeeira .................... 27 8.2 Oscilações de preços ................................................................ 31 8.3 Expansão da cultura cafeeira .................................................... 33 8.4 Crise cafeeira ............................................................................ 36 8.5 Mão de obra cafeeira................................................................. 39 8.6 Surgimento das indústrias ......................................................... 43 3 1 A CAFEICULTURA E A INDUSTRIALIZAÇÃO A economia brasileira durante a República Velha centrou-se em torno do café. Os processos de urbanização e o início da indústria no Brasil estão ligados a esse produto. A cultura do café constituiu, no período da República Velha, sobretudo na fase conhecida como “república dos oligarcas” (1894-1930), o principal motor da economia brasileira. Esse produto liderava a exportação na época, seguido da borracha, do açúcar e outros insumos. O estado de São Paulo capitaneava a produção de café neste período e também determinava as diretrizes do cenário político da época. Da economia cafeeira, resultam três processos que se complementam: a imigração intensiva de estrangeiros para o Brasil, a urbanização e a industrialização. Desde a segunda metade do século XIX, ainda na época do Segundo Império, a imigração de estrangeiros, sobretudo europeus, foi fomentada pelo governo brasileiro. O motivo de tal fomento era a necessidade de mão de obra livre e qualificada para o trabalho nas lavouras de café. Haja vista que, gradualmente, a mão de obra escrava, que era utilizada até então, tornou-se objeto de densa crítica e pressão por parte de grupos políticos abolicionistas e republicanos. Em 1888, efetivou-se a abolição da escravidão e, no ano seguinte, realizou-se a Proclamação da República, fatos que intensificaram a imigração e também a permanência dos imigrantes nas terras trabalhadas, tornando- se colonos. Algum tempo depois, especificamente após o término da Primeira Guerra Mundial, em 1918, uma nova onda migratória se dirigiu ao Brasil. Nessa época, a economia cafeeira se transformou num complexo econômico com várias extensões. Os imigrantes que vinham à procura de trabalho nas lavouras de café acabavam, muitas vezes, deslocando-se para os núcleos urbanos que começavam a despontar nessa época. O processo de urbanização de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo se desenvolveu, em linhas gerais, para facilitar a distribuição e o escoamento do café, que era direcionado à exportação. A 4 ampliação das linhas férreas que ocorreu neste período, por exemplo, foi planejada para tornar mais fluido esse processo. Fonte: revistacafeicultura.com.br A presença dos imigrantes nos centros urbanos, por sua vez, como informa o historiador Boris Fausto, em sua História do Brasil, proporcionou o aparecimento de empregos urbanos assalariados e outras fontes de renda como artesanato, fabriquetas de fundo de quintal e a proliferação de profissões liberais. A junção dessas novas formas de trabalho do imigrante com a estrutura urbana desenvolvida pelo complexo cafeeiro favoreceu o fluxo de produtos manufaturados e o consequente desenvolvimento das indústrias nos centros urbanos. Por volta de 1880, já existia a presença de várias fábricas no Brasil, mas sem uma estrutura realmente significativa. Contudo, por volta das décadas de 1910 e 1920, as atividades industriais já eram bastante expressivas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Por meio da intensa exportação de café e importação de outros produtos necessários ao mercado interno brasileiro, várias estruturas de maquinário fabril também aportavam em terras brasileiras, já que muitos produtores de café também passaram a investir nas fábricas. 5 Os principais tipos de atividades industriais do período estavam relacionados aos setores: têxtil (produção de tecido), de bebidas e de alimentos. A modernização agrícola contribuiu decisivamente para a que indústria se desenvolvesse no âmbito dos setores referidos. E, para que houvesse estabilidade na produção industrial, também foi necessário o controle do valor da moeda brasileira. O motivo para esse controle era não correr o risco de ter o principal produto de exportação, o café, desvalorizado no mercado internacional. Então, por vezes, o governo brasileiro priorizava o café, preterindo a atividade industrial. Esse fato demonstra que apenas na Era Vargas, a partir da década de 1930, é que se teve no Brasil uma política econômica realmente voltada ao desenvolvimento industrial pleno. 2 ECONOMIA CAFEEIRA A história da economia durante o Segundo Reinado perpassa inevitavelmente pelo processo de expansão de um novo gênero agrícola: o café. Desde os meados do século XVIII esse produto era considerado uma especiaria entre os consumidores europeus. Ao longo desse período, o seu consumo ganhou proporções cada vez mais consideráveis. De acordo com alguns estudiosos, essa planta chegou ao Brasil pela Guiana Francesa nas mãos do tenente-coronel Francisco de Melo Palheta. Na segunda metade do século XVIII, por volta de 1760, foram registrados os primeiros relatos noticiando a formação de plantações na cidade do Rio de Janeiro. Na região da Baixada Fluminense as melhores condições de plantio foram encontradas ao longo de uma série de pântanos e brejos ali encontrados. No final desse mesmo século, as regiões cariocas da Tijuca, do Corcovado e do morro da Gávea estavam completamente tomadas pelas plantações de café. O pioneirismo das plantações cariocas alcançou toda a região do Vale do Paraíba, sendo o principal espaço de produção até a década de 1870. Reproduzindo a mesma dinâmica produtiva do período colonial, essas plantações foram sustentadas por meio de latifúndios monocultores dominados pela mão-de-obra escrava. As propriedades contavam com uma pequena roça 6 de gêneros alimentícios destinados ao consumo interno, sendo as demais terras inteiramente voltadas para a produção do café. A produção fluminense, dependente de uma exploração sistemática das terras, logo começaria a sentir seus primeiros sinais de crise. Ao mesmo tempo, a proibição do tráfico de escravos, em 1850, inviabilizou os moldes produtivos que inauguraram a produção cafeeira do Brasil. No entanto, nesse meio tempo, a região do Oeste Paulista ofereceu condições para que a produção do café continuasse a crescer significativamente.Os cafeicultores paulistas deram uma outra dinâmica à produção do café incorporando diferentes parcelas da economia capitalista. A mentalidade fortemente empresarial desses fazendeiros introduziu novas tecnologias e formas de plantio favoráveis a uma nova expansão cafeeira. Muitos deles investiam no mercado de ações, dedicavam-se a atividades comerciais urbanas e na indústria. Para suprir a falta de escravos atraíram mão-de-obra de imigrantes europeus e recorriam a empréstimos bancários para financiar as futuras plantações. Fonte: resumoescolar.com.br O curto espaço de tempo em que a produção cafeeira se estabeleceu foi suficiente para encerrar as constantes crises econômicas observadas desde o 7 Primeiro Reinado. Depois de se fixar nos mercados da Europa, o café brasileiro também conquistou o paladar dos norte-americanos, fazendo com que os Estados Unidos se tornassem nosso principal mercado consumidor. Ao longo dessa trajetória de ascensão, o café, nos finais do século XIX, representou mais da metade dos ganhos com exportação. A adoção da mão-de-obra assalariada, na principal atividade econômica do período, trouxe uma nova dinâmica à nossa economia interna. Ao mesmo tempo, o grande acúmulo de capitais obtido com a venda do café possibilitou o investimento em infra-estrutura (estradas, ferrovias...) e o nascimento de novos setores de investimento econômico no comércio e nas indústrias. Nesse sentido, o café contribuiu para o processo de urbanização do Brasil. A predominância desse produto na economia nacional ainda apresenta resultados significativos no cenário econômico contemporâneo. Somente nas primeiras décadas do século XX que o café perdeu espaço para outros ramos da economia nacional. Mesmo assinalando um período de crescimento da nossa economia, o café concentrou um grande contingente de capitais, preservando os traços excessivamente agrários e excludentes da economia nacional. 