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As quatro fases do desenvolvimento do capitalismo 1. Capitalismo comercial A primeira etapa do capitalismo estendeu-se do fim do século XV até o século XVIII e foi caracterizada pela expansão marítima das potências econômicas da Europa ocidental da época (Portugal, Espanha, França, Países Baixos), que buscavam novas rotas de comércio, principalmente para as Índias. Essas potências tinham como objetivo acabar com a hegemonia de Gênova e Veneza, que, antes da unificação italiana, eram cidades-estados independentes e principais controladoras do comércio com o Oriente pelo Mar Mediterrâneo. Trata-se do período das Grandes Navegações e de conquistas territoriais. Foi nesse período que navegadores portugueses encontraram os territórios brasileiros e ali se instalaram para explorar matéria prima e fortalecer seu comércio. Essa etapa é chamada de capitalismo comercial porque o comércio proporcionou alta concentração de capitais no interior dos Estados europeus que comandavam esse processo expansionista. A riqueza e o poder de um país eram medidos pela quantidade de metais preciosos acumulados. Doutrina econômica: Mercantilismo Essa doutrina surgiu com os Estados nacionais absolutistas e defendia o protecionismo e a intervenção do Estado na economia. Tinha como objetivo fortalecer o Estado e aumentar a riqueza nacional por meio do acúmulo de metais preciosos (ouro e prata) e da obtenção de superávits comerciais. Seus teóricos defendiam que a riqueza era proveniente do comércio (circulação). O acumulo de riquezas nos países europeus, principalmente na Inglaterra, que emergiu como principal potência no fim desse período, foi fundamental para a eclosão da Revolução Industrial, que marcou o começo de uma nova etapa do capitalismo. 2. Capitalismo industrial Nas primeiras décadas do século XVIII, a Inglaterra comandou uma grande transformação no sistema de produção de mercadorias, na organização das cidades e do campo e nas condições de trabalho, o que caracterizou a Revolução Industrial. Um dos aspectos mais importantes foi o aumento da capacidade de transformação dos recursos naturais, por meio da utilização de máquinas hidráulicas e a vapor, que intensificou a produção de bens e possibilitou ampliar o mercado consumidor em escala mundial. Lembrar! A criação das indústrias e a Revolução Industrial não surgiram de uma hora para a outra, sendo um processo lento e gradual. Por isso, falamos em diferentes etapas na revolução da indústria: Primeira, segunda, terceira e quarta Revolução Industrial. A etapa da Revolução Industrial que condiz com o capitalismo industrial é justamente a primeira, onde começam a surgir a maquinários industriais. O comércio já não era mais a atividade central do sistema, embora continuasse importante para fechar o ciclo produção-consumo. Nessa fase, o lucro decorria sobretudo da produção de mercadorias realizada por trabalhadores assalariados. Isso valia para países industrializados, mas em países como o Brasil (que ainda estava em processo de independência) predominava o trabalho escravo. O trabalhador recebia um salário que garantia a sua subsistência, mas ele produzia um valor maior do que aquele que recebia. Esse trabalho não pago permanecia em poder dos capitalistas, o que possibilitava que os proprietários de fábricas e meios de produção obtivessem lucro e acumulassem capital. Essa diferença deu origem a lutas trabalhistas e a ideais marxistas. O regime de trabalho assalariado é característico do período; o trabalhador, além de apresentar grande produtividade, ainda tem renda disponível para o consumo. Após se consolidar na Inglaterra, no século XIX a industrialização se expandiu pela Europa, América e Ásia. Primeiro chegou na França e Alemanha, na Itália e nos Estados Unidos. Depois chegou ao Japão, Rússia e no século XX aos atuais países emergentes. Doutrina econômica: Liberalismo Os adeptos dessa doutrina criticavam o absolutismo e o mercantilismo; defendiam o direito à propriedade, a livre iniciativa e a concorrência. Eram contra a intervenção estatal na economia e favoráveis à livre ação das forças do mercado. Para seus teóricos, a riqueza era gerada pela indústria (produção). Os princípios liberais aplicados ao comércio internacional defendiam a redução e até abolição das barreiras tarifárias para a livre circulação de mercadorias. O livre comércio era interessante para países de industrialização avançada, como a Inglaterra, mas era ruim para países com indústria nascente ou ainda sem indústria. Mesmo os Estados Unidos, país de forte tradição liberal, só passaram a defender o liberalismo no comércio internacional quando já tinham estruturado uma indústria competitiva. No fim do século XIX mudanças importantes ocorriam nas fábricas: a produtividade e a capacidade de produção aumentavam rapidamente, em razão da introdução de novas máquinas e fontes de energia mais eficientes, como o petróleo e a eletricidade. Aprofundava-se a especialização do trabalhador em uma etapa da produção e intensificava-se a fabricação em série, dando início à Segunda Revolução Industrial, momento em que o capitalismo ingressa em sua etapa financeira e monopolista, marcada pela origem de grandes corporações atuais e pela expansão imperialista. 