3 O DESENVOLVIMENTO DO CAFÉ NO SEGUNDO REINADO A economia brasileira, no século XVIII, atravessava um período de dificuldades provocadas pelo declínio da economia açucareira e da mineração. A produção de café, iniciada em meio a essa crise, representou a recuperação econômica e a inserção do Brasil no mercado mundial, nos moldes capitalistas. Introduzida no Brasil no início do século XVIII, a cafeicultura ocupou inicialmente as províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. No século XIX, a produção chegou à província de São Paulo, primeiro no vale do Paraíba e, depois, na região denominada Oeste Paulista. O vale do Paraíba fluminense e paulista viveu um período de opulência, em que os grandes proprietários de terras e escravos, que haviam recebido ou comprado títulos de nobreza do governo imperial, eram denominados “barões do https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/economia-acucareira https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/a-mineracao-no-brasil-colonial 8 café”. Cercavam-se de luxo, vivendo em imensas fazendas ornamentadas com objetos importados da Europa. Regiões cafeeiras nos séculos XVIII e XIX. O mercado mundial do café se ampliava, na medida em que o produto deixava de ser um artigo de luxo para se incorporar à cultura e ao consumo cotidiano das populações em diversos lugares do mundo. A participação do café brasileiro no mercado mundial elevou-se de 20% na década de 1820 para mais de 50%, entre 1880 e 1889. O vale do Paraíba, no entanto, deixou de ser a principal região produtora. Embora o clima fosse favorável e a localização geográfica facilitasse o escoamento da produção – graças aos portos da baía de Guanabara e aos portos do litoral sul (Parati, Angra dos Reis etc.) o cultivo extensivo e predatório causou o esgotamento do solo. A partir de 1870, o declínio da cafeicultura no vale do Paraíba acentuou- se, e a produção se expandiu para o Oeste Paulista, inicialmente em tomo de Campinas e Ribeirão Preto, e depois, gradativamente, avançando para o Paraná. No Oeste Paulista, o solo de terra roxa era mais fértil que o do vale do 9 Paraíba. A topografia também era mais favorável, permitindo o cultivo em grandes extensões contínuas de terra, em lugar das encostas de montes do vale do Paraíba. 4 O CAFÉ E AS NOVAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO Estruturada a princípio na grande propriedade agroexportadora e na mão- de-obra escrava, a economia cafeeira, a partir da segunda metade do século XIX, passou a adotar progressivamente o trabalho livre. O tráfico negreiro foi extinto em 1850, e a expansão da lavoura cafeeira no Oeste Paulista aumentava a necessidade de mão-de-obra. Com o objetivo de atrair imigrantes para o Brasil, o governo lançou campanhas na Europa, distribuindo folhetos que prometiam terra e fartura. Os imigrantes europeus, como portugueses, alemães, espanhóis, suíços e italianos, começaram a chegar em grandes levas, alterando as relações de trabalho no Brasil. Ao mesmo tempo, a produção se modernizava e o transporte ferroviário substituía o transporte do produto em tropas de burros, permitindo o escoamento da produção do Oeste Paulista pelo porto de Santos. O comércio exterior se dinamizou, com a exportação crescente de café e a importação de produtos franceses e ingleses para atender aos novos núcleos urbanos, estimulando o desenvolvimento do sistema bancário. 5 O CAFÉ E O CAPITAL INGLÊS A expansão da cafeicultura brasileira deu-se no contexto da Segunda Revolução Industrial, desencadeada sobretudo na Inglaterra. Interessados em expandir seus mercados, os investidores ingleses aplicaram vultosos recursos no Brasil. A influência da Inglaterra na economia brasileira vinha desde os tempos coloniais, e se ampliou quando a família real se transferiu para o Brasil em 1808. Sob ameaça de invasão de Portugal pela França, os portugueses decidiram refugiar- -se no Brasil, contando com o apoio dos ingleses. Em retribuição, o rei https://www.coladaweb.com/historia/segunda-revolucao-industrial https://www.coladaweb.com/historia/segunda-revolucao-industrial 10 dom João declarou o fim do monopólio português sobre o comércio colonial, permitindo o comércio direto dos ingleses com o Brasil. No século XIX, o capital inglês tomou-se ainda mais presente na economia brasileira, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, com investimentos na construção de ferrovias, portos e no transporte urbano. A feição dos centros urbanos se modificou, contando com mais estabelecimentos comerciais, bancos, iluminação, telégrafos, um novo traçado das ruas e, já no final do século XIX, a presença de bondes elétricos, em substituição aos de tração animal. A modernização, contudo, produziu contrastes sociais: as mansões dos barões do café e as melhorias urbanas conviviam com a proliferação dos cortiços. Um dos grandes empresários brasileiros que se destacaram no processo de modernização do Brasil foi Irineu Evangelista de Souza, o barão de Mauá, depois visconde de Mauá. 6 O CAFÉ E A REPÚBLICA - ECONOMIA CAFEEIRA A implantação da economia cafeeira a partir de 1840. Percebeu-se que um conjunto de fatores favoráveis - como o crescimento das exportações de café, o aumento das taxas alfandegárias pela tarifa Alves Branco, a abolição do tráfico negreiro, a vinda de imigrantes europeus a partir de 1850 - permitiu a urbanização e o lento desenvolvimento da indústria. Esse surto industrial foi, entretanto, efêmero, pois a partir de 1860 a lei Silva Ferraz (anulando os aumentos alfandegários) provocou retração no mercado interno e iniciou uma série de falências dos pequenos setores fabris brasileiros. Mas um novo surto industrial originou-se a partir de 1870, estendendo-se até os fins do século XIX. Os investimentos exigidos pela Guerra do Paraguai, a manutenção do Exército, o crescente trabalho assalariado e a expansão cafeeira estimularamesse novo surto. A economia da República Velha De 1889 a 1930, a economia brasileira desenvolveu-se basicamente graças ao acúmulo de capitais oriundos do setor cafeeiro associado aos investimentos estrangeiros. O preço pago foi a 11 manutenção da estrutura latifundiária e da monocultura, que orientavam o tipo de implantação industrial no país. Assim, a indústria brasileira nasceu da fusão de tecnologias importadas com velhos procedimentos herdados do período colonial. Ricos latifundiários dedicados à monocultura cafeeira foram ao mesmo tempo proprietários das primeiras indústrias. 6.1 Industrialização regional Os investimentos estrangeiros predominavam na formação da infraestrutura urbana. Em 1901, capitais ingleses, belgas e franceses instalaram a primeira usina elétrica em São Paulo. Em seguida, em 1904, capitais canadenses e ingleses organizaram a Light Power, que explorou os serviços urbanos de gás, energia elétrica, esgoto, água, transporte e telefone no eixo São Paulo - Rio de Janeiro, enquanto os Estados da Bahia, Paraná, parte de Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul eram abastecidos por outra companhia, também inglesa. Assim, é possível distinguir o crescimento urbano- industrial em diferentes regiões brasileiras, à medida que foram sendo instaladas as infraestruturas das cidades. O Rio de Janeiro contava com os melhores serviços urbanos por ser a capital da República. E isso permitiu que essa cidade se tornasse a sede do maior parque industrial do país (São Paulo a superou apenas na década de 20). O crescimento do Rio de Janeiro deveu-se, em primeiro lugar, aos impostos arrecadados pela União e às taxas do comércio de exportação e importação das mercadorias que transitavam pelo porto carioca. Em segundo lugar, figuravam os capitais excedentes da lavoura cafeeira da Baixada Fluminense (Vale do Paraíba), que eram aplicados na indústria. Somava-se a isso a existência de farta mão-de-obra constituída de ex- escravos que se dirigiam para a cidade do Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida. Formou-se, assim, um exército industrial de reserva, isto é, um excedente de trabalhadores disponíveis que barateava os custos de produção, pois as fábricas ofereciam baixos salários. 12 No começo do século XX, o segundo centro urbano do Brasil era Salvador (BA). Por ter sido uma das economias coloniais de maior desenvolvimento do país, a Bahia dispunha de matérias-primas (como algodão e fumo), de capital (originário da economia de exportação) e de trabalhadores livres capazes de assegurar a criação do setor fabril. Outra cidade nordestina em que a indústria se desenvolveu foi Recife (PE). Lá havia grande quantidade de trabalhadores livres, vindos do interior pernambucano, expulsos do campo pelo processo de modernização dos engenhos de cana-de-açúcar, que se transformaram em usinas. A existência de matéria-prima (algodão) e de um mercado interno regional (representado pela crescente população urbana) permitiu o surgimento das primeiras indústrias pernambucanas de grande porte: o setor têxtil. A companhia têxtil do grupo Lundgrenn, por exemplo, foi o mais bem-sucedido empreendimento fabril da região, pois conseguiu aliar produção e comércio. A fábrica vendia no atacado e no varejo através da criação de uma vasta rede comercial denominada. 6.2 Casas Pernambucanas O caso de Minas Gerais diferencia-se dos exemplos carioca e nordestino. Por sua tradição artesanal, com uma urbanização rápida e dispersa provocada pela economia mineradora do século XVIII, a região mineira abrigou uma infinidade de pequenas fábricas, com capitais e produção reduzidos, que se destinavam ao abastecimento dos mercados regionais. Outra região que passou por um processo de desenvolvimento durante a Colônia e o Império foi o Rio Grande do Sul. Estruturada em pequenas propriedades agrárias, constituiu um mercado consumidor de camponeses ligados a uma atividade agrícola comercial. Aliada a esse fator de monetarização comercial, a existência de contingentes de imigrantes europeus permitiu o desenvolvimento urbano de pequenos mercados locais destinados à produção artesanal. Eram ferreiros, serralheiros, pedreiros, marceneiros, oleiros, tecelões, alfaiates, charreteiros, moleiros, carvoeiros e 13 outros pequenos empresários que acabaram criando as primeiras indústrias de porte moderno do Rio Grande do Sul. A capital, Porto Alegre, destacou-se pela diversificação da produção (fábricas de charutos, de alimentos, curtumes, moinhos, tecelagens) em pequenos estabelecimentos. A preocupação predominante dos setores industriais porto-alegrenses era conquistar o mercado local. Uma indústria gaúcha têxtil e de vestuário que se projetou nacionalmente na década de 10 foi a Rener, mas na década de 20 entrou em declínio devido à concorrência das indústrias similares de São Paulo. Nesse processo de industrialização regional, o Estado de Santa Catarina teve um significativo desenvolvimento fabril. Semelhante à do Rio Grande do Sul, a colonização catarinense baseou- se na imigração europeia, sobretudo a germânica: A produção se destinava a mercados locais constituídos por grande número de pequenos proprietários rurais. A região de Blumenau, em vez de concorrer com as indústrias do eixo Rio-São Paulo, especializou-se num tipo de produção pioneira ligada à malharia, materiais para medicina (gazes, ataduras), tecidos de lã (especiais para os períodos de inverno), porcelana, instrumentos musicais. Por sua especialização, a indústria Hering (de origem germânica) superou as barreiras regionais, conquistando o mercado do Rio Grande do Sul e de São Paulo na primeira década do século XX. 6.3 O café financia a indústria Esses exemplos fabris enquadram-se no que o economista Antônio Barros Castro definiu como industrialização descentralizada. Impossibilitadas de unificar a circulação de mercadorias em todo o território, devido à precariedade dos meios de transporte, as classes burguesas industriais ligavam-se localmente aos produtores agrários e aos capitalistas ingleses, alemães e norte-americanos. A fragilidade econômica da nascente burguesia industrial do país obrigou os capitalistas regionais a se associarem ao capital internacional, sobretudo britânico. 14 Com exceção de Santa Catarina, as demais regiões acabariam sofrendo a concorrência do eixo Rio-São Paulo, tendo que se submeter ao controle especialmente dos paulistas. Mas como ocorreu esse processo de liderança econômica da região de São Paulo? A resposta está na economia cafeeira. A crescente expansão cafeeira, principalmente nos fins do século XIX, permitiu que os grandes fazendeiros paulistas diversificassem suas atividades, investindo em estradas de ferro, em companhias de seguro, em instalações comerciais dos portos brasileiros, na organização de bancos, nos setores industriais têxteis e alimentares. Visando incentivar a industrialização, Rui Barbosa, ministro da Fazenda do governo do Marechal Deodoro da Fonseca, abriu linhas de crédito para financiar a implantação de fábricas. Para isso o governo teve de aumentar a emissão de papel-moeda, gerando um processo inflacionário. A facilidade de créditos levou a uma desenfreada especulação com papéis e ações das novas empresas. Essa especulação recebeu o nome de Encilhamento, pois a euforia barulhenta da Bolsa de Valores lembrava o local de apostas do jóquei-clube, quando os cavalos se preparavam para a corrida. Empréstimos estrangeiros desenvolveram indústrias e cidades. Muitas fábricas foram construídas com empréstimos de companhias de exportação e importação estrangeiras sediadas no país que, na maioria das vezes, se associavam aos projetos industriais brasileiros. Muitos capitalistas ingleses investiram diretamente no setor industrial brasileiro:de moinhos de trigo até fábricas de calçados, passando pelas instalações das primeiras usinas de açúcar. Além destas duas importantes características (associação de empresas nacionais com estrangeiras e investimento estrangeiro na instalação fabril), destaca-se uma outra, inerente ao processo de desenvolvimento capitalista: a concentração de capitais, que exigiu a instalação de infra-estrutura (energia, transporte) nas cidades. As cidades constituíam o fator básico de implantação industrial, pois, ofereciam os serviços necessários à circulação e distribuição de mercadorias e de capital (dinheiro, matérias-primas e máquinas). 15 Todo o sistema comercial e financeiro (armazéns, lojas, bancos, créditos etc.) instalou-se nos centros urbanos. Fonte: espressodiario.wordpress.com As cidades eram mercados consumidores imediatos dos produtos fabris, além de fornecerem a mão-de-obra necessária à indústria, devido a sua densidade demográfica. Nesse sentido, São Paulo apresentou características favoráveis ao impulso industrial. O comércio do café promoveu uma grande concentração de bancos na capital paulista, criando um mercado de capitais. Somado a isso, desenvolveram-se centros de treinamento para o grande contingente de mão- de-obra que afluía para a cidade, constituído principalmente por imigrantes estrangeiros. E o caso do Liceu de Artes e Ofícios e do Instituto de Educandos e Artífices. O escoamento da produção, por sua vez, estava garantido por uma eficiente rede de transportes ligação com o porto de Santos e saídas para o interior e para outros Estados através de ferrovias -, enquanto o crescimento da cidade era assegurado por grandes obras de infraestrutura - pontes e viadutos, rede elétrica e de esgotos etc. Convênio de Taubaté: a salvação da lavoura A força dos cafeicultores pôde ser comprovada em 1906, quando a produção brasileira de café crescia 16 cada vez mais, porém os preços do produto no mercado internacional estavam em plena queda devido ao excesso de oferta e à valorização da moeda nacional levada a cabo pelo governo para combater a inflação provocada pelo Encilhamento. Em fevereiro desse ano, os cafeicultores reuniram-se em Taubaté (Vale do Paraíba) para exigir do governo federal medidas que garantissem a valorização do café e a manutenção dos lucros dessa lavoura. O encontro ficou conhecido como Convênio de Taubaté. Os cafeicultores pressionaram o governo a adotar medidas protecionistas para garantir o preço do café: Proibição de novas plantações cafeeiras para não diminuir o preço do produto; Promoção publicitária do produto a nível governamental visando estimular o consumo no mercado externo e interno; Compra dos excedentes de café pelo governo para criar estoques reguladores que seriam colocados no mercado quando a produção diminuísse, garantindo a estabilidade dos preços; Empréstimo externo de 15 milhões de libras esterlinas para custear as compras de café feitas pelos Estados. As medidas beneficiaram os cafeicultores, ao mesmo tempo em que comprometeram o desenvolvimento do país, porque não havia capital para investir em outras áreas. Os efeitos dessa valorização do café foram sentidos em 1909, pois os preços internacionais do produto aumentaram, provocando uma elevação das arrecadações dos setores exportadores e um aumento das importações de bens de consumo (sapatos, chapéus, velas, lonas, betume, óleo de linhaça etc.) e de alimentos (manteiga, óleo, bebidas em geral). 6.4 A indústria beneficia a agricultura De 1906 a 1909 ampliou-se a produção interna de alimentos, o que barateou seu custo, possibilitando que os salários reais fossem preservados. 17 Isso estimulou a acumulação de capitais em dois setores da economia: a agricultura e a indústria. "Está com isto definitivamente esclarecido o problema das condições de realização da produção industrial: indústria e agricultura se apoiam mutuamente criando mercados uma para a outra:' Diante dessas condições, seguiu-se uma euforia que resultou em novo aumento da produção de café entre 1911 e 1913. As consequências puderam ser sentidas a partir de 1914. Houve um aumento da inflação, pois, para cumprir seus compromissos, o governo federal emitiu papel-moeda. A história econômica do Brasil entre 1889 e 1914 pode ser resumida na seguinte dinâmica: sucessivas crises do café, seguidas de movimentos dos cafeicultores visando a valorização do produto; paralelamente as crises, houve a instalação de indústrias em várias regiões do país devido à presença de capital estrangeiro no desenvolvimento da acumulação de capitais. Embora a região de São Paulo fosse menos industrializada que a do Rio de Janeiro, nota-se já nesse período uma tendência favorável à concentração do setor fabril na região paulista. O período de 1889 a 1914 foi marcado por duas renegociações da dívida externa, chamadas funding loans, isto é, "dívidas flutuantes". A primeira renegociação ocorreu em 1898 durante o governo Campos Salles, em consequência do fracasso do Encilhamento. No fim do século XIX e no início do XX, o país estava com suas finanças falidas. O acordo com os Rothschilds, banqueiros ingleses, previa que o pagamento de todos os empréstimos contraídos nos anos anteriores deveria ser efetuado em 1911. Outro destaque era o pagamento dos juros, a partir de 1901, três anos após o acordo. Como garantia, o governo do presidente Campos Salles ofereceu as rendas alfandegárias brasileiras. O acordo proibia também que o Brasil realizasse novos empréstimos. O segundo funding loan foi acertado no ano de 1914 no governo de Hermes da Fonseca. Em decorrência do Convênio de Taubaté, o Estado foi obrigado a contrair novos empréstimos, onerando a balança de pagamentos durante o período de 1913 a 1914. 