3. Capitalismo financeiro A principal característica do crescimento da economia na segunda metade do século XIX foi a formação de grandes empresas industriais e comerciais, além do aumento do número de bancos e outras empresas financeiras. A concorrência acirrada favoreceu as grandes empresas, acarretando fusões e incorporações que resultaram na formação de monopólios e oligopólios em muitos setores. Por ser intrínseco ao capitalismo, esse processo continua acontecendo, e grandes corporações da atualidade foram fundadas nessa época. Nesse período, foram introduzidas novas tecnologias no processo produtivo e criados os primeiros laboratórios de pesquisa das atuais grandes corporações industriais. A siderurgia avançou significativamente, assim como a indústria mecânica, em razão do aperfeiçoamento da fabricação do aço. Na indústria química, a descoberta de novos elementos e materiais permitiu ampliar as possibilidades para novos setores, como o petroquímico. A descoberta da eletricidade beneficiou as indústrias e a sociedade como um todo ao possibilitar o aumento da produtividade e a melhora nas condições de vida. O desenvolvimento do motor a combustão e a utilização de combustíveis derivados do petróleo trouxeram novas perspectivas para a indústria automobilística e aeronáutica, promovendo sua expansão e a dinamização dos transportes. O aumento da produção e industrialização acirraram a concorrência entre as empresas. Era necessário garantir novos mercados consumidores e melhores oportunidades de investimentos, além de acesso a fontes de energia e matérias primas. Expansões imperialistas Foi nesse momento do capitalismo que ocorreu a expansão imperialista europeia na África e Ásia. As potências imperialistas buscavam ampliar seus territórios, e os empresários seus lucros. Desde a sua origem na Europa, o capitalismo foi ampliando sua área de atuação no planeta. Na Conferência de Berlim (1884 – 1885), as potências industriais europeias partilharam o continente africano entre elas. Na mesma época, extensas áreas do continente asiático também foram ocupadas. A partilha imperialista estabelecida consolidou a divisão internacional do trabalho, na qual as colônias, sobretudo as africanas, especializaram-se em fornecer matérias primas (minérios e produtos agrícolas) aos países que então se industrializavam. Assim, estruturou-se nas colônias uma economia complementar e subordinada à das potências imperialistas. No fim do século XIX também emergiram potências industriaisfora da Europa, como Japão e Estados Unidos, que começaram a exercer suas próprias formas de imperialismo. O mercado de capitais Nessa etapa do capitalismo, os bancos assumiram um papel mais importante, como financiadores da produção. Muitos compraram indústrias para ampliar seus investimentos e também as indústrias incorporaram ou criaram bancos para lhes dar suporte financeiro. Por isso, tornou-se cada vez mais difícil distinguir capital industrial do capital bancário. Foi se consolidando um vigoroso mercado de capitais, principalmente nos Estados Unidos. As empresas deixaram de ser familiares e se tornaram sociedades anônimas de capital aberto, o que permitiu a formação de grandes corporações. Doutrina econômica: Keynesianismo Critica o pensamento econômico clássico e a ideia de equilíbrio espontâneo de mercado; defendia a intervenção do Estado na economia para evitar crises de superprodução, como a de 1929. Propunham o aumento dos gastos públicos como mecanismo para estimular o crescimento econômico e a geração de empregos. O mercado passou a ser cada vez mais dominado por grandes empresas. O liberalismo permanecia mais como ideologia capitalista, porque, na prática, a livre concorrência, característica da etapa industrial do capitalismo, era bastante limitada. O Estado passou a intervir na economia como agente produtor ou empresário, mas, sobretudo, como planejador e coordenador. Essa atuação se intensificou após a crise econômica de 1929. No início dessa crise, tanto o comércio internacional como a produção industrial sofreram quedas significativas, levando à elevação do desemprego. Porém, o “fundo do poço” ocorreu somente em 1932. Em 1933, Franklin Roosevelt, então presidente dos Estados Unidos, pôs em prática um plano de combate à crise que se estendeu até 1939. Chamado New Deal (em inglês, ‘novo acordo’), foi um clássico exemplo da intervenção do Estado na economia. Com base em um audacioso plano de construção de obras públicas e de estímulos à produção, o New Deal foi fundamental para a recuperação da economia norte-americana e, posteriormente, do restante do mundo. 