18 Seguiu-se nova renegociação da dívida com os credores internacionais, mediante o empréstimo de 14 milhões de libras esterlinas. Os juros começariam a ser pagos após três anos e a dívida seria ressarcida em treze anos. 6.5 Efeitos da I Guerra Mundial O período de 1914 a 1918 começou de forma trágica, marcado por um novo funding loan e pelo primeiro conflito de proporções mundiais. A I Guerra acarretou a queda nos preços das exportações de café e restringiu nossa capacidade de importar. Além disso, afastou os investimentos internacionais da economia brasileira. Em 1916, porém, o comércio se intensificou com a venda de café aos Estados Unidos e aos países neutros da Europa. Mas em 1917 a situação internacional voltou a trazer problemas. A intensificação da guerra obrigou os britânicos a cancelarem a compra de café, e os EUA diminuíram as importações de produtos, pois entraram no conflito. Rompendo com a neutralidade, o Brasil também entrou na guerra contra a Alemanha, enviando à Europa apenas uma pequena esquadra e alguns médicos e enfermeiros. Uma segunda valorização do café ocorreu em 1917, quando os excedentes atingiram 6 milhões de sacas. O governo do presidente Venceslau Brás pagou para São Paulo tirar do mercado 3 milhões de sacas. Em 1918, com o fim da guerra, o gradativo restabelecimento das atividades mercantis internacionais permitiu uma elevação nos lucros com as exportações de café. 19 Fonte: senhorespresso.com.br Durante a I Guerra Mundial, a balança comercial brasileira pendeu favoravelmente para o lado dosnorte-americanos, porque "a participação da França e da Grã-Bretanha na conflagração reduziu, consideravelmente, a sua capacidade de exportar para a América do Sul, enquanto a Alemanha chegou a ponto de nada exportar para o Brasil em 1917. Como consequência, a influência e o comércio dos EUA com o Brasil cresceram, embora o esforço dos americanos de abastecer (até 1916) os aliados e os Poderes Centrais com manufaturados ecapital tenham atrasado um pouco o aumento das exportações americanas para o Brasil. 6.6 Feiras livres: pressões proletárias A nível interno, a situação econômica da população brasileira, especialmente das classes proletárias, piorou no período da I Guerra. Grupos operários organizavam pesquisas mostrando a queda real dos salários e, portanto, da qualidade de vida. A escassez alimentar e o aumento do custo de vida provocaram a pauperização da sociedade e possibilitaram o surgimento de epidemias de grandes repercussões, como a gripe espanhola, que em 1918 matou 8 mil pessoas. 20 Fonte: oextensionista.blogspot.com Diante das manifestações populares contra os preços dos gêneros alimentícios foram criadas feiras livres "como medida do governo frente às pressões do proletariado: a venda direta dos gêneros ao consumidor, sem intermediários e sem impostos de qualquer espécie, levava a um barateamento relativo dessas mercadorias': Além disso, "nos períodos de crise da produção capitalista, tal dinâmica só poderia se manter às custas de uma superexploração das massas trabalhadoras, através da queda dos salários reais, aumento do desemprego, com a conseqüente carestia do custo de vida, escassez de gêneros básicos e fome'. 6.7 Pós-guerra: ainda o café Depois da I Guerra Mundial, o Brasil acabaria se beneficiando com a desorganização da economia europeia. As dificuldades de importação fizeram crescer o número de estabelecimentos industriais, especialmente no eixo São Paulo-Rio. Mas a principal fonte de divisas do país ainda era o café - e a exportação desse produto sofreu um decréscimo nos anos imediatamente seguintes ao final da guerra. 21 Em 1920 e 1921 houve uma superprodução cafeeira que não encontrou saída, pois os EUA, principais compradores das mercadorias brasileiras depois de 1918, estavam aplicando capitais em programas de recuperação econômica da Europa. A solução foi retomar a tradicional política de valorização do produto (a terceira entre 1921 e 1923), proporcionada por um crédito especial do Banco do Brasil, e os mesmos mecanismos anteriores, isto é, retirada do produto do mercado e diminuição de impostos aos exportadores. Assim, após um período de recessão internacional (1920-1921) no qual diminuíram as compras de café, a política da terceira valorização cafeeira conseguiu aumentar as exportações e a capacidade de importar, principalmente maquinários. Dessa forma, no final de 1921, o Estado de São Paulo passou a responsabilizar-se pela defesa permanente do café e manteve essa política até a crise do final da década de 20. As safras cafeeiras de 1925-1926 foram grandes e as de 1927-1928 maiores ainda (uma produção de aproximadamente 26 milhões de sacas), contrariando as tendências de que, após um período de grandes colheitas (como as de 1925-1926), as safras diminuiriam. Houve queda no período 1928-1929 (14 milhões de sacas) e um novo aumento em 1929-1930 (30 milhões de sacas). Os capitais advindos das exportações foram utilizados para os investimentos na indústria de transformação, ou seja, na instalação de máquinas e equipamentos. A consequência mais imediata do aumento de capitais foi a acelerada industrialização na década de 20. Novas indústrias de algodão, tecidos de lã, de seda e até de fios de seda artificial (raiom) foram implantadas. Também se desenvolveram as indústrias de calçados, elevando os investimentos e a produção das décadas anteriores do século XX. A modernização industrial também atingiu a moagem do trigo, a fabricação do açúcar (com maciça instalação de usinas no Nordeste), a indústria de bebidas (cerveja, refrigerantes etc.) de fósforos, de peças de vestuário, os setores metalúrgicos (pregos, parafusos, porcas etc.), a produção de cimento, ferro e aço, os produtos de borracha, os óleos vegetais, as pastas e papel, os frigoríficos, os móveis, as editoras e gráficas e, ainda, a química e a farmácia. 22 Industrialização: cinco fatores Os setores que se desenvolveram depois da I Guerra demonstram a diversificação do parque fabril e uma gradativa passagem para a estruturação de uma economia com forte predominância industrial ao longo das décadas seguintes. Embora dependentes do capital cafeeiro, é possível constatar um lento desprendimento dos setores fabris, que"já não eram simplesmente complementares ou subsidiários da economia exportadora de produtos agrícolas, mas estavam progressivamente relacionados com o crescimento da demanda interna por matérias-primas industriais (cimento, ferro e aço, produtos químicos, papel e pasta de papel etc.) e maquinaria em geral (para agricultura, indústria, construção etc.). Algumas indústrias, tais como as de carnes congeladas e industrializadas e de óleo de caroço de algodão, foram mesmo estabelecidas com o propósito de processar novos produtos de exportação': Cinco principais fatores explicam o crescimento industrial do Brasil na década de 1920, em especial no eixo Rio-São Paulo e predominantemente nesta última região: energia, acumulação de capitais, mão-de-obra barata, matérias-primas e proteção governamental para a indústria. - Energia: no século XIX e início do XX, o processo de instalação fabril utilizava predominantemente máquinas a vapor, o que obrigava à importação de carvão. Com isso, grande parte do dinheiro arrecadado nas exportações era gasto na compra desse combustível. Já entre 1900 e 1910, a implantação de usinas de produção de energia hidrelétrica foi fundamental para garantir o crescimento fabril que se processaria na década de 20, pois o encarecimento do carvão durante a I Guerra inviabilizou o uso dessa matéria-prima vegetal como fonte de energia. A instalação de usinas elétricas ocorreu no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, o que possibilitou o aumento da capacidade produtiva dos setores industriais do Centro-Sul, contribuindo para distanciar esta região das demais em termos de competitividade fabril, pois os outros Estados da Federação levaram mais tempo para gerar eletricidade, comprometendo sua produtividade. 23 - Acumulação de capitais: os cafeicultores paulistas diversificaram amplamente as aplicações dos capitais que ganhavam com as exportações, abrangendo um grande leque de investimentos, desde a fabricação de tecidos de algodão e juta, até o comércio (empresas de exportação/ importação, bancos, ferrovias), passando pelas instalações de indústrias metalúrgicas (maquinário para agricultura, para beneficiamento agrícola, ferramentas, equipamentos de transporte como vagões, carroças, barcos etc.). E assim o parque industrial de São Paulo sobrepujou o resto do país e as instalações urbanas da cidade conheceram grande desenvolvimento (imóveis, empresas de serviços públicos, além das indústrias de transformação). A principal parcela dos capitais destinados à indústria provinha da atividade mercantil (incluindo os investimentos feitos por imigrantes), "que, em geral, se acumulava originariamente nos negócios de exportação e importação ou no comércio interno', o que São Paulo já vinha realizando desde a segunda metade do século XIX. - Mão-de-obra barata: a vinda de imigrantes (italianos, espanhóis, portugueses etc.), durante as três primeiras décadas do século XX, foi de fundamental importância para o rebaixamento salarial dos operários e a consequente elevação dos lucros dos donos de indústria. A mão-de-obra era farta e barata, e havia um grande contingente de mulheres e crianças operárias que trabalhavam em jornadas de dez ou mais horas com salários inferiores aos dos homens, que já eram irrisórios. - Matérias-primas: não foi por acaso que as indústrias têxteis e de alimentos iniciaram o processo fabril brasileiro, pois estavam intimamente relacionadas com a produção desse país tipicamente agrário. Mas mesmo esses setoresindustriais precisavam importar outras matérias-primas que não eram fabricadas aqui, como anilinas, corantes, fios de juta, feltros (para chapéus), malte (cerveja), ferro e aço (para os setores metalúrgicos). A obtenção desses produtos vinculava-se à capacidade exportadora das regiões, e nesse ponto São Paulo também se destacava pelas atividades cafeeiras. 24 A I Guerra, entretanto, interrompeu o fornecimento desses insumos, exigindo que o governo e os empresários se engajassem num esforço para produzir aqui muitas matérias-primas antes importadas. Isso aconteceu ao longo da década de 20 (com maiores resultados a partir de 1930), caracterizando um processo de substituição de importações. Proteção governamental para a indústria: durante o período de 1889 a 1914, o Setor industrial têxtil predominou em várias regiões do Brasil porque utilizava matéria-prima (algodão) produzida no local. Nessa época, entretanto, o governo não isentava as indústrias brasileiras de impostos e aplicava taxas alfandegárias quase simbólicas aos produtos importados, principalmente aos da Inglaterra. Já na década de 20, a proteção governamental resultou nos aumentos dos preços das importações como conseqüência da desvalorização da moeda brasileira. Diante da recuperação da economia européia e do crescimento da economia norteamericana, o governo federal não tinha um programa econômico para desenvolver a industrialização de forma geral, por isso passou a incentivar as iniciativas fabris individuais. Mas os estímulos com subsídios e empréstimos de capitais não eram constantes e não produziram grandes efeitos no processo de industrialização. Assim "a formação de capital na indústria de transformação ainda era em grande escala baseada no capital originalmente acumulado em atividades ligadas ao setor exportador, pelo menos até o fim da década de 1920". No descontentamento dos cafeicultores, o fim da República Velha Embora ocorresse de forma descentralizada, um amplo processo de industrialização estava em curso no Brasil dos anos 20. Mas a crise de 1929 - marcada pela superprodução de mercadorias sem compradores acelerou as contradições entre os setores agrários e industriais. Mais uma vez, diante de outra crise, os cafeicultores paulistas exigiram nova valorização do produto, concessões de créditos, subsídios ao pagamento das dívidas, juros baixos, prorrogação dos prazos para pagar os empréstimos. Mas o presidente Washington Luís (1926-1930), notadamente favorável à política econômica de São Paulo, não compreendeu claramente a extensão da 25 crise econômica e não atendeu aos pedidos do setor cafeeiro, preferindo acreditar que os importadores ampliariam a compra do café para elevar os estoques e, no momento adequado, aumentar os preços, compensando, desta forma, os prejuízos momentâneos. Nada disso aconteceu e o presidente acabou por perder o apoio político, econômico e social dos latifundiários paulistas, sendo deposto pela Revolução de 30. Por isso, a república do Café-com-Leite (aliança dos cafeicultores de São Paulo com os latifundiários de Minas Gerais produtores de leite, queijo e indústrias de laticínios) não sustentou o modelo de república no Brasil, baseado na monocultura cafeeira, em latifúndios e na mão-de-obra barata. Afinal, o Brasil já não era apenas um exportador de complementos de sobremesa. "Podemos dizer que, graças às ampliações e sua capacidade produtiva, através da importação de bens de capital" (máquinas e equipamentos) "e pela sua diversificação, o campo industrial preparou-se para a recuperação da economia como um todo depois da crise de 1929", bem como os setores agrícolas. De 1930 até a década de 80, o Brasil continuou implementando novas relações produtivas, adequando sua economia aos quadros da completa internacionalização do capitalismo. A região brasileira permanecerá cumprindo sua função histórica essencial à organização capitalista, ou seja, vender matérias-primas. Só que, nos dias atuais, ao invés de importar manufaturas - como fazia ao longo dos séculos coloniais até 1870, data do início de nossa industrialização -, o Brasil consome produtos sofisticados como computadores, videocassetes, antenas parabólicas e outros. 26 7 BIBLIOGRAFIA SOUSA, Rainer. Economia Cafeeira. Disponível em <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/economia- cafeeira.htm>. Acesso em 04/09/2018. TORRES, Paulo Magno da Costa. Disponível em <https://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/economia-cafeeira>. Acesso em 04/09/2018. O café e a república - economia cafeeira. Disponível em <https://www.mundovestibular.com.br/articles/2809/2/O-CAFE-E-A- REPUBLICA---ECONOMIA-CAFEEIRA/Paacutegina2.html>. Acesso em 04/09/2018. SIQUEIRA, Eliana Aparecida de. Análise historiográfica sobre a economia cafeeira. Disponível em < https://www.webartigos.com/artigos/analise- historiografica-sobre-a-economia-cafeeira/104028>. Acesso em 04/09/2018. FERNANDES, Cláudio. Economia cafeeira e industrialização do Brasil. Brasil Escola. Crise de 1929, O Brasil e o mundo.... Sempre bom relembrar. Disponível em <http://www.gbnnews.com.br/2016/10/crise-de-1929-o-brasil-e-o-mundo- sempre.html#.W46_ss5Kjcu>. Acesso em 04/09/2018. SOUSA, Rainer Gonçalves. Economia Cafeeira; Brasil Escola. 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Acesso em 04/09/2018. https://brasilescola.uol.com.br/historiab/economia-cafeeira.htm 27 8 LEITURA COMPLEMENTAR 8.1 Análise historiográfica sobre a economia cafeeira A economia cafeeira apresentando relatos sobre as linhas historiográficas pesquisadas sobre essa economia que foi de extrema importância na transformação econômica, política e social do país, tornando um símbolo da economia do Brasil Império e República, na contribuição da política imigrantista do país, assim como no surgimento da indústria nacional, com sua fase de grandeza e posteriormente declínio. Através de pesquisas bibliográficas, demonstra a dinâmica da economia cafeeira e os aspectos que influenciaram a expansão dessa pelo país, a influência dessa economia na política, obtida nesse período, as relações de trabalho, o surgimento do setor industrial, assim como a crise de 1929 e suas relevantes influências nesse ciclo econômico (SILVA 1986). O objetivo é fazer uma análise historiográfica sobre a economia cafeeira e desse processo histórico da economia nacional, com proposta referencial teórica e documentada para a materialização dos fatores da economia cafeeira, não somente com o imaginário da época, mas a partir de conceitos econômicos. O período que se estendeu nas últimas décadas do século XIX até a primeira metade do século XX, de maneira geral, é visto pela historiografia como momentos decisivos, que marcaram, de forma contundente, a trajetória do país rumo às transformações econômicas e política do país (PRADO JUNIOR 1998). 28 Fonte: historiabruno.blogspot.com Durante a pesquisa o intuito foi fazer um roteiro de análise que abrangesse várias facetas e temáticas desse processo histórico, segundos vários estudiosos brasileiros assim como: Caio Prado Junior, Celso Furtado, Paula Beiguelman, Sérgio Silva, Wilson Cano, entre outros que citarei nas referências, aprofundando seus estudos históricos econômicos, oferecendo uma visão bem ampla dessa complexidade econômica do país,apresentando resultados na qual pode ser vista situações no qual viabilizou uma transformação na formação política e econômica, assim como na estrutura social do país. A pretensão com essas análises é mostrar a transformação enfatizando as contribuições da economia cafeeira para o país, com embasamento historiográfico de fatos ocorrentes tanto nas áreas de produção do café, como na própria economia do país. É importante esclarecer alguns fatores que antecederam a economia cafeeira, os quais funcionaram como uma “acumulação primitiva” para o complexo que se estabeleceu a partir do século XIX. O Brasil viveu um período de estagnação nos meados do século XIX onde havia poucos pontos positivos, onde foi necessária, a construção de um sistema administrativo, que foi a de um banco nacional, visando não só a preservação da unidade do País, mas também a construção de uma identidade através do setor econômico. 29 Nesse momento o país estagnado precisava de uma economia sustentável com expansão no comércio internacional. Estamos em face de duas perspectivas que se excluem, e entre as quais devemos optar: ou o status-quo e a perpetuação do sistema atualmente predominante na economia brasileira, ou a renovação e transformação desse sistema (PRADO JÚNIOR, 1954: 1823). Antes da expansão do café, o país contraiu empréstimos no exterior que não surtiu efeito, ao não ser, um apanhado de dívidas externas, portanto as condições internas do país somente pioraram. O comércio do açúcar do algodão do fumo, do arroz, do cacau e do couro estava decadente e nem o comércio da cana-de-açúcar eram grandes, e nem o suficiente para mover a economia brasileira. O país precisava de uma cultura sustentável no uso do solo, pois sua grande extensão territorial estava associada com terras improdutiva, empurrando o país para uma solução econômica comercial de sustentabilidade. Porém, segundo Wilson Cano, em Raízes da Concentração Industrial em São Paulo (1997), nos mostra que foi através do café que o Estado de São Paulo conseguiu já durante a Primeira República desenvolver relações capitalistas avançadas. Isso ocorreu devido à expansão dos negócios ligados ao produto e à formação de um complexo econômico em função dessa diversificação. No entanto, outras economias regionais mesmo de grande importância, não conseguiram alcançar o mesmo êxito, devido aos produtores trabalharem isoladamente, ao contrário do que aconteceu no Estado São Paulo, com a formação de complexo econômico com a produção do café. Para Cano a economia cafeeira do Estado de São, surge como força de um complexo formado a partir da atividade produtora do café, da