4. Capitalismo informacional Com o início da Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Técnico-Científica ou Informacional, o capitalismo atingiu seu período informacional. Essa nova etapa começou a se desenvolver logo após a Segunda Guerra, mas se intensificou a partir dos anos 1970 e 1980, quando diversas tecnologias contribuíram para aumentar a produtividade econômica e acelerar os fluxos materiais e imateriais – de capitais, mercadorias, informações e pessoas. A globalização Produtos e serviços têm uma nova característica – o crescente teor informacional. Mas o conhecimento também se incorpora ao território, constituindo o meio técnico- científico informacional, que aparece predominantemente nos países desenvolvidos e nas regiões mais modernas dos países emergentes, e é a base para os fluxos da globalização. Os países na vanguarda da Revolução Informacional são aqueles que lideram a Pesquisa e Desenvolvimento, com destaque para os Estados Unidos. Esse é o país que mais investe em P&D em números absolutos, que apresenta o maior número de pesquisadores (cerca de 1,3 milhão de cientistas), que mais publica artigos técnicos e científicos em revistas especializadas e que obtém as maiores receitas de royalties e taxas de licenciamento sobre novas tecnologias de produtos e serviços. As duas revoluções industriais anteriores foram impulsionadas pelo desenvolvimento de novas fontes de energia – a primeira, por carvão mineral, e a segunda, por petróleo e eletricidade. A revolução ora em curso é impulsionada pelo conhecimento, embora, evidentemente, a energia continue sendo fator crucial, já que um computador de última geração não funciona sem energia elétrica ou bateria e os automóveis ainda são movidos predominantemente por combustíveis derivados de petróleo, por exemplo. Com essa aceleração contemporânea, o capitalismo atingiu o estágio planetário, a atual fase de globalização. Estrutura-se um mundo cada vez mais integrado por modernos meios de transporte e telecomunicações. Por isso, podemos dizer que vivemos em um capitalismo informacional-global. Entretanto, como você estudará no próximo capítulo, a globalização e seus fluxos abarcam o espaço geográfico de forma bastante desigual, pois alguns países e regiões estão mais integrados do que outros, e os “comandantes” desse processo estão concentrados em poucos lugares. Doutrina econômica: Neoliberalismo Os adeptos dessa doutrina buscam aplicar os princípios do liberalismo clássico ao capitalismo atual. Diferentemente dos anteriores, os teóricos neoliberais não creem na regulação espontânea do sistema. Visando disciplinar a economia de mercado, aceitam uma intervenção mínima do Estado para assegurar a estabilidade monetária e a livre concorrência. Também defendem a abertura econômica/financeira e a privatização de empresas estatais. O neoliberalismo (reveja a seção Síntese histórica nas páginas 10 e 11) é uma doutrina econômica que se desenvolveu desde o final dos anos 1930, mas só foi praticada nos Estados Unidos sob a presidência de Ronald Reagan (1981-1989), e no Reino Unido com o governo da primeira-ministra Margaret Thatcher (1979-1990). Especialmente na década de 1990, as políticas neoliberais se disseminaram por meio de organismos controlados por esses países, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, e atingiram os países em desenvolvimento. O neoliberalismo, no plano internacional, tinha o objetivo de reduzir as barreiras dos fluxos globais de mercadorias e capitais (abertura econômica e financeira), o que beneficiou principalmente os países desenvolvidos e suas corporações transnacionais. Entretanto, alguns países emergentes, como a Índia, os chamados Tigres Asiáticos, o México, o Brasil e, sobretudo, a China, também se beneficiaram ao receber muitos investimentos produtivos e ampliar sua participação no comércio mundial. Fonte: Moreira, João Carlos; Sene, Eustáquio. Geografia Geral e do Brasil: Espaço Geográfico e Globalização. Editora Ática, 2ª edição, 2016.
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