agricultura produtora de alimentos e matérias primas, da atividade industrial, da implantação e desenvolvimento do sistema ferroviário paulista, da expansão do sistema bancário, da atividade do comércio, da importação e exportação e do desenvolvimento da atividade criada com infraestrutura dessas atividades dentro do Estado, tanto do governo federal como do estadual principalmente, formando assim em conjunto o complexo cafeeiro. Essa nova economia vinda através da 30 produção do café, no final do século XIX, remete devidamente à aceitação comercial em vários países europeus, e também no EUA, que nesse período se encontrava no auge progresso econômico, assim pode dizer que a economia cafeeira assim como toda economia estava relativamente dependente de outros países, tanto no progresso, quanto no seu declínio, pois economia é dependente de amplos laços comerciais internos ou externos, como aconteceu com a produção do café. Ainda segundo autor, o desenvolvimento da economia cafeeira levou a um processo de fracionamento da elite cafeeira, o capital cafeeiro, no qual se tornou ao mesmo tempo comercial, industrial e agrária. Desta forma, que essa elite direcionou por diferentes segmentos econômicos que possuíam o café como elo, sendo capaz de satisfazer às necessidades do complexo econômico assim formado. É incontestável a importância da economia cafeeira para o processo de transformação e desenvolvimento da economia brasileira, este produto tornou- se fator determinante no processo da formação do capitalismo brasileiro, sendo por isso, alvo de constantes intervenções, articulações e regulamentações de acordo com a importância que esse produto assumia na posição prioritária no contexto da economia nacional, levando ao surgimento de um Estado Oligárquico que valia tanto para o caso do governo federal, quanto para os estaduais e principalmente os municipais, e no contexto da política, foi por muito tempo esse núcleo econômico que esteve no comando, no entanto que quem quisesse exercer um papel político precisava negociar com os coronéis, esses grandes produtores de café. Para a grande maioria destas elites, a política apesar da República, continuava a ser um negócio, por vezes bem lucrativo. Para o autor Sergio Silva (1986: 53), sobre a questão do núcleo econômico brasileiro, é necessária uma análise aprofundada para chegar ao entendimento que o desenvolvimento da economia cafeeira foi completamente diferente da economiaaçucareira, transformando ra dicalmente pensamentos ideológicos, percebe-se assim que a economia cafeeira propiciou um novo desenvolvimento político e social nos grandes proprietários de terras, levando esses á grandes homens de negócio na defesa 31 do café, gerando a denominada “burguesia cafeeira”, fazendo com que mais tarde, essa economia de capital cafeeira ultrapassasse as lavouras. Sendo que os produtores de café, esses os principais líderes dessa nova economia brasileira, não se limitaram somente no plantio do produto, e sim se organizando e dirigindo essas plantações de café, além de adquirir experiência comercial e política de acordo com seus interesses, sendo esses bem mais abrangentes. O setor do complexo cafeeiro em expansão foi determinante na influência do desenvolvimento em vários setores do país, com relação às novas tecnologias, como a construção das ferrovias tanto, quanto aos maquinários modernos em função das necessidades com o aumento desse produto e sua demanda no mercado internacional. 8.2 Oscilações de preços Fonte: historiabruno.blogspot.com Quando o país obteve a abertura internacional para o comércio do café com uma grande demanda de mercado, tornando-se, então, o principal produto de exportação do país, o café tornou-se assim uma economia sustentável. É interessante ressaltar que o custo dessa produção era menor do que a produção 32 de açúcar, primeiro porque se utilizava da mesma mão de obra escrava, mas com um diferencial relevante, a cultura do café, era permanente e os equipamentos utilizados na sua manutenção era de pouco custo e que muitas vezes era produzido nos próprios locais do plantio do café. A elevação do preço do café, que acorreu nos fins do século XVIII, foi fator determinante para o aumento da produção de café em várias partes da América e da Ásia, devido ao bom preço, ocorrendo assim, uma elevação significativa na produção de café, em contrapartida ocorreu um aumento na demanda desse produto, demanda essa significativa para que mais tarde ocorresse queda no valor do produto. A partir desse período, o café começou a experimentar diversos períodos de oscilações de preços, mas ainda assim nos anos de 1857 a 1868, 1869 a 1885, 1886 a 1906 foram caracterizados por preços ascendentes. Porém, de acordo com o aumento do valor do café, ocorre à duplicação das áreas plantadas no Estado de São Paulo, e a produção do país continuava a aumentar, os produtores brasileiros viam no café a oportunidade para utilizar os recursos produtivos ociosos provenientes da decadência da mineração e de outras economias que se encontravam em retração, para utilizá-los na expansãodos cafezais e produzir mais e mais café. Porém, no percurso da produção ocorreram também grandes dificuldades, como por exemplo, o escoamento do produto em algumas áreas do plantio até os portos, um exemplo dessas áreas é Minas Gerais, fazendo com que os grandes produtores de café repensassem em uma disponibilidade de capital para a construção de estradas, tanto terrestres quanto o início das primeiras ferrovias. Na última década do século XIX criou-se uma situação excepcionalmente favorável à expansão da cultura do café no Brasil. Sendo que a produção asiática passava por dificuldades, em consequência da destruição ocorrida nos cafezais na ilha do Ceilão. Enquanto isso no oeste paulista o café encontrava condições naturais que favoreceram ainda mais expansão cafeeira, devido ao grande desenvolvimento de ações dos chamados "barões do café". Eles haviam acumulado um elevado estoque de capitais, decorrente do café, tornando-se ricos e poderosos, passando a interferir na política obtendo 33 facilidades como acesso ao crédito, inclusive estrangeiro, que lhes permitiam expandir as áreas plantadas. Essas ações colaboram também no sentido de facilitar o transporte e a exportação da produção de café, acelerando o processo das construções de ferrovias e de aparelhamento dos portos. No auge desta fase, o Brasil chegou a praticamente monopolizar o comércio do café com a Europa e os Estados Unidos, período em que o país experimentou elevado crescimento econômico, iniciando um processo de modernização do país. 8.3 Expansão da cultura cafeeira Na primeira década do século XIX a cultura cafeeira já havia atingido o Rio de Janeiro, começando pelo litoral. Porém, foi no vale do Paraíba que o café prosperou, a fixação do café no vale do Paraíba deveu-se às condições geográficas excepcionais, como clima adequado e regularidade das chuvas. Na metade do século XIX, toda energia econômica estava voltada para o cultivo do café, que então era vendido, sem concorrência, aos mercados internacionais, conseguindo sua estabilidade econômica junto ao Império. Entretanto, a economia cafeeira não alterou os quadros sociais herdados do passado colonial. Ao contrário, ela se fortaleceu, inclusive a escravidão, a grande propriedade, a monocultura e a produção voltada para o mercado externo. Porém, após uma extensiva e predatória exploração do solo, aconteceu uma estagnação e a consequente decadência do vale do Paraíba. Contudo, isso não significou a decadência da cafeicultura, que nesse momento já se expandia para o oeste paulista. Seu núcleo inicial foi Campinas, difundindo-se para Mogi-Guaçu e chegando à região de Ribeirão Preto por volta de 1880. Em seguida, a cultura se expandiu para o extremo Oeste paulista e atingiu o Estado do Paraná. Havia diferenças significativas entre o vale do Paraíba e o Oeste paulista. No vale o terreno era acidentado o que gerava muitas dificuldades no plantio e na colheita do café. Já no Oeste paulista, o plantio ocupava vastos quilômetros quadrados de solo excepcionalmente fértil, a chamada terra roxa, oriunda da 34 decomposição das rochas vulcânicas. Assim, embora o sistema de cultivo fosse o mesmo, a regularidade do relevo favorecia a melhor conservação do solo no Oeste paulista, assegurando por mais tempo a qualidade do café. A isso se deve acrescentar uma maior facilidade no escoamento do produto, que era beneficiado por um custo menor, graças às redes viárias disponíveis, como por exemplo, o deslocamento do produto para o porto de Santos. (PRADO JUNIOR, 1998:161). Porém, as relações entre São Paulo e as regiões com as quais pretendia manter e expandir o comércio do café dependia da expansão do setor de transportes paulista. Nesse aspecto, havia a coincidência entre os interesses do setor ferroviário, do setor comercial, de grande parte do setor agrícola e do governo paulista, diferentes frações do capital cafeeiro ganharam com a concretização deste circuito de comércio. Com a expansão do plantio do café para o interior de São Paulo, tornou- se necessário encontrar solução para a problemática do transporte até o porto de Santos, pois no início se utilizava transporte animal, porém à medida que as distâncias aumentaram e o volume da safra se multiplicou, por iniciativa dos próprios cafeicultores foram construídas as estradas de ferro, a São Paulo Railway, ligando Santos á Jundiaí (1868), Ituana, ligando Itu a Campinas (1873) e a Mogiana, ligando Campinas a Ribeirão Preto e a Sorocabana, que começaram a ser construídas em 1875. O momento de surgimento das ferrovias em substituição ao transporte feito por animais se deu quando os senhores do café, diante da necessidade de ampliação da área plantada, buscaram soluções que não se limitaram somente no problema de transporte, ou da mão-de-obra, mas ao conjunto da produção cafeeira, também no que se refere à descentralização republicana. Os grandes produtores de café foram uns dos maiores defensores da instauração do regime republicano no Brasil, onde problema da imigração passou a ser controlado pelos estados, sendo abordado de forma mais ampla e positiva pelo Estado de São Paulo. As ferrovias representavam então, nova oportunidade de inversão para o capital cafeeiro, ao mesmo tempo em que 35 provocava uma redução apreciável nos custos do transporte do café. Surge então, como parte dessa economia o complexo cafeeiro, contribuindo para a realização do sistema de produção agroexportador. Assim, apesar de sua formação enquanto empresa, formando o complexo cafeeiro a construção e implantação das ferrovias, passaram por concessão estatal, atendendo basicamente às necessidades dessa elite empresarial que se torna hegemônica no aparelho de Estado até 1930. A ferrovia em São Paulo surge após a primeira metade do Século XIX e ocupa geograficamente todos os pontos cardeais do Estado, montando uma verdadeira rede de captação de café em direção ao porto. Seu período de construção e de expansão também é limitado ao tempo já citado, em que as oligarquias dominaram o aparelho de Estado. De 1867 até a década de 1930 estava "concluída" a ocupação ferroviária paulista. Nesse período, dezoito ferrovias foram construídas para atender basicamente ao transporte de café, desse total, nove com menos de cem quilômetros, serviam praticamente de ramais de captação de cargas para as grandes e médias companhias. Com a expansão de áreas plantadas, consequentemente, houve um aumento da produção, a oferta de café existente no mercado era demasiada, sinalizando para uma queda acentuada dos preços do café em curto prazo. Os produtores do café, ciente dessa realidade, cujo poder político e financeiro fora amplamente acrescido com a descentralização política, tendo inclusive vários cafeicultores tendo se tornado governadores e até presidentes da república, celebraram em fevereiro de 1906, na cidade paulista de Taubaté, um convênio visando à valorização dos preços, que em resumo, consistia, ao restabelecimento e o equilíbrio entre oferta e demanda do café, através de intervenção do governo, comprando os excedentes da produção. O financiamento destas compras seria feito através de empréstimos contraídos no exterior pelo governo, o serviço deste empréstimo seria coberto com um novo imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café exportada, a fim de solucionar o problema num maior prazo. O primeiro esquema de valorização foi posto em prática pelos estados cafeicultores, liderado por São Paulo, esse esquema não teve o apoio do 36 governo federal, obtendo êxito financeiro da experiência no qual essa consolidação de vitória dos cafeicultores que reforçou seus poderes por mais um quarto de século, até 1930, quando Getúlio Vargas chegou ao poder. O complicado mecanismo de defesa da economia cafeeirafuncionou com relativa eficiência até fins de 1930. 8.4 Crise cafeeira A crise da economia cafeeira não ocorre isoladamente em 1929. Na realidade se arrasta desde 1893 com a crise econômica dos EUA e com graves consequências para o preço da saca de café no mercado mundial. Utilizando mecanismos de depreciação externa da moeda, a elite cafeeira acabava por repassar para a sociedade a sua crise procedente da queda dos preços do café. Políticas como o convênio de Taubaté de 1906, que consistia em intervenção do governo através da compra de excedentes utilizando empréstimos externos e desencorajamento da expansão das plantações. Segundo Celso Furtado (1976), o êxito financeiro da experiência veio a consolidar a vitória dos cafeicultores que reforçaram seu poder até 1930 logrando submeter o governo central aos objetivos de suas políticas econômicas. Porém, os complicados e caros mecanismos de defesa da economia cafeeira não resistiram, à crise mundial de 1929, então podemos considerar que essa crise não afetou diretamente só a produção do café e sim todo complexo envolvente, assim como o grande investimento nas ferrovias tendo em vista as implicações da economia cafeeira na estrada de ferro que podemos ligar mecanicamente ambos os seguimentos econômicos. Assim, não devemos perder de vista que basicamente toda a rede ferroviária paulista formou-se no período entre 1880 e 1940, quando pequenas, médias e grandes ferrovias se formaram dentro de um verdadeiro surto ferroviário, e que, após esse surto, passaram por um processo de total reestruturação operacional e administrativa para adaptar-se à nova realidade político-econômica. A crise mundial de 1929 desencadeada com a quebra da bolsa de Nova York teve efeitos desastrosos sobre a economia dos Estados 37 Unidos, assim como em toda Europa, justamente os maiores compradores do café, além de diminuir a demanda, ocorreram também à interrupção dos empréstimos internacionais ao Brasil, que se viu sem recursos para continuar adquirindo o excedente produzido pela indústria cafeeira, causando assim excesso de oferta e preços em acentuado declínio. Começou então a grande crise da economia cafeeira no país, tendo como um dos reflexos o enfraquecimento das oligarquias dos cafeicultores e o abalo das estruturas da República Velha, cujo, a oportunidade de domínio estava nas mãos desses produtores. Fonte: gbnnews.com.br Essa crise da economia americana de 1929, que se estendeu por todo o mundo capitalista, e que, obviamente, afetou a economia do Brasil, tendo grandes aspectos negativos, mas não podemos deixar de observar o lado positivo. O ponto negativo foi a recessão da economia, sobretudo com a contração dos lucros dos setores oligárquicos rurais e da burguesia exportadora, e o ponto positivo, foi que o setor industrial interno viu, nesse contexto, uma deixa para mostrar seu poder e, claro, aumentar sua inserção na economia nacional, e com essa transformação surgiu para a sociedade brasileira um novo período econômico no país. 38 O setor da industrial surgiu, ainda que de modo não hegemônico, com uma expansão capitalista voltada para uma nova economia sobressaindo de um comércio interno da acumulação vinda da produção do café, para a indústria nacional de bens de consumo, isto é, produtos que visavam o mercado interno, para consumo interno. Nesse período já se verificava uma diversificação do setor, que passou a inserir bens de capital e insumos, em algo que já tinha certo andamento para essa concretização no comércio de produtos, mas que com a crise de 1929 obteve a possibilidade de adentrar ao setor industrial com uma maior visibilidade e desenvolvimento para o comércio interno. A crise mundial atinge o setor cafeeiro no Brasil no momento em que já se definia uma situação de superprodução estrutural, como resultado, há um declínio do preço do café no mercado internacional e a formação de excedente de produção. Mas após a Revolução de 1930, o Governo de Vargas decide investir na defesa do café tendo em vista não só pela pressão das oligarquias cafeeiras, mas também pelo interesse nacional, por meio de novas articulações na política. Essa nova política de investimento do café, seria a compra dos estoques excedentes do produto e da queima de parte desses estoques, utilizando recursos provenientes, que segundo Celso Furtado foi da expansão do crédito. O autor tem uma visão desse episódio, como uma estratégia política, onde o governo transformava a política de defesa do setor cafeeiro em programa de promoção rural, construindo as famosas pirâmides com objetivo, keynesiano, no qual é de uma visão futura de intervenção estatal na economia do país, que mais tarde veio acontecer. (FURTADO 1976: 203). Através do desequilíbrio externo, a reprodução do capital impõe transformações necessárias à acumulação: o nascimento da indústria e a consequente elevação da produtividade tão importante para a expansão do excedente e o prosseguimento da acumulação. Assim, através da constante solução e recolocação do desequilíbrio externo, o capitalismo brasileiro segue seu caminho, escondendo no palheiro das atribulações financeiras a contradição que explica o seu próprio desenvolvimento (SILVA, 1976: 109). 39 8.5 Mão de obra cafeeira Durante toda Brasil colônia, a mão de obra era escrava, inicialmente todos os trabalhadores das fazendas de café eram escravos, sendo assim capital, que os fazendeiros adquiriram no período do tráfico, ou já adquiriram dos mineradores, visto que o plantio de café exigia elevada quantidade de trabalhadores. Sem abundância de capital, o escravo representava para os cafeicultores mão de obra de baixo custo, uma vez que o principal fator de produção da lavoura cafeeira era a terra e esta os fazendeiros possuíam em grande quantidade. A prosperidade da lavoura cafeeira acabava estimulando a transferência de trabalhadores escravos da região nordeste proveniente da lavoura de cana-de-açúcar, já em decadência, para os cafezais da região sudeste, tendo em vista que o escravo tinha duplo valor, além de mercadoria em caso de necessidade, podendo ser vendido ou alugado, esse em grandes quantidades servia de status e poder, seus senhores (VIOTTI 1998: 69). O plantio do café se deu com a mesma mão de obra das economias anteriores, que era a mão obra escrava, mas tendo em vista que no início do século XIX havia a possibilidade da proibição do tráfico que não era nenhuma novidade para as classes dominantes. A questão do tráfico já era discutida desde 1815 com a assinatura do Tratado de Viena, com a lei de novembro de 1831, e a promulgação da Lei Bill Aberdeen de 1845, mas só validada finalmente com a lei Eusébio de Queirós do dia quatro de setembro de 1850. De certo modo, o problema da colonização do Brasil, e consequentemente a substituição da mão-de-obra escrava, já estava sendo ensaiada desde a experiência no período de D. João VI, mas que fracassou (VIOTTI, 1998, p. 70). Segundo Emília Viotti (1998), a imigração para o Brasil não chegava a entusiasmar, tendo em vista a precariedade das condições brasileiras em relação à possibilidade da imigração para os EUA, para onde se dirigia espontaneamente as correntes imigratórias. Enquanto isso, a convivência com medidas momentâneas, como o tráfico interprovincial, enquanto os ensaios de colonização arrastaram-se até a década de 1840, quando a pressão pela abolição chega ao limite. É diante da necessidade de ampliação da produção do café conforme a demanda do mercado, sendo a imigração solução do problema 40 da escassez de mão de obra, que o senador Vergueiro, fazendeiro da região de Limeira, apresenta em 1845 uma emenda ao orçamento autorizando o governo a despender de verbas para a importação de colonos, para o trabalho nas lavourasde café em forma de parcerias. Com a chegada das primeiras levas de imigrantes para o setor cafeeiro em primeira fase, os descontentamentos, não tardaram a aparecer devido o objetivo e anseios dos imigrantes europeus, era em fazer riqueza, chocava-se frontalmente com os interesses dos fazendeiros, que viam nos imigrantes somente uma forma de reprodução do capital, ainda com pensamentos escravocratas. No entanto, há indícios de que os barões do café prepararam o “terreno” para o recebimento dos imigrantes europeus, pode ser constatado com a promulgação da Lei Nº. 601 de 1850, regulamentada em 1854 que dispunha sobre a ocupação da terra a partir daquele período. Enquanto até 1822 vigorou o regime de sesmaria, onde a apropriação legítima da terra era concessão do poder público, a partir de 1822, a falta de uma forma institucional específica de legitimação da apropriação, acabava sendo as ocupações ou posses. Nesse sentido, a Lei de 1850/54, vem na prática, impedir o acesso a terra pelos seguimentos marginalizados uma vez que a apropriação legítima passa a ser feita através da compra junto ao Estado, ou através da compra de terras de pequenos produtores onde a opressão e os argumentos das armas eram de formas a serem negociadas. A partir da Constituição de 1891, ocorre a transferência para os Estados federados o domínio das terras devolutas. No caso do Estado de São Paulo, a Lei Nº. 323 de 22 de junho de 1895 dispunha sobre as terras devolutas, sua medição, marcação, aquisição e legitimação. A ela seguiram mais cinco leis e dezesseis decretos até 1930, sintoma de que o poder público não conseguia regular com eficácia o processo real de apropriação de terras no Estado de São Paulo até esse período. Segundo Emília Viotti (1998), com a proibição do tráfico internacional de escravos, decretado pela Inglaterra, já descrito anteriormente e posteriormente a abolição da escravatura no Brasil, a utilização de mão de obra escrava já não era mais possível e representava alto custo, visto que era necessária agora, 41 remuneração do negro liberto. Os fazendeiros por sua vez preferiram estimular a imigração de trabalhadores provenientes da Europa, principalmente Itália e Alemanha ao invés de remunerar o negro liberto, tendo sido o Estado de São Paulo o principal estimulador e facilitador da importação desses imigrantes, e ao contrário do que aconteciam com os escravos, esses imigrantes trabalhavam em troca de salário ou mesmo participação na colheita. Segundo a autora Emília Viotti (1998) a mão de obra utilizada para o plantio do café durante o século XIX no Vale do Paraíba foi à mão de obra escrava, essa mão de obra foi durante esse período de grande importância para expansão cafeeira e contribuindo ativamente com o desenvolvimento do país, sendo assim o escravo teve desde tempos da colônia um papel importante no que se refere á economia. Mas, esse legado histórico, destacou também em outras cidades do interior de Minas Gerais e São Paulo, essas por ter sido fazendas de café conectadas a duas regiões importantes. A primeira próxima ao oeste de São Paulo, e a segunda, próxima à Zona da Mata e Poços de Caldas em Minas Gerais e a cidade de Ubá em São Paulo. Esses territórios foram registrados como berço da tradição senhorial que enfrentou a questão da emancipação dos escravos tradicionalmente dependentes do trabalho escravo, mas esses senhores do café também não encontraram alternativa, a não ser o recurso de mudança à mão-de- obra estrangeira, da imigração. “Emancipação e imigração ficavam, dessa forma, intimamente relacionadas.” (VIOTTI, 1998: 109). Todavia, o fato da imigração teve grandes turbulências, num longo processo de adaptação, porque os fazendeiros “Barões do café”, assim chamados, haviam herdado de seus antepassados a mentalidade escravista da época das lavouras da cana de açúcar e das Minas, mas com a expansão do plantio do café era exigido uma grande quantidade de mão de obra, que na época, possuir escravos também significava prestígio social já citado acima. Nesse processo de demolição das concepções escravistas, permaneceu a concepção da dominação pessoal do fazendeiro. Através do endividamento do trabalhador, estes foram subjugados. Nesse caso o imigrante italiano esteve, 42 portanto diretamente inserido nos dilemas criados pela substituição do trabalho escravo. Assim, no campo como na cidade, no negócio como em casa, o escravo é onipresente. Torna-se muito restrito o terreno reservado ao trabalho livre, tal o poder absorvente da escravidão. E a utilização universal do escravo em vários misteres da vida econômica e social acaba reagindo sobre o conceito de trabalho, que se torna ocupação pejorativa e abandonada (PRADO JÚNIOR, 1942: 277). Várias cidades ensaiaram experiências alternativas para a substituição dos escravos pela mão de obra estrangeira. A política imperial variou entre duas orientações, aquela de iniciativas de colonização, introduzindo colonos, com a condição dos fazendeiros e pôr a venda ou a aforamento os estabelecimentos em lotes de terra de regular extensão, a assim chamada imigração de povoamento, de interesses dos fazendeiros, como no caso dessas regiões onde o trabalho livre ainda não era compatível com a grande propriedade e com a produção para exportação e necessitava de maior demanda de mão de obra. Podendo assim dizer que até 1870, o escravo era a mão de obra dominante na produção do café em expansão (VIOTTI, 1998:196). Após 1875, novas leis brasileiras autorizam a emissão de apólice para auxiliar o pagamento de passagens de imigrantes da Itália e é fundada a Associação Auxiliadora de Colonização (VIOTTI, 1998: 234). Essas solicitações do governo brasileiro não apontam somente a preocupação com a mão de obra, mas evidencia claramente a questão racial, em querer branquear uma raça, num momento em que a questão racial estava em evidência e o negro por sua vez era considerado uma raça inferior. Auxiliado a essa questão as autoridades italianas em dificuldades políticas e econômicas acreditavam que o Brasil poderia ser o país que realizaria o sonho de muitos italianos de ter acesso à terra. A utilização em massa do trabalho assalariado representou a primeira fase de desenvolvimento do capitalismo no Brasil, associado com o capital cafeeiro e também essa formação do mercado de trabalho assalariado adquiriu um ritmo mais intenso depois da falência definitiva do sistema escravista. Ao mesmo tempo, ele chegou num momento da história brasileira em que o país não buscava apenas a forma social de substituição do escravo, mas 43 chegado o momento em que se abriam oportunidades econômicas, com a liberação de capitais decorrentes do fim do tráfico negreiro, a partir de 1850. Com o fim progressivo da escravidão, considerando as baixas taxas de crescimento vegetativo da população escrava e das crescentes dificuldades de importação de escravos a partir de 1850, os produtores começaram a introduzir o trabalhador livre assalariado. Recorrendo, sobretudo, à imigração européia, dadas as dificuldades associadas ao recrutamento de mão de obra no setor cafeeiro. A partir de então, com a abolição em conjunto com o trabalho livre passa a ser predominante, oferecendo condições para a criação de um mercado interno com sistema capitalista. Remunerações monetárias atingem uma classe com alta propensão a consumir produtos de primeira necessidade, produtos esses produzidos no país, visando uma nova possibilidade na economia com “eixo” oficial a produção do café. Assim, os gastos dos assalariados do setor exportador o “café” se transforma em renda de produtores locais, no qual por sua vez, têm alta propensão a consumir bens (FURTADO, 1976: 151). 8.6 Surgimento das indústrias Pensar na origem da indústria no Brasil, tem que incluir
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